UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ – UFC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA – CAEN
MESTRADO PROFISSIONAL EM ECONOMIA – MPE
MARIA LÉDIO VIEIRA
A CONTRIBUIÇÃO DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS PARA A REDUÇÃO DA POBREZA NO BRASIL
MARIA LÉDIO VIEIRA
A CONTRIBUIÇÃO DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS PARA A REDUÇÃO DA POBREZA NO BRASIL
Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Mestrado Profissional em Economia – MPE/CAEN, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Economia.
Orientador: Prof. Dr. Flávio Ataliba Flexa Daltro Barreto
MARIA LÉDIO VIEIRA
A CONTRIBUIÇÃO DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS PARA A REDUÇÃO DA POBREZA NO BRASIL
Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Economia.
Data da aprovação: 13/04/2007
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________ Prof. Dr. Flávio Ataliba Flexa Daltro Barreto
Orientador
_____________________________________ Prof. Dr. Maurício Benegas
Membro
_____________________________________ Prof. Dr. Márcio Veras Corrêa
Ao SEBRAE, instituição que se dedica,
desde 1972, a cumprir a sua missão de
promover a competitividade e o
desenvolvimento sustentável das micro e
pequenas empresas e fomentar o
empreendedorismo no Brasil.
AGRADECIMENTOS
A DEUS, primeiramente, pela oportunidade de viver e pela capacidade de aprender,
sempre.
Ao meu pai, Antônio Lédio de Moraes, in memorian, e a minha mãe, Rita Vieira
Lédio, pelo seu carinho, apoio e presença constante.
Ao amigo, Hélio Berni, pelo apoio, aos colegas de trabalho da Unidade Setorial da
Indústria pelo estímulo e compreensão e aos diretores do SEBRAE/CE, Alci Porto
Gurgel Júnior e Airton Gonçalves Júnior, pelo suporte inestimável para a
concretização desse Mestrado.
Por fim, quero destacar os meus agradecimentos ao meu orientador, Prof. Flávio
Ataliba Flexa Daltro Barreto, profundo estudioso da temática da pobreza no Brasil,
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo estimar a contribuição das micro e pequenas empresas (MPE) para a redução da pobreza no Brasil, a partir dos dados dos 26 Estados e do Distrito Federal nos anos de 2000 e 2004. O arcabouço teórico utilizado fundamenta-se nas hipóteses de que o segmento de micro e pequenas empresas, que representa 98% das empresas do país e que responde por 56% dos empregos formais gerados na economia, exerce uma influência na redução da pobreza, associado a outras variáveis que já têm esse desempenho comprovado, como a renda média e o grau de urbanização. Os principais resultados obtidos indicam que há uma relação significativa entre o crescimento das micro e pequenas empresas e a redução das medidas de pobreza no país, especialmente na porcentagem de pobres e no hiato de pobreza. Com esse estudo espera-se contribuir com a literatura sobre o tema e com o debate sobre as políticas públicas voltadas para as micro e pequenas empresas como instrumento de melhoria dos indicadores sociais do país.
ABSTRACT
The goal of this paper is to estimate the contribution of micro and small enterprises (MSE) in the reduction of poverty in Brazil, based on data obtained from 26 States and from the Federal District (Brasília) from 2000 to 2004. The theoretical framework utilized is based upon the hypothesis that the segment of micro and small enterprises, which represents 98% of enterprises in the country and is responsible for 56% of formal jobs in the economy, plays an important role in poverty alleviation, associated to other variables which already have this performance proven by average income and degree of urbanization. The main results obtained point towards a significant relation between the growth of micro and small enterprises and the reduction of poverty levels in the country, mainly in the percentage of poor people and the poverty gap. This study aims at contributing with the literature on this topic as well as with the debate regarding public policy geared towards micro and small enterprises as an instrument to improve the social indicators of the country.
Key-words: Micro and Small Enterprises, Poverty Alleviation and Public Policy
Dados para contatos: Maria Lédio Vieira Endereço: Av. Monsenhor Tabosa, 777
Praia de Iracema – Fortaleza /CE – CEP 60150-010
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Principais Números das MPE no Brasil... 21
TABELA 2 - Evolução do Crescimento das MPE e MGE no Brasil entre 2000 e 2004... 23
TABELA 3 - Classificação das Empresas pelo No. de Empregados... 30
TABELA 4 - Variáveis Utilizadas nas Estimações... 33
TABELA 5 - Dados das Variáveis Dependentes por Estados... 35
TABELA 6 - Dados das Variáveis Explicativas por Estados... 38
TABELA 7 - Correlações entre as Variáveis: MPE, Educação e Grau de Urbanização... 40
TABELA 8 - Correlações entre as Variáveis: MPE, Educação e Renda Média... 40
TABELA 9 - Resultados das Regressões do Modelo 01... 42
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANPEC Associação Nacional dos Centros de Pós Graduação em
Economia
CAEN Centro de Aperfeiçoamento de Economistas do Nordeste Pós Graduação em Economia
CIESP Centro das Indústrias do Estado de São Paulo
CNI Confederação Nacional da Indústria
FIESP Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
FGV Fundação Getúlio Vargas
IBRE Instituto Brasileiro de Economia
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
LEP Laboratório de Estudos da Pobreza
MGE Médias e Grandes Empresas
MPE Micro e Pequenas Empresas
PIB Produto Interno Bruto
SEBRAE Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Nacional)
SEBRAE - CE Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Ceará
SEBRAE – SP Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo
UFC Universidade Federal do Ceará
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ... 10
2. A CONTEXTUALIZAÇÃO DA POBREZA... 13
2.1 A Pobreza no Mundo... 13
2.2 Conceitos de Pobreza... 14
2.3 As Políticas de Redução da Pobreza no Brasil... 16
3. CONTEXTUALIZAÇÃO DAS MPE NO BRASIL... 19
3.1 A Importância das MPE... 19
3.2 O Crescimento das MPE no Brasil... 21
3.3 A Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas e as Políticas Públicas... 23
4. REFERENCIAL TEÓRICO... 25
4.1 Literatura Internacional... 25
4.2 Literatura Nacional... 27
5. METODOLOGIA ... 29
5.1 Dados Amostrais... 29
5.2 Modelos e Procedimentos Utilizados nas Regressões... 31
5.3 Indicadores de Pobreza... 32
5.4 Análise das Variáveis Dependentes por Estado... 33
5.5 Análise das Variáveis Explicativas por Estado... 36
5.6 Correlações entre Variáveis... 39
6. ANÁLISE DOS RESULTADOS... 41
6.1 Análise dos Resultados do Modelo 01... 41
6.2 Análise dos Resultados do Modelo 02... 41
6.3 Análise Comparativa... 43
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS... 47
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, os fenômenos da pobreza e da desigualdade de renda
na população brasileira passaram a fazer parte da agenda política e das ações
governamentais. Os estudos científicos foram intensificados nessa área, haja vista o
número de trabalhos empíricos que hoje existe no país, oferecendo um rico material
para um amplo debate sobre as alternativas para a redução da pobreza e das
desigualdades regionais.
A partir de 2003, o tema das micro e pequenas empresas também entrou
na pauta das discussões no país, através de seminários que reuniram os
empresários das empresas desse porte apoiados por entidades empresariais e
instituições de apoio como o SEBRAE. Na pauta estava o debate sobre a situação
do segmento e a reivindicação do tratamento diferenciado que garante a
Constituição Federal, Art. 170 e 179. Essa iniciativa plantou a semente que gerou a,
recentemente sancionada, Lei Geral da Micro e Pequena Empresa.
Os números gerados pelas micro e pequenas empresas demonstram a
sua importância na economia, não só para o Brasil, mas no mundo, inclusive nos
países desenvolvidos. Essa importante contribuição é reconhecida e constatada na
realidade cotidiana, pelo que as micro e pequenas empresas representam na
geração de empregos e ocupações, na produção e comercialização de bens e
serviços que suprem as necessidades básicas, na interiorização do desenvolvimento
e na dinâmica da economia dos pequenos municípios e bairros das grandes
metrópoles.
O empreendedorismo nos pequenos negócios é uma porta de inclusão
social, visto que permite a entrada de pessoas na atividade empresarial, na maioria
dos casos, com baixo investimento em capital. A geração de empregos seja com
carteira assinada ou de ocupações informais, para terceiros ou mesmo para a
própria família, por si só já é um instrumento de redução da pobreza à medida que
proporciona à pessoa beneficiada com aquele posto de trabalho o acesso a uma
empresa gera uma força indutora na cadeia produtiva da qual ela faz parte,
induzindo a implantação de outras pequenas empresas de fornecimento de insumos
ou comercialização de seus produtos e serviços, resultando na geração de novos
empregos e ocupações.
Um estudo científico sobre a relação das micro e pequenas empresas
com o crescimento econômico e a redução da pobreza nos países foi realizado por
Beck, Kunt e Levine (2005), a partir de uma pesquisa que reuniu dados de 45
países. Nesse trabalho empírico foi comprovado que a relação da MPE com o
crescimento do PIB nos países é significativa, entretanto, em relação à redução da
pobreza, as evidências não foram suficientes para essa comprovação. Em função
desse resultado os autores ressaltam que se faz necessário conhecer a experiência
de cada país para testar com maior precisão essa segunda hipótese.
Em que pese as breves constatações aqui apresentadas e o extenso
material ilustrativo e descritivo que existe hoje, no Brasil, comprovando o quanto é
importante e indispensável o apoio ao crescimento e a sustentabilidade das micro e
pequenas empresas, para geração de emprego e renda, para o fortalecimento da
economia e para estímulo à inovação, não encontramos na literatura acadêmica, até
o momento, estudos fazendo essa relação entre as MPE e a redução da pobreza no
país.
A motivação do presente trabalho nasceu dos dois seguintes pilares. O
primeiro foi a realidade atual brasileira discutindo as temáticas da pobreza e das
micro e pequenas empresas; o segundo, foi esse referencial teórico existente sobre
a relação entre ambos os temas. Esse interesse culminou na necessidade de se
trabalhar uma comprovação científica que demonstrasse como se comporta essa
relação no Brasil, contribuindo assim para um debate que discuta a formulação de
políticas públicas de combate à pobreza associadas ao empreendedorismo e ao
fortalecimento das MPE.
Portanto, esse estudo consiste em um primeiro passo nessa temática e o
seu objetivo reside na investigação da influência das micro e pequenas empresas na
do Distrito Federal.
Esta pesquisa está organizada da seguinte forma: além desta seção
introdutória, a seção 2 contextualiza a pobreza e a 3 contextualiza as micro e
pequenas empresas. Na seção 4, apresenta-se o referencial teórico. Nas seções 5 e
6, encontra-se, respectivamente, a metodologia utilizada para a realização dos
testes empíricos e os principais resultados obtidos com as regressões estimadas. Na
última seção, é exposto um resumo das principais conclusões das análises
realizadas neste trabalho.
2. A CONTEXTUALIZAÇÃO DA POBREZA
2.1 A POBREZA NO MUNDO
A pobreza é um fato incontestável no mundo, a sua presença se percebe
na maioria dos países, com raras exceções de alguns países desenvolvidos que já
conseguiram superá-la.
No livro sobre Globalização, Crescimento e Pobreza (2003) são
apresentadas, na visão do Banco Mundial, as principais mudanças na economia dos
países a partir de uma seqüência das denominadas “ondas de globalização”.
Dessa forma, relata que a primeira onda de globalização moderna ocorreu
entre 1870 e 1914, com o aumento do fluxo internacional de capitais e mão-de-obra.
A renda per capita mundial aumentou com a convergência entre os países
globalizados, houve também um aumento da pobreza entre os excluídos e um
distanciamento destes em relação aos países desenvolvidos. Afirmando que a
situação piorou entre as duas guerras mundiais com o protecionismo
generalizando-se no estilo “empobreça o generalizando-seu vizinho”, em 1940, a renda per capita mundial havia
caído 1/3, com aumento da pobreza.
A segunda onda de globalização teria ocorrido entre 1950 e 1980,
envolvendo a integração comercial dos países ricos (Europa, Estados Unidos,
Canadá e Japão). Nesse período, os países exportadores de produtos primários
teriam ficado isolados dos fluxos internacionais de capitais. Os países ricos
obtiveram elevadas taxas de crescimento do produto e convergência da renda entre
eles. No resto do mundo o número de pobres continuou a crescer, com pouca
melhoria na distribuição de renda internamente e entre os países subdesenvolvidos.
A terceira onda de globalização, iniciada em 1980, teria sido estimulada
pelo desenvolvimento dos meios de comunicação e transporte, pela criação da
Internet, bem como pela disposição dos diferentes países de reduzirem tarifas e de
países de renda baixas e médias, envolvendo três bilhões de pessoas, conseguiram
inserir sua abundante mão-de-obra no mercado global de manufaturados e serviços.
Assim, as exportações industriais dos países em desenvolvimento passaram de 25%
do total, em 1980, para cerca de 80% em 1998. Os países de maior participação no
comércio e investimentos globais foram China, Índia, México, Brasil e Hungria.
Os países que não conseguiram a inserção no processo de globalização
estão crescendo menos e isso envolve cerca de dois bilhões de pessoas. Nos anos
de 1990, eles acumularam um crescimento negativo de mais de 1%, contra um
crescimento de 2,1% para os países ricos e cerca de 5% para as economias em
desenvolvimento mais globalizadas. Nestes últimos países o número de pobres está
se reduzindo substancialmente, principalmente na China (o número de pobres nas
áreas rurais caiu de 250 milhões em 1978, para 34 milhões em 1999), Índia, Uganda
e Vietnã. Da mesma forma, o trabalho infantil diminuiu e a matrícula nas escolas
aumentou. O Banco Mundial estima que a pobreza nos países não globalizados
tenha se reduzido em 200 milhões desde 1980, porém esse número representa uma
parcela bem menor daquela referente aos países globalizados.
2.2 CONCEITOS DE POBREZA
É importante distinguir o que significa pobreza em suas várias
concepções. Muito se tem falado, pesquisado e defendido políticas de combate ou
redução desse fenômeno, mas essas inúmeras abordagens quase sempre estão
tratando de significados e bases de dados diferentes.
Para o Banco Mundial (2000),
A maioria dos estudos empíricos sobre a pobreza se baseia em medidas de renda ou de consumo. Mas a pobreza é um estado em que a qualidade de vida de uma pessoa não apresenta o padrão reconhecido de bem-estar e, por isso, é necessário considerar outras dimensões. O conceito de pobreza predominante engloba não somente privações materiais, conforme definidas pela renda ou pelo consumo, mas também pouco avanço na educação e na saúde. Esse conceito sublinha os Objetivos do Desenvolvimento Internacional para 2015.
2000/2001, o Banco Mundial amplia o conceito de pobreza com o objetivo de incluir
questões sociais importantes, como aquelas vinculadas à cidadania, educação,
saúde, trabalho, moradia, violência, vulnerabilidade em catástrofes, entre outros
fatores. Mesmo sabendo da dificuldade de medir essas dimensões da pobreza elas
foram inseridas por representar uma ampliação no conceito que limita a pobreza,
somente às necessidades materiais, para um conceito mais abrangente de bem
estar. Dessa forma o citado relatório recomenda que,
[...] sempre que for possível, as medidas de pobreza devem revelar não apenas a renda e o consumo, mas também os níveis de desenvolvimento humano (medidos pela educação e saúde), a exposição a riscos (como doenças e lesões, violência, variações de preços e perda de emprego) e incapacidade para melhorar sua própria situação.
Dado que o crescimento tende a reduzir a pobreza, embora que o seu
impacto possa variar muito de acordo com quase todos os indicadores aceitos, a
pobreza diminui quando há um aumento da renda per capita. Portanto, dois
indicadores são utilizados comumente em estudos empíricos: a renda média dos
pobres e a parte da população com renda abaixo de uma determinada linha de
pobreza (por exemplo, US$ 1 por dia de acordo com a paridade de poder de compra
– A Incidência de Pobreza; Dollar e Kraay, 2000).
No Brasil, também, a definição para a pobreza em geral utilizada é a
insuficiência de renda, isto é, o indivíduo considerado pobre é aquele que faz parte
de uma família cuja renda per capita seja inferior ou igual a uma determinada linha
de pobreza (Barreto, Marinho e Soares, 2005). Para levar em consideração esses
demais aspectos de bem estar pessoal são incluídas nos modelos econométricos
variáveis explicativas como educação, habitação, emprego, renda média, entre
outras dependendo da análise em questão.
Segundo Barreto (2006), na discussão sobre a questão do nível de
pobreza, precisa ser, antes de tudo, esclarecida sobre qual a dimensão que se
deseja atribuir a ela. Para medir corretamente a pobreza, faz-se necessário
determinar os indicadores de bem estar, estes serão mensurados em relação às
necessidades estabelecidas como parâmetro de avaliação da satisfação dos
caracterizando a pobreza como um fenômeno monetário, dado tanto pela escassez
de renda e / ou por um baixo nível de consumo individual”.
O IPEA define a linha de pobreza como sendo igual ao dobro da linha de
indigência. Para tanto estabelece a linha de indigência ou de extrema pobreza a
partir do custo de uma cesta básica alimentar que contemple as necessidades de
consumo calórico mínimo de um indivíduo. Esse cálculo feito pelo IPEA varia entre
as regiões e estados.
2.3 AS POLÍTICAS DE REDUÇÃO DA POBREZA NO BRASIL
A pobreza está diretamente associada à desigualdade na distribuição da
riqueza e se constitui em um dos problemas de natureza social e econômica mais
complexos, principalmente quando se compara esta desigualdade entre as regiões e
estados. Como ressaltam Diniz e Arraes (2005),
[...] o Brasil não é um país pobre, mas um país com muitos pobres, cuja origem da pobreza não reside na escassez de recursos. Isto quer dizer que o país é capaz de gerar riqueza (renda) suficiente para eliminar o contingente de pobres da população. Segundo, é que a intensidade da pobreza brasileira esta ligada à concentração de renda – tal inferência resulta do fato que a renda per capita e mesmo a renda média, especialmente essa última é bastante superior à renda que define a linha de pobreza.
Felizmente, nos últimos anos, tem se dado uma maior importância às
políticas de combate à pobreza e redução das desigualdades regionais. É possível
observar essa mudança em Siqueira e Siqueira (2006) no estudo Síntese de
Indicadores Sociais de 2004, citando que a pesquisa do IBGE, confirma que a
concentração de renda no Brasil está sendo reduzida ano a ano, apesar do ritmo
dessa queda ser diferente nas diversas regiões do país, como, por exemplo, no
Nordeste. Nessa região os números a partir de 1995, demonstram uma redução
anual, entretanto, de forma bem mais lenta do que nas regiões Sul e Sudeste como
se pode perceber pelo seguinte detalhamento: “Em 1995 os 10% mais ricos do
Nordeste obtinham do trabalho 20,6 vezes o que recebiam os 40% mais pobres. A
redução para as 18,2 vezes em 2003 foi equivalente a 2,4 vezes. Tanto no Sudeste
Nordeste em 2003 (18,2 vezes) e caiu para 15,1 vezes. Já no Sul, a queda foi de
17,4 vezes para 13,9 vezes no mesmo período”.
Manso e Barreto (2007), no recente trabalho que teve por base o estudo
nos estados e regiões do Brasil, das fontes de crescimento pró-pobres, após o Plano
Real (1995 a 2005), confirmam que “[...] o Brasil tem procurado, principalmente a
partir dos anos 90, políticas efetivas de redução dos índices de pobreza e de
desigualdade. Esta busca intensificou-se principalmente depois da estabilização
econômica a partir da introdução do Plano Real em 1993”. As conclusões de Manso
e Barreto (2007) foram as seguintes:
• A estabilidade econômica conseguida nesse período teve um importante impacto na redução da pobreza no país;
• A partir desse período, o sucesso em reduzir mais ainda o número de pobres estaria diretamente ligado às estratégias adotadas em cada
região;
• Verificou-se que os estados pertencentes a uma mesma região, apresentavam uma tendência comum de desempenho e que entre as
regiões o comportamento não foi similar;
• Enquanto a região Sul, por exemplo, conseguia sucesso em redução da pobreza com políticas equilibradas de expansão da renda e redução
da desigualdade, no Nordeste observou-se uma tendência diferente,
onde o combate á pobreza era motivado principalmente pelo
componente crescimento;
• Quando se procurou analisar a influência de cada componente nos níveis mais intensos de pobreza, o componente de distribuição passou
a ter mais peso na redução da pobreza;
necessitados, políticas que visam estimular o crescimento da renda
média têm menos eficácia, enquanto que políticas de aumento da
renda relativa são mais importantes.
Outro estudo de Manso, Barreto e Tebaldi (2006), sobre o desequilíbrio
regional brasileiro analisando as novas perspectivas a partir das fontes de
crescimento pró-pobres, confirmam que no Brasil, a região Nordeste tem utilizado,
[...] quase que exclusivamente o crescimento econômico como principal instrumento de aumento da renda dos mais pobres. Considerando que a alta proporção de pobres nessa região pode ser um grande empecilho para a redução das desigualdades regionais, estratégias de desenvolvimento fortemente voltadas para o aumento da importância do componente distributivo nas fontes de crescimento 'pró-pobre' pode ser o caminho mais rápido para a redução das desigualdades regionais.
Na visão do BNDES, Prado (2006), as prioridades nas políticas de
transferência de renda, de valorização do salário mínimo e de crescimento com
estabilidade são contribuições fundamentais para essa trajetória de redução da
pobreza. De acordo com Prado, os resultados já alcançados são substantivos:
1. A saída de 3,5 milhões de pessoas da linha de indigência e de cerca de
5 milhões da linha de pobreza;
2. O crescimento de 15% reais nos rendimentos domiciliares per capita
dos 20% mais pobres;
3. CONTEXTUALIZAÇÃO DAS MPE NO BRASIL
3.1 A IMPORTÂNCIA DAS MPE
No Brasil, o segmento das micro e pequenas empresas representa 98%
do total das empresas formais e 56% dos empregos legais do país, conforme Tabela
01. É importante destacar, inicialmente, que essa performance das micro e
pequenas empresas repetem-se nos países desenvolvidos. Nestes, as empresas de
menor porte, também, se constituem na maioria absoluta das firmas, representando
cerca de 99% do total das empresas (dados da OCDE relativos a 1996). A
contribuição no emprego total é de 66% e no PIB de 47%. Ressalta-se, todavia, que
mesmo podendo haver distorções nos parâmetros de enquadramento referente ao
tamanho das empresas, entre esses países e o Brasil, essas participações são
substancialmente maiores do que as verificadas aqui, onde as MPE respondem por
56% dos empregos legais e por 20% do PIB brasileiro. Esses dados apontam para
um ambiente legal mais favorável para o segmento e uma maior produtividade das
empresas de menor porte nos países desenvolvidos.
A importância das micro e pequenas empresas se traduz com maior
intensidade na economia dos estados brasileiros através daqueles municípios que
não dispõem de grandes empresas industriais, comerciais ou de serviços. Nesses
municípios as MPE são responsáveis por 100% dos empregos e ocupações
existentes, com exceção dos servidores públicos.
Segundo o IBGE (Censo Demográfico 2000), cerca de 70% dos
municípios brasileiros apresentam população igual ou inferior a 20 mil habitantes.
Com algumas exceções, eles têm suas economias centradas principalmente nos
pequenos negócios, sejam nos ramos da agricultura e pecuária como da indústria,
comércio e serviços. Nesses municípios, o número registrado de médias e grandes
empresas é relativamente pequeno, sendo que na maioria deles não se encontram
grandes empresas. Dessa forma, as micro e pequenas empresas, na maior parte
dos estados, são responsáveis pela interiorização do desenvolvimento, são elas que
da indução de novos negócios e da venda dos seus produtos e serviços,
dinamizando assim, as economias locais e regionais.
Mesmo nas cidades de médio porte e grandes metrópoles, onde se
concentram as médias e grandes empresas, o número de MPE é sempre expressivo
e importante, porque elas empregam a grande massa de pessoas que estão no
mercado de trabalho e não são absorvidas pelas MGE. Elas se destacam
especialmente nos bairros, empregando a mão-de-obra local na fabricação e
comercialização de produtos que atendem às necessidades básicas da população,
tais como: construção, vestuário, calçados, alimentos, bebidas, móveis, limpeza,
higiene e perfumaria, medicamentos, combustíveis, editorial, gráfico e embalagens e
a prestação de serviços diversos como de mecânica automotiva, de hospedagem e
alimentação, de transportes, de beleza, de educação, de entretenimentos, de
informática e acesso à Internet, entre outros.
Um dado importante a se destacar, é que já se identifica, no país,
empresas desse segmento de MPE trabalhando com atividades portadoras de
conhecimento e tecnologia, fazendo pesquisas para a inovação de produtos e
serviços, bem como com atividades que requerem consideráveis aportes de capital.
Mas, em geral, os investimentos necessários para a implantação dessas empresas
de micro e pequeno porte, que trabalham com atividades tradicionais são
relativamente baixos e as tecnologias de conhecimento público ou de fácil acesso.
Esses fatores facilitam a entrada dos empreendedores no segmento e transformam
a maioria das MPE em instrumentos de inclusão e mobilidade social, tendo em vista
a possibilidade de um indivíduo passar de desempregado, à categoria de
empregador ao montar um pequeno negócio ou à categoria de empregado ao
conseguir uma vaga numa micro ou pequena empresa.
Acrescente-se ao exposto, o grande número de negócios informais, que
não está sendo objeto deste trabalho, que nas estimativas existentes no SEBRAE
representa o dobro das MPE no Brasil. Todo esse contingente de empreendedores,
além de garantir o sustento e a ocupação da própria família, respondem,
informalmente, por um grande número de ocupações de terceiros e ainda são
Essa importância das micro e pequenas empresas para a realidade
sócio-econômica brasileira, traduzida por números (Tabela 01), como o de 67% das
pessoas ocupadas, que significam nessa classificação todas as pessoas envolvidas
diretamente na empresa, empregados formais e informais, familiares e proprietários,
provocou a reflexão, que é tema desse trabalho, de que as MPE, por suas
características e desempenho na economia, influenciam na redução da pobreza no
país.
TABELA – 01
Principais Números das MPE no Brasil
98% Das empresas do país
67% Das pessoas ocupadas*
56% Dos empregados com carteira assinada (CLT)
20% Do PIB
62% Das empresas exportadoras
2,3% Do valor das exportações (*) Pessoas ocupadas no setor privado.
Inclui todos os tipos de ocupações: sócios-proprietários, familiares e empregados com e sem carteira assinada.
Fonte: RAIS, 2004. - Observatório das MPE - SEBRAE/SP, 2006
3.2 O CRESCIMENTO DAS MPE NO BRASIL
No período entre 2000 e 2004, foram criados 924.117 novos
estabelecimentos, dos quais cerca de 99% tratavam-se de MPE. Em termos de
setores de atividade, as MPE foram responsáveis pela criação de 99% dos
estabelecimentos do comércio, 98% dos estabelecimentos da indústria e 97% dos
estabelecimentos do setor de serviços.
O total de estabelecimentos de MPE se expandiu em 22,1%, passando de
4.117.602 para 5.028.318, gerando um aumento de 910.716 novos
estabelecimentos, essa taxa de expansão foi superior à das MGE que ficou em
19,5%. No que se refere às MPE, o setor de serviços apresentou a maior taxa de
crescimento, que foi de 28%, o comércio se expandiu em 21,5% e a indústria em
apresentaram a maior taxa de expansão, ficando com 36,9%, os serviços cresceram
18% e a indústria 12,7%.
Em 2004, como se pode observar na Tabela 02, foram registrados
5.110.285 estabelecimentos no setor privado. Desse total, 5.028.318
estabelecimentos eram de micro e pequenas empresas, representando 98% do total
e 81.967 estabelecimentos de médias e grandes empresas, representando 2%.
Desse universo das MPE, em torno de 56% eram da atividade de comércio, 30% de
serviços e 14% da indústria. Em relação as MGE, as proporções eram de 72% da
atividade de serviços, 14% de comércio e 14% da indústria.
Em relação as MPE industriais, em 2004, os setores que tiveram um
maior número de empresas foram: construção civil (edificações) com 25%,
confecção de artigos do vestuário com 12,3%, alimentos e bebidas com 11,9%,
especialmente a fabricação de panificação, produtos de metal com 6,8%, móveis
com 6,4%, editorial e gráfica com 5,6%, minerais não-metálicos com 5,1%, produtos
de madeira com 4,7%, couro e calçados com 3,4% e máquinas e equipamentos
com 2,8%.
Quanto as MPE prestadoras de serviços, em 2004, os setores que se
destacaram com mais estabelecimentos foram: os serviços prestados à outras
empresas com 32,8%, alojamento e alimentação com 24,1%, sobressaindo-se
lanchonetes e restaurantes, os serviços de transportes terrestres com 11%, os
serviços de informática com 7,4%, as atividades recreativas com 6,7%, os serviços
pessoais com 4,9%, as atividades imobiliárias com 3,7%, as agências de viagens e
movimentação de cargas com 3,6%, os aluguéis de veículos, máquinas e
equipamentos com 2,3% e as atividades auxiliares de intermediação financeira com
2,2%.
No tocante ao comércio, em 2004, os setores com maior número de MPE
foram: mini-mercados e mercearias com 10,8%, varejo do vestuário com 10,7%,
varejo de materiais de construção com 7,2%, farmácias e perfumarias com 4,6%,
comércio de autopeças com 4,5%, varejo de materiais e equipamentos para
3,1%, quitandas, avícolas, peixarias e sacolões com 3%, manutenção e reparação
de veículos com 2,8% e o varejo de móveis e artigos de iluminação com 2,8% .
TABELA – 02
Evolução do Crescimento das MPE E MGE no Brasil entre 2000 e 2004 PORTE ANO 2000 ANO 2004 EXPANSÃO %
MPE 4,117 milhões 5,028 milhões 22,1%
MGE 68,5 mil 81,9 mil 19,5%
TOTAL 4,186 milhões 5,110 milhões 22,1% Fonte: RAIS, 2004. - Observatório das MPE -SEBRAE/SP, 2006
3.3 A LEI GERAL DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS
O Estatuto Nacional da Micro e Pequena Empresa, mais popularmente
divulgado, como a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas foi sancionada no dia
14 de dezembro de 2006, passando a vigorar a partir do dia seguinte quando foi
publicada no Diário Oficial. Vale ressaltar que, o capítulo que trata das questões
tributárias só entrará em vigor no dia 01 de julho deste ano, oferecendo assim um
prazo para as empresas fazerem a sua adesão ao Super Simples, tributo este que
unificará as diversas contribuições federais, estaduais e municipais em um único
documento de arrecadação. Esse procedimento além de reduzir os valores, reduz
também a burocracia, tanto na abertura como no funcionamento e fechamento de
empresas.
Com a nova lei, deixou de existir o antigo Estatuto da Microempresa e a
partir de 01/07/07, deixarão de existir os tributos atuais, Simples federal e Simples
estadual. O enquadramento das empresas será único e terá como parâmetro a
Receita Bruta Anual, sendo que será classificada como Microempresa aquela
empresa que tenha receita anual de até R$ 240 mil e como Pequena Empresa,
aquela que tenha a receita anual acima de R$ 240 mil e até 2,4 milhões. Em relação
ao ICMS e ISS os tetos para enquadramento das MPE serão diferenciados,
A aprovação dessa Lei foi uma conquista do segmento, iniciada em 2003
nas comemorações da Semana da Micro e Pequena Empresa, realizada pelo
SEBRAE, quando os empresários apresentaram suas dificuldades em seminários
que aconteceram em todos os estados. Em 2005, foi criada a Frente Empresarial
que mobilizou diversas instituições como confederações, associações e entidades
empresariais e de apoio às micro e pequenas empresas, elaborou o Projeto de Lei e
articulou o apoio político necessário.
A Lei Geral traz em seu bojo um elenco de temas que se traduz em
propostas de políticas públicas econômicas e sociais para o segmento das micro e
pequenas empresas, no âmbito da desburocratização, fiscal, tributário, crédito e
capitalização, inovação, exportação, associativismo, compras governamentais, entre
outras. No que se refere à inovação, 20% dos recursos públicos das instituições de
fomento à tecnologia e P & D, deverão ser aplicados em MPE. Com essa melhoria
prevista para o ambiente de negócios das MPE prevê-se um estímulo à criação de
novas empresas, ao crescimento e a sustentabilidade das empresas existentes, à
formalização das atividades informais e conseqüentemente, um aumento no número
de empregos gerados pelo segmento.
Dessa forma, na Revista SEBRAE, Spínola (2007), acredita que as micro
e pequenas empresas possam reforçar a sua contribuição no desenvolvimento do
país:
4. REFERENCIAL TEÓRICO
4.1 LITERATURA INTERNACIONAL
O principal referencial teórico desse trabalho é o recente estudo realizado
por Beck, Kunt e Levine (2005), que analisam a relação das MPE com o crescimento
econômico e a pobreza em 45 países a partir de uma demanda do Banco Mundial
para verificar empiricamente essa relação. Mas esclarecem que esse trabalho
consiste numa primeira etapa dessa avaliação entre os diversos países
selecionados para a pesquisa.
A política de apoio do Banco Mundial aos países está concentrada em
80% com programas que envolvem micro e pequenas empresas e 20%
indiretamente, com apoio às instituições que trabalham com o segmento de MPE.
Essa política se fundamenta em argumentos que justificam esse apoio, tais como:
que as MPE aceleram o crescimento e reduzem a pobreza; que contribuem para a
competição através de ganhos com inovação e produtividade; que são mais
produtivas do que as grandes empresas, mesmo com os obstáculos no acesso ao
crédito e nas questões institucionais que dificultam o seu desenvolvimento; e que,
sua expansão provoca um forte crescimento no emprego porque são mais intensivas
em trabalho do que as grandes empresas. Partindo dessas premissas, subsidiar o
desenvolvimento das MPE pode representar um instrumento de redução da pobreza
nos países.
Entretanto, existem quatro pontos de vistas diferentes na comunidade
internacional que questionam a eficácia dessa política. Primeiro alguns autores
como Westphal (1986), Pagano e Schivardi (2001), reforçam as vantagens das
grandes empresas, ressaltando que estas podem explorar as economias de escala
mais facilmente, diluir os custos fixos associados a P&D (pesquisa e
desenvolvimento) e conseqüentemente melhores resultados em termos de
produtividade. Como também Rosenzweig (1988) e Brown (1990), defendem que as
grandes empresas geram empregos mais estáveis e de melhor qualidade do que as
para essa política; o terceiro questiona a validade de se considerar o tamanho das
empresas como uma variável exógena determinante do crescimento econômico; e o
quarto a eficácia da citada política de apoio às MPE, tendo em vista o ambiente de
negócios que enfrentam, tanto as empresas de pequeno porte como as grandes.
Assim, a principal pergunta, que motivou esse trabalho de Beck, Kunt e
Levine (2005), foi “As evidências entre países fornece uma base empírica para as
políticas de apoio às micro e pequenas empresas (PRO-MPE)?”
A base de dados empregada, nas regressões cross-section, foi referente
às MPE industriais com até 250 empregados, crescimento econômico e pobreza de
45 países, no período de 1990 a 2000. Vale ressaltar, que a amostra inicial era de
54 países, mas em função da inconsistência dos dados a amostra ficou definida com
45 países, mesmo assim ainda ocorreram dificuldades, uma delas foi o fato de só
terem conseguido o número de MPE do setor industrial desses países, outra
limitação foi o fato desses números representarem apenas as empresas formais e
ainda uma outra foi o número de observações em cada país que teve diversas
variações.
As variáveis dependentes estimadas foram: as medidas de crescimento
econômico (PIB anual e PIB per capita), medida de desiguladade da renda (Índice
GINI) e as medidas de pobreza (Índice de Pobreza – Headcount (P0) e o Hiato de
Pobreza – Poverty Gap (P1)). As variáveis explicativas foram as MPE em relação
ao PIB, Despesas do Governo em relação ao PIB, Importações e Exportações em
relação ao PIB, Inflação, PIB per capita, Prêmio Câmbio Negro, Acesso ao Crédito e
Ambiente de Negócios (direitos de propriedade, garantias de contratos e regras de
abertura e falência de empresas).
No caso específico das regressões para as MPE em relação à redução da
pobreza e da desigualdade de renda, foram realizadas quatro análises: primeiro, foi
avaliado se as MPE influenciavam na taxa de crescimento da renda da porção mais
pobre do país; segundo, foram analisadas as relações entre as MPE e as variações
na distribuição de renda medidas pela GINI; terceiro, foram examinadas as relações
industriais; e por fim, foram verificadas as ligações entre as MPE e as mudanças no
hiato de pobreza dos países. Todas as análises das MPE foram associadas ao PIB
per capita.
4.2 LITERATURA NACIONAL
Na literatura nacional têm sido raras as referências às micro e pequenas
empresas nos estudos que tratam da redução da pobreza no Brasil. Estudos
específicos, tratando dessa relação, não foram identificados até então por ocasião
desta pesquisa. No estudo “Perspectivas de Crescimento Econômico para o Brasil,
seus Fatores Limitadores e Impactos Sociais”, encomendado pela FIESP / CIESP à
FGV através do Instituto Brasileiro de Economia, foi encontrada uma referência às
MPE como sugestão de políticas públicas. O referido trabalho estimou a relação
entre redução da pobreza e crescimento da renda per capita. A linha de pobreza
utilizada foi de R$ 75,00 per capita de 2001 e os dados das tabelas captados da
Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, de 1986 a 1999.
Nesse estudo foi estimada a elasticidade da pobreza com relação à renda
per capita para as regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo
Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife. As principais conclusões do estudo
foram que o crescimento econômico é uma condição necessária para a redução da
pobreza no Brasil. Um aumento de 1% na renda média se reflete numa redução de
aproximadamente 0,9% no número de pessoas abaixo da linha de pobreza. Os
resultados indicam que mesmo os cenários mais favoráveis de crescimento para os
próximos anos não serão capazes de promover grandes avanços no combate à
pobreza. Crescimento, por si só, não reduzirá de forma significativa o contingente de
indivíduos abaixo da linha de pobreza. Isso sugere a necessidade de políticas
sociais complementares que possibilitem que as camadas mais pobres da
população se integrem ao processo de desenvolvimento.
A interiorização do crescimento econômico poderia reduzir mais
rapidamente a pobreza com custos menores. Uma medida importante nesta direção
seria o aumento dos investimentos em educação, sobretudo em áreas rurais e áreas
com políticas de renda, dado que o problema de educação na área rural é agravado
pelo maior custo de ir à escola.
Destaca-se que:
5. METODOLOGIA
5.1 DADOS AMOSTRAIS
Ainda é escasso e recente, nos estados e municípios, o registro
sistemático anual e específico dos números relativos ao segmento das micro e
pequenas empresas. Os dados mais freqüentes fornecidos através de pesquisas
normalmente são globais, do país como um todo, regionais e/ou segmentados pelos
ramos de atividades como indústria, comércio e serviços. Não se encontra nas
fontes oficiais bases de dados com séries históricas anuais das MPE, sistematizadas
por estados.
A decisão de trabalhar com os números das MPE por estado, se deparou
com essa falta do registro histórico desses dados, inviabilizando a construção de
séries temporais, portanto, optou-se por trabalhar com regressões cross-section.
A partir dessa constatação, para compor a base de dados desse trabalho
recorreu-se ao site do SEBRAE/NA, IBGE e IPEA/Data. Na pesquisa mais recente
do Observatório da MPE do SEBRAE/SP que originou a publicação “Onde Estão as
MPE no Brasil”, identificou-se o número de MPE formais nos 26 estados e Distrito
Federal disponíveis para os anos 2000 e 2004.
A principal variável estudada nessa fonte foi o número de
estabelecimentos com ou sem empregados com registro em carteira, considerando
a variável estabelecimento como proxy do conceito de empresa. Os dados sobre o
número de estabelecimentos apresentados têm como referência 31 de dezembro de
2000 e 31 de dezembro de 2004.
De acordo com o critério operacional do Sistema SEBRAE, foram
considerados como MPE os estabelecimentos com até 49 empregados no comércio
e serviços e com até 99 empregados na indústria. Os estabelecimentos com 50 ou
mais empregados no comércio e serviços e 100 ou mais empregados na indústria
TABELA – 03
Classificação das Empresas pelo Nº de Empregados
PORTE INDÚSTRIA COM.E SERVIÇOS
Microempresas Até 19 empregados Até 09 empregados Pequenas Empresas De 20 a 99 empregados De 10 a 49 empregados
Médias Empresas De 100 a 449 empregados De 50 a 99 empregados Grandes Empresas De 500 ou mais empregados De 100 ou mais empregados Fonte: SEBRAE/NA
O mesmo raciocínio foi utilizado para colher os dados dos anos de 2000 e
2004 das variáveis de pobreza, renda média familiar per capita e grau de
urbanização. Os referidos dados foram fornecidos pelo LEP / CAEN / UFC. Como na
base de dados do LEP não constam as informações relativas ao ano de 2000, ano
este em que não foram realizadas as pesquisas anuais como nos demais anos, foi
utilizada a média entre os valores correspondentes a 1999 e 2001.
Quanto à linha de pobreza foi considerado o conceito utilizado pelo IPEA,
que a define como igual ao dobro da linha de indigência1. Esta linha de indigência
calculada pelo IPEA contabiliza o montante financeiro necessário para um indivíduo
adquirir uma cesta de consumo calórico mínimo. O cálculo desta cesta incorpora as
particularidades de cada localidade e, portanto, varia de estado para estado.
Vale ressaltar que a variável mpe (porcentagem de micro e pequenas
empresas em relação ao total de empresas por estado) foi construída durante a
realização deste trabalho a partir da coleta de dados da pesquisa.
Para estimar as regressões dos dois modelos, foram transformados em
valores decimais (divididos por 100) os dados das seguintes variáveis porcentagem
de pobres, hiato de pobreza, hiato quadrático de pobreza e mpe.
1 Indigentes são aqueles indivíduos que recebem menos que metade do valor estabelecido para a
5.2 MODELOS E PROCEDIMENTOS UTILIZADOS NAS REGRESSÕES
No presente trabalho, a escolha das variáveis dependentes e explicativas
para os modelos econométricos testados foi baseada nas hipóteses que motivaram
esse estudo. A primeira hipótese é a de que as micro e pequenas empresas, que
representam 98% das empresas formais, 64% das pessoas ocupadas, 56% dos
empregos legais e são responsáveis, na maioria dos estados, pela interiorização do
desenvolvimento, exerçam uma certa influência na redução das medidas de pobreza
no país. A segunda hipótese é a de que as reduções das medidas de pobreza
ocorram de forma associada com outras variáveis independentes que têm já de
forma comprovada seu desempenho na melhoria dos indicadores sociais, como a
renda, a educação e a localização da moradia, se em área urbana ou rural.
Partindo dessas premissas foram selecionadas como variáveis
dependentes as seguintes medidas de pobreza, por estado: índice de pobreza ou
porcentagem de pobres (P0), hiato de pobreza (P1) e hiato quadrático de pobreza
(P2). E como variáveis explicativas foram escolhidas: a porcentagem de micro e
pequenas empresas sobre o total de empresas por estado (mpe), a renda média
familiar per capita por estado (yme) e o grau de urbanização por estado (urb).
Para explicar as mudanças nas medidas de pobreza, além da variável
micro e pequenas empresas (mpe), que é o principal objeto desse estudo, a variável
renda média familiar per capita (yme), foi selecionada porque se trata de uma
variável que exerce uma influência direta nos indicadores de pobreza,
empiricamente comprovada. A variável grau de urbanização (urb), também foi
selecionada, em função de estudos que apontam que a pobreza está menos
presente nas áreas urbanas do que nas áreas rurais, como o trabalho de Barreto e
Manso (2006). Foram testadas outras variáveis explicativas socialmente
importantes para a redução da pobreza, como por exemplo, educação, que não
foram selecionadas para os modelos apresentados neste trabalho porque
apresentaram problemas de multicolinearidade, conforme item 4.6 Correlações entre
Variáveis.
a redução das medidas de pobreza foram formulados dois modelos a serem
estimados.
O primeiro modelo com as variáveis dependentes P0, P1 e P2 em relação
à variável explicativa micro e pequenas empresas (mpe), através da seguinte
equação:
Pi = βo + β1mpe + €i (01)
Sendo que i toma os valores 0, 1 e 2 para os indicadores de pobreza P0,
P1 e P2.
O segundo modelo com as variáveis dependentes P0, P1 e P2 em
relação à variável micro e pequenas empresas (mpe), renda média familiar per
capita (yme) e grau de urbanização (urb), traduzido na equação abaixo:
Pi = βo + β1mpe + β2yme + β3urb + €i (02)
Onde i toma os valores 0, 1 e 2 para os indicadores de pobreza P0, P1 e
P2.
Para estimar as regressões cross-section dos dois modelos estabelecidos
foi utilizado o software STATA.
5.3 INDICADORES DE POBREZA
As medidas de pobreza selecionadas para esse estudo fazem parte do
arcabouço teórico que investiga o fenômeno da pobreza no mundo, cujas medidas
são definidos como:
• Índice de Pobreza ou Porcentagem de Pobres (P0): mede a proporção de pobres numa dada população, cuja renda per capita familiar é
• Hiato de Pobreza (P1): mede a intensidade da pobreza, é a média das diferenças das rendas dos pobres em relação à linha de pobreza.
• Hiato Quadrático de Pobreza (P2): mede a evolução da média dessas diferenças.
TABELA – 04
Variáveis Utilizadas nas Estimações
VARIÁVEL DESCRIÇÃO
P0 Índice de Pobreza (Porcentagem de Pobres)
P1 Hiato de Pobreza
P2 Hiato Quadrático de Pobreza
mpe Porcentagem Micro e Pequenas Empresas / Total de Empresas
yme Renda Média Familiar Per Capita
urb Grau de Urbanização (Relação Pop. Urbana / Pop. Total) Fonte: Autor
5.4 ANÁLISE DAS VARIÁVEIS DEPENDENTES POR ESTADO
Inicialmente, pode-se observar na tabela abaixo, que apresenta os dados
das medidas de pobreza por estado, que na primeira coluna que trata da
porcentagem de pobres, 70% dos estados conseguiram reduzir esse índice no
período de 2000 para 2004.
Destacaram-se nessa redução da porcentagem de pobres os seguintes
estados: Santa Catarina com 26,23%, Paraná com 23,62%, Espírito Santo com
21,64%, Mato Grosso com 21,11%, Goiás com 17,12%, Minas Gerais com 16,49%,
Mato Grosso do Sul com 16,33%, Tocantins com 14,70%, Sergipe com 14,31% e
Rio Grande do Sul com 12,67%.
No que se refere aos 08 (oito) estados que não conseguiram reduzir esse
índice no referido período, cinco se concentram na região norte (AC, AP, PA, RO e
porcentagem de pobres de 49,22%, seguido do Amapá com 29,77% e do Acre com
22,36. O restante compreende os estados de AL, SP e DF.
Com relação ao hiato de pobreza, na segunda coluna, apenas 18% dos
estados não atingiram um percentual de redução nessa medida, os quais foram:
Acre, Amapá, Roraima, Alagoas e Distrito Federal. Novamente, Roraima teve a
maior variação entre 2000 e 2004, aumentando esse índice em 86,87%, seguido do
Amapá com 27,43% e do Acre com 21,44%. Dos 82% dos estados que reduziram
esse índice do hiato de pobreza, foram destaques os mesmos estados que
reduziram os maiores percentuais de pobres, ou seja, SC, PR, ES, MG, GO, MG,
MS, TO, SE, e RS.
No tocante à evolução no tempo desse hiato de pobreza, ou seja, ao hiato
quadrático, como se pode observar na terceira coluna, os resultados seguiram a
mesma tendência da medida anterior, com Roraima apresentando uma variação de
aumento desse índice no período de 104,36%. Vale salientar uma exceção que foi o
Maranhão, que mesmo tendo reduzido a porcentagem de pobres e o hiato de
pobreza, na questão do hiato quadrático, o estado não conseguiu reduzi-lo,
apresentando ainda uma pequena variação de aumento de 3,24%, entre 2000 e
TABELA – 05
Dados das Variáveis Dependentes por Estado PORCENTAGEM DE
POBRES
HIATO DE POBREZA HIATO QUADRÁTICO DE POBREZA ESTADO
2000 2004 % 2000 2004 % 2000 2004 % Acre 47,45 58,06 22,36 24,67 29,96 21,44 16,41 19,29 17,55 Amapá 41,58 53,96 29,77 20,89 26,62 27,43 14,52 16,75 15,36 Amazonas 54,82 53,96 -1,57 27,83 26,94 -3,20 18,31 17,76 -3,00 Pará 53,99 55,21 2,26 26,20 25,97 -0,88 16,55 15,97 -3,50 Rondônia 40,62 40,78 0,39 18,00 16,85 -6,39 11,32 9,71 -14,22 Roraima 41,20 61,48 49,22 18,73 35,00 86,87 12,15 24,83 104,36 Tocantins 59,31 50,59 -14,7 29,66 23,55 -20,60 19,26 14,51 -24,66 Alagoas 67,50 68,89 2,06 37,14 37,60 1,24 24,73 25,57 3,40 Bahia 64,42 60,73 -5,73 34,56 30,60 -11,46 23,00 19,70 -14,35 Ceará 64,11 61,71 -3,74 34,81 31,03 -10,86 23,57 19,88 -15,66 Maranhão 70,96 67,75 -4,52 39,07 38,34 -1,87 25,96 26,80 3,24 Paraíba 62,17 61,57 -0,96 33,72 31,79 -5,72 22,46 20,43 -9,04 Penambuco 64,60 62,43 -3,36 35,34 33,67 -4,73 24,09 22,53 -6,48 Piauí 67,66 64,74 -4,32 39,13 34,05 -12,98 27,41 22,63 -17,44 R. G. Norte 57,53 57,01 -0,90 30,30 28,71 -5,25 20,15 18,86 -6,40 Sergipe 61,34 52,56 -14,31 32,25 24,54 -23,97 21,77 14,81 -31,97 Dist. Federal 26,48 28,05 5,93 12,09 13,06 8,02 7,66 8,77 14,49 Goiás 32,54 26,97 -17,12 13,66 9,67 -29,21 8,34 5,54 -33,57 Mato Grosso 30,46 24,03 -21,11 13,00 9,88 -24,00 8,11 5,88 -27,50 M. G. Sul 30,32 25,37 -16,33 13,17 10,69 -18,83 8,31 6,54 -21,30 E. Santo 33,82 26,50 -21,64 14,92 10,96 -26,54 9,58 6,64 -30,69 M. Gerais 32,92 27,49 -16,49 14,78 11,60 -21,52 9,36 6,88 -26,50 Rio Janeiro 27,73 26,72 -3,64 11,98 11,27 -5,93 7,40 6,92 -6,49 São Paulo 23,10 24,23 4,89 10,06 9,97 -0,89 6,44 6,12 -4,97 Paraná 34,85 26,62 -23,62 16,05 10,79 -32,77 9,98 6,34 -36,47 R. G. Sul 30,69 26,80 -12,67 13,89 11,52 -17,06 8,63 6,95 -19,47 S. Catarina 22,68 16,73 -26,23 9,54 6,27 -34,28 5,72 3,55 -37,94
5.5 ANÁLISE DAS VARIÁVEIS EXPLICATIVAS POR ESTADO
Examinando a tabela abaixo, na primeira coluna que expõe os dados da
porcentagem de micro e pequenas empresas sobre o total das empresas,
percebe-se que em todos os estados o percentual de MPE é predominante em número de
empresas. Em 2000, observa-se que as MPE prevaleceram como maioria,
representadas pelo intervalo entre 83,91% a 97,15% dos estabelecimentos e em
2004, se mantiveram também, ficando entre 76,25% a 90,27% dos
estabelecimentos do país.
Em termos de variação de crescimento do percentual por estado, no
período de 2000 para 2004, com exceção do Amapá e Goiás que aumentaram essa
relação entre MPE e o total de empresas, os demais estados mantiveram ou
reduziram em pequena escala os seus percentuais. Esse movimento se dá em
função de diversos fatores inerentes à economia de cada estado, que podem estar
vinculados às políticas de incentivos fiscais, com a inserção de novas empresas de
médio e grande porte; à migração de pequenas empresas para o patamar de médias
empresas e à mortalidade de micro e pequenas empresas no estado. Só um estudo
mais aprofundado por estado poderia detalhar as razões específicas dessas
variações.
Quanto aos dados da renda média familiar per capita, que está expressa
na segunda coluna, 55% dos estados obtiveram entre 2000 e 2004, uma variação
positiva, ou seja, de aumento dessa renda, ressaltando-se os estados de: Tocantins
com 15,87%; Sergipe com 13,98%; Piauí com 12,77%; Paraná com 12,48% e
Maranhão com 11,35%.
No que se refere à redução dessa renda, dos 45% dos estados que
tiveram uma variação negativa no referido período destacam-se os estados da
região norte: Acre com 32,48% de queda na renda média, Rondônia com 32,15%,
Pará com 18,52% e Amapá com 17,01%.
Na terceira coluna, que traz os dados da variável grau de urbanização por
Distrito Federal, em razão da pesquisa não ter sido realizada nesses estados nos
anos de 2000 e 2004.
Em relação à variação do grau de urbanização, no referido período, 52%
dos estados tiveram um aumento dessa participação, sobressaíram-se os estados
do Maranhão que teve um aumento da população urbana de 23,64%, seguido de
Sergipe com 9,33% e do Ceará com 8,45%. Já nos estados do Amazonas, Pará,
São Paulo e Rio Grande do Sul mantiveram-se os mesmos percentuais e em
TABELA - 06
Dados das Variáveis Explicativas por Estado PORCENTAGEM DE MPE/
TOTAL EMPRESAS
RENDA MÉDIA FAMILIAR
PER CAPITA GRAU DE URBANIZAÇÃO
ESTADO
2000 2004 % 2000 2004 % 2000 2004 % Acre 87,16 82,35 -5,52 402,25 271,59 -32,48 - - -Amapá 85,27 86,14 1,02 313,59 260,24 -17,01 - - -Amazonas 92,11 85,98 -6,65 267,05 254,40 -4,74 0,77 0,77 0,00 Pará 86,04 81,36 -5,44 267,88 218,27 -18,52 0,72 0,72 0,00 Rondônia 89,01 85,43 -4,02 371,14 251,83 -32,15 - - -Roraima 95,57 89,24 -6,62 352,17 323,75 -8,07 - - -Tocantins 89,81 85,57 -4,72 239,12 276,60 15,67 - - -Alagoas 89,67 85,92 -4,18 195,28 180,26 -7,69 0,67 0,66 - 1,49 Bahia 88,08 83,39 -5,32 212,29 218,52 2,93 0,65 0,68 4,61 Ceará 90,88 85,56 -5,85 221,47 213,64 -3,50 0,71 0,77 8,45 Maranhão 83,28 79,08 -5,04 173,60 193,31 11,35 0,55 0,68 23,64 Paraíba 85,43 79,59 -6,83 251,71 235,20 -6,56 0,71 0,77 4,61 Pernambuco 86.24 83,16 -3,57 236,86 243,21 2,68 0,60 0,62 3,33 Piauí 83,91 76,25 -9,13 185,13 208,77 12,77 0,76 0,75 - 1,32 R. G. Norte 89,46 84,08 -6,01 244,51 245,09 0,24 0,70 0,74 5,71 Sergipe 88,37 81,26 -8,05 239,23 272,68 13,98 0,75 0,82 9,33 Dist. Federal 87,70 83,65 -4,62 737,87 729,72 -1,10 - - -Goiás 85,20 89,10 4,58 351,54 382,78 8,88 0,85 0,88 3,53 Mato Grosso 91,65 88,04 -3,94 363,88 389,31 6,99 0,76 0,77 1,32 M. G. Sul 91,81 87,35 -4,86 368,67 372,74 1,10 0,85 0,85 0,00 E. Santo 92,93 86,42 -7,00 365,79 389,10 6,37 0,78 0,82 5,13 M. Gerais 94,91 88,06 -7,22 344,36 358,60 4,13 0,80 0,85 6,25 Rio Janeiro 86,65 81,26 -6,22 533,97 530,71 -0,61 0,96 0,97 1,04 São Paulo 93,76 89,32 -4,74 564,45 512,06 -9,28 0,94 0,94 0,00 Paraná 94,13 88,58 -5,89 417,77 469,93 12,48 0,81 0,84 3,70 R. G. Sul 97,15 90,27 -7,08 481,19 490,54 1,94 0,81 0,81 0,00 S. Catarina 93,24 88,09 -5,52 454,91 480,26 5,57 0,77 0,82 6,49
5.6 CORRELAÇÕES ENTRE VARIÁVEIS
Como se pode observar nas Tabelas 07 e 08, as correlações entre as
variáveis explicativas micro e pequenas empresas e urbanização e micro e
pequenas empresas e renda média familiar per capita são satisfatórias.
Esses resultados demonstram que há uma afinidade entre essas
variáveis, as quais contribuem para explicar as variações nas medidas de pobreza
representadas pelas variáveis dependentes: porcentagem de pobres, hiato de
pobreza e hiato quadrático de pobreza.
No tocante à variável educação, apesar da correlação com a variável,
micro e pequenas empresas ser significativa, quando se testa em relação às
variáveis renda média familiar per capita e ao grau de urbanização, os resultados
nos apontam problemas de multicolinearidade, verificando-se alta correlação entre
as mesmas.
Em função desses resultados desfavoráveis, tomou-se a decisão de não
incluir a variável educação no Modelo 02 proposto nesse estudo, que tem por
objetivo verificar as mudanças nas medidas de pobreza provocadas pelas variáveis
TABELA - 07
Correlações entre as Variáveis: MPE, Educação e Grau de Urbanização
VARIÁVEIS P0 mpe educ urb
P0 1
Mpe - 0.5750 1
Educ - 0.8812 0.3785 1
Urb - 0.7892 0.4736 0.8027 1
VARIÁVEIS P1 mpe educ urb
P1 1
Mpe - 0.5580 1
Educ - 0.8918 0.3785 1
Urb - 0.7919 0.4736 0.8027 1
VARIÁVEIS P2 mpe educ urb
P2 1
Mpe - 0.4300 1
Educ - 0.8775 0.3813 1
Urb - 0.7842 0.4728 0.8109 1
Fonte: Autor
TABELA – 08
Correlações entre as Variáveis: MPE, Educação e Renda Média
VARIÁVEIS P0 mpe educ yme
P0 1.000
Mpe - 0.5175 1.000
Educ - 0.8051 0.3455 1.000
Yme - 0.7710 0.2903 0.6993 1.000
VARIÁVEIS P1 mpe educ yme
P1 1.000
Mpe - 0.4954 1.000
Educ - 0.8183 0.3455 1.000
Yme - 0.8209 0.2903 0.6993 1.000
VARIÁVEIS P2 mpe educ yme
P2 1.000
Mpe - 0.3713 1.000
Educ - 0.8138 0.3455 1.000
Yme - 0.8209 0.2903 0.6993 1.000
6. ANÁLISE DOS RESULTADOS
Os resultados das estimativas realizadas nos Modelos 01 e 02 são
apresentados a seguir. A Subseção 5.1 apresenta a análise dos resultados do
Modelo 01 que estão expressos na Tabela 09 e na Subseção 5.2 são expostos os
resultados do Modelo 02 que podem ser verificados na Tabela 10.
Esse primeiro modelo tem a premissa de que a variável, micro e
pequenas empresas (mpe), provoque um efeito negativo em cada variável
dependente estimada. Ou seja, pressupõe-se que, isoladamente, ela produza esse
resultado de redução dos indicadores de pobreza analisados, à medida que cresça o
número de MPE em cada estado brasileiro. Pressupõe-se que, com o aumento do
número de ocupações / empregos gerados, ocorra nos estados uma melhoria dos
indicadores sociais, tendo em vista que os indivíduos deixarão a condição de pobres
ou indigentes para a condição de empreendedor ou empregado com renda própria
que melhore as suas condições de vida.
Quanto ao segundo modelo, o pressuposto é de que a variável, micro e
pequenas empresas (mpe), promova a redução dos indicadores de pobreza, de
forma associada com outras variáveis explicativas como a renda média familiar per
capita (yme) e grau de urbanização (urb) que, também, se espera que influenciem
negativamente nas variáveis dependentes.
6.1 ANÁLISE DOS RESULTADOS DO MODELO 01
A Tabela 09 apresenta os resultados do Modelo 01 com os efeitos da
variável explicativa micro e pequenas empresas (mpe) em relação às variáveis
dependentes compostas pelas medidas de pobreza, a partir das estimativas da
equação (01).
São consideradas três composições das medidas de pobreza sendo: P0
para a porcentagem de pobres, P1 para o hiato de pobreza e P2 para o hiato
Como se pode observar, inicialmente, na referida tabela, os resultados
demonstram que o coeficiente de P0, referente à porcentagem de pobres, conforme
o esperado, tem o sinal negativo e se mostra significativo em relação à variável
explicativa micro e pequenas empresas (mpe).
Com relação à estimação da variável dependente P1 relativa ao hiato de
pobreza pode-se verificar no resultado que o coeficiente apresentado, também, é
negativo e significativo em relação a variável explicativa mpe. Esse resultado
demonstra que as micro e pequenas empresas tendem a reduzir também a
intensidade da pobreza, isto na média das diferenças das rendas dos pobres em
relação à linha de pobreza.
Quanto às estimativas da variável dependente P2, que é referente ao
hiato quadrático de pobreza em relação à variável mpe, os resultados apresentados
demonstram que o coeficiente teve o sinal negativo, embora não tão significativo
para P2 como para P0 e P1.
Dessa forma, pode-se deduzir que as micro e pequenas empresas, de
forma isolada, exercem mais influência na redução dos indicadores da porcentagem
de pobres e do hiato de pobreza, do que na redução do indicador que mede o
processo de evolução do hiato da pobreza (hiato quadático).
TABELA – 09
Resultados das Regressões do Modelo 01 VARIÁVEIS
EXPLICATIVAS P0 P1 P2
mpe - 1.704324* (- 3.55)
- 1.017876* (- 3.40)
- .5634586* (- 2.56)
const 1.942211*
(4.63)
1.113409* (4.26)
.6371083* (3.32)
N 53 53 52
R2 0.1980 0.1849 0.1161
R2 ajustado 0.1823 0.1689 0.0984 Obs.: * Mostra que a estatística é significativa ao nível de 95%
6.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS DO MODELO 02
A Tabela 10 traz os resultados do Modelo 02 e apresenta a mesma
formação no que tange as três medidas de pobreza: P0 referente à porcentagem de
pobres, P1 referente ao hiato de pobreza e P2 referente ao hiato quadrático de
pobreza, só que nesse caso em relação a um conjunto de variáveis explicativas
composto pela variável micro e pequenas empresas (mpe), pela variável renda
média familiar per capita (yme) e pela variável grau de urbanização (urb).
Na referida tabela, verifica-se que para a variável dependente P0, os
resultados dos coeficientes em termos de sinais foram negativos para todas as
variáveis explicativas do conjunto estimado (mpe, yme e urb) e também foram
significativos, sendo que mais acentuado para as variáveis micro e pequenas
empresas e grau de urbanização do que para a variável renda média familiar per
capita.
As estatísticas “t” foram significativas e R2 demonstra que 77,94% das
variações no indicador de porcentagem de pobres é explicado pelo conjunto das
variáveis mpe, yme e urb, que de forma agregada respondem por esse resultado.
No que se refere às estimações do indicador do hiato de pobreza, a
variável dependente P1, os efeitos foram, também, satisfatórios porque tanto os
sinais dos coeficientes se apresentaram com sinais negativos, conforme o esperado,
como estes coeficientes foram significativos. Com o mesmo comportamento da
estimação anterior, a variável renda média familiar per capita, aqui teve também
uma significância menor do que as variáveis micro e pequenas empresas e grau de
urbanização.
O R2, nesse caso, também explica que 76,85% das mudanças em P1 são
provocadas pela ação conjunta dessas três variáveis explicativas mpe, yme e urb.
Ainda na Tabela 10 pode-se observar os resultados das estimativas para
a variável dependente P2 que trata do hiato quadrático de pobreza. De acordo com
relação às variáveis explicativas agregadas. O R2 mostra que 75,13% das mudanças
na variável dependente P2 são vinculadas aos efeitos das variáveis explicativas
mpe, yme e urb.
Os três coeficientes foram significativos, observando que a variável renda
média per capita continua sendo menor como nas estimações anteriores. Entretanto
comparando os resultados de P2 com os obtidos com P0 e P1, estes foram
menores, demonstrando que a influência na evolução da pobreza continua sendo
menos intensa, mesmo quando se agregam outras variáveis explicativas à variável
micro e pequenas empresas.
TABELA - 10
Resultados das Regressões do Modelo 02 VARIÁVEIS
EXPLICATIVAS P0 P1 P2
mpe - .8687145* (- 2.72)
- .4897699* (- 2.44)
- .0777922* (- 0.51)
yme - .0005327* (- 4.66)
- .0003322* (- 4.62)
- .0002717* (- 5.01)
urb - .7354884* (- 4.09)
- .4528009* (- 3.99)
- .3605008* (- 4.22)
const 1.955224*
(7.72)
1.111812* (6.97)
.58118* (4.83)
N 40 40 40
R2 0.7794 0.7685 0.7513
R2 ajustado 0.7611 0.7492 0.7306 Obs.: * Mostra que a estatística é significativa ao nível de 95%
Os resultados entre parênteses se referem às Estatísticas “t”
6.3 ANÁLISE COMPARATIVA
É importante salientar que na análise dos resultados do trabalho de Beck,
Kunt e Levine (2005), as regressões para as MPE em relação ao crescimento
obtiveram resultados satisfatórios que demonstram que há uma relação positiva
entre o tamanho relativo das MPE e o crescimento econômico dos países, ou seja,
os países com grande segmento de MPE industriais tendem a crescer mais