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Relatório de Educação Física 1º semestre/2017

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Academic year: 2021

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A turma do 1º ano de 2017 recebeu 8 alunos novos, devido a isso me apresento, peço que a criança faça o mesmo, evitando exposições desnecessárias, uma vez que ainda não temos vínculo algum. Nesta turma não aconteceu de nenhuma criança mostrar desconforto com a maneira que começ amos a nos conhecer. Perguntei então a cada um deles se já tinham ido em alguma outra escola além da Escola do Sitio e para minha surpresa, tinha uma criança que estava chegando na escola pela primeira vez...os demais já tinham passado por tal experiênci a. A minha segunda pergunta é se nesta outra escola eles tiveram educação Física e sigo perguntando sobre quais eram as lembranças que as crianças trazem desse momento. Este ano também perguntei para os alunos e alunas que já em conhecem, o que eles lembram do ano anterior...o que tinha na aula da Andrea?

Somos 23, 21 crianças e 2 adultas.

Neste começo, ou recomeço, escolhi, há algum tempo, apresentar as turmas de 1º ano brincadeiras que fazem “sucesso” entre as crianças da escola. Brincadeiras que se tornaram “tradicionais” e que, ao serem conhecidas pelas crianças tornam-se um ótimo convite para o encontro entre diferentes turmas. Brincadeiras da cultura dessa escola. Acredito no encontro de pessoas, tenham elas a idade que for, pois somente proporcionando os encontros podemos aprender a encontrar. Somente brincando aprendemos a brincar!

“Brincar é como um soro silencioso, gotejante, invisível, percorre por dentro, ensina por via venal os modos de apreender o sumo do mundo.”

(Piorsky, 2015 p.86)

Para mim é importante situar você leitora ou você leitor sobre o “lugar” de onde falo sobre Educação Física, sei bem que este é apenas um relatório de grupo, de uma das áreas de conhecimento que a escola deve privilegiar, porém acho extremamente necessária tal orientação. A base teórica que fundamenta meu trabalho como professora de educação física e pesquisadora de práticas corporais está nas ciências humanas e sociais, e não na área da saúde ou da biologia. Essa

Relatório de Educação Física – 1º semestre/2017

Turma: 1º ano Professora: Andrea Desiderio da Silva

Coordenadora: Lucy Ramos Torres

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escolha nos possibilita conhecer os fenômenos cor porais, ou as práticas corporais, pelo olhar da história, da sociologia, da antropologia e da filosofia e torna o fazer

“corporal”

1

um possível campo para a experiência

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de cada um dos presentes (alunas, alunos e eu).

Partindo deste lugar valorizo o brincar como algo que vai muito além da possibilidade de desenvolvimento corporal, ou de habilidades corporais. Valorizo o brincar, e todas as outras formas culturais construídas historicamente no plano material e no simbólico, por elas mesmas, por seu valor cul tural, social e humano.

Pode parecer óbvio que uma criança quando brinque de pega -pega tenha que correr. Para mim ela está inserida em uma teia de possibilidades nesse brincar de pega que amplia por demais essa simples habilidade. Ela está incorporando um saber humano, exercendo sua cultura, sua linguagem, sua ancestralidade, perguntando e respondendo ao mundo sobre sua potência de vida.

Começamos então a brincar de “Acorda seu urso”. Esta é uma brincadeira de pega que tem um personagem muito especial...um urso! Com o passar dos anos fui criando grande empatia por este urso e atualmente já conto a todos que ele mora na Escola do Sitio, pois como tenho que chamá-lo repetidas vezes, ele não tem mais tempo de voltar pra casa. A brincadeira é assim: uma pessoa deita no centro de uma roda e finge estar dormindo (esta pessoa é o URSO). As pessoas da roda vão girando e cantando “Acorda seu urso....acorda seu urso....acorda seu urso...”em voz baixa e vai aumentando o volume. DE REPENTE o urso acorda e sai correndo para pegar as pessoas. A primeira pessoa a ser pega se transforma em urso e faz a brincadeira recomeçar, e assim segue até que todas tenham sido transformadas em ursos. As tensões provocadas por esta brincadeira são certamente o fator motivador da continuidade. O medo do urso está sempre presente e isso possibilita tal elaboração, uma vez que o medo, não tem nada de simbólico neste momento, ele é real, mesmo sabendo que o urso é uma pessoa. Pude perceber que o medo é mais intenso quando o número de urso s é menor, ao passo que a quantidade de ursos vai aumentando, o medo vai virando conquista.

A segunda brincadeira que ensinei foi a Corrida Pô. Primeiro a gente jogou “Joken Pô” em duplas e depois, em outra aula, comecei a ensinar a maneira de divisão de equipes que utilizo nesta escola, na grande maioria das vezes em que precisamos de

1 Busquei com essas aspas, chamar a atenção para esta adjetivação do fazer, uma vez que tudo que fazemos é corporal, pois somos corpo!

2 A palavra experiência, aqui inserida, remete-se a ideia de experiência proposta pelo professor de filosofia da educação, Jorge Larrosa da Universidade de Barcelona, em seu texto “Notas sobre a experiência e o saber da experiência” capítulo 1 do livro Tremores.

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equipes. Vou descrevê -la aqui pois vejo o grande valor que este formato pode ter em relação a escolhas, respeito a opinião de cada um, protagonismo, autonomia, tomada de decisão , amizade, estratégia, frustração e organização social . Todos os itens mencionados foram e são observados a cada nova oportunidade que tenho de passar por isso, ou a cada nova possibilidade de explicação que tenho que fazer para alguém que questiona este f ormato. A cada novo dia que precisamos de equipes, novas pessoas são chamadas para passar por esta experiência, poucas são as vezes que alguém diz não querer. Os grupos são os mais mistos possíveis em relação a gênero, pois sempre o critério de escolha se gue uma única determinação, depois de escolher uma menina, sempre deve vir um menino e vice-versa. Para esta brincadeira precisamos de dois times, organizados em duas filas que devem marcar um local de saída e espera da vez. Cria -se um caminho onde as duas filas deverão se encontrar. Ao começar o jogo, uma pessoa de cada fila sai correndo pelo caminho pré estabelecido e ao encontrar o adversário devem jogar “joken pô”, a pessoa que perder deve gritar “PÔ” e retornar ao final de sua fila, ao mesmo tempo que outra pessoa de sua equipe deve sair correndo pelo caminho, a pessoa que ganhar deve seguir o caminho, até encontrar o próximo adversário e assim por diante. Este parece ser um jogo infinito!

Este ano tivemos um acontecimento bastante especial, pudemos jogar Corrida Pôh com os alunos do 6º ano! Foi muito interessante....ver a mistura de idades, ver os

“grandes” jogando com e como os “pequenos”.

Nestes jogos podemos identificar nitidamente duas das categorias de jogo propostas

por Callois (1990) – Alea (jogos de sorte e azar) e Mimicry (jogos fictícios no qual as

alunas e alunos se transformam na personagem.

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Seguindo um aprendizado que tive em 2016 solicitei que as crianças sugerissem jogos de pegar que pudéssemos fazer durante as aulas. Recebi as seguintes sugestões: esconde -esconde, pega-pau, pega alto, pedra, papel tesoura, pega-pega, pega-corrente, monstro da lama, pega árvore, pega-pega sol, tica gelo, tica-trepa, dragões e fadas, pega -sardinha, barra-manteiga. Além dessas também trouxe pega - privada, pega-rabo, nunca três, mamãe polenta e pega ajuda.

Com essa dinâmica fortalecemos a participação do aluno na criação do processo ensino-aprendizagem e o protagonismo deles perante suas ações escolares. Estou com grande enfoque na autonomia das crianças, além de possibilitar, com esses jogos, que percebam e vivenciem a ação de cada um em suas próprias escolhas corporais.

Também brincamos de “Boca da baleia”, outro clássico da escola, já conhecido das crianças que estiveram no Sitio na educação infant il. Jogo com corda também conhecido por “zerinho”. Mas no Sitio tem o diferencial...tem uma baleia! E essa baleia está com muita fome e mais uma vez as crianças se colocam no lugar da personagem do jogo, dessa vez são a “comida” da baleia. Caso a criança passe pela corda e esta toque alguma parte do corpo significa que esta parte foi comida!!!!

Nossas aulas neste semestre são às segundas e quartas e sempre após o lanche.

Normalmente as crianças estão no parque e eu vou chegando, observando e quando vejo que posso interferir, os chamo para nosso encontro.

No início de maio começamos o processo da Festa Junina e neste ano optamos inicialmente por falar do sertão brasileiro, estimulados pela visita da banda L ampião Caveira que nos apresentou um tanto de histór ias e de músicas que falam sobre este lugar do Brasil. Conhecemos a “Asa branca”, o Lampião e seu bando de cangaceiros, a volante e fomos descobrindo as maravilhas existentes na paisagem da caatinga, muito característica desta região. Vimos a seca, o serta nejo, a caatinga verdinha depois da chuva, as plantas e os animais que lá vivem... Conhecemos as rendeiras e por elas nos encantamos. A cada dia de encontro para a preparação da apresentação criávamos novas festas “for all” ou forró e brincamos de xote, xaxado e baião.

E para finalizar a apresentação quisemos mostrar nossa relação com o grupo Sabuká da aldeia Kariri Xocó e cantamos um Toré.

“Etsami bói ói viró....kariri xocó sabuká!”

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Boas férias a todos.

Andrea Desiderio

Referências citadas no texto

CAILLOIS, R. Os jogos e os homens. Lisboa: Portugal, 1990.

PIORSKI, Gandhy. Brinquedos de chão.

Referências

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