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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA LICENCIATURA EM MÚSICA ISAAC DO NASCIMENTO QUEIROZ

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA

LICENCIATURA EM MÚSICA

ISAAC DO NASCIMENTO QUEIROZ

CORAL VIVENDO O CANTO: prática coral para pessoas com deficiência visual do projeto Esperança Viva da Escola de Música da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte (EMUFRN)

NATAL/RN 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA

LICENCIATURA EM MÚSICA

ISAAC DO NASCIMENTO QUEIROZ

CORAL VIVENDO O CANTO: prática coral para pessoas com deficiência visual do projeto Esperança Viva da Escola de Música da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte (EMUFRN)

Monografia apresentada ao curso de licenciatura plena em música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) com requisito parcial para a obtenção do grau de licenciado em Música.

Orientadora: Profª. Cláudia Roberta de Oliveira Cunha

NATAL/RN 2021

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ISAAC DO NASCIMENTO QUEIROZ

CORAL VIVENDO O CANTO: prática coral para pessoas com deficiência visual do projeto Esperança Viva da Escola de Música da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte (EMUFRN)

Monografia apresentada ao curso de licenciatura plena em música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) com requisito parcial para a obtenção do grau de licenciado em Música.

BANCA EXAMINADORA

Profª. Cláudia Roberta de Oliveira Cunha Orientadora

_________________________________________________________________ Profª. Ma. Catarina Shin Lima de Souza

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_________________________________________________________________ Profª Thaise Matias

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Dedico esse trabalho em memória de minha mãe Creusa Maria do Nascimento, meu pai João Batista Queiroz de Maria, minha irmã Iris do Nascimento Queiroz e à mestra do Pastoril Dona Joaquina Séphora Maria Bezerra.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por ter me permitido ingressar no curso de Licenciatura em Música e poder chegar a esse momento.

Aos meus pais e minha irmã Iris que sempre me encorajaram a acreditar em meus sonhos e lutar por eles. Serão sempre a maior referência que terei em minha vida. Dói bastante não ter a presença deles comigo para juntos celebrarmos esse momento, mas sei que onde eles estiverem, estarão alegres por eu ter chegado a essa fase em minha trajetória.

À Séphora Bezerra, mestra do Pastoril Dona Joaquina, de São Gonçalo do Amarante/RN, que no ano de 2012 me incentivou a fazer o curso de Regência em Música pelo Pronatec na UFRN. Esse foi o início de minha trajetória acadêmica rumo a Graduação.

Agradeço à minha esposa Adriana Lisboa, por ter sido minha adjutora nessa trajetória.

Aos meus irmãos Isaias e Ana Talita que assim como Iris e nossos pais sempre me incentivaram a prosseguir acreditando que esse dia chegaria.

A todo corpo docente que compõe a Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que se dispuseram a passar seus saberes para minha formação.

A todos os envolvidos no Projeto Esperança Viva. Desde a coordenação das professoras Catarina Shin Lima de Souza e Elizabeth Sachi Kanzaki, que me concedeu a honra de participar desse maravilhoso projeto. Atividade que agregou tantos valores humanos me preparando para ir além da docência. O aprendizado com a equipe do projeto não cabe em uma sala de aula, repercute em nosso caráter, visão de mundo. Saberes que são necessários para a formação do ser.

Um muito obrigado especial a minha orientadora professora Cláudia Roberta de Oliveira Cunha por ter aceitado minha solicitação. Fui orientado por ela também durante a monitoria no Coral Vivendo o Canto, período no qual tive a oportunidade de reger o grupo. Foi um grande incentivo e contribuiu para o amadurecimento em minha formação.

A todos os alunos e monitores do Coral vivendo Canto, com os quais pude estabelecer e desenvolver significativa troca de aprendizagem.

A Janilson Nascimento por todo apoio prestado a mim durante a elaboração desse trabalho.

Por fim, a todos que de maneira direta ou indireta cooperaram comigo nessa jornada. Aprendizado que será compartilhado com os futuros discentes que estarão sob minha tutoria.

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“Pensamentos tornam-se ações, Ações tornam-se hábitos, Hábitos tornam-se caráter, E nosso caráter torna-se Nosso destino”. James c. Hunter

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Resumo:

O presente trabalho é um relato de experiência que reflete a vivência do autor no coral Vivendo o Canto, grupo que integra o projeto de extensão Esperança Viva da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EMUFRN). Pretendo descrever a metodologia desenvolvida no processo de ensino e aprendizagem do canto coral. As aulas para este grupo são ministradas desde o ano de 2016 nas dependências da EMUFRN, com a finalidade de promover o ensino do canto para pessoas com deficiência visual e ainda possibilitar a formação musical dos alunos, contribuindo para o bem-estar pessoal e social de cada coralista. A coleta de dados para o desenvolvimento do trabalho se deu por meio das pesquisas bibliográfica, documental, das entrevistas com monitores e ex-monitores do projeto e da narrativa do autor por intermédio das práticas e observações adquiridas durante a monitoria no coral. Com base nos dados obtidos foi possível explanar os avanços e dificuldades que envolvem o processo de e n s i n o e aprendizagem da pessoa com deficiência visual. O trabalho evidencia que mediante as atividades musicais, neste caso o canto coral, é possível encorajar a pessoa com deficiência visual ocupar o espaço que lhe cabe dentro da sociedade, desenvolvendo atividades que eles desempenharão com competência.

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Abstratct

The present work is an experience report that reflects the author’s experience in the choir Vivendo o Canto, group that integrates the extension project Esperança Viva of the School of Music of the Federal University of Rio Grande do Norte (EMUFRN). Intending to describe the methodology developed in the teaching and learning process of choral singing. The classes of this group are administer since the year of 2016 in the premises of the EMUFRN, with the purpose of promoting singing teaching for people with visual impairment and also enable the musical formation of the students, contributing to the personal and social well-being of each chorister. The data collection for the development of the work took place through bibliographical research, documentary, interviews with monitors and former monitors of the project and the author’s narrative through the practices and observations acquired during the monitoring in the choir. Based on the data obtained it was possible to resolve the advances and difficulties that involve the teaching and learning process of the visually impaired person. The work shows that through musical activities, in this case choral singing, it is possible to encourage the visually impaired person to occupy their space within society, developing activities that they will perform with competence.

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LISTA DE FOTOGRAFIAS

Foto 1 – Primeiros ensaios do coral Vivendo o Canto ... 22

Foto 2 – Aquecimento vocal...24

Foto 3 – Segundo momento da aula, ensaio ... 25

Foto 4 – Monitores...27

Foto 5 – Apresentação do coral na ONG ADIC ... 35

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LISTA DE FIGURAS

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Lista de Siglas e Abreviaturas

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

EMUFRN – Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte ADIC - Associação para o Desenvolvimento de Iniciativa de Cidadania

SEBRAIN – Setor de Musicografia Braille e Apoio à Inclusão

PRONATEC – Programa nacional de acesso ao ensíno técnico e emprego IERC-RN - Instituto de Educação e Reabilitação de Cegos do Rio Grande do Norte

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Sumário

1 INTRODUÇÃO ... 14

1.1 Experiência como monitor ... 16

1.2 Deficiências: breve histórico ... 17

1.3 Universo da arte e a pessoa com deficiência visual ...20

2 METODOLOGIA ... 21

2.1 Contexto da pesquisa ... 21

2.2 A experiência como monitor no Coral Vivando o Canto ... 22

3 CORAL VIVENDO O CANTO ... 22

3.1 Desenvolvimento do processo de ensino aprendizagem ... 22

3.2 Atuação dos monitores ... 27

3.3 Composição do coral...32

3.4 Como o coral vivendo o canto contribui pra a saúde e bem-estar dos participantes...33

4 REGÊNCIA ... 35

4.1 Relato da minha vivência com a regência ... 36

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 38

REFERÊNCIAS ... 39

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1 INTRODUÇÃO

Ingressei no curso de licenciatura em música da UFRN em 2016. No segundo semestre deste mesmo ano houve um evento na Escola de Música que despertou muito minha atenção. Tratava-se do IV Encontro sobre o Ensino de Música para pessoas com Deficiência Visual. O encontro fazia parte das diversas ações desenvolvidas pelo projeto de extensão Esperança Viva, que tem a coordenação da professora Catarina Shin Lima de Souza.1

Na exposição instalada na recepção da EMUFRN encontravam-se diversos objetos e acessórios utilizados para acessibilidade e escrita de pessoas com deficiência visual. Dentre tantos objetos, a máquina de escrever em Braille causou-me interesse em particular. Até aquele momento não fazia ideia de sua funcionalidade. Na verdade, não sabia quase nada sobre educação inclusiva. Por eu ser recém-chegado à academia, ainda não havia despertado em mim o interesse para conhecer e interagir com os projetos de extensão que a Universidade oferecia. Esta exposição foi o ponto de partida para uma nova visão sobre a música e a educação.

Enquanto eu observava os objetos expostos, uma colega que estava na monitoria do projeto de extensão e atuava na exposição perguntou se eu gostaria de conhecer o funcionamento da máquina de escrever em Braille. Logo aceitei o desafio. Ela iniciou explicando como se dava o manejo daquele equipamento e qual a importância daquele objeto para as pessoas com deficiência visual. Tive a oportunidade de manusear uma das máquinas e aquilo para mim foi uma experiência incrível. Em poucos minutos eu estava conseguindo escrever pequenas frases utilizando o sistema Braille. O resultado me surpreendeu. Para tanto, além da explanação da colega, pude ainda consultar um manual impresso em tinta que estava disponível para o público interessado.

Depois dessa nova e inesperada experiência, procurei mais informações sobre o evento e sua programação. Logo vi que estava previsto para começar em poucos minutos a apresentação de um grupo de flautas doce, pertencente ao Projeto Esperança Viva. Como não havia atividades letivas para mim naquela tarde, resolvi assistir à apresentação. Os componentes do conjunto eram pessoas com deficiência visual, foi impressionante a energia que transmitiam. Todos tocavam mesmo sem saber quem eram seus espectadores e sem se importar se a plateia estava dando a devida atenção ou não. Eles demonstravam estar realizados executando o repertório e a cada término de música vibravam com os aplausos. Em resposta à receptividade do público, tocavam cada vez mais entusiasmados.

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Professora da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Criadora e coordenadora geral do Projeto Esperança Viva. Atua na área de Educação Inclusiva e faz parte do quadro docente do curso de Licenciatura e Música.

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Tudo que havia presenciado naquela tarde causou-me muitos questionamentos. Lembrei do livro Educação e Mudança de Paulo Freire (1921-1997), escrito após 15 anos de seu exílio, no qual ele diz que: “As abelhas não fazem mel especial para consumidores mais exigentes, apenas são determinadas pelo instinto (Freire, 2013, p.26). Essas palavras fizeram-me refletir sobre o tipo de músico que eu estava sendo, pois em 2016 além da licenciatura eu também fazia o curso técnico com ênfase instrumental em Tuba. Até aquele momento a licenciatura para mim era um curso experimental.

Ainda havia incertezas se queria de fato ser professor, trilhar o caminho da docência. Eu acreditava que fazer música se restringia aos palcos. No entanto, as pessoas que estavam naquela apresentação mostraram a pura essência da música. Passei então a entender que a autenticidade musical não se restringia obrigatoriamente às técnicas conceituadas nas academias.

Não desmereço a importância do aprofundamento nos conhecimentos que foram desenvolvidos através dos séculos na arte musical. São muitos os caminhos que podem ser percorridos no processo ensino-aprendizagem. O que quero expor com esse trabalho é resultado do impacto causado em mim por aquela apresentação do grupo de flautas. A música soava como algo que saía do interior de cada um dos componentes, emocionando e surpreendendo o público. Eles apresentavam uma arte salvadora e transformadora, como se não existisse algo mais importante do que aquele momento. Aquele grupo era a prova concreta que educação musical pode transformar vidas.

Estes alunos poderiam desistir de seguir a trajetória do conhecimento. Sabe-se que são inúmeras as dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência visual. A educação inclusiva modificou o cotidiano destes alunos. A deficiência visual não os fez estacionar. Pelo contrário. Vários deles buscaram forças para seguir e mostrar à sociedade e provar a eles mesmos que são capazes de grandes conquistas.

Presenciar aquele momento me fez perceber que a música não está limitada ao palco e às mídias sociais. Ela é uma ferramenta transformadora capaz de mudar vidas. Por meio da música é possível erradicar contextos adversos dos mais variados no meio social.

Quando o homem compreende sua realidade, pode levantar hipótese sobre o desafio dessa realidade e procurar soluções. Assim, pode transformá-la e o seu trabalho pode criar um mundo próprio: seu e as suas circunstancia. (FREIRE, 2013, p. 25).

Impactado que estava, busquei mais informações sobre o Projeto Esperança Viva. A monitora havia me apresentado a máquina de datilografia Braille me encaminhou à Elizabeth Kanzaki2. Ela explicou o funcionamento do

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Bibliotecária-Documentalista da biblioteca setorial Pe. Jaime Diniz, da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Exerce a função de coordenadora adjunta do Projeto Esperança Viva desde sua criação.

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projeto, sobre os grupos musicais de extensão que estavam vinculados e descreveu as atribuições dos monitores. Como já estava no final do semestre, deveria aguardar o primeiro semestre do seguinte ano letivo para ingressar na monitoria tão almejada. Não havia ainda como saber se conseguiria ser contemplado com uma bolsa de extensão. Mesmo assim, queria abraçar a causa e ingressar neste contexto inovador de trabalho com música. Não tenho dúvida que as experiências e valores adquiridos durante minha permanência no Projeto Esperança Viva fortaleceram minha trajetória. Sempre um impulso para que eu pudesse chegar a este momento: a reta final do curso de licenciatura.

1.1 A experiência como monitor

Em 2017 iniciei o ano letivo com a expectativa de atuar nas atividades de monitoria oferecidas pelo projeto. Fiz contato com a vice-coordenadora do projeto e confirmei o interesse em colaborar como voluntário, aguardaria a bolsa quando estivesse disponível. Ela sugeriu que eu conhecesse cada uma das atividades desenvolvidas no projeto para escolher qual eu me identificava melhor. A estrutura do projeto Esperança Viva abrangia vários subprojetos com os grupos musicais. Procurei visitar os ensaios e as aulas de cada um deles.

Em conversas com alguns monitores mais antigos, pedi sugestões sobre qual das atividades eu poderia me enquadrar. Mauricio Eslabão da Fonseca, que já fazia parte da monitoria do projeto há algum tempo, convidou-me para atuar com ele no grupo flauta doce. Nós já havíamos tocado juntos e ele conhecia minha habilidade com o instrumento. Aceitei a proposta entusiasmado. Eu seria monitor daquele grupo que tanto me inspirou no evento que já mencionei. Assumi uma tarefa desafiadora: orientar o ensino da flauta doce para uma turma de pessoas com deficiência visual.

Na primeira aula permaneci apenas como espectador. Até então não sabia como exercer minhas atividades de ensino. Aos poucos fui sentindo-me mais à vontade com os alunos. Observava atentamente a forma que Mauricio Eslabão e os demais monitores desenvolviam o processo de ensino- aprendizagem com os alunos. No decorrer da aula, apresentaram-me à turma como o mais novo colaborador do grupo. Fui recebido com o mesmo entusiasmo que já havia presenciado naquele evento que tanto me inspirou. A turma se mostrou acolhedora e calorosa comigo. Todos os alunos e alunas me receberam com alegria e hospitalidade que jamais esquecerei.

De acordo com Lev Vygotsk (1896-1943), nos tornamos nós mesmo através dos outros. O que ele diz fez sentindo para mim quando passei a conviver com todos os que fazem parte do Projeto Esperança Viva. Tendo em vista que alunos, monitores, professores e coordenadores se dedicam à mesma causa. É um trabalho colaborativo que se empenha na expansão das possibilidades para que as pessoas com deficiência visual possam ocupar o espaço delas na sociedade. A convivência tornou-me mais solidário, mais

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empático. Pude entender o que as pessoas com deficiência visual enfrentam cotidianamente.

1.2 Deficiências: breve histórico

Independente de qual seja a deficiência física ou intelectual, sempre houve segregação nas diversas sociedades ao longo da história. No período que vai do século IX ao VII a.c, os espartanos não aceitavam o nascimento de pessoas que apresentassem quaisquer deficiências físicas. As crianças assim nascidas eram levadas ao ponto mais alto do Monte Taigeto, Grécia, de onde seriam jogadas do penhasco. Os espartanos estabeleciam critérios de seleção para que fossem uma raça perfeita. Qualquer defeito físico era inaceitável na era do teocentrismo medieval. Durante o longo período da Inquisição, iniciado no século XII, acreditava-se que as pessoas que nasciam com deficiência possuíam poderes malignos. Por esse motivo milhares foram torturadas e queimadas em locais públicos. Quem ousasse fazer uma mínima exposição de qualquer deficiência física poderia ser acusado de bruxaria. Qualquer defeito físico era inaceitável na era do teocentrismo medieval.

Foi a partir do Renascimento que:

No mundo europeu cristão, ocorreu uma paulatina e inquestionável mudança sócio-cultural, cujas marcas principais foram o reconhecimento do valor humano, o avanço da ciência e a libertação quanto a dogmas e crendices típicas da Idade Média. De certa forma, o homem deixou de ser um escravo dos “poderes naturais” ou da ira divina. Esse novo modo de pensar, revolucionário sob muitos aspectos, “alteraria a vida do homem menos privilegiado também, ou seja, a imensa legião de pobres, dos enfermos, enfim, dos marginalizados. E dentre eles, sempre e sem sombra de dúvidas, os portadores de

problemas físicos, sensoriais ou mentais” (SILVA, 1987, p.

226).

Mesmo com algumas mudanças comportamentais ocorridas no período renascentista, ainda permanecia o preconceito e a discriminação relacionados aos problemas físicos. Pessoas que os tivessem não ocupavam cargos funcionais considerados respeitosos pela sociedade. Eram repudiados e a maioria sobrevivia de esmolas. Uns poucos serviam aos reis assumindo o papel de comediantes, bobos da corte.

Em 1831 o escritor Victor Hugo (1802-1885) criou um romance que lançou a temática da deficiência. O personagem central, Quásimodo, nascido com uma visível deformação nas costas. Rejeitado pela família, foi acolhido por padres tornando-se o sineiro na Catedral de Notre-Dame de Paris. Hugo o descreveu da seguinte maneira:

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Uma cabeça formidável, com uma cabeleira ruiva eriçada; entre os ombros, uma protuberância enorme que, com o movimento, percebiase pela frente; um sistema de coxas e de pernas tão singularmente descambadas que apenas se podiam aproximar pelos joelhos e, vistas de frente, pareciam duas lâminas recurvas de foices, unidas pelo cabo, pés largos, mãos monstruosas. (Hugo,2003, p.60)

O enredo da história é ambientado no século XV. Quasimódo vivia no campanário da catedral, escondido do mundo e de todos. O autor relata pela voz de outro personagem, Mestre Jacques Coppenole, uma festa onde todos se divertiam naquele tempo, conhecida por festa dos loucos, na qual o corcunda poderia participar: “cada um mete a cabeça por um buraco e faz uma careta aos outros. Aquele que fizer a momice mais feia é eleito papa por aclamação” (Hugo, 2003, p.56). O título de “papa dos loucos”, como já era de se esperar, foi concedido a Quásimodo. Foi escolhido por sua diferença. Podia mostrar-se, pelo menos naquela festividade. Segundo Hugo, Quásimodo se alegrou com a vitória vibrando e pulando. No festival, o corcunda foi aclamado papa dos loucos pelo seu corpo defeituoso, foi aceito por ser diferente. Porém, no dia a dia, vivia oculto e ao ser visualizado por qualquer circunstância era ridicularizado. O autor mostra a ambiguidade dos valores no íntimo da estrutura sócio-cultural vigente.

Na Europa ecoavam os reflexos das ideias iluministas desde finais do século XVII. No plano social as questões relacionadas à deficiência passam a ser discutidas e estudadas. Surgem as primeiras escolas para pessoas com deficiência. Na França encontram-se duas instituições pioneiras que possibilitariam a educação e a integração sócio-profissional para esta população ignorada e marginalizada. No ano de 1760 o francês Charles-Michel I’Épée (1712-1789) criou o instituto de surdos-mudos em Paris. E em 1784, Valentin Háüy (1743-1822) fundou, também em Paris, o Instituto Real de Jovens Cegos.

No Brasil, foi criado por D. Pedro II (1825-1891) o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, por meio do decreto Nº 1.428, em 12 de setembro de 1854, na cidade do Rio de Janeiro. Com a república instaurada, a instituição passou a se chamar Instituto Benjamin Constant, a partir de 1891, em homenagem a um dos pioneiros que propagou a educação para pessoas com deficiência visual no país e que também havia sido o terceiro diretor do antigo instituto.

Desde então as pessoas com defienciência foram conquistanto ainda mais seu espaço na sociedade. A exemplo do Instituto Benjamin Constant, outros estados criaram entidades educacionais para cegos. Roma (2018) detalha em seu artigo publicado na Revista Ciência Contemporânea, que em 1926 em Minas Gerais foi fundado o Instituto de Cegos São Rafael. Em 1927, no estado de São Paulo, surgiu o Instituto de Cegos Padre Chico em homenagem ao Monsenhor Francisco de Paula Rodrigues. O instituto acolhia crianças e adolescentes que estudavam o Sistema Braille e aprendiam atividades manuais. Estas duas instituições funcionam até os dias atuais.

Em Natal foi criado o Instituto de Educação e Reabilitação de Cegos do Rio Grande do Norte pelo Dr. Ricardo Cesar Paes Barreto em 1952, com a

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finalidade de promover a pessoa com deficiência visual a inserção no âmbito da educação, cultura, esporte, habilitação e reabilitação. (Tribuna do Norte, 2018).

A legislação brasileira viria a firmar um compromisso mais abrangente à causa das pessoas com deficiência. Em 20 de dezembro de 1961 foi publicada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Nos artígos 88 e 89 desta Lei aparece a expressão “educação de excepicionais” e é também uma demonstração que o Estado passa se responsabilizar pelo atendimento educacional desta parcela da população em escolas especiais. Dez anos depois, em 1971, no período de ditadura militar, foi criada uma nova LDB. A Lei definiu estratégias para que os alunos com deficiência pudessem ser inseridos na sociedade, nota-se um movimento de integração deste sujeitos. Contudo, ainda permaneciam em instituições separadas que não pertenciam à escola regular. Os padrões de segregação ainda faziam parte da estrutura educacional.

Nos anos 80 do século passado, novas conquistas foram alçadas em favor das pessoas com deficiência. A integração educacional se torna mais efetiva e a defesa do ensino para jovens e crianças com necessidades especiais se amplia por diversos seguimentos sociais. Ainda nessa mesma década, em 1988, foi promulgada a Constituição Ferderal que delega ao Estado a garantia da educação para pessoas com necessidades especiais, preferencialmente na rede regula de ensino, bem como o direito de integração à sociedade.

No entanto, em 1994, durante Conferência Mundial sobre Educação Especial realizada em Salamanca, Espanha, surgiria um dos mais importantes documentos em nível mundial que trata da inclusão social. A Declaração de Salamanca ampliou o entedimento sobre necessidades educacionais especiais. Veio associar-se aos conceitos educaionais inovadores que ocupavam mais e mais espaços nos meios educacionais e governamentais mundo a fora, como a Convenção de Direitos da Criança, em 1988 e a Declaração sobre Educação para Todos, em 1990.

Mesmo diante de tantos avanços, velhos paradigmas são difíceis de mudar. Valores da sociedade preconceituosa e seletiva continuam enraizados na atualidade. Pessoas com algum tipo de deficiência contam, em sua maioria, apenas com sua própria força de vontade para ocupar lugares que por séculos lhes foram negados.

No longa metragem A Pessoa é para o que Nasce (2006), do diretor Roberto Berliner, podemos perceber o quanto a sociedade e o governo negligenciam a causa da deficiência. O documentário narra a história de três irmã cegas: Maria, Regina e Conceição que desde a infância cantam nas calçadas das ruas do centro de Campina Grande, Paraíba. Na época em que o documentário foi feito elas já estavam aposentadas, mesmo assim, continuavam sua cantoria nas ruas. Era um complemento para a aposentadoria que não era suficiente para sustento delas e da família.

Diante desses motivos, entendo que se faz necessário ampliar cada vez mais as pesquisas em defesa da pessoa com deficiência visual. Para que elas possam ocupar na sociedade os espaços que lhes competem. Pretendo contribuir descrevendo os resultados alcançados por intermédio das práticas e observações enquanto monitor do projeto Esperança Viva.

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1.3 Universo da arte e a pessoa com deficiência visual

O cenário artístico ainda é muito seleto quando se trata de promover a carreira pessoal ou de bandas. Vivemos na era tecnológica onde a fama acontece por intermédio de um simples clique. As pessoas se expressam artisticamente segundo suas escolhas conceituais e lançam suas produções nas redes sociais. Se a publicação tiver um número de visualisações que a torne popular e conhecida, é provável que a banda ou artista solo que fez tal publicação obtenha “sucesso”. Este sucesso pode ser ou não duradouro. O mercado é guiado por números altos, quantidade vale mais que qualidade.

No entanto, quando se trata da promoção de um artista que possua algum tipo de deficiência, a maneira de olhar é diferente. A arte que essa pessoa representa será, em grande parte, julgada por mérito de capacidade física. Muitos acreditam que a a pessoa com deficiência é impossibilitada de realizar atividades que os denominados “normais” conseguem. As pessoas com deficiência podem alcançar significativos êxitos profissionais, quebrando paradigmas do senso comum que as classificam como incapazes. Diversas pessoas (famosas e anônimas) com deficiência visual já obtiveram êxito em suas carreiras artísticas. Mesmo com estas evidências a inclusão, seja do ponto vista educacional ou laboral, a inclusão ainda encontra diversas barreiras na sociedade atual. Para eles ainda são negadas muitas oportunidades de trabalho. Se houvesse mais chances, certamente desempenhariam tarefas que agregariam valores inestimáveis.

Em uma seleção para ocupar uma cadeira de violinista em uma orquestra sinfônica é provável que uma violinista vidente tenha mais chance de ocupar a vaga em relação a um violinista que tenha deficiência visual. Pode ocorrer não por incapacidade técnica mediante a manipulação do instrumento, mas pelo o fato da pessoa vidente usufruir do sentindo da visão o que facilitará a comunicação no grupo. A falta da visão é uma barreira e a sociedade ainda não se encontra preparada para interagir com uma pessoa deficiente visual.

A Lei 8.213, de 24 de julho do 1991, determina a inserção de pessoas com deficiência no âmbito trabalhista, porém essa lei só se aplica para empresas que tenham acima de cem cooperadores contratados. Número elevado para o setor que movimenta o cenário de trabalho musical. Este critério quantitativo torna-se mais um complicador para o ingresso desses profissionais no mercado de trabalho.

Não existe nada de diferente ou anormal comparando seu dia a dia com o contexto social de uma pessoa que tem o sentindo da visão. Ambos são capazes de realizar semelhantes tarefas. Porém é fato que muitas pessoas com deficiências não querem arriscar em investir em seu potencial. Terminam resumindo seus dias em depender de familiares ou pessoas próximas.

A deficiência visual pode enquadrar as pessoas em uma situação de grande vulnerabilidade, causando receio de enfrentar o mundo ou repetindo comportamentos subservientes impostos pelo preconceito. Alguns usam a deficiência como argumento para mendigar por se acharem incapazes. Abdicam ao direito de assumir e requerer direitos constitucionais que lhes são assegurados, com por exemplo, estudar e trabalhar. Há relatos de que pessoas com deficiências, no contexto social de baixa renda, são orientados pela família a praticar a mendicância. Este ato se torna uma fonte de renda familiar. Esses

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exemplos tornam-se verídicos no documentário do Roberto Berliner, A Pessoa é Para o que Nasce, quando em uma das cenas uma das três irmãs deficiente visual relata que desde da infância a mãe as levavam à rua para cantar com a intenção de sensibilizar as pessoas a doarem esmolas as mesmas.

Existe outra situação que interfere no encorajamento da pessoa deficiente visual buscar autonomia e independência. Refiro-me ao excesso de proteção familiar, que, em geral, impede o indivíduo de exercer tarefas possíveis. Isto ocorre por desconhecimento de ações, adaptações e tipos de cuidado relativos ao dia a dia desta pessoa. Estas atitudes refletem negativamente, impossibilitando o despertar da autoconfiança. Os famimiares tornam-se, sem ter consciência disto, construtores de barreiras que impedem o desenvolvimento de atividades que poderiam ser executadas.

Somente um ser que é capaz de sair de seu contexto, de “distanciar-se” dele para ficar com ele; capaz de admirá-lo para, objetivando-o, transformá-lo e, transformando-o, saber-se transformado pela sua própria criação; um ser que é e está sendo no tempo que é o seu, um ser histórico, somente este é capaz, por tudo isto, de comprometer-se. Além disso, somente este ser é já em si um compromisso. Este ser é o homem. (FREIRE, 2014, p. 5).

A família deve proteger sim, porém dar credibilidade também é necessário para que estes indivíduos desenvolvam autoconfiança, independência e continuem a conquistar seus espaços. Que eles possam ocupar cargos no mercado de trabalho, nas escolas, faculdades, no mercado artístico e cultural. Acredito que estas ações concorrem para que sintam-se úteis para si, para a família e para a sociedade.

2 METODOLOGIA

2.1 Contexto da pesquisa

O projeto Esperança Viva funciona como projeto guarda-chuvas. O projeto agrega outros projetos e grupos de extensão, oferece atividades teóricas e práticas com a finalidade de ampliar o ensino da música para pessoas com deficiência.

Além das aulas de flautas para pessoas com deficiência visual outras atividades do ensino da música são desenvolvidas voltadas para pessoas com autismos, no Projeto Som Azul; iniciação musical para pessoa com síndrome de Down, com o Musicalização UP; e grupos musicais como a Banda Braille, que é uma formação de banda baile composta por alunos do projeto que possuem deficiência visual e monitores. O projeto também promove curso de percussão para pessoas com microcefalia e técnica vocal por intermédio do coral Vivendo o Canto, cuja formação tem pessoas com deficiência visual e familiares videntes de alguns integrantes.

Os procedimentos metodológicos desenvolvidos no trabalho foram executados em forma de narrativa por meio do relato de experiência onde a produção textual retrata o autor na 1ª pessoa de maneira subjetiva. Descrevendo sua vivência participando por três anos interruptos da monitoria do Projeto

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Esperança Viva.(UNIFACISA, 2019 )

O campo de pesquisa será o coral que é um dos grupos de extensão inseridos no projeto. O trabalho propõe descrever as estratégias de ensino de técnica vocal aplicadas ao canto coral para pessoas com deficiência visual. Relatarei minhas próprias experiências vividas e complementarei apresentando outros dados coletados por meio de entrevistas realizadas com monitores e ex-monitores do Coral Vivendo o Canto.

2.2 A experiência como monitor do Coral Vivendo o Canto

Ingressei no Projeto Esperança Viva no primeiro semestre de 2017. Atuava ensinando flauta doce e participava da banda composta por monitores, que acompanhava o grupo de flautas nos ensaios e apresentações. No mesmo semestre fui convidado para fazer parte de um grupo recém-criado, o Coral Vivendo o Canto. Inicialmente colaborei como instrumentista, tocava flauta doce contralto em alguns arranjos do repertório. Minha atuação nos dois grupos não trouxe nenhuma dificuldade. A esta altura, já estava inteirado com as atividades e familiarizado com os alunos do grupo de flauta doce. Com o trabalho realizado com estes dois grupos pude perceber que estava no rumo certo para desenvolver o entendimento na área da educação musical inclusiva. A estrutura educacional onde eu estava inserido proporcionava, de fato, conhecimentos referentes à função do monitor. Os ensaios do coral aconteciam após as aulas de flauta doce, todas as quartas-feiras, nas dependências da EMUFRN. Assim, ao concluir as atividades com o grupo de flauta nos primeiros horários, nos dirigíamos para a sala de ensaio do coral. Esta era a rotina de ensaios semanais dos dois grupos.

3 CORAL VIVENDO O CANTO

3.1 Desenvolviemento do processo ensino aprendizagem

O coral foi criado por causa de uma necessidade apresentada por um dos alunos do grupo de flautas. No repertório do grupo havia uma música que todos cantavam em uníssono. Numa apresentação, a vice coordenadora do projeto, Elizabeth Sachi Kanzaki, estava acompanhando o grupo e percebeu que um dos alunos não conseguia cantar como os demais participantes. A dificuldade de entonação estava muito perceptível e foi sugerido que algumas aulas de técnica vocal poderiam ajudar.

A equipe designada para o trabalho com o grupo de flautas auxiliava no ensino do instrumento e da teoria musical. Os alunos apresentavam progressos significativos na área instrumental. Pela exigência do repertório que incluía músicas cantadas, constatou-se que se fazia necessário o aprendizado das noções básicas do canto.

A vice-coordenadora conversou com a professora Cláudia Cunha 3para saber se havia interesse em tornar-se colaboradora no projeto. A resposta foi afirmativa e assim teriam início as aulas de técnicas vocal para alguns alunos do grupo de flautas.

As aulas de técnica vocal foram agendadas e divulgadas para os alunos do projeto. Na primeira aula de técnica vocal ocorreu um fato inusitado: a presença de todos os alunos do grupo de flautas. A própria professora não

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esperava a vinda de tanta gente. Inicialmente as aulas estavam programadas para uma turma de 5 alunos no máximo. Com tantos alunos interessados, a professora propôs a criação de um coral. Assim poderia aproveitar de maneira mais produtiva a carga horária disponibilizada para o projeto e atender a demanda dos alunos. A proposta mais ampla foi aceita pela coordenação e pelos alunos. A equipe de monitores foi convocada para auxiliar durante os ensaios.

O ensaio do coral planejado pela professora abrangia vários momentos. Iniciava com exercícios de postura corporal, seguido de exercícios respiratórios e vocais. Nesta primeira etapa os alunos eram instruídos sobre a consciência corporal, relaxamento, sobre o aparelho fonador, o sistema respiratório o funcionamento da voz por meio de exercícios vocais. A segunda parte do ensaio são estudadas as músicas do repertório. Os ensaios foram acontecendo e o grupo foi tomando forma e identidade.

Primeiros ensaio do Coral Vivendo o Canto.

Fonte: Setor de Musicografia Braille e Apoio à Inclusão (Sembrain) (2016)

Descrição da foto 01

Na sala estão cinco alunos dispostos em semi-círculo e a professora está demostrando de maneira tátil e oral a musculatura intercostal.

3.1 Desenvolvimento do processo de ensino aprendizagem

Processo de aprendizado de uma pessoa com deficiência visual é obtido por estímulos que fazem o indivíduo despertar interesse pelo que lhe está sendo proposto. Lima menciona que:

Nos processos de ensino/aprendizagem, a aquisição de conhecimentos não se processa automaticamente. Entre uma atividade e outra existem hiatos de grande complexidade, intersubjetividade e instabilidade. Para que ocorra o aprendizado, o aluno deve criar com o saber, uma relação de autêntica convivência, de prazer, de entrega, conivência e criatividade. (LIMA, 2009, p.87)

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interação entre o sujeito e o ambiente que se traduz em uma modificação comportamental, permanente ou relativamente duradoura”. (ANTUNES, 2015, p.7). Durante os encontros preparatórios com os monitores a professora Cláudia relatou que no inicio do projeto sua tarefa foi um tanto árdua. Não havia literatura conhecida que tratasse do ensino de canto e técnica vocal para pessoas com deficiência visual, muito menos de regência coral. O processo de ensino aprendizagem foi baseado na sua longa experiência do ensino de canto para videntes. O trabalho com o Coral Vivendo o Canto foi desenvolvido de forma experimental e adaptativa.

Um dos primeiros desafios foi o ajuste relativo à postura corporal. Algumas pessoas com deficiência visual criam hábitos incorretos de postura. Em geral, as pessoas nascem cegas ou tornam-se cegas na infância não desenvolvem a percepção do posicionamento de seu corpo em relação ao ambiente. Por esse motivo adotam hábitos corporais que tensionam algumas partes do corpo. São comuns as tensões no pescoço e nos ombros também em coral integrado por videntes. O objetivo dos exercícios é possibilitar postura e ampliar a consciência corporal para que os sons da fala e do canto fluam naturais e com facilidade.

Outra dificuldade exposta pelos alunos é referente à locomoção. O ato de andar, seja em espaços abertos ou fechados, em vias públicas e até a própria locomoção dentro da Escola de Música, para alguns só é possível se houver alguém que auxilie na condução. Outros caminham utilizando a bengala e ainda há os alunos com baixa visão que andam com mais segurança. Mas todos relatam que ficam apreensivos com possíveis obstáculos que podem causar o risco de queda ou colisão. Essa apreensão também causa tensões corporais. Mais um motivo para a realização dos exercícios de relaxamento, que são fundamentais as atividades da técnica vocal. Além de melhorar a postura e a respiração não só paro canto, mas para as tarefas do dia a dia.

Considerando que o ato de relaxar envolve a confiança no próximo (no caso da pessoa com deficiência visual), podemos observar a necessidade desse crédito de confiança quando é realizado alguma atividade que exija do aluno deficiente visual movimentos. De início ele irá precisar de auxilio de alguma pessoa vidente (no coral os monitores são responsáveis nesse suporte). A consciência de localização da pessoa com deficiência visual é adquirida com facilidade, mas o seu posicionamento em um espaço como o palco requer um tempo maior de aprendizado.

Para auxiliar no processo de posicionamento em um espaço específico, utiliza-se a dinâmica de repetições de movimento. De forma que os alunos se sintam seguros para realizar a atividade por conta própria. É um processo de desenvolvimento da autonomia do indivíduo.

As atribuições relativas ao trabalho foram sendo aplicados de forma gradativa. A abordagem sobre consciência corporal teve como base os princípios da Bioenergética e da Técnica de Alexander. O objetivo previa alcançar o desenvolvimento da percepção do próprio corpo de cada um dos coralistas.

O corpo é o veículo utilizado para a produção da voz, cuja emissão se dá por meio da passagem do ar pelas pregas vocais, o que envolve a colaboração de músculos, órgãos, ressoadores. Mente, físico e

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emoção se entrelaçam com o intuito de buscar um som vocal de boa qualidade, ou seja: conforto, técnica correta e melhor interpretação durante o ato de cantar, tornando-se uma vivência da corporeidade, assim definida. (BRAGA, 2008, p, 210).

Partindo da prática dos princípios de consciência corporal e exercício de relaxamento, realização dos exercícios de respiração, exercícios vocais e prática de conjunto tornava-se mais fácil e os resultados eram perceptíveis para todos os integrantes.

Aquecimento vocal

Fonte Sebrain (2016) Descrição da foto 02.

Todos os coralistas encontram-se sentados, na primeira fila está o nipe feminino e na segunda o nipe masculno. Há três monitores de pé próximo ao nipe masculino. A professora Cláudia está exercutando exercícioos vocais com o coral.

Dessa forma, os procedimentos realizados seguiam essa ordem:

Exercícios de relaxamento e postura corporal - São úteis para aliviar a tensão do corpo e da mentte aumentando a concentração no momento de cantar.

Exercícios respiração - Respirar corretamente é importante, pois, evita desgastes desnecessários para a voz, uma vez que a consciência relativa a quantidade de à necessário para a execução vocal resutará no sucesso da ação.

Execução de vocalizes (exercícios vocais) - Servem para internalizar a consciencia da afinação, como também para ajustar a extenção vocal para alcança notas graves, médias ou agúdas confortavelmente. Também possibilitam a equalização vocal.

O estudo/ensaio das músicas - As vozes são estudadas por nipes e depois reunidas aos acompanhamentos instrumentais. Nesta prática são trabalhadas a atenção, a percepção auditiva individual e do grupo. O trabalho coletivo desenvolve o amadurecimento musical, técnico e artístico dos coralistas.

Algo que precisa ser pontuado foi a elaboração do repertório para o grupo. A professora Cláudia afirma que: “A escolha do repertório para o Coral

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Vivendo o Canto foi processo de experimental. Visto que as tentativas de ensaiar músicas a duas ou três vozes não havia funcionado. Então experimentei cantarmos parabéns pra você em formato de cânone que funcionou maravilhosamente. Conclui que o mais viável seria trabalhar cânones diversos. Com mais amadurecimento musical, o próximo passo de aprimoramento do repertório, foi inserir peças com divisão de vozes” (Informação verbal, grifo do autor).

Segundo momento da aula, Ensaio

Fonte Kansaki (2019) Descrição da foto 03

Nesta ocasião, o coral está ensaiando a música Ciranda em Cânone. Todos os coralistas estão em pé de mãos dadas em semi-círculo cantando e dançado a ciranda. No centro à esquerda, está a banda dos monitores e no centro entre os monitores e os coralistas encontra-se a regênte.

A escolha das músicas teve uma forte influência dos gêneros populares e folclóricas. Fazem parte do repertório Baião, Ciranda, Boi Bumbá do Maranhão e Reggae. A seguir descrevo algumas canções que foram cantadas pelo coral:

Kumbaya, música da cultura afro-americana de domínio público. Foi muito cantada durante os protestos pelos direitos civis nos Estados Unidos. A música fala sobre clemência e misericórdia. A frase Kumbaya my Lord quer dizer: “ Clemência meu senhor.”.

Voz Tambor, música de Fernando Brant. Nela destacam-se os acentos e a estrutura rítmica das frases vocais que nos remetem aos batuques percussivos do tambor. Em determinados trechos da canção a extensão vocal explorada as extensões das vozes masculinas e femininas. Em determinados trechos os homens cantam bem grave e as mulheres em regiões mais agudas, num jogo de perguntas e respostas.

Ciranda em Cânone, composição de Gabriel Levy, retrata a genuína música da cultura popular tradicional das praias de Pernambuco. Nesta música propusemos que o grupo interagisse com movimentos, dançando e cantando os passos da ciranda

Acalanto, de Dorival Caymmi e arranjo para coro à duas vozes de

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tradição popular, Boi da Cara Preta. O coral executa essa canção delicadamente, tendo o acompanhamento instrumental apenas do teclado e da flauta doce. Esta foi a primeira música com divisão de vozes a ser trabalhada no coral.

Caminho da Águas, de Rodrigo Maranhão e arranjo a duas vozes de Hipólito Ribas. Essa canção enaltece toda alegria que tem o boi Bumbá do Maranhão. O coral transparece toda energia dessa festa, entoando a alternância das vozes masculinas e femininas. Vozes e instrumentistas em sintonia, coralistas, monitores e regente.

3.2 Atuação dos monitores

Os monitores do coral atuam como suporte para o trabalho administrado pela professora Cláudia. São alunos regulares da licenciatura e do bacharelado em música da UFRN. Faz parte de suas atribuições organizar a sala de aula de maneira que os alunos deficientes visuais possam se acomodar na posição de cada naipe vocal. Compete também a eles a participação como participantes do coral, assumindo a liderança dos naipes como coralistas e atuando como instrumentistas na banda que acompanha as músicas do repertório.

A instrumentação do grupo é formada por: cajon, violão, baixo, flauta doce, sanfona, piano e rabeca. Em algumas peças do repertório utilizam-se o violino e a viola de arco. Os arranjos instrumentais das músicas são criados em concordância entre a regente e os músicos Instrumentistas (monitores do projeto), que compõem a banda que acompanha o coral.

Foto : Monitores

Fonte Sebrain (2019) Descrição da foto 04

Nesta foto encontra-se a formação da banda composta por monitores e alunos que que acompanha o coral. Os instrumentos que aparacem são: rabeca, zabumba, cajon, baixo, violão e teclado.

É também de incumbência monitorial acompanhar o Coral Vivendo Canto nas atividades internas, nas aulas e ensaios; e nas apresentações. Aos

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monitores cabe a responsabilidade de traçar a logística para mobilidade e acomodação dos alunos com segurança. Faz parte de suas funções organizar o layout de palco e posicionar os alunos na formação das apresentações. E ainda se encarregam do transporte dos instrumentos e demais materiais necessários para as apresentações.

As atividades da monitoria somam com o desenvolvimento acadêmico, social e pessoal do ser. Considerando a importância desse trabalho, foi elaborado um questionário para que os monitores e ex-monitores do coral o respondessem com a finalidade de fortalecer a fundamentação deste trabalho. Vale lembrar que a monitoria intermedia a obtenção de significativos resultados.

Nomearemos os participantes por letras alfabéticas por razão a conservação de suas respectivas identidades pessoais. Todos os que contribuíram e participaram assim o fizeram por livre e espontânea vontade por meio da assinatura do Termo de consentimento livre e esclarecido (ANEXO A).

O questionário foi formulado com as seguintes perguntas e obtendo as seguintes respostas:

Como você conheceu o Coral Vivendo o Canto? A. Através do projeto Esperança Viva

B. Eu já trabalhava no Projeto Esperança Viva e depois eu fui participar do Coral porque chamaram para acompanhar no piano.

C. Eu fazia parte do projeto esperança viva quando o coral iniciou suas atividades

D. Através do programa de extensão Esperança Viva da EMUFRN

E. Através do meu primeiro professor de violino que era monitor do projeto e ex-aluno da EMUFRN Jhon Kleiton

F. Através do Setor de inclusão da Escola de Música da UFRN (SEMBRAIN)

G. Por meio das observações no âmbito da disciplina Atividades Orientadas II e, posteriormente, como monitor do Projeto Esperança Viva, fiz parte do coral.

O que fez você despertar o interesse em atuar como monitor do CVC?

A. Atuar Junto de alunos Com deficiência visual e a metodologia de ensino coral da professora Claudia Cunha.

B. Atuar como pianista em um coral.

C. Eu já estava muito envolvido com as práticas de ensino de música para pessoas com deficiência visual. Acredito que parte desse interesse foi um reflexo de uma experiência da minha infância, quando meu avô perdeu a visão. Então, acredito que minha percepção acerca do que as pessoas com deficiência visual podem fazer mudou completamente depois que me envolvi nos projetos, fazendo com que, eu percebesse o quanto meu avô poderia ter de experiências legais e não teve por falta de informação da família.

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recital dos grupos som azul e musicalização Up, quis conhecer um pouco mais os outros trabalhos que expandiam esse projeto.

E. Interesse de conhecer metodologias que auxiliem o ensino da música para pessoas com deficiência visual

F. Por vários motivos, senti por partes de todos os integrantes, uma imensa alegria em estar ali cantando em grupo. E também, por saber que o Coral seria uma ótima experiência para mim, pensando em adquirir mais experiências com pessoas com deficiência visual, sem falar que, eu também estaria desenvolvendo a prática do canto coral.

G. A oportunidade de vivenciar a prática musical com deficientes visuais, a prática do canto em si e a oportunidade de manter a prática em conjunto enquanto músico.

Houve alguma mudança em sua maneira de praticar música depois de sua vivência com o Coral Vivendo o Canto?

A. Sim

B. Não, porque não prestava tanta atenção na abordagem dos regentes com os alunos, e eu já tinha certa convivência com deficientes visuais. C. Eu aprendi a ser mais paciente e busquei aprender maneiras diferentes

de me expressar para que os alunos me entendessem.

D. Com certeza. A sensibilidade com que a professora Claudia tinha para com os alunos, me envolveu e foi bastante importante para minha vida pessoal e profissional. A facilidade que ela desenvolveu para se comunicar e ensinar os alunos, foram aprendizados e experiências que levei para a vida.

E. Sim! Experiência em como ensinar música para pessoas com deficiência visual e um olhar mais crítico na escolha de repertório de acordo com o grupo, uma vez que não adianta escolher uma música apenas porque você, enquanto professor, gosta. É preciso conhecer o repertório dos alunos e saber os limites e também as potencialidades que podem ser exploradas.

F. Acho que desenvolvi uma melhor consciência sobre como funcionar, a dinâmica do canto coral, e sobretudo de como seria com o público alvo (deficientes visuais). Mas, deixar bem claro aqui que, apesar de acompanhar e também participar do processo dos ensaios, não tenho nenhum domínio sobre o assunto relacionado ao canto coral.

G. Sim, visto que na convivência com a professora Cláudia, com os deficientes visuais e com os outros monitores aprendi vários pontos a respeito da prática em conjunto, prática de canto e apresentações ao público, o que me fez observar pontos específicos em minha prática pessoal que posso aprimorar.

No contexto comportamental, o que mudou em você depois de atuar como monitor de um grupo de pessoas com deficiência visual?

A. Atuar como monitor de alunos Com deficiência visual me ajudou a enxergar uma nova maneira de atuar como professor e em uma nova maneira de se viver e de experiência na vida, olhar para as coisas de

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uma forma mais empática e com mais esperança.

B. Eu já tinha contato com deficientes visuais antes, então já tinha uma certa facilidade na convivência com eles quando comecei a participar no coral.

C. Eu passei a ser mais calmo no geral, mesmo sabendo que existem momentos em que a cobrança sobre nossos alunos será necessária. Ainda aprendi o quanto é importante estar bem preparado para ministrar as aulas.

D. Com certeza me tornei alguém mais paciente, compreensivo e disposto a ajudar as pessoas. De certa forma, o grupo é muito bonito para quem assiste de fora, mas quando você participa ativamente, acaba se envolvendo e emocionando de forma redobrada.

E. Depois da vivência como monitora percebi uma maior sensibilidade à realidade do próximo, muitas vezes as pessoas têm interesse em aprender música, no entanto, acham que não é uma realidade possível apenas por possuírem algum tipo de deficiência. Pude ver a inclusão social das pessoas através da música, pois nos momentos das aulas, apresentações e até mesmo depois dessas ocasiões, os alunos sempre relatavam o quão bom eram esses momentos. Hoje em dia, os alunos relatam que não veem a hora das aulas voltarem presencialmente para retornarem aos ensaios e à convivência com os demais integrantes do coral. Ver esse entusiasmo dos alunos para voltar às aulas apenas reafirma a importância da música da vida deles e nos mostra que é possível haver a inclusão de pessoas com deficiência na música!

F. Com certeza, essa mudança foi maior dentro do aspecto humano, presto mais atenção nas limitações das pessoas com deficiência, tenho mais respeito, empatia, compaixão. Tento ajudá-las sempre que posso.

G. Acredito que a capacidade de compreender o modo de lidar com pessoas com alguma deficiência, em especial a visual.

Comente sobre a importância do papel do regente em um coral de pessoas com deficiência visual.

A. Em um coral de pessoas com deficiência visual você pode ver a importância do regente em passar confiança aos alunos, mais do que simplesmente reger uma música, neste contexto pode-se ver sua importância em trazer segurança e guiar os coralistas.

B. O regente tem um papel importantíssimo em qualquer coral. Não seria diferente em um coral constituído por deficientes visuais. O regente precisa, então, saber como atuar também dentro desse contexto.

C. O regente tem papel de liderança, e se o regente não trabalha pela união e motivação do grupo. Esse grupo estará muito suscetível à sofrer com problemas entre seus componentes.

D. O regente é de total importância, porque ele quem transmite a confiança aos alunos no decorrer de todo o processo de desenvolvimento e apresentações, fator essencial para o aprendizado de pessoas com deficiência visual é a confiança e isso não se trata apenas de estar tudo bem ensaiado e sim, na segurança de poder acreditar no trabalho que vem sendo desenvolvido e em seus colegas.

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E. O professor é peça fundamental na inclusão educacional, não seria diferente com o regente, já que ele é o professor do coral! As instruções podem ser passadas verbalmente, o regente pode (desde que seja autorizado) tocar nos alunos para explicar melhor acerca da respiração diafragmática, por exemplo, o regente pode ainda aproximar-se do aluno para passar alguma instrução no momento da apresentação ou ajudar no andamento e melodia (isso acontecia bastante nos ensaios e apresentações do Coral ViVendo o Canto, os regentes ficavam andando entre os alunos caso necessário).

F. Fundamental!!! Porque ele vai ser o porto seguro, lembro de Isaac ou até mesmo a professora Cláudia, fazendo a contagem da entrada para uma música bem próximos ao grupo.

G. Da mesma maneira que acontece em qualquer coral, é necessário um regente (no caso do Vivendo o Canto, uma regente) para que os integrantes percebam as entradas das músicas, as mudanças intensidade, de cadência, além de ser a voz que apresenta o grupo ao público em apresentações.

Você acha importante as pessoas com deficiência visual estudar música, seja da forma vocal ou instrumental?

A. Sim B. Sim C. Sim D. Sim E. Sim F. Sim G. sim

Caso seja graduando, qual sua perspectiva como futuro docente depois de sua atuação no Coral Vivendo o Canto da EMUFRN?

A. Já estou me preparando e buscando aprimorar meus conhecimentos para atuar com pessoas com deficiência visual.

B. Ser professor universitário e pesquisador da área de educação musical inclusiva

C. Me vejo como um docente bem mais inclusivo e compreensivo, bem mais preparado para incluir alunos com necessidades específicas ou não em uma mesma atividade, bem como usufruir de várias tecnicas aprendidas durante a convivência e sobretudo, das práticas docentes. D. Minhas perspectivas é ser uma docente que tenha atitudes que incluam

meus alunos de acordo com a especificidade de cada um e com um olhar mais crítico acerca das aulas de música, repertório escolhido e adaptações necessárias.

E. Com certeza, sei que essa experiências e outras do setor de inclusão da Escola de Música, serão um diferencial na minha vida profissional. É claro que, tenho muito a aprender, mais já vai ser um norte para mim. F. Uma perspectiva de estar preparado para possíveis alunos deficientes

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visuais com os quais possa lidar, melhor capacidade de formar um pequeno coral de alunos e também maior percepção de respeito aos alunos e suas especificidades, sabendo que cada um aprende a sua maneira.

Caso seja graduado, qual sua perspectiva como docente depois de sua atuação no Coral Vivendo o Canto da EMUFRN?

C. Como docente, estou trilhando meu caminho para tentar construir uma educação musical mais inclusiva

G. Sabe, eu ainda não sei, ainda não tinha me perguntado sobre a prática do canto coral dentro do contesto inclusivo, após a minha conclusão da graduação. Porém, de uma coisa eu sei, que esse pequeno conhecimento experiencial, será a minha base que me conduzirá a não recusar por exemplo, o direito de uma pessoa com deficiência de aprender.

Os mencionandos na pesquisa corraboram com o trabalho que vem sendo desenvolvido no Coral Vivendo o canto.está atividade tem favorecido o desenvolvimento acadêmico dos monitores. Segundo os relatos coletados no questionário, eles passaram a ter ma visão mais ampla no contexto da educação inclusiva. Todos puderam vivenciar as dificuldades, os desafios e as conquistas no âmbito educacional, no mundo do trabalho.

3.3 Composição do coral

Atualmente o coral trabalha com a média de 25 componentes, integram pessoas com deficiência visual e alguns familiares videntes de alguns coralistas. Os participantes videntes apenas acompanhavam seus familiares com deficiência visual nas atividades do coral. Visto que estavam sempre presentes nos ensaios e apresentações como espectadores, a vice- coordenadora sugeriu que eles participassem dos ensaios como coralistas. Atualmente são cinco familiares coralistas. Além dos coralistas, o grupo também conta com a contribuição de 10 monitores e uma regente.

A faixa etária dos alunos é variada entre 20 a 70 anos, os componentes são participantes do Projeto Esperança Viva onde além da atividade coral, participam das aulas de teoria musical, musicografia Braille e técnica instrumental de flauta doce.

As aulas presenciais aconteceram até o ano de 2019. Neste período os ensaios eram todas as quartas-feiras no horário matutino, das 10:30 às 12:00. O ensaio é divido em dois momentos, o primeiro é para trabalhar exercícios referentes a relaxamento do corpo, técnicas respiratórias e preparo vocal. O segundo momento é voltado para a passagem de repertório e a prática de conjunto. Vale ressaltar que os envolvidos, alunos, monitores e familiares, participam de todo o processo de atividades desenvolvidas durante o ensaio do coral.

Os naipes são divididos por vozes masculinas e vozes femininas que são posicionados de maneira a ouvir com clareza a harmonia no momento da atuação. O naipe feminino é composto por sopranos e contraltos, posicionado na frente das vozes masculinas, integradas pelos tenores e baixos. A seguir

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veremos um gráfico com o posicionamento das vozes.

Fonte Autor (2021)

3.4 Como o coral vivendo o canto contribui para a saúde e bem-estar dos participantes

Areias (2016) conceitua a benevolência que a música causa a saúde afirmando que:

A música é uma forma de expressão inerente ao ser humano, suscetível de partilha de emoções ou afetos. A interação que promove fortalece as relações humanas, aumentando a empatia e o prazer nesse relacionamento. Favorece ainda a evocação de memórias emocionais, sendo, assim, um veículo para sentimentos inatingíveis de outro modo. (AREIAS, 2016, p.7).

Por meio de conversas informais com alguns participantes do Coral Vivendo o Canto antes ou depois dos ensaios, pude observar a eficácia relativa ao bem estar que é propiciado pela música auxiliando na promoção de saúde mental e física. Mediante as dificuldades que a pessoa deficiente enfrenta na vivência diária, a oportunidade de participar de um grupo musical como o Coral reflete como amparo é importante para enfrentar adversidades relativas ao contexto social do indivíduo. O ato de cantar em um coral traz à pessoa com deficiência visual nova perspectiva de viver, despertando a autoestima do componente que mesmo sem poder enxergar usufrui dos benefícios de serem acolhidos no grupo.

Alguns alunos que enfrentam essa problemática, elevarando a autoestima em razão de continuar a vida por meio de novas concepções. Para eles a oportunidade de se apresentar cantando para uma plateia e transmitir energias positivas, revela que não há limitação física capaz de tirar de um ser a vontade de viver e realizar sonhos.

É esse sentimento que encontramos no Coral Vivendo o Canto por intermédio do Projeto Esperança Viva. Não existe anormalidade na ausência de um sentido do corpo, somos todos iguais e capazes de alcançar tudo que sonhamos.

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Bezerra (2016) em sua tese de mestrado afirma que fora confrontado em uma apresentação com a seguinte indagação:

como uma senhora como mais de cinquenta anos e com deficiência visual poderia aprender a tocar flauta?(...) respondi que ela precisaria de duas coisas; a primeira será ter um professor para ensina-la, por conseguinte eu estaria disponível,

a segunda coisa dependeria da vontade em querer aprender.

(BEZERRA, 2016, p.80).

Essa experiência transformou-se em inspiração para que o autor Bezerra (2011) compusesse a música “Como Sou” que em seu trecho diz: “Quem foi que disse que para ser normal todo mundo tem que ser igual, sou como sou e feliz eu vou ficar, o que importa afinal é eu me aceitar como sou.” (BEZERRA, 2011).

Apresentação do coral no Encontro de Corais de Natal (ECONAT)

Fonte Marisete dalvino (2019) Descrição da foto 05

Esta foto foi tirada depois da apresentação no encontro de corais de Natal/ECONAT. Encontram-se todos os coralistas, os monitores, a vice-coordenadora Elizabeth Kanzaki e a regênte Cláudia Cunha.

Para a contribuição com a presente contextualização, Fucci Amato (2007) afirma:

O coral desvela-se assim como uma extraordinária ferramenta para estabelecer uma densa rede de configurações socioculturais com os elos da valorização da própria individualidade, da individualidade do outro e do respeito das

relações interpessoais, em um comprometimento de

solidariedade e cooperação. Todas essas interfaces inerentes ao desenvolvimento do trabalho de educação musical em corais contribuem para a inclusão e integração social. (FUCCI AMATO, 2007, p. 90).

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como troca de resultados positivos. Percebe-se que nas apresentações os coralistas que possuem deficiência visual transmitem aos espectadores a mensagem que é possível viver realizado diante da perda de um sentido do corpo. O ato de estar envolvido com a música os faz realizados, por meio da alegria que eles remetem. Sinto-me estimulado a prosseguir estudando e descobrindo meios para contribuir com a causa das pessoa com deficiência visual.

4 Regência

Em meados do século XIX as orquestras tomaram grandes proporções, os compositores usufruíram da liberdade de escrever muitos recursos experimentando o trabalho com orquestras maiores. Algumas orquestras chegaram a comportar mais de cem instrumentistas. O resultado dessa expansão refletiu no surgimento do personagem do maestro, pois com o número elevado de músicos fazia necessário ter alguém frente a orquestra para passar as orientações vinculadas os conceitos musicais que estavam notados na obra do autor.

De acordo com Kaminski (1999), a regência coral tem sua origem na renascença. Ele afirma em uma matéria divulgada pela Grafe Editorial que:

A Regência pela Pulsação da Unidade Métrica predomina a partir do primeiro período Barroco Europeu (1610-40). Anteriormente, na Renascença, a música vocal era realizada individualmente, conforme a prática antiga. Nos Corais, o regente utilizava preferencialmente os movimentos da Regência Expressiva (KAMINSKI, 1999, p.3).

É de competência do regente conduzir o grupo musical de acordo com o que foi composto pelo autor da música. O regente sinaliza o que está escrito na partitura, indicando a pulsação, andamento, dinâmicas, início e término da obra.

As indicações são realizadas por meio de gestos, utilizando movimentos de mãos, expressões facial e corporal. Porém esse método deve ser adaptado para trabalhar um coral de pessoas com deficiência visual. No caso do Coral Vivendo o Canto, a regente precisou desenvolver estratégias de comunicação com os componentes sem a utilização de gestos. Era preciso que fossem estratégias para serem percebidas pelo tato, pela audição e pelo olfato. Estas inovações exigiam disciplina e atenção por parte de todos os envolvidos no momento da atuação.

Passei a observar atentamente a forma de regência praticada. Conversávamos muito, a professora Cláudia Cunha e eu, sobre as possibilidades de comunicação desenvolvidas. Uma das estratégias durante os ensaios foi a repetição das músicas, eram ouvidas diversas vezes para serem memorizadas. A pessoa com deficiência visual, de forma habitual, utiliza a audição para se localizar e absorver informações. Para os videntes estas informações teriam o auxílio da visão. O ato de ouvir estimula a memorização da pessoa com deficiência visual.

Os arranjos são estruturados de forma que todas as partes da música sejam compreendidas pelos coralistas. Início, meio e fim são sinalizados com a ajuda do arranjo que tem o suporte do acompanhamento instrumental da banda

Referências

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