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Universidade Federal do Rio Grande do Norte Escola de Música Licenciatura em Música

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Academic year: 2021

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte Escola de Música

Licenciatura em Música

CONTRIBUIÇÕES E INFLUÊNCIAS DO TEATRO MUSICAL NA VIDA DE SEUS PARTICIPANTES: uma experiência na Companhia Livre de Teatro Musical - CLTM

JULLIAN FIRMINO GONZAGA DE SOUZA

NATAL-RN 2021

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte Escola de Música

Licenciatura em Música

CONTRIBUIÇÕES E INFLUÊNCIAS DO TEATRO MUSICAL NA VIDA DE SEUS PARTICIPANTES: uma experiência na Companhia Livre de Teatro Musical - CLTM

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciado em Música.

Orientador: Prof. Dr. Jean Joubert Freitas

Mendes

Coorientadora: Profa. Dra. Leila Miralva

Martins Dias

JULLIAN FIRMINO GONZAGA DE SOUZA

NATAL-RN 2021

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JULLIAN FIRMINO GONZAGA DE SOUZA

CONTRIBUIÇÕES E INFLUÊNCIAS DO TEATRO MUSICAL NA VIDA DE SEUS PARTICIPANTES: uma experiência na Companhia Livre de Teatro Musical - CLTM

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciado em Música.

Aprovada em: ___/___/___

BANCA EXAMINADORA:

_________________________________________________________ PROF. DR. JEAN JOUBERT FREITAS MENDES

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN) (ORIENTADOR)

_________________________________________________________ PROF. DRª. MARIA NAZARÉ ROCHA DE ALMEIDA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN) (MEMBRO DA BANCA)

_________________________________________________________ PROF. DR. DANILO CESAR GUANAIS DE OLIVEIRA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN) (MEMBRO DA BANCA)

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Dedico este trabalho a minha mãe Maria José, que, em 2019, foi para o céu, mas que, enquanto esteve aqui, sempre acreditou em mim.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pois até aqui me ajudou o Senhor. Agradeço pelo dom da vida, pelo privilégio de te louvar através da música e desfrutar dessa dádiva a ponto de se tornar minha ferramenta de trabalho. Pela graça imerecida e amor incondicional. A Ele, toda honra e glória para todo sempre.

À minha mãe/avó Dona Francisca, por todo o cuidado, carinho, amor e paciência, sempre em meu favor, fazendo tudo o que estava ao seu alcance para me apoiar, mesmo quando todos eram contra. Mãe, obrigado por tudo que a senhora fez e faz por mim, por todos os

abraços e gestos de carinho, eu te amo muito.

Agradeço aos meus familiares que de alguma forma contribuíram na minha caminhada, a todos os meus irmãos, Jessica, Jean, Jones, Amanda, Alana, Vitória, Jardson, Juliana, Jucielly e Daniel. Vocês são a fonte do meu esforço, muito obrigado por existirem. Amo todos vocês.

Ao professor Jean Joubert por sempre incentivar a mim e aos meus colegas para irmos além do nosso limite, e a extrairmos o melhor da nossa prática profissional. Muito obrigado Jean, pelos conselhos, por sempre perguntar como estão as coisas, por enxergar potenciais em mim, pela confiança e por me fazer acreditar que posso ir além.

À Professora Leila Dias, agradeço demais por cada orientação sua, seus conselhos e direcionamentos. Sou impactado pela sua forma de ensinar, de conduzir sempre com tanta propriedade, amor, carinho e magia. Amo demais aprender com ela, sempre que possível. Além disso, obrigado por ver em mim muito mais do que eu mesmo consigo ver e aceitar.

Ao professor Danilo Guanais pelos tantos ensinamentos musicais e profissionais, pelo carinho, amizade, pela confiança no meu trabalho, pela credibilidade mesmo quando eu não estava tão bem no curso. Agradeço por ter participado de suas obras, pelo privilégio de dar voz às suas composições musicais, tendo aprendido bastante e crescido como professor, músico, compositor e ator, graças às suas obras.

Agradeço à professora Nazaré por nos tratar sempre com tanto respeito e cuidado, ensinando-nos com muita graça e leveza através de sua forma de nos orientar a chegar no objetivo desejado durante as preparações vocais nos espetáculos.

Agradeço à professora Amélia por ter me mostrado uma Educação Musical apaixonante e ter me feito um Educador. Também por me apresentar ao Teatro Musical, e à CLTM, pois

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ambas transformaram a minha vida. Muito obrigado pelo carinho, atenção, orientação que muitas vezes foi além da academia, foi para a vida. Obrigado também pela amizade e confiança, por sempre enxergar potencialidades em todos nós. Mel, você me mostrou uma vida que eu não

enxergava quando entrei na Universidade. Me ajudou a ser um artista que jamais imaginei que seria. Hoje estou sempre indo além, buscando cada vez mais, mesmo com as dificuldades na caminhada, mesmo com minhas limitações. Só por você ter acreditado em mim, eu também passei a acreditar. Muito obrigado Mel. Amo você e sua linda família sempre presente na minha vida.

A Bíblia diz que existem amigos mais chegados que irmãos. Com isso, quero agradecer aos meus melhores amigos Ezequiel e Gessica pois, em tempos muito difíceis, foram vocês que me deram o suporte necessário para continuar. Muito obrigado pela amizade sincera sempre, e por me confrontarem quando necessário, me ajudando a crescer e me tornar uma pessoa cada vez melhor. A vocês meus irmãos todo o meu amor, amizade e carinho.

Agradeço também aos meus amigos da Igreja na qual me congrego, Igreja Evangélica Transcultural, ao Ministério de Louvor e ao Pastor Marcelo, por todo cuidado e carinho pela minha vida. Aos demais amigos da família ICP como Anderson, Luizinho, Larissa, Ayana e principalmente Rafael que sempre me incentivou a correr atrás dos meus sonhos e manter o foco mesmo quando tudo era muito difícil.

Agradeço também aos amigos que fiz na CLTM/POLI. Todas as coisas que vivemos juntos foram imprescindíveis ao meu desenvolvimento artístico musical e humano. Agradeço especialmente a Genildo, Jonas, Paulo, Jaque, Anninha, Nayara, Chandra, Bárbara, Diego, Ag, Gleison, Cleiton, Hiago, Maurício, Kelissa, Dênis, Whipslonjr, mais conhecido por Whi, Leandro, Eduardo, Matheus, Cacau, Rafael, Jardson, Edja, Keka, Brenner, Paulinho, Kleber, Heli, Marina, Natasha, Malu, Marcio, Afra, Bárbara, Tom, David, entre outros. Agradeço especialmente aos meus entrevistados que contribuíram grandemente para que esta pesquisa de monografia fosse realizada.

Não poderia deixar de agradecer à minha turma querida de 2014.1, todos especiais demais para mim. Quero dizer a Juninho, Felipe, Cleiton, Sidney, Hiago, Pâmela, Thaís, Kadja, Cleônio, Daví, Jofison, Vanessa, Elionai, Ricardinho, Joyce, Francisco, Erica, Samuel, Kerollen, Aristóteles, Fael, Paulo, Lucicleide, Raiane, Gessé, Igor Prass, Igor, Vitor, Maurício, Rubson, Ana Paula, Kleybson, Moisés, Moisés Cruz. A todos o meu muito obrigado, por tudo. Agradeço também ao PIBID Música, projeto importante que tive o privilégio de participar durante quatro anos. Muito do professor que eu sou, devo ao PIBID. Agradeço aos

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supervisores com quem trabalhei pois me ensinaram muito nesse período. Obrigado Catarina

Aracele, Washington e Sthela, vocês me ensinaram muito sobre ser um educador, amo vocês!

Quero agradecer aos amigos que fiz nesta última etapa do meu curso de Licenciatura. Os companheiros do Madrigal da EMUFRN, o Maestro Erickinson pela confiança e oportunidade que me deu para fazer parte desse coro magnífico. Agradeço também aos amigos do naipe de Baixos, Lailson, Saulo, Lúcio, Gisleno, Ícaro, Dante, Jhone, Leonardo, Kelisson, Bruno e aos demais amigos dos outros naipes do coro. Em especial, Liddianderson, Ezequiel, Marcos, Gabriel, Erickson, seu Leal, Cesar, Franz, Ariadne, Naldiceia, Dinalda, Débora, Bia, Ila, Taty, Lúcia, Karina, Lara, Clara, Fabrísia, Layane e Bianca.

Nesse grupo, gostaria de destacar um agradecimento a Louise Ana pela amizade repentina construída em 2018 vindo a se tornar minha melhor amiga e posteriormente minha amada esposa. Sou grato demais a Deus por sua vida em todos os momentos, por sua cumplicidade, companheirismo e por me incentivar na luta diária atrás dos meus e dos nossos sonhos. Eu te amo muito minha vida!

Quero agradecer também à Escola de Música, pelo ambiente acolhedor no qual eu pude aprender muito e colocar em prática esses aprendizados, assim como conhecer pessoas de grande importância para mim. Obrigado aos amigos e parceiros que fiz nessa caminhada tais como Luciano, músico e educador. Mônica, pela honra que tive de tocar com ela.

Nelson, pela amizade construída no palco. Gabriel, por ter estado disponível em um momento tão necessário, Deus é contigo amigo, você é um jovem promissor na música e de grande humildade, continue assim.

E a todos que de alguma forma contribuíram para que eu chegasse até aqui, me incentivando, torcendo, motivando ou qualquer outra coisa.

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RESUMO

Este trabalho de monografia trata das contribuições e influências do Teatro Musical na vida de seus participantes relatando uma experiência vivida na Companhia Livre de Teatro Musical - CLTM. A motivação inicial do mesmo surgiu a partir da minha experiência vivida dentro desta Companhia. Refletindo sobre a construção de espetáculos musicais através do processo colaborativo, como ele acontece e a perspectiva de seus participantes acerca desse processo, senti a necessidade de investigar quais eram essas contribuições e influências trazidas pelas práticas musicais e artísticas vividas por mim e por mais seis participantes do grupo. Para realizar esta pesquisa, entrevistei os colegas e, ao analisar suas falas, compreendi que Interdisciplinaridade, Performance, Autoafirmação e Profissionalização emergiram como aspectos importantes do crescimento deles em paralelo ao meu particular.

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ABSTRACT

This monography deals with the contributions and influences of the Musical Theatre in the life of its participants reporting an experience lived in the Companhia Livre de Teatro

Musical - CLTM in the lives of its participants. The initial motivation of it emerged from my

3experience lived within this Company. Reflecting The Construction Of musical spectacles through the collaborative process, how it happens and the perspective of its participants about this process. I felt the need to investigate what those contributions and influences brought by the practices and other participants in the group. In order to carry out this research, I interviewed my colleagues and, in analyzing their speeches, I understood that interdisciplinary,

performance, self-affirmation and professionalism emerged as important aspects of their

growth in parallel with my individual.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Participação dos entrevistados nos anos da CLTM... 30 Tabela 2 - Processos de montagem dos musicais, ano de início e duração... 31

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LISTA DE GRÁFICOS

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SUMÁRIO

REFERÊNCIAS... 42

APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)... 43

APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO PARA ENTREVISTA DA MONOGRAFIA... 44

1 INTRODUÇÃO... 14

1.1 Teatro Musical na CLTM... 17

1.2 Pedagogia Socio Musical... 18

1.3 1.4 O Processo Colaborativo... Nosso Desenvolvimento na Dinâmica da CLTM... 24 27 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS... 30

2.1 Inserção no Campo... 30

2.2 Entrevistas... 31

3 O QUE DIZEM OS RESULTADOS... 32

3.1 Interdisciplinaridade... 32

3.2 Performance... 35

3.3 Autoafirmação... 37

3.4 Profissionalização... 38

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1 INTRODUÇÃO

A busca pela realização profissional é alvo de praticamente todas as pessoas. E nesse sentido, o ingresso na Universidade é um dos caminhos trilhados por muitas delas. Pensamos na graduação como forma de aprendizagem e aperfeiçoamento das habilidades necessárias para a área que objetivamos trabalhar, porém, muitas vezes, não temos a ideia de como a graduação nos proporcionará isso.

Falo aqui sobre aqueles que estão ingressando pela primeira vez na Universidade, porque nessa situação não mensuramos a infinidade de possibilidades que nos aguardam. No meu caso, ingressei no curso de Licenciatura em Música no intuito de me tornar um professor de violão, mas, ao entrar no curso, pude experimentar diversas situações que acabaram por superar minhas expectativas sobre o que eu planejava inicialmente para minha carreira profissional.

Participei de várias ações e projetos dentro da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – EMUFRN. No entanto, a minha participação na Companhia Livre de Teatro Musical – CLTM ganhou destaque e afeto porque, através desse projeto de extensão, a minha maneira de pensar e de ser foi transformada ao me direcionar para o músico e professor que almejei ser, a partir dessa convivência.

As experiências vivenciadas por mim e meus colegas dentro da Companhia, desde os processos de montagem até às apresentações propriamente ditas dos musicais, nos colocaram diante de várias situações em que pudemos crescer. Os musicais que apresentamos nos proporcionaram inúmeras possibilidades de aprendizagem e, por conta disso, tive o desejo de abordar o contexto da CLTM, analisando o Teatro Musical como fonte de desenvolvimento humano dentro dos aspectos musicais, sociais, emocionais e profissionais.

Minha história na CLTM começou no final de 2013 quando fiz, pela segunda vez, o processo seletivo para ingressar no curso de Licenciatura em Música, já que havia ingressado no mesmo curso em 2011. Por questões pessoais e familiares, não tive condições de prosseguir com a turma. No entanto, através das redes sociais, vi alguns vídeos dos amigos se apresentando no auditório da Escola de Música e fiquei bastante sentido por ter deixado o meu curso de graduação, não estando ali com eles e, sobretudo, impressionado com o desempenho do elenco que cantava, dançava e atuava ao mesmo tempo.

Essas três linguagens artísticas juntas no espetáculo musical “Toda Forma de Amor,” primeiro projeto da CLTM, me gerou um grande desejo de fazer parte de tudo aquilo, já que eu

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sempre gostei muito de cantar, dançar e atuar. Me emocionei tanto que decidi retornar ao curso de Licenciatura em Música da UFRN, procurando imediatamente o contato com os colegas da minha turma de 2011 que faziam parte da Companhia, no intuito de saber sobre o Teatro Musical, para assegurar que eu poderia fazer parte do elenco. Fui informado sobre os dias e horários dos encontros do grupo e decidi ir para conhecer o projeto.

Ao começar a frequentar os ensaios, fiquei encantado com o modo de condução dos ensaios, e feliz por poder então fazer parte da companhia. Lá, pude compreender como havia sido feito toda a montagem do "Toda Forma de Amor", e entender que foi um “Processo Colaborativo” entre todos os envolvidos, liderados pela professora da EMUFRN, Amélia Dias. Vi que as cenas, os arranjos musicais, as coreografias, assim como a construção do roteiro, foram resultado de uma criação coletiva onde todos participaram ativamente. Assim, me motivei mais ainda até mesmo porque também estaria me juntando a todos eles na criação.

Com o tempo, percebi que ia me desenvolvendo gradativamente nas habilidades musicais, melhorando minha percepção melódica, rítmica e harmônica, aprendendo sobre abertura de vozes, aprimorando as técnicas de canto tais como respiração, empostação, articulação e projeção vocal. Também percebi meu crescimento nas habilidades teatrais e coreográficas, adquirindo mais consciência cênica e presença de palco durante as falas e ampliando o meu repertório de movimentos de acordo com as coreografias trabalhadas.

Além do lado artístico, fui aprimorando-me enquanto professor ao observar as abordagens dentro do processo de ensino e aprendizagem que acontecia durante os ensaios, conduzidos pela professora. Esses encontros eram sempre de grande significado para mim pois, constantemente, aprendia a importância de valorizar e acolher as sugestões pontuadas por todos os alunos que estavam envolvidos no processo.

Como o Teatro Musical trabalha um fazer artístico multifacetado e interdisciplinar por nele estarem contidas a música, a dança e o teatro, sem esquecer das artes visuais nos figurinos, adereços e cenários, é de grande relevância explorar esse tema, dadas as suas infinitas contribuições pela diversidade de aprendizagem que ocorre nos processos de montagem de um espetáculo musical.

Além disso, vale acrescentar que pelo fato do projeto ser uma realização de cunho essencialmente educacional, embora dentro de uma companhia, houve uma potencialização relevante para minha aprendizagem. Também, devido ao processo colaborativo, uma pedagogia que me surpreendeu bastante já que a professora acreditava que poderíamos ter em que contribuir, fui tocado por esse tipo de trabalho. Os integrantes participavam ativamente e com

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protagonismo para a construção dos espetáculos, desde sua fase embrionária até a concretização de toda a obra artística que era levada ao palco.

Então, diante do exposto, pretendo investigar quais são as contribuições e influências do Teatro Musical na vida de seus participantes a partir da experiência vivida na CLTM, na medida que esta companhia se utilizou do Processo Colaborativo na construção de seus musicais de 2012 a 2016. Essa investigação se deu por meio de entrevistas semiestruturadas, na qual elaborei um questionário junto com minha orientadora, a Professora Dra. Amélia Martins Dias Santa Rosa.

Esse questionário foi pensado de forma que pudéssemos obter dos participantes seus pontos de vista sobre os processos realizados dentro da “CLTM”. As entrevistas foram feitas de forma presencial, e a coleta de dados foi realizada através da gravação de áudio. Em seguida, realizei as transcrições dos mesmos para que pudesse analisar as respostas dadas por cada um dos seis colegas entrevistados.

Esta monografia é constituída da Introdução que norteia o leitor para o objeto da pesquisa e o motivo dessa escolha. No Capítulo I, a CLTM como abrigo do Teatro Musical nas questões sócio musicais, do Processo Colaborativo, assim como o desenvolvimento dos integrantes na sua dinâmica. No segundo, os Procedimentos Metodológicos tais como a inserção no campo e as entrevistas. O terceiro capítulo contempla a Análise de Dados, denominada de Resultados Obtidos, onde foram observadas a Interdisciplinaridade; a

Performance, questões da Autoafirmação e Profissionalização.

Nas Considerações Finais, faço uma reflexão pessoal a partir da minha vivência na CLTM juntamente com o olhar dos meus entrevistados. Também faço uma apreciação sobre como o processo desta pesquisa contribuiu para o meu crescimento como acadêmico, cantor, ator, professor e, sobretudo, ser humano.

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1.1 Teatro Musical na CLTM

A CLTM teve seu início no ano de 2012, tornando-se projeto de extensão da Escola de Música da UFRN sob a direção e coordenação da professora Dra. Amélia Dias, tendo desenvolvido desde então a criação e montagem de espetáculos musicais, utilizando-se do processo colaborativo como principal abordagem para criação de seus musicais. O grupo já realizou apresentações em diversos locais, tanto dentro da Universidade, quanto em outros espaços da cidade do Natal, além de outros municípios do estado do Rio Grande do Norte e Paraíba. A companhia é formada por alunos da graduação da UFRN e demais interessados da comunidade externa.

Desde 2012, a CLTM realizou várias produções impactando bastante no entusiasmo de todos os envolvidos e, consequentemente, no número de montagens ao longo do processo. Ao todo foram seis musicais, sendo, três deles: “Toda Forma de Amor”; “Bye Bye Natal” e “Marvim, vale a pena acreditar”. Os musicais, “Toda Forma de Amor” e “Marvim” foram criados dentro do processo colaborativo, e ambos foram apresentados várias vezes pela companhia em eventos acadêmicos da UFRN e outros da cidade. O “Bye Bye Natal” é de autoria do escritor, dramaturgo e poeta potiguar Racine Santos e do professor e compositor Danilo Guanais, que foi apresentado apenas uma vez pela CLTM.

Em 2017, após cinco anos nessa configuração, vieram algumas mudanças e outros núcleos distintos foram criados. Com isso, um novo nome foi dado, passando a se chamar “POLI”, tendo cada letra, do acróstico, um significado. A letra “P” representa o núcleo “PRO” de “PROFISSIONALIZANTE”, que visa oferecer a oportunidade de experimentar processos de montagem de espetáculos musicais numa perspectiva mais avançada para os integrantes. A letra “O” é o núcleo de “OBSERVATÓRIO”, idealizado para viabilizar as pesquisas e a produção de textos acadêmicos, referentes ao Teatro Musical. A letra “L”, de “LIVRE”, representava as montagens de cunho educacional e a letra “I” o núcleo “INFANTIL”.

No Infantil, as crianças trabalham uma prática artística interdisciplinar contemplando a Dança, o Teatro e a Música, participando dos processos de criação e montagem nos espetáculos musicais em uma abordagem educacional, com vistas ao desenvolvimento de senso estético delas tanto nas artes como na experiência performática, sem preocupações competitivas e seletivas do mundo profissional do Teatro Musical.

Assim, dentro dessa nova configuração e desses frutos gerados a partir da CLTM, houve a construção de mais três espetáculos, sendo um deles, a montagem acadêmica do musical da

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Broadway chamado “Dear Evan Hansen”1 que foi adaptado e nomeado de “Caro Evan Hansen”

na versão da CLTM. Os dois últimos foram produzidos em 2018, dentro do processo colaborativo, intitulados de “Aparentemente” e” Sob o Céu de Orion”.

Com o crescimento da companhia, veio também a realização de uma primeira "Semana de Teatro Musical", em 2017, a “TEAM WEEK”. Nessa, foram realizados vários minicursos e oficinas sobre Teatro Musical, ministrados por celebridades da área vindos, sobretudo, do Rio de Janeiro e de São Paulo. Também houve apresentações de vários grupos e companhias de Teatro Musical. A TEAM WEEK foi criada justamente para a ampliação do espaço desse gênero artístico, tanto para as apresentações propriamente ditas quanto para as pesquisas sobre o gênero, além da criação da Associação Brasileira de Teatro Musical - ABRATEM, no intuito de unificar as manifestações artísticas do gênero e entidades que promovem o Teatro Musical no Brasil.

1.2 Pedagogia Socio Musical

Sobre a dinâmica da CLTM, no que se refere aos ensaios, a primeira forte ligação que temos é com a Educação Musical e podemos verificar isso na fala de Santa Rosa; Leandro e Silva (2014, p 3), quando mencionam que.

As atividades desenvolvidas dentro deste grupo são embasadas em práticas pedagógico-musicais que valorizam o sentimento de pertença (BAUMAN, 2003; DIAS, 2011), o prazer em aprender (OLIVEIRA, 2002) e o protagonismo dos participantes nas tomadas de decisões (TENTI FANFANI, 2011). Deste modo, todos os ensaios são precedidos de jogos musicais de integração com auto-apresentação e memorização dos nomes dos integrantes e outras brincadeiras, sempre estimulando o contato visual e físico entre eles, com o intuito de quebrar as barreiras da timidez e promover a confiança mútua (SANTA ROSA, 2006). Ao longo dos jogos, são realizados os exercícios de aquecimento corporal, respiração e aquecimento vocal, de modo que além de interagirem, os participantes também preparam as suas mentes e corpos para o ensaio que irá se realizar a seguir (SANTA ROSA; LEANDRO e SILVA, 2014, p. 3).

Então, diante do depoimento das autoras, podemos perceber que, durante os ensaios, há um cuidado especial para que todos os envolvidos possam se desenvolver substancialmente nas questões artísticas, humanas e sociais. Portanto, o trabalho na CLTM não se constitui somente

1 Musical escrito pela dupla de compositores Benj Pasek e Justin Paul, com libreto de Steven Levenson e direção

de Michael Geif que estreou na Broadway no Music Box Theatre em dezembro de 2016, após sua estreia mundial no Arena Stage em Washington, DC em julho de 2015 e uma produção Off-Broadway em março/maio de 2016.

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em fazer com que eles se aperfeiçoem nas três linguagens artísticas do Teatro Musical, mas também despertar o acolhimento para que possam se sentir bem vindos, onde saberão que serão ouvidos e terão escuta do grupo. Tudo isso traz motivação suficiente para os participantes permanecerem comparecendo aos ensaios assim como o desejo de aprenderem o que é ensinado e de colaborarem para que todos atinjam o propósito do grupo, interagindo e se relacionando mutuamente.

Paulo Freire comenta em seu livro, Educação e Mudança, que o homem percebe-se inacabado. Em outras palavras, compreende que não é um ser perfeito e que sempre lhe falta algo a acrescentar para sua evolução ou seu desenvolvimento.

O cão e a árvore também são inacabados, mas o homem se sabe inacabado e por isso se educa. Não haveria educação se o homem fosse um ser acabado. O homem pergunta-se: quem sou? de onde venho? Onde posso estar? O homem pode refletir sobre si mesmo e colocar-se num determinado momento, numa certa realidade: é um ser na busca constante de ser mais e, como pode fazer esta auto-reflexão, pode descobrir-se como um ser inacabado, que está em constante busca. Eis aqui a raiz da educação (FREIRE, 1979, p. 14).

Diante das palavras de Paulo Freire é possível ver que, de acordo com as práticas pedagógicas utilizadas dentro da CLTM, somos estimulados constantemente a evoluir e aprender os conteúdos apresentados. Tudo isso, me pôs a refletir sobre todo o nosso desenvolvimento no Teatro Musical e sobre o modo como esta caminhada nos levou a um novo estágio de conhecimento musical e artístico assim como um crescimento humano relevante, nessas experiências vividas. Sobre isso, o autor afirma que:

A educação é uma resposta da finitude da infinitude. A educação é possível para o homem, porque este é inacabado e sabe-se inacabado. Isto leva-o à sua perfeição. A educação, portanto, implica em uma busca realizada por um sujeito que é o homem. O homem deve ser sujeito de sua própria educação. Não pode ser o objeto dela. Por isso, ninguém educa ninguém. Por outro lado, a busca deve ser algo e deve traduzir-se em ser mais: é uma busca permanente de “si mesmo”. (eu não posso pretender que meu filho seja mais em minha busca e não na dele). Sem dúvida, ninguém pode buscar na exclusividade, individualmente. Esta busca solitária poderia traduzir-se em um ter mais, que é uma forma de ser menos. Esta busca deve ser feita com outros seres que também procuram ser mais em comunhão com outras “consciências” caso contrário se faria de umas consciências, objetos de outras. Seria “coisificar” as consciências. Jaspers disse: “Eu sou na medida em que os outros também são.” O homem não é uma ilha. É comunicação. Logo, há uma estreita relação entre comunhão e busca (FREIRE, 1979, p. 14).

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A CLTM constitui-se de um ambiente onde a educação acontece, uma vez que os envolvidos interagem entre si em situações diversas, resultando no aprimoramento individual e coletivo de cada um de nós. Nota-se que somos oriundos de diferentes contextos e realidades sociais. À medida que fomos nos conhecendo durante as atividades práticas que aconteciam nos ensaios e nas apresentações públicas, também íamos conhecendo as peculiaridades de cada um nessa comunhão de propósitos, formando uma somatória dessas diferentes realidades que, inegavelmente contribui para a troca de saberes referidas por Paulo Freire (1979).

Compreendemos que o Teatro Musical proporciona um grande crescimento e desenvolvimento do ser humano, em vários aspectos da vida, devido às suas inúmeras possibilidades de expressão, mas, além disso, é também uma forte ferramenta pedagógica a ser utilizada na Educação Musical. A literatura produzida nesta área já nos oferece contribuições importantes do Teatro Musical como um recurso eficaz para diversos processos de musicalização que podem fazer diferença no desenvolvimento musical dos alunos.

Santa Rosa (2012), em sua tese de doutorado, intitulada de O Processo Colaborativo

no Musical “Com a perna no mundo”: identificando articulações pedagógicas, aponta o

crescimento da produção de musicais no meio artístico e educacional, embora ainda seja pouco abordado no meio acadêmico. Ela enfatiza suas possibilidades e contribuições para investigação científica que vão além do meio artístico profissional, mas especificamente na área de Educação Musical, como declara a educadora:

Por envolver diversas possibilidades de expressão dos sujeitos através da prática das várias linguagens artísticas e a vivência com diversos outros conteúdos culturais, consideramos o teatro musical como uma importante ferramenta educacional, principalmente quando se trata da educação de jovens e da busca por sua autonomia, revelada na formação de uma consciência crítica necessária para a constituição dos cidadãos. Através do modo de criação coletiva chamado processo colaborativo, identificamos ações pedagógicas condizentes com as práticas educativas libertadoras defendidas por Paulo Freire e com as necessidades de aprendizagem dos jovens apontadas por diversos autores da área da educação. O estudo de ações como estas se mostra relevante no contexto da educação musical que atualmente encontra-se numa constante busca por propostas pedagógicas que possam encontra-ser realizadas na educação de jovens, promovendo, através da prática artístico/musical, a construção contextualizada e significativa do conhecimento (SANTA ROSA, 2012, p. 15).

A autora destaca suas experiências e vividas na Educação Musical, sua relação com as pedagogias, abordagens contemporâneas, assim como as influências dos autores sobre sua prática como docente no Teatro Musical. SANTA ROSA relata as ligações e semelhanças que

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o contexto do Teatro Musical tem com os métodos ativos e abordagens educacionais, sobretudo nas aprendizagens musicais. Ainda acrescenta os conhecimentos adquiridos ao longo de sua formação como educadora no contato com essas pedagogias, expondo um pouco das teorias desses educadores e suas aplicabilidades no contexto do Teatro Musical.

A partir do conhecimento adquirido com o estudo dos métodos ativos e abordagens educacionais durante as diversas fases da formação docente, nos inspiramos em suas múltiplas propostas buscando unir os aspectos que consideramos mais relevantes de cada uma na constituição da nossa prática pedagógica. Neste sentido, no teatro musical, não reaplicamos métodos e propostas pedagógicas pré-estabelecidas por estes autores, mas utilizamos os seus ensinamentos básicos, princípios ou visões educativas, para enriquecer a nossa prática em busca de realizar uma educação musical eficiente e significativa para os nossos alunos (SANTA ROSA, 2012, p. 37).

Santa Rosa (2012) aborda especificamente os métodos ativos estudados por Edgard Willems (1970) assim como Jaques Dalcroze e Jaques Chapuis (Bienne, 1926 – Lyon, 2007). Além desses, Santa Rosa, costuma citar seus professores de formação acadêmica tais como Carmem Mettig Rocha (IEM, Salvador) e Leila Dias (UFBA), que contribuíram para a sua didática do Teatro Musical.

O pedagogo Willems apresenta uma prática prazerosa do fazer musical pois ele acreditava numa relação íntima do homem com a música, associando o ritmo ao corpo, a melodia com o sentimento e a harmonia com o intelecto. Nesse sentido, o autor defendia a ideia de que o educador musical deve despertar nos alunos o interesse e o amor pela música, instigar neles a criatividade e descobrir juntos os diversos elementos contidos no universo da arte musical (WILLENS, 1970 apud SANTA ROSA, 2012, p, 37).

A filosofia Willems está presente e norteia a nossa prática do teatro musical na medida em que se busca realizar aulas dinâmicas e prazerosas com o intuito de motivar nos alunos o gosto pelo fazer artístico e o desejo de estar sempre evoluindo. Além disso, atenta-se para a importância de se desenvolver atividades rítmicas, melódicas e harmônicas, não só para estimular o aprendizado de conteúdos musicais, mas principalmente para desenvolver características como a independência, a prontidão e a vivacidade, bastante desejáveis para os jovens (SANTA ROSA, 2012, p. 37).

A aproximação que Santa Rosa faz com Dalcroze e sua pedagogia, focada na Música e no movimento, procura distanciar o aluno do ensino tradicional da música quando ele aprendia ritmos e melodias sem uma participação ativa do seu corpo. O autor propõe buscar uma relação entre corpo e mente através de uma Educação Musical sustentada na comunhão dos dois. Assim,

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o aluno adquire uma sensibilidade rítmica mais profunda, além de uma maior participação em seu processo de aprendizagem. Nas palavras de SANTA ROSA, a pedagogia de Dalcroze colabora com a sua prática do Teatro Musical quando afirma que:

Dalcroze ganhou destaque neste espaço por propor um trabalho sistemático de educação musical baseado no movimento corporal e na habilidade da escuta. Para ele, todos os elementos da música podem ser vivenciados através do movimento, portanto, o corpo é o primeiro instrumento musical a ser trabalhado. [...] Seu sistema, muito embora se dedique ao desenvolvimento de competências individuais, pois é intensamente vivenciado pelo aluno, num movimento integrado que reúne capacidades psicomotoras, sensíveis, mentais e espirituais, é também pensado como agente de educação coletiva (FONTERRADA, 2005, p. 116 apud SANTA ROSA, 2012, p, 38).

Os ensaios, conduzidos pela professora Amélia Dias, eram constituídos de várias partes no processo de construção e montagem de um espetáculo musical. Notava-se que a primeira parte desses ensaios, chamada de “aquecimento corporal”, ganhava um destaque peculiar na preparação do elenco através dos trabalhos corporais utilizando brincadeiras de rodas, batimentos rítmicos e canções simples para trabalhar a postura firme de cada um de nós, ou seja; sua confiança para performance. Sobre isso ela acrescenta:

Neste sentido, a experiência do teatro musical comunga duplamente com o pensamento de Dalcroze, primeiramente por reconhecer a indissociabilidade entre a música e o corpo, fazendo-o presente em todo o processo de aprendizagem, não só nos trabalhos de aquecimento corporal que precedem os ensaios, como no aprendizado das canções e dos arranjos vocais e na criação de coreografias. Em segundo lugar, por estimular, através da educação musical, os sentidos de união e coletividade, ensinando-os como seres humanos a respeitarem-se uns aos outros e conviver em comunidade (SANTA ROSA, 2012, p. 38).

A autora entende que o seu processo de montagem de musicais é diferente da maioria das demais que partem da prática teatral, e não do canto coral. Por isso, ela cita autores que foram base para a sua vivência no canto coral tais como Nelson Mathias (1986). Este afirma que essa prática vai muito além dos aspectos técnicos musicais, pois contempla desenvolvimento dos sujeitos e suas interações sociais dentro desse contexto, além de trabalhar a perspectiva de um regente Líder e comunicativo a fim de ser visionário sempre enxergando além daquela prática coral, direcionando um novo caminho para seus coristas diariamente.

Santa Rosa também traz Dias (2011) que aborda o canto coral e as várias possibilidades de relações e Interações provenientes desta prática, nos vários sentidos. Dias acredita que o canto coral cumpre sua função agregadora, pois as pessoas buscam essa prática não só por

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apreciarem a música e a vivenciarem ao longo de suas vidas, mas também para construírem novas amizades e deixarem de viver uma vida solitária, se sentindo pertencentes a um grupo (DIAS, 2011, p. 198 apud SANTA ROSA, 2012, p.41).

De acordo com a afirmação de Dias (2011) e Santa Rosa (2012), a função agregadora do Teatro Musical cumpre um papel importante principalmente quando é realizado através do Processo Colaborativo, em que todos são estimulados a participarem ativamente do processo de criação e construção de ideias e resoluções em prol de um mesmo objetivo, a realização do espetáculo, do qual trataremos mais adiante.

Em sua dissertação, Santa Rosa (2006) abordou o Teatro Musical como uma ferramenta cheia de novas possibilidades para a Educação Musical, tais como o crescimento da prática do Teatro Musical nos ambientes educacionais com o foco voltado para a Educação Musical, citando alguns exemplos do que se tem feito na cidade de Salvador/ Bahia com este objetivo. Por outro lado, ela evidencia a falta de trabalhos acadêmicos que possam mostrar o quanto o Teatro Musical é uma ferramenta de múltiplas possibilidades para a Educação Musical, conforme sua experiência pedagógica. Sobre isso, ela afirma que:

A elaboração do espetáculo, nesse caso, é focada na educação musical, artística e, principalmente, no desenvolvimento humano dos participantes. O objetivo do Musical é que, ao fim do processo, os alunos tenham se desenvolvido não só na música e nas artes, como também nas conquistas psicossociais e cognitivas (SANTA ROSA, 2006, p. 29).

Podemos ver também outros autores que contribuíram acerca do tema através de suas práticas e reflexões sobre o Teatro Musical como ferramenta pedagógica. Leandro (2014, p. 19) afirma a importância do Teatro Musical como ferramenta pedagógica dentro do ambiente escolar, principalmente quando se trata de jovens e adultos em busca de sua autonomia, além de proporcionar melhoras significativas no aprendizado dos envolvidos.

Leandro (2014, p. 20) também afirma que a construção de um musical, no contexto educacional, é uma ação pedagógica transformadora para a formação de seus participantes, sejam eles alunos ou professores, e evidencia a necessidade da ampliação de suas aplicabilidades e estudos nesse contexto, para que a contribuição seja cada vez mais significativa na Educação Musical dos jovens.

Ainda sobre a formação dos indivíduos envolvidos no Teatro Musical, Santa Rosa; Leandro e Silva (2014) afirmam que é possível identificar o Teatro Musical como uma ferramenta eficaz para a formação de seus participantes, não somente nos aspectos técnicos

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como os necessários à música, dança ou interpretação, mas também na formação do ser humano em busca da sua identidade e autonomia.

As autoras entendem também que a prática artística interdisciplinar do Teatro Musical tem contribuído para ampliar o aprendizado dos alunos durante o curso de graduação em Licenciatura, desenvolvendo suas capacidades de se expressar artisticamente, assim como na construção de sua identidade enquanto futuros professores, tanto na área do Teatro Musical como em outros contextos onde o ensino da Música se faz presente. LEANDRO; SANTA ROSA E SILVA (2014).

1.3 O Processo Colaborativo

A criação e montagem dos espetáculos dentro da CLTM acontecia em “Processo Colaborativo”, que surgiu a partir da “Criação Coletiva”. Essa prática é bastante conhecida na área do teatro, quando no processo de construção de espetáculo, que não é realizado somente pelo autor ou dramaturgo, mas por todo o elenco (SANTA ROSA, 2012).

A criação coletiva é uma prática pedagógica que surgiu na década de setenta. Ela busca a coletividade nas tomadas de decisão entre os criadores do espetáculo teatral, no intuito de descentralizar todos os poderes e tomadas de decisão das mãos do autor, dando aos outros integrantes a liberdade de criar juntamente (PAVIS, 1999, ABREU, 2003, apud SANTA ROSA, 2012).

Esta prática posteriormente foi substituída pelo ‘processo colaborativo’ pois apresentou diversos problemas gerados pelo excesso de liberdade, como a falta de prazos e a experimentação sem finalidade estabelecida, o que nem sempre produzia bons resultados. O ‘processo colaborativo’ vem sendo utilizado desde a década de noventa e, nele, a construção do espetáculo continua sendo realizada de forma coletiva. Nesta prática, porém, o diretor assume o papel de condutor do processo da criação teatral, norteando e amarrando as ideias em torno de um único tema e organizando em forma de texto dramático aquilo que é produzido durante as improvisações (SILVEIRA, 2011 apud SANTA ROSA, 2012, 34).

Ainda sobre o processo colaborativo, SANTA ROSA (2012) afirma que:

Assim, ao desenvolvermos essa prática no teatro musical, buscamos realizar não somente uma manifestação artística que desenvolve os aspectos musicais e também psicossociais, mas, sobretudo, uma prática pedagógica democrática, aberta ao diálogo e aos interesses dos jovens. Através do processo colaborativo de criação, a prática do teatro musical possibilita resultados ainda mais relevantes sob o aspecto da formação humana, pois estimula o encontro

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dos jovens com suas subjetividades e a conquista da sua autonomia (SANTA ROSA, 2012, p. 36).

Quando entrei para a CLTM, em 2014, o grupo já havia criado e apresentado o primeiro Musical, “Toda Forma de Amor”. Então, um pouco antes da terceira apresentação, comecei a ensaiar junto com os demais participantes do elenco. Como eu e outros colegas entramos posteriormente, aprendíamos os arranjos das músicas, as cenas e as coreografias através das explicações da diretora e nos momentos de revisão dos alunos antigos.

Além disso, os veteranos nos explicavam não só como fazer nossa performance mas também como acontecera antes a criação de cada uma dessas linguagens artísticas. Eles relataram que as ideias do texto, desde o tema e construção de cada cena até a inclusão de gestos, batimentos corporais, coreografias, partes dos arranjos vocais, figurino, adereços e cenário eram sugeridos pelo elenco.

Então, quando eu fui me inteirando do modo como o grupo criava o espetáculo coletivamente, achei muito interessante e fiquei ainda mais motivado para participar dessa dinâmica. Posteriormente, os colegas me disseram que essa forma de construção se chamava “Processo Colaborativo”. Portanto, a obra final não tinha um autor único, já que todas as partes do espetáculo foram construídas com a participação de cada um dos integrantes da CLTM.

Ainda em 2014 continuávamos ensaiando e apresentando o mesmo musical, ao tempo que já discutíamos algumas ideias soltas para a construção de um novo espetáculo. Decidimos, em conjunto, remontar um já existente, o que resultou na escolha do “Bye Bye Natal”, uma obra do escritor Racine Santos e do professor e compositor Danilo Guanais.

Em meados do segundo semestre, tivemos várias apresentações de “Toda Forma de Amor”, somente para atender aos convites feitos à CLTM. No entanto, já estávamos ensaiando paralelamente o “Bye Bye Natal”, que por ser uma obra pronta e já apresentado anteriormente, acontecia sem o “Processo Colaborativo”. Este foi apresentado no final do mesmo ano, encerrando assim a temporada de apresentações do ano letivo.

Em 2015, já estávamos articulando a ideia de um novo musical, durante as reuniões da CLTM, decidindo pelo ineditismo. Assim, pude ver de perto e participar efetivamente do “Processo Colaborativo”, quando cada um de nós trazia várias ideias de um novo tema. A Professora Amélia estava sempre pronta a nos ouvir e também a nos direcionar para algo concreto, considerando todas as nossas sugestões, conduzindo-nos a uma escolha final. Depois de algumas reuniões, o tema “Superação” foi escolhido e decidimos que este seria trabalhado em várias situações complexas da humanidade, a exemplo da cegueira, da submissão feminina,

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da escolha pela arte como profissão e da rejeição emocional. Daí então, começava a nascer o espetáculo musical denominado de “Marvim, vale a pena acreditar”.

De posse do tema, começamos a escolha de músicas que abordassem a ideia de superação. Enchemos o quadro branco de sugestões e, pouco a pouco, foram eleitas as músicas que tinham mais conexão com o que queríamos propor, formando assim o repertório considerado ideal para nosso espetáculo. Em seguida, a professora nos dividiu em pequenos grupos, quando cada um ficou responsável por criar uma cena de acordo com o sorteio de uma das músicas selecionadas. Nesses grupos, todos estavam envolvidos e comprometidos com o processo de criação.

Depois dessa dinâmica, cada grupo apresentou sua cena para que todos pudessem ver. Foi um momento muito divertido pois eram ideias bastante criativas e hilárias que representavam dramas humanos já conhecidos por todos nós. Também, a participação de cada um mostrava uma dinâmica envolvente e de grande colaboração mútua. Depois dessas apresentações, elegemos as ideias mais viáveis para a criação do roteiro, já contando com a ajuda da irmã da nossa diretora, Aurora Dias2.

Aurora Dias nos preparou para atuação vocal e teatral em diversos momentos do “Processo Colaborativo”. Para a criação do roteiro final, nós nos sentamos em um grande círculo de forma que todos podiam se ver e se ouvir, Aurora propôs que, de acordo com o que estávamos pensando para o musical, fôssemos contando essa história, assegurando assim que cada um teria o seu momento de contribuir, enquanto ela gravava um áudio. No encontro seguinte, ela nos trouxe uma edição fechada do roteiro, que foi elaborada a partir das sugestões dadas por cada um de nós.

Com o roteiro pronto, começamos a fazer os ajustes das músicas nas cenas em uma ordem adequada, seguindo com a criação dos arranjos polifônicos. Algumas pessoas, por serem estudantes de música foram designadas para compor os arranjos das músicas escolhidas. Com estes prontos, começamos a ensaiar as partes de coro, dos naipes e dos solos.

Os personagens foram inspirados a partir da dinâmica de contação da história na roda. No entanto, eles foram designados por Aurora e por sugestões nossas. Os solos vocais concatenados com cada personagem, respeitando a possibilidade e disponibilidade do elenco. A partir do momento em que as músicas estavam ensaiadas, passamos a trabalhar a união delas

2 Aurora Dias é Cantora e Atriz, atua como professora de canto, de teatro, tendo criado e dirigido espetáculos

Musicais. Como preparadora vocal atuou em grandes produções de musicais do Rio de Janeiro e São Paulo, além do Show dos Famosos da Rede Globo de Televisão.

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com cada cena equivalente, acrescentando depois as coreografias e acatando as novas sugestões para os ajustes finais.

A partir das orientações da professora Amélia e da trama que ia tecendo com as sugestões do grupo, tudo foi ganhando um contorno orgânico e, quando percebemos, o musical estava pronto. Para o trabalho de aperfeiçoamento, foram agendados muitos ensaios extras, possibilitando a limpeza dos arranjos vocais, das cenas e das coreografias. Após algumas semanas de dedicação e esforço de todos, apresentamos o Musical “Marvim” no final do segundo semestre de 2015.

1.4 Nosso Desenvolvimento na Dinâmica da CLTM

O Processo Colaborativo possibilita aos participantes uma troca de conhecimentos e vivências, de modo relevante, pois acolhe, respeita, e agrega as experiências criativas de todos, ao tempo que promove o nosso crescimento enquanto indivíduos, enquanto grupo, valorizando assim as peculiaridades de cada um em busca de um único propósito.

Portanto, através dessa Interação, proveniente do Processo Colaborativo, coloca-se em prática também o exercício da cidadania, uma vez que todos podem se expressar, expor suas ideias e perspectivas de vida. Ao mesmo tempo, todos têm a oportunidade de ouvir o outro, de conhecer e perceber opiniões, pensamentos e pontos de vista diferentes, muitas vezes até contrários à sua própria forma de enxergar o mundo, trazendo conhecimento, diversidade, maturidade e o respeito mútuo.

Além do crescimento social que acontece a partir da aproximação com o outro, percebe-se o crescimento humano quando somos incentivados a construirmos juntos, em várias situações durante as etapas dos processos de montagem dos nossos espetáculos. Nele, colocando em prática nossa criatividade e colaborando para a construção de um projeto coletivo, vamos desenvolvendo também a nossa autonomia, a capacidade de expressar ideias, de exercer liderança e do autodescobrimento, resultantes das variadas e numerosas situações em que somos colocados no Processo Colaborativo.

Essas situações vivenciadas na CLTM nos trouxeram o sentimento de valorização pessoal, uma vez que nossas opiniões eram levadas em consideração ao expressar as nossas subjetividades na construção dos musicais. Aprendemos também a ter noção das pequenas partes de cada etapa da montagem para se chegar ao todo de um espetáculo e conhecer, com

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profundidade, como elaborar uma história, dar um sentido único com começo, meio e fim, trazendo uma dinâmica para a história.

No momento de trabalhar a música na cena, aprendemos a encaixá-la no texto de forma a contar a história que queríamos, sem esquecer de deixar claro as nuances que cada música se propunha. Também nessa dinâmica, percebe-se o desenvolvimento do grupo ao ter que interpretar um repertório que representasse o caráter de cada cena, sem extrapolar a representatividade da música em detrimento as outras linguagens.

Todas essas dinâmicas e impressões foram declaradas por meus colegas, pois eles perceberam que no Processo Colaborativo puderam vivenciar a riqueza das trocas de experiências, saberes e desenvolvimento que aconteciam no nosso coletivo.

Em seu livro Pedagogia da Autonomia, Freire (1996) afirma que desde o princípio de nossa formação, devemos nos assumir como sujeitos da produção do saber. Graças à forma com que a professora Amélia conduzia o projeto, observei, por diversas vezes, quando éramos solicitados a criar, sugerir ou ficar à frente de determinada atividade que podíamos colocar em prática o que tínhamos aprendido anteriormente, tanto durante a própria execução da tarefa solicitada, quanto posteriormente quando refletíamos sobre o que havia sido feito. Desse modo, fomos construindo nossa autonomia paulatinamente.

Além disso, inerentes à pratica docente, de acordo com Freire (1996) pude identificar várias situações, no contexto da CLTM, a importância de respeitar os saberes dos educandos, de sua autonomia, de sua dignidade e ética.

Aprendemos também a grandeza de escutarmos uns aos outros, para gerar aproximações e acolhimentos empáticos de grande significado. Em seu livro A Educação dos Sentidos, Alves (2011, p 26) afirma: “e todos os sentidos, o mais importante para a aprendizagem do amor, do viver juntos e da cidadania é a audição”. Ainda sobre a prática docente dentro da CLTM, havia sempre a disponibilidade para o diálogo e para o afeto para com os educandos, de forma que todos se sentiam importantes e motivados naquele ambiente.

Enfim, pôde-se perceber que desde a nossa auto apresentação quando ingressávamos na CLTM, contando um pouco da nossa história, vivências e expectativas, assim como desde o momento em que ouvíamos as histórias e experiências dos nossos colegas, aconteciam aproximações significantes com os demais desenvolvendo assim um respeito mútuo.

Além de todas as aproximações sociais expressas anteriormente, vale acrescentar o nosso crescimento nos aspectos artísticos, musicais, teatrais e coreográficos. Ao olhar para a questão artística, pudemos entender a união das três linguagens presentes no nosso processo de

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construção de um espetáculo musical, de modo entrelaçado e unificado, sem perder a beleza da música, do teatro e da dança em suas peculiaridades.

No que se refere à música, pelo fato de a construção desses espetáculos da CLTM acontecerem em uma Escola de Música, e a partir da iniciativa de uma docente dessa escola, o repertório comparecia como a primeira linguagem artística a ser trabalhada em comunhão com o tema eleito, a exemplo da música “Marvim” que retrata os dramas de um jovem. As cenas teatrais e as coreografias eram inspiradas nas letras dessa música e das demais escolhidas, costurando assim o roteiro elaborado pelo grupo.

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2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este capítulo tem por objetivo apresentar as etapas percorridas no desenvolvimento desta pesquisa que foi realizada com alguns integrantes da CLTM. Ao me deparar com os dados, analisei e identifiquei, através das respostas dadas, a pergunta final que protagonizou essa pesquisa: “Que contribuições e influências o Teatro Musical realizado neste projeto de extensão trouxe para a vida dos participantes, a partir do Processo Colaborativo?”

2.1 Inserção no Campo

A partir desse objetivo traçado, decidimos realizar a coleta de dados através de entrevista, com perguntas semiestruturadas de forma a levantar os dados que iriam trazer uma compreensão clara sobre o objeto a ser investigado. Devido à falta de tempo hábil para realizar as entrevistas com todos os integrantes da CLTM, optamos, como primeiro critério por um número reduzido de colegas, tendo sido apenas seis dentre uma média de 30 membros da CLTM.

O segundo critério foi o de maior período de tempo que cada integrante esteve na CLTM, já que uma experiência mais duradoura, dentro do processo vivido, traria mais lembranças e mais informações relevantes, entendendo que os eleitos cantaram em maior quantidade de espetáculos musicais entre 2012 e 2016. Na tabela a seguir, podemos verificar em quantos anos cada entrevistado participou dos processos de montagem da companhia.

Tabela 1- Participação dos entrevistados nos anos da CLTM.

Período de participação 2012 2013 2014 2015 2016 Entrevistado 1 X X X Entrevistado 2 X X X Entrevistado 3 X X X X Entrevistado 4 X X X X Entrevistado 5 X X X X X Entrevistado 6 X X Fonte: O autor (2018).

Nesta tabela pode-se ver o período em que os colegas estiveram juntos nos processos de montagem e apresentações dos musicais. Os entrevistados 1 e 2 participaram de três musicais, o 3° e 4° em quatro, o 5° esteve em cinco montagens e o 6° apenas em dois deles.

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Tabela 2 – Ano de Montagem e duração dos musicais.

Musicais Início de montagem Duração

Toda Forma de Amor 2012 2 anos

Bye Bye Natal 2014 1 ano

Marvim 2015 2 anos

Fonte: O autor (2018).

Diante da Tabela 2, pode-se observar que os espetáculos ocorreram paralelamente. Enquanto a CLTM estava montando o “Bye Bye Natal” e os convites para apresentações surgiam, o musical “Toda Forma de Amor” era apresentado. O “Bye Bye Natal”, foi o único musical da companhia a ser apresentado somente uma vez.

2.2 Entrevistas

A realização das entrevistas contou com o apoio de um dos meus colegas que trabalha no Estúdio da EMUFRN que me disponibilizou um gravador. Logo no primeiro dia conversei com cinco dos seis entrevistados. O sexto entrevistado marcou para um momento posterior que se deu em uma das salas de piano da Escola de Música, pois o Estúdio não estava disponível no dia marcado.

Antes de iniciar as entrevistas, todos os participantes receberam o “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido”. Assim, eles ficaram cientes do objetivo da pesquisa e livres para decidirem se aceitariam participar da mesma. Após assinatura do mesmo, deu-se início às entrevistas, quando procurei deixá-los à vontade, até mesmo para não se sentirem constrangidos já que suas falas estavam sendo gravadas.

Percebi, durante esse processo, em suas expressões faciais, que os entrevistados se emocionavam pelas lembranças de suas trajetórias na Companhia desde seus primeiros dias, seus primeiros contatos com os demais colegas, suas participações dentro do processo criativo e suas apresentações públicas propriamente ditas.

Após todas as entrevistas realizadas, comecei o processo de transcrição. Transferi os arquivos de áudio para o computador e digitei todas as falas gravadas. A seguir, iniciei a análise de todas as respostas obtidas, categorizando-as em temas comuns, de acordo com os conteúdos que dali iam emergindo.

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3 O QUE DIZEM OS RESULTADOS

Uma vez tendo concluído a leitura das transcrições, categorizei os dados de acordo com aquilo que falava mais alto no horizonte musical, emocional, social e profissional dos meus entrevistados: Interdisciplinaridade, Performance, Autoafirmação e Profissionalização emergiram como tópicos que revelavam suas impressões daquilo que fora mais impactante em suas vivências nos processos de montagens dos espetáculos musicais no projeto de extensão da EMUFRN.

3.1 Interdisciplinaridade

O primeiro ponto a ser destacado na fala de meus entrevistados é a importância que eles deram à união das três linguagens artísticas vivenciadas no processo de montagem e apresentação dos espetáculos musicais. Ao se trabalhar Música, Teatro e Dança ao mesmo tempo, se deparavam diante de um grande desafio. Desenvolver-se nessas três áreas, foi ressaltado de modo relevante, também pela diversidade e profundidade que cada uma delas compareceu na Interdisciplinaridade artística, conforme os comentários dos entrevistados:

...na parte profissional, eu fui exposto a todo tipo de exercício voltado tanto para música, como para dança, como para interpretação, e isso desenvolveu em mim áreas também que eram debilitadas. Eu faço o curso técnico em canto, então já tinha meio que a parte de música mais aprimorada. Então, ao entrar no projeto, a parte de teatro e dança acabou também que começou a ser mais aprimorada em mim e isso para mim foi muito bom (Entrevistado 6, 2018). Pra mim enquanto pessoa, rapaz foi muito aprendizado. Acho que foi uma consolidação desse meu período dentro da Licenciatura em Música na Universidade, porque eu posso aliar às disciplinas de Teatro que eu paguei com Maíra, Expressão Corporal, que tinha muita coisa a ver, música na cena também com Maíra no qual eu estava tocando e fazendo a direção musical, as disciplinas de canto coral. Então assim, tudo isso é como se fossem vários focos e no Teatro Musical isso tudo acontecia junto (Entrevistado 2, 2018).

Ao participarem de um processo de montagem de espetáculos musicais com abordagens educacionais, as pessoas desenvolvem as habilidades de cantar, dançar e interpretar. E essas linguagens, quando trabalhadas individualmente, já trazem por si grandes benefícios àqueles que as praticam e, no Teatro Musical, essas habilidades são potencializadas por serem

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trabalhadas em conjunto. Podemos verificar isso nas palavras de Santa Rosa (2006) em sua dissertação:

Neste trabalho, defendemos o pressuposto de que o Musical é uma prática interdisciplinar muito rica entre a música, o teatro e a dança, e que pode ter grandes contribuições ao processo de ensino-aprendizagem. Acreditamos também, que a prática do Musical apresenta grandes chances de desenvolvimento pessoal para os alunos envolvidos no que diz respeito a questões ´psicossociais, cognitivas, musicais e artísticas (SANTA ROSA, 2006, p. 23).

De acordo com a fala da autora, podemos entender que a prática do Teatro Musical proporciona não só a ampliação dos horizontes artísticos referente à essas três linguagens, mas também possibilita o desenvolvimento pessoal em vários aspectos da construção humana, através das formas de se expressar de quem nela está inserido. A respeito da Música e seus benefícios, vemos que

O trabalho com música deve considerar que ela é um meio de expressão e forma de conhecimento. A linguagem musical é um excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da autoestima e autoconhecimento, além do poderoso meio de integração social (BRASIL, 1998, p. 49 apud SANTA ROSA, 2006, p. 24).

Então, a música além de desenvolver o ser nos aspectos técnicos como percepção, afinação, ritmo, entre outros inerentes de sua prática, trabalha também os aspectos sensitivos e afetivos como afirma SANTA ROSA (2006, p. 25). Assim, entende-se que a prática musical é capaz de traduzir sensações, sentimentos e pensamentos através dos sons, promovendo a integração entre os aspectos afetivos, estéticos e cognitivos assim como a comunicação e a interação social.

Em relação aos aprendizados especificamente musicais, pude observar nossa ampliação de repertório, uma significativa aproximação com instrumentos de banda, com o ouvido harmônico para ouvir e cantar em polifonia dos naipes, com as modulações, respiração adequada e projeção vocal. Também desenvolvíamos a precisão rítmica tais como as entradas após as introduções e interlúdios instrumentais, dinâmicas variadas e combinação com batimentos corporais, gestos e movimentos/deslocamento no espaço e improvisos de última hora.

A dança, por sua vez, traz grandes benefícios ao trabalhar questões como a noção de espaço, o trabalho corporal desenvolvendo lateralidade e psicomotricidade, possibilidades de

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expressões diversas, além de contribuir nos aspectos relacionados à saúde de quem exerce sua prática. Sobre isso, vemos no texto a seguir que:

A dança possibilita a educação integral, pois como processo educacional faculta: perfeita formação corporal; espírito socializador; possibilita o processo criativo; desenvolve aspectos éticos e estéticos. Ela é a manifestação da essência do ser humano nas suas faculdades físico mental e emocional pela necessidade intrínseca do mesmo se expressar e comunicar-se com seus semelhantes. A nossa sociedade compartimentaliza muito o homem: primeiro ele pensa, depois cria e por fim age. A dança/educação procurando desenvolver as potencialidades integradas do ser concorre para a educação integral (NANNI, 2002, p. 129 apud MIRANDA, Lia e SANTOS, 2016).

A dança também trabalha os aspectos sensitivos e emocionais do ser humano, elevando ainda mais seu poder de expressão e comunicação.

A dança como arte conceitual, portanto, é forma de comunicação e expressão, é uma das manifestações inerentes à natureza do homem, presentes nos acontecimentos de sua vida: nascimento e morte, guerra e paz, celebrações e rituais. Ela estabelece íntima relação com as emoções e sentimentos humanos; antecede como forma de comunicação à própria linguagem falada, característica hoje tão escassa ao homem contemporâneo. (NANNI. 2008, p. 181 apud MEIER; Juline Kuhn e KAUFMANN, Lisete Hahn, 2015; RES18).

A linguagem teatral, por sua vez, traz consigo inúmeros benefícios e contribuições para o desenvolvimento de quem estiver envolvido com suas práticas. Ela amplia as possibilidades da comunicação como forma de expressão, trabalhar as questões psicológicas contribuindo para a diminuição da timidez conforme os relatos de Santa Rosa (2006).

Segundo Santa Rosa (2006), o contato com a linguagem teatral ajuda as pessoas de diferentes idades a perderem continuamente a timidez, a desenvolver o espírito de equipe nos trabalhos, e a terem mais desenvoltura nas situações em que são necessárias o uso do improviso, além de adquirirem um maior interesse pela leitura e seus diversos autores, Ingrid Dormien Koudela (2006) argumenta que: “o teatro é um exercício de cidadania, é um meio de ampliar o repertório cultural de qualquer estudante” (KOUDELA, 2006, apud SANTA ROSA, 2006, p. 26).

Diante do exposto entendemos que essas três linguagens artísticas, ao serem observadas individualmente apresentam múltiplas contribuições para o ser humano, especialmente no desenvolvimento das capacidades cognitivas, sensitivas, emotivas e afetivas, além de propiciar o crescimento das relações interpessoais entre os seus envolvidos.

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Com isso, vemos que o Teatro Musical por trabalhar essas linguagens de maneira interdisciplinar, de forma que elas dialogam entre si ao mesmo tempo dentro desse espaço, multiplica as possibilidades de expressão de seus indivíduos. Sendo assim, o Teatro Musical é um ambiente de grande significado para o desenvolvimento artístico, pedagógico e humano de quem se aproxima dessa experiência.

3.2 Performance

De acordo com os entrevistados, a Performance, seja ela uma apresentação para os próprios colegas, nos ensaios e reuniões da companhia, seja no auditório principal da Escola de Música, em palcos da cidade ou até mesmo fora do estado, comparece como uma ferramenta de grande importância para o desenvolvimento deles.

Durante esse período de CLTM, nós fizemos várias apresentações públicas em espaços como: congressos, encontros, convites de institutos federais, escolas e outros eventos. Todas essas apresentações em eventos, trouxeram-nos não só sentimento de conclusão de um trabalho desenvolvido com esforço rumo a um senso estético mais elaborado, mas também o sentimento realização pessoal e empoderamento para enfrentar situações diversas.

O processo de criação, montagem e estruturação dos espetáculos e a demanda de ensaios, tanto individuais como coletivos, gerava em nós, uma expectativa grande em cima do momento especial e emocionante em que íamos subir ao palco. Tudo que fizemos e batalhamos era posto à prova, pois ali enfrentávamos nossos medos, receios, vergonhas e limitações presentes nas nossas subjetividades, conforme comentário de um dos entrevistados:

[...] é quando a gente se pega naquele momento de que, poxa, eu estou diante de um desafio muito grande que é tentar mostrar um pouco do que nós somos nos palcos. Isso pra mim é muito desafiador, as pessoas nos julgam, criticam, e a gente tem que lidar com isso todos os dias, e não só no teatro, na vida também né? A gente é criticado por ser artista, e isso é um peso muito grande pra nós que trabalhamos com isso, esse é um dos desafios maiores pra mim (Entrevistado 1, 2018).

Isso revela que estar no palco e apresentar a verdade daquilo que queríamos transmitir, externando toda a nossa arte e nossa força individual, contribuía para superar nossas resistências internas. Sobre as questões musicais adquiridas na graduação, o colega declara que:

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