No poema grego Odisséia, que narra as via-gens lendárias do herói Ulisses, esse persona-gem chega a um país habitado por gigantes chamados Ciclopes, que são descritos como “homens sem leis”, porque “não têm assem-bléias que julguem ou deliberem” e “cada um dita a lei a seus filhos e mulheres sem se preocuparem uns com os outros”. (Homero, Odisséia. São Paulo: Nova Cultural, 2002, p. 117).
a) Aponte dois aspectos da cidade-estado grega que a diferenciava do país lendário men-cionado no texto.
b) Identifique os dois principais modelos de cidade-estado desenvolvidos na Grécia. c) Cite uma característica da democracia gre-ga que a diferencie da democracia atual.
Resposta
a) Segundo o texto, o país dos Ciclopes é um país de "homens sem leis". Nas cidades-estado gregas havia regras estabelecidas de convívio so-cial e político, portanto "havia leis". No país dos Ciclopes não existem "assembléias que julguem ou deliberem". Nas cidades-estado gregas, via de regra, existem mecanismos de administração colegiada, geralmente na forma de conselhos ou assembléias. Ainda no país dos Ciclopes "cada um dita a lei... sem se preocuparem uns com os outros". Nas cidades-estado gregas são definidas hierarquias sociais e, especialmente en-tre aqueles qualificados como cidadãos, há um re-gime de direitos e deveres comum a todos eles. b) Com variações de época para época e de re-gião para rere-gião, podemos identificar por volta do século V a.C. formas colegiadas de governo com a participação daqueles que eram qualificados ci-dadãos, cujo exemplo clássico é Atenas, sob o re-gime de uma democracia direta.
Por contraste a Atenas, existiam formas oligárqui-cas e de alguma maneira aristocrátioligárqui-cas de gover-no, quando um grupo bastante restrito exercia o poder sobre toda a sociedade local. O melhor exemplo é o de Esparta, controlada por uma elite militarista.
c) Uma das mais importantes distinções entre a democracia de Atenas e a atual é o fato de que a
entre outros aspectos, à extensão do exercício da cidadania, bastante restrito em Atenas e bastante ampliado na atualidade.
Nas entradas de muitas cidades da Liga Hanseática, estava escrito: “O ar da cidade li-berta”.
a) O que foi a Liga Hanseática?
b) Quais fatores impulsionaram o renasci-mento urbano europeu a partir do século XI? c) Por que as cidades, naquele momento, eram concebidas como espaço da liberdade?
Resposta
a) A Liga Hanseática, como o nome de alguma for-ma indica, correspondia a ufor-ma união de corpora-ções no interior de determinadas cidades medie-vais, em particular ligadas a atividades mercantis, cuja atuação, desde o mar Báltico e o mar do Norte, atingia várias regiões da Europa, especialmente a partir do século XII, garantindo para si determinados privilégios; teve um papel bastante significativo na dinamização das atividades comerciais naquele pe-ríodo.
b) O aumento populacional em algumas regiões da Europa no século XI corresponde a um au-mento da demanda por bens e serviços, que con-tribui para romper um equilíbrio até então existen-te entre oferta e procura, inviabilizando as unida-des produtivas de uma certa forma autárquicas no interior dos senhorios feudais. A necessidade de mais produtos provoca um lento mas continuado processo de especialização da produção em cada região. Aos poucos, a sobrevivência das comuni-dades depende menos da produção e cada vez mais da circulação de mercadorias, em particular com o movimento das Cruzadas, que intensificou contatos com o Oriente. Neste contexto torna-se cada vez mais importante o papel do estrato so-cial ligado às atividades mercantis. O comércio tende a se sedentarizar, organizam-se ligas mer-cantis, feiras e correspondentemente observa-se, graças ao comércio, um intenso crescimento ur-bano. Este conjunto de transformações ficou co-nhecido como Renascimento Comercial a partir do século XI.
Questão 13
c) Para garantirem o provimento de bens e servi-ços, os estratos mercantis das cidades consegui-ram obter junto aos senhorios feudais determina-das franquias e privilégios que lhes asseguravam a livre-circulação de pessoas e mercadorias. Organizaram-se formas de administração colegia-da nas cicolegia-dades que eram centros mercantis e, com o crescimento de sua importância econômi-ca, adveio também sua importância política. Por-tanto, não é sem razão que "o ar da cidade liber-ta" por oposição ao "ar dos senhorios feudais, que oprime".
Como muitos indivíduos da Europa seiscen-tista, tanto católicos como protestantes, padre Antônio Vieira acreditava firmemente que os livros proféticos do Antigo Testamento podiam ser, em grande parte, interpretados em termos do presente real e do futuro imediato. Assim como vários de seus contemporâneos purita-nos ingleses, padre Antônio Vieira concen-trou-se mais no Antigo Testamento do que no Novo Testamento. (Adaptado de C. R. Boxer, O Império Marítimo Português. 1415-1825. Lisboa: Eds. 70, s/d, p. 355).
a) A partir do texto, indique um uso da leitu-ra do Antigo Testamento entre os séculos XV-XVII.
b) Nomeie quatro processos históricos relacio-nados a conflitos religiosos ocorridos nos sé-culos XVI e XVII na Europa e na América.
Resposta
a) O judaísmo inaugura, de uma certa forma, uma nova perspectiva em termos de concepção de his-tória. No lugar de uma visão cíclica de história (ascensão, apogeu e declínio de civilizações), passa a existir um "sentido geral da história" de um povo eleito (os judeus) em direção a um deter-minado fim associado à "salvação do povo eleito". O cristianismo, de matriz judaica, mantém a mes-ma perspectiva, rompendo com a concepção cícli-ca, com a diferença de que, no lugar da salvação do "povo eleito", trata-se da salvação de "toda a humanidade". É nesse contexto que os livros pro-féticos do Antigo Testamento adquirem um impor-tante significado. Em alguns desses textos é indi-cada uma sucessão de impérios ao longo da histó-ria da humanidade. O cristianismo aprophistó-ria-se des-sa perspectiva por intermédio de alguns dos
expoentes do pensamento religioso na Época Mo-derna. Particularmente, o Padre Vieira estabelece uma associação entre a sucessão de impérios e o império português, que corresponderia ao "quinto império" (nessa ordem, os grandes impérios uni-versais foram o dos assírios ou babilônicos, per-sas, gregos, romanos e o dos portugueses, o apo-geu dessa perspectiva da história); o império português representaria, assim, o momento de es-plendor do cristianismo, a realização das profecias. O sebastianismo do Padre Vieira, alicerçado nes-sas bases, apropria-se dos livros proféticos do Antigo Testamento para justificar e fundamentar sua percepção. Poder-se-ia, ainda, indicar a defe-sa da escravidão como outro uso do Antigo Testa-mento, recuperando, por exemplo, as prescrições do Pentateuco (em especial do livro do Deuteronô-mio) quanto à posse e ao tratamento dos escravos. b) É bastante questionável e discutível o enuncia-do desta questão, que pede que se "nomeie qua-tro processos históricos relacionados a conflitos religiosos ocorridos nos séculos XVI e XVII na Eu-ropa e na América". Não existe consenso entre especialistas sobre o que se considera "processo histórico". Tomando como suporte a bibliografia corrente sobre a Época Moderna e a história colo-nial em igual período, é possível distinguir um conjunto de eventos que, de uma maneira geral, associam-se a um mesmo e único processo histó-rico, qual seja, o conjunto de transformações que assinalam a passagem do mundo medieval para a modernidade. No interior desse processo distin-gue-se, por exemplo, a contestação do princípio de autoridade, a valorização da observação e do experimento. Na esteira destas novas formas de visão de mundo temos o Renascimento, a Refor-ma, que, entre outros aspectos, defende a li-vre-interpretação dos textos bíblicos. Evidente-mente, tais mudanças de perspectivas estão as-sociadas às transformações tecnológicas do pe-ríodo (imprensa, por exemplo). A quebra da uni-dade religiosa dá lugar, por sua vez, a uma rea-ção por parte do catolicismo, a chamada Con-tra-Reforma, que reafirma os dogmas e o princípio de autoridade da Igreja Católica. Nesse cenário, observa-se, por parte da Igreja, uma tomada de consciência sobre a importância de moralização, reafirmação da autoridade e expansão do catolicis-mo (Concílio de Trento, Companhia de Jesus) e seus desdobramentos na América com a obra de catequese dos indígenas. No plano das Igrejas Reformadas, o preceito da livre-interpretação dá origem a múltiplas seitas protestantes, ao aumen-to da inaumen-tolerância e conseqüentes tensões e con-flitos, que levam às guerras de religião e aos mo-vimentos de colonização de povoamento na Nova Inglaterra.
No século XVII, o Rio de Janeiro era um dos principais pólos econômicos do Império Ultramarino Português. Na segunda metade do século, a região era grande produtora e ex-portadora de açúcar e consumidora de escra-vos, sendo que seus comerciantes atuavam in-tensamente no tráfico negreiro com a África e no acesso à prata das zonas espanholas na América, através do rio da Prata. A despeito de tudo, seus moradores viviam oprimidos com as pesadas taxações que eram obrigados a pagar para a manutenção das tropas de de-fesa.
(Adaptado de Luciano Raposo de Almeida Figueire-do, O Império em apuros: notas para o estudo das alterações ultramarinas e das práticas políticas no Império Colonial Português. Séculos XVII e XVIII, em Júnia Ferreira Furtado (org.), Diálogos
Oceâni-cos. Minas Gerais e as novas abordagens para uma história do Império Ultramarino Português.
Belo Horizonte/São Paulo: UFMG/Humanitas, 2001, p. 207). a) Identifique os principais pólos que demar-cam a extensão territorial do Império Ultra-marino Português no século XVII.
b) Quais atividades desenvolvidas na Améri-ca Portuguesa sustentaram sua importância econômica durante o século XVII?
c) Explique de que maneira o fisco era um problema na América Portuguesa.
Resposta
a) Trata-se de mais um enunciado problemático por supor que seja possível identificar os pólos do império como se eles tivessem sido estáveis no decorrer de todo o século XVII. A grosso modo, existem diferenças significativas entre a primeira e a segunda metades do século XVII. Assim, por exemplo, entre 1580-1640 Portugal, e por exten-são seu império, estava sob o domínio dos Habs-burgos espanhóis. O domínio espanhol está asso-ciado, por sua vez, à ocupação holandesa no Nor-deste, em partes da costa africana que fornecia escravos para o Brasil, e à perda de posições por-tuguesas importantes na África e na Ásia. Já na segunda metade do século XVII, na Améri-ca, há a recuperação do Nordeste açucareiro (saí-da dos holandeses, 1654), a dinamização do Rio
de Janeiro (conforme o texto do enunciado), bem como uma significativa expansão territorial para além da Linha de Tordesilhas (comércio na região do rio da Prata). No final do século XVII (1693) ocorre a descoberta das primeiras jazidas econo-micamente rentáveis na região das minas, inau-gurando um processo de ocupação e valorização econômica daquelas regiões, dando origem a um novo pólo econômico.
Para além da América, consolidam-se posições portuguesas ao longo da costa africana fornece-dora de escravos e na Ásia.
Portugal consegue manter algumas posições em um contexto geopolítico no qual aparecia como aliado da Inglaterra no difícil equilíbrio e luta pela supremacia entre Habsburgos e Bourbons. No século XVII, destaca-se, ainda, a expansão na região amazônica com as missões jesuíticas e a exploração das "drogas do sertão". Entre os anos de 1630-1654, ocorre uma intensificação da atividade de apresamento de indígenas, nas regiões não ocupadas por holandeses começam a faltar africanos e os paulistas destroem mis-sões jesuíticas espanholas nas regiões dos atuais estados do Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul.
Por ocasião da destruição das missões espanho-las, o gado existente na região dispersa-se em di-reção ao sul. Os paulistas dirigem-se então a es-sas regiões, visando apresar tais rebanhos. São fundadas nessa época Paranaguá (1646), São Francisco do Sul (1660), Curitiba (1668) e Laguna (1676).
b) Destacam-se a produção açucareira, a explora-ção das drogas do sertão e, no final do século, o início da atividade mineradora. Por esta via, a América portuguesa tornava-se um importante mercado consumidor de escravos e outros produ-tos que, por intermédio do regime de monopólios, a Metrópole fornecia à Colônia.
c) Trata-se de mais uma pergunta que deveria ser melhor elaborada – "Explique de que manei-ra o fisco emanei-ra um problema na América portu-guesa". O fisco era um problema para quem? O fisco era um problema para as autoridades me-tropolitanas devido à extensão territorial, às difi-culdades de comunicação, às formas variadas de burlas – subornos, contrabandos – de tal for-ma que existia sempre um descompasso entre o que se pretendia arrecadar e o que efetivamen-te era arrecadado.
raiz de vários movimentos de rebeldia na Colônia contra o fisco metropolitano.
Porém, se entendermos "de acordo com o texto" (o que não está explícito na pergunta), a resposta seriam as pesadas taxações que os moradores eram obrigados a pagar para a manutenção das tropas de defesa.
Instalada em Nova Iorque em 1886, a Está-tua da Liberdade foi oferecida pelos franceses como um gesto de amizade republicana para com os Estados Unidos. Por toda a França, houve subscrição pública para levantar fun-dos, considerando-se que a idéia de liberdade dos filósofos franceses tinha sido exportada para a América e inspirado a Guerra de Inde-pendência. Assim, seria adequado comemorar o seu centenário com uma estátua francesa. Com o tempo, associou-se à estátua a imagem de “mãe dos exilados”. (Traduzido e adaptado de Marina Warner, Monuments and maidens – the allegory of the female form. Londres: Vintage, 1996, p.6-7).
a) Segundo o texto, quais significados foram associados à Estátua da Liberdade?
b) Identifique três relações que podem ser es-tabelecidas entre a Guerra da Independência Americana e a Revolução Francesa.
Resposta
a) Segundo o texto, a Estátua da Liberdade asso-cia-se à idéia de que a liberdade pregada pelos fi-lósofos franceses foi exportada para a América e teria se expressado, por exemplo, na Guerra de Independência. Com o tempo, a Estátua da Liber-dade associou-se à "mãe dos exilados", ou seja, àqueles que, por motivos variados, tiveram de sair de suas regiões de origem e se exilaram na Amé-rica. Ainda representou um gesto de amizade re-publicana para com os Estados Unidos.
b) A Guerra de Independência e a Revolução Francesa inspiraram-se nos ideais liberais dos crí-ticos do Antigo Regime que, entre outros aspec-tos, criticavam o Absolutismo e propunham for-mas representativas de governo.
Ambas são expressões, cada uma à sua maneira, da crise do Antigo Regime, no que diz respeito à quebra do regime de monopólios e privilégios. Ambas expressam também as chamadas aspira-ções burguesas que exigem, entre outros
aspec-tos, o estabelecimento da igualdade jurídica dos cidadãos perante a lei, o direito à propriedade e a livre-circulação de pessoas e mercadorias. Além disso, os gastos realizados pelo governo francês com a Guerra de Independência dos Estados Unidos aprofundaram a crise econômica do Estado francês, ampliando a crise do Antigo Regime, e por essa via constituiu-se um fator para a eclosão da Revolução Francesa.
Podemos lembrar também a atuação de france-ses identificados com a causa revolucionária que lutaram na Guerra de Independência e depois fo-ram participantes ativos da Revolução Francesa, como o Marquês de la Fayette.
Fundado em 1793, no auge da Revolução Francesa, o museu do Louvre era a materiali-zação da liberdade, igualdade e fraternidade. O museu foi estabelecido em um palácio real transformado em palácio do povo; sua coleção de pinturas, esculturas e desenhos foi confis-cada da Igreja, da Coroa e dos aristocratas exilados e nacionalizada. (Traduzido de Andrew McClellan, A Brief History of the Art Museum Public, em Andrew McClellan (org.), Art and its Publics. Museum Studies at the Millenium. Oxford: Blackwell Publishing, 2003, p. 5).
a) O que é um museu?
b) Como se pode considerar o confisco mencio-nado no texto como um gesto revolucionário? c) Explique a importância dos museus na construção da identidade nacional.
Resposta
a) Na acepção original, "museu" é o templo das musas. Na acepção do enunciado, "museu" é uma instituição dedicada a buscar, preservar, es-tudar e expor objetos de interesse duradouro e de acordo com uma escala de valores que os consi-dera patrimônio cultural de uma determinada cole-tividade.
b) O confisco dos bens da Igreja (1º Estado) e da aristocracia (2º Estado) representava a derrocada do Antigo Regime configurada nos dois estados privilegiados, e a conseqüente imposição dos va-lores do 3º Estado — liberdade, igualdade e fra-ternidade. Os bens privados tornavam-se públi-cos, consagrando por essa via o princípio da so-berania popular.
Questão 17
c) Como o museu reúne o conhecimento universal por meio da produção material de um povo, pre-serva-se assim uma memória, que pode ser con-siderada um fator importante na construção da identidade nacional.
A respeito da Independência na Bahia, o his-toriador João José Reis afirmou o seguinte: Os escravos não testemunharam passivamen-te a Independência. Muitos chegaram a acre-ditar, às vezes de maneira organizada, que lhes cabia um melhor papel no palco político. Os sinais desse projeto dos negros são claros. Em abril de 1823, dona Maria Bárbara Gar-cez Pinto informava seu marido em Portugal, em uma pitoresca linguagem: “A crioulada fez requerimentos para serem livres”. Em ou-tras palavras, os escravos negros nascidos no Brasil (crioulos) ousavam pedir, organizada-mente, a liberdade! (Adaptado de O Jogo Duro do Dois de Julho: o “Partido Negro” na Independência da Bahia, em João José Reis e Eduardo Silva, Negociação e Conflito. A resis-tência negra no Brasil escravista. São Paulo: Cia das Letras, 1988, p. 92).
a) A partir do texto, como se pode questionar o estereótipo do “escravo ignorante”?
b) Identifique dois motivos pelos quais a atua-ção dos escravos despertava temor entre os se-nhores.
c) De que maneira esse enunciado problema-tiza a versão tradicional da Independência do Brasil?
Resposta
a) Pode-se questionar o referido estereótipo, de acordo com o texto, porque entre os escravos existiram aqueles que associavam a libertação do jugo da metrópole à sua libertação do jugo de seus senhores. Portanto, existiam escravos cons-cientes de sua situação, os quais viam no movi-mento da independência uma oportunidade para a sua própria libertação.
b) De acordo com o texto, pode-se afirmar que a atuação dos escravos despertava temores tanto pelo fato de eles exigirem sua liberdade – portan-to, uma ameaça ao patrimônio dos senhores –
quanto por sua aspiração a um "melhor papel no palco político", o que representaria, entre outros aspectos, o risco da perda da hegemonia e mono-pólio do exercício do poder político por parte dos senhores.
c) Não existe uma única "versão tradicional" da Independência do Brasil. Todavia, pode-se dizer que o enunciado contesta a idéia corrente que o processo de emancipação política do Brasil não contou com a participação dos estratos sociais que correspondiam à base da pirâmide social.
A guerra civil americana afetou diretamente a indústria têxtil inglesa. A carência de maté-ria-prima levou a Inglaterra a incentivar o cultivo do algodão em várias partes do mun-do. Em 1861, chegaram remessas de sementes de algodão a São Paulo distribuídas pela Associação para Suprimento do Algodão de Manchester. Em 1863, foram enviados os pri-meiros sacos produzidos nas terras do coronel Manoel Lopes de Oliveira. Os relatórios con-firmaram a boa qualidade do algodão paulis-ta. (Adaptado de Alice Canabrava, O algodão em São Paulo – 1861-75. São Paulo: T.A. Queiroz Editor, 1984, p. 3-11).
a) Explique por que se pode considerar a guerra civil americana uma experiência deci-siva para o capitalismo nos EUA.
b) A partir do texto, quais os vínculos entre a agricultura paulista e a indústria inglesa?
Resposta
a) Porque expressa, entre outros aspectos, a ten-são e o confronto entre dois modelos sociais, o do Sul, que valorizava uma sociedade escravista, pa-triarcal e formas tradicionais de atividade econô-mica, e o da Nova Inglaterra (Norte), que valoriza-va uma sociedade caracterizada pela mobilidade social e formas diferenciadas de atividade produti-va associadas, entre outros aspectos, a uma civili-zação urbano-industrial. Nesse contexto, a vitória sobre o Sul nesse confronto expressa, de uma certa forma, a supremacia do capitalismo sobre formas tradicionais de produção.
b) A agricultura paulista, ao produzir algodão, tor-na-se fornecedora de matéria-prima para a indús-tria têxtil inglesa.
Mapas extraídos de H. L. Wesseling, Dividir
para dominar: a partilha da África, 1880-1914.
São Paulo: Revan/Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ, 1998, p. 462-463. a) A que processo histórico os mapas acima se referem?
b) Quais os interesses dos europeus pela Áfri-ca, nesse período?
c) Caracterize o processo de descolonização da África.
Resposta
a) Os mapas no enunciado descrevem, entre ou-tros aspectos, dois momentos da ocupação es-trangeira na África, que ficou conhecida como partilha da África, a qual faz parte de um processo histórico mais amplo associado à expansão das potências industriais, que passam a disputar fon-tes de matérias-primas, mercados de consumo e áreas onde pudessem investir excedentes de ca-pitais.
b) No período, os europeus interessavam-se na África por fontes de matérias-primas e áreas onde pudessem investir excedentes de capitais – cons-trução de uma infra-estrutura que possibilitasse o escoamento de matérias-primas. Havia também razões de ordem estratégica e militar, especial-mente na costa do Mediterrâneo e no controle da rota do Cabo da Boa Esperança.
c) A descolonização da África ocorreu após o tér-mino da Segunda Guerra Mundial, no contexto da Guerra Fria e em meio ao enfraquecimento das potências européias. O processo de independên-cia dos novos países africanos foi variável em cada um deles. Nas colônias francesas (a despei-to da Guerra da Argélia) e inglesas, por exemplo, a independência foi negociada.
Portugal foi o último a abandonar suas colônias, que procurava manter, provocando uma longa guerra colonial (1961-1974).
De maneira geral, formaram-se nas colônias gru-pos de ogru-posição armados e apoiados pelos Esta-dos UniEsta-dos ou pela União Soviética, interessaEsta-dos na ampliação de sua influência nos novos estados africanos.
Na repressão à greve de 1917, em São Paulo, o Comitê de Defesa dos Direitos do Homem do Rio de Janeiro denunciou: Todos os componen-tes do Comitê de Defesa Proletária e os mem-bros mais ativos dos sindicatos, das ligas, dos centros e dos periódicos libertários foram agarrados e encarcerados. As oficinas em que se fazia o semanário A Plebe foram invadidas, tendo sido o seu diretor preso. Para muitos presos, foi preparada a expulsão do território nacional. (Adaptado de Paulo Sérgio Pinheiro & Michael Hall, A classe operária no Brasil,
Questão 21
1889-1930. Documentos. São Paulo: Ed. Brasi-liense, 1981, vol. II, p. 265-266).
a) Qual foi a importância da greve de 1917 em São Paulo?
b) A partir do texto, identifique as formas de repressão adotadas pelo governo de São Pau-lo contra a greve de 1917.
c) Qual o papel da imprensa operária nas pri-meiras décadas do século XX no Brasil?
Resposta
a) A greve de 1917 em São Paulo expressa, entre outros aspectos, o auge do movimento operário naquele período, inspirado nos ideais do anarcos-sindicalismo. Além disso, há que se destacar o caráter de greve geral, mobilizando várias catego-rias profissionais.
b) De acordo com o texto, ocorreu a prisão dos envolvidos, a invasão das oficinas do principal pe-riódico operário, a prisão de seu diretor, e medi-das visando à expulsão dos estrangeiros envolvi-dos na greve.
c) A imprensa operária serviu, entre outros as-pectos, para difundir os ideais da causa operária (especialmente os ideais anarcossindicalistas), articular o movimento operário, unificar propos-tas, palavras de ordem e meios de atuação para a realização de seus fins.
Em um samba da década de 1930, o composi-tor Noel Rosa dizia:
Amor lá no morro é amor pra chuchu. As rimas do samba não são ‘I love you’. E esse negócio de alô, ‘alô, boy’, ‘alô, Johnny’ Só pode ser conversa de telefone.
(Noel Rosa, Não tem tradução, Mestres da MPB –
Noel Rosa e Aracy de Almeida.
Continental/Warner, 1994). a) Identifique nesse samba o fenômeno cultu-ral criticado pelo autor.
b) Indique dois dos principais meios de comu-nicação de massa ligados a esse fenômeno cultural.
c) Caracterize o contexto histórico de que esse fenômeno cultural faz parte.
Resposta
a) O autor critica a incorporação de palavras do idioma inglês no idioma português. Por essa via, trata-se também de uma crítica à "invasão cultural
norte-americana" naquele período, associada aos interesses norte-americanos em relação à Améri-ca Latina.
b) O cinema falado, o rádio (transmissões radiofô-nicas) e a imprensa foram os principais veículos de comunicação de massa que foram utilizados naquele período com a finalidade de veicular os valores e a cultura norte-americana no país. c) Para os norte-americanos, tratava-se de rom-per com a tradição da política doBig Stickem re-lação à América Latina, caracterizada, entre ou-tros aspectos, pela utilização de formas variadas de coação e violência para a obtenção de deter-minados fins que interessassem aos Estados Uni-dos.
Assim, já durante o governo de Woodrow Wilson (1913-1925), torna-se perceptível essa mudança de orientação da política externa dos Estados Unidos em relação à América Latina, que seria coroada pela "política de boa vizinhança", inaugu-rada pelo presidente Franklin Delano Roosevelt (1933-1945).
Ao analisar a política internacional entre as décadas de 1950-70, o historiador Eric Hobsbawm afirmou:
O confronto de superpotências dominava e, em certa medida, estabilizava as relações entre os Estados em todo o mundo. Entretanto, as su-perpotências não controlavam uma das regiões de tensão do Terceiro Mundo: o Oriente Médio. Vários dos aliados americanos se achavam di-retamente envolvidos – Israel, Turquia e o Irã do xá. Além disso, a sucessão de revoluções lo-cais, como a do Irã em 1979, provou que a re-gião era e continua sendo socialmente instável. (Adaptado de Eric Hobsbawm, A era dos extre-mos. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 351).
a) Quais as superpotências envolvidas na Guerra Fria?
b) O que foi a Revolução do Irã em 1979? c) O que é a ONU e qual seu papel no cenário internacional?
Resposta
a) As superpotências envolvidas na Guerra Fria são os Estados Unidos e a União Soviética.
Questão 23
b) A Revolução Iraniana (1979) depôs o xá Reza Pahlevi, acusado de corrupção e de realizar re-formas pró-Ocidente. Em abril, o Irã é declarado oficialmente uma república islâmica, cuja autori-dade suprema é um chefe religioso – o aiatolá Khomeini. A Revolução Iraniana evoluiu para um confronto entre os aiatolás, partidários do governo teocrático, e forças que defendem a separação entre o Estado e a religião. A morte de Khomeini, em junho de 1989, favoreceu a ala dos modera-dos, que prega a aproximação com o Ocidente para obter recursos e desenvolver o país, mas o regime permanece fechado ainda hoje.