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7º ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS (ABRI)

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Academic year: 2021

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7º ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS (ABRI)

23 a 26 de julho de 2019 – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), Belo Horizonte, MG

Área Temática: Ensino, Pesquisa e Extensão

A CONSOLIDAÇÃO DE METODOLOGIA DE ENSINO E PESQUISA ATRAVÉS DO CINEMA: UMA DISCUSSÃO A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO “CICLO DE DEBATES

SOBRE O USO DO CINEMA EM ENSINO E PESQUISA EM DIREITO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS”

Joséli Fiorin Gomes

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

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RESUMO:

O cenário global contemporâneo apresenta diversos desafios às ciências sociais e humanas que visam a explica-lo, o que é especialmente visível nos campos das Relações Internacionais e do Direito. Diante disso, uma ferramenta adequada para buscar sensibilização quanto a esta questão se encontra no cinema. Isso porque a linguagem cinematográfica, ao despertar emoções, proporciona uma percepção mais concreta dos temas discutidos no âmbito das Relações Internacionais e do Direito, provocando a reflexão e permitindo, pelo desenvolvimento de capacidade crítica, a proposição de novas perspectivas quanto aos temas levantados. Ou seja, a linguagem cinematográfica, utilizada para o debate destes temas, serve como metáfora para a compreensão da realidade global.

Nesse sentido, é relevante debater o emprego do cinema como ferramenta de ensino e pesquisa em Relações Internacionais e em Direito, a fim de, a partir da troca de experiências e impressões, estabelecer metodologia adequada para a promoção da aprendizagem significativa e da construção do conhecimento nestas áreas. Com isso, o trabalho objetiva apresentar experiência de ciclo de debates sobre o tema, realizado em parceria entre a Universidade Federal de Santa Maria e a Universidade Federal do ABC, a fim de discutir o uso do cinema como ferramenta didática e de pesquisa em caráter interdisciplinar nas referidas áreas. Assim, pretende-se refletir sobre a consolidação de metodologia de ensino e pesquisa que alie teoria a prática, para proporcionar a discussão aprofundada de temas relevantes nestas áreas e seu estudo, a partir desta linguagem artística como mediadora para o entendimento do panorama global por juristas e internacionalistas.

PALAVRAS-CHAVE: Cinema; Ensino; Metodologia.

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Introdução

O cenário global contemporâneo apresenta diversos desafios às ciências sociais e humanas que visam a explica-lo, o que é especialmente visível nos campos das Relações Internacionais e do Direito. Diante disso, uma ferramenta adequada para buscar sensibilização quanto a esta questão se encontra no cinema.

Isso porque a linguagem cinematográfica, ao despertar emoções, proporciona uma percepção mais concreta dos temas discutidos no âmbito das Relações Internacionais e do Direito, provocando a reflexão e permitindo, pelo desenvolvimento de capacidade crítica, a proposição de novas perspectivas quanto aos temas levantados. Ou seja, a linguagem cinematográfica, utilizada para o debate destes temas, serve como metáfora para a compreensão da realidade global.

Nesse sentido, é relevante debater o emprego do cinema como ferramenta de ensino e pesquisa em Relações Internacionais e em Direito, a fim de, a partir da troca de experiências e impressões, estabelecer metodologia adequada para a promoção da aprendizagem significativa e da construção do conhecimento nestas áreas. Com isso, o trabalho objetiva apresentar experiência de ciclo de debates sobre o tema, realizado em parceria entre a Universidade Federal de Santa Maria e a Universidade Federal do ABC, a fim de discutir o uso do cinema como ferramenta didática e de pesquisa em caráter interdisciplinar nas referidas áreas.

Assim, pretende-se refletir sobre a consolidação de metodologia de ensino e pesquisa que alie teoria a prática, para proporcionar a discussão aprofundada de temas relevantes nestas áreas e seu estudo, a partir desta linguagem artística como mediadora para o entendimento do panorama global por juristas e internacionalistas.

1. O cinema como ferramenta de ensino e pesquisa em Direito e Relações Internacionais

No ambiente universitário, diante da vasta gama de mídias existentes para a transmissão da enorme quantidade de informações disponíveis no cenário atual, é preciso buscar metodologias diferentes para envolver os estudantes em reflexão aprofundada que permita a transformação das informações em conhecimento científico (LARRUSCAIN, OLIVEIRA, 2011, p. 7). Nesse passo, o cinema, como forma de arte e de entretenimento preponderante na contemporânea “cultura de massas” (RIBEIRO, 2007), ao veicular os enredos mais diversos em imagens e sons, constitui-se em relevante instrumento auxiliar ao processo de ensino-aprendizagem, permitindo “...dinamizar o trabalho em sala de aula,

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contextualizando e tornando interdisciplinar a aprendizagem” (LARRUSCAIN, OLIVEIRA, 2011, p. 12).

Na seara do direito, no Brasil, segundo Martinez (2015, p. 25-62), há inúmeras iniciativas acadêmicas e obras científicas sobre a utilização do cinema como ferramenta para a compreensão de temas em âmbito jurídico, como as relatadas por Lacerda (2007;

2012), referentes a disciplinas complementares ofertadas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), dentre muitas outras atividades. Nestas iniciativas, percebe-se que o emprego do cinema como instrumento mediador para o entendimento de questões jurídicas “...serve como importante lugar de reflexão e crítica do direito, [...] por perm itir repensar problemas, tradições e pré-compreensões que se internalizam – tanta vez de forma irrefletida – às práticas jurídicas cotidianas” (RIBEIRO, 2007). Verifica-se, pois, que se busca, pela utilização do cinema como mediador ao ensino do direito, s ensibilizar os estudantes diante da realidade, fazendo-os perceber o papel social das suas futuras profissões e pensar sobre o direito enquanto ciência (LACERDA, 2007, p. 15 -16).

As análises do direito a partir do cinema, nas diversas iniciativas já exist entes no país, nesse passo, apresentam, de acordo com Martinez (2015, p. 70), um traço comum, referente ao “...descontentamento com o método de ensino tradicional havendo um consenso quanto ao aprimoramento que se confere ao processo de aprendizagem quando se recorre aos filmes para refletir e discutir temas jurídicos”. Mas, a despeito deste traço comum, o autor aponta perceberem-se dois olhares distintos nestas iniciativas, um “olhar jurídico”, em que o cinema estaria a serviço do direito, ao retratar a realidade humana, permitindo lançar sobre esta uma análise jurídica, e um “olhar sensível”, o qual buscaria, de modo inverso, a partir dos enredos retratados pelas obras cinematográficas, extrair nova forma de compreender o universo jurídico (MARTINEZ, 2015, p. 71-72).

É relevante registrar, ainda de acordo com o mesmo autor (MARTINEZ, 2015, p. 73), que estes olhares, mesmo que distintos, nem sempre são empregados de modo separado, muitas vezes se sobrepondo e complementando-se, sendo importante percebê-los e sobre eles refletir para que se permita o diálogo entre estas visões, auxiliando na consolidação do campo de estudos sobre direito e cinema. No entanto, deve-se apontar que as iniciativas existentes no cenário do ensino jurídico dispensam pouca atenção ao ensino do direito internacional ou a temáticas relativas a este ramo do direito, razão pela qual a realização do ciclo de debates que se propôs entre UFSM e UFABC, o qual será apresentado na segunda seção do trabalho, assume grande relevância, a fim de permitir a reflexão sobre o papel do direito na atual sociedade globalizada e em rede e sua interação com outras áreas do conhecimento destinadas a examinar esta mesma sociedade.

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Na área de Relações Internacionais, a utilização de obras cinematográficas no ensino e na pesquisa sobre temáticas atinentes à área tem se tornado, cada dia mais, uma ferramenta disseminada em diversas escolas, em diferentes países. No cenário norte- americano e europeu, existem obras lançadas, a partir de pesquisas, e cursos lecionados, no âmbito do ensino, por professores em várias universidades. Como exemplos, pode-se destacar a obra de Weber (2014), na qual teorias de Relações Internacionais são examinadas à luz de filmes; a obra de Doucet (2005), em que, pelo exame de filmes infantis, sustenta-se que o cinema contribui para popularizar determinadas visões e teorias sobre os eventos internacionais, validando-as como formas de compreensão dos fenômenos globais;

a obra de Engert e Spencer (2009), em que os autores identificam o uso de filmes por professores da área com fins de retratar eventos históricos, debate de temas específicos, análise de narrativas culturais e explicação e crítica de teorias; e a obra de Valeriano (2013), na qual o autor aborda o uso de filmes como uma forma de familiarizar estudantes com os processos das Relações Internacionais, facilitando a compreensão da moralidade, justiça e poder em perspectiva global.

No Brasil, na seara das Relações Internacionais, iniciativa que vem assumindo papel de destaque, recebendo reconhecimento da Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI), é a coletânea (com 2 volumes publicados e um terceiro no prelo) co- organizada por Cristine Koehler Zanella e Edson Neves Júnior, intitulada “As Relações Internacionais e o Cinema” (2015; 2016). Segundo os autores, o conjunto de decorre da convicção de que “...os filmes podem ser uma valiosa ferramenta de aprendizado para as Relações Internacionais” e da crença de que “...o cinema foi – e continua a ser – uma importante ferramenta política” (ZANELLA; NEVES JÚNIOR, 2015, p. 9). Nesse viés, os autores sustentam ser as relações internacionais “...um campo privilegiado para a utilização de filmes enquanto ferramenta de aprendizado...”, em razão de auxiliarem na percepção conceitos, atores e movimentos dos espaços transfronteiriços, motivarem a investigação dos temas que os enredos retratam, estimularem perspectivas críticas de análise da realidade contextualizada, contribuindo para uma participação mais ativa dos estudantes em sala de aula (2015, p. 9).

De acordo com Zanella e Neves Júnior (2015, p. 10),

Como veículos que são, os filmes podem carregar os mais diversos conjuntos de valores e visões de mundo, e é só quando acompanhados de crítica qualificada, que se dispõe a toma-los como fonte primária, cotejando- os com o momento histórico em que foram produzidos e avaliando por quem foram produzidos e para quem foram direcionados, que os filmes podem manifestar todo o seu potencial como ferramenta de aprendizado nas Relações Internacionais.

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Ademais, em artigo científico publicado em periódico indexado (ZANELLA, NEVES JÚNIOR, 2017), os autores trazem uma perspectiva diferenciada para a questão do emprego do cinema como ferramenta de ensino na área de relações internacionais. Ao contrário do que tradicionalmente se faz ao se analisar o uso do cinema como instrumento didático, a partir da perspectiva dos professores, os autores inovam em incluírem em sua análise do tema, também, a percepção dos estudantes sobre os limites e potencialidades do uso de filmes para o ensino de relações internacionais. Os autores colheram dados sobre a experiência de estudantes das disciplinas de Política Externa Brasileira em duas instituições de ensino superior brasileiras, a Universidade Federal de Uberlândia (na qual Zanella foi professora substituta, hoje é professora adjunta da UFABC), em Minas Gerais, e a Universidade de Vila Velha, no Espírito Santo (na qual Neves Júnior foi professor, hoje é professor adjunto da Universidade Federal de Uberlândia - UFU), com o uso de filmes no ensino destas disciplinas (2017, p. 3-4).

A partir dos dados coletados, os autores concluíram que a maior parte dos estudantes participantes da pesquisa apontou aspectos positivos para o aprendizado com relação ao emprego de filmes nas disciplinas examinadas, expondo a necessidade de mediação da exibição e análise das obras cinematográficas pelo professor para organizar e viabilizar a aprendizagem (2017, p.18). Os autores constataram, assim, que os estudantes participantes da pesquisa indicaram como relevantes para o sucesso do emprego de filmes na análise dos conteúdos das disciplinas a discussão prévia do tema pelo professor em aulas expositivas e dialogadas, a entrega de materiais auxiliares para manter o foco em questões relevantes durante a exibição dos filmes e a realização de atividades para ajudar a situar teoricamente a obra cinematográfica apresentada, destacando a imprescindibilidade do docente no processo de aprendizagem (2017, p. 18-19). Assim, demonstram a relevância da discussão do uso de filmes no ensino, a fim de que se formule uma metodologia adequada a alcançar a aprendizagem significativa no processo de ensino-aprendizagem.

Ademais, em outro artigo publicado em periódico (2016), no qual abordam o uso do cinema na extensão em relações internacionais, os autores tratam sobre os modos pelos quais os docentes, em Relações Internacionais, têm empregado o cinema enquanto ferramenta metodológica para o ensino de temas atinentes à área. Nesse sentido, identificam três recursos metodológicos utilizados por professores na análise de filmes (2016, p. 32).

O primeiro destes diz respeito ao que chamam de “análise-texto”, forma pela qual o roteiro da obra cinematográfica é tomado como objeto para exame de posicionamento quanto ao tema ali abordado, proporcionando realizar crítica aprofundada mediante o

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escrutínio minucioso do texto e discurso desenvolvidos na obra (2016, p. 32). Contudo, os autores destacam uma fragilidade nesta forma de abordagem, relativa à negligência com relação a fatores referentes à produção e estética do filme (2016, p. 32). Um segundo modo de utilização de filmes para exame de questões internacionais referir-se-ia ao que se denomina de “método externo-estético”, pelo qual a análise da narrativa fílmica é aliada a informações externas, relativas à direção, fontes de financiamento, posicionamento do estúdio, efeitos editoriais e visuais, o que traria maior destaque ao filme na análise acadêmica (2016, p. 33). Por fim, um terceiro recurso metodológico diria respeito ao que se chamou de “contextualização temática”, mediante o qual se estabeleceria a “comparação da produção fílmica de uma época”, elegendo-se uma obra representativa de determinada conjuntura, demonstrando um posicionamento sobre certo tema, examinando-se, em contraste, outras filmes lançados no mesmo período, abordando o cinema como “agente histórico e político” (2016, p. 33).

Diante disso, percebeu-se a relevância de buscar diálogo com os autores, especialmente com Zanella, a qual foi convidada a participar como palestrante em ciclo de debates que se propôs, com vistas a estabelecer discussão sobre o uso desta metodologia.

Além de ser referência em termos teóricos e práticos no uso do cinema em ensino e pesquisa em relações internacionais, a palestrante convidada possui formação em Direito (é egressa do Curso de Direito da UFSM), o que permite conectar as áreas de direito internacional e as relações internacionais, intimamente ligadas por se referirem ao mesmo objeto de análise, ainda que sob pontos de vista diversos, qual seja a sociedade global e as interações entre os diferentes atores que nela se movimentam e a influenciam. Nesse aspecto, o evento que se propôs apresentou importância por se destinar a proporcionar o diálogo interdisciplinar entre os cursos de Direito e de Relações Internacionais e entre duas instituições federais de ensino superior (UFABC e UFSM), bem como por se constituir como atividade aberta aos demais cursos da UFSM e à comunidade local e regional. A realização de ciclo de debates interinstitucional e comunitário sobre o tema, assim, teve por intuito permitir espaço de discussão aprofundada sobre o estabelecimento de metodologia de ensino e de pesquisa, a partir do emprego do cinema enquanto ferramenta didática, para estabelecer estratégias que alcancem o efetivo aprendizado por parte dos estudantes, complementando sua formação enquanto cidadãos e profissionais, bem como para que sirva à construção e difusão de conhecimento socialmente comprometido e sério, com vistas a concretizar o papel da Universidade no cenário atual.

Com isso, na seção abaixo, apresentar-se-á a experiência do “Ciclo de Debates sobre o uso do Cinema em Ensino e Pesquisa em Direito e Relações Internacionais”, realizado em parceria entre UFSM e UFABC, expondo seus resultados e desdobramentos, com vistas a

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discutir a consolidação de metodologia de ensino e pesquisa pelo emprego do cinema como instrumento para o desenvolvimento de estudos nestas áreas. É o que segue.

2. A experiência do “Ciclo de Debates sobre o uso do Cinema em Ensino e Pesquisa em Direito e Relações Internacionais”

Como se verificou na primeira parte do trabalho, o cinema é a arte de fixar e reproduzir imagens em movimento, um produto cultural e modo de entretenimento, o qual, indubitavelmente, constitui-se em espaço de discussão e difusão de fatos históricos e contemporâneos, de ideias, ideologias, tabus, permitindo o exame da condição humana no mundo. Apresenta, nesse sentido, um “viés educativo” (LARRASCAIN, OLIVEIRA, 2011, p.

2), servindo como ferramenta auxiliar no ensino e pesquisa de diversas disciplinas, mormente aquelas ligadas à área de ciências sociais e humanas.

Diante do atual cenário global, diversos desafios são colocados à área de ciências sociais e humanas, que visa a explicar os fenômenos nele ocorridos, especialmente no que tange às relações internacionais e ao direito internacional. Com isso, o cinema parece constituir-se em instrumento adequado para sensibilização para a reflexão e compreensão das questões postas pelo panorama global hodierno às sociedades.

Isso se justifica na medida em que a linguagem cinematográfica, ao despertar emoções, proporciona uma percepção mais ampla e concreta dos temas discutidos no âmbito das relações internacionais e do direito internacional, provocando a reflexão sobre estes, permitindo, a partir do desenvolvimento de capacidades criativa e crítica, a proposição de novas perspectivas e soluções quanto aos temas levantados Ou seja, a linguagem cinematográfica, ao ser utilizada para o debate de assuntos relativos às relações internacionais e ao direito internacional, serve como “metáfora” (MANGUEL, 2009, p. 55) para a compreensão da realidade global.

Nesse sentido, é relevante debater o emprego do cinema como ferramenta de ensino e de pesquisa em relações internacionais e em direito internacional, a fim de, a partir da troca de experiências e impressões, estabelecer metodologia adequada para promoção da aprendizagem significativa e da construção do conhecimento nestas áreas. Assim, é oportuno, no âmbito de atividade de ensino, aliar a teoria a pratica, ao permitir o contato dos estudantes com profissionais que atuam nas áreas das relações internacionais e do direito internacional, com experiência no uso do cinema como instrumento didático e de reflexão destas ciências, para proporcionar a discussão de temas relevantes nestas áreas e seu estudo, a partir desta linguagem artística como mediadora para o entendimento do panorama global atual por juristas e internacionalistas.

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Por estas razões, propôs-se, na UFSM, projeto de ensino, a fim de realizar ciclo de debates com especialistas na área, com vistas a discutir o emprego do cinema como ferramenta didática e de pesquisa para a discussão de temas atinentes às relações internacionais e ao direito internacional. Para tanto, convidou-se profissional com larga experiência no uso do cinema em análises sobre relações internacionais e direito internacional, a Professora Doutora Cristine Koehler Zanella, Doutora em Estudos Estratégicos Internacionais pela UFRGS e em Ciência Política pela Universidade de Ghent (Bélgica), co-organizadora da coletânea “As Relações Internacionais e o Cinema” (Editora Fino Traço), hoje professora adjunta do Bacharelado em Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), em São Bernardo do Campo, SP, para discutir esta temática. Os debates foram realizados com professores da UFSM, a Professora Joséli Fiorin Gomes, autora deste trabalho, e Professor Doutor Thomaz Francisco de Araújo Santos, os quais também trabalham com cinema em suas práticas docentes, e os estudantes que participam destas práticas nos cursos de Direito e Relações Internacionais da instituição, bem como com outros docentes e estudantes da instituição interessados no tema, em evento aberto à comunidade santa-mariense e da região.

Objetivou-se, a partir do evento, realizar o debate e a troca de experiências didáticas sobre o uso do cinema como ferramenta de ensino nas áreas do Direito Internacional e das Relações Internacionais, com vistas a construir metodologia apropriada de ensino, bem como a definir e concretizar agenda de colaboração em pesquisa, entre a professora da UFABC e sua equipe e os professores e estudantes da UFSM interessados, sobre o uso do cinema nestas áreas. Pretendeu-se, enfim, estabelecer, a partir da construção de profícua relação de colaboração entre docentes da UFABC e UFSM, trabalhos de referência em ensino e pesquisa sobre o emprego do cinema como ferramenta auxiliar do processo de ensino-aprendizagem e da construção do conhecimento científico nas áreas de Direito Internacional e Relações Internacionais, proporcionando a formação de metodologia capaz de promover a aprendizagem significativa no âmbito destas ciências.

Para tanto, o projeto estruturou-se por meio de ações a serem realizadas, com vistas à realização do evento e ao estabelecimento de parceria acadêmica para colaboração científica entre as instituições, docentes e discentes envolvidos. A ação principal, nesse sentido, deu-se mediante a realização de ciclo de debates sobre o uso do cinema em ensino e pesquisa nas áreas de Direito Internacional e Relações Internacionais, a partir da discussão de temas e filmes atinentes a questões relativas a estas ciências, com palestras iniciais pela professora convidada da UFABC e debates com os professores da UFSM envolvidos na equipe de trabalho, abrindo-se espaço para participação do público, especialmente aos estudantes participantes, para conversar sobre a temática, constituindo- se em evento direcionado aos alunos matriculados nas disciplinas de Direito Internacional

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Privado, Direito Internacional Público, Direito e Cinema (DCG – se for ofertada pelo Curso de Direito Noturno em 2018/2), dos Cursos de Direito da UFSM, bem como a alunos matriculados no Curso de Relações Internacionais da UFSM, sendo aberto, ainda, à participação de outros cursos da UFSM, mormente do CCSH, e da comunidade santa- mariense e da região.

Realizaram-se, ainda, reuniões entre a professora convidada, os professores da UFSM envolvidos na equipe de trabalho, e estudantes da UFSM dos Cursos envolvidos na realização do evento, as quais foram, ainda, abertas à participação de outros docentes e estudantes da UFSM interessados, com vistas à definição e concretização de agenda de colaboração em ensino e pesquisa sobre o uso do cinema nas áreas do direito internacional e das relações internacionais. Nesse passo, expor-se-ão as atividades realizadas no âmbito do referido projeto.

Nesse contexto, realizou-se reunião preparatória para o evento entre a equipe do projeto, em 25/08/2018, na Antiga Reitoria da UFSM, Centro, da qual participaram a coordenadora do projeto, a palestrante convidada e o professor debatedor, a fim de delinear o andamento das atividades programadas, bem como traçar diretrizes para as discussões iniciais acerca do estabelecimento de parceria, em projetos a se seguirem a estes, sobre a metodologia de ensino e pesquisa em Direito e Relações Internacionais a partir do uso do Cinema como ferramenta didática e de reflexão. Tendo em vista dificuldades técnicas encontradas com o uso da internet nas dependências da Antiga Reitoria, decidiu-se alterar um pouco a programação inicialmente prevista para o evento, transferindo uma das reuniões de pesquisa entre a equipe do projeto e aberta a interessados (docentes e discentes da UFSM) do dia 30/08/2018 para o dia 27/08/2018, passando uma das palestras, com alteração de temática, para se adequar à turma da disciplina em que passaria a ser realizada, para 30/08.

Com isso, realizou-se, em 27/08/2018, na Antiga Reitoria da UFSM, Centro, reunião inicial para definição de agenda de colaboração em pesquisa científica e ensino sobre Direito, Relações Internacionais e Cinema entre professores e estudantes da UFSM e professora palestrante da UFABC. Em seguida, em 28/08/2018, no Auditório do Prédio 74C, do CCSH, no Campus UFSM, realizou-se a primeira palestra e os primeiros debates entre a equipe do projeto e 63 (sessenta e três) estudantes e docentes interessados (da UFSM e externos) sobre o tema "Cinema e espaço: o reconhecimento da ascensão chinesa nesta nova arena da política internacional". Nesta oportunidade, empregou-se, de modo combinado, dois dos recursos metodológicos identificados por Zanella e Neves Junior (2016), quais sejam o método “externo-estético” e de “contextualização temática”, a fim de discutir como a emergência da China no cenário da política internacional a partir da sua inserção na exploração do espaço extra-atmosférico realizou-se nos últimos anos,

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destacando o contraste entre a visão mainstream da indústria cinematográfica norte- americana e a perspectiva trazida por obras fílmicas produzidas em outros países, como na própria China.

Em seguida, em 29/08/2018, no Auditório do CCSH, na Antiga Reitoria, Centro, realizou-se palestra e debates entre a equipe do projeto e 70 (setenta) estudantes e docentes interessados (da UFSM e externos) sobre o tema "Star Wars, Política e Direito: o cinema como ferramenta de análise do cenário contemporâneo". Neste momento, utilizou- se, de modo coordenado, três recursos metodológicos diferentes, quais sejam, a “análise- texto”, a “contextualização temática” e o meio “externo-estético”, abordando de que modo a saga idealizada por George Lucas retratou, nos diferentes períodos históricos em que os filmes que a compõem foram lançados, questões atinentes à diplomacia, ao papel das mulheres na política, às representações do Estado e da sua relação com a sociedade, entre outros tópicos levantados pela professora convidada na palestra e pelos participantes durante os debates.

Em 30/08/2018, na Sala 4230, do Prédio 74C, CCSH, Campus UFSM, realizou-se palestra e debates entre a palestrante convidada, a coordenadora do projeto e estudantes dos cursos de Economia, Direito e Relações Internacionais da UFSM sobre o tema:

"Sanções Econômicas Internacionais e Cinema: a conexão entre Relações Internacionais, Economia e Direito". Nesta oportunidade, a abordagem empregada referiu-se ao método de

“análise-texto”, demonstrando como os roteiros das obras destacadas para análise serviam para o exame da temática objeto do debate. Por fim, realizou-se, em 31/08/2018, na Antiga Reitoria da UFSM, Centro, reunião final para definição de agenda de colaboração em pesquisa científica e ensino sobre Direito, Relações Internacionais e Cinema entre professores e estudantes da UFSM e professora palestrante da UFABC.

Do evento, resultou parceria entre os docentes da equipe do projeto e discentes interessados que compareceram às atividades para elaboração e execução futura, a partir de 2019, de novo projeto de ensino, com caráter contínuo, sobre a temática geral do projeto, o qual será oportunamente registrado, para dar continuidade às ações delineadas por esta parceria acadêmica entre UFSM e UFABC. Em face disso, estabeleceu-se parceria acadêmica para colaboração em ensino, pesquisa e extensão entre a professora convidada, vinculada à UFABC, e a professora coordenadora do projeto, vinculada à UFSM, inserindo- se esta última na linha sobre metodologia do Grupo de Estudos do Sul Global, liderada pela primeira, cadastrado junto ao CNPQ e à UFABC, com vistas a promover cooperação entre as docentes e discentes das instituições em que atuam, para fins de desenvolvimento crítico sobre a referida metodologia.

Como resultado, constatou-se que as atividades do projeto foram bem recebidas pelos estudantes público alvo e por outros docentes da UFSM e de outras instituições da

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região (como, por exemplo, a Universidade Franciscana - UFN, a qual registrou expressivo número de participantes, entre docentes e discentes desta instituição que compareceram e tomaram parte nos debates) de forma bastante interessada e benéfica. Verificou-se que o contato com a palestrante externa convidada, da UFABC, com debates entre os participantes e a equipe do projeto, sobre temáticas conectadas ao conteúdo teórico trabalhado nas aulas das diversas disciplinas atingidas, especialmente, as de Direito Internacional Público, Direito Internacional Privado, Teoria das Relações Internacionais e Direito para Economia, e sua inserção em atividades de fixação do conteúdo e em avaliações posteriores, permitiu a aprendizagem significativa dos estudantes. Entre os docentes envolvidos, estabeleceu-se frutífera parceria para futuros projetos de ensino e de pesquisa e extensão, que concretizarão a colaboração entre a UFSM, a UFABC (instituição a que está vinculada a palestrante convidada) e outras instituições interessadas (UFN), para aprofundamento da reflexão e uso da metodologia de ensino e pesquisa mediada pela ferramenta didática do cinema.

As reuniões realizadas entre os docentes envolvidos e os debates com o público após as palestras permitiu a ponderação com relação às formas pelas quais a metodologia é utilizada e seus efeitos sobre o aprendizado dos discentes. Com isso, é possível conjecturar sobre a consolidação do uso desta ferramenta como um instrumento metodológico válido e eficaz para a discussão aprofundada e coerente com a realidade a ser enfrentada pelos futuros profissionais com relação ao Direito Internacional e às Relações Internacionais. Isso porque se percebeu a aproximação, facilitação de compreensão e sensibilização dos estudantes participantes das atividades do projeto com relação aos temas de cunho internacional abordados a partir dos filmes selecionados para a experiência realizada, proporcionando análises bastante profícuas quanto a estas temáticas, bem como a percepção de questões e problemáticas a serem exploradas mediante a pesquisa científica nestas áreas.

Portanto, a experiência mostrou-se relevante no sentido de demonstrar o impacto da ferramenta utilizada como recurso metodológico para o ensino e para a pesquisa em Direito e Relações Internacionais, possibilitando a reflexão sobre o seu emprego na seara acadêmica. Assim, entende-se ser o cinema um meio adequado para o tratamento acadêmico-científico das temáticas atinentes a estas áreas no cenário hodierno, permitindo um maior engajamento e aproximação dos estudantes no que tange ao seu estudo e a percepção mais nítida quanto à indissociável ligação entre a abordagem teórica destes temas e a atuação prática dos profissionais que são formados pelos cursos universitários que sobre eles versam.

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Considerações finais

Em face da crescente complexidade do cenário atual, o qual se caracteriza pela intersecção frequente entre a seara global e os âmbitos domésticos, é relevante o estudo e reflexão sobre as Relações Internacionais e o Direito a partir desta perspectiva. Com isso, tem crescido o interesse por questões internacionais, o que traz o desafio ao ensino e à pesquisa na esfera universitária de bem prepararem os profissionais ali formados para o enfrentamento destas questões. Nesse viés, insere-se a busca por estratégias metodológicas para facilitar a compreensão e a aprendizagem significativa dos estudantes quanto a essas temáticas.

Com isso, o cinema tem se mostrado uma ferramenta, cada vez mais, bastante empregada para realizar estas tarefas. Assim, este texto pretendeu discutir, a partir de uma experiência compartilhada entre docentes e discentes de diferentes instituições de ensino superior federais, um panorama de consolidação crescente do emprego deste instrumento metodológico no estudo e pesquisa em Direito e Relações Internacionais. Tentou-se, a partir desta experiência, demonstrar como diferentes formas de utilização desta ferramenta podem ser eficazes para aproximar, engajar e permitir a compreensão de temas globais atinentes a estas áreas por parte dos estudantes, fomentando o despertar da curiosidade científica para o aprofundamento de discussões teórico-práticas sobre elas, bem como para proporcionar aos docentes a reflexão sobre suas práticas de ensino e pesquisa e oferecer um campo profícuo para a cooperação científica interinstitucional.

Assim, a experiência mostrou-se significativa ao permitir aferir o quanto o emprego desta ferramenta como recurso metodológico tem potencialidades benéficas para o ensino e para a pesquisa em Direito e Relações Internacionais, dando ensejo à reflexão sobre o seu uso na seara acadêmica. Então, pode-se compreender que o uso do cinema no ensino e pesquisa nestas áreas vem se consolidando como um meio adequado para o tratamento acadêmico-científico das temáticas atinentes a estas áreas no cenário hodierno, facilitando a aprendizagem dos estudantes no que tange ao seu estudo, percebendo-se a ligação estreita entre a análise teórica destes temas e a aplicação prática de conceitos e teorias por profissionais formados pelos cursos universitários que deles tratam.

Referências

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Referências

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