• Nenhum resultado encontrado

A utilização de guias de execução por alunos iniciantes de piano

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A utilização de guias de execução por alunos iniciantes de piano"

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

1

A utilização de guias de execução por alunos iniciantes de piano

Selva Viviana Martínez Aquino

UFRGS – svmapy@yahoo.com.br

Resumo: O presente trabalho avaliou a aplicabilidade de guias de execução seguindo a

abordagem proposta por Chaffin et al. em alunos iniciantes de piano, visando uma adequação dos mesmos para ser utilizado com crianças e adolescentes. Foi realizada uma análise do processo de preparação de um grupo selecionado de alunos que, com o apoio e concordância dos seus respectivos professores, prepararam duas músicas para serem gravadas de memória. A análise de correlação de dados mostrou que as gravações com maior quantidade de lapsos estavam relacionadas com uma maior quantidade de guias básicos, enquanto que as performances com menos lapsos relacionadas com uma maior quantidade de guias interpretativos.

Palavras-chave: Guias de execução. Memorização. Piano. Ensino de piano. Alunos

iniciantes.

The Use of Performance Cues by Beginning Piano Students

Abstract: This study evaluated the applicability of performance cues following the

approach proposed by Chaffin et al. to beginning piano students, aiming to adapt them to be used with children and adolescents. An analysis was conducted of the preparation process of a selected group of students who, with the support and agreement of their teachers, prepared two songs to be recorded from memory. The analysis of the correlation of the data showed that the recordings with a higher amount of lapses were associated with a higher amount of basic cues while the performances with a lower amount of lapses were associated with a higher amount of interpretative cues.

Keywords: Performance cues. Memorization. Piano. Piano teaching. Beginning piano

students.

1. Introdução

Na minha dissertação de mestrado realizei uma pesquisa sobre a eficácia da utilização de guias de execução segundo a proposta de Roger Chaffin (2001) como estratégia de estudo e memorização. Tendo alcançado plenamente o objetivo de executar uma peça musical complexa de memória, considerei que a utilização de guias de execução é uma abordagem eficaz para a memorização de peças musicais. Minha experiência com os o uso guias de execução permitiu reelaborar o meu estudo de maneira mais deliberada, e possibilitou o controle do progresso de meu aprendizado no decorrer da pesquisa. Posteriormente, continuei a utiliza-lo como estratégia na memorização de outras peças e também tenho buscado utilizar esta abordagem em minha prática pedagógica com alunos de diversas faixas etárias.

(2)

2

que faz com que ela seja sempre feita, no melhor cenário, de forma espontânea. Chaffin et al. (2009) descrevem esta forma de memorização como um encadeamento

associativo, que segundo os autores, não é considerada como uma forma de

memorização muito segura, pois não garante a recuperação eficaz dos dados no momento de uma apresentação pública do executante. Nesse sentido, os guias de execução constituem marcos mentais desenvolvidos especificamente para cada obra, que podem servir para o monitoramento da performance e assim garantir que a execução ocorra conforme planejada (Lisboa; Chaffin; Demos, 2013).

McPherson, em sua publicação mais recente de um estudo longitudinal, relata que a qualidade de execução musical das crianças está diretamente relacionada à qualidade daquilo que pensam enquanto tocam o instrumento (McPherson, 2005). No proposta de Chaffin et al., os guias de execução previamente deliberados como “marcos” mentais atuam como coadjuvantes na organização e monitoramento do estudo e visam otimizar a recuperação na performance pública.

Considerando trabalhos anteriores (Chaffin & Imreh, 2001; Chaffin, Imreh, Crawford, 2002; Barros, 2008; Chaffin et al., 2009; Aquino, 2011; Lisboa, Chaffin, Demos, 2013; Chaffin, Gerling, Demos e Melms, 2013) que descortinam o uso de guias de execução para o aprendizado e memorização de peças musicais por parte de músicos profissionais e estudantes de nível superior, indaguei se alunos iniciantes de piano, numa faixa etária aproximada de 8 a 14 anos de idade, apresentariam perfis similares de utilização de guias de execução, e se seria possível constatar o mesmo grau de aproveitamento encontrado nos trabalhos acima citados.

2. Guias de execução

Roger Chaffin propôs os guias de execução como uma abordagem para compreender as formas de recuperação da memória e seus níveis de eficácia. O autor define os guias de execução como marcos em um mapa mental de uma peça, que são mantidos na memória de trabalho dos músicos durante a execução. Visto que eles podem ser acessados tanto pelos encadeamentos em série como também de forma direta (ou seja, por endereçamento), eles fornecem uma rede segura para o caso de quebra daqueles encadeamentos em série (Chaffin et all, 2009).

(3)

3

aspectos expressivos e extramusicais), guias estruturais (relacionados à estrutura formal da peça) e guias básicos (que estão relacionados à aspectos técnicos e elementos básicos como identificação de notas e figuras).

3. Metodologia

A pesquisa consistiu em uma avaliação de 14 alunos de piano, numa faixa etária de 8 a 14 anos e com tempo médio de estudo do instrumento de 2 anos. Cada aluno preparou duas músicas escolhidas por ele e/ou por seu professor, e as apresentou em três encontros sucessivos realizados comigo dentro de um período de um mês. Os alunos deveriam tocar as suas músicas de memória no terceiro encontro, e opcionalmente nos dois primeiros encontros.

Os professores me avisaram quando os seus alunos estavam com as músicas prontas para serem apresentadas. Em cada encontro, os alunos tocaram suas duas músicas e concederam entrevista, sendo que estas atividades foram registradas em áudio e vídeo. Os encontros foram realizados nos horários habituais de suas aulas de piano, com intervalos de uma semana entre cada um, e os professores estiveram presentes nos encontros de seus alunos, participando eventualmente com observações sobre o processo.

Após cada gravação, os alunos foram estimulados a falar sobre o que eles pensam enquanto executam. Foi dada, para cada aluno, a tarefa de realizar anotações nas suas partituras de estudo, escrevendo o que eles pensaram durante o seu estudo na semana entre um encontro e outro. Estas partituras foram recolhidas no segundo e no terceiro encontro. No terceiro encontro, os alunos realizaram uma espécie de “teste oral”, que consistiu em perguntas objetivas sobre suas músicasii.

(4)

4

Cada gravação foi estudada sob parâmetros anteriormente estabelecidos para a análise das performances dos alunos. As informações extraídas da análise das gravações permitiram registrar aspectos importantes da performance que interferiram na fluência da execução, e realizar uma avaliação qualitativa da performance da amostra.

4. Resultados

O cruzamento das informações dos guias de execução, lapsos nas gravações e teste oral apresentou resultados significativos e em concordância com outras pesquisas sobre guias de execução já abordadas no trabalho. Contudo, para a apreciação deste capítulo foi indispensável levar sempre em consideração as condições de heterogeneidade entre os alunos, sejam elas por causa da idade, escolha das peças, tempo de preparação, instrumento utilizado, professor, etc., visando a avaliação mais prática e objetiva do desempenho em cada caso.

Para esta análise, realizei o cálculo das correlações entre as diferentes variáveis obtidas na coleta de dados, considerando tanto os dados coletados por cada peça individualmente quanto os totais obtidos das duas peças de cada aluno. Observo que a análise de correlações por aluno trouxe resultados mais significativos do que a análise por peça; isto pode ser justificado pelo fato que a ponderação do desempenho médio ou total de cada aluno trouxe resultados mais equilibrados.

Em relação ao total de guias utilizados por peça, destaco que aqueles que apresentaram maior quantidade de guias de execução foram geralmente aqueles que apresentaram maior quantidade de guias básicos. A correlação entre guias totais e guias básicos por peça foi de 94,2%. Se vincularmos os guias básicos ao processo de aprendizagem das peças, a maioria das músicas as quais ainda se encontravam em uma fase inicial (ou cujos domínios técnicos ainda não foram atingidos em um nível aceitável) apresentaram maior quantidade deste tipo de guias. Ilustro os guias utilizados por aluno em cada peça na Figura 2.

(5)

5

uma correlação direta de 26% entre os anos de estudo e os guias expressivos e este foi o índice maior entre os tipos de guias e os anos de estudo. Isto quer dizer que quanto mais anos de estudo, os alunos tendem a usar mais guias expressivos nas suas peças.

O resultado mais significativo para a pesquisa foi a correlação dada entre a quantidade de guias básicos e a porcentagem de lapsos de memória durante as gravações. Esta correlação foi de 71,1%,a mais alta de todos os índices obtidos. Isto quer dizer que, os alunos que tiveram maior quantidade de lapsos apresentaram muitos guias de execução básicos. Pode-se especular que questões básicas de execução, como dificuldades técnicas, interferem na fluência e na recuperação durante a execução de memória. Já aqueles que foram bem nas gravações tinham ideias mais concisas e enxutas sobre as suas peças e manifestaram não ter muito a dizer porque a execução da peça já se encontrava ”automatizada”.

Outra correlação interessante foi aquela obtida entre a quantidade de guias interpretativos e a porcentagem de lapsos de memória no decorrer da execução, que configurou um índice negativo de 58,2%. Isto significa que, para uma maior utilização de guias interpretativos, houve também uma menor quantidade de lapsos no decorrer da performance.

Figura 1. Gráfico mostrando os principais índices de correlação.

(6)

6

deva ao fato que a maioria das crianças com mais idade apresentaram peças mais complexas e mais trabalhosas, cujo teste oral se tornou mais difícil se comparado às crianças mais novas e que estavam iniciando o estudo de piano.

Em relação aos guias expressivos por aluno, houve uma correlação negativa ao erros no teste oral em 37%, significando que, quanto maior a quantidade de guias expressivos, menor a quantidade de erros no teste oral e vice-versa. Embora seja um percentual relativamente baixo, este ainda apresentou-se maior do que a correlação em relação à utilização total de guias. A correlação entre guias totais de execução e o teste oral foi de 11% negativo. Isto é, quanto maior quantidade de erros no teste oral, menor a quantidade de utilização de guias de execução.

Destaco também que não houve correlação significativa entre guias interpretativos, básicos e estruturais e o teste oral. A proporção de correlação entre erros no teste oral versus guias interpretativos foi de -9,4%, dos guias básicos -3,2% e dos guias estruturais -2,0%.

(7)

7

(8)

8

Referências:

BARROS, Luis Cláudio. A pesquisa empírica sobre o planejamento da execução

instrumental: uma reflexão crítica do sujeito de um estudo de caso.265f. Tese de

doutorado em Práticas Interpretativas. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008.

CHAFFIN, Roger; IMREH, Gabriela. Practicing perfection: piano performance as expert memory. Psyshological Science, v. 13, pp. 342-349, 2002.

CHAFFIN, Roger; IMREH, Gabriela; CRAWFORD, Mary. Practicing perfection: memory and piano performance. Mahwah: Erlbaum, 2002.

CHAFFIN, Roger; LOGAN, Topher; BEGOSH, Kristen. Performing from memory. In: HALLAM, Susan; CROSS, Ian; THAUT, Michael (Ed.). The Oxford Handbook of

Music Psychology. Oxford: Oxford University Press, 2009. pp. 352-363.

CHAFFIN, Roger; GERLING, Cristina; DEMOS, Alexander; MELMS, Andrea. Theory and practice: A case study of how Schenkerian analysis shaped the learning of Chopin´s Barcarolle. In: INTERNATIONAL SYMPOSIUM OF PERFORMANCE SCIENCE, 2013, Londres. Proceedings of the Internacional Symposium on Performance Science. UK: Royal College of Music, 2013, pp. 21-26.

CHAFFIN, Roger; LISBOA, Tânia; DEMOS, Alexander. Recording thoughts as an aid to memorization: a case study. In: INTERNATIONAL SYMPOSIUM OF PERFORMANCE SCIENCE, 2013, Londres. Proceedings of the Internacional

Symposium on Performance Science. UK: Royal College of Music, 2013, pp. 625-630.

MCPHERSON, Gary E.; DAVIDSON, Jane. Playing an instrument. In MCPHERSON, Gary E. (Ed.). The Child as Musician: A Handbook of Musicial Development. Oxford: Oxford University Press, 2006, pp. 331-351.

XXX, 2011.

i O autor não só concede mas recomenda a mais ampla liberdade de escolha em relação à classificação, encorajando que o músico reclassifique os guias de acordo com sua necessidade ou concepção (Chaffin, Imreh, Crawford, 2002).

ii A ideia deste teste surgiu como uma adaptação da etapa de reescrita da partitura sugerida por Chaffin (Chaffin; Imreh; Crawford, 2002; Chaffin et al., 2009), pois considerei que alunos desta faixa etária não têm suficiente domínio da notação musical para realizar tal tarefa.

Referências

Documentos relacionados

[r]

Temos, portanto, uma passagem do controle ao auto-controle, da cota de participação conferida a cada um, não só no tocante aos meios de produção, agora mais fluidos e autônomos,

E assim acontece mesmo de fato. Nas asas da imaginação o homem deixa os estreitos limites do presente, em que se inclui a mera animalidade, para se esforçar rumo a um ilimitado futuro

01) No gráfico que se segue, forma projetados dados de massa e No gráfico que se segue, forma projetados dados de massa e volume para três líquidos: A, B e

Nesse dia, também estará à disposição, somente na secretaria da escola, o boleto bancário referente à mensalidade do mês de fevereiro de 2011.. ATENÇÃO: Informamos que o

Série de 8 casos de IVAP em pacientes com estenose aórtica grave e com alto risco cirúrgico submetidos ao procedimento com implante direto da prótese CoreVal- ve TM

VIII - consumo de bebidas alcoólicas em vias públicas. §1º Fica suspenso o funcionamento dos serviços e atividades previstos nos incisos deste artigo, independentemente do local

93 Sofia Vale, apontamentos de direito das sociedades comerciais, Universidade Agostinho Neto, faculdade de Direito; An, IRENEU MATAMBA, “Os acordos parassociais e o seu