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A APROPRIAÇÃO DOS ELEMENTOS DA ARQUITETURA MODERNISTA

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Academic year: 2021

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A APROPRIAÇÃO DOS ELEMENTOS DA ARQUITETURA MODERNISTA EM ANÁPOLIS: CENTRO-SUL

Celina Fernandes Almeida Manso1 (celina.manso@hotmail.com)

Lyzandra Machado Martins2 (lyzandramm@gmail.com)

1. INTRODUÇÃO

O movimento moderno surge no inicio do século XX em decorrência de diversos fatores políticos, econômicos e sociais. Fatores como as mudanças nos hábitos de vida que começaram a aparecer no final do século XIX, a necessidade de se reconstruir as cidades européias arrasadas pelas guerras mundiais e as mudanças causadas pela revolução industrial acabaram por ocasionar mudanças bruscas também no modo de se pensar e projetar as cidades e seus edifícios. Assim, essa busca por soluções e adequações diante da nova realidade nas cidades possibilitaram uma reorganização e consequentemente uma transformação no pensar e fazer arquitetônico.

O Brasil, que não enfrentou as guerras e passou tardiamente pela revolução industrial, tem na semana de Arte Moderna de 1922, um marco para o surgimento das ideias modernistas no país. Os grupos intelectuais brasileiros buscavam associar o país a uma imagem moderna, mas sem perder de vista a cultura brasileira, na tentativa de construir uma identidade nacional. Segundo Bruand (2003), desde o início, fica clara a “dualidade” do modernismo brasileiro, com um caráter ao mesmo tempo, revolucionário e nacionalista. Nesse sentindo é que em 1927, o russo Gregori Warchavchik constrói a primeira casa modernista brasileira em São Paulo, introduzindo no Brasil um modo de fazer arquitetura que foi largamente apropriado e que resultou em uma grande variedade de possibilidades aos construtores brasileiros.

A expansão dessa arquitetura para o interior do país, distante dos principais centros – Rio de Janeiro e São Paulo - que a receberam a priori, possibilitou, graças a particularidades regionais, o florescimento de variações na concepção formal dos objetos arquitetônicos produzidos. Os ensinamentos dos mestres modernistas foram digeridos e adequados às necessidades e materiais locais, gerando adaptações quanto às técnicas, tecnologias e materiais de produção. Nesse sentido podemos falar de uma regionalização da arquitetura moderna, que se adaptou aos condicionantes de cada região do país, gerando obras diversas que não deixaram de dialogar com as ideias modernistas.

A cidade de Anápolis, recebeu influência dessa arquitetura modernista e possui atualmente muitos exemplares desse estilo. Alguns fatores de relevância histórica contribuíram para a presença da arquitetura moderna na cidade. A história de Anápolis tem uma forte ligação com a ideia de progresso, a princípio ligada à ferrovia, e a partir dai às suas políticas de industrialização e desenvolvimento. Além disso, sua posição geográfica estratégica, localizada entre as cidades de Goiânia e Brasília, duas importantes capitais modernas e planejadas, é fator determinante para a forte presença dessa arquitetura na cidade.

1 Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela PUC-Campinas (2001) e professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Goiás.

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No início de sua história Anápolis foi um entreposto de tropeiros tendo seu primeiro núcleo se desenvolvido próximo ao Rio das Antas, que se apresenta como uma barreira natural ao crescimento da cidade. A cidade foi se desenvolvendo e se adensando entorno desse núcleo central, até que a barreira do Rio das Antas foi transposta na época da chegada da ferrovia. Os trilhos tiveram a partir de então, grande importância no direcionamento do processo de expansão da cidade.

A chegada da ferrovia a Anápolis, em 1935, foi fundamental para o desenvolvimento da cidade que passou a ser o centro comercial mais importante do estado. As mercadorias chegavam à cidade vindas dos grandes centros, principalmente São Paulo e eram então distribuídas para outras partes do estado e para a região norte do país. A ferrovia marca também o início das premissas modernistas na cidade e concretiza a vontade de muitos cidadãos anapolinos da época, que ansiavam pelo progresso que a ferrovia traria com ela.

Juntamente aos acontecimentos que precederam a inauguração da ferrovia, outro importante fato histórico estava se desenvolvendo nas proximidades de Anápolis. Em 1933 lança-se a pedra fundamental de Goiânia. Os construtores de Anápolis sentiram de perto a modernização e se apropriaram dela, influenciados pela nova capital do estado.

Nas décadas que se seguiram, a construção de Brasília no final dos anos 50, e posteriormente, na década de 70, o surgimento da Base Aérea de Anápolis e do DAIA (Distrito Agro Industrial de Anápolis), foram acontecimentos fundamentais para a concretização da modernidade em Anápolis. Esses últimos acontecimentos confirmaram a característica da cidade de estar atenta às transformações econômicas e sociais que aconteciam no Brasil, procurando se renovar para acompanhá-las.

2. OBJETIVOS

Nesse contexto se insere o objetivo dessa pesquisa, que buscou estudar a produção modernista na cidade de Anápolis. A pesquisa identifica e categoriza as obras a fim de se estabelecer um diagnóstico, possibilitando não só a leitura da produção arquitetônica modernista na cidade, mas também, uma leitura da evolução urbana em Anápolis. Além disso, a pesquisa da arquitetura modernista em Anápolis contribui com o entendimento da composição formal moderna desenvolvida no país.

A área de estudo foi delimitada pelos processos de evolução da ocupação da malha urbana sendo, portanto, selecionados os núcleos pioneiros de ocupação da cidade, onde a presença dessa arquitetura é mais numerosa. O recorte se divide em região Central e Jundiaí, que são também divididos por questões de metodologia de trabalho em Centro Sul e Centro Norte e Jundiaí Leste e Jundiaí Oeste.

Os estudos e levantamentos de campo apontaram a presença não só de exemplares legítimos do modernismo, mas também a forte presença de edifícios que tiveram com maior ou menor rigor a influência modernista. Assim se fez necessária à divisão em três categorias de estudo a fim de pragmatizar o estudo proposto. Os exemplares foram categorizados em Arquitetura Moderna legítima, pensada e executada por arquitetos e engenheiros de formação modernista; Arquitetura Moderna apropriada, onde os elementos se repetem sem o esmero dos profissionais; e a Arquitetura Moderna popular, que se deu pelo espraiamento dos elementos de forma aleatória e arbitrária.

A esse trabalho, coube a parte do Centro Sul e a análise dos exemplares pertencentes à categoria da Arquitetura Moderna apropriada. O Centro Sul engloba parte do núcleo pioneiro da cidade limitado a norte pela Avenida Goiás e a Igreja Bom Jesus, a oeste pela Rua Amazonas e a leste e a sul pelo Rio das Antas. A categoria da Arquitetura Moderna

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apropriada abrange os exemplares onde os tipos da arquitetura moderna foram reproduzidos sem a preocupação com a criação de uma composição formal, os elementos foram apropriados e os modelos repetidos.

3. METODOLOGIA

A princípio a pesquisa foi realizada em busca de referências sobre Anápolis e sobre a arquitetura moderna. Buscou-se fundamentação teórica por meio de revisões bibliográficas, e discussões realizadas em reuniões do grupo, onde os resultados foram positivos enriquecendo a bagagem teórica dos envolvidos na pesquisa. As discussões foram fundamentais para a eficiência do trabalho de campo realizado posteriormente. Nessas visitas os exemplares a serem estudados foram levantados, identificados e registrados em mapas e fotografias.

Munidos das referências bibliográficas, dos mapas e registros fotográficos realizados, iniciou-se os trabalhos de análise da produção arquitetônica em Anápolis baseados principalmente em estudos morfológicos dos exemplares selecionados. Além disso, buscou-se examinar também os exemplares a fim de evidenciar sua importância no estudo de seus significados na construção da história da cidade de Anápolis.

A partir do estudo das formas da arquitetura moderna produzida em Anápolis a pesquisa foi se desenvolvendo e permitiu traçar uma caracterização da presença do estilo modernista no território anapolino. Foram identificadas três instâncias nas quais o movimento moderno se desenvolveu em Anápolis, que deram origem às três categorias de desenvolvimento da pesquisa. Estudando os elementos da arquitetura moderna internacional e nacional chegou-se a uma metodologia para classificar os representantes entre cada uma das três categorias identificadas em Anápolis. Lembrando que estas não são características rígidas, apenas uma forma de facilitar a leitura baseada na análise visual de características que se repetem.

Em vista da dificuldade de acesso aos edifícios, as análises realizadas tiveram nas fachadas, na composição formal das edificações e na relação de ocupação do edifício com o lote, os principais elementos de estudo, que possibilitaram vislumbrar e realizar o presente trabalho. Para o desenvolvimento da metodologia de análise das edificações selecionas, às bibliografias de João Gomes Filho em “A Gestalt do Objeto”, e de Donis Dondis, “Sintaxe da Linguagem Visual”, relacionadas à percepção da forma, foram primordiais.

O material, resultante dos estudos das edificações, foram fichas onde a leitura de cada exemplar aparece individualmente em detalhes. Fotos, croquis e textos foram utilizados para a execução desse material. Após o estudo prévio chegou-se as fichas, a partir das quais foi possível realizar as discussões e chegar aos resultados e conclusões da pesquisa. As fichas se encontram em anexo ao relatório.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A localização de Anápolis entre as duas capitais Goiânia e Brasília, foi de fundamental importância para o aparecimento da arquitetura moderna na cidade. A migração de profissionais para o interior do país para participar das construções de ambas as cidades, trouxeram para Anápolis novas ideias e novas formas de construir. A construção de Brasília em especial, consolida a modernidade no interior do Brasil, e Anápolis buscando acompanhar o ritmo das inovações correntes, se empenha em manter os mesmos hábitos de vida dos vizinhos. Nesse sentido a arquitetura acaba se tornando um ótimo meio para demonstrar essa aproximação com a nova capital.

Alguns fatores que contribuíram para a aceitação da arquitetura moderna em Anápolis e em grande parte do país foram tanto sua proximidade com a ideia de progresso,

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quanto a característica formal do modernismo de possuir uma linguagem limpa que atendia aos critérios de composição da Gestalt, atingindo assim uma harmonia e um equilíbrio facilmente aceitos pelo público erudito e pelo público popular. Essas formas em Anápolis foram identificadas em três instâncias, Arquitetura Moderna legítima, Arquitetura Moderna apropriada, Arquitetura Moderna popular. Tal divisão, realizada após amplo estudo e análise da situação real da cidade, leva em consideração a presença e a pregnancia dos elementos modernistas em cada edificação.

A área estudada, Centro Sul, possui uma concentração significativa de edificações nas proximidades da Igreja Bom Jesus, do Córrego das Antas e às margens da Av. Pedro Ludovico. Esse fenômeno se dá, antes de qualquer coisa, pela própria evolução urbana da cidade, já que a Igreja e a Praça Bom Jesus tem seu entorno consolidado quando da implantação da estação ferroviária em suas imediações, já a Av. Pedro Ludovico era parte da estrada que levava os pioneiros, materiais e suprimentos para Goiânia, a capital em construção na década de 1930. Esses dois acontecimentos marcam também a profusão de elementos da art Decó nessa região, principalmente nas proximidades da Av. Goiás, uma área de ocupação mais antiga do que o avanço em direção ao Córrego das Antas, tanto a sul quanto a leste acontecido nas décadas subsequentes.

Analisando os exemplares pertencentes à categoria da Arquitetura Moderna apropriada é possível identificar alguns dos principais elementos que foram difundidos pelos profissionais e leigos que produziram a arquitetura moderna em Anápolis. Um modelo que se repete largamente na tipologia residencial é a do edifício encimado pela platibanda desenvolvendo-se em um único volume onde o cheio e o vazio são marcados respectivamente pela massa da edificação e pela área da garagem. A maioria dos exemplares residências segue esse modelo com algumas variações na forma das esquadrias, ou com a inserção de outros elementos como, por exemplo, os brises.

Outras características e outros elementos que também aparecem nos edifícios analisados são o telhado borboleta, os brises, a edificação que se desenvolve acima do nível da rua, a janela em fita, planos de vidro, pilares circulares e uma diversidade de revestimentos, principalmente o azulejo e o gesso. A platibanda é sem duvida o elemento mais difundido, por vezes funcionando apenas como elemento compósito e em outros casos funcionando como proteção solar reforçando a relevância das características do sítio na apropriação dos elementos.

5. CONCLUSÕES

A realidade brasileira nas décadas de 1920 e 1930 permitiu que a arquitetura moderna chegasse e se expandisse pelo país, o que possibilitou sua disseminação por grande parte do território permitindo que adquirisse feições variadas nos vários cantos do país. Essa arquitetura alcançou a cidade de Anápolis que já possuía um espírito moderno arraigado em sua história, isso impulsionou uma rica produção desse estilo em diferentes níveis de proximidade com as ideias legítimas da arquitetura moderna produzida no Brasil.

Buscando estudar a presença dessa arquitetura em Anápolis a presente pesquisa identificou três categorias diferentes em que ela aparece, concluindo que existe em Anápolis uma quantidade relevante de exemplos puros da arquitetura modernista, contudo a quantidade de edificações onde alguns elementos e tipos foram apropriados é muito maior, sendo ainda maior os exemplares pertencentes à categoria da popularização. Os estudos concluem, portanto, que o discurso da modernidade aliado aos tipos límpidos do modernismo e as características locais possibilitaram a pregnância e a grande presença modernista na arquitetura anapolina.

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Os levantamentos e estudos realizados contribuem com a pesquisa sobre a história de Anápolis buscando enriquecer a bibliografia sobre a cidade baseado-se na sua produção arquitetônica de influência modernista ocorrida entre as décadas de 50 e 70. A pesquisa enaltece a importância de se estudar e conservar o patrimônio edificado da cidade já que essa é uma forma de conhecimento e principalmente de preservação da história da cidade não só para informação, mas também para a produção da cidade nos tempos que se seguem.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Arquivos do Museu Histórico de Anápolis.

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Mato Grosso do Sul. Disponível em:

http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.047/596, 2004.

BLOMEM, Rui. Anápolis o milagre do planalto central. O Anápolis, Anápolis, 15 de maio de 1949.

BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Martins Fontes, 1981. CHAUL, N. F. Caminhos de Goiás – Da construção da decadência aos limites da

modernidade. 2ª ed. Goiânia: Ed. da UFG, 2001.

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GEERTZ C. O saber local. Novos ensaios em antropologia interpretativa. 5a Ed. Petrópolis: Editora Vozes; 1997.

FRAMPTON, Kenneth. História crítica da arquitetura moderna. 2ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

LARA, Fernando Luis Camargos. Modernismo Popular: elogio ou imitação? In: Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, Belo Horizonte, v.12, n.13, p. 171-184, dez. 2005.

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MORAIS. T. C., GORNI. M. Anápolis: antes e depois da ferrovia. Disponível em http://www.ahistoriadeanapolis.com.br/pdf/ferrovia.pdf

POLONIAL, J. M. Anápolis nos tempos da ferrovia. Goiânia: UFG, 1995. (Dissertação de Mestrado).

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