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UTILIZAÇÃO DO TREINAMENTO AERÓBIO, DE CURTA DURAÇÃO, NO TRATAMENTO DE PORTADORES DE HIPERTENSÃO ARTERIAL ESSENCIAL

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Rev. Bras. Fisiot. Vo\. 3, No. 2 (1999), 87-95 ©Associação Brasileira de Fisioterapia

UTILIZAÇÃO DO TREINAMENTO AERÓBIO, DE CURTA DURAÇÃO, NO

TRATAMENTO DE PORTADORES DE HIPERTENSÃO ARTERIAL ESSENCIAL

Garbelotti

Jr.,

S.

A.,l.2

Garbelotti, L.Ue Marmo, M. R.

4

1Centro de Reabilitação da Clínica Cardiológica Dr. Eduardo Agostini

2Fisioterapeuta, Mestrando em Morfologia/Anatomia na UNIFESP, EPM

3Educador Físico, Coordenador de Esportes da Faculdade de Educação Física de Santo André, FEFISA

4Fisiologista, Docente da Santa Casa de São Paulo e do Centro Universitário São Camilo.

Correspondência para: Silvio Antonio Garbelotti Junior, R. Thomé

Teixeira Vilela, 18, Cerâmica, CEP 09581-230, São Caetano do Sul, SP

Recebido: 19/08/97-Aceito: 04/01/99

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo estudar os efeitos de um programa de treinamento aeróbio, de curta duração, em portadores de

hipertensão arterial. Para tanto foram analisados dois grupos. O primeiro foi formado por 30 indivíduos (14 normotensos e 16 hipertensos),

os quais foram submetidos apenas a um teste ergométrico submáximo, através do qual analisamos os efeitos agudos (imediatos) do

exercício. O segundo grupo foi formado por 12 indivíduos (3 normotensos e 9 hipertensos) que se submeteram a um programa de

condicionamento físico, de curta duração (3 e 6 meses), baseado em exercícios aeróbios dinâmicos (bicicleta, esteira e remo). Para a coleta dos dados foi utilizado um protocolo de avaliação física para os dois grupos, o qual compreendia uma avaliação cicloergométrica na qual os dados relativos à capacidade funcional (CF) foram obtidos de maneira indireta. Resultados positivos foram observados nos indivíduos portadores de hipertensão do segundo grupo, quanto ao incremento da capacidade funcional (maior valor de consumo

de oxigênio ou V02 pico) e diminuição da pressão arterial (PA). Constatamos que o exercício atua fisiologicamente diminuindo a

freqüência cardíaca (na ordem de 11% em repouso e 20% durante o esforço, após 6 meses do início do programa), aumentando o

V02 pico (em cerca de 23% após 6 meses de programa) e diminuindo a PA em repouso (na ordem de 16% para a PA sistólica e

11%

para a PA diastólica após 6 meses de programa).

Palavras-chave: fisioterapia, hipertensão arterial essencial, condicionamento físico. reabilitação cardiovascular.

ABSTRACT

This work had the purpose to study the effects of a short duration aerobic training program in persons with essential arterial hyper-tension. For this it was analyzed two groups. The first one, was formed for thirty persons (14 normotenses and 16 hypertenses), wich had been submitted only for a submaximal cycloergometer valuation. The second group was formed for twelve persons (3 normotenses and 9 hypertenses), submitted to a short duration physical training program (3 and 6 months) based in dynamic aerobic exercises (bicycle, ergometric mat and oar). For the data collect we used only physical test protocol for two groups, which comprehended an ergomet-ric evaluation with a bicycle. The relative data about functional capacity were obtained by indirect form. Positive results were ob-served in persons with hypertension from second group, for that increases functional capacity (most value of oxygen uptake) and decreases arterial pressure. We verified that the exercises operate physiologically producing benefic effects as decreases heart rates (approxi-mately 11% at rest condition and 20% during the effort, six months after to start the program), increases the most value of oxygen uptake (some 23%, six months after to start the program) and decreases arterial pressure at rest (approximately 16% for systolic arterial pressure and 11% for diastolic arterial pressure, six months after to start the program).

(2)

INTRODUÇÃO

Pressão arterial (PA) pode ser definida como a força produzida por uma coluna de sangue e exercida sobre as paredes arteriais, geralmente expressa em milímetros de mercúrio (mmHg). Pressão arterial sistêmica é a pressão sangüínea encontrada em todo sistema circulatório, que diminui desde a aorta até o átrio direito. No nível arterial é mais elevada, gerando um gradiente de pressões, o que permite a circulação do sangue através de todos os tecidos do corpo.1 A PA normal varia de acordo com a idade, sexo e grupo sociorracial, com tendência a ser mais alta em co-munidades civilizadas do que em primitivas.2

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a American Heart Association (AHA) e o Joint National Comite (USA), são aceitos como valores máximos de normalidade para PA: 140 x 90 mm, Hg para o adulto jovem, 160 x 90 mmHg para o adulto e 160 x 95 mmHg para o idoso.2

· 3· 4 É importante o

conhecimento dos níveis normais de PA, em suas respecti-vas faixas etárias, para avaliar possíveis modificações tanto no aumento excessivo (hipertensão arterial) quanto na queda acentuada (hipotensão) da mesma.

A hipertensão arterial (HA) é uma variação patológica da PA, determinada pela elevação anormal da PA em di-versos períodos do dia, tendo características de croni-cidade.L 2

Existem dois tipos de HA. A hipertensão secundária decorre de outras patologias conhecidas, como os distúr-bios na glândula supra-renal, nefropatias, arteriosclerose, entre outras. Este tipo de HA corresponde a apenas 5-10% da população hipertensa.l. 2 Outro tipo de HA é a chama-da primária ou essencial e corresponde a 90-95% dos ca-sos registrados, 1. 2 tornando-se assim uma das cardiopatias

mais comuns e importantes dos dias atuais. Além disso, a HA essencial favorece a instalação de outras cardiopatias (hipertrofia ventricular esquerda, arteriosclerose, infarto e isquemia miocárdica), além de aumentar o risco de lesões em órgãos-alvo (como acidente vascular cerebral, nefropatias e isquemias periféricas).

A HA essencial é de fácil profilaxia pois as principais condutas no seu controle são dieta alimentar (hipo-sódica), atividade física (orientada e individualizada) e tratamen-to medicamentratamen-toso (adequado a cada caso).

Fatores Relacionados à HA Essencial

Vários fatores, associados ou não, estão relacionados com este tipo de HA. Os mais importantes são:

1. Idade e Sexo: A PA eleva-se ao longo da vida, es-tabilizando-se aproximadamente entre 20 e 50 anos, quando volta a subir devido a fatores como arterios-clerose, aumento da resistência vascular periféri-ca e alterações dos barorreceptores.12 Além disso, a PA tende a ser maior em homens nas primeiras quatro décadas de vida. Após este período, o

pre-domínio passa às mulheres, por fatores como mu-dança hormonal e ganho de peso surgido no perí-odo pré-menopausa.1

· 2· 5

2. Obesidade: A obesidade tem sido observada em substancial parcela da população brasileira. A HA apresenta prevalência de 30%-50% em obesos. em relação a indivíduos de peso normal ou abaixo. E a adiposidade aumenta o risco de HA em até oito vezes. Apesar disso, o fato de nem todos os obe-sos apresentarem HA sugere que a obesidade está associada a outros fatores na elevação da PA.6

3. Fatores Genéticos: Apesar de a transmissão genética não ser bem definida, este fator é reconhecido como etiológico na HA. Em apoio a isto, temos o cará-ter familiar da HA e sua presença em gêmeos univi-telinos.2· 7 Acredita-se que, por fatores hereditários,

os negros apresentam mais HA do que os brancos. Em estudos feitos nos EUA observou-se que a HA acomete mais negros do que brancos na proporção de 2: 1, e a HA apresentada pelos primeiros apre-sentam maior gravidade patológica.2

· 7

4. Fatores Psicogênicos: Fatores psicológicos (stress, ansiedade e depressão), quando estimulados, podem desencadear a HA ou crises hipertensivas (situações clínicas agudas nas quais ocorre brusca elevação da HA). A HA essencial é considerada psicosso-mática por sua característica multifatorial, e tem no fator emocional uma de suas principais causas.x·9

5. Utilização de Cloreto de Sódio (Sal): Existem evi-dências de que a retenção de sódio contribua para a HA, tanto por aumento da ingestão quanto pela sua menor excreção. Estudos2

·7•111 mostram que, em

po-pulações com ingestão baixa de sal, a incidência de HA é discreta e os indivíduos apresentam maior sobre-vida. Outro estudo11 refere que 40% dos indivíduos portadores de HA leve e recente conseguiram controlá-la apenas diminuindo substancialmente o sal da sua dieta.

6. Utilização de Estrógenos: Os anticonceptivos orais são a causa mais comum do desencadeamento da HA em mulheres. Isso ocorre principalmente pela ação retentora de líquidos deste tipo de hormônio. Esta relação é mais comum acima dos 35 anos e na obesidade.12 Geralmente, após a interrupção do uso, a pressão tende a voltar ao normal.

7. Sedentarismo: É um comportamento estreitamen-te relacionado ao aparecimento de uma série de dis-túrbios orgânicos, dentre eles os cardiovasculares. 3

O exercício auxilia na diminuição da PA, diminuindo o peso e a massa adiposa corpórea e promovendo modificações metabólicas e do estado hemodinâmico (diminuição da freqüência cardíaca e da resistên-cia vascular periférica).6 Estudos têm mostrado a

redução na incidência, mortalidade e morbidade decorrentes dessas doenças em pessoas praticantes

(3)

Vol. 3 No. 2, 1999 O Treinamento Aeróbio em Hipertensos 89

de exercícios físicos regulares, quando comparados com grupos de sedentários. Além disso, a maioria desses estudos, comparando atividade física e ex-pectativa de vida, documenta um acréscimo de um a dois anos a favor dos que praticam exercícios.13

Porém, não há garantias de que intervenções visando incluir ou aumentar atividade física em sedentári-os seja determinante para menor incidência de doen-ças cardiovasculares. Esta hipótese ainda depende de confirmações, pois estudos prospectivos sofrem múltiplas influências e a constatação de baixa adesão a programas de treinamento a longo prazo tornam difícil a análise.4

O interesse pela prática regular de exercícios atingiu milhares de pessoas em todo o mundo. Este interesse au-mentou acentuadamente, principalmente nos adultos, devido às inúmeras confirmações científicas atuais de que o seden-tarismo contribui muito para uma maior incidência de pro-blemas cardiovasculares. Isto ocorre porque a falta de atividade física regular favorece, entre outros fatores, o aumento de peso e massa adiposa corpórea, a ineficiência do sistema cardiovascular e alterações fisiológicas importantes.15

FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO APLICADA AO SISTEMA CARDIOVASCULAR Mecanismos de Ajuste da Função Cardiovascular

Existem mecanismos de informações aferentes a partir dos quais o sistema regulador promove ajustes cardiovas-culares. Três são as hipóteses de origem destes ajustes: a) comandos do sistema nervoso central ao bulbo; b) estí-mulos das terminações nervosas da musculatura relacionada ao exercício; e c) comando cardiodinâmico pelo qual o retorno venoso e o fluxo de c o 2 nos pulmões originariam estas

informações.14 Além disso, o sistema nervoso autônomo atua

durante o exercício promovendo a liberação de adrenalina, pelas glândulas supra-renais, e, com isso, aumentando a freqüência cardíaca (FC) e diminuindo a resistência vascular periférica (RVP), melhorando assim, o fluxo sangüíneo para os músculos envolvidos.4

·15

Com o aumento da demanda metabólica algumas al-terações se fazem necessárias para suprir as necessidades de maior aporte sangüíneo para esta musculatura:

• Aumento do débito cardíaco (DC) ou volume sis-tólico de ejeção,15

· 16· 17 devido ao aumento da FC e

do maior valor de consumo de oxigênio (V02 pico) e dependendo diretamente do retorno venoso.15· 17

• Distribuição seletiva do fluxo sangüíneo, visando aumentar o suprimento das áreas diretamente envol-vidas com o exercício, como miocárdio e muscu-latura esquelética.'· 15

• Aumento da PA, proporcional ao aumento do DC, e dependendo da eficiência do mecanismo vasodi-latador em regular a RVP.14

· 15· 16

• Aumento da diferença artério-venosa periférica de acordo com a intensidade do exercício e o nível de condicionamento físico do indivíduo.14

• O aumento do retorno venoso está diretamente li-gado ao aumento do DC e ocorre através da ação mecânica de "bombeamento" da musculatura es-quelética e do diafragma sobre os vasos sangüíneos e da ação de venoconstrição.15

· 17

Limitação da Função Cardiovascular Consumo Máximo de Oxigênio

É sem dúvida um dos conceitos mais dominantes na fisiologia das últimas décadas.14

o v o 2 pico reflete a medida

objetiva da capacidade funcional do sistema cardiocircu-latório. Durante o exercício, depende da eficiência de bom-beamento do coração, da qualidade da ventilação pulmonar, da capacidade de oxigenação dos tecidos e da RVP.4

·13·14·15·16·17

o v o 2 pico pode ser treinado.13· 16 Para isso são

necessá-rios 30-40 min. de exercícios aeróbios 3 vezes por sema-na. Isso acarretará um incremento do DC e, em conseqüência, aumento do v o 2 pico.

Limiar Anaeróbio

Até poucos anos atrás, considerava-se o V02 pico o principal índice para avaliação da aptidão física. No entanto, observou-se que indivíduos com mesmo valor de v o 2 pico

apresentavam diferentes resistências a exercícios prolon-gados. Isso se deve ao limiar anaeróbio.4

· 14· 15· 16· 17

Quando o exercício atinge uma determinada intensi-dade, cujo requerimento de 02 é superior à capacidade de transporte do sistema cardiorrespiratório, o metabolismo aeróbio normal é substituído pelo sistema anaeróbio em uma última tentativa do organismo de continuar a produzir energia para a musculatura.15· 16· 17

Se esta nova condição se prolongar por muito tempo, acarretará acúmulo de ácido lático nos músculos, hiper-ventilação pulmonar, modificação da coordenação motora, alteração no padrão de recrutamento de fibras musculares e, por fim, a fadiga muscular.14

Alterações Fisiológicas do Condicionamento Físico na Hipertensão

Apesar das controvérsias que existem em relação ao exercício como possível agente redutor da PA, hipotetica-mente podemos considerar alguns mecanismos atenuantes da PA com o treinamento físico.

Adaptação Cardiovascular

O exercício determina, na musculatura envolvida, um aumento da vascularização e da vasodilatação funcional, e com isso uma conseqüente diminuição da RVP.119 Reajuste dos Quimiorreceptores e dos Barorreceptores

Apesar de os barorreceptores terem pouca influência no controle da PA a longo prazo, uma vez que se adaptam

(4)

rapidamente (de um a três dias) a variações na PA, e dos quimiorreceptores exercerem maior influência no controle da respiração, existem evidências de modulação destes, pelo treinamento, na diminuição da PA.18

·20

Diminuição da Resistência à Insulina

Ocorre em indivíduos resistentes à ação periférica da insulina por alguns fatores, como o aumento da retenção de sódio, aterosclerose, hiperatividade simpática e/ou au-mento das fibras musculares lisas ou esqueléticas de con-tração rápida. Com o exercício, há um aumento da atividade da enzima glicogênio-sintetase, permitindo menor resistência à insulina e diminuição da PA.18

MATERIAIS E MÉTODOS Amostra

O presente trabalho estudou indivíduos de ambos os sexos, na faixa etária média de 52± I O anos, os quais foram divididos em dois grupos. O primeiro grupo foi formado por 30 indivíduos sedentários, sendo 14 normotensos (con-trole) e 16 portadores de HA essencial. Este grupo, após avaliação médica cardiológica, foi submetido a uma ava-liação física para serem analisados os efeitos do exercício agudo (teste ergométrico submáximo) sobre a pressão arterial (PA), a freqüência cardíaca (FC) e o maior valor de con-sumo de oxigênio (V0

2 pico). O segundo grupo foi formado

por 12 indivíduos, sendo 3 deles normotensos e sedentá-rios (controle) e 9 portadores de HA essencial e também sedentários. Nenhum dos indivíduos portadores de hiper-tensão apresentava a patologia em um estágio de lesão de órgão-alvo. Após passarem pela avaliação médica cardio-lógica, submeteram-se à mesma avaliação física feita para o grupo anterior e a um programa supervisionado de con-dicionamento físico, sendo que, para melhor controle e aná-lise da evolução, a avaliação foi repetida após três e seis meses de treinamento.

Inicialmente (na primeira anamnese), todos os indi-víduos portadores de hipertensão, de ambos os grupos, re-feriram fazer uso de medicamento beta-bloqueador. No entanto. com o decorrer do programa de condicionamen-to, e após o controle da fase crítica da hipertensão, a medicação do grupo que se submeteu a este programa foi diminuída, e em alguns casos suspensa, visando ao controle dos níveis pressóricos com um sinergismo maior e mais efetivo por parte do exercício.

Procedimentos

Avaliação Física

A pressão arterial (tanto em repouso quanto no esforço) foi obtida indiretamente através do método auscultatório. Para isto, foram utilizados um estetoscópio cardiológico (marca Omrom-USA, modelo Regency Series nll 13-707), e um esfigmomanômetro aneróide (marca Marshall, modelo I 08M), com escala em mmHg. A aferição da pressão

ar-teria! foi feita com o paciente sentado e com o braço na altura do coração. A freqüência cardíaca foi obtida com o este-toscópio sobre a região do "ictus cordis ", durante 15 se-gundos, e multiplicada por 4 para obtermos o número de batimentos por minuto (bat/min).

A freqüência cardíaca e a pressão arterial no esforço. para o cálculo indireto do

vo2

pico, foram obtidas através de um teste ergométrico submáximo. Este teste foi feito em bicicleta ergométrica mecânica (marca Fisiocycle, mode-lo O 1 ), com carga de intensidade expressa em quilogramas e velocidade em kilômetros por hora (km/h). A intensidade de aquecimento correspondia a 0,5 kg e tinha duração de 3 minutos. A carga de esforço foi constante durante todo o teste, correspondendo a 2% do peso corpóreo do indivíduo em quilogramas, e tinha duração de 5 minutos.

A freqüência cardíaca foi aferida de minuto em mi-nuto. A pressão arterial era controlada durante o teste, sendo aferida no 3ll e no 5ll minutos do esforço. A velocidade de pedalagem durante o teste foi estabelecida em torno de 21 km/h.

O cálculo do maior valor de consumo de oxigênio foi obtido, de maneira indireta, pelo protocolo de Astrand, para teste submáximo em cicloergômetro, e expresso em litros por minuto (1/min)Y

198-72

V02pico = x correção da carfia (para mulheres)

FC -72 '

. 195-61

VQ2/JICO = X correção da carga (para homens)

FC-61

COJTCção da carga =0,014xcm~-a de esforço+0,129

Programa

O programa aplicado ao segundo grupo foi individua-lizado e seguiu as recomendações do American College of Sports Medicine (1991 ).3· 4

· tf>. 17· 18· 19· 21. 23 · 24· 25 Apresentou

uma freqüência de 3 sessões semanais, que podiam ser au-mentadas para até 5, de acordo com a disponibilidade do paciente. durante, no mínimo, três meses. Cada sessão durou aproximadamente 40 minutos subdivididos em: 5 a 7 min. de aquecimento através de exercícios calistênicos e alon-gamento muscular; 20 a 30 min. de exercícios isotônicos aeróbios em esteira elétrica e bicicleta mecânica, visando movimentar grandes massas musculares; e 3 a 5 min. de desaquecimento, com caminhada no solo, evitando queda brusca da PA e conseqüente tontura. náusea e/ou dispnéia. A intensidade do exercício foi mantida entre 60% e 80% da freqüência cardíaca (FC) máxima, e esta foi calculada através da fórmula aceita pela OMS: FC máxima

=

220-Idade. 4. 11. 19. 21

Análise Estatística

Os dados foram analisados utilizando-se o teste "t" de Student com nível de significância de 5% (p < 0,05).

(5)

Vol. 3 No. 2, 1999 O Treinamento Aeróbio em Hipertensos 91

RESULTADOS

Primeiro Grupo - Efeito Agudo do Exercício

Consideramos como efeito agudo do exercício o teste ergométrico submáximo feito com indivíduos normotensos sedentários (controle) e portadores de hipertensão e tam-bém sedentários que não se submeteram ao programa de condicionamento físico. Na Tabela 1 encontramos os resul-tados da pressão arterial em indivíduos normotensos e porta-dores de hipertensão. em repouso e sob o efeito agudo do exercício. Os dados obtidos mostram que os indivíduos com hipertensão arterÍal apresentam valores de pressão arterial sistólica. em repouso, 27% superior, quando comparados com os valores do grupo normotenso. Os resultados da pres-são arterial diastólica em repouso demonstraram resposta semelhante, ou seja, níveis pressóricos superiores em re-lação ao grupo normotenso (elevação de 23%).

Comparando-se o efeito agudo do exercício com o estado de repouso, notamos que a pressão arterial sistólica elevou-se mais em indivíduos com pressão arterial normal do que em indivíduos com hipertensão, respectivamente 26% e 21% (Tabela I). O mesmo ocorreu quando analisamos a variação da pressão arterial diastólica nas duas condições (repouso e esforço). Constatamos que o grupo normotenso teve um acréscimo de 15%, enquanto a pressão arterial dias-tólica do grupo de indivíduos portadores de hipertensão elevou-se somente 9%, embora os indivíduos com hipertensão ainda apresentassem valores absolutos superiores aos dos normotensos (Tabela 1 ).

Tabela 1. Medidas da pressão arterial em indivíduos normotensos e hipertensos. em repouso e sob o efeito agudo do exercício.

Normotensos (14) Hipertensos (16)

PAS repouso 113 ±I!

PAD repouso 78 ±7

PAS esforço 142± 15

PAD esforço 90± 8

Dados em média ± desvio-padrão. * Estatisticamente significante (p < 0,05). PAS = Pressão Arterial Sistólica (mmHg); PAD = Pressão Arterial Diastólica (mmHg).

Segundo Grupo - Efeito do Programa de Condicionamento Físico

144 ± 13 96± 6 174 ± 20

105± 9

Através dos dados expressos na Tabela 2, verificamos que nos indivíduos normotensos os resultados, tanto de pressão arterial sistólica quanto de pressão arterial diastólica, aumentaram, comparando o estado de repouso com o es-forço, sendo a elevação de 29% e 17%, respectivamente. Resposta semelhante foi observada após 3 meses de con-dicionamento físico. A pressão arterial sistólica aumentou 33% e houve uma elevação um pouco menor para a pres-são arterial diastólica (27%).

Tabela 2. Medidas da pressão arterial em indivíduos normotensos e hipertensos em repouso, no início (0) e após três (3) e seis (6) meses de condicionamento físico. Normotensos (3) () 3

o

PAS repouso 103 ± 5 105±7 147 ± 2 PAD repouso 73±5 72±3 97 ±4 PAS esforço 133± li 140± 28 181 ±24 PAD esforço 86+ 11 92± 10 106±9

Dados em média± desvio-padrão. * Estatisticamente significante (p < 0.05). PAS = Pressão Arterial Sistólica (mmHg). PAD = Pressão Arterial Diastólica (mmHg).

Hipertensos (10) 3 6 128±10* 123 ±li* 91 ±7 86±7 178 ± 20 160 ± 29 105 ± 9 100± 14

No entanto, não houve diferença considerável nos valo-res pvalo-ressóricos deste grupo quando comparados no tempo inicial e após três meses de condicionamento. No grupo de portadores de hipertensão, pudemos notar que no tempo zero (inicial) ocorreu considerável elevação, entre a condição de repouso e durante o esforço, para pressão arterial sistólica (23%) e pequena mudança na pressão arterial diastólica-acréscimo de 9%. Entretanto, o condicionamento físico cau-sou aumento considerável quando comparados os valores de esforço em relação aos de repouso, com aumentos de 39% para a pressão arterial sistólica e 15% para a pressão arterial diastólica, após 3 meses, e 30% e 16%, respectivamente, após 6 meses.

Comparando-se os níveis pressóricos de indivíduospor-tadores de hipertensão, apresentados no início do progra-ma e após 3 meses, notamos diminuições significativas (p

<

0,0001) na pressão arterial sistólica em repouso (13%) e na pressão arterial diastólica em repouso (6% ). No entanto, du-rante o esforço (após 3 e 6 meses), as pressões arteriais, tanto sistólica quanto diastólica, não apresentaram diminuições visivelmente consideráveis. Analisando o início e 6 meses após o condicionamento, notamos diminuições mais expres-sivas tanto na pressão arterial sistólica em repouso (16%) (p < 0,000 I) quanto na pressão arterial diastólica em repouso (li%). Porém, neste estágio, os níveis da pressão arterial sistólica e pressão arterial diastólica durante o esforço apresentaram diminuições consideráveis, de 181 para 160 mmHg e de 106 para 100 mmHg, respectivamente. É interessante notar que o condicionamento físico trouxe os níveis de pressão arte-rial em repouso para a faixa de normalidade, com valores de pressão arterial sistólica de 123 mmHg e pressão arterial diastólica de 86 mmHg, respectivamente (Tabela 2).

Ao compararmos a freqüência cardíaca, em repouso e durante o esforço, no grupo de indivíduos normotensos que se submeteram ao programa de condicionamento físico, no início do programa, notamos um incremento na freqüência cardíaca de 64%. Após 3 meses de condicionamento físi-co, este acréscimo foi de 70% (Tabela 3). No grupo de porta-dores de hipertensão no início do programa, o acréscimo foi de 64% e após 3 meses este valor aumentou em 79%.

(6)

Porém. após 6 meses de programa, este grupo apresentou aumento de apenas 43%. No entanto, nos dois tempos ana-lisados (início e 3 meses), os valores absolutos de freqüência

cardíaca foram inferiores aos do grupo normotenso respec-tivamente. 81 e 93 bat/min para o início e 72 e 82 bat/min após 3 meses.

Tabela 3. Medidas do consumo máximo de oxigênio e da freqüência cardíaca, em repouso e durante

o esforço. em indivíduos normotensos e hipertensos que se submeteram a um programa de condicionamento físico no início (0) e após três (3) e seis (6) meses.

Normotensos (3)

o

3

FC repouso 93 ± 10 82± 3

FC esforço 153 ±6 140 ±5

vo2

pico. 1,74 ± 0,27 2,14±0,04*

Dados em média ± desvio-padrão

* Estatisticamente significante (p < 0,05) FC = Freqüência Cardíaca (bat/min)

V02 pico= Consumo Máximo de Oxigênio (1/min)

Analisando a freqüência cardíaca em repouso, no início e após 3 meses de condicionamento físico. o grupo norma-tenso mostrou uma diminuição de 12% em repouso e du-rante o esforço este decréscimo foi de 8%. Algo semelhante foi apresentado pelo grupo de portadores de hipertensão, após 3 meses, no qual a freqüência cardíaca em repouso diminuiu em li% e a freqüência cardíaca no esforço se manteve praticamente constante. Após 6 meses, este gru-po manteve uma diminuição na freqüência cardíaca, em repouso, de 9% e apresentou um decréscimo significativo (p < 0,0219) da freqüência cardíaca no esforço, da ordem de 20% . Estes resultados mostram que o programa de con-dicionamento físico adotado apresentou efeito mais rápi-do na redução da freqüência cardíaca, em situação de repouso e aos três meses. e ação mais lenta na freqüência cardía-ca de esforço, verificardía-cada aos seis meses.

Ao compararmos o V02 pico no grupo com pressão arterial normal. no início e após 3 meses de condicionamento físico, foi notado um incremento de 22% (p < 0,0215). No caso do grupo de portadores de hipertensão, houve uma pequena elevação (9% ), comparando-se os valores obtidos aos 3 meses de programa de condicionamento físico. Po-rém, após 6 meses, este grupo apresentou um maior acréscimo (23% ), em comparação ao tempo inicial. É interessante notar que o grupo com hipertensão apresentou elevação lenta do

vo2

pico, em relação aos dados do início do programa, quando comparados aos valores do grupo normotenso, ou seja. o acréscimo de 22% neste parâmetro foi notado já aos 3 meses no grupo normotenso e somente após seis meses no grupo de portadores de hipertensão.

DISCUSSÃO

Ao analisarmos os resultados obtidos e compará-los

à literatura, notamos que a superioridade dos valores da

Hipertensos (3)

o

3 6

81 ± 11 72± 8 74± 15

133 ± 13 129 ± 16 106 ± 28 *

2,72 ± 0,64 2,96 ± 0,91 3,34 ± 0,94

pressão arterial sistólica em repouso <27%) nos indivíduos portadores de hipertensão. em relação aos normotensos. assemelham-se aos encontrados por Levy et al. ( 1967) e Brorson et al. ( 1978) em indivíduos com hipertensão, res-pectivamente, 23 e 28% mais elevados que nos indivídu-os com pressão arterial normal. Porém, indivídu-os valores de pressão arterial diastólica em repouso, do grupo de indivíduos por-tadores de hipertensão, encontrados em nossos resultados (23% superiores) diferem e são inferiores aos apresenta-dos pelos autores citaapresenta-dos acima: respectivamente, 30% e 27%.

No que se refere ao efeito agudo do exercício sobre a pressão arterial, notamos que o incremento, do repouso para o esforço, foi maior em indivíduos normotensos do que no grupo de portadores de hipertensão: respectivamente, de 113 para 142 mmHg (26%) e de 144 para 174 mmHg (21%) para pressão arterial sistólica, e de 78 para 90 mmHg (15%) e de 96 para I 05 mmHg (9%) para pressão arterial diastólica. Isso provavelmente ocorreu porque os indivíduos portadores de hipertensão. em nosso estudo, apresentavam níveis mais altos de pressão arterial, em relação aos indi-víduos normotensos.

O mesmo pode ser observado nos resultados mostrados por Levy et al. ( 1967), com aumento de 29% na pressão arterial sistólica dos normotensos e 23% para pressão ar-terial sistólica dos portadores de hipertensão. Em ambos os casos citados por Levy et al. ( 1967). a pressão arterial diastólica praticamente não se alterou. Já Brorson et al. (1978) encontraram elevação da ordem de 52% na pressão arterial sistólica de indivíduos normotensos e 36% nos valores dos portadores de hipertensão.

Quanto à pressão arterial diastólica dos normotensos, os mesmos autores observaram aumento de 7% neste parâ-metro praticamente sem alteração na pressão arterial dias-tólica dos indivíduos hipertensos.

(7)

Yol. 3 No. 2, 1999 O Treinamento Aeróbio em Hipertensos 93

Comparando nossos resultados com os encontrados na literatura, notamos diferenças no grupo normotenso que se submeteu ao condicionamento físico, quanto ao incremento da pressão arterial sistólica em repouso, quando comparada

à pressão arterial sistólica no esforço. No início do programa houve elevação de 29% na pressão arterial sistólica, do repouso em relação ao esforço. Passaro & Godoy ( 1996) evidenciaram, neste mesmo parâmetro, aumento da ordem de 43%. Porém, a pressão arterial diastólica, no mesmo tempo, apresentou elevação maior em nossos resultados. de 73 para 86 mmHg (17%), quando comparados aos resultados dos mesmos autores, de 80 para 84 mm Hg (apenas 5% ). Após 3 meses, estas diferenças permaneceram, sendo que, em nossos resultados, a pressão arterial sistólica elevou-se em 33%, ou seja, de 105 para 140 mmHg. Nos resultados obtidos por Passaro & Godoy ( 1996), o acréscimo foi de 47% (de 122 para I 80 mmHg). No entanto, enquanto ob-tivemos 27% (de 72 para 92 mmHg) de aumento na pres-são arterial diastólica, os resultados citados por Passara & Godoy ( 1996) praticamente não se alteraram (de 80 para 8 I mmHg).

Quando comparamos os valores de pressão arterial sistólica e pressão arterial diastólica, em repouso, no iní-cio e após 3 meses de condiiní-cionamento físico, tanto em nossos resultados quanto nos de Passaro & Godoy ( 1996), não se observam alterações consideráveis. Isso mostra que o condicionamento físico não influenciou nos níveis de pres-são arterial em indivíduos normotensos.

No grupo de hipertensos, no início do programa. ao compararmos nossos dados de pressão arterial sistólica e pressão arterial diastólica, nas condições de repouso e de esforço, encontramos acréscimos respectivos de 14 7 para 181 mmHg (23%) e de 97 para I 06 mmHg (9% ). Algo seme-lhante foi apresentado por Krotkiewski et a!. ( 1979) c por Passaro & Godoy ( 1996), tendo sido observado por tais pesquisadores aumento tanto na pressão arterial sistólica como na pressão arterial diastólica, respectivamente, de 29% e 5% e 21% e 5%.

Após 3 e 6 meses de condicionamento físico, nossos valores referentes ao incremento da pressão arterial sistólica e pressão arterial diastólica, do repouso para o esforço, no grupo portador de hipertensão, foram, respectivamente, de 23% para 39% (de 128 para 178 mmHg), após 3 meses. Aumento de 23% para 30% (de 123 para 160 mmHg) ocorreu após 6 meses, para pressão arterial sistólica. Elevação de 9% para 15% (de 91 para 105 mmHg), após 3 meses, e de 9% para 16% (de 86 para I 00 mmHg), após 6 meses, foi verificada na pressão arterial diastólica (Tabela 2). Krotkiewski era!. ( 1979) apresentaram incremento da pres-são arterial sistólica (após 6 meses) de 29% para 34%, en-quanto Passaro & Godoy ( 1996) citam aumento, após 3 meses, de 21% para 35%. Para a pressão arterial diastólica, os autores supracitados referem que praticamente não houve alteração.

Comparando os níveis de pressão arterial sistólica e pressão arterial diastólica em repouso em nosso grupo de portadores de hipertensão, no início e após 3 meses, notamos visível diminuição destes valores. Nossos resultados mostram diminuições tanto da pressão arterial sistólica como da pressão arterial diastólica, de 147

x

97 mmHg para 128

x

91 mmHg, e com isto estão de acordo com os resultados apresentados na literatura. Krotkiewski et ai. ( 1979) obtiveram. em in-divíduos com hipertensão, reduções nos níveis pressóricos de 134 x 87 mmHg para 128 x 82 mmHg. O mesmo foi evi-denciado por Passaro & Godoy ( 1996 ), cujos resultados mos-tram diminuições da pressão arterial sistólica e da pressão arterial diastólica de 151

x

98 mmHg para 128

x

85 mmHg, respectivamente, em portadores de hipertensão, após 3 e 6 meses de reabilitação.

Após 6 meses do programa de condicionamento físico por nós adotado, estes valores diminuíram ainda mais, se comparados ao início, momento em que obtivemos resul-tados de 123 x 86 mmHg (Tabela 2). Da mesma forma, Krotkiewski et a!. ( 1979) e Passaro & Godoy ( 1996) mos-traram valores pressóricos de 125

x

80 mmHg e 125

x

88 mmHg, respectivamente. Estes resultados mostram a in-fluência benéfica do exercício sobre a pressão arterial em indivíduos com hipertensão arterial, pois os altos valores de pressão arterial, anteriormente aferidos, regrediram gra-dativamente (Tabela 2) até atingirem valores considerados normais (início: 147 x 97 mmHg; 3 meses: 128 x 91 mmHg; e 6 meses: 123 x 86 mmHg).

Ao analisarmos a freqüência cardíaca do grupo nor-motenso (Tabela 3), nas condições de repouso e durante o esforço, no tempo inicial do programa de condicionamento físico, notamos um incremento deste parâmetro da ordem de 64% (de 93 para 153 bat/min). Levy et al. ( 1967) apre-sentaram valores absolutos próximos aos nossos (com au-mento de 95 para 148 bat/min), porém com um percentual de aumento um pouco menor (55%), enquanto Brorson et a!. (1978) obtiveram aumento de 79% (de 64 para 115 bat/ min). Devemos ressaltar que. tanto em nossos resultados quanto nos dados apresentados por Levy et al. ( 1967), a fre-qüência cardíaca inicial, respectivamente 93 e 95 bat/min, se apresentavam superiores ao valor apresentado por Brorson et a!. ( 1978), 64 bat/min. Talvez este fator justifique a maior elevação percentual apresentada por esse autor.

Apesar de a literatura por nós consultada não apresentar dados após 3 meses de condicionamento físico, continua-mos, em nossos resultados (Tabela 3), notando um acrés-cin1o da ordem de 70% (de 82 para 140 bat/min).

No grupo de indivíduos portadores de hipertensão, fazendo o mesmo tipo de comparação entre a freqüência cardíaca de repouso e no esforço, encontramos em nossos resultados um incremento da ordem de 64% (de 81 para 133 bat/min). Levy et ai. (1967) citam um acréscimo de 59% (de 91 para 145 bat/min). Já para Brorson et a!. (1978), este aumento foi de 88% (de 84 para 158 bat/min).

(8)

Fizemos esta análise, após 3 e 6 meses de programa, e obtivemos aumentos, respectivos, de 72 para 129 bat/min (79%) e de 74 para 106 bat/min (43%), na freqüência cardíaca do grupo de portadores de hipertensão. Um fato interessante nestes dados é que, após 3 meses de condicionamento fí-sico, quando comparamos a freqüência cardíaca do repouso com a do esforço, notamos que esta última permaneceu praticamente a mesma, ou seja, 133 bat/min no início e 129 bat/min após 3 meses. Porém, após 6 meses de programa, houve uma considerável diminuição da freqüência cardí-aca de esforço de I 33 bat/min para I 06 bat/min. Estes re-sultados mostram que o efeito do condicionamento físico atua mais rapidamente na freqüência cardíaca de repouso e mais lentamente na freqüência cardíaca durante o esforço. Ao compararmos os resultados da freqüência cardíaca em repouso obtidos no grupo normotenso, no início do programa (93 bat/min) e após 3 meses (82 bat/min), foi apresentado um decréscimo de I 2%. Resposta semelhan-te foi descrita por Passaro & Godoy (I 996), os quais citam 84 bat/min para o início do programa e 75 bat/min após 3 meses, demonstrando uma diminuição de 1 0% na freqüência cardíaca do grupo normotenso.

No grupo de indivíduos portadores de hipertensão, ao analisarmos a freqüência cardíaca em repouso, no início (81 bat/min) e após 3 meses (72 bat/min) e 6 meses (74 bat/min), notamos uma diminuição de, respectivamente, 11% aos 3 meses e de 9% aos 6 meses. Nossos resultados mostraram que houve um rápido decréscimo da freqüência cardíaca de repouso, logo após 3 meses de condicionamento físico, que se manteve praticamente igual após 6 meses de programa. Entretanto, Passaro & Godoy ( 1996), estudando um gru-po de gru-portadores de hipertensão. obtiveram resultados di-ferentes. Tais autores demonstraram que a freqüência cardíaca de repouso não se alterou em indivíduos com hipertensão e manteve a média de 75 bat/min tanto no início como após 6 meses de condicionamento físico.

Vale a pena ressaltar que, embora nossos dados de freqüência cardíaca em indivíduos portadores de hipertensão não se assemelhem aos dados de Passaro & Godoy (1996), é descrito na literatura que o exercício é fator importante na diminuição da freqüência cardíaca. A prática de exer-cícios físicos dinâmicos aeróbios atua na musculatura car-díaca, diminuindo a resistência vascular periférica através da ação de substâncias vasoativas, tais como potássio e adenosina, produzidas pelo músculo cardíaco e com ação local. Isso aumenta o volume sistólico e o débito cardía-co, tornando o trabalho cardíaco mais eficiente.4

· 14· 15 Através da análise do maior valor de consumo de oxi-gênio (V02 pico), antes e depois de 3 meses de programa de condicionamento físico, notamos no grupo de indivíduos com pressão arterial normal um aumento de I, 74 1/min para 2, I 4 1/min no V02 pico, demonstrando um incremento de 22%. Se compararmos estes valores aos de Yazbek Jr. &

Battistella ( 1994), os quais citam como valores normais para

sedentários de 2,1 a 3,3 1/min, constatamos que, antes do programa, nosso grupo apresentava-se bem abaixo da faixa de

vo2

pico normalmente apresentada, ou seja, com 1,74 1/min. Após 3 meses de programa, os níveis apresentados pelo nosso grupo de normotensos (2.14 1/min) já se encon-travam próximos dos níveis considerados pelos referidos autores como normais.

No caso dos indivíduos hipertensos, este acréscimo no

vo2

pico foi de apenas 9%. após 3 meses. e de 23% após 6 meses. Estes resultados mostram que o programa a que foram submetidos atuou de forma mais rápida no primei-ro grupo (normotensos). Apesar disto, os valores absolu-tos de VOO pico dos portadores de hipertensão (2,72 1/min no início, 2,96 1/min após três meses e 3,34 1/min após seis meses) sempre se apresentaram mais altos do que os do grupo normotenso ( 1, 74 e 2,14 1/min. respectivamente, no início e após 3 meses). Em justificativa a este fato, podemos con-siderar os relatos de que praticamente todos os participantes do grupo de portadores de hipertensão já haviam pratica-do atividades físicas regulares no passapratica-do, o que sabidamente aumenta o

vo2

pico,

13· 16

enquanto todos os membros do grupo normotenso concordaram ao afirmar que jamais haviam praticado exercícios físicos.

Passaro & Godoy (1996), ao analisarem o incremento no

vo2

pico em um grupo de pacientes portadores de hi-pertensão, relataram um aumento de 36% neste parâmetro. Entretanto. devemos lembrar que em nossa avaliação para medida do

vo2

pico foi utilizado um teste submáximo no qual o cálculo é feito de maneira indireta. Portanto. torna-se válido para estudarmos apenas a eficiência do progra-ma e não para calcularmos exatamente o valor do consumo máximo de oxigênio de cada paciente. Provavelmente, se fossem feitos testes ergométricos de carga máxima com nosso grupo de indivíduos portadores de hipertensão. os resultados de incremento de V0

2pico seriam próximos aos encontrados na literatura. Como não é viável para os nossos pacientes realizarem este tipo de teste de 3 em 3 meses (as avaliações cardiológicas são realizadas uma vez por ano). escolhemos o teste indireto para acompanhar melhor a evolução de cada paciente e até como forma de incentivo à continuidade do programa.

Devemos lembrar que os pacientes portadores de hi-pertensão, por nós estudados, inicialmente utilizavam medi-camento beta-bloqueador e que os beta-bloqueadores (como o Propanolol) constituem um grupo de fármacos largamente utilizados no combate à hipertensão arterial. Embora alguns fatos estejam bem esclarecidos, ainda se discutem os efeitos dos agentes beta-adrenérgicos sobre as respostas cardio-vasculares durante o exercício físico, dependendo da inten-sidade deste e da dose do medicamento.1~ Os principais efeitos até agora conhecidos são: diminuição da freqüên-cia cardíaca (pela redução da influênfreqüên-cia simpática sobre o comando sinusal) e aumento do volume sistólico para ní-veis submáximos de exercício. Mesmo com muitas

(9)

contra-Vol. 3 No. 2. 1999 O Treinamento Aeróbio em Hipertensos 95

vérsias. tem sido relatado 19 que, apesar do aumento do volume sistólico. há uma queda do débito cardíaco (pela diminuição da contratilidade e do consumo de oxigênio pelo miocárdio) em indivíduos que utilizam beta-bloqueadores. Inicialmente há um aumento da resistência vascular periférica, porém, com o incremento do esforço, há uma queda gradativa; a pres-são arterial reduz-se significativamente na vigência do bloqueio beta-adrenérgico (devido à diminuição do débito cardíaco e redução do consumo de oxigênio). Durante o emprego do beta-bloqueador há um incremento da diferença arteriovenosa e o

vo2

parece ter alterações fisiológicas insignificantes, enquanto o

vo2

pico apresenta reduções bastante signifi-cativas.19

Assim, concluímos que o programa proposto por nós foi eficiente pois: trouxe para os níveis de normalidade a pressão arteriaL em repouso (sistólica e diastólica), dos indivíduos portadores de hipertensão; diminuiu considera-velmente a freqüência cardíaca em repouso, tanto no grupo de portadores de hipertensão quanto no de normotensos; e aumentou o V0

2pico de ambos os grupos. Atingiu-se, assim,

um outro grande objetivo do programa, que era melhorar a capacidade funcional do sistema cardiovascular desses indivíduos.

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