• Nenhum resultado encontrado

ANÁLISE DO ENQUADRAMENTO DA CANDIDATURA DO PALHAÇO TIRIRICA NO PERÍODO PRÉ-ELEITORAL DE 2010

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "ANÁLISE DO ENQUADRAMENTO DA CANDIDATURA DO PALHAÇO TIRIRICA NO PERÍODO PRÉ-ELEITORAL DE 2010"

Copied!
16
0
0

Texto

(1)

ANÁLISE DO ENQUADRAMENTO DA CANDIDATURA DO

PALHAÇO TIRIRICA NO PERÍODO PRÉ-ELEITORAL DE

2010

Ricardo Philippi1 Universidade Federal do Paraná

RESUMO

O artigo em questão é uma análise do enquadramento midiático da candidatura do palhaço Tiririca a Deputado Federal pelo estado de São Paulo no período pré-eleitoral de 2010. Naquele ano, este candidato obteve a segunda maior contagem de votos a uma cadeira na Câmara dos Deputados da história eleitoral brasileira. A estratégia de campanha utilizou-se de seu trabalho artístico de palhaço a fim de ridicularizar o sistema democrático brasileiro, gerando assim repercussão na imprensa durante todo o período pré-eleitoral daquele ano. A fim de compreender o tratamento dado pelos veículos de comunicação a este episódio, o estudo presente é uma análise dos enquadrados a partir das premissas de Gamson e Modigliani em matérias e reportagens publicadas pela revista online da Veja, da Carta Capital, além do Jornal online Folha de São Paulo, no período dos dois meses antecedentes à eleição de 2010.

Palavras-chave: Enquadramento, Eleição 2010, Tiririca.

Francisco Everaldo Oliveira Silva, conhecido pelo nome artístico de Tiririca, é um conhecido cantor, compositor e palhaço brasileiro, que concorreu e auferiu uma vaga à cadeira dos deputados federais nas eleições de 2010 e 2014.

Iniciou seu trabalha de palhaço ainda na infância na cidade de Itapipoca (Estado do Ceará) e ficou conhecido nacionalmente em meados da década de noventa com o lançamento da música “Florentina”, cujo CD alcançou 1,5 milhões de cópias. Tornou-se celebridade na última década devido performances em diversos programas da televisão brasileira, utilizando-se de um humor pitoresco e debochado.

Sua primeira participação na política obteve os “holofotes” graças a uma campanha eleitoral díspar, na qual se transvestiu de seu conhecido personagem e utilizou do mesmo tom de humor televisivo na construção de sua imagem política. Com slogans semelhantes ao “Vote no Tiririca, pior que tá não fica”2 foi eleito em 2010 com 1.353.640 votos válidos

1 Mestrando em Comunicação pela UFPR. Bolsista do Programa de Demanda Social da Comissão de

Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (CAPES) sob orientação da Dra. Luciana Panke. Contato: ricardo_philippi@hotmail.com

(2)

como deputado federal por São Paulo3 através do Partido Republicano. Obteve assim a maior contagem de votos a Deputado Federal daquele ano e a segunda da história brasileira4.

O fenômeno de personagens extravagantes e/ou famosos não caracteriza nenhuma novidade nas campanhas eleitorais no Brasil5, porém tal resultado com um número tão significativo de votos é um fato sem precedentes. O enquadramento da mídia pode ter auxiliado neste resultado, assim este estudo não pretende compreender todo o fenômeno, mas antes fazer um recorte de uma de suas distinções, trazendo dados relevantes a futuros estudos analíticos e comparativos relacionados a este problema.

Para isso, a fim de compreender este fenômeno, o artigo irá fazer uma análise do enquadramento que a mídia deu ao caso do Deputado Federal Tiririca em sua primeira aparição política, ou seja, no período pré-eleitoral de 2010. Para facilitar a compreensão, ele está organizado da seguinte forma: primeiramente apresenta-se o caso e suas correlações teóricas; em seguida será feita uma revisão da metodologia da análise de enquadramento em relação à mídia, à política e ao objeto; num terceiro momento há a análise cronológica das matérias e reportagens; e encerrando, são feitas as considerações finais.

1. O Caso Tiririca

A eleição de um palhaço com tal recorde de votos caracteriza um fenômeno importante a ser analisado dentro da democracia brasileira, uma vez que esta ainda se encontra em processo de construção, com diversos obstáculos a ser ultrapassados. Obstáculos esses que, segundo Miguel: “são muito e, em linhas gerais, bem conhecidos. Os mais banais dizem respeito à necessidade da representação política, motivada pelo tamanho e população dos Estados modernos e pela forte especialização funcional de suas sociedades, e aos fenômenos associados de autonomização dos representantes em relação a seus constituintes”. Para que o cidadão opte conscientemente pelo seu representante palatável, precisa obter informações sobre: “quais são os projetos em disputa, quem os apoia, quais interesses eles promovem e quais prejudicam” e também “quais são os desafios a serem enfrentados, as alternativas possíveis e suas consequências. ” (Miguel, p.1 e 2, 2010).

Por isso, uma campanha eleitoral que teve como mote ridicularizar sua própria candidatura, além dos processos democráticos brasileiros, se tornou assunto de grande repercussão na esfera pública no período eleitoral do ano de 2010, principalmente pelo seu caráter provocador e transgressor.

Nesse sentido o “tempo da política, momento em que a política entre nos espaços privados das famílias através da televisão e do rádio” (Panke e Cervi, 2010, p. 392) deveria ser o da análise racional e crítica do eleitorado em relação à escolha de seu representante perante à mídia, porém “as formas dramáticas e emocionais, construídas segundo as figuras e os tópicos da retórica do entretenimento, tornam-se preferidas em face das fórmulas

3 O colégio eleitoral do Estado de São Paulo foi de aproximadamente 32 milhões de eleitores naquele ano. 4 A primeira foi a do candidato Enéas Carneiro (PRONA) que obteve 1.573.642 em 2002.

5 Alguns exemplos mais recentes dessas personalidades são: Clodovil ou Frank Aguiar candidatos a Deputados

Federais em 2006; ou o ex-participante do Reality Show Big Brother Brasil Jean Wyllys, o pugilista Maquila, ou o mesmo o jogador de futebol Marcelinho Carioca também candidatos a Deputado Federais em 2010.

(3)

discursivas, que se chocam frontalmente com a dimensão espetacular da comunicação” (Gomes, 2004, p.206; apud Panke e Cervi, 2010, p. 394)

É fato que a caricatura de um palhaço como representante político foi encarada no período como uma forma de protesto pelos diversos analistas políticos e ganhou notoriedade da imprensa, principalmente quando se veiculou na internet e televisão suas peças no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral. Panke (2010, p. 391) comenta que no “mais de meio século de existência, o HGPE manteve-se como espaço privilegiado para exposição de partidos e candidatos, mas acabou perdendo credibilidade política, fruto de críticas sobre o caráter espetacular das campanhas. Isso porque ao ser incorporado pelo espaço midiático o discurso político ganha um caráter lúdico ao mesmo tempo em que a gramática midiática é influenciada pelos conteúdos políticos/partidários.”

E foi justamente esta última, a característica espetacular, que foi incorporada à estratégia de campanha do candidato que privilegiou seu próprio trabalho circense: “O palhaço Tiririca (...) se valeu de sua experiência como humorista, e repetiu o seu famoso estilo de humor escrachado, ridicularizando problemas sociais e o próprio parlamento” (Penteado e Fortunato, p. 83, 2014). Alguns exemplos desta podem ser conferidos em seu HGPE de 2010, como exemplo às transcrições: “Oi eu sou o Tiririca da televisão. Sou candidato a Deputado Federal. O que é que faz um Deputado Federal na realidade eu não sei, mas vota em mim que eu te conto. ”; ou então: “Oi gente estou aqui para pedir o seu voto pusquê eu quero ser Deputado Federal para ajudar os mais necessitado, inclusive a minha família. Portanto, meu número é 2222. Se vocês não votarem, eu vou morrer”.6

Ao inaugurar seu trabalho político, Tiririca utilizou como mote de campanha seu próprio trabalho circense. Neste sentido, o objetivo de um palhaço na sociedade é o de alienar as normas sociais, para então gerar o riso. “Os palhaços enfatizam um fazer que escapa ao reativo, apontando para outros modos de atuação social, sem a imobilidade do ressentimento, criando modos afirmativos de ação. As dimensões ética, política, estética e filosófica estão imbricadas nesse aspecto de afirmação da vida, da ação, no lugar da reação.” (Kasper, 2004, p.12). Ao ridiculizar o processo eleitoral brasileiro, Tiririca aproximou-se do eleitorado descontente que encontrou na sua figura carismática uma forma de protesto, ou seja, um voto na personagem sem conteúdo político propriamente dito.

Ao mesmo tempo ele também se valeu do seu prestígio na mídia. Miguel comenta que:

O que se observa é que a visibilidade na mídia é, cada vez mais, componente essencial da produção do capital político. A presença em noticiários e talk-shows parece determinante do sucesso ou fracasso de um mandato parlamentar ou do exercício de um cargo executivo; isto é, na medida em que deve acrescentar algo ao capital político próprio do ocupante. Da mesma maneira, a celebridade midiática tornou-se o ponto de partida mais seguro para quem deseja se lançar na vida política — na forma, dependendo do perfil de cada um, de uma candidatura às eleições ou de um convite para uma função governamental. (p. 10, 2001)

(4)

O caráter jocoso dos vídeos de campanha do Tiririca tornou-os virais na internet, não somente no estado de São Paulo, mas em todo o Brasil, no período pré-eleitoral de 2010. Esse dado também é possível de se perceber no gráfico abaixo, cuja quantidade de buscas no site google do termo “Tiririca” salta exponencialmente entre os dias 16 e dia 21 de agosto de 2010, mesmo período do lançamento de seu HGPE:

Gráfico 1. Quantidade relativa de pesquisa do termo “tiririca” no site de busca google no período de 01/08/2010 a 30/09/2010.7

Google Trends. Disponível em: <https://www.google.com.br/trends>, acessado em 22/07/2015.

Esta repercussão na internet pode ter influenciado diretamente nos resultados das urnas, porém não deve ter sido o único fator determinando tal número de votos. Alguns trabalhos de pesquisa já foram realizados utilizando este corpus ou de outros políticos semelhantes, principalmente nos campos da linguística e das ciências sociais aplicadas, porém ainda há poucos estudos no campo da comunicação que analisam especificamente este caso, principalmente em seus pormenores. Um estudo que dê ênfase ao “o quê” ocorreu e “como” este caso foi tratado pela mídia auxiliará no avanço do entendimento do papel dos atores sociais envolvidos no período eleitoral.

Dos diversos fatores que podem ter influenciado tal resultado, este é apenas um esboço que pretende investigar a relação social do fenômeno político com os veículos de comunicação no período em questão. Segue abaixo uma breve explanação da metodologia para a análise de enquadramento.

2. Teoria do Enquadramento

7 O gráfico representa as pesquisas relativa ao 100% do ponto mais alto do gráfico, não sendo possível mensurar

(5)

A base metodológica para estudo deste artigo apoia-se nas propostas do enquadramento midiático e político (Gamson e Modigliani, 1989; Porto, 2002), no entendimento que:

Os enquadramentos da mídia, organizam o mundo tanto para os jornalistas que escrevem relatos sobre ele, como também, em um grau importante, para nós que recorremos às suas notícias.

Enquadramentos da mídia são padrões persistentes de cognição, interpretação e apresentação, de seleção, ênfase e exclusão, através dos quais os manipuladores de símbolos organizam o discurso, seja verbal ou visual, de forma rotineira. (Gitlin, 1980, p. 7; itálico no

original; apud Porto, 2002, p. 6).

Em suma, para estes autores, o enquadramento é a determinada interpretação dos fatos por um veículo midiático e é entendido como práticas específicas de seleção, ênfase, exclusão etc. dos discursos.

Em grande parte dos estudos de enquadramento “(...) existem ‘pacotes interpretativos’ que competem entre si. No centro de cada pacote está o enquadramento, definido como uma ‘ideia central organizadora’ que atribui significados específicos aos eventos, tecendo uma conexão entre eles e definindo o caráter das controvérsias. ” (Gamon e Modigliani, 1987, p. 143, apud Porto, 2002, p.6).

Assim, a interpretação da mídia irá prevalecer sobre as disputas simbólicas nos temas políticos. Para compreender como se dá este processo, Gamson e Modigliani propõem o método da “matriz de assinatura” (signature matrix), que incluí enquadramentos por “pacotes interpretativos” (interpretative packages):

[esses autores] dividem os dispositivos simbólicos entre os de enquadramento (framing devices) e os de justificação (reasoning

devices). Os primeiros sugerem como pensar sobre uma questão ou

fornecem a estrutura para “ler” o tema. Os últimos justificam o que deveria ser feito sobre esse dado assunto, fornecem argumentos ou razões. Os dispositivos de enquadramento são: 1) as metáforas; 2) os exemplos; 3) os slogans ou chavões; 4) as representações e 5) as imagens visuais. Já os dispositivos de justificação são: 1) as origens ou causas; 2) as consequências ou possíveis efeitos; 3) e o apelo a princípios. (...) O pacote interpretativo pode ser resumido em uma matriz de assinatura que estabelece o enquadramento. Essa matriz tem oito diferentes tipos de elementos – os dispositivos – que sugerem esse cerne de maneira condensada. (Maia e Vimieira, p. 264, 2011)

É importante ressaltar que a matriz fixa de elementos precisa ser avaliada levando-se em consideração o objeto de estudo em análisee, se necessário, incorporar itens que auxiliem no entendimento da questão (Maia e Vimieira). Com relação à pesquisa empírica, foi necessário adicionar mais dois dispositivos de enquadramento que não fazem parte da lista acima: 6) destaque do candidato, a fim de compreender como o veículo de comunicação colocou em evidência o episódio e 7) referência direta ao partido do candidato, com o

(6)

objetivo de entender se houve esclarecimento ao público de qual ideologia partidária era oriunda a campanha. Já nos dispositivos de justificação foi adicionado o item 4) argumento

pejorativo/sarcástico para compreender como o acontecimento foi tratado de forma jocosa

e até mesmo se o meio de comunicação pode ter trabalhado a favor do mote da campanha deste candidato, mesmo que de forma indireta.

Se aplicarmos o objeto de estudo à matriz de assinatura proposta por Gamson e Modigliani, teremos a tabela de analise com os pacotes interpretativos do candidato Palhaço Tiririca no seguinte formato:

Tabela 1 – Elementos do Enquadramento da Candidatura da Candidatura de Tiririca.

Dispositivos de Enquadramento Dispositivos de Justificação 1) Metáforas à candidatura do Tiririca.

2) Exemplos de outros/outras candidatos/ campanhas;

3) Utilização dos slogans de campanhas; 4) Atividades além campanha do candidato (trabalho artístico, entre outros);

5) Publicação de fotos e vídeos do candidato; 6) Destaque ao Candidato Tiririca como foco da matéria;

7) Referência direta ao Partido Republicano.

1) Argumentos para as possíveis origens da candidatura de Tiririca;

2) Argumentos para as possíveis

consequências da candidatura de Tiririca; 3) Apelo a princípios éticos e morais; 4) Argumentos pejorativos e/ou sarcásticos à candidatura de Tiririca.

Os resultados desta matriz serão tabulados em planilhas indicando as ocorrências destas ou não, em matérias divulgadas nos websites selecionados, adotando uma ordem cronológica a partir de 1º de agosto, seguindo a análise pelas 9 semanas antes das eleições de 3 de outubro de 2010. Para facilitar o diagnóstico em suas particularidades, os resultados serão apresentados em blocos semanais de enquadramento com referências qualitativas e quantitativas de estudo, para no término deste trabalho expor as conclusões mais relevantes8. Em uma pré-análise, foram levantadas diversas revistas e jornais online levando-se em consideração não apenas a quantidade de notícias, mas também as suas conhecidas influências nas eleições no estado de São Paulo. Dessas, elegeu-se duas revistas online de cunhos ideológicos diferentes, a Veja (de tendências direitistas) e a Carta Capital (de tendências esquerdistas). Por último, a fim de balizar este levantamento, optou-se pelo enquadramento do jornal online Folha de São Paulo, que, segundo sua linha editorial, “busca por um jornalismo crítico, apartidário e pluralista" (Folha de São Paulo, s. d.).

Na sequência, foi feita uma busca nos websites destes três veículos para o termo “Tiririca” a fim de encontrar todas as matérias que tenham vínculo com o candidato no período, somando-se ao final uma quantidade de 107 notícias com referência direta ao candidato. Sendo assim, o critério de análise leva em consideração todas as ocorrências em que surgiu este termo no título ou corpo do texto, ou seja, sendo ele destaque ou não da matéria.

8 É importante ressaltar que não é feita a análise das notícias do dia 03 de outubro de 2010, o mesmo dia da

eleição, pois o objetivo do artigo é verificar o enquadramento antes da notícia oficial da aprovação eleitoral do candidato a Deputado Federal.

(7)

Também é importante ressaltar que as análises em relação às matérias de opinião dos leitores (como a “Seção de Cartas” do jornal Folha de São Paulo) não serão feitas levando em consideração todas as opiniões, mas somente aquelas que fizerem referência ao candidato Tiririca; e as que tiverem mais de uma opinião com o tema serão contabilizadas como duas matérias distintas, ou seja, serão analisadas como notícias de enquadramentos diferentes.

3. Análise semanal do Caso

Inicialmente, da 1ª a 3ª semana analisadas (de 1º a 21/08/2010), o enquadramento do objeto pesquisado nos veículos se deu com poucas referências – provavelmente por se tratar de um período de “aquecimento” da opinião pública com relação as questões eleitorais –, foram apenas 5 notícias da Folha de São Paulo, 2 da revista Veja e nenhuma da Carta Capital durante estes 21 dias.

O enquadramento neste período destas poucas notícias é referente principalmente a apresentação aos leitores do candidato Tiririca, fato este que estava começando a se repercutir nas redes sociais, onde as prévias dos seus vídeos para o HGPE já estavam disponíveis, como comenta o colunista Reinaldo Azevedo no dia 19/08 na revista Veja: “Vocês são muito mais ligados à rede do que eu e já devem ter visto o que segue. É o humorista Tiririca apresentando sua candidatura a deputado federal pelo PR”.

No período, praticamente todas as reportagens analisadas são destaques à campanha eleitoral de Tiririca e em 85% dos casos é tratado com argumentos pejorativos e sarcásticos. Em praticamente metade das análises surge slogans como um dos fatores de noticiabilidade com destaque à frase: “pior que tá não fica”.

Na 4ª semana analisada (de 22 a 28/08) quadriplicou o número de ocorrências, tanto da Veja quanto da Folha de São Paulo, com um total de 16 alusões ao tema analisado, porém, deste total, somente metade são de matérias com destaque ao Tiririca. Mesmo assim, ainda não houve nenhuma matéria com a citação “Tiririca” por parte da Carta Capital. Também é importante evidenciar que os vídeos da campanha do candidato começaram a ser veiculados no HGPE justamente neste mesmo período.9

Contudo, mesmo com metade das notícias em destaque nos títulos, o enquadramento dado pela Folha e Veja são visivelmente distintos.

Na Folha, apenas 1 das 7 matérias continha argumentos pejorativos, porém praticamente em metade dos casos há o apelo a princípios morais e éticos. À guisa de exemplo, temos a reportagem de Melina Cardoso em 26 de outubro, quando reproduz a fala do humorista Gentili a respeito das campanhas extravagantes: "Democracia é isso. Sou a favor dessa liberdade e contra a censura de satirizá-los". Neste veículo os enquadramentos que tiveram maior ocorrência foram as notícias de pedidos de retirada do ar das propagandas eleitorais do Tiririca, pedidos que logo foram arquivados pelo Ministério Público Eleitoral. Merece também destaque especificamente a entrevista feita pelo jornalista Fernando Gallo

(8)

no dia 24 de agosto intitulada “Não é piada, é realidade” em que são evidentes algumas perguntas tendenciosas por parte do repórter, como exemplo: “Mas o Francisco [nome não artístico de Tiririca] sabe o que faz um deputado? ”; ou “Até agora você não sabe nada sobre a Câmara? ”; ou então “Você pretende se vestir de Tiririca na Câmara? ”10.

Já em relação à revista Veja, dos 9 textos, 8 citam Tiririca em “tom” sarcástico, não só em matérias com referências diretas ao candidato, mas em conteúdos totalmente distintos e em 7 matérias há o objetivo de inferiorizar outros candidatos e/ou partidos comparando-os à campanha de um palhaço. No exemplo que mais se destaca, há a coluna de Reinaldo Azevedo do dia 26 de agosto que coloca no título “Tiririca não é o único aliado ‘sincero’ de Mercadante”, porém a matéria trata-se de uma entrevista com Antônio Carlos Rodrigues, sem nenhuma relação com a candidatura Tiririca a não ser a coligação partidária.

Na 5ª semana de análise (de 29/08 a 04/09) foram encontradas 11 matérias com a citação do termo “Tiririca” e, pela primeira vez, ela surge em uma publicação no site da Carta Capital, porém com pouca relevância.11

Por parte da Folha há uma tentativa de conscientizar os eleitores da seriedade do processo eleitoral nos artigos dos colunistas e opiniões dos leitores, sendo a primeira ocorrência nesta análise, de uma reportagem que alerta sobre a questão de que Tiririca será um “puxador” de votos, ou seja, foi apenas na 25ª matéria estudada neste trabalho que surge o primeiro argumento para uma possível consequência da candidatura do palhaço. Além disso, das 7 matérias levantadas, 4 usavam explicitamente o slogan da campanha como noticiabilidade e 4 utilizam fotos do candidato.

Já no site da Veja há uma diminuição o número de reportagens com a utilização do candidato como foco principal de suas matérias, mas há o reforço de seu caráter pejorativo com relação as semanas anteriores, principalmente para rebaixar a credibilidade de outros candidatos da mesma coligação do Partido Republicano. Na coluna de 30 de outubro, por exemplo, Reinaldo Azevedo comenta pejorativamente que na coligação do Partido dos Trabalhadores feita pelo então presidente Lula “(...) o governismo pode contar com a sabedoria ‘popular’ de Tiririca”. A partir dessa semana também há uma redução na noticiabilidade do objeto de estudo desta quinta até a nona semana por parte deste veículo de comunicação – em média 5 ocorrências semanais.

Na 6ª semana (de 5/09 a 11/09) a quantidade de matérias com citações ao Tiririca repete a da semana anterior em cada veículo de comunicação em igual proporção.

A única matéria da Carta Capital é a opinião do colunista e blogueiro Vitor Knijnik em 8 de setembro, que ridiculariza a candidatura de vários candidatos extravagantes daquele período eleitoral: “(...) todos parecem ter sido clonados a partir da mesma célula de um mamífero adulto: o homo absentis vergonhes”, mesmo assim Tiririca não é o destaque da notícia.

10 Essa mesma entrevista foi repetida em partes ou na integra em mais 8 outras matérias posteriores,

principalmente nas duas últimas semanas.

11 Tratando-se apenas de um trecho da entrevista de Marta Suplicy em que a própria entrevistada cita a campanha do Tiririca, ou seja, o tema não surge de uma pergunta do entrevistador.

(9)

Em relação aos outros dois veículos online, Veja e Folha, há uma forte semelhança em seus enquadramentos, ambas praticamente deixam de utilizar os jargões de campanha do candidato como tema das notícias, assim como imagens e/ou vídeos em suas matérias neste período, quando em apenas 4 das 13 notícias o Tiririca é matéria de destaque (2 para cada mídia). Há também um apelo das publicações à princípios éticos em metade das matérias de cada veículo. Única diferença é na ocorrência de argumentos pejorativos à candidatura de um palhaço. Na Veja todas tem esse caráter, já na Folha surge em apenas 3 das 9 reportagens.

Dentro destas últimas, ressalta a matéria do jornalista Willian Magalhães em 9 de setembro, que no título possuí o destaque: “Tiririca representa protesto contra corrupção, diz autor de Soldados Não Choram”, porém no corpo do texto há praticamente nenhuma referência à candidatura de Tiririca, sendo apenas uma pequena citação do entrevistado e candidato a deputado federal Fernando Alcântara de Figueiredo.

Na 7ª semana (de 12/09 a 18/09) a página da Carta Capital apresenta sua terceira e última matéria antes do resultado das eleições de 2010. Neste artigo, de 13 de setembro de 2010, assinado por Sergio Lirio, a eleição do Tiririca é destaque e há uma tentativa do colunista em entender a causa do fenômeno, considerando a eleição de um palhaço uma disfunção natural de uma democracia em processo. É interessante ressaltar que este artigo possuí praticamente todos os dispositivos de análise metodológica, com exceção dos argumentos pejorativos.

O website da Veja mantém a postura das semanas anteriores de utilizar o pejorativo na eleição de um palhaço, principalmente comparando ou utilizando de metáforas para outros candidatos, onde Tiririca aparece em destaque em menos da metade das matérias veiculadas.

Já o website da Folha noticia o Tiririca principalmente a partir da fala dos candidatos a governador de São Paulo, ou seja, Mercadante, Alckmin e Paulo Skaf, sendo que das 8 matérias desse período, 5 possuem referência ao Tiririca a partir destes outros candidatos. Em metade das notícias há apelos a princípios éticos e morais, porém nenhuma carrega argumentos que indiquem as causas ou consequências da candidatura do Tiririca.

Na 8ª semana (de 19/09 a 25/09), novamente não há publicações da Carta Capital com o termo “Tiririca”.

Contudo, na página online da Folha de São Paulo, o candidato surge como destaque em 13 das 14 matérias veiculadas e, destas, 5 são referentes ao anúncio feito pelo instituto de pesquisa Datafolha, de que Tiririca possui aproximadamente um milhão de intenções de votos para aquela eleição. Pela primeira vez nesta análise, surgem notícias com reais propostas de campanha do candidato, como exemplos: leis de incentivos fiscais ao circo, leis com alterações aos exames pré-natal, projetos contra a discriminação dos nordestinos etc., entretanto esse enquadramento mostrou-se pouco presente, com apenas 2 das 14 matérias veiculadas. Em outras 5 matérias há ataques diretos a candidatura de Tiririca, principalmente a uma possível falsidade ideológica – tema levantado desde a primeira semana de análise deste trabalho – e acusações de analfabetismo, consequentemente não podendo pleitear uma

(10)

cadeira no senado.12 E por último, em relação à Folha, há um grande número de destaques (13 das 14 matérias), porém em apenas 3 há imagens do candidato Tiririca, 3 apelos a princípios morais e somente em 2 há a utilização do pejorativo nas notícias.

Com relação a revista online Veja, apesar dos acontecimentos da semana, a quantidade de reportagens com o tema se mantém baixa, foram apenas 5 ocorrências. Em todas as matérias há a utilização do pejorativo semelhante à das semanas anteriores, ainda em comparações a outros candidatos, porém com um acréscimo ao utilizar enquetes e comparações com outros personagens ainda mais extravagantes. Dentre estas matérias, uma se destaca pelo aprofundamento da discussão, o artigo “Votos de protesto: o que acontece quando um cacareco assume o mandato” deBruno Abbud em 24 de setembro de 2010. Nele surge a ocorrência de argumentos tanto de origens como de consequências para a candidatura do Tiririca, com apelos éticos e morais. Mesmo assim, há a manutenção da forma jocosa no texto em relação ao tema.

Já na 9ª semana (de 26/09 a 02/10) e última antes das eleições daquele ano, novamente não houve utilização do termo “Tiririca” pelo website da Carta Capital, contudo no da Folha de São Paulo há perceptível aumento na quantidade de matérias em comparação às semanas anteriores com 21 notícias. A revista online da Veja manteve-se na média das outras semanas, isto é, de 5 ocorrências.

Com relação ao website da Folha, das 21 matérias, 15 possuem o Tiririca como principal, em 11 há apelos a princípios éticos e morais e em 5 há termos pejorativos à eleição de um palhaço. Outra constatação que chama a atenção é a pouca utilização de imagens do candidato e slogans, ou seja, em apenas 3 das 21 matérias, diferentemente do início dos estudos. Neste período, este veículo de comunicação ainda mantém notícias de caráter ofensivo ao candidato, principalmente com relação à falsidade ideológica e analfabetismo, além de criticar sua aparição em programas de televisão e em campanhas de outros candidatos. Como exemplo, os destaques: “Procuradoria diz que vai apurar indícios de que Tiririca é analfabeto” (27/09) “Procuradoria arquiva mais três representações contra Tiririca” (30/09), “Teste de Tiririca se resumia a ler três linhas da Constituição, diz promotor” (30/09).

Na página online da revista Veja, há poucas referências ao candidato nesta última semana, além de uma redução pela metade de notícias sarcásticas com referência ao Tiririca, sem utilizar nenhuma vez o slogan de sua campanha. Neste período se sobressaí o artigo de Lauro Jardim de 27 de setembro “Não se engane: Tiririca é exceção”, destacando que no campo das celebridades, apenas Tiririca, Netinho e Romário são campeões de voto e que os outros candidatos extravagantes não o são.

3.1. Um Olhar Panorâmico

12 No dia 24/09/2010, a revista Época publica matéria na qual comenta indícios que sugerem que Tiririca não

sabe ler nem escrever, propiciando pauta para diversos veículos. Este será um dos principais temas de discussão da esfera pública após a aprovação do candidato Tiririca nas urnas.

(11)

Das 107 matérias analisadas o veículo que mais obteve referências ao termo “Tiririca” foi a página online da Folha de São Paulo com o total de 71 ocorrências. Já no

website Veja surgiram 33 vezes e Carta Capital apenas 3. Se aplicarmos a quantidade da

ocorrência dos pacotes interpretativos da Matriz de Assinatura de cada veículo, teremos a porcentagem dos enquadramentos segundo o gráfico abaixo:

Gráfico 2 – Visão Geral do Enquadramento da Campanha Eleitoral de Tiririca no período de

01/08/2010 a 02/10/2010.

Como já foi dito, há apenas 3 matérias da Carta Capital com referência ao candidato no período e em apenas uma dela ele é tratado com destaque. Esta baixa quantidade de ocorrências não pode ser ignorada neste estudo, pois a possível opção por não abordar o tema também é um dado a ser interpretado numa análise de enquadramento. Ao não se colocar em pauta a concorrência do Tiririca – assunto tão presente na esfera pública no período – a omissão tornou-se assim parte de seu discurso midiático. E além disto, todas as vezes que citavam o candidato, ele estava relacionado a outras campanhas.

Já no website do jornal Folha de São Paulo se veiculou mais que o dobro de matérias com relação a revista online Veja (71 ocorrências contra 33). Fica evidente a ênfase à candidatura de Tiririca da Folha neste período, principalmente ao se levar em consideração a quantidade de destaques – como é possível de se verificar no gráfico abaixo:

(12)

Gráfico 3 – Dispositivos de Enquadramento e de Justificação da Candidatura a Deputado federal

Tiririca no website do jornal Folha de São Paulo no período de 01/08/2010 a 02/10/2010.

Dentro dos dispositivos de enquadramento deste veículo de comunicação, destacam-se a utilização das metáforas, principalmente em relação a eleição de um palhaço no campo político.

Outro dado que relevante é a citação do slogan/jargões do candidato, principalmente pelo seu caráter provocador, como o “Pior que tá não fica”, dentre outros. Porém, esse não se deu de forma homogênea durante o período analisado, ou seja, no primeiro mês havia uma grande utilização, contudo após a semana em que surgiu a informação da grande previsão de votos do candidato a Folha reduziu a emprego destas frases no corpo de texto das suas reportagens. Mesmo assim, manteve a média de 2 a 3 notícias com imagens/vídeos do Tiririca por semana.

Já com relação aos dispositivos de justificação (dados em vermelho no Gráfico 3), o apelo a princípios éticos se destaca dos outros da análise, principalmente aqueles que levam em consideração críticas a todo o processo eleitoral brasileiro e/ou que clamam por respeito aos valores democráticos, cujas passagens de texto a seguir são bons exemplos: "Que o voto seja levado a sério"13; “O chamado voto de protesto melhor faria para as nossas instituições, promovendo uma limpeza em um ambiente contaminado”14 Ou então “"É um modo de expressar jocoso, crítico, popular, mas e daí? Quem disse que as campanhas eleitorais visam a atingir o erudito, os mais estudados? O Brasil é uma democracia, não uma oligarquia. Até os analfabetos votam, e os que apenas sabem ler e escrever podem ser votados”15.

13 Folha de São Paulo. Mônica Bergamo: Paulo Skaf engrossa campanha anti-Tiririca. 15/09/2010 14 Folha de São Paulo. Eleições, Tiririca, Mattarazzo. 22/09/2010

15 Folha de São Paulo. Procuradoria arquiva duas representações contra propaganda de Tiririca. Em

(13)

Houve também um grande número de ocorrências de argumentos pejorativos, surgindo em praticamente 25% das matérias, principalmente para provocar o divertimento do leitor em relação a candidatura de um palhaço.

E por último, houve poucas ocorrências de argumentos em relação a origens/consequências da candidatura de Tiririca em relação à quantidade de destaques do período. Neste sentido, pode-se dizer que os interesses e projetos da candidatura foram pouco levados em consideração frente a toda espetacularização que ele promoveu, com pouca discussão dos reais efeitos ao pleito deste candidato à uma cadeira de Deputado Federal.

Já em relação à análise do enquadramento do website da revista Veja, há dados relativos muito semelhantes aos da Folha, principalmente nas metáforas da eleição de um “palhaço político” (em praticamente metade dos casos) e na utilização de imagens e vídeos (cerca de 12%), como é possível perceber no Gráfico 4 abaixo:

Gráfico 4 – Dispositivos de Enquadramento e de Justificação do Deputado Federal Tiririca pela

website da Revista Veja no 01/08/2010 a 01/10/2010.

Em 42% das matérias, Tiririca surge como destaque, contudo muitas vezes o candidato palhaço foi utilizado como referência a outros candidatos ou partidos, principalmente com o intuito de inferiorizá-los, ou seja, mesmo que o candidato estivesse no título da notícia, não havia argumentos referentes ao candidato Tiririca no corpo do texto. Reflexo deste enquadramento é encontrado na quantidade relativa de notícias com referências a outros candidatos/campanhas, cerca de 85% das matérias deste veículo.

(14)

Já quando se leva em consideração os dispositivos de justificação (dados em azul no

Gráfico 4), a utilização de argumentos pejorativos ao Candidato se destaca, chegando a

alcançar 60% das matérias. Como exemplos destes, temos seguintes títulos de matérias: “A Era dos Abestados”16, “Quem é o Palhaço”17 ou então “Votos de protesto: o que acontece quando um cacareco assume o mandato”18; destas, estão inseridas em quase todos os 40% dos apelos a princípios éticos da análise. Sendo assim, pode-se concluir que em praticamente todos os enquadramentos de matérias com apelos morais, a candidatura do Tiririca é tratada de forma pejorativa.

E finalmente, os argumentos de origens/consequências da eleição do palhaço Tiririca na Veja possui resultado relativo muito semelhante ao da Folha, sendo pouquíssimas vezes levado à pauta.

4. Considerações Finais

Em um sistema republicano de representação política como é o brasileiro, a candidatura em 2010 de um palhaço como reflexo das aspirações dos cidadãos reverberou nas diversas esferas públicas como uma ofensa aos valores democráticos. Neste sentido, a conclusão dos enquadramentos da revista online Veja e do jornal Folha São Paulo dados ao Tiririca no período, buscou deslegitimar sua candidatura, principalmente pela escolha de argumentos depreciativos em suas matérias, com pouca ênfase a uma discussão democrática. Por exemplo, foram poucas as matérias que levaram em consideração a eleição do Tiririca como um possível “puxador de votos” ou mesmo quais seriam suas reais propostas de trabalho na Câmara, ou ainda qualquer outro motivo de discussões mais profundas referentes à sua representação democrática. Ou seja, foram pouco usados argumentos que constatem as origens ou consequências deste fenômeno, realçando muito mais o caráter jocoso do candidato, podendo até mesmo ter favorecido o mote de sua campanha.

Neste sentido, as duas mídias acima buscaram a uniformidade de opiniões e pensamentos, a fim de denegrir o candidato. Biroli (2012, p. 13) comenta que “por meio dos [mecanismos de seleção de temas, atores e conflitos], o jornalista desempenha seu papel de gestor de consensos. Não se trata de mediação entre partes ou posições, mas de uma atuação política que define o mínimo denominador comum entre os segmentos das elites que estão em disputa. Em outras palavras, colabora para definir o que está em disputa ou o que pode estar legitimado em disputa”.

Da mesma forma, a baixa quantidade de matérias deste tema pelo periódico online Carta Capital também não favoreceu uma discussão mais reflexiva sobre o tema. Neste sentido, pode-se concluir que a não opção por abordar o assunto omitiu debates possíveis à esfera pública, em voga na eleição daquele ano.

A influência dos meios de comunicação também é particularmente sensível num momento crucial do jogo político, à definição de

16 Revista Veja. A Era dos Abestados. Em 19/08/2010. 17 Revista Veja. Quem é o Palhaço? Em 28/08/2010.

(15)

agenda. A pauta de questões relevantes, postas para a deliberação pública, é em grande parte condicionada pela visibilidade de cada questão na mídia. Dito de outra maneira, ela possui a capacidade de formular as preocupações públicas. (...)

Cumpre observar que a mídia não se limita à definição de agenda, no sentido de apresentação “neutra” de um elenco de assuntos, como por vezes transparece nos trabalhos pioneiros sobre o tema. Assim, a ideia de definição de agenda será complementada pela noção de “enquadramento” (framing): a mídia fornece os esquemas narrativos que permitem interpretar os acontecimentos; e privilegia alguns destes esquemas, em detrimento de outros. (Miguel, p. 11, 2010) Foi empregado, em aproximadamente 1/3 dos casos, o slogan do candidato dentro do corpo do texto das matérias. Este fator pode também ter contribuído para o recorde de votos do Tiririca, uma vez que ao tentar desmerecer esta candidatura, ocorreu o efeito contrário, aproximando eleitores que buscavam uma forma de protestar contra ao sistema político brasileiro.

Por último, é importante ressaltar que este trabalho buscou entender o fenômeno recorde de votos de um palhaço midiático a uma cadeira de Deputado Federal a partir da análise de enquadramento. Porém, apenas com este estudo, não se pode concluir que o resultado é fruto somente das matérias veiculadas nas mídias. Há diversos outros fatores que influenciaram tal efeito, tais como a construção da imagem pública, o marketing eleitoral, a espetacularização política, entre outros. Estes pretendem ser produto de estudos futuros, a fim de promover um avanço no entendimento deste fenômeno.

BIBLIOGRAFIA

Baratto, Mariângela B.; Petermann, Juliana; Santos, Giandra C.; Silva, Amanda R. F. O

Percurso Gerativo da Construção Discursiva Utilizada nos Vídeos da Propaganda Eleitoral do Candidato a Deputado Federal Tiririca. In: IV SIPECOM: Seminário

Internacional de Pesquisa em Comunicação Estratégias e Identidades Midiáticas. UFSM, Santa Maria, RS, 2011.

Biroli, Flávia. O Jornalismo como Gestor de Consensos: limites do conflito na política

e na mídia. CCI Encontro da Compós: Associação Nacional dos Programas de

Pós-Graduação em Comunicação, UFJF, Juiz de Fora – MG, 2012.

Canal Youtube Tiririca Oficial. Deputado Tiririca, Disponível em <https://www.youtube.com/user/TiriricaOficial>. Acessado em 20/07/2015.

Cervi, Emerson U.; Panke, Luciana. Análise da Comunicação Eleitoral: uma Proposta Metodológica para os Estudos da HGPE. Contemporânea: Comunicação e cultura. Bahia: vol. 09, nº 03, setembro-dezembro de 2013.

(16)

Folha de São Paulo. Círculo Folha. s. d. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/index.htm>. Acessado em 17/03/2015.

Folha de São Paulo. Disponível em: < http://www.folha.uol.com.br/>. Acessado entre 01/07/2015 e 30/07/2015.

Fortunato, Ivan; Penteado, Cláudio Luis de C. Campanhas Eleitorais: senhoras e

senhores, o espetáculo começou. Líbero, São Paulo, v. 17, n. 34, p. 77-88, dez. de 2014.

Gamson, William.; Modigliani, Andre. Media discurse and public opinion on nuclear

power: a construcionist approach. American Journal of Sociology, v. 95, p. 1-37, 1989.

Google Trends. Disponível em: <https://www.google.com.br/trends>, acessado em 22/07/2015.

Kasper, Kátia Maria. Experimentações Clownescas: os Palhaços e a Criação de

Possibilidade de Vida. Tese de Doutorado. Campinas, Faculdade de Educação/UNICAMP,

2004.

Porto, Mauro P. Enquadramentos da Mídia e Política. In: XXVI Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais – ANPOCS, 2002. Caxambu/MG.

Maia, Rousiley C. Moreira; Vimieiro, Ana Carolina. Análise Indireta de Enquadramento

da Mídia: Uma alternativa metodológica para a identificação de frames culturais. Revista

Famecos, Porto Alegre, v. 18, n. 1, p. 235-252, jan/abr 2001.

Miguel, Luiz Felipe. Influência e Resistência: Em Busca De Um Modelo Complexo Da Relação Mídia/Política. In: ComPós: Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, 2001.

Miguel, Luiz Felipe. Modelos Utópicos de Comunicação de Massa para a Democracia. In: ComPós: Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, 2010.

Revista Carta Capital. Disponível em < http://www.cartacapital.com.br/>, acessado entre 01/07/2015 e 30/07/2015.

Revista Veja. Disponível em <http://veja.abril.com.br/>, acessado entre 01/07/2015 e 30/07/2015.

Saraiva, Cíntia L. C.; Silva, Márcia D. B. Da Transgressão e Ethos forjado à Câmara dos

Deputados: Uma Análise do Discurso Utilizado na Campanha Eleitoral de Tiririca.

Revele, n. 4, mai. de 2012.

Tiririca (Artista). Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Tiririca_(artista)>,

Referências

Documentos relacionados

Contudo, objetivou-se com este estudo avaliar os parâmetros de degradação ruminal dos compostos nitrogenados estimados pelos métodos in situ, in vitro/gases e Rusitec, com o intuito

Entre as atividades, parte dos alunos é também conduzida a concertos entoados pela Orquestra Sinfônica de Santo André e OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São

Lernaea cyprinacea of Steindachnerina insculpta from Taquari River, municipality of Taquarituba, São Paulo State, Brazil.. Note the hemorrhagic area around the insertion point of

RESUMO - O trabalho objetivou avaliar a qualidade das sementes de arroz utilizadas pelos agricultores em cinco municípios (Matupá, Novo Mundo, Nova Guarita, Alta Floresta e Terra

As abraçadeiras tipo TUCHO SIMPLES INOX , foram desenvolvidas para aplicações que necessitam alto torque de aperto e condições severas de temperatura, permitin- do assim,

“O aumento da eficiência e o plano de produção fizeram com que a disponibilidade das células de fabricação aumentasse, diminuindo o impacto de problemas quando do

Melhorar o sistema produtivo com ganhos ambientais é o maior objetivo deste estudo, a automatização apresenta-se como a alternativa indicada pela literatura, porém, esta solução

no entanto, demonstram que os parâmetros quantitativos, tais como tamanho e quantidade de tais estruturas, e qualitativos, como natureza da secreção, podem variar