O PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E USO DO BIODIESEL E A AGRICULTURA FAMILIAR

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Ciência & Tecnologia: Fatec-JB, Jaboticabal, v. 8, 2016. Suplemento.

O PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E USO DO

BIODIESEL E A AGRICULTURA FAMILIAR

THE NATIONAL PROGRAM FOR PRODUCTION AND USE OF

BIODIESEL AND FAMILY AGRICULTURE

Marcos Vinícius Galvão(1) Alecio Rodrigues de Oliveira(2) Felipe Batistella Filho(3) Lilian Pugliese(4)

Resumo

As diretrizes do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) fazem referência à inclusão social dos agricultores familiares na cadeia produtiva do biodiesel, como potenciais fornecedores de matéria-prima para a indústria. O presente estudo analisou a participação dos agricultores familiares ao longo dos anos e os impactos reais do Selo Combustível Social na geração de renda e diversificação de matéria-prima. Seria o Selo Combustível Social uma ferramenta adequada a ser utilizada como indicador de inclusão social por meio da agricultura familiar e desenvolvimento do Programa? Decorridos mais de 10 anos de implantação do PNPB, observou-se através de dados resultantes, como foram desenvolvidas as ações desde sua criação até os dias atuais. Para tanto, buscou-se comparar indicadores e resultados do desenvolvimento e o status atual, baseado no cumprimento ou não cumprimento das diretrizes no que diz respeito à inclusão dos pequenos produtores na cadeia produtiva no desenvolvimento das regiões do Semiárido brasileiro. O desenvolvimento de políticas públicas para o setor de biodiesel surgiu frente à crescente preocupação acerca das mudanças climáticas e sua relação com a emissão de gases poluentes provenientes da queima de combustíveis fósseis. Hoje em dia os dados acerca do Selo Combustível Social que são muito utilizados pelos órgãos gestores do Programa como forma de divulgação, não exprimem a realidade da inclusão social e por sua vez demonstram que houve um crescimento industrial e implementação da cadeia produtiva do biodiesel no país.

Palavras-chave: Agricultura familiar, Selo Combustível Social, Desenvolvimento, Inclusão.

Abstract

The guidelines of the National Program for Production and Use of Biodiesel (PNPB) refer to the social inclusion of family farmers in the biodiesel production chain, as potential suppliers

1

Graduado em Tecnologia em Biocombustíveis pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo Câmpus Matão.

2

Doutor em Sociologia pela Unesp. Docente IFSP, Câmpus Matão Endereço eletrônico: alecio@ifsp.edu.br.

3

Doutor em Agronomia pela Unesp. Docente do IFSP, Câmpus Matão. Endereço eletrônico: batistella@ifsp.edu.br.

4_{Mestre em Desenvolvimento Territorial e Meio Ambiente pela Universidade de Araraquara. Docente da Secretaria de Educação de Matão.}

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of raw materials for industry. This study analyzed the participation of farmers over the years and the real impacts of the Social Fuel Seal in income generation and diversification of raw materials. It would be the Social Fuel Seal appropriate tool to be used as an indicator of social inclusion through family farming and development program? After more than 10 years of implementation of PNPB, it was observed through the resulting data, as the actions have been developed since its inception to the present day. Therefore, we sought to compare indicators and results of development and current status, based on compliance or non-compliance with guidelines regarding the inclusion of small producers in the production chain in the development of the regions of the Brazilian semiarid region. The development of public policies for the biodiesel industry came forward to growing concern about climate change and its relation to greenhouse gas emissions from burning fossil fuels. Today data about the Social Fuel Seal that are widely used by Program management agencies as a way of disclosure, do not express the reality of social inclusion and in turn show that there was industrial growth and implementation of the biodiesel production chain in the country.

Keywords: Family Farming, Social Fuel Seal. Development. Inclusion.

1 Introdução

Com o intuito de minimizar os impactos ambientais e a dependência de fontes fósseis, após uma série de investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação houve o advento dos combustíveis provenientes de atividades agroindustriais sustentáveis também conhecidos como biocombustíveis. Esses combustíveis de origem vegetal ricos em matéria orgânica possuem uma combustão mais limpa em relação aos fósseis e, por isso, servem como alternativa aos combustíveis derivados do petróleo, visando à diminuição das emissões de gases, a inclusão social e o desenvolvimento econômico do país.

O desenvolvimento científico-tecnológico do setor energético do Brasil até a década de 70, frente aos choques do petróleo, ocasionou inicialmente a expansão do uso energético do etanol, popularmente difundido e estruturado com o Programa Nacional do Álcool (PROÁLCOOL).

Como no caso do etanol onde o PROÁLCOOL foi de extrema importância para o desenvolvimento da cadeia sucroalcoleira, o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), idealizado em 2004, está sendo para o biodiesel. O intuito desse programa interministerial regulamentado em 2005 pela lei 11.097 é construir medidas e políticas que permitam organizar toda a cadeia produtiva do biodiesel, a ponto de promover o desenvolvimento do setor expandindo a produção e o teor da mistura no diesel, impulsionando assim a intensificação da produção trazendo o desafio de tornar possível o atendimento da

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demanda de consumo interno nos leilões da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

O Selo Combustível Social (SCS) é um dos instrumentos pelo qual o Governo Federal habilita as indústrias a participarem dos leilões de compra de Biodiesel realizados pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em contrapartida de isenções fiscais como do Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), além de facilitar o acesso ao crédito junto ao Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tanto para as usinas quanto para os produtores rurais.

Para possuir o Selo o produtor de biodiesel assume algumas obrigações como “celebrar previamente contratos de compra e venda de matérias-primas com os agricultores familiares ou com suas cooperativas; assegura a capacitação e assistência técnica aos agricultores familiares contratados; e adquiri um percentual mínimo de matéria-prima dos agricultores familiares no ano de produção de biodiesel.” (MDA,2010 p.10)

2 Material e Métodos

Buscou-se discutir criticamente os dados apresentados no Boletim Mensal de Combustíveis Renováveis publicado no Diário Oficial da União em Julho de 2016, pela óptica da problemática em relação à efetividade da inclusão social por meio da inserção do agricultor familiar dentro da cadeia produtiva do biodiesel via Selo Combustível Social. Por fim, demonstrou-se quem são os maiores beneficiados pelas políticas do Programa (indústria) e o domínio dos latifundiários produtores de soja, quando comparado aos números dos pequenos produtores. Utilizou-se do método tradicional de pesquisa na literatura, principalmente em sítios eletrônicos, inclusive de órgãos federais.

3 Resultados e Discussão

Buscou-se avaliar o desenvolvimento e a efetividade da inclusão social igualitária possibilitada pelo Selo Combustível Social, que é o principal indicador utilizado para explanação acerca dos números do PNPB com o passar dos anos. Os dados permitiram o desenvolvimento de inferências que apontam para uma visão diferente daquela exposta pelos promotores dos avanços até aqui.

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O indicador usado pelos órgãos idealizadores como parâmetro do cumprimento das diretrizes de inclusão dos agricultores familiares dentro do PNPB é o Selo Combustível Social que, por usa vez, é incapaz de exprimir totalmente a realidade sobre o “sucesso” do Programa que, em verdade, é da soja que nos remete aos latifúndios e não às pequenas propriedades.

Por meio desse instrumento visualiza-se a evolução das indústrias detentoras da certificação por comprarem matérias-primas dos pequenos produtores, segundo a idealização do PNPB esse seria um meio de garantir a geração de renda e a participação dos mesmos na economia tendo como contrapartida benefícios fiscais para indústria. Infelizmente os maiores beneficiados com o Programa não são os agricultores familiares o que nos faz pensar sobre a inclusão social na prática e não por status industrial com o boom dos selos e demais certificações que garantem as empresas um status quo frente ao mercado.

De acordo com o gráfico apresentado na Figura 1 é possível observar a evolução da capacidade instalada de biodiesel no Brasil com o Selo Combustível Social (SCS) que reflete o crescimento da produção industrial mas não necessariamente do agricultor familiar.

Figura 1 – Número de Usinas

Fonte: Adaptado de MME, 2016

4 10 28 31 28 32 35 40 45 42 40 ₃₇ 1 2 11 20 14 23 21 17 13 12 10 11 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 mai/16

Número de Usinas

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4 Conclusões

Apesar de contribuir para a implementação da cadeia de produção de Biodiesel no Brasil e para o aumento da competitividade e qualidade do biodiesel brasileiro frente ao mundo, observou-se uma baixa participação dos agricultores familiares.

Em tempos de transição de Governo as políticas públicas e programas governamentais são totalmente prejudicados, por conta da possibilidade de não continuidade devido a impasses ideológicos, muitas vezes partidários.

Diante da recente e triste realidade para vida útil do Programa, com a extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), principal órgão que coordena e articula todas as ações de gestão daqui para frente nos faz pensar: qual será o futuro do PNPB e da agricultura familiar no Brasil?

Referências

MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIAS. Boletim Mensal dos Combustíveis Renováveis, 2016 p.14. Disponível em <www.mme.gov.br/.../Boletim...2016.../788a1a3b-3306-4d9d-b1f1-d922cca79179> Acessado em Jul 2016

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO. Cartilha Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel, Inclusão Social e Desenvolvimento Territorial. Book Final. 2010 p.6-7;38 Disponível em <www.mda.gov.br > Acessado em: 17 maio 2016