Sou Marcia Luiza Bulegon, 10ª filha de João Bulegon (in memorian) e Gema Pradebon Bulegon. Somos uma família numerosa, humilde, porém com grandes valores e bastante unida. Meu pai era professor e também
trabalhava na terra. Deixou-nos um grande legado que é o de transmitir conhecimento através da bela
profissão que é a de SER PROFESSOR.
O início de minha formação foi no Grupo Escolar Catarina Dal Ros Alberti, quando tinha seis anos de idade. Na época, a alfabetização era chamada primeira atrasada e primeira adiantada, hoje, Pré A e Pré B. Tive alguns problemas de adaptação à escola. Era uma criança que não queria parar na sala de aula. Quando deixada na escola, chorava até que a professora me mandava para casa. Fiz isso durante um bom tempo, até que minha mãe decidiu me segurar em casa.
Fiquei um tempo sem frequentar escola, até que minha irmã resolveu me matricular em uma escola de
“irmãs”, chamada Externato Mater Ter Admirabilis. Comecei novamente e, como de costume, chorava quando deixada na escola. Porém, a irmã Celestina, que era minha professora, não me mandava embora, me deixava chorando, até que acostumei e então, consegui concluir a primeira série, dando continuidade aos meus estudos. Fiz até a 3ª série no Externato, pois o mesmo fechou e então retornei para o Grupo Escolar. Da 5ª série até a 8ª série, estudei no Ginásio Estadual e o Ensino Médio, no Colégio Dom Antônio Reis.
Após concluir o Ensino Médio, ingressei na FIC –
Faculdade de Ciências e Letras “Imaculada Conceição” em 1983, concluindo minha graduação em
Em seguida fiz minha primeira Especialização em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Cursei tanto a faculdade quanto a Especialização trabalhando no comércio. Depois fui trabalhar na Prefeitura Municipal onde resido. Em 1997, fui nomeada pelo Estado, onde estou até hoje. Em 2005, fiz a Especialização em
Psicopedagogia Institucional pela Universidade Castelo Branco, do Rio de Janeiro, na modalidade a distância. Em 2013, fiz a Especialização em Coordenação
Pedagógica, pela UFRGS, também na modalidade a distância.
Enfim, procurei sempre me dedicar ao máximo para me aperfeiçoar e acompanhar as mudanças e poder
desenvolver minhas atividades como educadora com sucesso.
Casei-me e tenho uma linda filha, Luiza. Por isso, quero, através de uma carta escrita por meu irmão mais novo, em homenagem a nosso pai, relatar um pouco da lição de vida que ele nos deixou e que muito tem a ver com a minha profissão e o que vivemos hoje.
“Assim como as cartas do Kafka a seu pai, a minha também não será lida. Morreu em 1992. A morte do meu pai representou a perda da referência. Voltei a reencontrá-la quando me tornei pai.
Quando olho para trás e percebo o que ele fez, me desespero. Doze filhos para criar, foi pai doze vezes, sentiu o que estou sentindo doze vezes. Coração forte! Não foi por problemas no coração que partiu.
Um dia desses, lendo um livro do Pierre Lewi, lembrei dele. Precisei de um livro para entender o que ele fazia sem pensar. Ele fez a ligação que Lewi apontou.
Falando de linguagem e escrita, o autor diz que a diferença entre o arado e a caneta é mais notada pelo tamanho do que pela natureza de cada um. O arado risca os campos para cultivar as plantas, linhas
traçadas revirando a terra de um ponto ao outro, sulcando o chão onde a semente será depositada. A caneta sulca as folhas de papel como se fossem
Meu pai fazia isso, professor primário no turno da manhã e agricultor à tarde. Pela manhã, cultivava ideias, ensinava crianças a cuidar seus pensamentos, ler, escrever, a arar folhas de papel. À tarde, plantava campos e sonhos, onde florescia milho, batata doce, abóbora, feijão e esperança. Desespero-me! E se me desespero é por não ter aprendido com ele a arte da paciência. Não lembro de ouvi-lo reclamar da vida. Acredito que forjou sua têmpera com a junta de bois que tínhamos. Lembro que os animais puxavam a carroça, onde transportávamos o fruto daquele
trabalho. Lentidão dos passos dirigindo-se ao roçado, ao som do rangir das rodas, que com olhar de infância eu observava. Lentos, mas nunca paravam!
Meu pai era assim, um forte de poucas palavras, pessoa de se invejar. Como seus animais, enquanto viveu nunca desistiu! Talvez por isso tenha feito tanta coisa na vida. Quisera eu fazer algo parecido, e minha vida terá valido a pena.
Sei que não chegará até suas mãos essas linhas. Mas, mesmo assim insisto em falar: gostaria que soubesse, meu pai, que foram escritas com aquele arado que vi outro dia, esquecido lá nos fundos do pátio, enferrujado e carcomido pelo tempo. Aquele arado que durante anos passeou, de um lado ao outro das pirambeiras dos morros de Polêsine, escrevendo nossa história e nossa vida ao mesmo tempo que espalhava pelo ar o cheiro de terra molhada, de terra revirada, de terra humilde e fértil de uma infância feliz.”