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Robert
G.
BARTLE
Professor de Matemática
Uníversity of lllinois
Urbana- Champaign
'TRADU CÃO
•Alfredo A. de Farias
Professor do Instituto de Ciências Exatas
UFMG
EDITORA CAMPUS LTDA.
Rio de Janeiro
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Do origina!The Elements of Real Analysís, 2~ Edição .
Robert G. Bartle
Copyright
©
1964, 1976,by
John Wiley & Sons, Inc.Todos os direitos reservados. Tradução
autorizada
da edição em idioma inglêspu b \i cada por 1 olm Wiley & Sons, Inc .
©
1983, Editora CampusLtda.
Todos os direitos
para a língua portuguesareservados
e
protegidos pelaLei
5988de
14/12/1973.Nenhuma
parte deste livro poderáser
reproduzída ou transmitida sejamquais
forem
os
meios empregados:eletrônicos,
mecânícos, fotográficos, gravação ouquaisquer
outros .Capa
Otávio Studart
Diagramação, composição, paginação e revísão
Editora Campus Ltda.
Rua Japeri 35 Rio
Comprído
Tel.:284 8443 PABX20261 Rio de Janeiro RJ
Brasil
End. Telegráfico: CAMPUSRIOISBN 85-7001-113-X
(Edição oliginal: ISBN 0-471-05464-X, John Wiley & Sons, Inc., New York.)
B295e
82-0733
Ficha
Catatográfica
CJP,Brasil. Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.
Bartle, Robert G.,
1927-Elementos de análise real/ Robert G. Bartle ; tradução de Alfredo A. de Farias. -Rio de Janeiro :Campus, 1983.
Tradução de : The Elements of real analysis.
Bibl íografia
ISBN
85-7001-113-X1. Análises matemáticas 2. Cálculo 3. Funções de variáveis reaís. I. Título
CDD- 515 CDU- 517
,.
-SUMARIO
PREFÁCIO,l3
INTRODUÇÃO. UM ESBOÇO DA TEORIA DOS CONJUNTOS
L A Álgebra dos Conjuntos, 16
Igualdade de conjuntos, interseção, união, produto cartesiano
2.
Funções, 24
Representação tabular, transformações, restríções e extensões,
com-posição, funções injetiva e inversa, funções sobrejetiva e bijetiva,
imagens direta e inversa
3. Conjuntos Finito e Infinito, 33
Conjuntos finitos, numeráveis
e
não-numeráveis, a inumerabilidade
deR
e/
CAPÍTULO 1. OS NúMEROS REAIS
4. As Propriedades Algébricas de
R,38
Propriedades
de
corpo
de
R, irracionalidade
de
-/2
5 _ Propriedades de Ordem de
R,
4 2
Propriedades de ordem, valor absoluto
6. A Propriedade de Comp1eteza de
R.47
Supremos
eínfimos, propriedade arquimediana,
aexistência de
.J2
7. Cortes, Intervalos
eo Conjunto de
Cantor~54
Propriedade do corte, ceias e intervalos, propriedades das celas
encai-xantes, o
conjunto
de Cantor,
modelo
para
R
CAPÍTULO 2. A TOPOLOGIA DOS ESPAÇOS CARTESIANOS
8.
Espaços Vetoriais e Cartesianos, 59
Espaços vetoriais, espaços com produto interno, espaços normados, a
desigualdade de Schwarz, o espaço cartesiano RP
9.
Conjuntos Abertos
e Conjuntos Fechados,
68
Conjuntos abertos> conjuntos fechados, vizinhanças
10. Celas Encaixantes e o Teorema de Bo1zano-Weierstrass, 73
O teorema das celas encaixantes, pontos de acumulação, o teorema
de Bolzano-Weíerstrass
11.
O
Teorema de Heine·Borel, 77
Capacidade, o teorema de Heine+Borel, o teorema da interseção de
Cantor, o teorema da cobertura de Lebesgue
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12. Conjuntos Conexos,84A
conexidade de íntervalos emR,
conjuntos abertos poiigonalmenteconexos são conexos, conjuntos conexos em
S.
são intervalos13. O Sistema dos Números Complexos, 88
Definição e propriedades elementares
CAPITULO 3. CONVERGJ!NCIA
14. Introdução às Seqüências, 92
Convergência, unicidade do limíte, exemplos
15.
Subseqüências e Combinações.99
Subseqüências, combinações algébricas de seqüências 16. Dois Critérios para Convergência, 104
Teorema da convergéncia monotõnica, o teorema de Bolzano-Weiers-trass, seqüências de Cauchy, o critério de Cauchy
17. Seqüências de Funções, 112
Convergência, convergência uniforme,
a
norma uniforrri.e, critério de Cauchy-para convergência uniforme18. O Limite Superior, 121
Umite superior e limite inferior de uma seqüência em
R,
seqüênciasnão-limitadas, limites infinitos
19.
Outros Tópicos, 125Ordem
de
grandeza, somação deCesàro,
seqüências duplas,lirrútes
iterados
CAPÍTULO
4·
FUNÇÕES CONTÍNUAS
20. Propriedades locais das Funções Contínuas, 132
Continuidade em um ponto e em um conjunto, o critério de descon-tinuidade, combinações de funções
21. Funções Lineares, 141
Funções lineares, representação matricial, a norma 22. Propriedades Globais das Funções Contínuas,144
Teorema da continuidade global, preservação da compacidade, pre-servação da conexão, teorema da continuidade da função inversa,
funções contínuas limitadas
23. Continuidade Uniforme e Pontos Fixos, 151
Continuidade uniforme, condição de Lipschitz, teorema do ponto fi.
xo para contrações, teorema de ponto fixo de Brower 24. Seqüências de Funções Contínuas, 156
Permuta de limite e continuidade, aproximação por funções escada e por funções parcialmente lineares, polinômios de Bersntein, teore-mas de aproximação de Bernstein e Weierstrass
25. Limites de Funções, 164
Limites restritos e não-restritos, lirrúte inferior restrito e não-restrito, semícontinuidade
26. Outros Resultados, 171
da aproximação polinomíal> teorema da extensão de
Tietze~teorema
de Arzelà-Ascoli
CAPÍTULO
5.
FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL
27. O Teorema do Valor Médío,180
A derivada, teorema do máximo interior, teorema de Rolle, teorema
do valor médio
28. Outras Aplicações do Teorema do Valor Médio,l86
Aplicações, regras de l'Hôpital, permuta de limite e derivada, teore·
ma de
Taylor
29. A Integral de Ríemann·Stieltjes, 196
Somas
e
integral
de
Rlemann-Stieltjes,
critério de integrabilidade de
Cauchy, propriedades da integral, íntegração por partes, modificação
da integral
30.
Existência da Integral, 205
Critério de integrabílídade de Riemann, integrabilídade das funções
contínuas, teoremas do valor médio. teorema da diferenciação, teo·
rema fundamentai do cálculo integral, teorema da mudança de
variá-vel
3 L
Outras
Propriedades da Integral, 221
Pennuta de limite e integral, teorema da convergência ll:m.ítada,
teo-rema da convergência monotônica, forma integral do resto, integrais
que dependem de um parâmetro, fórmula de Leibniz, teorema da
permuta, teorema da representação de Riesz
·
32. Integrais Impróprias e Infinitas. 236
Integrais impróprias de funções não-limitadas, integrais infinitas,
cri-tério de
Cauchy,
critério da comparação,
critério
limite da
compara-ção, critério
de Dirichlet, convergência
absoluta
33. Convergência Uniforme e Integrais Infinitas, 245
Critério
de Cauchy para a
convergência uniforme, o
teste-M
de
Weierstrass,
o
teste
de
Dirichlet~integrais infinitas que
dependem de
um par.âmetro, teorema da convergência dominada, integrais infinitas ·
iteradas
CAPÍTULO 6. SÉRIES INFlNITAS
34. Convergência de Séries Infinitas,
262
Convergência de séries, critério de Cauchy, convergência absoluta,
teorema
dereagru pamen to
35. Testes de Convergência Absoluta, 268
.
Teste
dacomparação, teste
limite
da comparação, teste da raiz, teste
da razão, teste de
Raabe, teste da in tegra1
36. Outros Resultados sobre Séries,278
Lema de Abel, teste de DirichJet, teste de Abel, teste das séries
alter-nadas, séries duplas, multiplicação de
Cauchy
37.
Séries de Funções, 286
Convergência absoluta e
uníforme,
critério de Cauchy, o
teste-M
de
potên-c ias, teorema de Caupotên-chy-Hadamard, teorema da diferenpotên-ciação, teore-ma da unicidade, teoreteore-ma da multiplicação, teoreteore-ma de Bemstein, teorema de Abel, teorema da Tauber . '
38. Séries de Fourier, 298
Desigualdade de Bessel, lema de Riemann-Lebesgue, teorema da con-vergência pontual, teorema da concon-vergência uniforme, teorema da convergência em norma, igualdade de Parseval, teorema de Fejér,
teorema da aproximação de Weierstrass CAPÍTULO 7. DIFERENCIAÇÃO EM RP
39. A derivada em RP, 314 .
Derivadas parciais, derivadas direcionais, a derivada de f: RP ->-
Rq,
o jacobíano40. A Regra da Cadeia e os Teoremas de Valor Médio, 324
Regra da cadeia, teorema do valor médio, permuta da ordem de dife-renciação, derivada de ordem superior, teorema de Taylor
41. Teoremas de Aplicação e Funções fmplícitas, 337 Classe
C
1, lema da aproximação, teorema da aplicação injetiva, teo·
rema da aplicação sobrejetiva, teorema da aplicação aberta, teorema da inversão, teorema da função implícita, teorema da parametrização, teorema do posto
42. Problemas de Extremo, 355
Extremos relativos, teste da derivada segunda, problemas de extre-mos com vínculos, teorema de Lagrange, vínculos de desigualdade CAPÍTULO 8. INTEGRAÇÃO EM
.RP
43. A Integral em RP, 369
Conteúdo zero, somas de Riemann e a integral,
teste
de Cauchy,pro-priedades ela integral, te ore ma da in tegrabílidade
44. Conteúdo e a Integral,377
Conjuntos com conteúdo, caracterização da função conteúdo, outras propriedades da integral, teorema do valor médio, integrais iteradas 45. Transformações de
Conjuntos
e Integrais,390Imagens de conjuntos com conteúdo por aplicações C1
,
transforma-ções
por aplicações lineares, transformações por
aplicações não· lineares, teorema do jacobiano, teorema da mudança de variáveis,coordenadas polares e esféricas, forma forte do teorema da mudança de variáveis
REFERÊNCIAS, 407
SUGESTÓES PARA EXERCÍClOS SELECIONADOS,409 ÍNDICE ANALfTICO, 423
!
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PREFÁCIO
Até algum tempo atrás, exigia-se do estudante de matemática a técnica na resolução
de problemas e no manejo do cálculo, sem, entretanto, se dar ênfase a "sutilezas teóricas"
tais como convergência uniforme e continuidades uniforme. Pressupunha-se a aplicação do
teorema da função hnplícita sem o conhecimento de suas hipóteses básicas. Essa situação
se
modificou~hoje considera-se indispensável que todo estudante de matemática - seja ele
um futuro matemático ou um técnico em computação, ou físico, ou engenheíro, ou eco·
nomista - assimile o aspecto teórico fundamental do assunto, de modo a compreender
não só o alcance, como as limitações da teoria geral.
Este Hvro. é o resultado de minha experiência no ensino de análise real na
Universi-dade de Illinois desde 1955. Minhas turmas variaram de calouros excepcionalmente bem
preparados a estudantes de pós-graduação. A maioría deles não era constituída de bacha·
réis em matemática, mas havia estudado pelo menos três semestres de cálculo, inclusive
derivadas parciais, integrais múltiplas, integrais curvilíneas e séries infinitas. A fim de pre·
parar
o
terreno para
o
presente curso, em que
se
demonstram
teoremas de
caráter analíti·
co, seria conveniente que todo estudante tivesse cursado um semestre de álgebra linear ou
álgebra moderna. Como; entretanto, isto nem sempre ocorre, resolvi preceder o estudo da
análise por algumas demonstrações
algébricas.
Nesta edição, as propriedades algébricas e de ordem do sistema de
n~merosreais são
introduzjdas de maneira mais simples do que na primeira edição. Introduzem-se, além
dis-so, na seção 8, as definições de espaço vetorial e espaço normado -de aplicação freqüen·
te na matemática moderna. Por outro lado, diversas seções foram reduzidas, de forma não
só a
tornar
o
livro mais acessível, como para
permitir maior
flexibilidade
em sua
utilização
como livro-texto. Muitos exercícios e projetos novos foram íncluídos, muito embora não
nos tenhamos afastado do nível de sofisticação da primeira edição. Na primeíra seção fo·
raro feitas apenas modificações de pequena monta. Quanto à diferenciação e à integração
em
Jl.P;entretanto,
a
experíência mostrou
que seu
estudo ficou demasiadamente
abrevia-do na primeira edição. Assim é que, nesta edição, resolvi condensar a teoria das funções
de uma variável em um único capítulo, desenvolvendo consideravelmente o tratamento
das funções de várias variáveis.
Nas seções 1 a 3 introduzimos a terminologia e a notação da teoria dos conjuntos
empregadas subseqüentemente, bem como alguns conceitos básicos.
Épreciso notar, en·
tretanto, que essas seções
nãoconstituem uma apresentação sistemática da teoria dos
con-juntos (apresentação, de resto, desnecessária nesta altura dos acontecimentos). Essas
se-ções devem ser estudadas rapidamente, para consulta posterior, quando necessário. O tex·
to começa efetivamente na seção 4; a seção 6 introduz a "análise''.
Épossível estudar em
um semestre as seções 4 a 12, 14 a 17
>20 a 24.1 e a maior parte de 27 a 31. O professor
poderá introduzir alguns outros tópicos (tais como séries) em troca da redução (ou
mes-13
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I ' " l Imo omissão) de resultados que não são essenciais para o estudo ulterior. Como o livro, em sua totalidade, contém maís tópicos do que os que poderiam ser normalmente estudados em um ano, o professor provavelmente limítará a discussão de algumas seções. É, entre-tanto, conveniente que o estudante disponha desse material adicional para referência futu-ra. A maioria dos tópicos abordados em cursos de "cálculo avançado" é tratada aqui; a principal exceção são as integrais curvilínea.'> e de superfícies e o teorema de Stokes; este assunto foi excluído porque um estudo intuitivo pertence mais propriamente aos cursos de cálculo, ao passo que o estudo rigoroso exigíria discussão bastante extensa para atender
a sua finalidade.
O díagrama abaixo indica a dependência lógica das diversas seções do livro. Uma
li-nha cheia indica dependência direta da seção precedente; uma lili-nha tracejada indica de-pendência mais fraca. Todas as definíções, teoremas, corolários, lemas são nUlnerados de acordo com o número da seção. Sempre que apropriado, associei nomes aos teoremas mais írnportantes. As demonstrações
são
iníciadas pela palavra "DEMONSTRAÇÃO" eterminam com a expressão «Q.
E.
D!' (quod erat demonstrandum).Não se pode subestimar a grande importância dos
exercícíos
e projetos; só mediante sér:io e concentrado esforço na sua resolução é que o estudante poderá domínar o assunto. Os projetos desenvolvem um tópico específico em uma seqüência de exercícios e consti-tuem característica partícularmente valiosa do livro; esperamos que eles contribuam para íncutír no estudante o sentido de prazer na realização de pesquisas matemáticas .39, 4(), 41 14 Seções 4 a 10 14. 15, 16 1 l
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INa confecção deste
livro~fui influenciado não só pela minha experiência didática)
como por várias outras fontes. Foram
extremamente
benéficas
as
discussões
com
colegas e
estudantes~
e desde o
aparecimento
da primeira edíção mantive extensa
correspondência
com
estudantes
e
professores
de_
outras universidades·
e
instituições. Agradeço
a
todos
quantos ofereceram comentários e sugestões. Seu 'interesse em melhorar o livro encorajou·
me a
empreender a revisão. Os professores K. W.
Anderson,
W. G. Bade e A.
L.
Peressíni
leram o manuscrito da
primeira ediçao
e
fiz.eram
interessantes sugestões. Agradeço
parti-cularmente
ao
meu colega
Prof. B. C. Bemdt por seus extensos e incisivos comentários e
sugestões. Sou grato
ainda a
Carolyn
J.
Bloemker por sua paciência e zelo na datilografia
do
manuscrito revisado.
Finalmente~fica aqui minha apreciação pela assístência e
coope-ração do pessoal da
Wiley.
Robert G. Bartle
' .
INTRODUÇAO
UM ESBOÇO DA TEORIA
DOS CONJUNTOS
A idéia de conjunto é básica em toda a matemática, e todos os objetos e constru-ções matemáticas recaem, em última análise, na teoria dos conjuntos. Diante da impor· tâncía fundamental dessa teoria, apresentaremos
a
seguir um resumo das noções teóricas correspondentes, que serão usadas com freqüênCia no texto. Mas o objetivo deste livro é apresentar os elementos (e não os fundamentos) da análise real, o que nos leva a adotarum ponto de vista assaz pragmático. Contentar-nos-emas, poís, com uma discussão infor-mal e encararemos a palavra "conjunto" corno entendida por si mesma e sinônima de "classe", «coleção", "agregado". Não pretendemos definir tais termos, nem tampouco apresentar uma lista de axiomas da teoria dos conjuntos. O leitor dotado de maior grau de sofisticação, que não se satisfizer com nosso desenvolvimento informal, deverá consultar as obras constantes da bibliografia no fim do texto. Ali ele verá como o assunto pode ser colocado em bases axiomáticas e constatará que essa axiomatização constitui importante instrumento para os fundamentos da matemática. Esses detalhes, entretanto, não nos preocuparão, pois os consideramos fora do âmbito do presente livro.
Recomendamos ao leitor uma leitura rápida desta introdução, a fim de assimilar a notação que utilizaremos. Ao contrário dos outros capítulos, que devem ser estudados, a
presente introdução deve ser considerada como matéria básica. O leitor não deve despen-der muito tempo nela.
SEÇÃO 1 A ÁLGEBRA DOS CONJUNTOS
Se
A
denota um conjunto ex é um elemento, costuma·se escreverxEA
corno abreviação da afirmação de que
x
é um elemento de A, oux
é um membro do con·junto A, ou que o conjunto A contém o elemento
x,
ou quex
pertence a A. Não nos de te•·remos mais nesta propriedade de "ser um elemento de um conjunto". Para a maior parte dos casos é possível utilizar o significado empírico da expressão "membro", sem necessi-dade de recorrer à caracterização axiomática.
Se A é um corüunto ex é um elemento que não pertence a A, escrevemos
xEl:A.
De acordo com nossa concepção intuitiva de conjunto, exigiremos que se verifique apenas uma das duas possibilidades, para um elemento
:x:
e um conjunto A:X EA, xft:A. 16
í
' " " ' '· ''
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I
' •. " ... ; ~·:Se
A
e
B
são dois conjuntos ex é um elemento, então
há,
em princípio, quatro
pos-sibílídades (c
f.
Figura L 1):
(1) XEA (3)xe
A
e
exeB;
xeB;
'(2)
X.f:
A(4)
X~A
e
X~B·
)e
xe
B.
Se
a segunda
hípótese
não pode
ocorrer
(isto
é,se todo elemento
de
A
étambém
elemen·
to
de
B),
então dizemos que
A está contido em B,
ou
que B contém A, ou que
!i
ésub-conjunto
de B,
e
escrevemos
ou
B
2A.
Se
A S: B
e existe pelo menos um elemento em
B
que não está em
A,
dizemos que
A
ésubconjunto próprio de B.
Note-se
que a
afirmação
A
ç:
B
não
excluí
automaticamente
a
possibilidade
de A
exaurir
B.
Quando
tal ocorre, os conjuntos
A
e
B
se dizem
iguais,
no sentido que
passa-mos a definir.
1.1 Definição. Dois conjuntos são iguais se contêm os mesmos elementos. Se os
con-juntos A e B são iguais, escrevemos A
=
B.
Figura 1.1
(4)
Assim, para provar que os conjuntos A e
B
são iguais, devemos mostrar que as hipó·
teses
(2)
e
(3)
não podem ocorrer, ou, equivalentemente, que
A
ÇB
e
B ÇA.
A palavra "propriedade" não
éfácil de se defin1r com prect$àO. Todavia, não
hesita-remos em usá-la na acepção usual (informal). Se
P
denota uma propriedade válida para
uma coleção de elementos, então escrevemos
{x: P(x)}
pf~.ra
denotar o
conjunto de todos
os elementos
x
para
os quais é válida aquela
proprieda-de~
lê-se: "O conjunto de todos os
x
tais que
P(x)".
Em geral
éconveniente especificar
que elementos estamos estudando quanto
à
propriedade
P.
Assim é que escreveremos
{x
ES: P(x)}
para designar o subconjunto de S para os quaisP é válída.
Exemplo. (a) Se N
=
{1, 2, 3, ...
}denota
o conjunto
dos
números naturais, então o
conjunto
{x
EN:
x
2 -3x
+
2 =O}
consiste dos números naturais que verificam a equação dada. Mas as únicas
sótuções
da
equação quadrática
x
2 -3x
+
2 =O são
x
=
1 e
x
=
2. Logo, em lugar de escrever a
ex.-17
\ ; \(
(
I, í '·· ; I \ '(
f \ /' \ / \ '· I \ ' ( \(
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{ ' '(
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' I I .!I
!
I
pressão acima
Gá
que temos informação detalhada quanto aos elementos do conjunto emestudo), denotaremos tal conjunto por
{1, 2},
relacionando, assim, ou listando, seus ele-mentos ..(b) Por vezes é possível utilízar uma fórmula para abrevíar a descrição de um con-junto.
O
conjunto de todos os naturais pares, por exemplo, pode ser escrito { 2x : x E N},em lugar de{
y
E N :y
:::::
2x, x E N }.(c) O conjunto { x E
N:
6<
x<
9} pode representar-se explicitamente por { 7, 8 },exibindo-se, assim, os elementos do conjunto. Naturalmente, há outras maneiras de des-crever o mesmo conjunto; por exemplo:
{xEN:40<x2<80},
{x E N: x2 -15x +56= 0},
{7 +X :X
=
0
OU X ""'1}-(d) Além do conjunto dos números naturais {que consiste dos elementos denotados por 1, 2, 3, ... ), que será sistematicamente denotado por N, há alguns outros conjuntos
para os quais introduziremos uma notação-padrao. O conjunto dos inteiros é
Z ={O, 1, -1, 2, -2, 3, -3, ... }.
O conjunto dos números racionais é
Q
= {m/n : m. n EZ
e
n;:éO}.
Consideraremos os conjuntos
N,
Z e Q como entendidos por si mesmos, e não nosdetere-mos no estudo de suas propriedades.
De importância fundamental para nosso estudo ulterior é o conjunto
R
de todos osnúmeros reais, que será estudado nas seções 4 -6. Subconjunto especial de
R
é o intervalounitário
J::::::{xeR:O<xs; 1}.
Finalmente, denotaremos por C o conjunto dos números complexos. Na seção 13 dare·
mos uma definição mais detalhada de C, bem como uma rápida descrição de suas
proprie-dades.
OPERAÇÕES COM CONJUNfOS
Introduziremos agora alguns métodos de construção de novos conjuntos, a partir de conjuntos dados.
1.2 Definição. Se A e B são conjuntos, sua interseção é o conjunto de todos os ele-mentos que pertencem a A e a B. Denotaremos essa interseção pelo símbolo A 11 B, que
se lê "A interseção B". (Cf. Figura 1.2.)
1.3 Definição. Se
A
eB
são conjuntos, sua união é o conjunto de todos os elemen-tos que pertencem a A,ou
a B, ou a ambos. Denotaremos a união pelo símbolo Au
B,que se lê
"A
uniãoB''.
(Cf. Figura 1.2.)18
Poderíamos também definir A
n
B e A U B porA
n
B = {x:x
E A ex
E BL AUB={x:xEA ou xEB}. 1 ' 1 II
I
' i \l
'i
Quanto à última,
é
importante notar que a palavra '"ou" é
ali
usada no sentido inClusivo,
habitual na matemática e na lógica. Na terminologia legal, este sentido inclusivo
é
às vezes
índicado por "e/ou".
Admitimos tacitamelilte que a interseção e a uníão dé .. conjuntos são também conjuntos. Entre outras coísas, isto exige a existência de um conjunto desprovido de elementos (pois se A e 8 não têm elementos em comum, sua interseção não possui elementos).
1.4 Definição. O
.conjunto desprovido de elementos
échamado conjunto
vazio;
de·
nota-se pelo símbolo
(/J.
Se A
e
B são conjuntos que não têm qualquer elemento em co·
mum (isto
é~se A
n
B
=~)~dizemosque A e B são disjuntos.
A U B IIJIDIDlil
Figura 1.2 lntexseção e união de dois conjuntos.
Os
resultados
abaixo
ilustram algumas propriedades algébricas das operações com
conjuntos que
acabamos
de definir. Como as demonstrações dessas asserções
são
rotinei-ras,
deixaremos
a
maior
parte
delascomo exercício.
1.5 Teorema.
Sejam A,
B,
C conjuntos; então
(a)
A
nA
=
A,
A U
A
=
A;
(b)
A
n
B
=
B
nA, A u
B
=
B
U A;
(c)
(A
n
B)
n
C=
A
n
(B
n
C), (A U B) U C=
A
U (B U C);
(d)
A
n
(B
UC)= (A
n
B)
U(An
C))A
U (B
n
C)= (A U B)
n
(A U C).
Essas igualdades costumam designar-se,
respectivamente,
como
propriedades
idem-potente, comutativa, associtltiva
e
distributiva
das operações de interseção e união de
conjuntos.
Como ílustração, demonstraremos a primeira equação de (d). Sejax um elemento de A n (Bu C), então
x
E A ex
E B U C. Isto sígnifica quex
E A, e oux
E B oux
E C. Logo, temos ou (i)x
E A eX E 8, ou (Ü)
x
E A ex E C. Portanto, oux
E A n B oux
E.A fi C, de modo quex
E (A 11 8} U (An
().Isto mostra que A
n
(B u C) é subconjunto de (A n 8) u {An
C).Reciprocamente, seja y elemento de (A
n
8)u
(An
C). ~ntão, ou (iii) y E An
B, ou {i v)y EA í'l C. Segue-se que y EA, e ou y E 8 ou y E C Portanto, y EA e y EB U C de modo que
y E A () (B
u
C). Logo, (An
8)u
(An
C) é subconjunto de A () (8u
C). Em vista da Definição Ll, concluímos que os conjuntos A () (Bu
C) e (A n B)u
(A n C) são iguais.Como indicação de um método alternativo, notemos que há, em princípio, um total de 8(=2~) possibilidades para um elemento x em relação a três conjuntos A, B, C (cf. Figura 1.3):
. ;. I t : ' ' (1) X E A,;( E B, X E C; (2) x E A, X E B,
us
C; (3) X E A, X >É B, X E C; (4) xeA, xeB, :xéC; {5) xeAxEB,xEC;(6)
xí/1A,xeB,xí/1C; (7) xé A, xí/1 B, x e C;(8)
xe4-,
xí/1 B,:xe
CA demonstração consiste em mostrar que ambos os membros da prímeira equação de (d) con-têm aqueles, e somente aqueles, elementos x que pertencem aos casos (1), (2) ou (3).
Em vista das relações no Teorema 1.5( c), costumamos orni tir os parênteses, escre~
vendo simplesmente
AnBnc,
AUBUC.B
possível mostrar que, se{A
1 , A 2 , ••• , An} é uma coleção de conjuntos, então existeum único conjunto A que consiste de todos os elementos que pertencem a ao menos um
dos conjuntos Ahj
=
1, 2, ... , n; e existe um único conjunto B que consiste de todos oselementos que pertencem
a
todos os conjuntos Ai>i=
1, 2,. , . , n. Omitindo os parênte· ses, escrevemosB = A 1
n
A2n · · ·
(l A ...Figura 1.3
Às vezes, para economizar espaço, imitamos a notação de somatório utilizada no cálculo, utilizando uma notação mais condensada, corno
" A=
U
Aí= U{Ai :j = 1, 2, ... ,n},
j ;..;- 1 "B
;::;=n
Ai=
n {
A1 : j = 1, 2, ... , n}. i"' IAnal~amente, se para cada j em um conjunto
1
existe um conjuntoAi;
entãou{A
i :j EJ
denota o conjunto de todos os elementos que pertencem a ao menos um dosconjuntos i· Da·mesma forma
n{Ai
:jEJ}
denotao
conjunto de todos os elementos quepertencem a todos
os
conjuntosAi
para
j EJ.Introduzimos agora outro processo de construção de um novo conjunto a partir de dois conjUntos dados.
1.6 Definição. Se A e B são conjuntos, então o complemento deB em relação a A é o conjunto de todos os elementos de A que não pertencem a B. Denotamos tal conjunto por A\ B (leia-se "A menos B"); alguns autores usam também a notação A - B, ou A ,... B.
(CL Fígura 1.4.)
20
'
'
•
'
'
Com a notação introduzida acima, temos
A\ B
=
{x
EA:
x
e
B}.
Por vezes
o conjunto
A
já
estásubentendido, não havendo necessidade de
mencioná-loexplicitamente. Em tais
casos, referimo-nos simplesmente
ao complemento de B edenota-mos
A\ Bpor
í!!?(B).Voltando
à Figura Ll, notamos que os elementos x que verificam
(1)
pertencem a
A
n
B;
osque verificam
(2) pertencem aA\ B;
e os que verificam (3) pertencem aB\ A.
Mostremos que
A
é aunião dos conjuntos
A
n
B
eA\ B.
Figura 1.4 O complemento relativo.
A'\.B
1.7
Teorema.
Os conjuntos A
nB e A \B são disjuntos e
A
=
(A
n
B)
u
(A \ B).
Demonstração.
Suponhamos que XEA
ns
e XEA \
B.
A
última asserçãonos
dizque x
EA
ex
f::$)
o que
contradiz
a relação x
E
A
n
B.
Logo, os conjuntos são disjuntos.
Se
x
EA, então oux
EB oux
1/:.B.
No primeiro caso,x
EA ex EBde
modo queX
EA
ns.
Na
últimasituaçao,
XEA e
Xé.B
de modo que
X EA \B.
Isto mostra
queA
é
subconjunto de
(A
n
B)
U(A \B).
Reciprocamente,
se
y
E
(A
n
B) U
(A\ B),
entãoou
y E
A
n
B,
ou
y EA\ B.
Em
qualquer
caso,
temosque
y EA,
o
que
mostra
que(A
nB) U
(A \B)
ésubconjunto
deA.
.
Q.E.D.Enunciaremos
agora as
leis de De Morgan 1 relativasa
três conjuntos; nosexercícios
proporemos uma
formulaçãomais geraL
1.8 Teorema.
Sejam A. B, Cconjuntos
quaisquer;então
A
\(BUC)=(A \B)n(A \C),
A
\(BnC)=(A \B)U(A \C) .
.Demonstração.
Demonstraremosa primeira relação, deixando a
segundacorno exer·
cício. Para estabelecer a igualdade
dos conjuntos, mostraremosque todo
elementode
A\ (B
UC..)
estátanto em
(A
\
B)
como
em(A\ C)
ereciprocamente.
Se x
estáem
A\ (B
UC),
entãox
estáem
A
mas x
nãoestá em
B
UC.
Logo, x está
em
A,
mas não está nem em
B
nem em
C.
(Por quê?) Portanto,
xestá em
A
mas não está
em
B,
ex
está em
A
masnão está em
C.
Isto
é,
x
E
A\ B
ex
EA
\C,
o que mostra que
x
E(A
\
B)
n
(A
\
C).
1 Augustus De Morgan (l806-1873) lecionou no University College, Londres. Foi matemático e
lógico, e contribuiu para preparar o camil1ho da lógica matemática moderna.
21 ( \ \
'
< { \(
i ' { ' l i \. ( ' ( \,l
(
(
f
' . ' ( ' \(
í \ '· / \(
·'(
( ·., { '· ' . I (.
\ ',•'
..
' \I .
L l ' I . . I /l
I l LJ
.I: ! ! ' I lReciprocamente, se
x
E(A \
B)n
(A
\
C), entãox
E (A \ B)ex
E (A\ C). Assim,x
EAex
f!:..B
ex<t:.C.
Segue-se quex EA ex
Ê(B U C); de modo que tx
EA \ (B U C).Corno os conjuntos (A\ B)
n
(A\ C) e A\ (Bu
C) contêm os mesmos elementos,são iguais, pela Definição 1.1. Q.E.D.
PRODUTO
CARTESIANO
Definiremos agora o produto cartesiano2 de dois conjuntos.
1.9 Definição. Se A e B são dois conjuntos não-vazios, ent~o o prqduto cartesiano
A
xB
deA
eB
é o conjunto de todos os pares ordenados (a,b
),
com a EA eb
EB. (Cf .Figura 1.5.) B b r---
1
(a, b) l I I:
AxBFigura 1.5 O produto cartesiano.
A
(A definíçâo que acabamos de dar é um tanto informal, já que não definimos prevíamente o que
é um "para ordenado". Sem e.ntrar em maiores detalhes, diremos '}Penas que o par ordenado (a, b)
- poderia ser definido como o conjunto cujos únicos elementos são{a}ta, b}. Pode-se então mostrar que os pares ordenados (a, b) e (a', b') são iguais sé e somente se a =a' e b
=
b'. Esta é a propriedade fundamental dos pares ordenados.)Assim, se A ={1, 2,
3le
B={4,
s},
então o conjunto A xB é o conjunto cujosele-mentos são os pares ordenados
(1' 4),
(1'
5), (2, 4 ), (2, 5), (3, 4), (3, 5).Podemos visualizar o conjunto A x B como o conjunto de seis pontos do plano com as co-ordenadas que acabamos de relacionar.
. Costuma-se desenhar um díagrama (tal como o da Figura 1 .5) para indicar o produ-to cartesiano de dois conjunprodu-tos A, B. Não se deve, entretanto, perder de vista que um tal
diagrama pode ser algo sim:Rlificador. Por exemplo, se A
= {
x
ER
:
1<
x
<
2} e B ={x ER:
O<
x
<
1 ou 2<
x
<
3}, então, em lugar de um retângulo, devemos desenhar umafi.
gura corno a 1.6.
Renê Descartes (1596-1650), criador da geometria analítica, foi um nobre francês, soldado, matemático, e um dos maiores filósofos de todos os tempos. ·
22
·-,_
3 2
AxB
1
Figura 1.6 O produto cartesiano.
1 2
EXERCÍCIOS
LA. Faça um diagrama para representar cada um dos conjuntos mencionados no Teorema 1.5. l.B. Demonstre a parte (c)'do Teorema 1.5.
l.C. Demonstre a segunda parte de (d) do Teorema 1.5.
LD. ProvequeA C.BseesomenteseA nB=A.
l.E. Mostre que o conjunto D de todos os elementos que pertencem a A, ou a8, mas não a
ambos, é dado por
D={A \B)U(B\A).
Este conjunto D costuma chamar-se díferença simétrica de A e B. Represente-o por um diagrama.
l.F. Mostre que a diferença simétrica, definida no exercícío precedente, ta:mbém pode ser da~
da por D =(A
u
8) \ (An
8).LG. Se B CA, mostre que B =-A\ (A\ 8).
l.H. Se A e 8 são conjuntos quaisquer, mostre que A n B =A \(A\ 8).
LI. Se{A 1 , A1 , ••• , A11
}é
uma coleção de conjuntos, e se E é um conjunto arbitrário,mos~
tre que
"
..
..
"E
n
U
A1 =U
(En
Aí),E
UU
A1=
U
(E U A1}.j ~I j - ! I~~ ~-~
LJ.
se{
A 1 , A1 , ••• , An} é uma coleção de conjuntos, e se E é um conjunto arbitrário,mos~
tre que
~ ' " "
E n
n
A1 =n
(E nA1), EUn
Aí=n
(E U A1).j ... ' ; - 1 j-l i .. i
l.K. Sejam
E
um conjunto etA
1 ,A1 , ••• )An}
uma coleção de conjuntos. Estabeleça as leis de De Morgan: " ft " "E'
n
AI =u
(E\
AI), i-t i .. 1 E \U
A1=
n
(E\ Ai). 1~ I 1~ INote~e que, se denotamos E\Ai por1tf'{Aj), estas relações tomam a forma
'l :r ) I 'i . I t i ! ' : 'I ! I, • I' l '
L L. Seja J um conjunto arbitrário e, para cada j E J, seja A i contido em X. Mostre que
'C(n{A/ :j eJ}) = U{<€(A,):j EJ},
~<U{Ai :j eJ}) = nf~<AI):j e J}. 1. M. Se B 1 e Bz são subconjuntos de B e se B
=
B 1 u B~ , entãoSEÇÃO 2 FUNÇÕES
Passaremos agora à discussão da noção fundamental de função, ou aplicação. Vere· mos que uma função é um tipo·especial de conjunto, embora haja outros enfoques mais sugestivos. Todas as seções ulteriores do livro tratarão de vários tipos de função que, en· tretanto, serão de natureza menos abstrata do que os tipos estudados nesta introdução.
Para o matemático de há um século passado, a palavra "função" significava em geral uma fónnula definida, como
f(x) =x2
+
3x- 5,que associava
a
cada número real x outro número real f(x). Já era conhecido, naturalmen~te, o fato que certas fórmulas, como
g(x) =
.Jx-
5,
não originavam números reais para todos os valores reais de
x,
mais isto não era considera·do razão suficiente para exigir uma extensão do conceito de função. Provavehnente pode ter surgido controvérsia entre os matemáticos sobre se o valor absoluto
h(x)=lxl
de um número real era uma "função honesta" ou não; pois, afmal, a definição de
!xl
éda-da "em partes" por
Jx
I
= {
x,
-x,
se
x
>O,se
x
<0.Com o desenvolvimento da matemática, tomou~se cada vez mais claro que a simples
exigência de que uma função fosse uma fórmula era extremamente restritiva, sendo neces· sária uma definição mais geral. Tomou-se também evidente a necessidade de fazer uma distinção nítida entre a função em si e os valores da função. Não será culpa do leitor se, a esta altura, "ele se encontrar na posição do matemático de um século atrás. Assim é que nos propomos atualizá·lo, mas o faremos em duas etapas. Nossa primeira defmiç:ão revisa-da de função seria:
Uma função
f
de um conjuntoA
em um conjuntoB
é uma regra de correspondênciaque a cada
x
de certo subconjunto D de A assocía um único e bem determinado elementof(x) de B.
Sem dúvida, as fónnulas explícitas do tipo mencionado acima estão incluídas nesta tentativa de definição. A definição proposta permite que uma função não seja definida para certos elementos de A, bem como da margem à consideração de funções para as
24
quais os conjuntos
A
eB
não são necessariamente constituídos de números reais {poden-do mesmo ser mesas e cadeiras- ou gatos e cachorros).Todavia, por
mais sugestiva
quea
definição proposta possaser> ela
tem um deteito sério: não é clara. Permanece a dificuldade de interpretação da frase "regra de correspon-dência". Sem dúvida o leitor pode cogitar de outras expressões que o satisfaçam mehor do que aquela, mas não é muito provável que consíga dissipar inteiramente a dúvida. A so· lução mais satisfatória se afigura definir "função" inteiramente em tennos de conjuntos edas
noçõesintroduzidas na
seção precedente. Apesar da desvantagem de tal definição ser mais artificial e perder algo do conteúdo intuitivo da descrição anterior, ela ganha em cla-reza.A idéia-chave
é
cogitardo
gráfico da função: istoé,
uma coleção de pares ordena-dos. Notemos, de início, que uma coleção arbitrária de pares ordenados não pode ser o gráfico de uma função, pois, uma vez escolhido o primeiro membro do par, o segundoes-tá
univocamente deterrninado.2.1 Definição. Sejam
A
eB
conjuntos (não necessariamente distintos). Uma função deA
paraB
é
um conjuntof
de pares ordenados emA
xB
com a pmpríedade de que, se (a,b)
e(a.
b')
são elementos def,
entãob
=
b'.
O
conjunto de todos os elementos deA
que podem ocorrer como primeiros membros de el~inentos em/
é
chamado domínio def
e será denotado por
D(j).
O conjunto de todos os elementos deB
que podem ocorrer co-mo segundos membros dos elementos def
é
chamadocontradomínio
def
(ouconjwtto
de valores de
f)
e será denotado porR
(f).
SeD
(f)
=A,
costuma-se dizer que /levaA
emB,
ou quef
é uma aplicação deA
emB,
e se escreve f:A
_,.
B.
Se
(a,
b) é
elemento de uma função f> costuma-se escreverb
=
f(a)
ouf:ar--:>b
r---~· R (f) f (a., b)~
I
1_1:
=-=---=r-.::.::
=
-=-=- ---:
:
BI
I
I
I
Figura 2.1 Uma ftwçio como gráfic<).
em lugar de
(a,
b) >.:::.f. Designaremos freqüentemente o elementob
como o valor de/no pontoa,
ou como a imagem dea
pelaf
25
.-\ {' i ,.,-.
' '-( ' " I, ' < -' ( i ' f I ' ! ' ( \ '(
('
( ' ' ' ' ( ./ '-J ( I ' I\
(
(
'( t 'l(
I ? ' ' \ I'
I t ( -, ' 'f
(
I \ • \. -; \(
j f ' ( \ ' ; ( / ' ( \REPRESENTAÇÃO TABULAR
Uma forma de encarar uma função é como um gráfico. Outro enfoque importante e largamente usado é encará-la como uma tabela. Consideremos a Tabela 2.1, que pode ser encontrada em qualquer jornal esportivo.
O domínio da função
f
de lances, ou jogadas, consiste dos nove jogadoresD(f) = {Anderson, Bade, Bateman, Hochschlld, Kakutani, Kovalevsky, Osbom,
Peressini, Rosenberg},
enquanto que o contradomínio da função consiste dos seis números
R
(f)={o,
1, 2, 4,s,
s}.
Os elementos da função são os pares ordenados
(Anderson, 2), (Base, 0), (Bateman, 5)
(Hochschild, 1 ), (Kakutani, 4 ), (Kovalevsky, 8) (Osbom, O), (Peressiní, 2), (Rosenberg, 4).
Em tais representações tabulares, costumamos escrever apenas o domínio da função na coluna da esquerda (pois não há necessidade de mencionar os membros do time que não jogaram). Podemos então dizer que o valor da nossa função
f
em Anderson é 2,escreven-do f(Anderson)
=
2, ou Anderson H- 2, etc.Sem dúvida, estamos todos familiarizados com a utílização de tais tabelas para obter
informação. São importantes exemplos de funções, cuja natureza dificilmente se expressa-ria em termos de uma fórmula.
Tabela 2.1 Jogador lAnces Anderson 2 Bade
o
Bateman 5 Hochschild 1 Kakutani 4 Kovalevsky 8 Osborno
Peressiní 2 Rosenberg 4 fFigura 2.2 Uma função como transformação.
26
I
j
t
TRANSFOIL.\1AÇÕES E
MÁQUINAS
Há outra maneira de encarar uma função·: como uma
transformação
de parte de um
conjunto A em parte de um conjunto B.
Em
tal fraseología, quando
(a,
b)
E/,
cogitamos
de
f
como tomando o
elemento
a
do subconjunto
D(f)
de
A
e
"transformando-o~'.ou
Haplicando-o" em um elemento
b
=
f(a) do subconjunto
R
(f) de
B.
Costuma-se então
fa-zer um díagrama como o da Figura 2.2. Tal representação geométrica de uma função
éde
uso freqüente, mesmo quando os conjuntos
A
e
B
não são subconjuntos do plano.
Ainda outra maneira de visualizar uma função: como uma
máquina
que aceita ele·
mentos de D{f) como entradas e produz elementos correspondentes de R
(f) como saída.
Se tomarmos um elemento
x
de
D(f)
e
o colocarmos
em{,
obteremos na saída o valor
correspondente
f(x).
Se colocarmos como entrada um elemento diferente
y
de D(j),
ob-teremos na saída
f(y)
(que poderá ou não diferir
def(x)). Se procurarmos inserir em
f
al-go que não pertença a
D(f)~veremos que
tal
elemento não será aceito, pois
f
pode operar
somente sobre elementos que pertençam
aD(f).
(Cf. Fígura 2.3.)
f
Figura 2.3 Uma f•..tnção como máquina.
t
f(x)
Esta última forma de encarar
uma
função toma clara a distinção entre
f
e
f(x):
a
primeira
é
a
máquína,
a
segunda é
o elemento
que
sai da
máquína quando nela
introduzi-mos
x.
Certamente é
útil,
e mesmo necessáríot distinguir entre uma máquina e o que ela
produz. Ninguém confundiria um moedor de carne com carne moída; não obstante> não
poucas
pe~soastêm feito confusão entre funções e seus valores, de modo que nos senti·
mos justificados em procurar
estabe!~cera distinção do ponto de vista da notação.
RESTRIÇÕES E EXTENSÕES DE FUNÇÕES
Se
f
é urna função com domínio
D(J)
e
D
1 éum subconjunto de
D(f),
é útil definir·
mos uma nova função /
1com domínio D
1por [
1(x)
=
f(x)
para todo
x
ED
1 .Esta
fun-ção /
1é chamada a
restrição
de
f
ao conjunto D
1 •Em termos da Definição 2.2, temos
f~
={(a, b)Ef:a
eD~}.Por vezes escrevemos [
1=f
I
D
1para denotar a restrição da função
f
ao conjunto
D
1 . ,Construção análoga (que se afigura menos artificíal)
é a notação de "extensão". Se
g é
uma função com domínio
D(g)e
D2.d
D(g),então qualquer função
g2com domínio
D
2 ,tal
que g
2(.."t) =g(x) para todo
x
E
D(g),
échamada uma
extensão de gao conjunto
D'}..
.
' f ; l i l h
jl
I
lI
i I,,
i ' i II
!
' ' ' /COMPOSIÇÃO DE FUNÇÕES
Desejamos agora "compor" duas funções, aplicando primeiro
f
a cadax
em D(f) eem seguida aplicando g a f(x), sempre que isto seja possível (isto é, desde que f(x)
per-tença
a
D(g)).Faz-se
então necessário certo cuidadoquanto ao domínio da função resul·
tante. Por exemplo, sef
é defmida em R por f(x) =x3 e g é definida para x2:
O porg (x) =
.JX,
então a composição g of
só pode ser defuüda parax
2:
O, e para essesnúme--ros reais ela deve ter o valor
..JXl_
2.2 Definição. Seja
f
uma função com domínio D(f) em A e contradomínio R(f)em B, e seja g uma função com domínio D(g) em B e contradomínio R (g) em C. (Cf. fi. gura 2.4.) A composição g o
f
(observe a ordem!) é a função de A em C dada porgof={(a,c)EA
xC:existe umelementobEB
tal que (a, b)
E/e
(b, c)Eg}.
2.3 Teorema.
Se
f e g são funções, a composição g of
é uma função com!IIlliillJ])
D(g,f)D(g o f)= {x E D(f) :f(x) E D(g)},
R (g o f)= {g(f(x)): x E D(g o f)}.
g
f
Figura 2A Composição de funções.
2.4 Exemplos. (a) Sejam f, g funções cujos valores para
x
real são os números reaisdados por3 ·
f(x)=2x, g(x)=3x2 -1.
Como D(g) é o conjunto R de todos os reais e R (f) ç;,D(g), o domínio D(g o f) é também
R e gof(x)=3(2x)2
-1<=12x2 -1. Por outro lado, D(jog)=R, mas fog(x)=
2(3x
2 -1)=6x2-2.
(b) Se h é a função com D (h)
={
x
E R :x
:;?: 1} definida porh(x)=.Jx-1.
Costuma-se escrever também f: x ...,. 2x e g : x - 3xl - 1 para x E R.
28
1
f
e
se
f
é tal como na parte (a), então
D(hoJ)={xER:2x2:1}={xER:x~f}e
h
of(x)
=
y2x- L Outrossim,
D(fo
h)
={x
ER
:x
2.:
1} e
f
oh(x}
=
2yrx=l. Se
gé
a
função da parte (a), então
D(hog)={xER:3x
2-l>I}={xER:xs-.J-f
ou
x
2.:
.J.f}e
h
og(x)
=
V3x
2 -2. TambémD(g<> h) ={x ER :x
2.:
lf
ego
h(x)
=
3x-4.
(Note-se que a fórmula que exprime
g o htem sígnificado para valores de x outros que
.não os
dodomínio
deg <>h.)
(c) Sejam F, G funções com domínios D(F) ={x ER :x
2.:
o},
D (G) =R, tais que
os
valores de
F
e
G
no ponto x de seus domínios sejam
.
F(x) =
..fX~G(x)
=
-x
2 - l .Então D(GoF)={xER:x2.:0te GoF(x)=-x-1, enquanto que D(FoG)={xE
D(G): G(x)
ED(t)l
Este
últímo conjunto é vazio, pois
G(x)
<O
para todo
x
ED(G).
Logo, a
função
F
oG
não
é definida em nenhum ponto, ou seja,
F
oG
éa
"~unçãovazia".
FUNÇÕES INJETIVA E INVERSA
Daremos
~seguira construção de uma nova função a partir de uma função dada, no
caso de a função original não tomar o mesmo valor duas vezes.
2.5 Definição. Seja
f
uma função
com
domínio D(/) em A e contradomínio R
(f)
em B. Dizemos que
f
é injetiva, ou
um~a~um,se, sempre que (a, b) e (a', b) forem
elemen~tos de[, então
a
=
at.
Se
f
é injetiva, podemos dizer que
f
éumá injeção.
Em outras palavras}
f
é
injetiva se e
somente
se as duas relações f(a) =b,f(a')
=
b
implicam
a =.a'.Alternativamente,
f~injetiva
se
e somente
se
quando
ae
a'estão em D(f)
e
a ::f: a',entãof(a)
-=F [(a').Afirmamos que, se
f
é
injetiva de A para B, então o conjunto de pares ordenados em
B
x
Aobtido pela permuta dos primeiros e segundos membros dos pares ordenados em/
origina uma função
gque também
é
injetiva.
Omitimos a demonstração, deixando-a como exercício;
éum bom teste para o
lei-tor.
Asligações entre
f
e
gsão:
D(g) =R(/), R(g) =D(f)
(a,
b)
E/
se e somente se
(b, a)
Eg.
A última afirmação pode ser escrita na forma mais comum
b
=
f(a)
se e somente se
a
=
g(b
).
2.6 Definição. Seja:( uma injeção com domínio D(f) em A e contradomínio R(/)
em B. Se g ={(b,a) EB xA
:
(a,b
)Eft
entãog é uma injeção com
domínio
D(g) =R
(f)
em B e com contradomínio R
(g)=
D(/)
em A. A função
gé chamada função inversa de
f
e se denota por
r-l .
A função inversa pode ser interpretada do
pontode vista da
aplicação.(Cf Figura
2.5.) Se
f
é injetiva, leva elementos distintos de D(f) em elementos distintos de R
(f).
As·
sim, cada