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BANCO DE SEMENTES COMUNITÁRIO EM PROPRIEDADES FAMILIARES VINCULADAS AO PROJETO ESPERANÇA/COOESPERANÇA

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Academic year: 2021

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BANCO DE SEMENTES COMUNITÁRIO EM PROPRIEDADES FAMILIARES VINCULADAS AO PROJETO ESPERANÇA/COOESPERANÇA

Nome da Autora: Isabel Cristina Lourenço da Silva

Nome(s) dos Co-autores/as: Marielen Priscila Kaufmann, Paulo Roberto Dullius, Iana Somavilla, Diogo Beck Franken, Andressa Querubini, Jonatan Maicon Antônio Tonin, Iana Somavilla, Anelise Marta Siegloch, Cássio Alexandre Bertoldo, Thani da Silva Prunzel, Mauricio Trindade Viegas, Gabriela Viero Garcia, Ângelo Paia, Abel Panerai Lopes

Resumo

Este artigo tem por objetivo divulgar o trabalho realizado junto aos grupos de agricultores e agricultoras familiares do Projeto Esperança/Cooesperança que visa o resgate e manutenção de sementes de espécies agrícolas crioulas e florestais nativas junto, além da implementação da gestão social do banco de sementes comunitário. As atividades são executadas pelo Grupo de Agroecologia Terra Sul (GATS), vinculado ao Departamento de Educação Agrícola e Extensão Rural (DEAER) em conjunto com os(as) agricultores(as) familiares envolvidos no projeto. As atividades do projeto constituem-se de visitas a outros bancos de sementes comunitários para conhecer a realidade de outras experiências e suas formas de gestão, reuniões para discussão e sensibilização sobre a importância do resgate e manutenção das sementes de espécies agrícolas crioulas e florestais nativas, espaços de formação em agroecologia e manejo da agrobiodiversidade, diálogo com a comunidade local, entre outros.

Introdução

Desde os primórdios da agricultura, o manejo da diversidade de espécies e da diversidade varietal dos cultivos tem sido um elemento central para a sustentabilidade dos sistemas agrícolas. Os recursos genéticos vegetais, uma herança comum de toda a humanidade há mais de 10.000 anos, foram sendo transformados gradual e crescentemente, a partir do início do século XX, em propriedade de um reduzido grupo de empresas privadas norte-americanas e

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desenvolvimento privado de pesquisa na área, e uma gradativa perda de capacidade de reprodução das próprias sementes pelos agricultores familiares foram algumas das causas da dependência destes às empresas de sementes.

Neste contexto temos que situar a biodiversidade agrícola, as sementes e o material vegetal, fatores de produção indispensáveis a agricultura. Para dispor das sementes os produtores rurais recorrem a diversos sistemas, tanto de conservação como de intercâmbio, mediante compra, troca ou outro. As sementes são resultado de um processo de seleção cultural, a domesticação das mesmas tem sido um feito fundamental na história da humanidade. Dentro das espécies domesticadas, s e passou a desenvolver aquelas variedades mais interessantes para as circunstâncias, características e propósitos concretos. Assim, segundo Vandana Shiva, os campesinos hidus criaram mais de 200.000 variedades de arroz, umas resistentes ao sal para serem cultivadas nas águas costeiras, outras desenvolvendo colmos de até cinco metros e meio de altura para acomodarem nas margens inundáveis dos rios.

Algo parecido se pode citar o caso da América do Sul, com grande quantidade de tipos de batata, que se encontram entre os povos dos Andes, tanto para aproveitar as vantagens do terreno como para fazer um paliativo com os invonvenientes, conseguindo assim atender as necessidades de alimentação.(NARANJO, 2008) O processo de modernização da agricultura introduziu insumos agrícolas e sementes híbridas, que foram incorporadas como práticas modernas para a agricultura no início dos anos 70 com mais intensidade. A utilização das sementes híbridas promoveu uma drástica redução das variedades tradicionais, fazendo com que estas praticamente desaparecessem da região causando o que chamamos de erosão genética. A utilização das sementes melhoradas gerou uma dependência dos agricultores, obrigando-os a adquirir todos os anos no mercado as sementes para fazer as lavouras (CORDEIRO et al, 1993). Essa dependência dos agricultores familiares em relação as sementes híbridas comerciais, motivou na região, com apoio do Projeto Esperança/Cooesperança, famílias de agricultores a desafiarem-se na busca de alternativas para a obtenção de suas próprias sementes diminuindo a dependência e o custo de produção relacionado as sementes.

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Objetivos Gerais:

- Promover o resgate e manutenção de sementes de espécies agrícolas crioulas e florestais nativas junto aos grupos de agricultores e agricultoras familiares do Projeto Esperança/Cooesperança, na região central do Rio Grande do Sul.

- Instituir a gestão social do Banco de Sementes Comunitário.

Objetivos Específicos:

- Fortalecimento das associações de agricultores e agricultoras familiares, já existentes no Projeto Esperança, criando a rede de troca de sementes crioulas e informações referentes ao processo produtivo das mesmas;

- Adequação dos métodos para correta produção e armazenamento das sementes crioulas;

- Promoção de espaços de formação (oficinas, mini-cursos, dias-de-campo…) para agricultores(as), estudantes, técnicos(as) e comunidade em geral;

- Contribuir para o avanço da proposta da agroecologia na região, com a valorização e importância da preservação da agrobiodiversidade local e fortalecimento da organização dos agricultores familiares.

- Conscientizar os agricultores(as) familiares e comunidade em geral sobre a importância da produção da própria semente.

- Propiciar espaços para que os(as) estudantes do Grupo de Agroecologia Terra Sul – GATS – possam realizar atividades práticas em unidades de produção de base ecológica, a fim de consolidar a construção do conhecimento alicerçado pelos princípios da agroecologia.

Caracterização do Problema e Justificativa

A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) têm, vinculado ao Departamento de Educação Agrícola e Extensão Rural (DEAER), o Grupo de Agroecologia Terra Sul (GATS). O GATS, ao longo de sua trajetória, promove e executa vários projetos de ensino, pesquisa e extensão construindo conhecimento para o fortalecimento de práticas ambientais mais sustentáveis.

O Projeto Esperança/Cooesperança pensado e discutido por diversas entidades em conjunto com a Diocese de Santa Maria, entre elas destacando-se a UFSM e a Emater/RS, foi criado em 1987. Desde o início vem construindo, através do

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de cooperativismo autogestionário., embasado nos princípios da Economia Popular Solidária, com alternativas concretas de radicalização da democracia, do desenvolvimento humano e solidário, na preservação dos agroecossistemas trazendo a “reinvenção da economia”, que coloca o humano e o trabalho acima do capital.

Ao longo dos últimos nove anos, desde sua fundação, o GATS desenvolve atividades pautadas na preservação dos agroecossistemas, através de um enfoque participativo, transformando o grupo num referencial teórico e técnico na região, fazendo-se necessário seu envolvimento em projetos que visem o desenvolvimento de experiências que permitam a formulação de propostas concretas para o manejo dos recursos naturais que, no caso das sementes, possibilitam o processo de autonomia das famílias de agricultores(as) e a valorização da diversidade local. As famílias de agricultores(as), vinculadas ao Projeto Esperança, que participam da Cooperativa Mista dos Pequenos Produtores Rurais e Urbanos (COOESPERANÇA), vem enfrentando ao longo do tempo, o problema da autonomia para produção das próprias sementes, estando dependentes de empresas de sementes para realização de seus cultivos.

Sendo assim, o banco sementes comunitário, vem ao encontro desta demanda, uma vez que possibilita o acesso e sua multiplicação de forma massiva por estas famílias, nas suas respectivas comunidades rurais, bem como na promoção do resgate das sementes crioulas como patrimônio genético .

Marco Referencial Teórico

O uso e manejo sustentável dos recursos naturais têm sido pautados entre as estratégias definidas pela Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável na agenda 21 brasileira, (BEZERRA et. al., 2002). Segundo este mesmo documento, os recursos naturais devem ser apropriados como um capital, onde o desenvolvimento econômico promova a valoração da biodiversidade. Nesse sentido os bancos de sementes comunitárias têm um papel estratégico podendo ser sinônimo de segurança alimentar. São, potencialmente, espaços privilegiados de aprendizado, de desenvolvimento da capacidade de gestão de fortalecimento das relações de cooperação e solidariedade, de recuperação das sementes e do saber perdidos (CORDEIRO et al, 1993). Tais experiências têm trazido resultados significativos para

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a sustentabilidade da agricultura familiar em diversas regiões do mundo (GAIFAMI, 1994; REA, 1998; ALTIERI, 2001; CANCI et.all., 2004).

O manejo da diversidade genética de plantas requer uma constante interação do homem com o ambiente, que influencia a construção dos agroecossistemas. Em áreas tropicais, os estresses abióticos e bióticos produzem seus efeitos sobre tais práticas. Por sua vez, os métodos ditos “modernos” de manejo da diversidade genética acabam por dilapidá-la, ao promover a uniformidade genética e o desenvolvimento de materiais genéticos altamente dependentes de insumos externos ( MACHADO,2008).

Como resultado do manejo da agrobiodiversidade, podemos mencionar o equilíbrio dos cultivos diversificados dentro dos múltiplos agroecossistemas, a conservação dos valores culturais e tradicionais e a conservação e o uso de variedades locais e/ou tradicionais. Essas variedades são a base da agricultura familiar e da indígena e constituem uma importante fonte genética de tolerância e resistência para

diferentes tipos de estresse e de adaptação aos variados ambientes e manejos locais. Dessa forma, têm um inestimável valor para a humanidade, constituindo a base de sua soberania alimentar. Essas variedades são altamente adaptadas aos locais onde são conservadas e manejadas e fazem parte da autonomia familiar, constituindo um fator preponderante

para a segurança alimentar dos povos. Definimos variedades tradicionais e locais da seguinte maneira:

Variedades tradicionais: são populações variáveis de plantas cultivadas (FRANKEL, 1971; FRANKEL; BROWN, 1984). Thurston et al. (1999) ampliam a definição de variedades tradicionais, entendendo como populações ou raças que se tornaram adaptadas pelos agricultores por meio de condições naturais ou por seleção artificial. Essas variedades contrastam com as variedades modernas que têm sido melhoradas ou selecionadas com a utilização de métodos científicos para certos caracteres, como alta produção, baixa estatura, resposta a fertilizantes, entre outros. Por meio de processos de seleção natural e humana, variedades tradicionais são adaptadas ao ambiente no qual elas têm sido cultivadas e também aos sistemas de cultivo adotados pelos agricultores, que incorporam valores sociais e culturais a partir da sua percepção. Compreende-se como variedade tradicional aquela que vem sendo manejada em um mesmo ecossistema, por pelo menos três gerações

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passam a fazer parte das tradições locais. Esse processo não representa uma hereditariedade direta por via familiar, podendo ser pela hereditariedade da comunidade (dentro de um processo coletivo).

Variedades tradicionais antigas: é a mesma definição anterior, com a particularidade de que, neste caso, são variedades, principalmente de centros primários e secundários de origem, selecionadas por um período mais longo, que abrange mais de dez gerações familiares.

Variedades locais: são variedades ou populações que estão sob contínuo manejo pelos agricultores, a partir de ciclos dinâmicos de cultivo e seleção (não necessariamente) dentro de ambientes agroecológicos e socioeconômicos

específicos (HARDON; BOEF, 1993). São necessários pelo menos cinco ciclos de cultivo para que uma variedade torne-se local.

Variedades modernas: são variedades que têm sido melhoradas ou selecionadas utilizando-se métodos considerados científicos, para produzir características como alta produção, baixa estatura, resposta a fertilizantes, entre outras (THURSTON et al., 1999).

Variedades crioulas: termo utilizado principalmente em países de língua espanhola para variedades tradicionais, mas pode ser adotado para variedades locais em determinadas situações, como para aquelas variedades introduzidas em comunidades por menos de 20 anos.( MACHADO,2008).

Metodologia

Visando atingir os objetivos propostos, realizar-se-á uma série de ações que seguem:

a) Levantamento das sementes crioulas e espécies florestais nativas inseridas e/ou resgatadas através do Projeto Banco de Sementes Comunitário nas propriedades dos agricultores e agricultoras envolvidos no projeto;

b) Discussão com os agricultores e agricultoras sobre a importância da produção das próprias sementes;

c) Discussão, definição e implementação de uma forma de gestão do Banco de Sementes Comunitário pelas famílias envolvidas no projeto (estoque, armazenagem e distribuição);

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Resultados Esperados

- Implementação da gestão social do Banco de Sementes Comunitário pelos agricultores e agricultoras;

- Viabilização, através do Banco, de um sistema de troca-troca de sementes;

Referências Bibliográficas

ALTIERI, M.A., Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. – 3. ed. Porto Alegre: Ed. Universidade/ UFRGS, 2001.

BEZERRA, M.C.L.; FACCHINA, M.M.; RIBAS, O. – Agenda 21 Brasileira – Resultados da consulta Nacional. MMA/PNUD, Brasília, 2002. 154p.

CARVALHO, H. M. A oligopolização das sementes e a tendência à padronização da dieta alimentar mundial. Curitiba, 2003, 10 p.

CORDEIRO, A.; FARIA, A.A. – Gestão de bancos de sementes comunitários. Rio de Janeiro: AS-PTA, 1993. 60p.

CANCI, A.; VOGT, G.A.; CANCI, I.J. A diversidade das espécies crioulas em Anchieta – SC. São Miguel do Oeste: Mclee, 2004. 112p.

GAIFAMI, A. Cultivando a diversidade: recursos genéticos e segurança alimentar local. Rio de Janeiro: AS-PTA, 1994. 205p.

MACHADO,A.; SANTILLI,J.; MAGALHÃES,R. A agrobiodiversidade com enfoque agroecológico: implicações conceituais e jurídicas.Brasília,DF: Embrapa Informação Tecnológica,2008.98p.

NARANJO, R.A.; DIEGO, J.D. Y en sus manos la vida - Los cultivadores de las variedades

locales de Tentudía. Centro de Desarrollo Comarcal de Tentudía. Monesterio.2008. 248p.

REA, J. Bancos dinâmicos de Germoplasma permanentemente vivos. Revista Biodiversidad – Sustento y culturas. N. 17, Bolívia, octubre de 1998.

Referências

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