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O TRABALHO FEMININO EM CATALÃO (GO): RELAÇÕES DE GÊNERO E VIDA COTIDIANA DE TRABALHADORAS DA REDE HOTELEIRA

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O TRABALHO FEMININO EM CATALÃO (GO): RELAÇÕES DE GÊNERO E VIDA COTIDIANA DE TRABALHADORAS DA REDE HOTELEIRA

Natália Soares Ferreira1 Carmem Lúcia Costa2

Resumo: O presente trabalho é fruto da pesquisa de mestrado, em andamento, sobre a inserção e as

condições das mulheres no mercado de trabalho, que desde a consolidação hegemônica do modo capitalista de produção, apresentam um papel fundamental para sua própria reprodução, atualmente pautada em um projeto de sociedade neoliberal. Entende-se que as relações de submissão e exploração de gênero estão no centro da (re)produção espacial através do patriarcado, prática socioespacial que marginaliza mulheres em todo o mundo, essas relações são reforçadas pelo papel social da mulher, que determina à ela funções específicas como, cuidar, limpar, cozinhar. Enfim, garantir a manutenção do capital através do exercício das funções “do lar”. A pesquisa em desenvolvimento tem o objetivo de compreender parte das interfaces do trabalho feminino na cidade de Catalão, localizada na região sudeste de Goiás, a partir do trabalho de mulheres no setor hoteleiro, bem como a reconfiguração de sua vida cotidiana. Assim, buscamos elencar as características desse processo a partir de uma análise teórica, registros no diário de campo, a ser realizado em quatro hotéis, onde através de questionários e entrevistas possamos compreender as riquezas e as misérias do trabalho no seu cotidiano.

Palavras-chave: Trabalho feminino, camareiras, exploração, hotéis.

Introdução

O presente artigo tem como objetivo apresentar algumas considerações elaboradas a partir da pesquisa de mestrado, em fase de desenvolvimento pelo Programa de pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão, e pretende discorrer sobre as relações de trabalho feminino no setor hoteleiro em Catalão (GO). Para tanto, estamos em fase de aplicação de questionários fechados e entrevistas semi-estruturadas, dos quais utilizaremos para trazer à pesquisa, um pouco da realidade cotidiana dessas trabalhadoras. Optamos por pesquisar quatro dos maiores empreendimentos hoteleiros da cidade, pois entendemos ser possível captar informações de um número considerável de mulheres.

1 Acadêmica do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão, Catalão/Goiás/Brasil.

2 Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão, Catalão/Goiás/Brasil.

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Para o momento, apresentaremos parte das reflexões realizadas a partir do levantamento bibliográfico já feito, em que buscamos compreender como se concretiza o processo histórico e atual de inserção das mulheres no mundo do trabalho formal. Entendemos que a feminização é uma estratégia de precarização do mundo do trabalho e que esta precarização alcança a vida das trabalhadoras, reconfigurando as relações no espaço reprodutivo, precarizando a vida cotidiana. Nesse sentido, a pesquisa se realiza a partir da leitura do patriarcado como superestrutura determinante nas relações de poder entre o homem e a mulher e na reprodução das desigualdades que perpassam a produção e reprodução do espaço urbano em questão. Leituras sobre a temática em autores como Marx, Engels, Luxemburgo, Harvey, Hirata, Silva, Santos, Saffioti, Scott, Lefebvre, Massey e outros/as, em várias obras, embasam a discussão.

O debate torna-se necessário no atual momento de reestruturação produtiva em que a feminização do mundo do trabalho aparece como estratégia de precarização, colocando as mulheres em maior número no mercado de trabalho, porém em empregos parciais, temporários, terceiros, informais, ou seja, como mão-de-obra mais barata que é convocada a dar a sua contribuição para a superação de mais uma crise do capital. Com isso, cresce também o número de mulheres chefes de família e outras cujo salário é superior ao do homem ou a única fonte de renda das famílias, fatos que apontam para uma reestruturação das relações de poder e, consequentemente, de gênero.

Mulher e trabalho na sociedade moderna

As mulheres, no início da divisão social do trabalho sendo elas livres ou escravas, tinham seu espaço de trabalho delimitado dentro da esfera doméstica, pois eram responsáveis tanto pela subsistência de sua família, quanto por gerar riqueza social. Nogueira (2010) retrata a primeira manifestação da propriedade nas palavras de Marx e Engels, em A ideologia alemã e acrescenta que:

A primeira divisão do trabalho é a que se fez entre o homem e a mulher para a procriação dos filhos, ao que Engels acrescentou, na Origem da família da propriedade privada e do Estado, que o primeiro antagonismo de classes que apareceu na História coincide com o desenvolvimento do antagonismo entre o homem e a mulher na monogamia; e a primeira opressão de classes, com a opressão do sexo feminino pelo masculino. (NOGUEIRA, 2010, p. 70-71).

O espaço privado é historicamente construído como o reino das mulheres que cuidam da família para garantir o trabalho do homem e a reprodução dos filhos; é também “[...] um lugar de

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submissão às regras industriais e a ‘dona de casa’, uma reprodutora da lógica do capital. ” (NOGUEIRA, 2006, p. 171, grifo da autora).

Desde as sociedades pré-capitalistas, a mulher é considerada inferior ao homem, seja no campo jurídico, social ou político, porém, não deixa de ser participante no sistema produtivo, seja “nos campos e manufaturas, nas minas e nas lojas; nos mercados e nas oficinas, tecia e fiava, fermentava a cerveja e realizava outras tarefas domésticas. Enquanto a família existiu como unidade de produção, as mulheres e as crianças desempenharam um papel econômico fundamental”. (SAFFIOTI, 2013, p. 62).

Ainda nas sociedades pré-capitalistas, o papel da mulher no sistema produtivo, definia-se como subsidiário no conjunto das funções econômicas da família. Saffioti (2013), nos lembra que “ enquanto a produtividade do trabalho é baixa (isto é, enquanto o processo de criação da riqueza social é extremamente lento) não se impõe à sociedade a necessidade de excluir as mulheres do sistema produtivo. Seu trabalho ainda é necessário para garantir a ociosidade das camadas dominantes”. Com o desenvolvimento do capitalismo as novas condições passaram a ser extremamente adversas à mulher, com a subvalorização das capacidades femininas, e no plano estrutural, com a marginalização da mulher nas forças produtivas.

No entanto, a partir da revolução industrial e a reestruturação produtiva e do mundo do trabalho no capitalismo, a mulher é cada vez mais solicitada a se inserir nos espaços públicos, sob relações estabelecidas pelo patriarcado. Hirata (2002) aponta o aumento da feminização do mundo do trabalho com a permanência do maior número de mulheres em postos de trabalho precarizados, terceirizados, em tempo parcial, subcontratações, informalidade e outros, reproduzindo a lógica da dominação e da exploração.

Ao analisar não só a relação de produção e reprodução, mas também na relação de gênero, Saffioti (1992) afirma:

A grande maioria dos homens, centrando sua visão sobre a mulher como concorrente real no mercado de trabalho, deixa de perceber a situação feminina, e a sua própria, como determinadas pela totalidade histórica na qual ambos estão inseridos. [...] sendo incapaz de analisar, a situação da mulher como determinada pela configuração histórico-social capitalista, não percorrendo a atuação das estruturas parciais mediadoras na totalidade, abstrai não apenas a mulher, mas também a si próprio da conjuntura alienante que o envolve. Para a visão globalizadora, “libertar a mulher de sua alienação é, ao mesmo tempo, libertar o homem de seus fetiches”. (SAFFIOTI, 1992, p. 41-42).

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Dentro dessa discussão é possível afirmar que ao longo do desenvolvimento capitalista, o capital utilizou-se da mulher no mundo do trabalho acarretando significados distintos: por um lado, o ingresso feminino no espaço produtivo foi uma conquista da mulher, permitindo a ela se emancipar, e por outro lado, favoreceu ao capitalismo a ampliação da exploração da força de trabalho, intensificando-a através do universo do trabalho feminino. (NOGUEIRA, 2010).

A lógica da flexibilização na atual reestruturação produtiva do capitalismo juntamente com o neoliberalismo, estabelece relações com o crescimento do emprego das mulheres. Pode-se citar como exemplo o trabalho terceirizado, que frequentemente possibilita a realização de tarefas no domicilio, concretizando o trabalho produtivo no espaço doméstico, beneficiando, dessa forma, os empresários que não têm a necessidade de pagar os benefícios sociais e os direitos acoplados ao trabalho de homens ou de mulheres (NOGUEIRA, 2010).

Após duas grandes crises – 1973 e 2008 – o capital reestrutura a produção para conseguir superar os limites impostos pela crise. Reestrutura a vida também, os valores, os gostos, os gestos, os símbolos, o consumo, o feminino e o masculino dentro de um projeto de modernidade, de um discurso de transformação que tudo quer alcançar.

O trabalho feminino em Catalão (go)

A cidade de Catalão, localizada no sudeste goiano, se sobressaiu na dinâmica econômica do Estado de Goiás, seja em termos econômicos ou populacionais. O primeiro momento foi marcado pela chegada da ferrovia, posteriormente a instalação das mineradoras no município, além da ampliação da malha viária, que possibilitaram intensificar a dinâmica socioeconômica do município.

Em 1990 a economia da cidade foi marcada principalmente pela territorialização das indústrias automobilísticas que ganharam de destaque e outros setores industriais de menor destaque, sua localização estratégica em relação aos grandes centros comerciais e de serviços como Brasília, São Paulo e Minas Gerais, é sempre citada nas pesquisas referentes à dinâmica econômica e social da cidade.

O processo de rápida industrialização na cidade alcançou e transformou a paisagem e a vida cotidiana dos moradores e moradoras, através da movimentação também o setor terciário e a prestação se serviços, fazendo da cidade um polo na região do sudeste goiano. Com toda esta dinâmica o setor hoteleiro cresceu consideravelmente e, também, a inserção de mulheres em

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atividades neste setor que reproduz o fazer cotidiano do trabalho doméstico nos cargos de cozinheiras, arrumadeiras, camareiras, etc.

Percebe-se que a ampliação do setor hoteleiro na cidade está diretamente ligada ao desenvolvimento industrial da mesma. Em levantamento inicial de dados na Prefeitura do Munícipio, foi possível identificar 42 estabelecimentos do ramo de hospedagem ativos. Esses estabelecimentos incluem hotéis, pousadas e pensões. Em outra busca documental no site Empresas do Brasil3 foi possível observar o ano de abertura desses estabelecimentos, 70% destes abriram suas portas no final da década de (19)90 e meados de 2000, período em que a economia da cidade alavanca.

Além desses estabelecimentos, um elemento importante a ser abordado pela pesquisa, é a construção de dois grandes empreendimentos hoteleiros, IBIS e Bristol, que se diferenciam dos hotéis já existentes em Catalão (GO) pelo tamanho das obras e a forma de oferta de seus serviços, que apresentam ofertas de investimentos com foco no “turismo de negócios”. Dentre o perfil dos hóspedes, estima-se que a grande clientela seja do setor de negócios, como: representantes comerciais, empresários, investidores, consultores e profissionais especializados.

A característica central do setor hoteleiro é atender as necessidades básicas dos clientes quando estes estão fora de suas casas. Visando mais lucro e praticidade, os hotéis de Catalão contam com serviços mais simples e direcionados ao setor ne negócios. Diferentemente da hotelaria para o turismo, em que o conforto, a comodidade e o lazer são prioridades, em Catalão (GO), o setor hoteleiro tem foco na praticidade e preços acessíveis, para favorecer as empresas e executivos que vêm à trabalho para a região. Busca-se dar o suporte necessário para a reprodução da força de trabalho pois a maioria dos usuários destes hotéis estão a trabalho e precisam comer, dormir, etc.

A força de trabalho da mulher aparece nesse setor com atividades características do espaço doméstico, é possível observar que alguns cargos são ocupados por mulheres em excelência. O cuidar, zelar e limpar é reproduzido no espaço público quando mulheres ocupam cargos direcionados ao setor de limpeza, organização e cozinha.

No caso do setor hoteleiro esse aspecto é bem visível, em outros tipos de empresas, o setor de limpeza é também majoritariamente ocupado por mulheres, fato este já estudado em pesquisas realizadas na cidade de Catalão (GO) pelo grupo Dialogus Estudos Interdisciplinares pela pesquisadora Costa (2014), além de outros trabalhos que apontam para relações de trabalho desiguais também nocampo da educação, confecção, comércio, etc. Ou seja, em vários setores do

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espaço público é possível identificar formas de feminização e precarização do trabalho quando se trata do emprego de mulheres.

Nogueira (2006) lembra que “[...] apesar do aumento da inserção da mulher no espaço produtivo, as chamadas tarefas domésticas ainda estão reservadas para ela” e este trabalho em jornada dupla ou até mesmo tripla, alcança e torna, também, a vida cotidiana precarizada, onde as mulheres têm pouco ou nenhum tempo destinado ao lazer, ao cuidar de si, ao descanso de tão envolvidas com os cuidados aos outros e as tarefas rotineiras.

Antunes (2009) entende que a divisão sexual do trabalho operada pelo capitalismo no espaço industrial, cujas atividades desenvolvidas são baseadas em capital intensivo, é preenchida pelo trabalho masculino e as atividades de menor qualificação de trabalho intensivo são destinadas às mulheres. Dados do IBGE mostram que a PEA (População Economicamente Ativa) hoje já é composta, em sua maioria – 51,8% - por mulheres, sendo que mais de 50% são chefes de família e destas a maioria absoluta – 65% são negras.

Conforme dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) a grande maioria das mulheres no Brasil está empregada nos ramos de serviço domésticos – comércio, educação, saúde e serviços sociais. De acordo com o estudo de Igualdade de gênero e raça no trabalho, publicado pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) no ano de 2010, após 2008 se intensificou a desvantagem das mulheres em relação aos homens no que se refere ao acesso a empregos formais, uso e controle de recursos, taxas de rendimento e proteção social em todo o mundo. Ainda segundo a OIT, no Brasil, essa precarização evidenciou-se no aumento do número de mulheres que trabalham sem remuneração e sem carteira assinada, apesar do crescimento da formalização do trabalho no país. Esta realidade precariza a vida das trabalhadoras, levando-nos a questionar sobre a emancipação feminina no trabalho.

Observa-se que mesmo após anos de lutas feministas pela emancipação, por direitos civis e pelo direito à inserção no mercado de trabalho, estes elementos tornam-se centrais no movimento de precarização sendo que uma das dimensões é a feminização do mundo do trabalho, colocando milhares de mulheres em todo mundo em situação de miséria.

De acordo com Hirata (2009), “o aumento do emprego feminino a partir dos anos noventa é acompanhado do crescimento simultâneo do emprego vulnerável e precário, uma das características principais da globalização numa perspectiva de gênero”. (HIRATA, 2009, p. 27). Ou seja, as mulheres entram no mundo do trabalho, mas as regras ainda são de exclusão, privação, dominação, exploração e precarização, pois mesmo sendo uma “vontade” da mulher a emancipação pelo

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trabalho, essa pode ser uma necessidade construída por estratégias que entendem a importância desta mão de obra no mercado capitalista. Desta forma, a ordem simbólica (LEFEBVRE, 1991) atravessa os níveis, alcança a vida cotidiana e reprograma-a em função de interesses distantes.

Entende-se que a proposta de pesquisa e de luta deve basear-se na denúncia das condições em que estas trabalhadoras estão inseridas no mundo do trabalho que possibilite pensar políticas públicas que atendam às suas especificidades, como creches em horários mais flexíveis, mais vagas em escolas de tempo integral, transporte de qualidade para facilitar o deslocamento, principalmente das trabalhadoras de áreas periféricas, mais educação, condições dignas de trabalho e levar o debate sobre o trabalho não remunerado no espaço doméstico para outros lugares, onde seja possível caminhar na desconstrução dos papeis de gênero estabelecidos.

As relações de trabalho nos últimos tempos vêm se transformando em liquidez de forma veloz, o receituário neoliberal tem ganhado força e suas medidas mais duras aplicadas principalmente nos países mais pobres e/ou emergentes. É possível associarmos essas transformações com as práticas reforçadas em inúmeras tentativas pelo Governo brasileiro desde a década de 1990 quando as flexibilizações ganham força no mundo todo, as pautas das reformas trabalhista e previdenciária demonstram muito bem essas intenções que resistem até hoje.

Nos últimos 50 anos no Brasil, as mulheres têm deixado de atuar somente no ambiente privado e vêm se inserindo cada vez mais no mercado de trabalho formal, os avanços das leis trabalhistas permitiram o crescimento dessa mão de obra. Em 2007 as mulheres brasileiras representavam 40,8% do mercado formal de trabalho; em 2016 passaram a ocupar 44% das vagas. Além disso, o desemprego afetou menos as mulheres nos últimos anos, segundo dados apontados pelo IBGE, entre 2012 e 2016 o total de homens empregados sofreu redução de 6,4%, contra 3,5% entre as mulheres. A renda das trabalhadoras é muito importante para o sustento das famílias, em 1995 cerca de 23% dos lares eram chefiados por mulheres, vinte anos depois esse número cresceu para 40% e em 34% desses domicílios não há a presença do cônjuge.

Dados do “Retrato das Desigualdades de Gênero e de Raça“, estudo realizado pelo IPEA, em

parceria com a ONU Mulheres, revelam que as mulheres brasileiras trabalham, em média, 7,5 horas semanais a mais que homens, em 2015, a jornada total média das mulheres era de 53,6 horas, enquanto a dos homens era de 46,1 horas. Em relação às atividades não remuneradas, mais de 90% das mulheres declararam realizar atividades domésticas – proporção que se manteve quase inalterada ao longo de 20 anos, assim como a dos homens (em torno de 50%).

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Além da não desejada, porém real, “dupla jornada”, quando tratamos de mercado de trabalho, as diferenças se aprofundam. Nesse sentido, o próprio texto da exposição de motivos reconhece a desigualdade material de gênero ao mencionar que a inserção da mulher no mercado de trabalho se dá de forma desigual e que remanesce até os dias de hoje a desigualdade salarial, reconhecendo que o rendimento da mulher ainda é 81% do homem, conforme PNAD 2015.

Em 2015 o Instituto Mauro Borges publicou um relatório técnico intitulado “A mulher e o mercado de trabalho em Goiás”, com informações extraídas da RAIS (Relação Anuais de Informações Sociais) 2013, que demonstram a participação de 64,91% das trabalhadoras formais do Estado nos setores de administração pública (33,06%) e de serviços (31,86%). É um número significativo para um setor que tem se mostrado cada vez mais expressivo no que tange ao emprego das mulheres.

No caso dos hotéis pesquisados, foi possível identificar um número maior de trabalhadoras do sexo feminino, principalmente nas funções que remetem ao trabalho no espaço privado, como por exemplo na cozinha, limpeza predial, arrumação, e na recepção também são maioria. Buscamos identificar junto a essas trabalhadoras as práticas do mundo do trabalho que ainda reforçam a desvalorização do trabalho feminino.

A precarização do trabalho e da vida da mulher brasileira envolve questões históricas e estruturais que vão além dos discursos colocados sobre a igualdade de gênero. Sendo as mulheres também agentes sociais de transformação do espaço, as condições determinadas para sua inserção nos mercados de trabalho ocorrem de forma estratégica extremamente desigual, a tendência é o aprofundamento dessa desigualdade com as próximas medidas legislativas que estão propostas pelo governo. Na busca para compreender melhor as existências das mulheres do espaço geográfico, optamos pela pesquisa com as trabalhadoras do setor hoteleiro de Catalão (GO), diretamente influenciado pela territorialização do capital internacional.

Considerações finais

Buscamos apresentar nesse artigo algumas considerações teóricas que fazem parte da base conceitual e reflexiva da pesquisa em desenvolvimento. Os dados retirados de fontes secundárias apontam para mudanças estruturais no mundo do trabalho feminino desde que as mulheres de fato passam a se inserirem nessa lógica da produção capitalista, alterando e participando ativamente das reconfigurações territoriais dos espaços em produção e reprodução.

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Mesmo com maior participação no mercado de trabalho, possibilitando o aumento da renda familiar e a emancipação financeira da mulher, ainda é possível identificar muitas nuances desse movimento, uma delas é a proposta central dessa pesquisa, identificar as riquezas e as misérias das trabalhadoras do setor hoteleiro na cidade de Catalão, a partir dos seus relatos sobre seu cotidiano dentro e fora da empresa.

É importante ressaltar que o fato de exercer atividade remunerada não afeta as responsabilidades assumidas pelas mulheres com as atividades domésticas, apesar de reduzir a quantidade de horas dedicadas a elas. As mulheres ocupadas continuam se responsabilizando pelo trabalho doméstico não remunerado, o que leva à chamada dupla jornada, muitas vezes até tripla quando possuem dois empregos.

Assim, a pesquisa aponta para um caminho contraditório das relações de trabalho, onde ao mesmo tempo que permitem autonomia financeira e oportunidades de renda, precarizam e flexibilizam as leis trabalhistas para que a acumulação se perpetue através da exploração do trabalho de formas muitas vezes invisíveis, porém, sensíveis à vida cotidiana.

Referências

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Geografia, Gênero e Sexualidades: Interseccionalidade, Gênero e Sexualidades na análise

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HARVEY, David. A produção capitalista do espaço. São Paulo: Annablume, 2005.

HIRATA, Helena. A Precarização e a Divisão Internacional e Sexual do Trabalho. Revista

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IPEA. Retrato das desigualdades de gênero e raça. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/retrato/index.html. Acesso em 24/05/2017>.

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LEFEBVRE, Henri. A vida cotidiana no mundo moderno. Tradução Alcides João de Barros. São Paulo. Ática, 1991.

LIMA, Valdivino Borges de. A espacialidade da indústria em Goiás: “a nova marcha para o oeste” - o exemplo de Catalão [manuscrito]. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Goiás, Instituto de Estudos Socioambientais (IESA), Programa de Pós-Graduação em Geografia, Goiânia, 2015. NOGUEIRA, Cláudia Mazzei. O trabalho duplicado: a divisão sexual no trabalho e na reprodução: um estudo das trabalhadoras do telemarketing. São Paulo: Expressão Popular, 2006.

________________. A feminização no mundo do trabalho: entre a emancipação e precarização. In: ANTUNES, Ricardo; SILVA, Maria Aparecida Moraes. (Org). O Avesso do Trabalho. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2010. p. 199-234.

PEREIRA, Leonardo César. Reestruturação produtiva em Catalão(GO). Goiânia: Editora UFG, 2014.

SAFFIOTI, Heleieth I. B. Rearticulando gênero e classe social. In: COSTA, Albertina Oliveira; BRUSCHINI, Cristina. (Org.). Uma questão de gênero. Rio de Janeiro, Rosa dos Tempos; São Paulo, Fundação Carlos Chagas, 1992, p. 183-215.

SAFFIOTI, Heleieth I. B. A mulher na sociedade de classes. 3 Ed. São Paulo: Expressão Popular, 2013. 528p.

Female jobs in Catalão(GO): Relationship between genre and lifestyle of female workers of hotel industry

Astract: The present research is about the insertion and conditions of female workers in the job market since the hemogenic consolidation of the capitalist production way shows a fundamental role for the own reproduction currently scheduled in a neoliberal society project. Is supposed that the relationship of submission and genre exploration are in the centre of the space reproduction thru the patriarchy, a socio-spatial practice that marginalize women around the world. That relationship are reforced thru the social role of the women that determines to them specific functions like house keeping, cleaning, cooking, etc. Finally, ensure the maintance of the capital thru the housewife’s way. The research in development aim to understand part of the interfaces of the female work in the Catalão city located in the southwest region of Goiás state starting from the women jobs at the hotel industry also the reconfiguration of the lifestyle of them. In this way aiming ranking the characteristics of this process from the theoric analisis, in four hotels where thru questionaries and interviews to get understanding about the riches and miseries in the life of them.

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