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Estudo sobre a resistência no futebol: densidade das ações de jogo na categoria infantil (14/15 anos)

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ARTIGO ________________________________________________________ Estudo sobre a resistência no futebol: densidade das ações de jogo na categoria infantil (14/15 anos)

Daniel Medeiros Alves

Especialista em Treinamento Desportivo – UEL/Londrina

Paulo Roberto de Oliveira

Universidade Estadual de Campinas – Faculdade de Educação Física

Resumo

O presente estudo analisou a densidade/intervalo entre as ações e deslocamentos durante partidas de futebol da categoria infantil. Através de filmagem e cronometragem buscou-se, um referencial sobre a duração dos intervalos no futebol, visando orientar a densidade da aplicação das cargas durante os treinamentos. Foram analisados cinco atletas, durante três partidas e, calculadas as médias dos intervalos entre as ações/deslocamentos, consideradas as diferentes posições (zagueiro, lateral, volante, meio campista, atacante). Os resultados indicaram diferenças não só na densidade dos estímulos, mas na característica fisiológica e metabólica das solicitações entre os atletas das diferentes posições. A menor densidade (maior intervalo) foi encontrada entre as ações motoras e deslocamentos do atacante, enquanto que a maior densidade (menor intervalo) foi encontrada nas ações e deslocamentos do meio-campista. Constatou-se ainda, que a densidade da carga controlada pelas pausas apresentou uma grande amplitude de variação; tal observação nos remete para a possível incoerência de adoção de “pausas regulamentadas” durante o processo de treinamento de futebol, modalidade classificada como complexa que apresenta como uma de suas características tempo de esforço e pausa de recuperação “não regulamentadas”.

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Abstract

This study analyzed the intervals among the game actions, during a sub-15 category soccer match, through filming and chronometer measurement searching an intervals model for application during the trainings. 5 athletes were selected, analyzed during 3 games, calculating the averages of intervals for each position. The results indicate differences in the intervals among each position, causing different physiologic and metabolic demands between athletes of different positions. It was verified that the forward presented the largest intervals, on average, during the games unlike the middle-fielder, which presented the smallest intervals in relation to the others. It was verified although the pauses are variable, suggesting that the same should be used during the trainings.

key – words: Soccer; training; interval; adaptations.

Introdução

A preparação física no futebol tem apresentado constante evolução, exigindo um aperfeiçoamento cada vez maior das capacidades físicas dos futebolistas (GOLOMAZOV & SHIRVA, 1996). Portanto, dadas as exigências físicas de uma partida de futebol, é necessário que o atleta esteja bem preparado, visando atender determinada organização tática, planejada pelo treinador.

Zakharov (1992) afirma que a as capacidades físicas do atleta constituem o suporte para que ele realize as ações táticas necessárias dentro de uma partida e que a tática bem executada pode “economizar” energia do atleta.

Para Barbanti (1996) a resistência é importante não só para o rendimento nos desportos, mas também para a recuperação após treinos intensos, o que nos leva a crer que sem a resistência adequada o atleta não

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conseguiria treinar com a intensidade e volume necessários para melhorar sua performance (WEINECK, 2000).

As ações de jogo têm sido objeto de estudo há anos por pesquisadores, com o intuito de quantificar e qualificar as distâncias percorridas durante as partidas, classificando-as conforme a intensidade para cada função tática dentro de campo. Esses estudos indicam o volume, a intensidade e a duração dos estímulos, o que permite a aplicação de treinamentos que se aproximem das solicitações motoras peculiares do jogo. Porém, faz-se necessário identificar a densidade real dos estímulos competitivos e após conhece-los adotar como referência para o processo de treinamento. A densidade é definida pelo intervalo entre uma ação e outra (WEINECK, 2000).

Portanto, pouco se sabe sobre a magnitude da carga imposta aos jogadores de futebol, uma vez que se ela resulta da relação entre diferentes componentes da carga (intensidade, volume, densidade e duração) e, a densidade ainda não foi suficientemente pesquisada. As cargas e os intervalos no futebol tendem a ocorrer com grande amplitude de variação e o insuficiente conhecimento de um dos parâmetros pode prejudicar a seleção dos conteúdos e principalmente a estruturação e distribuição das cargas durante o treinamento.

Contudo, apesar da característica de “imprevisibilidade”, a distribuição das cargas e dos intervalos seguindo o princípio da variabilidade, de acordo com as orientações advindas da realidade com que são encontradas no jogo, pode ser considerada numa boa alternativa metodológica para a obtenção de uma preparação física eficaz para futebol, sobretudo para o treino da resistência especial em etapas mais avançadas do macrociclo de preparação.

Para Weineck (2000) a resistência é “uma capacidade geral psicofísica de tolerância à fadiga em sobrecargas de longa duração, bem como a capacidade de recuperação rápida após estas sobrecargas”.

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Frisselli & Mantovani (1999) definem a resistência do futebolista como “a capacidade de resistir ao cansaço, mantendo o mesmo nível e qualidade em suas ações motoras, técnicas e táticas, bem como a velocidade de seus deslocamentos durante toda a partida”. Sendo assim percebe-se que a resistência tem influência direta sobre a recuperação, desempenho técnico e tático e também sobre a capacidade de velocidade dos jogadores.

Já Barbanti (1996), define a resistência como sendo “a capacidade de executar um movimento durante um longo tempo, sem perda aparente na efetividade do movimento”, ou seja, a resistência impede a queda na qualidade e na eficiência das ações do atleta.

O ponto chave então, para a resistência do futebolista é que ela mantenha a capacidade de desempenho, ou seja, a qualidade do movimento e a velocidade de execução, caso contrário suas ações tenderiam a se tornar ineficazes.

Como se percebe, o futebol é composto de inúmeras ações, e entre uma ação e outra há sempre um intervalo. Esses intervalos podem ser ou não, suficientes para a recuperação parcial ou total dos diferentes sistemas solicitados durante as diferentes ações de alta intensidade.

No senso comum podem ser observados conceitos metodológicos, nem sempre estruturados com base cientifica. Durante o treinamento, a adoção de intervalos menores de descanso, em relação aos encontrados no jogo, cria a idéia de melhoria do desempenho durante uma partida de futebol; por outro lado, a análise do jogo quase sempre apresenta uma grande amplitude de variação de intervalos. Como o jogador precisa de qualidade e velocidade nas ações competitivas, a adoção destes intervalos mais curtos ou mais longos pode conduzir a uma fadiga neural e metabólica nem sempre compatível com a especificidade do jogo.

Barbanti (1996), considera que o intervalo deve ser o suficiente para que não haja perda na intensidade, evitando assim, prejuízo na qualidade do treinamento.

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O conceito de “suficiente” deve ser especificamente definido tendo por base as diferentes modalidades desportivas, suas exigências metabólicas, neurais, cardio-respiratória, psíquica, etc.

Portanto, para uma melhor adequação das cargas impostas aos atletas durante os treinamentos, é necessário conhecer também, a densidade dos esforços competitivos no futebol, ou seja, a amplitude de variação, a média e a variabilidade característica das pausas entre as ações, com o intuito de ajustar a magnitude dos estímulos de treinamento às exigências do jogo.

Metodologia Amostra

A amostra foi composta por 05 (cinco) atletas da categoria infantil

(14/15 anos), participantes do campeonato regional da cidade de Pelotas – RS, no ano de 2004.

Foi selecionado um atleta de cada posição: um zagueiro, um lateral,

um volante, um meio-campista (armador) e um atacante. A escolha por posição por se supor que já nesta categoria, existam diferenças nas atribuições táticas de cada uma delas, sendo coerente uma análise mais detalhada dos esforços por posição para verificar concretamente a existência destas possíveis diferenças na densidade do esforço físico.

Os atletas analisados foram submetidos a 3 ou 4 sessões semanais de treinamento, por um período entre 4 e 6 meses. Durante a obtenção dos dados, a equipe encontrava-se no período de manutenção da preparação física (etapa competitiva). Portanto, o nível de rendimento dos atletas analisados era considerado como satisfatório pelo técnico e preparador físico da equipe para o momento de competição.

Os atletas da equipe já treinavam juntos há pelo menos dois meses, e já possuíam um bom padrão coletivo de jogo. Considerou-se a campanha da equipe como muito boa, pois terminou o torneio em 3º lugar, ficando fora apenas da final.

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Foram analisados sempre os mesmos jogadores durante o estudo, visando verificar possíveis diferenças entre posições, bem como relacionar os dados com as circunstâncias do jogo em que foram coletados, e ainda, as características individuais dos atletas.

Procedimento

Os dados foram coletados através de filmagem e observação, medindo-se o tempo com cronômetro, de modo a identificar número de intervalos e as respectivas durações, ou seja, o tempo que o jogador disponível em cada intervalo de recuperação durante a partida de futebol.

A câmera utilizada foi o modelo Samsung SCD – 107 Mini DV e o cronômetro utilizado foi o modelo Casio HS – 50w – 2DF.

Foram analisadas três partidas por jogador/posição. A câmera foi posicionada a dois metros de altura em relação ao solo, dois metros atrás do campo, para possibilitar uma visão geral dos jogadores, o que permitiu o controle de todos os jogadores em ação.

A opção por este modelo de posicionamento se deveu inicialmente às limitações da câmera disponível, bem como, ao fato de que posicionada lateralmente, o foco limita-se ao quadrante onde se encontram bola e jogadores atuantes, sendo que o objetivo era analisá-los fora de ação.

Considerou-se como “intervalo” o período de tempo em que o jogador se encontrava parado ou andando. Cada vez que ele trotava, corria, saltava, tocava

câmera

2m Figura 1: Representação da filmagem

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na bola foi considerada uma ação/deslocamento. Travava-se o cronômetro quando o atleta parava ou andava.

A análise foi feita individualmente, ou seja, o atleta era isoladamente, sendo necessário assistir no mínimo cinco vezes cada vídeo, uma vez para cada posição.

As partidas analisadas correspondem a ultima rodada da classificação e as duas partidas semifinais, do campeonato pelotense de futebol, da categoria infantil, portanto, no crruzamento com os adversários mais fortes da competição. Cada partida era composta de dois tempos de 35 minutos com intervalo de descanso de 10 minutos.

Análise dos Dados

A análise foi realizada identificando a média e o desvio padrão de cada posição durante as partidas, através de estatística descritiva, pelo programa Windows Excel e verificando a existência de diferenças entre os jogadores de diferentes funções.

Foram realizadas também, a análise e classificação dos intervalos conforme a duração, de forma a demonstrar quais intervalos ocorrem com maior freqüência durante a partida e, possíveis diferenças entre os valores das posições estudadas.

Foi realizada ainda, a soma de todos os tempos e calculado a média do tempo de pausa (minutos) que cada atleta encontrava-se parado ou andando durante a partida.

Resultado e Discussão

A quantidade de valores obtidos durante as coletas é muito grande, uma vez que durante uma partida existem muitos intervalos entre as ações. Foram calculados as médias e desvios padrão, dos intervalos obtidos durante a medição, conforme a tabela 1.

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As médias encontradas apresentaram diferença considerável, principalmente entre o atacante e o meio-campista. O desvio padrão também se apresentou com valores muito elevados, sugerindo que há uma grande amplitude de variação na duração dos intervalos.

Gráfico 2 - Intervalos encontrados entre as ações/deslocamentos do zagueiro

Gráfico 2: Dinâmica da duração dos intervalos durante o jogo (Zagueiro)

Tabela 1: Média e desvio padrão dos intervalos (e m segundos) Posição

Média

X

Desvio Padrão (DP)

Zagueiro Lateral Volante Meio-campista Atacante 31,79 27,09 27,48 24,3 42,37 26,114 22,753 22,563 21,561 34,292 zagueiro jogo 1 0 20 40 60 80 100 120 140 0 5 10 15 20

I

25 30 35 40 45

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O eixo (Y) corresponde ao valor em segundos e o eixo (X) corresponde ao intervalo medido. Por esse gráfico é possível visualizar que há uma grande amplitude de variação nos intervalos, tanto no primeiro quanto no segundo tempo, não demonstrando existir um ciclo de duração constante. São encontradas pausas que variam de 3 até mais de 120 segundos, o que sugere uma grande amplitude de variação nos dados. As pausas maiores ocorrem normalmente em faltas ou lesões, quando o jogo demora a recomeçar para que o atleta seja atendido, ou ainda nas situações de cobranças de falta quando a barreira necessita ser regularizada.

Os intervalos obtidos com os demais atletas seguem semelhante padrão de variação, tanto nas médias quanto no tempo total de intervalo.

O Gráfico 3 representa as médias dos intervalos para cada posição,

durante os três jogos analisados.

Gráfico 3: Média aritmética da duração dos intervalos para cada posição

Percebe-se que em média o jogador que possui os maiores intervalos é o atacante, o que sugere que ele possa ser treinado com pausas maiores, visando manter a intensidade (qualidade do exercício de treinamento). Os meio-campistas,

31,79 Z a g 27,09 L at 27,48 V o l 24,3 M e i 42,37 A t a 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

M é dias e m s e gundos

Z ag Lat Vol M ei A t a

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por outro lado, possuem em média pausas bem mais curtas que os atacantes, sugerindo que ele é mais acionado que os atacantes durante o jogo.

De forma objetiva, o meio-campista quase sempre participa das jogadas, quer sejam ações ofensivas, quer defensivas, indicando que provavelmente atue com intensidades mais baixas, pois tem menor tempo para descanso em relação as demais posições. Em uma carga intervalada de treinamento, quando se reduz os intervalos, ou aumenta-se a densidade dos estímulos, a tendência é perder a qualidade da execução com redução de intensidade a sucessão dos estímulos/ações/deslocamentos.

Um estudo realizado no São Paulo Futebol Clube, citado por Frisselli & Mantovani (1999) indica que os meio-campistas se deslocam trotando, em média aproximadamente 2000m a mais do que os atacantes, enquanto os atacantes deslocam-se em média, 200m a mais em alta intensidade, embora ambos possuam sua maior freqüência de ações de alta intensidade entre 0 e 20 metros (aproximadamente 3 segundos). Isso pode significar que os atacantes são mais “dependentes” do sistema ATP-CP do que os demais jogadores uma vez que trabalham com intensidades muito altas, distâncias curtas e possuem um tempo maior para recuperação ainda que parcial.

Fox et al (1991) afirmam que 30 segundos são suficientes para a restauração de 70% do sistema ATP-CP. Barbanti (1996) refere-se a um valor de restauração de 75% para o mesmo período de tempo, e que, em torno de 180 segundos ocorre recuperação de 100%. Porém, esses valores são muito vagos, pois durante uma ação isolada no jogo, não se sabe o quanto de ATP-CP é depletado, o que não permite afirmar que os valores encontrados no estudo são suficientes ou não para recuperação total.

Outro fator que limita a aplicabilidade de tal mecanismo no futebol é, e que as cargas se sucedem seguidamente, sem regulamentação de duração, ou seja, durante uma partida o atleta é submetido à diferentes durações cargas e intervalos entre uma carga e outra.

Weineck (2000), se refere ao efeito cumulativo das cargas em que, apesar de predominar a utilização de cargas curtas, onde predomina o sistema CP,

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outras fontes são solicitadas para a ressíntese do ATP, já que as pausas vão se suceder ao longo de 90 minutos de jogo, na categoria presentemente analisada, durante 70 minutos. Isso demonstra que o método intervalado intensivo tem maior similaridade com a realidade do jogo, desde que não se mantenha distâncias e intervalos regulamentados. Daí a importância do método de jogo onde a simulação das condições do jogo são mais concretamente reproduzidas se comparadas com os métodos de corridas contínuas.

Frisselli & Mantovani (1999), após um estudo realizado medindo a freqüência cardíaca dos atletas, verificou que os atacantes e zagueiros utilizam o sistema ATP-CP mais do que os laterais e meio–campistas, confirmando que, o treinamento para atacantes e zagueiros deve ser diferenciado.

Os meio-campistas e laterais, em especial no futebol brasileiro, são mais acionados do que os atacantes, ou seja, tem um intervalo médio menor de recuperação, em relação aos intervalos encontrados para os atacantes e zagueiros. Isso pode indicar uma diferença também nas intensidades, uma vez que, a mesma tende a cair quando a densidade dos estímulos aumenta.

Apesar da média aritmética dar uma boa percepção das pausas ocorridas em uma partida, não deve ser adotada como verdade absoluta mas servir como referência auxiliar no estabelecimento da variação da duração e densidade dos estímulos por posição.

As diferenças nos intervalos entre as ações, para cada jogador, podem ocorrer por vários fatores, como a função tática (ofensiva e defensiva), movimentação, motivação, características individuais do atleta, características do adversário e até mesmo seus níveis de condicionamento físico. Mesmo assim, a função tática parece ser o principal fator de influência, uma vez que nesta categoria, a situação do jogo é o principal estímulo que desencadeia suas ações.

Outro ponto a ser analisado, é a freqüência com que os intervalos ocorrem, ou seja, qual a duração de intervalo mais encontrada em uma partida.

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O gráfico a seguir representa a distribuição das pausas, conforme a duração e a freqüência com que são encontradas em uma partida de forma geral, para todos os jogadores.

Gráfico 4: Média geral da duração dos intervalos e a freqüência de ocorrência

O Gráfico 4 representa a distribuição dos intervalos em uma partida, conforme a sua duração. Os intervalos que ocorrem com maior freqüência são os curtos, entre 0 e 20 segundos, sugerindo que tais intervalos sejam utilizados prioritariamente durante o treinamento.

Como uma parte dos intervalos possui duração superior a 20s, sugere-se sua utilização alternada com os intervalos curtos durante os treinos, para garantir uma melhor recuperação parcial, dando condições ao atleta para que ele realize suas ações com maior intensidade e efetividade.

46,7% 30,9% 10,8% 11,6% 0% 10% 20% 30% 40% 50%

Média geral dos interv alos

0 -2 0 s2 0 -4 0 s 4 0 -6 0 s >6 0

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Existem pequenas variações nas distribuições dos intervalos conforme a posição, mas a mais evidente é em relação aos atacantes, que ao contrário das demais posições, além de intervalos médios maiores, estes se apresentam com maior freqüência.

Gráfico 5: Distribuição da duração dos intervalos do atacante

Os intervalos entre 20 e 40 segundos ocorrem com maior freqüência do que as demais posições. Parece lógico que se o atacante é o jogador que mais atua em altas intensidades e, maior recuperação entre as ações, não faz sentido treinar com intervalos curtos, pois isso poderá condiciona-lo a atuar com intensidades menores do que a encontrada no jogo.

Caixinha et al (2004) afirma que os jogadores de nível competitivo empregam uma maior porcentagem do tempo total de jogo percorrido em velocidade máxima, e que os valores mais elevados tendem a ser encontrados nos atacantes. 30,3% 32,7% 14,2% 22,8% 0% 10% 20% 30% 40%

Distribuição dos intervalos

Atacante

0-20s 20-40s 40-60s >60s

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É lógica a expectativa do preparador físico com a rápida recuperação do atleta, pois a eficácia de suas ações depende diretamente da intensidade com que são executadas.

É necessário portanto, que se atente para o fato de que muitas vezes pode se estar treinando os atletas fora das exigências do jogo. Caixinha et al (2004), constataram, em um estudo realizado com jogadores juniores do campeonato nacional português, estavam sendo treinados fora das exigências do jogo, à partir da comparação das cargas de treino e de jogo.

Rohde & Epersen (1987) em um estudo com jogadores dinamarqueses, encontraram nos jogos, valores de freqüência cardíaca superiores aos encontrados no treinos, o que pode sugerir que esses atletas foram treinados em intensidades mais baixas aquelas exigidas. O estresse causado pelo jogo pode elevar a freqüência cardíaca no início de uma partida, porém não se acredita que tal influência seja relevante no transcorrer da partida.

O gráfico a seguir demonstra o tempo total médio, em minutos que cada

atleta passa andando ou parado em um tempo de 35 min.

Gráfico 6: Tempo Total Médio andando ou parado (em minutos) para cada atleta

2 2 ,8 6 Z a g 1 8,49 L a t 1 9 ,3 5 V o l 1 9 ,0 8 M ei 24 ,79 Ata 0 5 10 15 20 25 30

M éd ia d e tem p o to tal (m in )

Z ag Lat V ol M ei A ta

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Os valores indicam que os laterais, meio-campistas e volantes participam mais ativamente do jogo ao contrário dos atacantes e zagueiros, sendo que os zagueiros têm por função marcar os atacantes.

Se tomarmos o atacante como exemplo, de 35 minutos jogados em cada etapa, ele só participou ativamente de pouco mais de 10 minutos em média (aproximadamente 1/3 da partida), e provavelmente, seja nesses 10 minutos, que estão inseridas as cargas as quais ele é submetido. Os volantes, meio-campistas e laterais, descansaram, em média aproximadamente 5 minutos a menos em cada tempo da partida, mas de qualquer forma, também passam a maior parte do tempo andando ou parados.

Um estudo realizado por Yamanaka et al (1987), com 49 atletas, europeus, sul-americanos e asiáticos, encontrou que cerca de 10% do tempo de uma partida o atleta encontra-se parado enquanto que, cerca de 50% do tempo o atleta encontra-se andando, o que confirma os valores encontrados no presente estudo, pois em cerca de 2/3 do jogo o atleta se encontrou parado ou andando.

Muitos estudos realizados analisando as distâncias percorridas (REILLY & THOMAS, 1976; WHITERS e Cols., 1982; VAN GOOL et al, 1987) encontraram valores em torno de 10 mil metros, com aproximadamente 2.000 a 2.500m percorridos caminhando.

McArdle et al (1999) atribuem cerca de 20% da energia gasta em uma partida de futebol ao metabolismo aeróbio, 70% da energia ao metabolismo anaeróbio lático, 10% para o sistema ATP-CP. Portanto, embora a maior parte do tempo gasto em uma partida seja através de ações de baixa intensidade, o gasto energético possui em sua maior participação, a energia proveniente do metabolismo anaeróbio.

Ainda assim, a boa capacidade aeróbia é importante para a remoção do lactato e, ressíntese dos substratos depletados durante as ações do jogo, ou seja, fundamental para uma melhor recuperação não só durante a partida, mas entre uma partida e outra; portanto, não se pode negligenciar os estímulos visando

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melhorias da capilarização, aumento do volume sistólico e do limiar anaeróbio e também a mais eficiente ação das enzimas oxidativas e das mitocôndrias.

Parece haver concordância sobre a importância do metabolismo aeróbio e anaeróbio para a prática do futebol; a grande dúvida continua sendo qual o meio ou método deve ser utilizado visando o mais eficiente ajuste estrutural e funcional para cada posição tática respeitadas suas peculiaridades que possibilite manter alto nível de velocidade das ações motoras e a mais rápida capacidade de recuperação sem perda de rendimento.

Conclusão

Através dos resultados encontrados no estudo, se constatou:

O futebolista se encontra parado ou andando cerca de 2/3 da duração total do jogo;

A média dos intervalos variou conforme a posição, demonstrando diferenças na densidade de estímulos para cada posição;

Ocorreu uma grande variabilidade na duração dos intervalos e que podem ocorrer em qualquer momento da partida, independente da ação posterior;

A grande variabilidade encontrada na duração dos intervalos indica que os treinos não devem ser organizados de acordo com prescrições regulamentadas tradicionais, ou seja, os intervalos entre as ações durante os treinos devem ser aplicados respeitando a densidade do estímulo competitivo;

O intervalo entre os estímulos de treinamento deve respeitar a amplitude de variação/densidade dos estímulos de acordo com as diferentes posições ou funções táticas;

Os atletas analisados apresentaram maior freqüência de intervalos com duração entre 0 – 20 segundos, com exceção do atacante que apresentou maior freqüência dos intervalos com duração entre 20 – 40 segundos;

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A não regulamentação das pausas representa uma tendência coerente do moderno treinamento de futebol tendo em vista a especificidade das ocorrências;

Embora a amostragem estudada seja insuficiente para pretender que o presente estudo sirva de normativa para a aplicação do treinamento desportivo na modalidade futebol na categoria infantil, o estudo pretende motivar uma reflexão sobre os fundamentos metodológicos tradicionais de treinamento que preconizam tempo de intervenção e recuperação regulamentados, estabelecidos sem suporte científico coerente; cada categoria deve ter seus próprios parâmetros para a aplicação do treinamento; sugere-se a realização de novos estudos que venham contribuir com o estabelecimento dos fundamentos do treinamento desportivo aplicados ao futebol.

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