• Nenhum resultado encontrado

O Rosacruz

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O Rosacruz"

Copied!
52
0
0

Texto

(1)

Mãos:

expressão

da Alma

Mantras

e Sons

A água

é coisa

comum

(2)

O SAGRADO

E A TRADIÇÃO PRIMORDIAL

CONVEGNO MONDIALE DELL'ORDINE DELLA ROSA-CROCE AMORC

ROSENKREUZER WELT-KONVENT

ROZEKRUISERS WERELD CONVENT

• De Verheven en Oorspronkelijke Traditie"

SVÈTOVY KONVENT ROSEKRUCIÁNSKÝ

"Posvátna um prvotni Tradice"

CONVENTION ROSICRUCIENNE MONDIALE

"Le Sacre et la Tradition Primordiale"

BCEMHPHAfl KOHBEHUMR P03EHKPEftUEP0B "CBfnueHHafi OepBimHas Tpa*(»w«B*

CONVENÇÃO MUNDIAL ROSACRUZ

24 A 27 DE AGOSTO DE 2011

TEATRO GUAÍRA - CURITIBA - PARANÁ - BRASIL

G r a n d e Loja d a J u r i s d i ç ã o de L í n g u a P o r t u g u e s a Rua Nicarágua, 2620 - Bacacheri - 82515-280 - Curitiba - PR

(3)

Bibliografia

Complementar

Todos nós sabemos que o Ensinamento Rosacruz tem um método especial de atingir a consciência do estudante. A atmosfera do Sanctum, a reflexão, a meditação... são complementados pelo processo iniciático que é desenvolvido em casa e principalmente nas Lojas e Capítulos de nossa Ordem.

A estrutura deste Ensinamento tem como pilar central e, portanto, principal o conteúdo das Monografias. Delas derivam as ilações, investigações e reflexões que, quando corre-tamente esclarecidas, consolidam o conheci-mento perpetuado por esta Escola de Sabe-doria que é a A M O R C .

O caminho que conduz à apreensão dos princípios místicos é auxiliado por literatura rosacruz fidedigna, que está ao alcance do membro nos livros de nossa biblioteca, constante na relação de suprimentos.

Neste objetivo, os periódicos da GLP a revista "O Rosacruz" e o "Fórum Rosacruz" são muito importantes devido à qualidade dos artigos, pesquisas, perguntas e respostas selecionadas de membros de nossa Jurisdição e de outras. Este conjunto de possibilidades -desde o conteúdo das Monografias, Iniciações no lar e nos Organismos Afiliados, a vivência nos Organismos, a Divisão de Ensino e Instrução, entre outros meios e benefícios -fazem da Filosofia Rosacruz um sistema

ímpar de desenvolvimento do Ser Humano. Esta revista "O Rosacruz" traz artigos e matérias especiais, que provocam reflexão em todos nós e se somam aos outros ensina-mentos da Sabedoria Rosacruz.

As inscrições para a Convenção Mundial estão aumentando diariamente e em breve teremos um número expressivo de inscritos. Se você planeja vir à Convenção, sugiro a reserva de hotel ou outra hospedagem, bem como a inscrição na GLP, uma vez que, excepcionalmente, neste evento as vagas se esgotarão bem antes do término do prazo.

Destaco o lançamento do livro "A Prece do Coração"e o C D "Antiphonarius Rosae+Crucis". São criações místicas que enlevam o membro que busca a inspiração cósmica.

Sincera e fraternalmente A M O R C - G L P

Hélio de Moraes e Marques GRANDE MESTRE

(4)

O Rosacruz é u m a publicação

trimestral da Jurisdição de L í n g u a Portuguesa da A n t i g a e Mística O r d e m Rosae Crucis. A s demais jurisdições da O r d e m Rosacruz

editam u m a revista do m e s m o gênero: El Rosacruz, e m espanhol;

Rosicrucian Digest e Rosicrucian Beacon, e m inglês; Rose+Croix, em

francês; Crux Rosae, e m alemão; De

Rooz, em holandês; Ricerca Rosacroce,

em italiano; Barajuji, e m japonês e

Rosenkorset, e m línguas nórdicas.

Seus textos não representam a palavra oficial da A M O R C , salvo q u a n d o indicado neste sentido.

O conteúdo dos artigos representa a palavra e o p e n s a m e n t o dos próprios autores e são de sua inteira responsabilidade os aspectos legais e jurídicos que possam estar interrelacionados com sua publicação. Esta publicação foi compilada, redigida, composta e impressa na O r d e m Rosacruz, A M O R C - G r a n d e Loja da Jurisdição de L í n g u a Portuguesa.

Todos os direitos de publicação e reprodução reservados à A n t i g a e Mística O r d e m Rosae Crucis, A M O R C - G r a n d e Loja da Jurisdição de L í n g u a Portuguesa. Proibida a reprodução parcial ou total por qualquer meio.

Coordenação e Supervisão: H é l i o de M o r a e s e M a r q u e s , F R C Editor: M e r c e d e s Palma Parucker, S R C - M T b - 5 8 0

Colaboração: E s t u d a n t e s Rosacruzes e A m i g o s da A M O R C

A s s i n a t u r a s : Ligue para (0xx41) 3 3 5 1 - 3 0 6 0 1 ano: R$ 40,00 - 2 anos: R$ 70,00

como colaborar

Todas as colaborações devem estar acompanhadas pela declaração do autor cedendo os direitos ou autorizando a publicação. A G L P se reserva ao direito de não publicar artigos que não se encaixem nas n o r m a s estabelecidas ou que não estiverem em concordância com a pauta da revista.

Enviar apenas cópias digitadas, por e-mail, C D ou D V D . Originais não serão devolvidos.

N o caso de fotografias ou ilustrações, o autor do artigo deverá providenciar a autorização necessária para publicação perante as autoridades pertinentes ou autores respectivos.

O s temas dos artigos devem estar relacionados com os estudos e práticas rosacruzes, misticismo, arte, ciências e cultura geral.

"Vida" por N i c o m e d e s G ó m e z - vide página 0 8 .

Propósito

da Ordem

Rosacruz

A Ordem Rosacruz, A M O R C é uma organização internacional de caráter templário, místico, cultural e fraternal, de homens e mulheres dedicados ao estudo e aplicação prática das leis naturais que regem o universo e a vida. Seu objetivo é promover a evolução da humanidade através do desenvolvimento das potencialidades de cada indivíduo e propiciar ao seu estudante uma vida harmoniosa que lhe permita alcançar saúde, felicidade e paz.

Neste mister, a Ordem Rosacruz oferece um sistema eficaz e comprovado de instrução e orientação para u m profundo autoconhecimento e compreensão dos processos que conduzem à Iluminação. Essa antiga e especial sabedoria foi cuidadosamente preservada desde o seu desenvolvimento pelas Escolas de Mistérios Esotéricos e possui, além do aspecto filosófico e metafísico, um caráter prático.

A aplicação destes ensinamentos está ao alcance de toda pessoa sincera, disposta a aprender, de mente aberta e motivação positiva e construtiva.

Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa Rua Nicarágua, 2620 Bacacheri - 82515-260 Curitiba - P R www.amorc.org.br Caixa Postal 4450 - 82501-970 Fone: (0xx41) 3351-3000 Fax: 3351-3065 e 3351-3020

(5)

nesta

O u t r a espécie de caridade

for RALPH M. LEWIS, FRC

Bodhidharma 0 9

for MARC CORNWALL, FRC

Wagner e o Santo Graal for EDNA MAY CROWLEY, SRC

Florescer 18

for CRISTINA MARIA POMPEU PUMAR, SRC

Instintos, identificação, qualidades, quantidades for MARCELO NAZARETH, FRC

Mantras e Sons Vocálicos for LUIS FÁBIO MIRANDA, FRC

Criação ou cópia, eis a questão for LUIZ EDUARDO V. BERNI, FRC

Serviço for LIANA MÁRCIA JUSTEN, SRC

A Suprema Esperança 3 2

for GEORGE TREVELYAN, FRC

U m Místico e Sua Missão 3 7

for SALVATORE TASCA, FRC

A água é coisa comum for E. JAY RITTER, FRC

Mãos: expressão da Alma for SAMUEL AVITAL, FRC

A saúde 4 6

(6)

Outra espécie de

caridade

por RALPH M. LEWIS, FRC

(7)

E

m várias ocasiões, perguntaram-me de que modo eu empregaria, para fins de caridade, uma grande soma de dinheiro que me chegasse às mãos. Em outras palavras, que forma assumi-ria minha caridade nessas circunstâncias? Minha resposta, se as expressões faciais constituem indício, confundiu alguns e talvez não tenha sido bem aceita por outros de meus ouvintes.

Naturalmente, de imediato compreende-se que a precompreende-servação da vida é o fator básico e essencial de que todos os outros interesses e necessidades humanas dependem. Se não há vida, também não há a consciência mortal que concebe ou deseja todas as outras coisas. Quase todas as instituições de caridade e suas atividades baseiam-se nesse princípio. Por conseguinte, a média das pessoas aquieta as exigências de sua Consciência no sentido de auxiliar seu semelhante, comprando-lhe um sanduíche e uma xícara de café. Se forem grandes os recursos de que dispõem e se for igualmente intenso seu impulso de com-paixão, tais pessoas podem contribuir com cem, mil ou mais Reais para uma organi-zação de caridade. Essas contribuições são extremamente necessárias à guisa da caridade

básica que provê alimento e roupas, mas

continuar a fazer contribuições tão-somente desse tipo não é uma compreensão inteli-gente da caridade.

A caridade não implica exclusivamente doar algo material, como roupas, alimentos, abrigo e mesmo dinheiro. Pode indicar (e de fato indica) uma atitude generosa para com outra pessoa e a manifestação de um espírito benevolente. Vocês já pararam para pensar que no mundo existem milhões de pessoas que não estão passando fome, que fazem três refeições fartas por dia, que possuem roupas adequadas e apresentáveis e possuem uma boa residência mas que, não obstante, estão desesperadamente necessitando de caridade?

Fisicamente, não têm nenhum transtorno, mas carecem muito de fé e esperança e de uma favorável perspectiva do amanhã. São

pobres em ânimo e sua mente está definhada por falta de um tipo de nutrição que um prato de comida ou alguns trocados não pode fornecer.

Suponhamos que todos os seres humanos da face da Terra tivessem o suficiente para comer, fossem saudáveis e tivessem o proverbial "lugar em que recostar a cabeça" -será que essas circunstâncias admiráveis aboliriam a caridade, não sendo mais ela necessária? Qual seria o curso da caridade nessas circunstâncias? Certamente, o ideal para o futuro da espécie humana é mais do que uma humanidade bem alimentada e bem abrigada. Será que estaremos desejando ao homem não mais do que necessitam seus bichinhos de estimação? Alimentamos o cão ou o gato da casa, mantendo-o limpo e saudável, e ele fica contente, e nós ficamos satisfeitos de que nosso dever humano para com ele foi cumprido.

Mais do que

as necessidades

físicas

Será que nós, será que qualquer ser humano inteligente ficaria satisfeito só em viver, mesmo diante da garantia de que jamais passaria necessidades físicas? É óbvio que há certos desejos espirituais e intelectuais que precisam ser satisfeitos para que a humani-dade não continue numa condição de penú-ria, ainda que todos tenham no almoço um pedaço de carne para comer, como defendem alguns demagogos políticos.

Você alguma vez já sentiu que um talento seu foi cerceado? Já sentiu através dos olhos a alma buscando expressar-se, buscando algum encorajamento, alguma chance de dar vasão a seus impulsos criativos? Alguma vez já ouviu de um jovem brilhante a súplica pela chance de demonstrar algum dispositivo mecânico tão extraordinário e tão radical, talvez tão

(8)

reflexão

radical que o ouvinte dito "terra a terra", sem imaginação, não podia compreender seu extraordinário alcance?

Se você pudesse ouvir de um jovem assim a súplica para que lhe sejam concedidos alguns momentos de atenção ou alguns dias de trabalho num laboratório, para que tenha a chance de provar o mérito daquilo em que trabalhara por semanas ou talvez anos, e se pudesse ver seu olhar quando se lhe voltam as costas com o rude e descortês "não esta-mos interessados", você saberia que é neces-sária outra espécie de caridade.

Neste e em outros países, há centenas (talvez milhares) de pessoas cujo medíocre emprego só lhes fornece um escuro e sombrio quarto de pensão, um ou dois conjuntos de roupa e alguns centavos soltos no bolso, mas que passam todos os momentos livres gastan-do a sola gastan-do sapato ingastan-do de um a outro produtor de teatro, na tentativa de encenar uma peça. São pessoas desconhecidas, nin-guém nunca ouviu falar delas. Não têm a seu favor nenhuma publicidade chamativa. A peça que escreveram pode ser digna de um mestre, fascinante, o resultado de genialidade literária, mas, porque seu cartão de visitas não impõe imediato respeito ao ser passado às mãos dos subalternos de um czar editorial, jamais são admitidas ao sanctum sanctorum do "chefão" e nunca recebem a devida consideração.

Mérito e

reconhecimento

Dizem-lhes, em palavras frias e desalenta¬ doras, que o público deseja ler o que o Sr. Fulano de Tal ou o que a eminente Sra. Cicrana de Tal escreveu, e que os editores estão em busca de dinheiro e que devem atender às exigências do público. Uma explicação que jamais dão através da desde-nhosa cartinha de rejeição, ou através das frias observações da recepcionista, é o modo pelo qual os autores eminentes, cujas obras o

público deseja ler, passaram a ser eminentes e a ser aceitos. A pessoa não nasce já com o aplauso e aceitação literária; ela precisa conquistá-lo por mérito e reconhecimento.

Contudo, essa atitude de muitos edi-tores, de descobrir um gênio literário, usar de recursos financeiros para afastá-lo dos competidores e depois fechar a porta a todos os outros talentosos escritores-aspi¬ rantes só porque estão por demais ocupados explorando aqueles de que já dispõem, é como estar empanturrando-se à mesa de jantar, por demais ocupado para dar-se ao

trabalho de se levantar e alimentar uma pessoa faminta à porta.

Esses mesmos grandes editores de com-posições musicais ou literárias, ou esses grandes executivos de empreendimentos manufatureiros, são sempre medalhas de ouro, proeminentes contribuidores de instituições municipais de caridade ou de outras institui-ções da comunidade. São considerados

Doado-res de mão cheia, e suas contribuições de

milhares ou talvez milhões de Reais sempre dedicadas a organizações filantrópicas e a indivíduos que visam ao bem da comunidade constam no topo de colunas de jornal.

Esse tipo de caridade é um bom negócio, dada a concomitante publicidade. Mas é bem menos humanitária que uma simples leitura de um manuscrito que lhes foi apresentado e que a apreciação de seu real valor e a conse-quente aceitação, caso tenha valor. Com muita frequência editores ou empresários lamentam-se por terem voltado as costas àquele inopor-tuno jovenzinho Sr. Silva, que os visitava todos os dias, solicitando uma entrevista e carregando embaixo do braço, com profunda afeição, um rolo ou um maço de papéis com o esboço ou o esquema de algum invento, e que, mais tarde, foi aceito por um concorrente e foi considerado um gênio.

Um milhão de Reais para manter ativo um albergue é indubitavelmente um dona-tivo elogiável, mas também elogiável é a doação ou o investimento dessa quantia num jovem inteligente e sincero que, se dispuser

(9)

do estímulo financeiro, pode encontrar auto-respeito, sucesso e, finalmente, prover empre-go a centenas, talvez milhares de pessoas, bastando para tanto que seja auxiliado a dar início a seu empreendimento.

Todos podemos imaginar o que é estar com fome ou estar com frio até os ossos por não ter nenhum abrigo num clima gelado. Aqueles que não estão por demais envolvidos em seus problemas pessoais, e que estão em condições de fazê-lo, auxiliam a aliviar esse sofrimento nos outros. Mas alguns cometem o grande erro de pensar que as coisas que não apreciam, ou sem as quais podem viver, não podem constituir caridade para os outros. Para muitas pessoas, uma viagem ao redor do mundo, fora dos surrados roteiros turísticos, ou uma estada em terras orientais, com as despesas pagas por sessenta ou noventa dias, seria um luxo, e certamente não poderia ser classificada de caridade. Isso é tão-somente porque tais pessoas não têm a compreensão, o intelecto ou os talentos estéticos para converter uma viagem assim em tudo, menos num prazer momentâneo.

U m talentoso e jovem escritor daria tudo para pagar antecipadamente um empréstimo

que lhe possibilitasse viajar a países estran-geiros, em que poderia estudar o povo, a arquitetura e as estranhas culturas desses países. Isso daria a seus talentos um respeito que nunca poderia ser medido em termos de dinheiro. Pensem no que significaria para um músico ou um cantor ter a chance de estudar um ou dois anos na Itália. Pensem também no inestimável valor que teria um verdadeiro pintor ou escultor, não um diletante, ficar em Paris sob os cuidados dos líderes das diversas escolas de arte, tendo a chance de estudar em primeira mão as obras-primas de arte.

Alguns alegam que esse tipo de auxílio rouba do indivíduo sua iniciativa e o impede de saborear os mais doces frutos do sucesso posterior, se o alcançar. Será que dizemos a mesma coisa para a pessoa verdadeiramente faminta e a deixamos a seus próprios recursos para que esquadrinhe a cidade em busca de alimento, na esperança de que, se o encontrar, será mais gostoso que a comida fornecida por caridade? Com certeza nenhuma pessoa sensível, com algum senso de justiça ou com valores morais, assumiria uma atitude dessas.

Necessidade

da alma

A fome da alma é também tão pungente e dolorosa como a do corpo. O fato de alguns nunca a terem sentido, assim como alguns nunca sentiram fome física, não refuta sua existência.

Execramos o atual aumento de suicídios; consideramos o suicídio uma fraqueza moral. Mas a verdade é que muitos que recorrem a esse método de se livrar de problemas torna-ram-se espiritualmente famintos, pela falta de algo que satisfizesse as necessidades da alma, as quais uma verdadeira e diferente forma de caridade poderia satisfazer. Por um lado, pode ser uma fraqueza moral e uma forma de covardia tirar a própria vida e assim incorrer numa consequência cármica; mas,

(10)

reflexão

por outro lado, enfrentar a vida ano após ano sem ser feliz e com a possibilidade de jamais poder concretizar alguma ambição ultrapassa todas as outras considerações para um indivíduo nessas circunstâncias.

Quando a pessoa cujos ideais lhe davam o ânimo de continuar vivendo descobre que, por nenhuma deficiência sua, esses ideais estão sendo arruinados, por causa do maligno ceticismo em seu próprio interior, fica fora do juízo normal. Não pode, por isso, ser encarada com a filosofia dos erros do suicí-dio, como também não o pode alguém que esteja sofrendo grande dor física.

Creio que um resumo de tudo o que foi dito é suficiente para revelar o tipo de cari-dade a que eu me dedicaria se tivesse as necessárias condições: cultivaria a companhia de jovens que, não dispondo de recursos financeiros, fossem decididos e ambiciosos e tivessem esperanças e talentos. Eu lhes adiantaria algum dinheiro para estimular, não necessariamente sua instrução (que as escolas e os cursos noturnos hoje possibilitam), mas a consecução do sonho de sua vida. Se não pudesse fazer isso com dinheiro, usaria quaisquer relações influentes que tivesse para colocá-los em contato com pessoas ou instituições que lhes dessem ouvidos, vissem seus planos e lhes dessem uma chance tão-somente por seus méritos e esforços.

Eu ajudaria a fundar um fidedigno centro público de avaliação vocacional, que ana-lisasse jovens que estão à deriva e que ainda não se encontraram, que não sabem o que desejam ou o que podem fazer, e que, se não forem auxiliados, podem se tornar recrutas do crescente exército dos desajustados. A cada ano milhões de jovens estão desperdi-çando mais um ano de vida (dos anos mais criativos, dos anos de maior vitalidade e quando suas faculdades são mais vigorosas), só porque lhes falta saber como ou em que devem concentrar suas faculdades.

H á muitas pessoas que estão desempre-gadas (e eu conheço isso por experiência própria) e que detestam a maioria dos

trabalhos que lhes são oferecidos não porque sejam pessoas indolentes, mas porque sua mente não é estimulada pelos trabalhos que lhes são oferecidos. Fazer o trabalho que se lhes pedem equivale a uma condição de escravidão; elas prefeririam ser livres em espírito a ser escravos bem alimentados. Isso porque não se lhes explicou o lado romântico de muitas profissões, ofícios e trabalhos.

Uma breve conversa com eles e um ligeiro perscrutar dos recessos de sua mente reve-laria suas inclinações e capacidades inatas. Então, por uma descrição entusiástica de um cargo ou profissão que corresponda a suas capacidades, esses jovens seriam despertados, começariam a se encontrar, cristalizaria-se em sua mente um objetivo, e eles teriam nisso um incentivo. Isso, portanto, não é somente outra espécie de caridade, mas uma forma de caridade que auxilia o indivíduo, bem como a civilização como um todo. A

Nossa

"Vida" - Nesta edição publicamos o quadro

"Vida"que compõe o tríptico "Luz, Vida e Amor" do Frater Nicomedes Gómez, cuja obra Amor, publicamos na edição anterior. O quadro é repleto de significados esotéricos. Toda a Vida emana de um centro "vigilante" representado por um olho complexo. O espaço,

a matéria, as estrutu-ras e a vida, estão pro-jetadas em uma espi-ral dos mundos. D o olho se irradiam trin-ta e dois raios do conhecimento, entre outros símbolos que podem ser estudados e utilizados para re-flexão. Esse ilustre Rosacruz tem uma obra cuja profundi-dade vale a pena ser conhecida por todos aqueles que desejam se aprofundar nos mistérios da Vida.

(11)

Bodhidharma

por MARC CORNWALL, FRC*

Q

ual é o significado de "Bodhidharma

vem do oeste?" Na dialética Zen,

esta questão na verdade significa

"Qual é a maior verdade do Zen}"

Diz-se que o Bodhidharma era um persa da Ásia central ou um príncipe da dinastia Paliava, do sul da índia, e que é considerado o 28° patriarca indiano numa linhagem direta do Buda. Seu próprio nome fala de sua natureza: bhodi significa "iluminação", e

dharma, "verdade" ou o "absoluto". Sua

jornada fatídica da Índia para a China deu início à transmissão de uma lamparina de conhecimento cuja chama ainda queima.

Conta-se que Bodhidharma, ou Putidamo em chinês, entrou em Guangzhou (também conhecida como Canton), na China, por volta de 527 d . C , quando tinha 109 anos de idade. Durante os anos que passou na China, iniciou-se no Chan Budismo (conhecido como Zen no Japão) e nos elementos das modernas artes marciais. Bodhidharma explicou o Chan da seguinte forma:

• Uma transmissão especial fora das escrituras;

• Independente de palavras ou de letras;

Apontando diretamente para a alma do homem;

• Observando a natureza e conquistando o estado de Buda.

Quando chegou a Guangzhou, Bodhidharma foi convidado para falar com o Imperador W u Di, da dinastia de Liang. O imperador tinha muito orgulho do patrocínio extravagante que dava ao B u d i s m o e achava que já t i n h a conseguido um lugar seguro na "outra praia". Ele informou a Bodhidharma sobre seu trabalho e perguntou: "Que mérito obtive desses atos}"

Bodhidharma respondeu, "Nenhum". E explicou ao cabisbaixo imperador que essas ações tinham valor limitado e que os méritos obtidos com elas desvaneciam no tempo. O verdadeiro mérito, disse ele, pode ser obtido apenas despertando a sabedoria interior e prestando atenção à própria natureza, não simplesmente através de interesses munda-nos. W u Di então perguntou sobre a natu-reza das verdades mais elevadas dos ensina-mentos sagrados. A famosa e profunda resposta de Bodhidharma foi a seguinte:

(12)

cultura zen

"Esvaziamento e ausência de santidade.1" Em outras

palavras, Bodhidharma implica que as próprias profundezas do universo, seu ser elemental, não pode ser classificado.

No Norte

da China

O velho mestre então viajou para o reino da

dinastia Wei do Norte, na China, que se tornou sua primeira esfera de ativi-dade. Ali encontrou muitos estudiosos budistas e confucionistas que estavam dispostos a discutir peque-nos pontos da doutrina das escrituras, mas ninguém que seguisse a prática verdadeira do budismo. A religião de Bodhidharma consistia em cada ato da vida diária: comer, dormir, falar com os outros e

trabalhar; ação era sua forma de praticar. Bodhidharma viajou em seguida para o norte indo até o pequeno mosteiro Shaolin, na montanha. Descobriu que os monges ali eram espiritualmente desenvolvidos, mas fisicamente fracos. Para remediar isso, ele os instruiu nas "Dezoito Mãos de Luohan'. Esses dezoito exercícios são as bases do kung-fu e do karatê modernos.

Os estudantes do Zen ainda veneram Bodhidharma por sua determinação e força de vontade. Após sua estada no mosteiro de Shaolin, mudou-se para uma caverna numa montanha próxima. Ali, praticou Zuo chan

(zazen em japonês), meditação em posição

sentada, por nove anos, e falou pouco ou absolutamente nada com seus visitantes. Os

chineses o chamavam de

"Brahmin contemplador de parede", embora ele não

estivesse simplesmente contemplando uma parede (era na verdade um preci-pício de 2.500 m), mas cultivando seu poder espiritual e seu wu {satori, em japonês), ou estado de iluminação. Os monges Zens atualmente praticam equivocadamente o zazen olhando para paredes.

Bodhidharma não teve grandes grupos de discí-pulos durante sua vida. Aqueles que quisessem aprender com ele eram totalmente devotados a se tornarem iluminados e a aprenderem a Verdade. Um desses devotos cortou seu próprio braço para provar sua sinceridade com o severo Bodhidharma, que finalmente o aceitou.

Bodhidharma viveu bastante e bem. Não se sabe onde ele morreu, mas conhecem-se suas máximas Chan/Zen vitais, o Dharma:

• Castigo do ódio, viver com os resultados de ofensas passadas.

• Estar em conformidade com a Verdade, viver em unidade com a Mente Original, que está em estado de quietude.

• Buscar nada, nenhum apego a coisas, estar em conformidade com as mudanças nas circunstâncias.

• Ser consistente com o Dharma, a Verdade, cuja natureza é pura (e vazia).

* Traduzido do "Rosicrucian Beacon" de março de 2009.

Esta caligrafia e m pergaminho japonês de Bodhidharma diz "o Zen aponta diretamente para

o coração humano; o vê e m sua natureza e se torna Buda".

(13)
(14)

personalidade

Wagner

e o Santo Graal

(15)

J"k Após quarenta anos de trabalho

a V prodigioso e às vezes sofrendo ^^"""^L tempestuosa oposição, Richard M % Wagner foi reconhecido pelo

mundo musical como o maior criador dentro

da história da arte musical. Mas é o mundo

místico que enxerga em Parsifal, sua última ópera, a revelação do Cálice Sagrado.

Para compreender Parsifal, precisamos primeiro abordar as óperas dos anéis. Em maioria, os historiadores acentuam que Wagner extraiu os enredos das óperas dos anéis do épico germânico Nibelungenlied ("O Anel dos Nibelungos"). Mas a penetrante visão de Corrine Heline, em seu livro Música

Esotérica de Richard Wagner, revela que as

óperas dos anéis representam Água, Ar, Terra e Fogo. Das Rheingold (O Ouro do Reno) representa a Senda da Água; Die Walküre (A Valquíria) a Senda do Ar; Siegfried, a Senda da Terra; e Die Gotftterdammerung (O Crepúsculo dos Deuses), a Senda do Fogo. Por isso, tem-se a certeza de que Wagner teve acesso a ensinamentos místicos.

Iniciação à Luz

As óperas dos anéis supostamente "formam um imenso caleidoscópio do desenvolvi-mento passado, presente e futuro da espécie humana. Gotftterdammerung representa as trevas da materialidade e revela a senda da iniciação do amor, que levará a humanidade de volta à Luz do Espírito".

Se encararmos as óperas de Wagner como graus de desenvolvimento espiritual, sua ordem seria esta:

Tannháuser, Lohengrin, Tristão e Isolda e Parsifal. Á medida que as óperas eram

cria-das, cada qual trazia consigo maior promessa da possibilidade do épico final - a majestosa, a incomparável Parsifal, sobre a qual se afir-mou: "Pela música excelsa de Parsifal, o homem pode construir uma ponte de ouro sonora por meio da qual pode comungar com as hostes angélicas e arcangélicas."1

O mundo musical registra que

Lohengrin e Parsifal foram baseadas nas

lendas medievais do Santo Graal. Afirma-se que Wagner obteve o texto para essas óperas na obra do poeta épico e minnesinger (poeta-cantor) alemão Wolfram von

Eschenbach (1170-1220).

O primeiro autor que se sabe ter dado tratamento literário à lenda do Rei Artur foi Chrestien de Troyes, da França (fins do século XII). Mas a primeira referência conhecida, data do ano 600 d.C.

Essas lendas originaram-se das estórias tradicionais de heróis irlandeses e galeses. Antes do ano 1000 surgiram entre os bretões, que as difundiram no Oeste da Europa, parcialmente através dos minnesingers. Os

minnesingers da Alemanha, correspondentes

aos Troubadors (trovadores) do Sul da França, floresceram nos séculos doze e treze. Os maiores foram Walther von der Vogelweide e Wolfram von Eschenbach. Mais tarde, os

meistersingers sucederam os minnesingers.

O Rei Artur

Afirma-se que o Rei Artur pode ser colocado aproximadamente entre 495 e 537 d.C. O mundo místico, porém, tem motivos para crer que o conhecimento do Cálice Sagrado (o Graal) data de séculos antes, do Rei Artur e séculos antes de Cristo.

Por ordem do Imperador Napoleão III, a ópera de Wagner Tannhauser foi encenada no teatro de ópera de Paris em março de 1861. Foi vaiada e forçada a sair do palco pelos membros do Jockey Club, que condenaram a produção de uma ópera que não continha o costumeiro balé no meio do segundo ato. Wagner recusou-se a inserir um balé, para não quebrar a continuidade da ópera.

Nessa época Wagner estava em penosas dificuldades financeiras, dependendo da caridade de alguns amigos, principalmente de Liszt. A partir de 1850, sua lista de obras literárias aumentou rápida e intensamente,

(16)

personalidade

incluindo todos os poemas de todas as suas óperas posteriores, com exceção de Parsifal. E m 1864, Luís II da Bavária ofereceu-lhe o cargo de Diretor Real em Munique, dando-lhe ainda amplo apoio para seus projetos teatrais. O teatro de ópera de Bayreuth, construído somente para a produção das óperas de Wagner, foi completado em 1876, e a tetralogia dos anéis, que Wagner chamou de

Der Ring des Nibelungen (O Anel dos

Nibelungos) foi apresentada nesse ano.

-Parsifal

Parsifal, a última ópera de Wagner, foi

encenada em 26 de julho de 1882. Causou forte impressão, e dessa época em diante os festivais de Bayreuth, realizados em inter-valos irregulares, tornaram-se local de inúmeras peregrinações musicais.

Após o falecimento de Wagner, em 1883, sua segunda mulher, Cosima, que era a filha de Franz Liszt, levou adiante o empreendimento de Bayreuth. No teatro de ópera de Bayreuth, a orquestra ficava oculta da platéia por um enorme peitoril que se inclinava na direção do palco. E o que era mais surpreendente: ninguém podia aplau-dir. Wagner desejava que a platéia passasse pelas mesmas experiências sublimes que estavam sendo encenadas.

Não obstante, seus nobres temas eram uma afronta para uma sociedade materialista e sensual. Embora eles ficassem furiosos e ofendidos, proibissem de serem apresentadas suas obras e se revoltassem quando ence-nadas... Wagner não capitulava!

Ele sobreviveu aos anos difíceis e enfren-tou o doloroso fato de que seu grande talento não era reconhecido. Chamavam-no de teimoso, mal-humorado, egoísta, abusivo em suas exigências, um monstro e um idiota. Mas Wagner não desistia! Ele estava certo, e sabia disso! E, por fim, triunfou.

As honras que lhe foram concedidas superaram em muito as desfrutadas por

qualquer outro compositor. O tempo provou que suas obras não só revolucionaram a trajetória da ópera, mas reverberaram em todo o campo da arte musical. Assim, sua obra de arte do futuro, que fora tão duramente ataca-da, acabou tornando-se vitoriosa. Ao criador dessa obra é bem apropriado aplicarmos as palavras de Shakespeare: "Ele de fato vence o pequeno mundo como um gigante".

O desabrochar

da espiritualidade

Analisemos o drama das duas óperas mais reveladoras, Lohengrin e Parsifal.

A Princesa Eisa, heroína de Lohengrin, exemplifica a personalidade-alma evoluída o bastante para desposar o Ser Divino (a Grande Luz) exemplificado por Lohengrin, o cavaleiro do Santo Graal.

O fato de Eisa sonhar com um cavaleiro em reluzente armadura indica que ela está pronta para ascender a um grau maior de evolução. Lohengrin surge num bote puxado por um cisne. Feitos os planos de casamento, Lohengrin pede que Eisa tenha fé - que não lhe pergunte o nome nem de onde ele vem. Eisa concorda. Tudo parece bem e os prepa-rativos para o casamento são feitos. Mas a dúvida vence a fé. Eisa faz as fatais pergun-tas, e perde assim seu lugar na Grande Luz.

Enquanto ainda soam os acordes da marcha nupcial, Lohengrin tristemente anuncia aos presentes que o casamento não mais ocorrerá. Canta então uma das declara-ções mais dramáticas de todas as óperas - a narrativa de Lohengrin Em Terras Distantes. Fala sobre Monsalvat e sobre os cavaleiros que aí guardam o Santo Graal. Revela que seu pai é Parsifal, que reina sobre tudo, e que ele é Lohengrin. Lohengrin então parte num bote agora puxado por uma pomba branca.

Afirma-se que a ópera Parsifal está mais próxima da "Música das Esferas" que qual-quer outra obra composta por mãos mortais.

(17)

Wagner sentia que essa obra estava além de sua época e pediu que ela fosse apresentada em Bayreuth só cinquenta anos depois de sua morte. Ele a chamava de Peça de Festival

Sacro. Apesar da resoluta oposição da Sra.

Wagner, a ópera Parsifal foi apresentada no Metropolitan Opera House de Nova Iorque em 1903. Os direitos autorais expiraram em 1913, e seguiram-se produções em Berlim, Paris, Roma, Bolonha, Madri e Barcelona.

A estória de Parsifal leva à verdadeira realidade do "centro divino". Só Wagner deu a essa revelação mística tratamento dra-mático tão reverente e significação tão sublime. Os seguintes eventos, que ocor-reram antes da abertura dessa ópera, ajudam a esclarecê-la melhor.

O Graal é o cálice em que bebeu Cristo na Ultima Ceia com seus discípulos. Esse cálice sagrado, junto com a lança sagrada, corria o risco de cair em mãos infiéis.

Mensageiros devotos confiaram o cálice e a lança a um cavaleiro de imaculada moral chamado Titurel, que construiu um esplên-dido santuário chamado Monsalvat (O Monte da Salvação) numa inacessível rocha dos Pireneus, e reuniu uma companhia de cavaleiros de irrepreensível honradez. Esses cavaleiros devotaram-se a preservar o Graal. Uma vez por ano uma pomba descia do Céu para renovar o poder sagrado do Graal e de seus guardiões.

Titurel, chefe dos cavaleiros, percebendo a chegada da velhice, nomeia seu filho, Amfortas, seu sucessor. O cavaleiro Klingsor, que vive perto do castelo de Monsalvat, deseja reparar seus erros à medida que a velhice se aproxima. Tenta juntar-se à Ordem do Graal, mas é rejeitado. Como vingança, consulta um espírito maligno,

Kundry, e planeja arruinar os cavaleiros. Invoca o auxílio de um grupo de sirenas, chamadas meninas-flores, metade mulher e

metade flor, que viviam num jardim mágico. Descobrindo que muitos dos cavaleiros tinham perdido a dignidade por causa do fascínio das moças-flores, Amfortas decide fazer uma investigação. Leva consigo a lança sagrada, confiando em que esta o protegeria da magia das sirenas. Mas a i . . . ! — não só ele é subjugado pelo feitiço de Kundry, como Klingsor toma-lhe a lança e nele produz um ferimento incurável.

Com profunda infelicidade, Amfortas retorna ao Castelo de Monsalvat, sofrendo eterno remorso e perpétua agonia pelo ferimento. Entretanto, como sacerdote-mor, é forçado a celebrar os Ritos Sagrados, sentindo-se o tempo todo indigno.

Em vão busca desesperadamente um remédio para a ferida e perdão por seu pecado. Por fim, numa visão, uma voz lhe proclama que só um "tolo ingênuo" (alguém

Uma das inúmeras concepções imaginárias do Santo Graal.

(18)

personalidade

que ignore o pecado e resista à tentação) poderá lhe trazer alívio, e que mensageiros celestiais guiarão essa pessoa a Monsalvat. Inicia-se então a ação da ópera Parsifal.

Parsifal chega

Ferindo um cisne, sem saber que este estava sob a proteção do rei, Parsifal é arrastado por dois cavaleiros ante Gurnemanz (um vete-rano cavaleiro do Graal), que o repreende. Essa ação ocorre

perto do Castelo de Monsalvat.

Os cavaleiros percebem que Parsifal pouco sabe sobre si mesmo. Conhecera um cavaleiro chamado Sir Lancelot, na floresta perto de casa. Contrariando os desejos da mãe, seguira-o até ali. Lembrava-se de que a mãe chamava-se Herzelied ("Tristeza do Coração").

Kundry, que entra em cena com um novo medica-mento para a ferida

de Amfortas, dá mais informações. O pai do jovem era Gamuret. Após a morte do pai em batalha, a mãe afastou o filho do convívio dos homens, para que não tivesse a mesma sina do pai. A mãe já faleceu, e Parsifal era um andarilho.

Kundry (Kundralina) é o estranho ser que parece ter duas naturezas. Ela aparece alternadamente como serva devota do Graal e, sob a influência mágica de Klingsor, como uma mulher de terrível beleza que, por fascínio, leva à ruína todos os cavaleiros que caem sob seu poder. Essa

maldição é uma punição por um crime que cometera numa existência prévia, quando, como Herodíade zombara de Cristo na cruz. Quem a encontre adormecida pode chamá-la a seu serviço; sob o feitiço de Klingsor, ela é bela; no castelo dos cavaleiros, ela é como um feio animal. Alguns dos cavaleiros protestam contra sua presença, mas Gurnemanz a defende.

Ocorre a Gurnemanz que Parsifal pode ser o tolo ingênuo enviado para curar a ferida de Amfortas. Enquanto conduz

Parsifal ao grande aposento em que o Graal será desve-lado no rito anual, Parsifal é tocado pela beleza e des-lumbramento do lugar, e diz: "Eu quase não ando, mas estranhamente pareço correr". Gurnemanz responde: "Meu filho, percebes que aqui tempo e espaço são unos, e tudo é Deus". Parsifal presen-cia a retirada do véu do Cálice. O esplendor flame-jante do Graal enche o aposento e, enquanto os cavaleiros e damas ajoelham-se em êxtase, Parsifal contempla o Cálice como se não fosse tocado pela cena. Mais tarde, interrogado por Gurnemanz, está tão deslumbrado, que não consegue falar. Enraivecido, Gurnemanz empurra-o para fora do apo-sento, e bate a porta, fechando-a.

No mundo de fora, Parsifal resiste às meninas-flores e rejeita Kundry, então com sedutora beleza. Enraivecido, Klingsor atira em Parsifal a lança sagrada, que, em vez de feri-lo como fizera com Amfortas, flutua

(19)

sobre sua cabeça, e Parsifal dela se apodera. Parsifal expulsa a magia maligna de Klingsor para sempre. O poder de Klingsor é anulado, e seu palácio entra em total ruína.

Parsifal vagueia

pelo mundo

exterior

Embora Kundry use de magia para condenar Parsifal a uma vida de perambulação, ele sai pelo mundo não tanto pelo poder da magia, mas porque ainda tem muito a aprender.

Anos depois, numa bela manhã de primavera, Sexta-feira da Paixão, aliás, Parsifal regressa. Durante sua ausência, Amfortas recusava-se a descobrir o Graal, de que os cavaleiros recebiam sustento e vigor, pois sempre que o fazia a ferida e a agonia voltavam.

Sobre a ferida de Amfortas, Corrine Heline afirma: "A incurável ferida de Amfortas é o sofrimento do ser humano, provocado por ele ter caído na vida sen-sorial - que trouxe consigo necessidades, doença, discórdia, morte e todos os grandes sofrimentos que pesam sobre os habitantes da terra. Essa ferida só pode ser curada pela redenção através de purificação da natureza sensorial inferior e pela transmutação de suas forças nas faculdades da alma".

Amfortas, em crucial agonia, delirante, anseia pela morte. Mas é obrigado a viver para cuidar do Graal. Pela morte do pai, ele é quem deve desvelar o Graal. Como a agonia é maior que suas forças, roga aos cavaleiros que o matem.

A essa altura Gurnemanz revela a Parsifal o triste estado dos cavaleiros no castelo. Kundry se encontra no papel de serva do Castelo do Graal. Ela lava os pés de Parsifal na fonte sagrada, e os enxuga com os cabelos (reminiscência de Madalena). Parsifal a batiza.

O Graal é desvelado. Kundry morre ajoelhando-se ante o altar, simbolizando isso a completa e derradeira dedicação da per-sonalidade ao serviço da alma.

Parsifal, entrando no grande aposento com Gurnemanz e Kundry, não é percebido. Amfortas está prestes a desvelar o Cálice; Parsifal toca-lhe a ferida com a lança sagrada curando-o. Uma pomba branca desce e paira sobre a cabeça de Parsifal.

O Herói

Parsifal acena suavemente com o Graal ante os cavaleiros, que estão com os olhos voltados para cima. Gurnemanz e

Amfortas, rei e sacerdote depostos,

ajoelham-se ante Parsifal, Rei Sacerdote da Ordem de Melquisedeque, Senhor das Eras. Parsifal é coroado rei e permanece no castelo como líder dos cavaleiros.

Temos, assim: (1) A Vinda de Parsifal; (2) A Tentação de Parsifal; (3) A Coroação de Parsifal. Essa sequência encontra paralelo nas três etapas dos antigos mistérios. Foi Pitágoras, o grande filósofo místico do século VI a. C , que apresentou a música e os números como potências de forças divinas. Os estudantes da escola-templo de Pitágoras passavam por três Graus sucessivos (Prepa-ração, Purificação, Perfeição), para conse-guirem a derradeira descoberta do centro divino no homem: eles mesmos.

D o ponto de vista místico, portanto, a ópera de Wagner Parsifal projeta na era moderna a essência da sabedoria de Pitágoras. Pela luz dessa sabedoria, discernimos o plano de Wagner, de desvelar o Graal, para trazê-lo à visão humana. A Opera Parsifal ainda é encenada anualmente na Sexta-feira da Paixão, no Metropolitan Opera House, de Nova Iorque.

N o t e ; 1 . Heline, Corinne, Esoteric Music of Richard

Wagner, Los Angeles, New A g e Pres, 1948.

(20)

natureza

Florescer

por CRISTINA MARIA POMPEU PUMAR, SRC

"Hierichuntis rosa ex quotor ins partes"*

P

essoas e plantas são muito parecidas.

Luther Burbank, o "Mago das Plantas" trouxe à vida muitas possibilidades latentes no mundo das plantas. Seus experimentos e realizações com as flores, por exemplo, foram notáveis. Ele fez o copo-de-leite branco desenvolver um perfume que combinasse com sua beleza rígida como cera; fez a dália ficar cheirosa; ensinou a uma pequena margarida a aumentar seu diâmetro para vinte e um centímetros... treinou

rosas para deixarem de lado suas armas de defesa e crescerem sem espinhos.

Os homens, de modo semelhante, têm um tesouro de possibilidades desconhecidas e inex-ploradas tão grande quanto as plantas. Dirigir as forças de nossa natureza, selecionar cautelosa-mente cada pensamento e cada ação, apegar-se apenas ao bem e descartar o que é indigno, como fez Burbank ao selecionar suas plantas, faz com que fiquemos capacitados a desenvolver nossa natureza com mais beleza, mais utilidade, maior serviço em bene-fício da humanidade... Isso se realiza mediante trabalho, estudo e experimentação, e, sobretudo, pela observação, compreensão e aplicação das leis da natureza.

Já foi dito que há um sermão nas pedras. H á também uma história nas flores... uma linguagem das flores... uma terapia através das flores... nas flores reside o "doce mistério da vida".

Em botânica, uma flor pode ser apenas uma planta, a florescên-cia de uma planta ou o meio de sua germinação... (as flores alojam o óvulo e/ou o pólen).

Para os místicos as flores narram contos...

Os contos que as flores narram são aqueles que foram primordialmente concebidos pelo homem. Esses contos vieram refletir os mais profundos pensamentos, os mais sublimes sentimentos e os mais transcendentais ideais do homem.

(21)

O agradável perfume das flores nos induz a um estado harmonioso de enlevo, satis-fação e paz. Daí tornarem-se as flores, o ideal físico do sentido do olfato, simboli-zando sua plena satisfação.

Ressalte-se que a fragrância de uma flor é abstrata. Vale pelo que é em si mesma. Não simboliza, portanto, necessariamente, coisas ou eventos especiais, mas sim o estado mental de imperturbabilidade - ausência de irritações.

Paralelamente, sabemos ser a beleza física uma gratificação para o sentido da visão, consistindo naquilo que é percebido com harmonia na perspectiva e na cor. Assim é que nos sentimos imensamente atraídos pelas primaveris flores, em suas vivas tonali-dades, matizes e cores.

Diferentemente do olfato, o sentido da visão identifica instantaneamente as flores com outras formas e experiências concretas: a cor do mar, o calor do sol do meio-dia, a palidez da morte, o rosáceo do san-gue... da vida...

A coloração e o cheiro das flores, muito cedo, atraíram a admiração do homem e o levaram a um íntimo exame das mesmas.

A simetria de suas formas, bem como suas estruturas geométricas, sugeriram ordem. Para nós, seres humanos, aquilo que se apresenta numa combinação facilmente compreensível e numa ordem regular é um exemplo de inteligência. A variada estrutura das flores, sua cor, a fragrância e as circunstâncias de seu crescimento o florescer -serviram para objetivar ou retratar na forma, os conceitos abstratos, espirituais ou místi-cos, do ser humano. Tornam-se, então, as flores, símbolos das verdades morais de uma consciência humana em contínua evolução.

Faz-se importante, neste ponto, lembrar que a plena gratificação de nossos sentidos físicos não se realiza nas fontes de nossos

estímulos (nesse caso na flor) e sim nas próprias sensações. Em última análise, não é

a flor de formas e cores harmoniosas e agradáveis fragrâncias, mas sim a própria experiência extática que buscamos.

Intuitivamente, apercebemo-nos que é a flor - não a raiz, o caule ou as folhas - e sim a flor, o momento em que um Reino inteiro alcança sua plenitude, ou seja, se eleva ao nível espiritual.

Dessa forma, sendo a flor, o locus de integração entre padrões vibratórios distin-tos, o florescer do reino vegetal, traz o influxo de energia essencial à regeneração, renovação, e renascer dos demais Reinos.

Logo, depreende-se que a flor é a forma e o meio através do qual o vegetal se relaciona com o Pai, traduzindo em suas pétalas uma informação divina.

Provavelmente por isso, a rosa, por exemplo, tenha se tornado, na Idade Média, símbolo do

silên-cio, por encerrar dentro de

suas pétalas a fonte de sua fragrância e alguns de seus mais belos matizes, mos-trando assim que o

Sagra-do, as virtudes e as nobres

intenções devem ser cautelosamente protegidas.

Concebo a flor como uma arquitetura angelical, um elo entre os planos material e imaterial, visível e invisível, terreno e celes-tial e, penso eu, é assim que, doravante, devemos olhar para o reino das flores... renascer nEle e para Ele... florescer em uníssono com Ele..., enfim,

FLORESCER É SER " . . . U M ROSEIRAL EM FLOR..."

* "Quantos de nós aqui s a b e m a origem d o sagrado perfume d o roseiral?"

"Para mim, a mais

humilde das flores

pode proporcionar

pensamentos que

amiúde são

profundos demais

para lágrimas."

- Wordsworth

(22)

psicologia

In

st

intos,

identificação,

qualidades,

quantidades

(23)

inserção do ser humano na condição humana não o excluiu de seus

# • • • • % domínios animais, nem o alijou

* da escala filogenética da evolu-ção. Continua, pois, pertencendo ao Reino

Animalia ou Methazoa, ao Filum Vertebrata,

à Classe..., Ordem..., Família..., Gênero... e espécie homo sapiens sapiens. E m nada disso nos distinguimos dos demais seres vivos. Somos partícipes da vida e da evolu-ção, não observadores dela.

Na medida em que a inteligência vai se tornando mais complexa, na subida dos reinos, isso em nada anula os instintos em sua estrutura essencial, apenas redese¬ nhando-lhes a conjuntura através da qual se expressam no indivíduo, bem como no organismo coletivo no qual se insere.

O desenvolvimento da humanidade no homem foi e é ainda um processo com-plexo, que atravessa fases cognitivo-com¬ portamentais de base antes do advento da linguagem, dos códigos de linguagem e da cultura, que ampliam as possibilidades de ser e de expressar/comunicar o ser ao mundo e no mundo.

Antes da linguagem, os instintos primá-rios condicionados e condicionantes das três emoções básicas, o medo, a ira, o amor (no sentido lato como afeto e atração), permitem ao ser aprender através do reforço de contingências, do condicionamento, dos reflexos que lhe moldam, via adestramento, as características animais e o inserem gradativamente na humanidade. Isso equivale a dizer que o ser inicia a sua programação informacional em sentido Behaviorista radical e cognitivista, pois não possui em si ainda as engrenagens necessá-rias para organizar uma maior complexi-dade psíquica.

Um fato que reforça isto é a história de Amala e Karnak, crianças criadas por lobos, após serem abandonadas na selva indiana, não introduzidas à linguagem humana nem à cultura e que mantiveram os padrões animais dos lobos, rejeitando os humanos,

que não reconheciam como semelhantes, tendo uma delas inclusive morrido depri-mida poucos dias depois de afastada da sua família lupina. Comportavam-se como lobos e eram lobos em corpos humanos.

A partir do momento em que a lingua-gem surge como mecanismo de elaboração da mente, as impressões colhidas pelos sentidos, antes informações perdidas pelo pensamento concreto, passam a adentrar ao domínio do pensamento abstrato, guardadas como memórias mais completas e ricas de detalhes. Vemos que os animais ditos irracionais apresentam memória. A experi-ência bem comprova que até inteligexperi-ência eles possuem, ao contrário do presunçoso conceito humano de irracionalidade. A diferença está, parece-nos, no grau de complexidade na produção, armazenamento e transmissão de dados, o que só será cabalmente possível definir o dia em que conversarmos com um gato ou um cão, para verificarmos até onde quem entende (ou não) quem e de que modo.

A linguagem no ser humano (não sabemos nos demais animais e parece-nos inacessível no momento) configura a dimensão simbólica (que une sentidos), através da analogia, quando significados, definições e conceitos são unidos aos significantes, às emoções e sentimentos despertos por aquelas "imagens/palavras", abrindo um mundo de subjetividades, do imaginário, configurando uma organização de dados além das zonas do instinto e dos condicionamentos, embora vão partilhar eternamente de zonas de interseção. Não nos parece justo dizer que há superação da fase anterior, mas que elas se somam e interagem, durante todo o trajeto de indivi-dualização e formação do eu-individual e de seu processo de individuação, como definiu Jung.

Com a linguagem, o domínio simbólico ganha mais instrumentos para se sustentar como memória e para estabelecer um fluxo comparativo entre essas ilhas de memória,

(24)

psicologia

que se vão complexando cada vez mais, estabelecendo interseções mais ou menos pronunciadas e, assim, um fluxo de comuni-cação incessante e ininterrupto será reco-nhecido como pensamento, embora vejamos que o pensamento é um

fluxo arcaico de energia psíquica, que já ocorre nos domínios de todas as espécies, pois é um

continuum da própria

vida. A vida não cessa, não para. Um vegetal, uma bactéria, um fungo, todos estão em cons-tantes relações entre si e consigo mesmos,

poden-do ou não participar deste fluir, ou simples-mente caminhar sem perceber este fluxo. Com o homem, nada difere. Somos teste-munhas de nossos pensamentos e de nossos sentimentos, que acorrem e fluem sem cessar. Nós podemos nos assenhorear deles por instantes, sermos testemunhas, mas não os geramos, nem os controlamos a maior parte do tempo. Por isso, em termos éticos, podemos e somos responsáveis pelas nossas ações, mas não pelos pensamentos e pelos sentimentos que fluem através de nós, como a própria vida.

Os pensamentos em seu próprio fluxo em diversos sentidos permitem que estas relações voltem sobre si mesmos um variado número de vezes, digo incontáveis, e esta percepção do fluxo, quando o ser dá-se conta como testemunha, marca o nasci-mento do eu-individual. O eu é como um pensamento auto-individualizante, que nos demarca até certo ponto, mas não nos limita a nós mesmos e nem poderia. Somos partícipes do grande evento chamado vida.

O eu-individual, através do eu-obser¬ vador pode agir sobre o pensamento e sobre os sentimentos com maior ou menor liberdade, na medida que os conhece e os reconhece em si e na natureza, tornando-se mais responsável em dirigir suas forças

criadoras, de modo a participar da exis-tência de modo mais complexo em termos de elaboração, intelectualizando a matéria deste modo cada vez mais e fomentando a mesma individualização nos demais reinos, quando influencia cada ser com sua presença inequívoca e transfor-madora. Cada reino na natureza contribui para a complexação do reino precedente (em termos de classificação bioló-gica apenas).

Contudo, apesar do avanço nesta escala biológica, em que come-çamos nos príons e vírus, avancome-çamos pelos moneras, pelos protistas, pelos fungi, pelos

methapytha ou plantae e pelos methazoa ou animália, até o campo hominal, a inteligência

e o pensamento, a capacidade de perceber os sentimentos e de aumentar a complexidade relacionai das emoções básicas e comuns a todos os seres (o medo, a ira e o amor) vemos que o ser humano não apresenta nesse processo evolutivo um distanciamento definitivo do campo ou do domínio dos seus instintos e desejos ancestrais.

Esse é o ponto principal em que desejo chegar com essas elucubrações psicológico-filosóficas. Baseado em tudo quanto expus, vejo que os seres humanos não apresentam condições de alijar seus instintos de suas vivências, de que somos muito mais animais do que aceitamos ser e de que essa negação tem sido a causa de muitas confusões no terreno das relações humanas. Esse desejo de não ser animal, culturalmente instituído por algumas formas de poder totalitário, desejosos de controle sobre outrem, criaram a cultura da diferenciação radical entre homem e demais seres, fazendo a huma-nidade crer na possibilidade de um ser que controle absolutamente a vida e seus instru-mentos. Isso acontece no seio das mais variadas civilizações, através de uma cultura

I I

A

intensidade dos

desejos marca a

alma, tanto quanto os

símbolos Constroem

complexidades e

subjetividades. ,

(25)

domesticante da natureza animal no ho-mem. Não quero com isso dizer que tudo está errado neste processo, mas fazer uma reflexão crítica em torno do fato de que precisamos nos conscientizar do que somos e não o negarmos, se desejamos uma socie-dade onde o amor possa vigorar como consequência natural de nosso estado de equilíbrio e não como uma imposição legal, religiosa ou pseudo-ética, porque a própria natureza nos indica a ética a qual perten-cemos e não nos podemos furtar a isso, sem danosas consequências para as nossas vidas. Inúmeros e audaciosos pesquisadores do psiquismo humano foram capazes de fazer essas observações, sobretudo Wilhelm Reich e seus discípulos, que avaliaram bem o poder e a potência das energias que nos constituem biologicamente, bem como Hahnemann e os seus discípulos homeopatas, assim como os antigos mestres das medicinas indiana e chinesa. Mesmo com os viezes do seu tempo, as interpretações que cada época permite a cada pensador, foram hábeis em perceber as engrenagens energéticas que organizam os seres biologicamente e que devem ser reco-nhecidas, coreco-nhecidas, conscientizadas, aceitas e amadas, para o exercício da liber-dade e da responsabililiber-dade como esponta-neidade e amorosidade.

Os indivíduos necessitam perceber que somos efeito de várias causas, somos sindrô¬ micos em nossas características, pensa-mentos e desejos e desta forma temos um leque vasto de elementos para entender e sentir, experienciar e integrar a consciência.

U m dos fatos, por exemplo, desta heran-ça natural, é o fato de que os condiciona-mentos reforçados, na nossa fase de evolu-ção behaviorista, nos dão características impressionantes no terreno da qualidade e da intensidade ou quantidade de reforço versus comportamento.

Atendi a vários pacientes femininos e masculinos e uma coisa me chamou e chama sempre a atenção: o fato dos indiví-duos se familiarizarem muito mais com a

intensidade das sensações percebidas do que com a qualidade delas. Chamava minha atenção que relacionamentos aparente-mente perfeitos nos conceitos utopistas de perfeição ruíssem, enquanto relações aparentemente desgovernadas, montanhas russas mesmo, caminhassem; e me pergun-tava se os seres humanos gospergun-tavam mais da guerra do que da paz. Percebo hoje, exce-ções existem, que os indivíduos se afinizam pela intensidade das emoções que buscam, não apenas pelas suas qualidades.

Precisamos ver que o indivíduo não é só instinto, nem tampouco só abstração e subjetividade, e que esse desejo de separar teorias psicológicas é mais fruto do ego inflado e vaidoso de pensadores, mais desejosos de terem razão do que com mais razão ajudarem aqueles para quem se deveriam dedicar: seus pacientes.

Indivíduos são grandes complexidades, que apresentam comportamentos, consi-derados sadios ou não, mas comporta-mentos construídos historicamente sobre a linha do tempo de evolução da humani-dade, bem como dos implementos da cultura, não uma ou outra coisa. Somos animais, somos gregários (?), somos psico-lógicos, somos tudo isso e quiçá muito mais. Penso o que eu mesmo poderia falar do que ora apresento ao leitor daqui a cem anos, talvez menos, para me crer na razão máxi-ma, como um juízo ético ou imperativo categórico kantiano.

A intensidade dos desejos marca a alma, tanto quanto os símbolos Constroem com-plexidades e subjetividades e ambas as forças no homem interagem sem cessar, necessitando ele não se pensar aprioris¬ ticamente construído desta ou daquela forma ou fôrma, mas organizado e capaz em dado instante de repensar essas expe-riências e rever parte delas, de acordo com o livre arbítrio relativo conquistado pelo advento da consciência-observadora de si mesmo, podendo se colocar em questão e dizer sim ou não a si mesmo.

(26)

prática mística

Mantras e

Sons Vocálicos

por LUIS FÁBIO MIRANDA, FRC

E

ncontramos certa confusão entre os termos Mantras e Sons Vocálicos -e com fr-equência uma simplifica-ção ao apresentá-los ao iniciante como sinônimos - mas veremos que também é muito fácil diferenciá-los, principalmente através da forma de aplicação e dos seus objetivos específicos.

Ambos - Mantras e Sons Vocálicos - são

ferramentas onde a base é o som. Muito já se

falou sobre o poder do som. Várias tradições - inclusive indígenas - afirmam que ele é um elemento tão importante que estaria ligado à formação do mundo. Até mesmo a ciência refere-se a um "Big Bang", na origem ao Universo. Mas, afinal, o que é o som?

Para o ser humano, som é uma vibração aproximadamente entre 20 e 20.000 ciclos por segundo (medida também chamada de "hertz", cuja abreviação é Hz), propagando-se da fonte que o produz até estimular o tímpano, que transmite a informação ao cérebro, onde ela é interpretada. Outros animais têm faixas diferentes de percepção; no caso dos cães, por exemplo, eles conse-guem ouvir vibrações de até 100.000 H z e assim podem ser chamados através de apitos inaudíveis para as pessoas. Além disso, há muitas espécies em que as orelhas se movem, ampliando a sua área de alcance. Nos morce-gos, elas captam o retorno das ondas que eles próprios emitem, permitindo o seu

deslocamento preciso e alimentação, mesmo na total ausência de luz. Assim, genericamente

podemos definir som como uma. faixa

vibratória que afeta de certa forma tanto a

matéria quanto os seres vivos, vegetais, animais e o Homem.

O poder do som

©m

nossas vidas

Todos sabemos muito bem o quanto somos influenciados pelo som, seja por aqueles bruscos, que nos alertam e mesmo protegem - como um estampido, uma buzina, um grito - ou pelos suaves e harmoniosos, que conseguem alterar até o nosso estado de espírito - como um riacho, um acorde, um canto. Especialmente a música, pode mudar nossa disposição, exaltando-nos, entriste¬ cendo-nos e mesmo nos emocionando até provocar lágrimas.

O som inclusive nos facilitou construir a

linguagem, para estabelecer uma comunicação

sofisticada com nossos semelhantes, num patamar incrivelmente superior aos demais seres vivos, sem a qual a civilização não teria tido as mesmas condições de surgir e se desenvolver tanto. A ciência avalia que o Homem, fisicamente, já possuía as caracterís-ticas atuais há mais de cem mil anos. A

(27)

constituição do corpo e do cérebro não teriam mudado significativamente desde então. A civilização, porém, é bem mais recente; ela apareceu há cerca de dez mil anos, depois da estruturação da linguagem, que permitiu a transmissão do conheci-mento, de geração a geração e de povo a povo. Quando a linguagem ganhou a forma escrita, houve um avanço ainda maior, com a fixação do conhecimento e sua transmissão através do tempo e do espaço. Todo este processo culminou no mundo atual, onde minúsculos chips eletrônicos armazenam bibliotecas inteiras e pesquisadores comuni-cam-se instantaneamente, mesmo vivendo em países ou continentes muito distantes, podendo realizar trabalhos em conjunto ou complementares, evitando duplicidades e colaborando para o crescimento exponencial do conhecimento humano.

Mas, voltando ao som: a Tradição ensina que certas combinações sonoras são parti-cularmente eficazes no campo psíquico para atingir objetivos específicos, como o estado meditativo ou os patamares mais elevados da consciência. Aplica-se também aqui o fenômeno conhecido como ressonância, onde uma determinada vibração entra em harmo-nia com níveis de oitavas superiores, fora do alcance de qualquer ouvido.

Com relação aos sons da Tradição, podemos então analisar e comparar oriente e ocidente:

O termo " M A N T R A " é original do sânscrito, combinando M A N (pensar) com T R A (instrumento). Mantras são sons, sílabas, palavras, frases ou mesmo textos, mais conhecidos como ferramentas para a meditação. São utilizados através da entoa-ção, mas podem ser também murmurados, mentalizados, copiados em papel,

Símbolo do O M , considerado o Mantra do qual se originaram

(28)

prática mística

sempre com a mesma finalidade. Conforme o caso, a vocalização dos Mantras pode ser acompanhada por instrumentos musicais ou mesmo palmas. O resultado é semelhante ao de certas práticas ocidentais de orar até a exaustão: a repetição de sons, palavras e frases, após minutos e mesmo horas, induz determinado estado mental devido à mono-tonia, uma vez que um ato simples e contí-nuo provoca certa anestesia ou indiferença ao próprio ato, como já cientificamente provado. O objetivo de tal prática é suprimir a instabi-lidade da consciência e assim atingir a condição em que a mente está pura, vazia: consciente, mas não-reativa. É o que chama-mos "estado neurofisiológico da meditação". Mas há Mantras para induzir outras condi-ções como: relaxamento, sono profundo, concentração, alegria, exaltação, e ainda aqueles destinados a criar, proteger, energizar, purificar e até mesmo curar. Estima-se que esta prática tenha surgido há alguns milhares de anos, entre o povo do vale do Rio Indo, região noroeste da Índia. Mas talvez não seja originária dali, porém tenha sido levada para a região por outra civilização mais antiga. Provavelmente, em tempos ancestrais, os Mantras constituíssem fórmulas mágicas, com a finalidade de afastar certas forças ou eventos e atrair aquilo que era desejado.

Quanto ao tamanho ou extensão, há dois tipos de Mantras: o primeiro é aquele simples,

curto, até mesmo monossilábico, chamado

BIJA (semente). Como exemplo, podemos citar o "OM", de suma importância, uma vez que ele é considerado "a palavra das palavras", "o passado, o presente e o futuro", "o mundo inteiro, com tudo o que existe ou que venha a existir", "o Mantra original, do qual se originaram todos os outros". H á um poema antigo que diz:

O M é o arco a A L M A é a seta B R A H M A é o alvo

cumpre feri-lo constantemente

O segundo tipo de Mantra é o complexo,

longo, como frases ou textos védicos

recita-dos em seu idioma original, o sânscrito. Quanto aos efeitos, os Mantras podem ser JAPA (repetição) para introspecção -ou KIRTAN (cântico) - para extroversão, festivos. A chamada "Meditação Trans-cendental", criada por Maharishi Mahesh Yogi, que ficou conhecido mundialmente como o guru do grupo The Beatles nos anos 60 do século XX, baseia-se na repetição de um Mantra específico, pessoal, indicado por um professor e supostamente o mais ade-quado àquele que o utiliza.

Para os leitores que desejarem se apro-fundar no estudo dos Mantras, a Diffusion Rosicrucienne, da França (www.drc.fr), oferece um livro escrito por Thierry Guinot: "L'Univers des Mantras" (O Universo dos Mantras), ainda não traduzido para o português. Embora possua 576 páginas, e pareça um tratado, com muitas ilustrações e diagramas, o livro propõe-se a ser apenas um resumo da vastíssima bibliografia existente sobre o assunto, principalmente no oriente. Muito didático, apresenta o conhecimento passo a passo, desde o conceito da "Palavra Perdida" - tão familiar aos estudantes de Misticismo - até a análise da origem, estrutura, tipos e aplica-ções dos Mantras. O texto vai além do princípio científico de que "o som é produ-to de vibrações", afirmando que o som existe por si mesmo, associado a cada fase dos mundos físico, psíquico e espiritual, sendo percebido desta forma direta por aqueles que desenvolveram tal capacidade. Assim sendo, as vibrações que ouvimos seriam apenas a liberação, em oitavas ressonantes inferiores, do que já pré-existe, podendo então ser captado pelo sentido mais grosseiro da audição. Em trechos muito místicos e mesmo poéticos, o autor faz comparações, mostrando o quanto a palavra é poderosa, seja quando é logos, que descende e cria, seja quando é prece, que ascende e reintegra.

Referências

Documentos relacionados

186 O filósofo afirma que a tarefa mais difícil para um homem é exercer a sua virtude para com um outro e não somente para si, e aquele que consegue

•   O  material  a  seguir  consiste  de  adaptações  e  extensões  dos  originais  gentilmente  cedidos  pelo 

O candidato deverá apresentar impreterivelmente até o dia 31 de maio um currículo vitae atualizado e devidamente documentado, além de uma carta- justificativa (ver anexo

6.1.5 Qualquer alteração efetuada pelo fabricante em reator cujo protótipo já tenha sido aprovado pela Prefeitura/CEIP deverá ser informada, com antecedência, pelo

O enfermeiro, como integrante da equipe multidisciplinar em saúde, possui respaldo ético legal e técnico cientifico para atuar junto ao paciente portador de feridas, da avaliação

Como já afirmei, esta pesquisa tentou compreender o olhar das crianças negras sobre sua realidade e suas relações no ambiente escolar. Através deste olhar, na simplicidade das vozes

responsabilizam por todo e qualquer dano ou conseqüência causada pelo uso ou manuseio do produto que não esteja de acordo com as informações desta ficha e as instruções de

xạ thì không có đầy dủ các khâu của 1 phản xạ vì vậy sự co cơ đó chỉ là sự cảm ứng của của các sợi thần kinh và tế bào cơ đối với sự kích thích. - Trao đổi