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CONSIDERAÇÕES SOBRE PESQUISAS REALIZADAS FRENTE AO FENÔMENO CIBERBULLYING Rosiane Gonçalves Coelho Silva 1

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CONSIDERAÇÕES SOBRE PESQUISAS REALIZADAS FRENTE AO FENÔMENO CIBERBULLYING

Rosiane Gonçalves Coelho Silva1 Introdução

A escola, como reflexo de uma situação social, encontra-se permeada de fatos que envolvem a agressão, mostrando-nos que não está “imune” ao que ocorre na sociedade, e, assim como o restante dela, deve voltar seus olhos para os fatores desencadeadores deste estado e buscar além de compreendê-los, atuar de forma sistemática sobre eles, pois atua e é atuada pelos fatores sociais, interfere e ao mesmo tempo é vítima, e, como tal, não pode fechar seus olhos para um tema tão urgente e grave.

Entre as formas de violência escolar, uma tem se destacado e foi denominada de fenômeno bullying, envolve comportamento agressivo constante direcionado a um mesmo alvo por tempo relativamente longo. Estudos realizados em todo o mundo apontam que cerca 5% a 35% de escolares estão envolvidos com os casos de bullying, tanto como vítimas quanto como agressores (FANTE, 2005).

A forma de ação se dá na intolerância em relação às diferenças, um colega que fuja de um padrão considerado adequado pelo grupo ou por um sujeito, pode ser alvo de bullying. Freire (1996, p.39-40) enfatiza que: “Faz parte igualmente do pensar certo a rejeição mais decidida a qualquer forma de discriminação. A prática preconceituosa de raça, de classe, de gênero ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a democracia”.

Os participantes do bullying assumem diferentes papéis que se dividem entre agressores, vitima, vítima-agressora, e observadores. O agressor é o aluno, que tem ações agressivas, tanto física como verbal com o outro, com intenção de

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machucar, prejudicar (BERGER, 2007). O autor do bullyying é popular e possui comportamentos antissociais (LOPES, 2005) e vê suas ações agressivas como qualidade, sua intenção é dominar e maltratar o outro, normalmente sua característica física é ser mais forte que o alvo. A vítima não consegue se desvincular das agressões, desta forma, aumenta a popularidade do agressor entre colegas. O bullying na infância pode ser o começo de uma história de agressão ao longo da vida adulta. (WHITNEY & SMITH, 1993) encontram associação de crianças agressoras em idade escolar e a criminalidade adulta.

A vitima é a criança ou adolescente alvo do bullying. Caracteriza-se por não dispor de recursos para reagir aos atos agressivos repetitivos, sendo vulneráveis ao agressor, tende a ter poucos amigos, retraído e possui baixo autoestima (CANTINI, 2004). As vitimas de bullying podem sofrer de insônia, dores de cabeça, três vezes a mais comparadas a crianças que não são vítimas (ROLIM, 2008).

O bullying pode ser considerado como forma de abuso tanto físico como psicológico (WHITNEY & SMILL, 1099) é intencional e provocado pelo agressor e não pela vítima. As formas de agressão são variadas podendo ser: debochar, rejeitar, humilhar, intimidar, bater, empurrar entre outras ações agressivas (LOPES, 2005). De acordo com (BERGER, 2007; ROLIM, 2008) a tendência é que esses ataques à vítima diminuam com a idade. As formas de agressão podem ser física, verbal, relacional e eletrônica. O tipo físico é mais fácil de observar por ser uma ação corporal; o tipo verbal é mais comum e usado, constitui comentários racistas, homofóbicos, humilhação, religioso, econômico-social, entre outras (ROLIM, 2008). O tipo relacional consiste em afetar o relacionamento social da vítima com seus colegas (SMITH, 1993). E por tipo eletrônico, mais conhecido como cyberbullying, ataques agressivos são acometidos através da comunicação virtual, e-mail, MSN, Orkut, Youtube, mensagem por celular, entre outros. As agressões eletrônicas podem ocorrer a qualquer momento, o que pode provocar no adolescente vítima a percepção de vulnerabilidade, pois a audiência é vasta e o autor da agressão é anônimo (BERGER, 2007). A variação do tipo de bullying cometido pelo agressor tem forte influencia cultural.

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O bullying é um problema enfrentado por crianças e adolescentes nas esco-las ao redor do mundo. O bullying segundo Olweus (1993) é caracterizado pela repetição e assimetria de forças. Este fenômeno é pesquisado por cientistas e edu-cadores, em vários países. No Brasil o fenômeno tem sido pouco estudado, e a vio-lência de maneira geral é o tema de várias pesquisas, autores não se detém nas características peculiares do bullying. A falta de divulgação e poucas publicações a respeito do tema podem ser a causa do pouco conhecimento no Brasil. Além do mais que a língua portuguesa tem dificuldade em definir a palavra bullying, seu significado, conceito e conteúdo (CANTINI, 2004; ROLIM, 2008).

A crescente violência nas escolas preocupou vários países na Europa e América do Norte (ROLIM, 2008). Na Columbia High School dois jovens, no colorado, feriram 20 e mataram 13 alunos antes de cometerem suicídio. No Brasil, em 2011, um jovem concretizou o massacre de 11 crianças em uma escola municipal do Rio de Janeiro, e treze ficaram feridos. O autor do massacre deixou uma carta, dentre o conteúdo, citou a vitimação de bullying que sofrera naquela escola nos tempos de estudo.

O bullying está cada vez mais crescente nas escolas. Middelton-Moz e Zawadski (2007) concluiu com suas pesquisas que cerca de dois terços dos atacantes agressores nos Estados Unidos se sentiam vítimas desse fenômeno. O bullying é muito mais que um comentário maldoso sobre o outro; uma brincadeira sem graça, é sim uma crueldade sistemática por parte de uma ou mais de uma pessoa com a intenção de ferir física ou emocionalmente uma pessoa.

Os mecanismos de ação da agressividade na escola são fatores preocupantes e relevantes à pesquisa científica: a associação das agressões repetidas, a degradação do clima escola, e dos seus efeitos sobre a vítima, o agressor e o corpo docente. A pesquisa mostra a globalização destes mecanismos analisados nas escolas públicas de diversos estados brasileiros, com pouca variação.

A agressão na escola é cumulativa e repetitiva, oprime e desgasta a vítima, deixa marcas profundas. As consequências da vitimização não devem ser negligenciadas. Frequentes atos agressivos promovem na vítima sentimentos de

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medo, de impunidade frente aos agressores, deixando-os vulneráveis. As consequências podem variar desde a desistência escolar, a perda da confiança em si e até mesmo o suicídio da vítima.

O bullying possui um efeito destruidor para a vítima, o agressor e a sociedade deve ser considerado um problema de saúde, logo, é alvo da atenção de pesquisadores e destaque de políticas publicas (FEDER, 2007). O bullying é um desafio social, pois adota novos estilo de manifestação. Dentre as novas manifestações de bullying, destaca-se o ciberbullying, ou seja, agressão eletrônica. As ferramentas eletrônicas, como Orkut, Facebook, Twitter, entre outras, pelo fácil acesso à rede social entre os usuários, adolescentes, jovens e adultos, inclusive, crianças.

Indivíduos ou grupos usam a tecnologia da informação e comunicação para emitir comportamentos hostis repetitivos direcionados a um ou mais pares (COUTO, 2009). Como ocorre no bullying, o ciberbullies humilham, denigrem, caluniam, e cometem outras formas de agressões, contudo usam ferramentas eletrônicas para atingir seus objetivos. O ciberbullying se diferencia do bullying pela ausência de agressão física, assim não é focado a força e o tamanho físico para se tornar um ciberbullie (PÉREZ, SALA, CHALEZQUER & GONSALEZ, 2009).

Willard (2005) classificou as agressões realizadas pela tecnologia da informação e comunicação em sete tipos:

Flaming – mensagem vulgar e hostil enviada por e-mail ou SMS. Assédio online – mensagens ofensivas por correio eletrônico ou SMS. Ciberstalking – mensagens online que abrangem ameaças de dano ou intimidação excessiva.

Difamação – mensagens com afirmações falsas e cruéis enviadas aos outras pessoas.

Substituição ilegal da pessoa – o agressor se passar pela vítima e posta arquivos e vídeo que difamem o agredido.

Outing – divulgação de informações constrangedoras sobre uma pessoa.

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O fenômeno ciberbullying surgiu a poucos anos, com o avanço da tecnologia virtual, em especial microcomputadores e telefones móveis utilizados por adolescentes e crianças, o que chama a atenção dos pesquisadores. As pesquisas sobre este tema são de pouca produção e em estágios iniciais (TOGNETTA & BOZZA 2010). As pesquisas existentes são de maneira geral descritivas, de como o individuo foi vitimado, de modo que as amostras são limitadas (SOURANDER e col. 2010).

Segundo Fante & Pedra (2008) é difícil traçar uma linha histórica cronológica concisa sobre o ciberbullying no Brasil, pois as pesquisas são praticamente inexistentes. Os autores Tognetta e Bozza (2010) ao investigarem o ciberbullying no Orkut, em uma amostra bastante reduzida de estudantes, identificaram 16% de ciberbullies e 40% de cibervítimas.

Mesmo com as limitações metodológicas e tema recente, pesquisas empíricas têm sido realizadas. A PsycINFO (American Psychological Association, 2010) – principal base de dados em Psicologia – possui 56 artigos sobre o tema, publicados entre 2006 a 2010.

De acordo com Feder (2007), o bullying associado a outros problemas de comportamento prediz um curso de vida negativa. Por equivalência, supomos que o mesmo pode ocorrer com os casos de ciberbullying, os indivíduos podem se envolver em crimes digitais ao longo da vida. Tokunaga (2010) postula que as consequências podem ir de níveis triviais de estresse e frustração a problemas psicossociais mais sérios. Pode-se ter consequências acadêmicas com queda repentina de rendimento pela diminuição de concentração ocasionados pela ansiedade e frustração. As cibervítimas passam a acreditar que a escola não é um lugar seguro. Outra consequência é a psicossocial, o aluno pode ter seu humor deprimido, ansiedade social, estresse emocional, raiva, medo e redução dos níveis de autoestima.

A ‘liberdade de expressão’ que se tem nas mídias torna difícil controlar o que se posta na Internet. Cibervítimas entre adolescentes e crianças raramente relatam as agressões para os adultos, por medo de perder certos privilégios para a utilização do instrumento. Esse pensar precisa ser modificado, pois a ajuda dos pais e outros adultos pode ser a melhor alternativa para cessar as agressões

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virtuais. Aumentar os níveis de segurança dos navegadores para a internet, trocar senha, endereço e nome do usuário são meios de prevenção. Agatston (2007) postula que, na escola, a prevenção pode ser por meio de palestras, cartilhas e reflexões coletivas, promovendo conscientização e mudança de valores em prol do convívio social. Contudo, é insuficiente. Um clima escola saudável, e promover o desenvolvimento moral e social dos estudantes parecem ser mais eficazes a longo prazo.

O ciberbullying é um problema de saúde e política pública, que deve visar o combate e a prevenção da agressão virtual. Estudos devem ser realizados em busca de produção científica e repassá-los as escolas e educadores, contudo os educadores devem saber de sua responsabilidade nesse tipo de problema.

Considerações finais

A forma de ação se dá na intolerância em relação às diferenças, um colega que fuja de um padrão considerado adequado pelo grupo ou por um sujeito, pode ser alvo de bullying. Freire (1996, p.39-40) enfatiza que: “Faz parte igualmente do pensar certo a rejeição mais decidida a qualquer forma de discriminação. A prática preconceituosa de raça, de classe, de gênero ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a democracia”.

Estudos que enfoquem esta questão se fazem relevantes, pois para que possamos atuar de forma coerente buscando minimizar este quadro, precisamos conhecer o que e como ocorrem estes comportamentos agressivos.

É de preocupação crescente a violência escolar, tanto pelos educadores como pelos cientistas da área. O bullying tem destaque na literatura científica internacional (PEREIRA, 2008; SMITH, 2002), devido aos riscos sofridos pelas vítimas e agressores, tornando-se portanto um problema de saúde pública (FANTE, 2005; LOPES, 2005). O ciberbullying é uma manifestação virtual, o mundo da informática MSM, Orkut... podem trazer graves consequências quando utilizado de maneira amoral. Esta manifestação constitui um novo desafio para os pesquisadores (ALMEIDA, SILVA & CAMPOS, 2008). Conhecimentos científicos

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devem ser produzidos para servir como base a educadores visando reduzir e prevenir casos de bullying.

Referências

ALMEIDA, K.L., SILVA, A.C. & CAMPOS, J.S. (2008). Importância da identificação precoce da ocorrência do bullying: uma revisão de literatura. Revista de Pediatria,

9(1), 8-16.

AGATSTON, O., KOWALSKI, R., & LIMBER, S. (2007). Student´s perspectives on cyberbullying. Journal of Adolescent Health, 41, PP. S59-S60.

BERGER, K.S. (2007). Update on bullying at school: Science forgoten? Development

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CATINI, N. (2004). Bullying: Um estudo em escola pública de Maringá. Revista

Cesumar – Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, 14(2), 335-375.

COUTO, T.G. (2009) Cyberbullying na web 2.0 (Orkut) e a Responsabilização Civil Objetiva.

FANTE, C. (2005). Fenômeno Bullying. Como prevenir a violência nas escolas e

educar para a paz. Campinas: Verus Editora.

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Jornal de Pediatria, 81, 5, 164-172.

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PEREIRA, Beatriz O. (2008) Para uma escola sem violência – estudo e prevenção das práticas agressivas entre crianças. 2ª ed. Fundação Calouste Gulbenkian,

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PEREZ, J.D., SALA, X.B., CHALEZQUER, C.S., & GONZALEZ, D.G. (2009). Cyberbullying: uma analise comparativa com estudantes de países da América Latina: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru e Venuzuela.

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SOURANDER, A., KLOMEK, A.B., IKONEN, M., LINDROOS, J.LUNTAMO, T. (2010). Psychosocial risk associated whit cyberbulying among adolescents; a population-based study. Archives of general Psychiatry, 67 (7), p. 720-728.

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