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A Casa da Cidadania: o acesso à justiça por meios alternativos

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE (UNESC) PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO (PPGDS)

BRUNA BAGGIO CROCETTA

A CASA DA CIDADANIA: o acesso à justiça por meios alternativos

Dissertação apresentada ao Programa

de Pós-Graduação em

Desenvolvimento Socioeconômico da Universidade do Extremo Sul Catarinense, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre

em Desenvolvimento

Socioeconômico. Linha de Pesquisa:

Desenvolvimento e Gestão Social Orientadora: Profª. Drª. Kelly Gianezini Coorientador: Prof. Dr. Reginaldo Vieira

CRICIÚMA 2017

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

C937c Crocetta, Bruna Baggio.

A Casa da Cidadania: o acesso à justiça por meios alternativos / Bruna Baggio Crocetta . – 2017.

172 p : il. ; 21 cm.

Dissertação (Mestrado) - Universidade do Extremo Sul Catarinense, Programa de Pós-Graduação em

Desenvolvimento Socioeconômico, Criciúma, SC, 2017. Orientação: Kelly Gianezini.

Coorientação: Reginaldo de Souza Vieira. 1. Acesso à justiça. 2. Assistência judiciária. 3. Programa Casa da Cidadania. 4. Métodos alternativos de resolução de conflitos. 5. Direito fundamental. I. Título.

CDD. 22ª ed.341.27 Bibliotecária Rosângela Westrupp – CRB 14º/364

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Aos meus pais, Luiz Cristóvão e Valdete,

por todo amor e dedicação a mim concedidos.

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AGRADECIMENTOS

Os agradecimentos aqui registrados são direcionados a muitas pessoas. Todavia, agradeço, em primeiro lugar, a Deus pela minha saúde e pela oportunidade de poder cursar este Programa de Mestrado, em busca de um aperfeiçoamento profissional e de um sonho pessoal.

Meus pais, Luiz Cristóvão e Valdete, que me fizeram chegar até esse momento. Sem a ajuda deles, certamente eu não teria conseguido. Henrique, Pedro e Luiz Henrique, vocês também foram fundamentais. Obrigada pelo companheirismo, torcida, dedicação e ajuda em todos os momentos da minha vida.

Agradeço a minha orientadora, Profa. Dra. Kelly Gianezini, por toda sua dedicação e paciência com a sua primeira orientanda do PPGDS. Com ela, pude ter muitos momentos de profundo aprendizado que levarei para sempre em minha vida. Obrigada por compartilhar comigo sua admirável sabedoria. Estendo os agradecimentos a sua família que sentiram a sua ausência, especialmente, a pequena Olivia.

Gostaria de agradecer ao meu coorientador, Prof. Dr. Reginaldo de Souza Vieira, que muito me ajudou com os seus ensinamentos durante as aulas do curso e pelos aconselhamentos com a pesquisa.

Agradeço aos professores Prof. Dr. Sílvio Parodi Camilo Oliveira e Prof. Dr. Gildo Volpato pela dedicação com a minha banca de qualificação e pelas contribuições para o desenvolvimento desta pesquisa. Além disso, agradeço, novamente, aos respectivos professores e à Profa. Dra. Sirlei de Lourdes Lauxen pelas observações e sugestões que recebi no momento da defesa final da Dissertação. Todos os comentários foram fundamentais. Obrigada.

Agradeço ao Grupo de Estudos sobre Universidade (GEU) que por meio de várias atividades me proporcionou experiências acadêmicas que foram ímpares para a minha formação. Em especial ao Gabriel Dario Barbosa que elaborou o mapa de localização das Casas da Cidadania, ao Leonardo Zamparetti e à Lívia Manique Barretto que auxiliou nas transcrições das entrevistas. Aos leitores críticos que abdicaram de seu tempo de lazer para ler partes ou o todo e refletir sobre o que estava posto no meu trabalho: Camila Bueno Alfredo, Daniela Mader Arnold, Débora Ferrazzo, Jacson Gross e Letícia Manique Barretto.

Agradeço a todos os professores do PPGDS, com os quais tive o prazer de aprender em aula muitas lições para seguir na minha vida acadêmica e pessoal. Gostaria de agradecer à coordenação e a secretária

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do PPGDS, Rose, pela presteza e eficiência no atendimento às demandas, sempre esteve disponível para ajudar no que fosse preciso. Agradeço, também, a todos os colegas de curso, com os quais dividi muitas angústias, dúvidas, conquistas e momentos especiais que ficarão guardados para sempre em minha memória.

Sou grata à Casa da Cidadania de Orleans pela permissão de poder estudar esse Programa tão digno e às suas generosas profissionais Andiara e Adriana, por me receberem tão bem em todas as vezes que precisei. Agradeço aos estudantes entrevistados que, gentilmente, doaram parte de seu tempo me concedendo as entrevistas.

Agradeço, ainda, à CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior por viabilizar financeiramente a concretização desse curso.

Por fim, para não esquecer de alguém especial, agradeço amplamente todos que de alguma forma, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste sonho. A todos, muito obrigada.

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[...] o desafio representado pela tarefa de suprimir o trágico distanciamento entre a promessa de direitos, posta solenemente nas Constituições e nas leis, e a realidade de sua efetivação prática em um mundo cada vez mais situado em contextos globalizados, não permite mais perda de tempo, exigindo uma visão abrangente - por isso mesmo, multidisciplinar - e permeada pelo humanismo como fonte inesgotável de inspiração a serviço de uma vida melhor e com maiores possibilidades para todos.1

Thiago Ribas Filho 2

1 A epígrafe foi extraída da cartilha do Projeto Casa da Cidadania – Juizados da Cidadania em todos os Municípios do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, 2000. 2

Thiago Ribas Filho nasceu em Fortaleza, Estado do Ceará, no dia 3 de agosto de 1931. Bacharelou-se pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil em 1954 e, durante nove anos, exerceu a advocacia. Ingressou na magistratura do Estado da Guanabara em outubro de 1963. Em maio de 1985, foi alçado ao cargo de desembargador do Tribunal de Justiça do novo Estado do Rio de Janeiro. Fonte: ABREU, Antonio Izaias da Costa. O Judiciário fluminense: período republicano. Rio de Janeiro: A. I. da Costa; Museu da Justiça - RJ, 2007. p. 224-225

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RESUMO

A definição da escolha do objeto de pesquisa ocorreu pela necessidade de uma reflexão quanto ao cumprimento dos direitos mínimos consagrados ao cidadão pela Constituição Federal de 1988, considerando que, apenas sua previsibilidade em norma, não tem a capacidade de demonstrar a sua eficácia. E, assim, a conservação do bem estar social necessita da efetivação dos direitos do cidadão, por meio de ações condizentes aos preceitos de cidadania e justiça. O direito fundamental de acesso à justiça deve ser garantido como uma alternativa para tentar impedir o desrespeito aos direitos básicos de cidadania, sendo que o desconhecimento de seus direitos por parte dos cidadãos e a existência de poucos lugares próprios para a satisfação de direitos básicos, reforçam a inviabilidade de uma justiça social igualitária. Nesse contexto de exercício de direitos, proporcionar demandas públicas à disposição da população é fundamental e representa a luta pela afirmação da dimensão do homem como cidadão com acesso pleno e efetivo à justiça, podendo-se mencionar a criação do Programa Casa da Cidadania do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), que é o lócus do presente trabalho acadêmico, onde há a primazia pela utilização de meios alternativos de resolução de conflitos. O trabalho teve como objetivo analisar a efetividade do acesso à justiça aos cidadãos hipossuficientes e o direito à cidadania por meios alternativos de resolução de conflitos utilizados na unidade da Casa da Cidadania do Município de Orleans/SC, uma vez que tais direitos não chegam indistintamente a todos os cidadãos por diversos fatores que foram abordados no decorrer desta dissertação. Com o estudo de caso, foi possível identificar o perfil dos cidadãos que procuram a Casa da Cidadania, a maneira como foram resolvidos seus conflitos e, ainda, os mecanismos de efetividade que podem influenciar no desenvolvimento da atividade desenvolvida pela Casa da Cidadania, como a influência dos campos, do habitus e do capital. A imersão no campo de pesquisa, no local onde são apregoadas possibilidades de acesso à justiça, foi fundamental para analisar se a atividade realizada pela Casa da Cidadania de Orleans possibilita a resolução dos conflitos na órbita social. Na análise das entrevistas, verificou-se a importância da existência de uma equipe multidisciplinar de profissionais na prestação dos serviços realizados pelo Programa, como forma de obter o resultado pretendido. Constatou-se que a possibilidade de um bom acordo é mais provável quando puder se manter um diálogo entre as partes e houver igualdade de litigação entre estas.

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Palavras-chave: Resolução de conflitos; Métodos alternativos; Autocomposição; Mediação.

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ABSTRACT

The definition of the research object was determined by the need for a reflection on the fulfillment of the minimum rights granted to the citizen by the Federal Constitution of 1988, considering that only your predictability in law does not have the capacity to demonstrate your efficiency. And, then, the preservation of social well-being requires the execution of the rights of the citizen, through actions consistent with the precepts of citizenship and justice. The fundamental right of access to justice must be guaranteed as an alternative to try to prevent the disrespect for the basic rights of citizenship, once the lack of knowledge of their rights by citizens and the existence of few places suitable for the satisfaction of basic rights increase the inviability of an equal social justice. In this context of exercise of rights, providing public demands at the disposal of the population is fundamental and represents the fight for the affirmation of the dimension of man as a citizen with full and effective access to justice, mentioning the creation of the Casa da Cidadania of the Court of Justice of Santa Catarina, which is the locus of this academic work, where there is primacy for the use of alternative method of conflict resolution. The objective of this research was to analyze the effectiveness of access to justice for the vulnerable citizens and the right to citizenship by alternative methods of conflict resolution used at Casa da Cidadania of the city of Orleans, once these rights do not achieve to all citizens for a lot of factors that were demonstrate in the course of this dissertation. With the case study, it was possible to identify the profile of citizens seeking the Casa da Cidadania, how their conflicts were resolved and also the mechanisms of effectiveness that may influence the development of the activity developed by the Casa da Cidadania, such as the influence of the fields, habitus and capital. Therefore, the immersion in the field of research, where the possibilities of access to justice are proclaimed, was fundamental to analyze if the activity carried out by Casa da Cidadania of Orleans allows the resolution of conflicts in the social orbit. In the analysis of the transcribed material of the interviews, it was verified the importance of the existence of a multidisciplinary team of professionals in the provision of the services performed by the Program, as a way to obtain the desired result. It has been found that the possibility of a good agreement is more likely when a dialogue between the parties can be maintained and there is equal litigation between the parties.

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Keywords: Conflict resolution; Alternative methods; Self-composition; Mediation.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACAFE Associação Catarinense das Fundações Educacionais AMREC Associação dos Municípios da Região Carbonífera

CC Casa da Cidadania

CF/88 Constituição Federal de 1988

CNJ Conselho Nacional de Justiça

CPC Código de Processo Civil

FEBAVE Fundação Educacional Barriga Verde

GEU Grupo de Estudos sobre Universidade

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IES Instituição de Ensino Superior

OAB Ordem dos Advogados do Brasil

PPGDS Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Socioeconômico

SC Santa Catarina

TJSC Tribunal de Justiça de Santa Catarina UNESC Universidade do Extremo Sul Catarinense UNIBAVE Centro Universitário Barriga Verde

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Processômetro do TJSC – ano base 2015. ... 39 Figura 2 - Organograma do Projeto inicial referindo-se à estrutura das unidades das Casas da Cidadania.Fonte: Santa Catarina, 2000. ... 49 Figura 3 - Mapa de Santa Catarina com a indicação das Casas da Cidadania instaladas e categorizadas como: em funcionamento, extintas e suspensas. ... 51 Figura 4 - Gráfico representando o tipo de atendimento recebido pelos cidadãos. ... 118 Figura 5 - Gráfico representando a existência de processo judicial. ... 119 Figura 6 - Gráfico representando a procura pela Casa da Cidadania. . 120 Figura 7 - Gráfico representando a classificação do atendimento. ... 120 Figura 8 - Gráfico representando o meio de resolução do conflito. .... 121 Figura 9 - Gráfico representando se a solução do problema foi rápida. ... 122 Figura 10 - Gráfico representando se os cidadãos procurariam novamente a Casa da Cidadania, em caso de necessidade. ... 123 Figura 11 - Gráfico representando se o serviço prestado pela Casa da Cidadania atendeu ao objetivo do cidadão. ... 140 Figura 12 - Gráfico representando se algo mudou na vida dos cidadãos pós Casa da Cidadania... 143

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Atendimentos da Casa da Cidadania de Orleans, durante o ano de 2015. ... 114 Tabela 2 - Mediações realizadas pela Casa da Cidadania de Orleans, durante o ano de 2015, separadas por tipo e quantidade. ... 115 Tabela 3 - Mediações realizadas pela Casa da Cidadania de Orleans, durante o ano de 2015, separadas pelo resultado da sessão e quantidade. ... 116 Tabela 4 - Mediações realizadas pela Casa da Cidadania de Orleans, durante o ano de 2015, separadas por tipo e resultado. ... 116

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 31 1.1 PROBLEMATIZAÇÃO ... 34 1.2 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA ... 36 1.3 OBJETIVOS ... 40 1.3.1 Objetivo geral ... 40 1.3.2 Objetivos específicos ... 41 1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 41 1.4.1 Enquadramento Metodológico ... 41 1.4.2 Caracterização do objeto de estudo: a cidade de Orleans e a Casa da Cidadania ... 44 1.4.2.1 A cidade: Orleans ... 44 1.4.2.2 O lócus da pesquisa: a Casa da Cidadania ... 47 1.4.3 Procedimentos de Coleta e Análise ... 56 2 JUSTIÇA, CIDADANIA E MEIOS ALTERNATIVOS ... 60 2.1 JUSTIÇA ... 60 2.1.1 Efetividade da Justiça ... 64 2.1.2 O acesso à justiça ... 69 2.2 CIDADANIA ... 73 2.2.1 Garantia dos Direitos dos Cidadãos ... 74 2.2.2 O direito à cidadania na visão de Thomas Humphrey Marshall ... 77 2.3 MEIOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS: MEDIAÇÃO, CONCILIAÇÃO E ARBITRAGEM ... 83 2.4 O CAPITAL, O CAMPO E O HABITUS ... 89 2.4.1 O conceito de campo ... 91 2.4.2 O conceito de habitus e de capital ... 94 2.4.3 O campo acadêmico: o UNIBAVE ... 96 2.4.4 O campo jurídico ... 98 3 O ACESSO À JUSTIÇA NA CASA DA CIDADANIA DE ORLEANS ... 101

4 MECANISMOS DE EFETIVIDADE NA ATIVIDADE

PRESTADA PELA CASA DA CIDADANIA ... 124 4.1 SATISFAÇÃO PESSOAL DOS CIDADÃOS ... 124 4.2 AS PRÁTICAS DE DOMINAÇÃO EXISTENTES ENTRE OS CAMPOS ... 128 4.3 A CASA DA CIDADANIA DO MUNICÍPIO DE ORLEANS E SUA EFETIVIDADE ENQUANTO PROGRAMA DE ACESSO À JUSTIÇA E DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS ... 139 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 148

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REFERÊNCIAS ... 151 ANEXO ... 162 AUTORIZAÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA ... 163 APÊNDICES ... 164 APÊNDICE A: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) ... 165 APÊNDICE B: ROTEIRO-GUIA PARA AS ENTREVISTAS SEMIESTRUTURADAS ... 168 APÊNDICE C: ROTEIRO-GUIA PARA AS ENTREVISTAS SEMIESTRUTURADAS ... 169 APÊNDICE D: ROTEIRO-GUIA PARA AS ENTREVISTAS SEMIESTRUTURADAS ... 170

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1 INTRODUÇÃO

Assim como o direito à cidadania, o acesso à justiça é um direito previsto constitucionalmente, contudo, na prática, esse direito não chega indistintamente a todos os cidadãos. Obstáculos sociais, econômicos, culturais e políticos dificultam a aproximação do Poder Judiciário aos cidadãos de baixa renda, especialmente. O direito ao acesso à justiça representa uma garantia fundamental, sem a qual os demais direitos podem deixar de ser efetivados.

O tema da presente dissertação é o acesso à justiça e a efetivação da cidadania por meio de métodos alternativos de resolução de conflitos, inserido em um contexto de estudos jurídicos e sociológicos, mediante a análise do Programa Casa da Cidadania, constituído na primeira década do século XXI, no Estado de Santa Catarina (SC). A Casa da Cidadania é um Programa do Tribunal de Justiça de SC o qual teve seu início por meio de seminários de conscientização e capacitação dos magistrados catarinenses, visando o acesso à justiça à população de baixa renda, desprovida de informação e de condições financeiras para demandar um processo judicial, oferecendo serviços úteis ao exercício da cidadania. Trata-se de um espaço aberto ao público, composto por pessoas capacitadas em suas áreas de atuação tanto da sociedade como da universidade, aptas a mediar conflitos, onde se busca a autocomposição3 das partes envolvidas.

Tal ideia surgiu como uma forma de poder atender essas pessoas com eficiência e celeridade, refletindo na diminuição de ingresso de demandas perante o Poder Judiciário, sendo que esta última não deve ser o foco principal da proposta, pois é obrigação do Estado atender a todos indistintamente. Mas é evidente que a desjudicialização4 dessas causas

3

Em termos técnicos, a autocomposição é a forma de solucionar o conflito pelo consentimento espontâneo de um dos conflitantes em sacrificar o interesse próprio, no todo ou em parte, em favor do interesse alheio. Trata-se, atualmente, de legítimo meio alternativo de pacificação social. Pode ocorrer fora ou dentro do processo jurisdicional [...]. A autocomposição pode ocorrer após negociação dos interessados, com ou sem a participação de terceiros (mediadores ou conciliadores) que auxiliem neste processo (DIDIER JR., 2015).

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A desjudicialização no atual estágio do direito é mecanismo que faculta às partes comporem seus litígios fora da esfera de jurisdição estatal. Constitui não apenas uma forma de conceder poderes ao Executivo, mas de fortalecer o sistema até então vigente, conferindo-lhe autonomia administrativa para que

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reflete numa melhoria da qualidade da função pacificadora do Estado por meio da atividade jurisdicional.5

Como não podia agir sozinho, diante da carência de recursos, o Poder Judiciário buscou parcerias com os municípios e universidades, sendo a segunda como uma organização social educacional, e que se transformou na protagonista cujo papel neste contexto, evidencia-se na medida em que é a instituição principal para a concretização do Programa nas cidades do Estado de Santa Catarina. Nesse sentido, à Instituição de Ensino Superior (IES) cabe manter os serviços de apoio técnico nas áreas afins, selecionar os estagiários e capacitar os conciliadores, mediadores e secretários que atuem na unidade, bem como realizar todas as atividades necessárias ao bom e fiel cumprimento do programa.

É possível perceber, assim, as várias nuances das Casas da Cidadania. Há uma fusão de princípios de atuação: de um lado, ocorre a aproximação do Judiciário aos menos favorecidos (subcidadãos)6 a fim de solucionar conflitos e efetivar direitos, e de outro lado, há a capacitação dos acadêmicos dos cursos de Direito que vivenciam a prática, fazendo entender os procedimentos e refletir sobre as soluções, garantindo a construção do conhecimento.

A fim de melhor compreender o Programa, elegeu-se como lócus a Casa da Cidadania do Município de Orleans conveniada com o Centro Universitário Barriga Verde (UNIBAVE), o Município de Orleans e o Poder Judiciário de Santa Catarina. A escolha por esta unidade justifica-se, principalmente, em razão de sua equipe multidisciplinar de profissionais7 para atendimento dos cidadãos que a procuram, sendo que

atinja uma eficácia razoável na prestação dos serviços públicos e ofereça tutela adequada, à disposição de todos (SANTOS, 2011).

5

Entende-se por atividade jurisdicional a aplicação contenciosa da lei a um caso particular visando à estabilização do conflito por meio de uma solução de efeito pacificador. No contexto do que seja bem comum, não é possível afastar a exigência de uma convivência pacífica entre os indivíduos, situação a que o Estado está obrigado a garantir, quer aplicando fisicamente a lei, sem o contraditório jurisdicional, função do Executivo, quer contenciosamente, modo pelo qual atua o Poder Judiciário (DELGADO, 1987).

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Cabe destacar que o termo “subcidadão” foi utilizado na introdução da publicação “Juizados de Conciliação – modelo catarinense” de autoria do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, no ano de 2001, a qual apresenta o projeto de criação Casa da Cidadania.

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A gênese do projeto das Casas da Cidadania previa a existência, em cada unidade, dos seguintes profissionais: Advogado, Pedagogo, Assistente Social e Psicólogo.

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esta característica peculiar não está presente na maioria das Casas da Cidadania implantadas e distribuídas por todas as regiões do Estado de Santa Catarina. Sendo um programa de resolução alternativa de conflitos, a Casa da Cidadania configura um ambiente onde são realizadas sessões de mediação entre as partes, acompanhadas de uma equipe profissional.

Nesse estudo foram consideradas as relações estabelecidas entre o indivíduo e a sociedade, tema este que foi, e continua sendo, objeto de reflexões e controvérsias de muitos pensadores. Para tal, algumas teorias e conceitos foram utilizados para tentar explicar esse fenômeno; e para auxiliar na compreensão da temática, foi considerada, numa visão teórica sociológica, a influência do capital simbólico no resultado da atividade desenvolvida pela Casa da Cidadania, conforme os conceitos de capital, campo e habitus desenvolvidos por Pierre Bourdieu, como fundamento das ações humanas e reflexos na sociedade e, também, o conceito de cidadania proposto por Thomas Humphrey Marshall (1967).

Bourdieu traz a noção central de campo em sua teoria, o qual conceituou como uma rede ou configuração de relações objetivas entre posições. Estas posições são objetivamente definidas em sua existência e nas determinações que impõem sobre seus ocupantes, agentes ou instituições, por sua situação presente e potencial (situs) na estrutura de distribuição de espécies de poder (o capital) cuja posse comanda o acesso a benefícios específicos que estão em jogo no campo, bem como por sua relação objetiva com outras posições (dominação, subordinação, homologia, etc.) (BOURDIEU; WACQUANT, 2005, p. 150 – Tradução Livre).8

Ou seja, a realidade social se concretiza pela interação entre os indivíduos e os campos seriam as redes de relações objetivas entre os agentes sociais que ocupam determinadas posições, as quais são definidas de acordo com certos fatores, em especial, pelo capital e pelo

8

No original, em espanhol: “[...] una red o una configuración de relaciones

objetivas entre posiciones. Estas posiciones están objetivamente definidas, en su existencia y en las determinaciones que imponen sobre sus ocupantes, agentes o instituiciones, por su situación presente y potencial (situs) en la estructura de distribuición de especies del poder (o capital) cuya posesión ordena el acceso a ventajas específicas que están en juego en el campo, así como por su relación objetiva con otras posiciones (dominación, subordinación, homología, etcétera)” (BOURDIEU; WACQUANT, 2005, p.

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habitus9, caracterizando práticas de dominação. Assim, pretende-se compreender o objeto de estudo pela forma relacional entre os campos, cada um com seus próprios interesses, em razão do seu capital simbólico e do habitus. E para, além disso, ser possível refletir sobre novos caminhos objetivando, em especial, o desenvolvimento socioeconômico, área de concentração do Mestrado ao qual esta dissertação está vinculada.

Como se vê, a temática do estudo é complexa e necessitou de uma abordagem interdisciplinar para compreender todo o fenômeno. O próprio programa Casa da Cidadania foi pensado a partir de uma análise multidisciplinar, principalmente, com um caráter interdisciplinar, pois os conflitos são resolvidos pela junção das áreas do Direito, Assistência Social e Psicologia. Dessa forma, a Casa da Cidadania reflete uma concepção que rompe com o modelo dogmático, tradicional, judicializante e disciplinar do Direito (este não resolve o conflito por si só), para um modelo de construção alternativa que tem como bojo central uma análise multi e interdisciplinar.

1.1 PROBLEMATIZAÇÃO

Para o presente estudo levou-se em conta a interface de alguns itens que se complementarão para compor o problema da pesquisa: a questão do acesso à justiça, como um direito social; o direito à cidadania e o dever do Estado em garantir sua efetivação; a mediação, como alternativa para a solução de conflitos sociais; e a Casa da Cidadania, como programa de atendimento à população carente e responsável por sua aproximação ao Poder Judiciário.

Nesse movimento de exercício de direitos, a viabilização das demandas públicas colocadas à disposição do povo, é traduzida na luta pela afirmação da dimensão do homem como cidadão e pelo acesso efetivo e pleno à justiça, como foi, por exemplo, a criação do Programa Casa da Cidadania. Quanto à opção por meios alternativos de resolução de conflitos, a pesquisa teve como foco a atividade realizada pelo programa Casa da Cidadania do Tribunal de Justiça de Santa Catarina e, em especial, a mediação e a sua (in)capacidade de resolver o conflito na órbita social.

Os meios alternativos para a resolução de conflitos de interesses são uma alternativa de grande valia, considerando que, em muitos casos,

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O conceito de habitus será apresentado no capítulo 2.4.2 da fundamentação teórica.

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não há necessidade de uma prestação jurisdicional, pois as partes necessitam de uma simples conversa ou orientação. Tais métodos buscam a pacificação dos conflitantes num momento anterior ao processo contencioso, na maioria das vezes moroso e financeiramente inviável para aqueles que não possuem condições.

O princípio do acesso à justiça está disciplinado no artigo 5°, inciso XXXV, da Constituição Federal de 1988, o qual estabelece que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (BRASIL,1988). Em razão desse dispositivo, todo titular de um direito lesionado ou em vias de sê-lo, tem assegurado o acesso ao Judiciário para defesa de seus interesses.

A Constituição Federal prevê também em seu artigo 5°, no inciso LXXIV, que “o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos” (BRASIL, 1988). Essa assistência jurídica integral e gratuita deve ser prestada pelas Defensorias Públicas que, no Estado de Santa Catarina, foi implantada somente em 201210 e ainda não consegue atender todos os cidadãos catarinenses que dela necessitam, em razão de alguns fatores tais como a falta de recursos, estrutura física e servidores. Assim, a prestação desse serviço ainda é deficiente e a muitos cidadãos não é dada a disponibilidade de concretizar esses direitos previstos constitucionalmente, permanecendo desamparados.

Ademais, a questão não está somente ligada ao acesso ao Poder Judiciário, no sentido de o indivíduo conseguir um pronunciamento judicial. Em verdade, além disso, a questão é no sentido de acesso a uma ordem de valores e aos direitos fundamentais considerados indispensáveis aos indivíduos e para o bom convívio em sociedade. Pretende-se alcançar a pacificação social e isso não será atingido com uma imposição de um juiz por meio de sentença; na órbita jurídica o processo se extingue, mas permanece o conflito na órbita social.

Nesse movimento de direitos, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) editou a Resolução nº 125, de 29 de novembro de 2010, a qual dispõe sobre a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário, de forma a organizar, em âmbito nacional, não somente os serviços prestados nos processos judiciais, como também os que possam sê-lo mediante outros mecanismos de solução de conflitos, em especial dos consensuais, como a mediação e a conciliação.

10 Lei Complementar n° 575, de 2 de agosto de 2012, do Estado de Santa Catarina.

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Nessa perspectiva, surgiu o Programa Casa da Cidadania do Tribunal de Justiça de Santa Catarina com o intuito de ser instalado por todo o Estado para garantir a aproximação do subcidadão, do excluído, do marginalizado ao Judiciário, por meio de uma justiça célere e gratuita. As Casas da Cidadania instaladas em convênio com os municípios e as IES possuem, paralelamente, a característica da capacitação dos acadêmicos dos cursos de Direito, os quais devem participar do estágio obrigatório supervisionado.

Ante o exposto, indaga-se: como se efetiva o acesso à justiça e o direito à cidadania por meios alternativos de resolução de conflitos utilizados no Programa Casa da Cidadania do Tribunal de Justiça de Santa Catarina?

1.2 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA

A realização do trabalho ocorreu no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioeconômico, o qual possui como principal característica a sua ênfase em diálogos interdisciplinares. Considerando que o desenvolvimento socioeconômico visa promover a democracia e a justiça social expandindo ações na busca da cidadania, considerou-se realizar uma pesquisa interdisciplinar que atendesse tais conceitos.

Nesse sentido, o acesso à justiça e a cidadania foram aqui categorizadas e indiretamente estão inseridas na proposta da Linha de Pesquisa Desenvolvimento e Gestão Social que, por sua vez, enfoca a gestão social e possuiu a diretriz de nortear a pesquisa aqui apresentada. As Casas da Cidadania – tomadas aqui como exemplos diferenciados de gestão social – possuem papel de destaque na sociedade local (Orleans), regional (sul catarinense) e estadual (SC) haja vista que dispõem de uma organização e de mecanismos para a resolução de conflitos existentes na vida dos cidadãos hipossuficientes, desenvolvendo uma atividade com o intuito de reduzir as desigualdades sociais e buscar uma ordem social justa a todos.

O mote justiça social é prioridade no Estado Democrático de Direito; assim é dever do Estado garanti-la por meio da prestação jurisdicional. Para compreender essa questão é necessário expor os valores e princípios que representam um Estado Democrático de Direito, já que é difícil trazer um conceito uno em face das múltiplas facetas que ele encerra. Nesse sentido, Enio Moraes da Silva (2005, p. 228) traz as seguintes características que o envolvem:

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(1) Um Estado Democrático de Direito tem o seu fundamento na soberania popular; (2) A necessidade de providenciar mecanismos de apuração e de efetivação da vontade do povo nas decisões políticas fundamentais do Estado, conciliando uma democracia representativa, pluralista e livre, com uma democracia participativa efetiva; (3) É também um Estado Constitucional, ou seja, dotado de uma Constituição material legítima, rígida, emanada da vontade do povo, dotada de supremacia e que vincule todos os poderes e os atos dela provenientes; (4) A existência de um órgão guardião da Constituição e dos valores fundamentais da sociedade, que tenha atuação livre e desimpedida, constitucionalmente garantida; (5) A existência de um sistema de garantia dos direitos humanos, em todas as suas expressões; (6) Realização da democracia – além da política – social, econômica e cultural, com a consequente promoção da justiça social; (7) Observância do princípio da igualdade; (8) A existência de órgãos judiciais, livres e independentes, para a solução dos conflitos entre a sociedade, entre os indivíduos e destes com o Estado; (9) A observância do princípio da legalidade, sendo a lei formada pela legítima vontade popular e informada pelos princípios da justiça; (10) A observância do princípio da segurança jurídica, controlando-se os excessos de produção normativa, propiciando, assim, a previsibilidade jurídica.

De encontro com a viabilização de uma justiça social a todos os cidadãos, com o passar dos anos a prestação jurisdicional passou a ser morosa e custosa financeiramente (Nuss; Gianezini, 2015). Assim, de um lado, existe o cidadão desprovido de informação e conhecimento para efetivação de seus direitos e, de outro lado, existe o Poder Judiciário afogado de ações, atuando com lentidão e exigindo recursos financeiros.

Diante da crise do Estado brasileiro em gerenciar e resolver as causas judiciais surgiu uma tendência de meios alternativos de resolução de conflitos que primou pela redução das desigualdades sociais no

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acesso à justiça e garantia do desenvolvimento socioeconômico. A adoção de métodos alternativos para a resolução de conflitos influencia diretamente na solidificação da situação de acordo entre os agentes sociais, o que contribui para o fortalecimento das instituições que o integram e, consequentemente, para o desenvolvimento econômico local (BASTOS, 2014).

A pesquisa adquire relevância no atual contexto em que se insere, pois é mais uma forma de dar visibilidade para este projeto de proteção às pessoas hipossuficientes. O acesso à justiça é um direito constitucionalmente previsto e deve ser garantido a todos os cidadãos, contudo, considerando que grande parte desses cidadãos enfrentam obstáculos nos planos econômico, social, cultural e político, por vezes intransponíveis, no que tange ao acesso à justiça, as Casas da Cidadania podem tornar real e disponível a concretização dos direitos dessas pessoas.

Também adquire importância para academia e, paralelamente, aos estudos críticos que vêm sendo desenvolvidos referentes à cidadania, ao acesso à justiça e à morosidade processual como forma de concretizar também o direito à cidadania. Ao longo da pesquisa, distintos autores contribuíram como Marshall (1967), Santos (1995), Cruz (2001), Bastos (2014), Cambi e Pereira (2014), para demonstrar a atual situação de deficiência na efetivação do direito do acesso à justiça previsto constitucionalmente e proporcionar uma reflexão de transformação social. Com base na revisão da literatura foi possível perceber que a temática – o acesso à justiça – já foi objeto de estudo por pesquisadores tais como: Caovilla (2001), Brüggemann (2001), Moreira (2003), Nascimento (2004), Debiasi; Luz (2006), Fabris (2011), Oliveira (2011), Cadorin (2011), Nuss; Gianezini (2015), Nuss; Gianezini (2016) demonstrando a importância de se entender e debater o assunto que perdura há mais de uma década.

Em consulta ao documento “Justiça em Números 2015 (ano-base 2014)”, divulgado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Poder Judiciário iniciou o ano de 2014 com 70,8 milhões de processos em andamento. Os novos casos tiveram um aumento de 1,1% atingindo quase 28,9 milhões de processos ingressados durante o ano de 2014. A consequência foi o aumento 0,8 pontos percentuais em relação ao ano

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anterior na Taxa de Congestionamento do Poder Judiciário que totalizou 71,4% no ano de 2014.11

Em SC, em que pese o índice de produtividade dos magistrados catarinenses ter sido 16% superior à média nacional, registrada pelo segmento da Justiça estadual em 2015, a quantidade de processos julgados foi menor que o número de novas ações que ingressaram no Poder Judiciário catarinense em 2015, havendo um aumento do estoque de processos, conforme ilustrado pela figura abaixo.12

Figura 1 - Processômetro do TJSC – ano base 2015.

Fonte: TJSC13

Assim, o estudo quis mostrar que os problemas referentes ao acesso à justiça no Brasil ainda exigem atenção e o mais importante é que esse direito não seja apenas uma garantia formal. A reflexão sobre essa temática se justifica na necessidade de pensar em novos caminhos, quebrar paradigmas até então indissociáveis, com o intuito de caminhar de acordo com a necessidade social e em busca da transformação social.

11

Documento eletrônico. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/pj-justica-em-numeros>. Acesso em: 1 maio 2016.

12

Documento eletrônico. Disponível em: <https://portal.tjsc.jus.br/web/sala-de- imprensa/-/processometro-revela-produtividade-da-magistratura-de-sc-e-acima-da-media-nacional>. Acesso em: 25 mar. 2017.

13

Documento eletrônico. Disponível em: <https://portal.tjsc.jus.br/web/sala-de- imprensa/-/processometro-revela-produtividade-da-magistratura-de-sc-e-acima-da-media-nacional>. Acesso em: 25 mar. 2017.

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A pesquisa buscou contribuir com a investigação dessa problemática, analisando, inicialmente, a questão da justiça e sua efetividade relacionada à prestação jurisdicional, seguida de uma análise do direito à cidadania como garantia de todos os cidadãos; e a preferência, nos dias atuais, de primar por meios alternativos de resolução de conflitos. O direito ao acesso à justiça foi muito atingido pós Constituição Federal de 1988, em virtude da sua inovação ao prever o amplo acesso a esse direito, o que resultou no ingresso de muitas demandas judiciais no país, prejudicando a classe dos mais humildes, os hipossuficientes.

É notória a importância da atividade exercida pelo Poder Judiciário, contudo, a sociedade percebeu que a proliferação de múltiplas formalidades vinha causando o retardamento da prestação jurisdicional. Nesse sentido, passou-se a refletir sobre outros métodos de resolução de conflitos e, por conseguinte, de pacificação social, de modo que foi onde se deu destaque à mediação e à conciliação. Por meio desses institutos, busca-se a autocomposição das partes que pressupõe a aceitação mútua sobre a questão conflituosa e a realização de um acordo.

Dentre as iniciativas do Tribunal de Justiça de SC de aplicação de métodos alternativos de resolução de conflitos, destaca-se as Casas da Cidadania, nas quais o objetivo é estabelecer representações menores do Poder Judiciário em todos os municípios catarinenses, facilitando o acesso à justiça aos cidadãos que, por diversos motivos, encontram-se distantes da concretização de seus direitos.

O resultado positivo dessa ação é mais provável ser alcançado com o trabalho em conjunto das áreas do saber que proporcionam a melhor compreensão e solução para o conflito. Ante o exposto, como destaca Raynaut (2011, p. 102), “a interdisciplinaridade não é decretada, ela se constrói”. Por essa razão, essa dissertação de mestrado necessitou das contribuições do Direito e da Sociologia, em especial, para a compreensão do objeto selecionado. Partindo deste contexto, os objetivos da dissertação serão expostos, a seguir.

1.3 OBJETIVOS 1.3.1 Objetivo geral

Compreender a efetividade do acesso à justiça aos cidadãos hipossuficientes e o direito à cidadania por meios alternativos de

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resolução de conflitos utilizados na unidade da Casa da Cidadania do Município de Orleans.

1.3.2 Objetivos específicos

• Identificar o perfil dos cidadãos que procuram o Programa Casa da Cidadania e o modo de resolução dos seus conflitos;

• Pesquisar os mecanismos de efetividade que podem influenciar no desenvolvimento da atividade desenvolvida pela Casa da Cidadania;

• Verificar se a atividade realizada pela Casa da Cidadania de Orleans, como mecanismo de acesso à justiça, alcançou a resolução dos conflitos na órbita social.

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Nesta seção apresentam-se os métodos, as técnicas e demais procedimentos metodológicos que foram utilizados para alcançar os objetivos propostos na pesquisa. Além disso, a fim de compreender e analisar as relações entre acesso à justiça, resolução de conflitos e o papel da Casa da Cidadania para com o desenvolvimento, é imprescindível apresentar aqui, o contexto social, histórico e econômico local, ainda que brevemente, para entender a realidade em questão.

1.4.1 Enquadramento Metodológico

A fundamentação metodológica de uma pesquisa tem papel fundamental na sua consecução. É por meio dela que a pesquisa se desenvolve, consegue-se alcançar os objetivos propostos e analisar os resultados. Para tanto, elegeu-se como método o dedutivo, sendo que o estudo foi composto de análise teórica e se utilizou da abordagem qualitativa. A estratégia de pesquisa foi um estudo de caso, por meio de técnicas de entrevistas semiestruturadas e por meio de roteiro e questionário.

O método mostra o procedimento lógico que deverá ser seguido na pesquisa e em determinado grau de abstração que

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permite ao pesquisador definir o alcance da investigação. Assim, o método escolhido para o desenvolvimento desta pesquisa foi o dedutivo, uma vez que a pesquisa desenvolveu -se partindo do geral em direção ao caso particular. Segundo Gil (2008, p. 9), o método dedutivo “parte de princípios reconhecidos como verdadeiros e indiscutíveis e possibilita chegar a conclusões de maneira puramente formal, isto é, em virtude unicamente de sua lógica”. Dessa forma, chegar-se-á em uma conclusão a partir de uma construção lógica baseada em uma premissa oriunda de princípios, leis e teorias, os quais são tidos como verdades. A conclusão resultará de uma análise da realidade de um caso concreto, que, na presente, será o estudo de caso sobre o Programa Casa da Cidadania no Município de Orleans.

Definido o método, foi preciso verificar o tipo de abordagem mais adequada para a pesquisa. Neste sentido, foi utilizada a abordagem qualitativa, pois conforme conceitua John W. Creswell (2010, p. 26) “a pesquisa qualitativa é meio para explorar e para entender o significado que os indivíduos ou os grupos atribuem a um problema social ou humano”.

Como dito, foi utilizada a abordagem qualitativa – mas com a utilização de dados secundários de natureza quantitativa –, pois se pretendeu buscar percepções e entendimentos a partir de padrões encontrados nos dados.

Quanto aos fins da pesquisa, foram utilizados os objetivos descritivo e exploratório. Por descritivo, pretende u-se descrever os fatos e fenômenos de determinada realidade, sendo que nesta pesquisa os fatos e conflitos foram aqueles ocorridos na sociedade, e que encontraram na Casa da Cidadania a possibilidade de resolvê-los. E, sobre a pesquisa exploratória, Marconi e Lakatos (2003, p. 188) explicam que as “pesquisas exploratórias são compreendidas como investigações de pesquisa empírica cujo objetivo é [...] aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente”. Foi o caso da pesquisa em mote, haja vista que se trata do primeiro trabalho acadêmico a respeito do Programa, em Orleans.

Trata-se de um estudo de caso, sendo este considerado uma estratégia de pesquisa relevante para diagnosticar o problema social, uma vez que investiga uma situação específica com o

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intuito de desvendar suas peculiaridades e, assim, traçar uma compreensão geral para o fenômeno.

Seja qual for o campo de interesse, a necessidade diferenciada da pesquisa de estudo de caso surge do desejo de entender fenômenos sociais complexos. Em resumo, um estudo de caso permite que os investigadores foquem um “caso” e retenham uma perspectiva holística e do mundo real – como no estudo dos ciclos individuais da vida, o comportamento dos pequenos grupos, os processos organizacionais e administrativos, a mudança de vizinhança, o desempenho escolar, as relações internacionais e a maturação das indústrias (YIN, 2015, p. 4).

O estudo de caso contribuiu, assim, na compreensão dos diversos fenômenos da realidade social, sejam eles individuais, grupais, organizacionais, sociais, políticos e relacionados. Nesse sentido foi analisado o lócus da presente pesquisa, qual seja, a Casa da Cidadania do Município de Orleans.

Quanto às técnicas de pesquisa, foram selecionadas as que mais puderam contribuir para se alcançar o objetivo final do trabalho, sendo elas as entrevistas semiestruturadas por meio de roteiro previamente elaborado (apêndices B, C e D), contendo questões específicas, porém sem rigidez na ordem de perguntas. Destaca-se, também, a utilização da técnica de pesquisa conhecida como aplicação de questionário (apêndice E), o qual configura como um “[...] instrumento de coleta de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 201). Já, as entrevistas foram necessárias para coletar informações impossíveis de serem obtidas por meio dos questionários.

Esse foi, então, o enquadramento metodológico elencado para o desenvolvimento da pesquisa, tendo sido eleito como a melhor forma de se alcançar os objetivos propostos e analisar os resultados obtidos para se poder chegar a uma conclusão.

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1.4.2 Caracterização do objeto de estudo: a cidade de Orleans e a Casa da Cidadania

Pretende-se, nesta seção, trazer o breve histórico e as principais características do Município de Orleans, onde se encontra o lócus do objeto de estudo empírico, informando também as peculiaridades deste.

1.4.2.1 A cidade: Orleans

A região Sul catarinense é uma das seis mesorregiões do Estado composta por 46 Municípios. O Município de Orleans ,14

14

De acordo com a divisão territorial fixada pelo Decreto-lei Estadual nº 941, de 31 de dezembro de 1943, a grafia do nome do município foi alterada de Orleans para Orleães, voltando à grafia original em 1970, a pedido do Príncipe Dom Pedro de Orleans e Bragança, quando visitou o município (ORLEANS, 1984). Sobre o início da ocupação desse território, na metade do século XIX, cabe de destacar que para além de Tubarão, só havia algumas fazendas em Pedras Grandes e Gravatal. Era o caminho dos tropeiros a única ligação entre Lages e Laguna, o qual foi aberto na mata por ordem do Governador da Província naquela época. E às margens desse caminho, os tropeiros descobriram uma pedra preta que queimava e cheirava a enxofre – era o carvão (DALL’ALBA, 2003). A notícia da existência de carvão mineral se espalhou e, em 1840, surgiu o primeiro explorador na região: Dr. Parigot. No entanto, somente em 1861 o Visconde de Barbacena obteve a licença para exploração do carvão. Mais tarde, pela Lei de 20 de maio de 1874 e com a ajuda financeira de Dom Pedro II, foi concedida ao Visconde a permissão para construir uma ferrovia, a qual recebeu o nome de Estrada de Ferro Tereza Cristina, inaugurada em 1° de setembro de 1884 (ORLEANS, 1984). Esses acontecimentos contribuíram para o desenvolvimento do município. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 8 de julho de 1882, foi fundada e instalada, na sede do atual município de Grão Pará, a Empresa de Terras e Colonização, que abrangia as terras do atual município de Orleans. Os primeiros lotes de terra foram vendidos em 1883 e, com as facilidades concedidas por aquela empresa, imigrantes italianos, alemães e poloneses vieram para o município. Fonte: Documento eletrônico. Disponível em: <http://cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=421170&sea rch=santa-catarina|orleans|infograficos:-historico>. Acesso em: 10 fev. 2016. Em visita às suas terras e à estrada de ferro Luiz Felipe Gastão de Orleans, o Conde D’Eu, deu o nome de sua família – Orleans – à estação situada no km 95. O distrito de Orleans do Sul, subordinado ao município de Tubarão, foi

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juntamente com outros onze municípios, faz parte da Associação dos Municípios da Região Carbonífera (AMREC)15. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no que diz respeito ao aspecto atual do Município,16 este possui uma população estimada de 22.449 habitantes em 2015, a superfície territorial de 548,792 km², densidade demográfica de 38,98 hab/km², e com PIB per capita de 37.910,11 reais, e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) consta como 0,755, aferido pelo censo de 2010.

Três atividades contribuíram para o desenvolvimento econômico local nas primeiras décadas do século XX. Embora a exploração do carvão mineral tenha impulsionado a economia da região, esta só poderia ser exercida por aqueles que possuíam reservas concedidas pelo governo federal. A produção agrícola, por sua vez, também possuía destaque na economia daquela época. A partir de 1930, começaram a surgir marcenarias semiartesanais para fabricação de móveis, o que deu início a formação de um grupo de profissionais marceneiros (SOUZA, 2013), diversificando as atividades econômicas.

O célere desenvolvimento do Município fez crescer o objetivo de elevar a circunscrição à categoria de Comarca. O crescente desenvolvimento industrial agrícola e a exploração de riquezas minerais mostravam a importância política e econômica do Município. Naquela época, havia uma considerável quantidade de estabelecimentos comerciais e industriais, em especial, três marcenarias a vapor que abasteciam toda a zona sul catarinense. Tem destaque também a próxima comunicação com os portos do sul do Estado, considerando que a Estrada de Ferro Tereza Cristina cortava uma extensa porção do território de Orleans (SOUZA, 2013). Diante desse contexto, a Comarca de Orleans foi criada pelo Decreto nº 459, de 17 de janeiro de 1934, e instalada em 4 de março de 1934.

Segundo Lottin (1998, p. 105-106), no que diz respeito ao histórico do setor de ensino, são poucas as informações e documentos sobre as primeiras escolas de Orleans, sendo que o primeiro registro de

então criado pela Lei Provincial n.º 1218, de 2 de outubro de 1888. Em 1895, foi iniciada a construção da vila de Orleans cuja emancipação política ocorreu em 30 de agosto de 1913, pela Lei Estadual nº 981, ocorrendo a instalação em 20 de outubro no mesmo ano (ORLEANS, 1984).

15

Documento eletrônico. Disponível em:

<http://www.amrec.com.br/index/municipios-associados/codMapaItem/42512>. Acesso em: 13 de abr. 2017. 16

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um professor e de uma escola foi encontrado no censo de 1896, deduzindo o autor que não existiram outros professores ou escolas na primeira fase progressista do Município, ocorrido de 1884 a 1900. Todavia, há registros da participação e colaboração de um religioso em prol do desenvolvimento educacional do Município. Trata-se do Padre João Leonir Dall’Alba o qual teve a iniciativa de criar uma organização comunitária (SOUZA, 2013). Em seu livro discorreu sobre o que percebeu da evolução deste setor:

O setor de ensino esteve imobilizado durante muito tempo, acontentando-se com o curso primário e o complementar. Em 1959 funda-se o seminário. Com seu auxílio, já em 1960, foi iniciado o curso ginasial. Ao formarem as primeiras turmas, em fins de 1963, pensou-se em oferecer-lhes, em Orleans, continuidade de estudos. Em 1964 cria-se a Escola de Comércio. No ano seguinte, quase improvisamente, cria-se o Curso Normal. Em 1971 o seminário cria o curso científico que atrai alunos também dos municípios vizinhos, como aliás os outros cursos de segundo grau. Orleans foi um centro de estudo para onde acorriam alunos de Lauro Müller, São Ludgero, Braço do Norte, Grão Pará, e mesmo de Urussanga, Pedras Grandes e Bom Jardim [...].Ainda em 1974 criam-se diversas organizações: Conselho Municipal de Cultura, Comissão Municipal de Esportes e a Fundação Educacional Barriga Verde (DALL’ALBA, 1986, p. 405).

Foi também o referido Padre que conseguiu sensibilizar as autoridades da época para fazer surgir a Fundação Educacional Barriga Verde como uma autarquia municipal, o que se concretizou por meio da Lei n° 491, de 23 de setembro de 1974. A Fundação, então, passou a desenvolver grandes projetos como: “a coordenação da rede municipal de ensino, os cursos técnicos de secretariado e contabilidade, a escola profissional FEBAVE, [...], o Museu ao Ar Livre, as esculturas do paredão, a Escola Barriga Verde, o Centro Universitário Barriga Verde – Unibave [...]” (SOUZA, 2013, p. 117). A partir daí a evolução do sistema de ensino no Município ganhou impulso para o seu desenvolvimento.

Vale salientar que a Fundação Educacional Barriga Verde (FEBAVE) iniciou suas atividades na Educação Superior em 1998 com

(47)

o curso de Administração de Empresas; o curso de Direito teve sua primeira turma no primeiro semestre do ano de 2005. Atualmente, conta com dezenas de cursos de extensão, técnicos, graduação e pós-graduação, formando o Centro Universitário Barriga Verde,17 o qual faz parte da Associação Catarinense das Fundações Educacionais (ACAFE). 1.4.2.2 O lócus da pesquisa: a Casa da Cidadania

A concepção das Casas da Cidadania partiu da iniciativa do TJSC no início do século XXI, como forma de aproximação do Judiciário ao cidadão e universalização da Justiça. O projeto inicial visava a instalação de Casas da Cidadania em todos os municípios que não fossem sede de Comarca.

O Programa Casa da Cidadania é um serviço que visa oferecer ao cidadão uma justiça mais próxima, rápida e gratuita e tem como objetivo humanizar a Justiça, implementando ações que visem o pleno exercício da cidadania, gerando uma cultura de democracia participativa, e tendo a conciliação e a mediação como procedimento adequado para resolver conflitos de forma amistosa e cooperativa (SANTA CATARINA, 2016).18

Logo, “a Casa da Cidadania nasceu de um sonho e de uma constatação”. Um sonho de transformar a previsão constitucional de igualdade perante a lei, no que diz respeito ao acesso ao Poder Judiciário e a constatação ocorreu após a realização de Seminários de Planejamento Estratégico pelo Estado de Santa Catarina, nos quais foi

17

São centros universitários as instituições de ensino superior pluricurriculares, abrangendo uma ou mais áreas do conhecimento, que se caracterizam pela excelência do ensino oferecido, comprovada pela qualificação do seu corpo docente e pelas condições de trabalho acadêmico oferecidas à comunidade escolar. Documento eletrônico. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1 16&Itemid=86>. Acesso em: 21 mar. 2017.

18

Documento eletrônico. Disponível em: <http://www.tjsc.jus.br/programa-casa-da-cidadania#/fw3-accordion_56_INSTANCE_Rd0bsGScJboL_collapse-4>. Acesso em: 13 abr. 2016.

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possível visualizar que “a utopia tem concrescibilidade, quando há vontade política” (SANTA CATARINA, 2001, p. 11).

O projeto inicial do TJSC delimitou os objetivos geral e específicos das Casas da Cidadania, os quais seguem relacionados abaixo (SANTA CATARINA, 2000, p. 7-8):

Objetivo Geral:

 Humanizar a Justiça, implementando ações que visem o pleno exercício da cidadania, gerando uma cultura de democracia participativa, como corolário de uma prática integrada com a comunidade.

Objetivos Específicos:

 Tendo o Poder Judiciário como polo aglutinador, abrir espaço para o concurso dos mais diversos órgãos de apoio e defesa dos interesses do cidadão;  Estabelecer representações mínimas do Poder

Judiciário em cada Município do Estado de Santa Catarina, bem como nos Distritos e Bairros das grandes Cidades, priorizando, assim, uma prestação jurisdicional próxima, célere e eficaz;  Exercitar ações para a facilitação do acesso à

Justiça, em especial aos hipossuficientes;  Agregar serviços, através de parcerias

(governamentais, não governamentais, institucionais de ensino etc.), para um atendimento comunitário integral, com ênfase para as áreas jurídica, psicológica e social;  Implementar, em cooperação, ações preventivas,

destinadas à resolução dos conflitos sociais, notadamente no campo criminal, familiar e da infância e da juventude;  Incentivar a utilização de métodos não adversariais de solução dos conflitos, tais como a conciliação, a mediação e a negociação; Complementar a capacitação profissional dos Magistrados, Promotores de Justiça, Advogados e Servidores do Poder Judiciário, sobretudo em Direitos Humanos;  Buscar a participação da sociedade civil na

solução das demandas, com o recrutamento e a formação de conciliadores e mediadores, dentre membros da própria comunidade;

(49)

 Desenvolver atividades de ensino, pesquisa e extensão, ensejando a prática, por parte dos estudantes universitários, de estágios interdisciplinares.

Já a estrutura física do local deveria obedecer, caso possível, o organograma criado por ocasião do projeto inicial do ano de 2000, que segue abaixo, o qual requer juiz, cidadãos e a comunidade em geral: Figura 2 - Organograma do Projeto inicial referindo-se à estrutura das unidades das Casas da Cidadania.

Fonte: Santa Catarina, 2000.19

As instalações das Casas da Cidadania nos municípios se efetivam por meio de celebração de convênio firmado entre o município interessado na sua instalação, a IES e o TJSC. A primeira Casa da

19

Documento eletrônico. Disponível em:

<https://www.tjsc.jus.br/documents/10181/37454/Projeto+de+Casa+da+Cidad ania+-+Cartilha/b77dbd7a-4ad7-476b-a9d0-25b19e7db28e>. Acesso em: 30 mar. 2016.

(50)

Cidadania foi instalada no Estado, em 28 de junho de 2000, na cidade de Camboriú. Desde então, foram instaladas outras 79 Casas da Cidadania20 por todo o Estado, como pode-se observar na Figura 3.

20

Conforme informação obtida no site do Tribunal de Justiça (SANTA CATARINA, 2016), as cidades e localidades onde foram instaladas as Casas da Cidadania são: Camboriú, Rio Maina, Curitibanos*, Catanduvas*, Palma Sola, São Miguel do Oeste, Ipuaçu, Ouro Verde, Canelinha, Tijucas, Vidal Ramos, Vitor Meirelles, Witmarsum, Dona Emma, José Boiteux, Presidente Getúlio, Timbó Grande, Jaborá, Garuva, Criciúma, Pouso Redondo, Leoberto Leal, Imbuia, Aurora, Salete, Rio do Campo, Mirim Doce, Laurentino, Rio do Oeste, Ascurra, Presidente Nereu, Lontras, Rio das Antas, Fraiburgo, Monte Carlo, Formosa do Sul, Irati*, Águas Frias, Indaial, Agronômica, Treze Tílias, Zortéa, Rio dos Cedros, Timbó, Benedito Novo, Doutor Pedrinho, Orleans, Iraceminha, Maravilha, Ilhota*, Piratuba, Florianópolis*, Cocal do Sul, Tubarão, Romelândia, Lacerdópolis, Ouro, Ipira, Luzerna*, Joaçaba, Balneário Barra do Sul, Balneário Camboriú, Nova Trento, Erval Velho, Petrolândia, Vargem Bonita**, Cerro Negro, Campo Alegre, Capão Alto, Blumenau, Botuverá, Água Doce, Saudades, Itajaí, Bocaína do Sul, Celso Ramos, Ponte Alta, Caibi, Brunópolis. *Casa da Cidadania extinta; **Casa da Cidadania suspensa.

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Figura 3 - Mapa de Santa Catarina com a indicação das Casas da Cidadania instaladas e categorizadas como: em funcionamento, extintas e suspensas.

Fonte: elaborado por Barbosa, G. D (2016).

A implantação de unidades descentralizadas e informais de jurisdição tem o condão de efetivar o acesso à justiça a todos os cidadãos catarinenses, principalmente aos que, por vários motivos, encontram-se mais distantes do Poder Judiciário.

A ideia de Casa da Cidadania, portanto, abarca, em sua estrutura geral, a implantação de Juizados Especiais, estruturados de maneira descentralizada, atuando em sintonia com um Núcleo Interdisciplinar de apoio, formado por advogados, psicólogos, assistentes sociais e pedagogos. Dessa forma, a Casa da Cidadania, conforme a ideia do projeto inicial, além de ser o espaço físico destinado à realização de inúmeras atividades de atendimento ao público, com orientações a serem prestadas por profissionais da área de psicologia e

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assistência social, também serviria de locus [sic] para a promoção de atividades “não-adversariais” de resolução de conflitos, além de ser uma verdadeira unidade jurisdicional avançada, na qual a homologação de transações seria realizada por um juiz designado, de forma mais ágil e célere (DEBIASI; LUZ, 2006, p. 49).

Numa visão empírica, as Casas da Cidadania são “entes promotores de serviços jurídicos gratuitos oferecidos à comunidade”; e no campo da sociologia jurídica são definidos como serviços legais (DEBIASI; LUZ, 2006, p. 60-61).

Do ponto de vista meramente formal e instrumental, a expressão “serviço legal” designa qualquer espécie de ente ou atividade organizada que oferece à população serviços de esclarecimento sobre assuntos jurídicos, formação para cidadania ou assistência judiciária gratuita. Muitas são as formas operativas de tais organismos e variados são os princípios ideológicos de cada tipo de entidade que atua nesse campo de serviços. Tal variedade, contudo, pode ser enquadrada em dois grandes campos: serviços leais estatais e serviços legais não-estatais (DEBIASI; LUZ, 2006, p. 61).

As Casas da Cidadania enquadram-se no conceito de serviços legais não-estatais, pois prestam serviços gratuitos de apoio jurídico com base na tipologia escritório-modelo, que está ligado aos estágios obrigatórios dos cursos de Direito e são utilizados como forma de capacitação dos acadêmicos. Isso porque, com base no art. 5º da Resolução 2/2001 do Tribunal de Justiça de Santa Catarina: “os municípios e as universidades interessados formalizarão convênios com o Tribunal de Justiça para a instalação da Casa da Cidadania” (SANTA CATARINA, 2001).

Na maioria dos casos, a instalação da Casa da Cidadania faz parte de um convênio entre o Tribunal de Justiça, o Município e uma IES, cada um com suas funções definidas. O Tribunal de Justiça tem a função de coordenação e direção na implantação das Casas da Cidadania e dos Juizados da Cidadania em cada município catarinense, bem como a de designação de magistrado responsável.

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Para a instalação das Casas da Cidadania nos municípios de Santa Catarina, a Resolução nº 2/2001, em seu artigo 2º, inciso II, instituiu a função de Juiz de Direito Implantador em cada Comarca, a quem cabe providenciar e intermediar, a instalação da unidade em sua jurisdição, em nome do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (SANTA CATARINA, 2001). Designar o Juiz de Direito Implantador e o Coordenador, estabelecer os modelos de expediente, recrutar, formar e nomear conciliadores e mediadores, firmar convênios com IES da região e, bem assim, com órgãos públicos ou privados necessários ao êxito do projeto, bem como o Ministério Público, são funções de competência do Presidente do Tribunal de Justiça (SANTA CATARINA, 2001).

Segundo o artigo 4º da Resolução nº 2/2001, “caberá ao Município: I- ceder espaço físico, arcando com as despesas de manutenção; II- indicar servidor(es) público(s) para o exercício das atividades de secretaria, conforme a necessidade do serviço; III- fornecer o material do expediente” (SANTA CATARINA, 2001). Já à IES cabe manter os serviços de apoio técnico nas áreas afins, selecionar os estagiários e capacitar os conciliadores, mediadores e secretários que atuem na unidade.

Esses espaços exercem papel fundamental na construção do conhecimento dos acadêmicos. O atendimento dos cidadãos que procuram as Casas da Cidadania, a condução do processo, a conclusão deste e até mesmo a resolução do conflito, garantirá uma experiência insubstituível para o exercício da profissão no futuro.

Novamente, salienta-se que o lócus desse estudo recai sobre a Casa da Cidadania localizada no Município de Orleans, em Santa Catarina. A iniciativa de implantar a Casa da Cidadania em Orleans partiu do coordenador do curso de Direito do Centro Universitário Barriga Verde, juntamente com o Conselho Administrativo do UNIBAVE. Cabe ressaltar que a existência do curso de Direito na IES é pré-requisito ao convênio. A Lei Municipal nº 2.176, de 25 de março de 2008, deu início ao projeto e estabeleceu em seu artigo 1º: “Fica o Poder Executivo Municipal autorizado a firmar convênio com o Poder Judiciário Estadual e UNIBAVE, objetivando a criação e instalação da Casa da Cidadania de Orleans” (ORLEANS, 2008, p. 1).

O Termo de Convênio nº 110, firmado em 24 de junho de 2008, pelo Poder Judiciário de Santa Catarina, por intermédio do Tribunal de Justiça, a Fundação Educacional Barriga Verde (FEBAVE), instituição mantenedora do UNIBAVE, e o município de Orleans, estabeleceu a instalação, manutenção e o funcionamento da Casa da Cidadania no

Referências

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