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PARAFRASEANDO FOUCAULT I

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Academic year: 2021

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PARAFRASEANDO FOUCAULT I

FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder: organização e tradução de Roberto Machado. 16. ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.

Michel Foucault nasceu em Poitiers, França em 1926. Estudou filosofia, psicologia e história, na École Normale Supérieure de Paris. Lecionou psicologia e filosofia em diversas universidades, na Alemanha, na Suécia, na Tunísia, nos Estados Unidos e em outras. Escreveu para diversos jornais e trabalhou durante muito tempo como psicólogo em hospitais psiquiátricos e prisões. Publicou "Doença Mental e Psicologia" (1954) "História da Loucura" (1961), "O Nascimento da Clínica", (1963), “As Palavras e as Coisas" (1966) e “A Arqueologia do Saber" (1969). Morreu em 25 de junho de 1984, em função de complicadores provocados pela AIDS.

Na introdução Roberto Machado expõe uma idéia geral das obras de Foucault e esclarece que Microfísica do Poder é um deslocamento do espaço da análise e do grau em que ela se realiza para mostrar que os poderes se exercem em níveis variados e em pontos diferentes da sociedade, assim como os micropoderes, associados ou não ao Estado. O primeiro capítulo apresenta a resolução de Foucault no sentido de retomar as pesquisas acerca da penalidade, das prisões e disciplinas, graças a uma abertura política em 1968. Ele afiança que o modelo para sua genealogia não é a dialética e nem a semiologia que reduzem a história à forma apaziguada da linguagem e do diálogo, mas sim o confronto. A importância das mudanças que alteraram o modo de ser, de falar e de ver, rompendo conjecturas já formuladas, é a forma que os enunciados se regem entre si, assim como o que os rege para que se constituam proposições aceitáveis cientificamente. No segundo cap. Foucault apresenta a genealogia a partir da perspectiva de Nietzsche, que divide a história em três modalidades distintas: a parodiada, o dissociativo, e o sacrifício do sujeito de conhecimento. Foucault afirma que ninguém se preocupava em considerar a mecânica do poder, contentavam-se em denunciá-lo no adversário. Explana que o poder é mantido por sua característica positiva de produzir coisas, induzir ao prazer e formar discursos que atravessam o corpo social e não por seu aspecto opressor. Neste capítulo Foucault aponta o surgimento do intelectual específico, que se desenvolveu a partir da segunda guerra tendo a biologia e a física como áreas de formação e, que se tornaria cada vez mais importante à medida que ele assumia responsabilidades

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políticas enquanto físico atômico, geneticista, informático, farmacologista etc. O filósofo atribui a ideia de liberdade ao surgimento do predomínio das classes. No debate entre Michel Foucault e os militantes maoitas, no terceiro cap., sobre o projeto de um tribunal popular para julgar a polícia, ele diz que a instalação de uma instância neutra entre o povo e seu inimigo, capaz de estabelecer uma fronteira entre o culpado e o inocente, é uma maneira de desarmar a justiça popular em proveito de uma arbitragem leviana. Foucault discorre sobre as intenções da burguesia, ao manter o exército em oposição com o proletariado conservando a colonização e a prisão sob sólida ideologia racista.

No quarto cap. o filósofo mostra que as relações entre teoria e prática são fragmentadas e que nenhuma teoria se desenvolve sem encontrar barreiras, por isso é preciso prática para derrubar os entraves. De acordo com Foucault é no sistema penal que o poder se manifesta da forma mais clara, porém, critica o cinismo em que ele se exprime da maneira mais arcaica e violenta, e elucida que a análise dos aparelhos do Estado não esgotam os campos de exercício do poder. Em “O Nascimento da Medicina Social”, quinto cap., Foucault defende que com o capitalismo tenha surgido uma medicina coletiva e reconstitui três etapas na sua formação: a medicina de Estado, que surgiu na Alemanha; a urbana, que teve seu início na França e a da força de trabalho, originária da Inglaterra sob o nome de “Lei dos Pobres”. Ele explica detalhadamente cada uma delas, sua organização e o conceito de salubridade no decorrer do capítulo. No sexto cap. Foucault mapeia a história do surgimento do hospital e as mudanças sofridas pela instituição no decorrer do século XVIII, quando passa a ser utilizada como instrumento terapêutico. O hospital servia tanto para recolher os doentes em fase terminal, quanto para proteger a população do contágio, promovendo a exclusão. Entre a economia, investimento em pessoas, e a reforma hospitalar-médica, o indivíduo passa a ter valor econômico para o Estado, e com isso, os hospitais militares e os marítimos são os primeiros a passarem pelas reformas de aperfeiçoamento. Foucault discute também a política e a disciplina no contexto hospitalar. No sétimo cap. o filósofo discorre sobre sua teoria da verdade, que é uma relação de poder e pode ser produzida, provocada ou atraída por meios ardis. Expõe três fases da história da verdade: o estabelecimento do inquérito na prática judicial, política e religiosa; a inclusão desse procedimento a uma tecnologia; e, o aparecimento da química e eletricidade, que viabilizaram a produção de fenômenos constatáveis por todo sujeito de ciência. Sobre a verdade hospitalar, Foucault aponta as mudanças que aconteceram devido às pesquisas de Pasteur, que tirou o médico do papel de portador da verdade da doença para enquadrá-lo como o principal agente de proliferação da

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mesma. No âmbito da discussão sobre a loucura e a psiquiatria ele esclarece que, no início a loucura era considerada apenas um erro ou ilusão, e, no séc. XIX passou a ser vista como desordem no modo de agir. Então se criou o hospício, a partir do modelo dado por Esquirol, para assumir o lugar de campo institucional onde vigora a luta, dominação, submissão e renúncia, que eram considerados como o triunfo contra a doença. O médico desempenhava o papel de “mestre da loucura”, o único capaz de dominá-la depois de tê-la sabiamente desencadeado. Foucault usa em vários textos o termo “não nobre” para se referir as suas pesquisas, justificando que era dessa forma que elas eram ajuizadas pelos outros intelectuais. No oitavo cap. o filósofo afirma que na história da repressão há um momento em que se transita da punição a vigilância, porque nota-se o quanto vigiar é mais lucrativo. Explica a forma como a prisão foi idealizada e como ela se tornou a fábrica de bandidos que é desde 1820. Foucault assegura que os delinquentes são úteis ao sistema econômico e político. Ele esclarece, com detalhes, outras pontuações como o surgimento da literatura policial, a discriminação dos pobres, e a posição da sociedade diante de certos delitos considerados sem importância. São expostas as ligações entre sistema médico e sistema penal e a posição de Foucault em relação aos criminologistas, além do questionamento sobre os mecanismos de poder e total ausência de estudos sobre eles. No nono cap. o filósofo descreve a diferença entre o corpo do rei, uma realidade política do século XII e a república, que não tem um corpo, mas traz como princípio o corpo da sociedade. Expõe a substituição dos rituais que restauravam a integridade do monarca por métodos de assepsia, que são descritos pelo autor como controle das doenças e exclusão dos degenerados. Neste capítulo Foucault explana sobre assuntos como sexualidade e controle da masturbação; a noção de repressão que reproduz os mecanismos de poder; o surgimento do corpo social; e, Movimentos Revolucionários Marxistas ligados ao aparelho do Estado. No décimo cap. Foucault explica porque não faz menção à geografia no seu livro “Arqueologia do Saber”. Em “Genealogia e poder”, capítulo onze, ele traz esclarecimentos sobre o que entende do “saber dominado” e a inserção dos discursos marxistas no processo de evolução das relações de poder, além de fazer um questionamento sobre o marxismo ser ou não uma ciência. No cap. doze Foucault traz toda uma explicação sobre análise de discurso e relações de poder, expõe a metodologia dos seus estudos e as precauções metodológicas ao analisar o domínio, que deve ser avaliado como algo que só funciona em cadeia e que não se aplica aos indivíduos, mas passa por eles. No cap. treze a saúde da população é problematizada dentro de interesses múltiplos em que o Estado exerce papéis diversificados. Ele fala da “Noso política” e como ela atribuía à questão

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da enfermidade dos pobres o problema geral da saúde das populações, fazendo com que a polícia se deslocasse para a forma mais geral de uma “polícia médica”. Foucault expõe as campanhas promovidas nos meios de comunicação para a instalação de uma “aculturação médica” na sociedade, atribuindo à família uma responsabilidade moral e econômica no cuidado com as crianças. O cap. quatorze, “O olho do poder” mostra as mudanças na arquitetura, que começa a se articular com os problemas da população e a se especializar. As construções são planejadas com o objetivo de vigiar, como nos conventos e prisões. É então que se promove uma vasta discussão sobre Bethan e a obra Panopticon, que tem estreita relação com este novo modelo de arquitetura. Ele traz várias vertentes desse assunto no que ele afeta a economia, a história e a política. Nos capítulos quinze, dezesseis e dezessete Foucault reforça questionamentos já debatidos anteriormente como sexualidade e governo. Vários temas interessantes como o Feudalismo, a Revolução Industrial, o Marxismo e o Fascismo, são trazidos por Foucault, além de citações de várias obras e escritores importantes nos quais ele tenha tirado base discursiva para defender suas pesquisas. Isso enriquece bastante o conhecimento do leitor, principalmente daquele que vê aguçada sua curiosidade diante de nomes como Nietzsche, Karl Marx, Hegel e vários outros. Ao mesmo tempo em que o livro traz um pouquinho de cada um, por isso seria interessante que o leitor conhecesse pelo menos um pouco de filosofia, ele deixa um gostinho de quero mais, uma vontade de saber das obras e das vidas desses grandes filósofos, assim como das passagens históricas, que muitas vezes são mostradas no ensino médio de forma superficial ou insatisfatória.

A questão sobre o uso comunicação como ferramenta importante para reforçar os interesses da elite, já estudada pó Michel Foucault, se mostra muito atual, pois, em uma palestra no Campus de Direito da UFBA, no dia 16/04/2010, o jornalista Mino Carta também apontou para esta influência midiática. Ele assegurou que a mídia brasileira é fruto da elite e continua aferrada as suas tradições e interesses, citou exemplos claros desses empenhos dentro de revistas e jornais de renome no quadro jornalístico brasileiro. Também de acordo com o jornalista, onde há poder existe a política, que permeia nossas vidas.

Foucault afirma ser um antiestruturalista e a presença de Marx em quase todos os capítulos é evidente, por tratar-se de um estudo não só das relações de poder, mas também da influência marxista na história dessas relações. Em “Genealogia do Poder” o leitor que porventura tenha achado Foucault um pouco pedante tem a grande oportunidade de mudar seu conceito em relação ao filósofo, pois, neste capítulo ele justifica a descontinuidade das suas pesquisas

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deixando uma brecha para que o leitor possa tirar suas próprias conclusões sobre as teorias expostas até então. Fica por nossa conta a comparação entre a época em que as teorias foram esquadrinhadas e expostas por Foucault e as possíveis mudanças que possam ter sofrido em relação à contemporaneidade. É possível notar que vários pontos no que diz respeito às relações de poder permanecem intocados, principalmente no interior dos hospitais, prisões, escolas etc., assim como na busca pela verdade mais conveniente a cada um. Realmente todos são submetidos a certo tipo de poder, mas também o exercem em determinadas situações. No capítulo que ele fala sobre “O Olho do Poder” percebe-se que apesar dos estudos terem se concretizado nos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX, ainda é possível perceber a necessidade de se vigiar as pessoas o tempo todo, mas esse “olho” moderno conta com aparelhos eletrônicos de vigilância como câmeras, que são instaladas por todos os locais, públicos e privados, desde elevadores de condomínios a rodovias federais. E isso nada mais é do que uma tentativa, às vezes eficaz, às vezes nem tanto, de inibir ou dissuadir os indivíduos que porventura estejam planejando algum ato ilegal. Se o indivíduo persiste com a ação e é identificado pela câmera, o próximo passo é sempre a penalidade. Enfim, embora prolixo em alguns pontos, este livro se mostra imensamente valioso e deve ser lido por todas as pessoas que tenham o interesse de conhecer a história geral das relações de poder, portanto, das relações humanas. Microfísica do Poder é o tipo de livro indicado para estudantes de todas as áreas, pois é uma análise que tem como objetivo instituir analogias entre os saberes, e é muito feliz neste aspecto.

Referências

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