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Dos crimes contra o patrimônio

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Academic year: 2021

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Dos crimes contra o patrimônio

1. Furto.

O bem ou objeto jurídico tutelado neste crime é a propriedade, posse ou detenção de um patrimônio. O objeto matéria é a coisa que pertence a alguém.

Tem como sujeito ativo e passivo qualquer pessoa, portanto crime comum.

Esse crime está sujeito à incidência do princípio da insignificância. Desde que observados seus requisitos (PROLE). Além do mais, podemos afirmar que a famosa frase “ladrão que furta ladrão merece 100 anos de perdão” não se aplica no Direito Penal. Desta forma, a pessoa que furta bem que acabou de ser furtado por outra pessoa também responderá por furto, tendo como sujeito passivo o verdadeiro proprietário do bem subtraído.

Note que coisas ilícitas também pode ser objeto material do crime de furto, nesse caso o sujeito ativo do crime responderá em concurso com o crime eventualmente praticado. É o caso de o sujeito furtar 5 quilos de maconha, responderá pelo furto e também pelo tráfico de drogas.

Furto

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Fala ai galera! Agora vamos deixar a parte geral do CP e avançar em direção à parte especial. O edital de vocês não cobra a parte especial toda, por sorte (risos!). Porém, ainda há muito conteúdo a envolver crimes contra a vida, crimes contra o patrimônio e crimes contra a administração pública. Veremos, por óbvio, o que de mais importante há em cada capítulo do CP. Não há necessidade, nem tempo hábil para esgotar o Código Penal. Isso não é feito nem em um curso superior de Direito, inclusive.

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www.monsterconcursos.com.br pág. #3 A tipicidade objetiva do crime está em “subtrair” coisa alheia móvel. Móvel é algo que pode ser transportado. Alheia é algo que pertence a outra pessoa certa e determinada.

Há um elemento subjetivo especial nesse crime, que é extraído da expressão “para si ou para outrem”, portanto, o sujeito deve subtrair um bem com essa finalidade, sob pena de ser considerado fato atípico.

Doutrina entende que o proprietário que subtrai coisa própria que esteja em poder de terceiro não responde por furto, mas exercício arbitrário as próprias razões, previsto no artigo 345 e 346 do CP.

Já o condômino que furta coisa pertencente ao condomínio responde pelo artigo 156, e não por furto.

Se o funcionário público subtrai coisa alheia móvel, para si ou para outrem, se aproveitando de sua condição de funcionário, pratica o crime de peculato-furto, previsto no art. 312. Todavia, caso o funcionário público subtraia, sem se valer de sua condição de funcionário, pratica furto, ainda que tenha subtraído coisa do local onde exerce suas funções.

Exemplo: João, Soldado da PMMG, durante seu expediente, percebe o “cochilo” do almoxarife e subtrai, para si, 5 projéteis de arma de fogo, nesse caso pratica peculato, já que se aproveitou de sua condição de funcionário, a qual, se não existisse, não permitiria que ele subtraísse os objetos. No entanto, caso João, de madrugada, pule o muro do batalhão, entre no almoxarifado e subtraia 5 balas de revólver, responderá por furto, pois sua condição de funcionário público em nada influenciou na empreitada criminosa.

Doutrina cita a “res nillius”, ou seja, coisa de ninguém (sem dono) e sua impossibilidade de servir de objeto material do delito de furto. Se um objeto não pertence a ninguém, não pode ser furtado. Outra situação é a “res derelictae”, coisa abandonada, se ela foi abandonada, também não pertence a ninguém e não pode ser objeto matéria do delito em estudo.

Contudo, há de ter especial atenção com a “res desperdictae”, coisa perdida que, se encontrada, deve ser restituída ao seu dono em 15 dias (art. 169, parágrafo único, II, do CP – crime de apropriação de coisa achada). Esse delito do artigo 169 só se configura, caso o agente que encontrou a coisa perdida não saiba quem é o legítimo proprietário, caso ele saiba quem é o dono, haverá crime de furto.

Outra importante indagação que pode cair na prova de vocês é sobre o cadáver. Nesse caso deve se avaliar se o cadáver tem expressão econômica. Se houver, a subtração de um cadáver (de uma escola de

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www.monsterconcursos.com.br pág. #4 medicina, por exemplo) configura furto. Ao contrário, se não houver expressão econômica (cadáver de um cemitério, por exemplo), configura crime específico, que está previsto no art. 211 do CP.

Há, por fim, uma última observação extremamente importante, especialmente para provas da PM. O chamado furto de uso e sua tipicidade.

Pois bem. O CP não prevê o delito de furto de uso, portanto, subtrair coisa alheia móvel, para uso momentâneo, não é crime. Desde que presente os seguintes requisitos: a) intenção, desde o início, de usar a coisa momentaneamente; b) deve ser coisa não consumível com o uso; c) por fim, restituição imediata à vítima no mesmo local e nas mesmas condições que se encontrava a coisa.

TOME NOTA: O grande “x” da questão é que no CÓDIGO PENAL MILITAR HÁ PREVISÃO DO CRIME DE FURTO DE USO!!!!!!! Artigo 241!

O crime de furto se consuma quando o agente retira a coisa da esfera de disponibilidade da vítima, ou seja, no momento em que a vítima não tem mais a coisa à sua disposição, por obra do agente criminoso, está configurado o delito de furto. Ainda que o agente fique com a coisa por um minuto, já configurou o furto. É a chamada teoria da amotio ou

apprehensio.

§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.

Até pouco tempo atrás essa causa de aumento de pena só se aplicava ao furto simples, porém, o STF acabou de decidir que se aplica também em relação ao furto qualificado.

Portanto, se o furto foi praticado durante o repouso noturno, há causa de aumento de pena. Pouco importa que o imóvel de onde subtraída a coisa esteja habitado ou que as pessoas que nele se encontram estejam dormindo. Ainda assim, haverá o aumento de pena.

Devendo verificar-se a situação de repouso noturno de acordo com os costumes do local. Durante o repouso noturno há uma natural ausência de vigilância sobre os bens, portanto, Olinda em época de carnaval não haverá repouso noturno, já que não haverá falta de vigilância pelo fato de a cidade estar quieta.

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www.monsterconcursos.com.br pág. #5 § 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.

Essa hipótese é chamada de furto privilegiado. Sendo necessário que os requisitos se verifiquem de forma cumulativa. O sujeito ativo deve ser primário e a coisa subtraída de pequeno valor.

Os tribunais entendem que o pequeno valor deve ter por base o valor do salário mínimo vigente ao tempo do fato. Portanto, até o limite de um salário mínimo, desde que seja primário o sujeito ativo do crime, o juiz pode substituir a pena, diminuí-la, ou ainda, aplicar somente a pena de multa.

§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.

É o chamado furto de energia. Aí deve-se incluir qualquer energia que tenha valor econômico, a exemplo da energia genética. É o caso de o sujeito furtar sêmen de um touro reprodutor. Haverá furto de energia.

Há uma questão que leva a certa confusão quando falamos no famoso “gato de energia”. Caso a fraude ocorra no medidor de energia, haverá crime de estelionato (estudaremos adiante). No entanto, se for feita uma ligação clandestina direta (do poste, por exemplo), haverá furto de energia.

Outro assunto que é muito tormentoso, embora tenha sido recentemente pacificado pelo STF, diz respeito ao “gato NET”. O STJ entende que se tratava de furto de energia. Porém, o STF, Corte Suprema do nosso país, resolveu que se trata de fato atípico, portanto, o “gato NET”, no ordenamento jurídico brasileiro, não é crime.

ATENÇÃO: Não se animem meus amigos e amigas! Rsrs. Não é crime, mas continua sendo um ilícito civil e pode acarretar uma boa indenização!!!

Furto qualificado

§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:

I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;

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www.monsterconcursos.com.br pág. #6 Nesse caso há uma violência direcionada à coisa. Portanto, é indispensável que a destruição ou rompimento seja em relação a um obstáculo exterior à coisa, ou seja, algo usado para proteger o bem. Não será considerado, por exemplo, abrir a porta destrancada de um imóvel para entrar e subtrair. Mas incidirá a qualificadora se o sujeito arrombar a porta para o mesmo fim.

Surge a questão da “trombada”, fato que ocorre quando um sujeito passa correndo e arranca ou puxa determinado pertence da vítima (uma bolsa, por exemplo), deve avaliar se houve uma violência contra a pessoa. Se houver, o delito será de roubo. No entanto, caso não tenha havido força contra a pessoa, mas somente contra a coisa, o delito é mesmo o furto.

II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;

Para a qualificadora do abuso de confiança são necessários dois requisitos: a) que exista relação de confiança entre autor e vítima; b) que o agente se aproveite dessa relação de confiança. Deve surgir alguma facilidade em decorrência da confiança depositada no autor, pela vítima.

Dá-se o nome de “famulato” o furto praticado pelo empregado contra seu empregador. É um furto qualificado pelo abuso de confiança.

Em relação a fraude, devemos nos atentar para a diferença entre furto qualificado pela fraude e o delito de estelionato. Vejamos:

No furto o meio fraudulento é utilizado para afastar a vigilância da vítima sobre o bem, permitindo, assim, que o próprio autor o subtraia. É o que ocorre quando pessoas usam uniforme da companhia de energia elétrica para entrar na residência da pessoa, por exemplo.

Já no estelionato o meio fraudulento serve para enganar a vítima, fazendo com que ela lhe entregue o bem.

Já a escalada é uma qualificadora que exige que o agente se valha de uma via anormal, um esforço especial, para subtrair a coisa. Assim como no rompimento de obstáculo, é necessário que o meio utilizado seja exterior à coisa. É o que ocorre quando o sujeito pula um muro muito alto ou passa por um túnel apertado para adentar num imóvel. A escalada pode ser tanto na entrada, quanto na saída.

Não será escalada, portanto, se o agente utilizar um meio que já estava no local, como uma escada, exemplificadamente, já que não será um meio procurado pelo agente criminoso.

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www.monsterconcursos.com.br pág. #7 TOME NOTA: “Escalada” não se refere a “escalar” propriamente. Se refere tão só a um meio anormal para que o agente tenha acesso ao local do furto.

E, por fim, a destreza. Que é a situação em que o sujeito tem uma habilidade especial que lhe permite praticar o furto sem que a vítima perceba. É o famoso “batedor de carteiras”. É chamado de “punguista”.

Uma especial atenção deve ser dada à tentativa desse furto qualificado pela destreza. Se quem percebe o furto é um terceiro, que impede o agente, haverá tentativa de furto qualificado. No entanto, caso a própria vítima perceba o furto, haverá tentativa de furto simples, já que a própria vítima percebeu, logo, não houve destreza.

III - com emprego de chave falsa;

O emprego de chave falsa abrange qualquer objeto, com ou sem formato de chave, inclusive uma chave verdadeira produzida clandestinamente. Bem como a chave “mixa” ou cartões de quartos de hotéis. E, também, deve ser utilizada em algo exterior à coisa.

Exemplo: João, com uma chave mixa, abre um carro, faz uma ligação direta, e furta o mesmo. Há furto qualificado pela chave falsa. No entanto, caso o carro estivesse aberto, João responderia por furto simples, ainda que tenha utilizado uma chave para dar ignição no carro. Isso porque a ignição é algo inerente ao carro e não exterior a ele, como é a porta.

IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.

Aqui o sujeito ativo está em parceria com, no mínimo, mais um agente. Não é necessário que todos os agentes pratiquem a subtração. Essa qualificadora exige que haja concurso, podendo ser um vigiando, enquanto o outro subtrai. Não exige, portanto, execução por mais de uma. Mas apenas concurso, que pode se dar em participação ou em autoria. Cuidado com isso!

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www.monsterconcursos.com.br pág. #8 § 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior.

§ 6º - A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração. (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)

Temos aqui uma inovação legislativa muito importante, que trouxe uma nova modalidade de furto qualificado ao tratar da subtração de um bem móvel com movimento próprio, que é o semovente. Portanto, semovente é também uma espécie de bem móvel, que, porém, possui vida e movimento próprio, são os animais.

O delito exige que esse animal furtado seja domesticável de produção, ou seja, deve ser um animal doméstico, o que não se confunde com animal selvagem. É animal que tem dono.

Ele deve ser, ainda, de produção, o que nos leva a concluir que deve ser um animal que gera patrimônio, ou seja, gere dinheiro e riqueza. Como é o caso de gado leiteiro, canil de reprodução, e podemos considerar até mesmo aqueles furtos que ocorrem em “hotéis de animais”, muito comum em grandes cidades do país.

Uma curiosidade é o nome dado pela doutrina ao furto de gado especificamente, chamado de “abigeato”. Esse nome só se aplica ao furto de gado.

Furto de coisa comum

Art. 156 - Subtrair o condômino, coerdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. § 1º - Somente se procede mediante representação.

§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem direito o agente.

2. Roubo.

O roubo é um crime complexo. Que é aquele que resulta da soma de duas ou mais figuras típicas. No caso há o delito de furto e o delito de constrangimento ilegal.

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www.monsterconcursos.com.br pág. #9 Não é possível aplicar o princípio da insignificância em ralação ao delito de roubo, pois ele é praticado mediante grave ameaça ou violência, o que o torna incompatível com os requisitos do princípio.

O objeto jurídico tutelado é a propriedade, posse ou detenção, mas também a integridade física da vítima. Já o objeto material é a coisa sobre a qual recai a conduta do agente.

Trata-se de delito comum, já que qualquer pessoa pode praticar. Tendo como sujeito passivo também qualquer pessoa.

Igualmente ao furto, o delito de roubo se consuma quando o agente retira a coisa da esfera de disponibilidade da vítima, ainda que por curto espaço de tempo. Sendo que, sua prisão logo após a prática criminosa não retira a consumação do crime.

Roubo

Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:

Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

O tipo objetivo exige subtração de coisa móvel alheia, mediante grave ameaça ou violência. Ou seja, há um meio específico para se praticar o tipo, que deve ser com violência ou grave ameaça. A forma de execução, portanto, é vinculada.

Assim como o furto, o roubo também exige uma finalidade especial, um ânimo específico do agente, que busca subtrair a coisa, para si ou para outrem.

Existem duas modalidades de roubo simples. A prevista no caput é o chamado “roubo próprio”. Neste roubo o agente primeiro usa de violência ou grave ameaça, ou reduz à impossibilidade a resistência da vítima, para depois subtrair a coisa alheia móvel, para si ou para outrem.

A violência empregada pode, igualmente, ser própria, quando utiliza grave ameaça ou violência. Ou ainda, pode surgir a chamada violência imprópria, quando o sujeito reduz à impossibilidade de resistência da vítima (amarrá-la, por exemplo).

Reparem que o próprio criminoso deve exercer a violência imprópria. De forma que não se considera redução da capacidade de resistência subtrair bens de um bêbado em coma alcoólico, pois nesse caso haverá delito de furto, já que não era possível oferecer resistência.

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www.monsterconcursos.com.br pág. #10 § 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.

Essa previsão consagra a segunda espécie de roubo simples, chamado roubo simples impróprio. Impróprio por que o sujeito primeiro subtrai a coisa e, após ver que precisa empregar violência ou grave ameaça contra a pessoa, para assegurar a detenção da coisa subtraída ou sua impunidade, o faz.

Perceba que a intenção era só subtrair, no entanto, no decorrer da prática criminosa foi necessário empregar grave ameaça ou violência para garantir o sucesso da empreitada criminosa.

TOME NOTA: É necessário que a violência ou grave ameaça exercida seja para garantir a impunidade do autor do roubo ou a detenção da coisa subtraída.

No caso do roubo impróprio não há previsão da violência imprópria. Portanto, essa modalidade de violência só se aplica na hipótese do caput. § 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:

Essa hipótese é chamada de roubo circunstanciado ou roubo com majorante. Não é tecnicamente correto chamar de roubo qualificado porque são causas de aumento de pena. Para que se possa dizer que se trata de uma qualificadora é necessário ter novo mínimo e novo máximo de pena, como ocorre no furto.

I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma; II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;

III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.

IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior;

V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. § 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa.

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www.monsterconcursos.com.br pág. #11 Repare que o tipo exige que a lesão corporal grave ou a morte resultem da violência. Portanto, caso o sujeito tenha um ataque do coração em razão da grave ameaça, por exemplo, não irá incidir essa qualificadora.

Esse parágrafo trata do “latrocínio”, que é o roubo seguido de morte. Portanto, só se fala em latrocínio se resultar morte. Se resultar grave ameaça não muda nada. É roubo qualificado.

Para configurar o latrocínio é necessário verificar a presença de três requisitos: a) morte decorrente de violência; b) a violência deve ter sido cometida durante o roubo; c) a violência deve ter sido cometida em razão do roubo.

Pelos requisitos se percebe que a violência deve ter sido praticada para que o roubo tivesse sucesso, já que durante a empreitada criminosa e em razão dela. Diferente seria se um comparsa mata o outro para ficar com todo o produto do crime, nesse caso haveria roubo em concurso material com homicídio.

Porém, caso o sujeito, durante a prática criminosa, é surpreendido por um segurança armado que tenta impedir o roubo e, em razão disso, durante a ação criminosa, mata o segurança para conseguir fugir, aí sim haverá latrocínio.

No mesmo exemplo acima, caso o sujeito, tentando acertar o segurança que busca impedir o sucesso da empreitada, acerte seu comparsa, matando-o, haverá, igualmente, latrocínio, em aplicação à regra do artigo 73 (aberratio ictus ou erro na execução).

TOME NOTA: A súmula 610 do STF sobre a consumação do latrocínio determina o que importa para que o latrocínio esteja consumado é a morte consumada. Portanto, ainda que a subtração não seja concluída com sucesso, se houver morte, em razão e durante o roubo, haverá latrocínio consumado. Diferente é se houver subtração concluída com sucesso, mas não houver morte consumada, haverá latrocínio tentado.

3. Extorsão.

Quanto ao objeto jurídico e material. Sujeitos e tipicidade subjetiva, vale para a extorsão tudo que foi dito em relação ao roubo.

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www.monsterconcursos.com.br pág. #12 Sobre a tipicidade objetiva, adicionalmente à violência e a grave ameaça à pessoa como meio de execução do crime, há semelhança no elemento subjetivo especial “para si ou para outrem”.

No entanto, o verbo típico aqui é constranger, bem como a finalidade pretendida é outra, busca indevida vantagem econômica, uma ação positiva (fazer) por parte da vítima ou então omissiva (tolerar ou deixar de fazer).

Como a vantagem é econômica não pode ser um fazer sem conotação econômica. Portanto praticar extorsão contra alguém para que mantenha relações sexuais com o autor, por exemplo, configura extorsão em concurso material com estupro, já que há uma grave ameaça.

Uma grande diferença entre o roubo e a extorsão é que no roubo a vantagem que se pretende é imediata, será ganha no momento. Já na extorsão a vantagem que se busca é futura. O agente constrange a vítima para determina-la a realizar algo.

Outra importante diferença é o comportamento da vítima. No roubo o comportamento da vítima é totalmente dispensável. Na extorsão é indispensável o comportamento da vítima.

Exemplo de roubo: João aponta revolver para José e o manda entregar o relógio. José não entrega, João vai e tira. Ou seja, não preciso de José pra nada, logo, há roubo.

Exemplo de extorsão: João aponta revolver para José e o manda ligar para sua mãe e peça que entregue certo valor em dinheiro a um comparsa. Sem a ligação de José, João não irá conseguir consumar deu delito. Logo, extorsão.

Por fim, a consumação do delito de extorsão ocorre com o constrangimento da vítima. Com o movimento da mesma. Dessa forma, ainda que o agente criminoso não consiga a finalidade pretendida, o delito já estará consumado.

Exemplo: João liga pra José e fala que está com seu filho e se José não pagar determinada quantia em dinheiro irá matar seu filho. Acontece que José nem sequer tem filho. Ou seja, ele não foi constrangido a nada, de sorte que não haverá crime de extorsão. Diferente é se José (tendo filho) acredita no falso sequestro e, nesse momento, sai de casa para ir depositar o dinheiro. No meio do caminho consegue ligar pra seu filho e percebe a

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www.monsterconcursos.com.br pág. #13 “golpe”, desistindo de depositar o valor para o criminoso. Perceba que José foi constrangido, se movimentou, logo, consumou-se a extorsão, ainda que o sujeito ativo não tenha obtido a vantagem indevida.

Extorsão

Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade.

Aqui há um detalhe importante em relação ao concurso de agentes. Diferente dos delitos de furto e roubo, onde o simples concurso de agente já configura a qualificadora e a causa de aumento de pena, respectivamente. Na extorsão o legislador exigiu que o delito seja cometido por duas ou mais pessoas para incidir a causa de aumento, logo, devem ser coautores, não basta um partícipe e um autor, como nos delitos acima citados.

TOME NOTA: Na extorsão duas pessoas devem praticar atos de execução do delito para que incida a causa de aumento. Duas ou mais devem estar presentes no fato. No furto e no roubo basta o concurso, ou seja, não precisam praticar o verbo típico, basta que contribuam de qualquer forma para a consumação do delito.

§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior.

§ 3º - Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2º e 3º, respectivamente.

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www.monsterconcursos.com.br pág. #14 Aqui há o que se denominou “sequestro relâmpago”. Note que esse delito se diferencia do crime de extorsão mediante sequestro, por que aqui o comportamento da vítima é necessário para obter a vantagem econômica, ou seja, sem a vítima o crime não se consuma. É o caso de o agente criminoso pegar a vítima na rua, colocar em seu carro, leva-la até o caixa eletrônico para que ela saque dinheiro. Ora, sem a vítima com sua senha o ladrão não saca dinheiro algum. Há ai sequestro relâmpago.

Já na extorsão mediante sequestro não precisa da vítima pra nada. A liberdade da vítima é restringida e um terceiro sofre o desfalque patrimonial como pagamento pelo resgate do sequestrado.

Há, ainda, uma diferença dos dois com o delito de roubo qualificado, quando o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade (art. 157, §2º, V). Aqui também não precisa da vítima pra nada e não tem um terceiro que sofre o desfalque patrimonial, só restringe sua liberdade para facilitar a empreitada criminosa. É o caso de roubar os bens da vítima e coloca-la no porta-malas do carro para evitar que ela ligue para as autoridades, sendo que ela é libertada em algum lugar em seguida.

Ainda em relação ao sequestro relâmpago, caso o sujeito, após obrigar a vítima a colocar a senha e sacar seu dinheiro do caixa eletrônico, resolva também subtrair bens que ela traga consigo, haverá concurso entre extorsão e roubo.

4. Extorsão mediante sequestro.

Todas as informações dadas no crime de extorsão sobre objeto material e consumação, aplicam-se ao delito em estudo.

Ele se diferencia pelo tipo objetivo que é sequestrar, tendo como condição para liberar a vítima, o pagamento de uma condição ou preço de resgate.

Aqui há dupla subjetividade passiva, ou seja, mais de uma vítima. A pessoa que tem sua liberdade cerceada e também a pessoa que sofre o desfalque patrimonial.

O objeto jurídico tutelado é a liberdade individual e o patrimônio. Mais um exemplo de crime complexo, ou seja, resulta da soma de dois tipos autônomos. O sequestro do artigo 148 e o delito de extorsão.

Extorsão mediante sequestro

Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate:

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www.monsterconcursos.com.br pág. #15 Pena - reclusão, de oito a quinze anos.

O artigo 148 traz o delito de sequestro ou cárcere privado. A diferença entre os dois é que no sequestro existe uma possibilidade de locomoção. A pessoa é colocada num ambiente maior, como um sítio. Já no cárcere privado a vítima permanece trancada em local completamente fechado.

Esse delito tem um dolo específico, que é obter a vantagem econômica, para si ou para outrem, como condição ou preço de resgate. Não havendo esse especial fim de agir estará configurado o delito do artigo 148 (sequestro e cárcere privado).

A vantagem deve necessariamente ser econômica.

TOME NOTA: O sequestro deve ser de pessoa. Se for animal, por exemplo, não configura esse delito, mas sim o delito de extorsão. Portanto, sequestrar um cachorro, pedindo dinheiro como condição ou preço de resgate, configura o delito do artigo 158.

§ 1º - Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.

Pena - reclusão, de doze a vinte anos.

§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.

§ 3º - Se resulta a morte:

Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.

As hipóteses dos parágrafos acima retratam espécies de extorsão mediante sequestro qualificadas pelo resultado.

§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.

Esse parágrafo traz uma causa de diminuição de pena que retrata a famosa “delação premiada”. Ou seja, se o delito é cometido em concurso de pessoas, o concorrente que ajuda as autoridades a desvendar o crime, desde que facilite a liberação do sequestrado com vida, terá uma causa de diminuição de pena.

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www.monsterconcursos.com.br pág. #16 Devendo, necessariamente, ajudar na liberação. Caso sua colaboração com as autoridades em nada influenciar na libertação da vítima, não haverá diminuição de pena.

5. Dano.

Esse delito é autoexplicativo, de modo que dispensa muitos comentários. Basta terem em mente que é um delito que tutela o patrimônio. Crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoal.

Apenas um detalhe importante que desejo ressaltar é em relação à tipicidade subjetiva. O presente delito não admite a modalidade culposa, por falta de previsão legal, naturalmente.

Ocorre que no Código Penal Militar existe a previsão de dano culposo! Artigo 266 do CPM. Portanto, fiquem atentos!

Dano

Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Dano qualificado

Parágrafo único - Se o crime é cometido:

I - com violência à pessoa ou grave ameaça;

II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave;

III - contra o patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista; IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima: Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

6. Apropriação indébita.

Mais um delito que tutela o patrimônio. Vale trabalhar suas características por seu gosto pelas bancas de concurso.

O tipo objetivo do delito é “apropriar-se”, o que significa se apoderar-se, se tornar dono. Chamado de “animus rem sibi append”

Nesse delito agente já tem consigo a posse ou a detenção da coisa. Há uma relação de confiança. Ninguém está enganando ninguém, senão seria estelionato. O dolo do agente surge posteriormente à posse ou detenção do bem, que chegou ao seu alcance de forma lícita, porém, permanece de forma ilícita.

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www.monsterconcursos.com.br pág. #17 Apropriação indébita

Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção:

Pela simples redação já se percebe que o sujeito ativo do crime já tem a posse ou detenção do bem. Portanto, o dolo é posterior à posse ou detenção. Num primeiro momento não quer ter a coisa para si, porém, depois resolve não devolver, surgindo o dolo de apropriação.

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Aumento de pena

§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa: I - em depósito necessário;

II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário judicial;

III - em razão de ofício, emprego ou profissão.

7. Estelionato.

No estelionato o agente obtém vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, por meio artificioso, ardil ou por outra fraude.

Aqui, diferentemente do delito de apropriação indébita, o dolo surge antes da posse ou detenção da coisa, dolo, portanto, inicial, chamado de dolo “abi initio”. O sujeito já tem uma ideia pré-concebida de não devolver a coisa.

Surge, então, uma importante diferença entre o estelionato e o delito de apropriação indébita, senão vejamos:

Se o possuidor passa a agir em relação à coisa como se seu proprietário fosse responderá por apropriação indébita, desde que o dolo de agir como dono tenha surgido depois de ter a posse ou detenção da coisa. Contudo, caso esse dolo já existisse antes mesmo de ter a posse ou detenção, o delito será estelionato.

(18)

www.monsterconcursos.com.br pág. #18 Exemplo de apropriação indébita: João vai até uma locadora de veículos e aluga um carro por 5 dias. Durante a locação, João agiu normalmente, planejando devolver o automóvel no final dos 5 dias. Porém, ao chegar no 5º dia, João resolveu (surgiu o dolo de se tornar dono) ficar com o carro para si, e assim o fez. Nesse momento João praticou o delito do art. 168. Exemplo de estelionato: Imagine que no exemplo acima, João já tivesse a intenção desde o início, ou seja, desde quando entrou na locadora, já sabia que não ia entregar o carro de volta. No momento em que pegou o veículo, ainda no primeiro dia, já partiu no mundo e nunca mais voltou. Consumou-se, portanto, o delito do artigo 171.

Estelionato

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:

O erro é a falsa percepção da realidade. Ardil é conversa, papo, mentira. Artifício é a encenação, aparatos, disfarce. Ou qualquer outro meio fraudulento, como a falsificação.

Já adianto uma discussão em relação a um crime contra a administração pública, que é a falsidade de documento público.

A súmula 17 do STJ impõe a aplicação do princípio da consunção quando o sujeito se vale da falsificação de um documento para a prática do estelionato, só respondendo por este último, restando absorvido o crime relativo à falsidade. Com a única exigência de que o falso não tenha mais potencialidade lesiva (veremos adiante).

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.

§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o disposto no art. 155, § 2º.

Aqui aplica-se as mesma lições sobre o furto privilegiado, como se fosse um estelionato privilegiado.

§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem: Disposição de coisa alheia como própria

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www.monsterconcursos.com.br pág. #19 I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria;

Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria

II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias;

Defraudação de penhor

III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;

Fraude na entrega de coisa

IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém;

Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro

V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as consequências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro;

Fraude no pagamento por meio de cheque

VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento.

§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência.

Estelionato contra idoso

§ 4º Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido contra idoso. (Incluído pela Lei nº 13.228, de 2015).

Mais uma relevante inovação legislativa em 2015 foi a inclusão de nova causa de aumento de pena a incidir em qualquer modalidade de estelionato, desde que praticado contra idoso.

Lembrando que idoso é a pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, nos termos do estatuto do idoso.

8. Receptação.

O delito de receptação tem por objeto jurídico o patrimônio. Seu objeto material é a coisa produto de um crime anterior. Receptação é um

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www.monsterconcursos.com.br pág. #20 crime parasitário ou acessório, que é aquele que depende da existência de outro crime principal para existir.

O delito de receptação segue um delito principal, de onde surge a coisa produto de crime (furto, por exemplo), sendo, portanto, acessório.

O sujeito ativo desse crime, na modalidade simples, é qualquer pessoa, portanto crime comum. Tendo por sujeito passivo a mesma vítima do crime anterior.

Receptação

Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:

Trata-se de crime de ação múltipla, de modo que basta que o sujeito ativo pratique um verbo nuclear para que o delito esteja consumado e, caso pratique mais de um verbo típico permanecerá como um só crime.

O autor ou partícipe da receptação não concorre para o crime do qual provém a coisa, portanto, não poderá ser receptador quem roubou um bem, exemplificadamente.

Na receptação o sujeito quer ganhar com o produto proveniente de infração penal da qual resulta vantagem patrimonial, ou seja, o crime antecedente deve gerar um bem que possa ser revendido.

Prevalece que não é possível receptação de coisa imóvel, portanto, somente bem móvel pode ser objeto material da receptação.

Uma importante discussão é no sentido de ser possível receptação de bem próprio. Pois bem, vimos que ninguém pode ser sujeito ativo e passivo do mesmo crime. Todavia, quando essa conduta de adquirir coisa própria resultar em prejuízo a terceiros será possível receptação de coisa própria.

Exemplo: João dá em penhora em uma joalheria 100 gramas de ouro, posteriormente, José furta esse ouro da loja responsável pela sua guarda. No dia seguinte, João compra por menor valor o ouro furtado por José. Ou seja, comprou seu próprio ouro que havia sido objeto de penhor.

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Receptação qualificada

§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer

(21)

www.monsterconcursos.com.br pág. #21 forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de crime:

Na receptação qualificada exige-se uma qualidade especial do sujeito ativo, devendo ser necessariamente o comerciante ou industrial, que faz do produto do crime objeto de comercio ou indústria. Nesse sentido, diferente da receptação simples, a receptação qualificada é crime próprio. Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.

§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residência.

§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso:

Esse parágrafo traz a tipificação da receptação culposa, a qual se configura quando pelas circunstâncias do caso concreto o agente deve presumir ser coisa produto de crime, mas preferiu ficar inerte à essa suspeita e adquiriu ou recebeu o produto.

Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas. § 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa.

§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art. 155.

Essa hipótese prevê o perdão judicial para a receptação culposa. Ao passo que para receptação dolosa prevê os mesmos benefícios aplicáveis ao furto privilegiado, razão pela qual há uma receptação privilegiada.

§ 6º - Tratando-se de bens e instalações do patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista, a pena prevista no caput deste artigo aplica-se em dobro.

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www.monsterconcursos.com.br pág. #22 Art. 180-A - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender, com a finalidade de produção ou de comercialização, semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes, que deve saber ser produto de crime: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016).

Essa nova modalidade de receptação foi incluída no código penal pela mesma lei que incluiu a nova modalidade de furto de semovente domesticável de produção, aplicando-se o mesmo raciocínio já trabalhado por nós no delito de receptação.

Portanto, semovente é o animal doméstico (não é selvagem), com dono, e que gere produção patrimonial.

É comum a compra de animais furtados, seja para revenda, para corte, ou outra finalidade.

9. Disposições gerais sobre os crimes contra o patrimônio.

Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo:

I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;

II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.

Esse artigo traz o que se conhece por escusa absolutória a conceder uma imunidade penal absoluta. Ou seja, se o sujeito pratica qualquer dos crimes contra o patrimônio, haverá extinção da punibilidade.

Percebam que o crime permanece intacto. O crime continua a existir, mas em nome do princípio da preservação do núcleo familiar o legislador penal resolveu abrir mão do jus puniendi do Estado em face do sujeito que pratique esses delitos contra uma das pessoas mencionadas nos incisos acima.

Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido em prejuízo:

I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado; II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;

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www.monsterconcursos.com.br pág. #23 Nesse caso não há isenção de pena, ou seja, não extingue a punibilidade do sujeito, há apenas uma mudança no procedimento para que seja processado.

Em regra, os crimes contra o patrimônio são de ação penal pública incondicionada, o que quer dizer que o sujeito será processado independente de qualquer comportamento processual da vítima. A Polícia Civil e o Ministério Público irão investigar e processar, respectivamente, o autor do crime, mesmo que a vítima não queira.

Por exceção, os delitos podem ser de ação penal pública condicionada, o que gera uma condição para que o sujeito ativo do crime seja processado, que no caso uma “representação” da vítima.

O que esse artigo traz é uma imunidade penal relativa, ou seja, o sujeito não será processado, a não ser que a vítima, sendo uma das pessoas citadas nos incisos, ofereça uma representação contra ele.

Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:

I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa;

II - ao estranho que participa do crime.

III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

O artigo 183 se aplica aos dois artigos vistos acima.

Não se aplica escusa se o crime for de roubo ou extorsão, ou, em geral, se houver emprego de grave ameaça ou violência contra a pessoa, pois nesse caso, não se protege somente o patrimônio, mas também a integridade corporal da pessoa, bem jurídico indisponível.

Não se aplica também ao estranho que participa, ou seja, se um filho furta o pai em concurso com um amigo, o filho fica isento de pena, mas o amigo responderá pelo crime sozinho.

E, por fim, não se aplica se a vítima é idoso.

TOME NOTA: É uma das raras previsões do CP que abrange realmente o idoso. Na maior parte das vezes que o elemento etário influencia no crime, ele se limita a pessoa maior que 60 anos e, vimos que esse sujeito não é idoso. Mas o art. 183 prevê a pessoa com idade

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www.monsterconcursos.com.br pág. #24 IGUAL OU MAIOR que 60 anos, logo, idoso.

Referências

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