• Nenhum resultado encontrado

Lição 3. Alistabilidade (cidadania ativa ou capacidade eleitoral ativa):

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Lição 3. Alistabilidade (cidadania ativa ou capacidade eleitoral ativa):"

Copied!
18
0
0

Texto

(1)

Lição 3. Alistabilidade (cidadania ativa ou capacidade eleitoral ativa):

Temos como primeira premissa desse estudo entender o que é Alistamento Eleitoral:

Alistamento Eleitoral ► significa Procedimento Administrativo (assim como o é a licitação, o tombamento, o concurso público, etc.) de

qualificação e inscrição do próprio eleitor, com a consequente atribuição de um título (título eleitoral).

Esse conjunto de atos administrativos tem, portanto, dupla função: primeiro qualificar e depois inscrever; para materializar esses atos de qualificação e de inscrição a Administração lhe confere um título. Todo esse procedimento é o Alistamento Eleitoral.

Uma forma de conceituar Alistamento de forma mais sintética é dizer que se trata da primeira fase do Processo Eleitoral. O Processo Eleitoral “latus sensu”, a rigor, é composto de 4 fases: (1) Alistamento; (2) Votação; (3) Apuração; e (4) Diplomação (ato que declara que alguém conseguiu um mandato eletivo, ou seja, que foi eleito).

Vamos dividir o estudo de alistamento em 4 subitens: (1º) Alistamento Obrigatório; (2º) Alistamento Facultativo; (3º) Alistamento Proibido; e (4º) Suspensão e perda dos Direitos Políticos.

3.1) Alistamento Obrigatório:

Está previsto no art. 14, § 1º, I, da CF e nos art.4º (inteiro) e 8º caput do Código Eleitoral. O restante dos dispositivos do Cód. Eleitoral que falam de alistamento não foram recepcionados pela CF.

A CF prevê em seu artigo 14 § 1º duas regras para o alistamento eleitoral obrigatório: inciso I “O alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios para os maiores de 18 anos” e inciso II “b” a contrário senso: “para os menores de 70 anos”.

(2)

Faixa etária: ≥ 18 e ≤ 70 anos

Prazo Para Alistamento Eleitoral: 1 (um) ano após aquisição da capacidade Eleitoral.

Termo inicial seria a data da aquisição da capacidade e não maioridade eleitoral (que hoje coincide com a maioridade civil = 18 anos), porque esse termo inicial só valeria para brasileiros natos; no caso de brasileiros naturalizados o termo inicial do prazo de um ano seria a data da naturalização.

Obs.: O parágrafo único do art.8º do CE, que prevê um prazo de 100 dias antes do dia anterior a eleição subsequente à data que completar 19 anos, não foi recepcionado pela CF/88, segundo a justiça eleitoral.

Ser ano eleitoral, não tem importância para fins de alistamento, mas terá importância para outras fixações como fixação de domicílio para concorrer numa determinada localidade.

3.2) Alistamento Facultativo:

Está previsto no art. 14, § 1º, II da CF/88 c.c o Cód. Eleitoral, art.6º, I, “b” (só essa alínea foi recepcionada pela CF/88).

Temos 3 regras previstas na CF:

a) Analfabetos;

b) Maiores de 70 anos;

c) Maiores de 16 e menores de 18 anos ( ≥ 16 e < 18).

Reflexões sobre o tema:

(1) Não há identidade entre a data que a pessoa adquire a capacidade eleitoral, com a data em que a pessoa adquire a capacidade civil plena, porque aos 16 anos a pessoa é relativamente incapaz na esfera civil, mas já pode ser capaz

(3)

na esfera eleitoral; tendo, é claro, a capacidade de votar, porque a capacidade de ser votado só é obtida, hoje, aos 18 anos.

(2) Os analfabetos são, portanto, alistáveis, mas não são, em hipótese alguma, elegíveis (não podem ser eleitos para cargo nenhum, mas podem votar). Porque é condição de elegibilidade saber ler e escrever.

Questões de prova:

1) A parte legitimada para ação popular é o cidadão. E acabamos de ver que o maior de 16 anos pode se alistar, tendo, portanto, direitos políticos, e sendo consequentemente cidadão. Esse menor, alistado, se quiser promover ação popular, deve estar assistido em juízo ou não? Para efeito de direito público é cidadão (cidadania ativa), mas para efeito de direito privado é relativamente incapaz; e diz o Cód. Civil, que os relativamente incapazes devem ser assistidos. Como se resolve essa questão; esse menor tem assistência necessária ou não? Porque se analisássemos a questão sob o ponto de vista do direito público, essa assistência seria dispensável, por já se tratar de um cidadão; mas se analisarmos sob o ponto de vista do direito privado, essa assistência seria necessária.

R: Existe controvérsia em doutrina com relação a essa questão (quando existe controvérsia é de bom tom dizer nome do autor, seu fundamento e sua posição):

■1ª Posição: Rodolfo de Camargo Mancuso (grande autor, hoje).

A Assistência é imprescindível, sob pena, até, de nulidade do processo, ou, seja o maior de 16 e menor de 18 anos tem que ser assistido na promoção de ação popular.

Fundamento: Porque sob o ângulo do Dt. Privado, trata-se de uma pessoa relativamente incapaz. E se não for assistida há nulidade do processo.

■ 2ª Posição: Mario Bento Martins Soares

(4)

Fundamento: Porque, sob ponto de vista do Dt. Público trata-se de um cidadão. Para ele não há necessidade de assistência para exercer um direito político.

Essa questão nunca chegou aos tribunais, por isso ainda não temos jurisprudência. Mas pela posição que o STF de hoje adota e pelo peso de seu defensor (prof. Mancuso), a tendência é que siga a 1ª posição. Há uma tendência jurisprudencial que a assistência seja indispensável.

Obs.: A emancipação civil não afeta o Direito Eleitoral. A idade de 16 anos tem

que ser atingida para que haja possibilidade de alistamento.

2) A atual jurisprudência admite que o juiz eleitoral (de ofício) aplique teste de verificação de alfabetização do candidato para efeito de elegibilidade?

R: É possível teste de verificação de alfabetização, aplicado de ofício pelo juízo eleitoral, para efeito de elegibilidade. Se o juízo eleitoral tiver clara suspeita que o postulante a candidato seja analfabeto pode executar o teste e segundo seu resultado, se ficar comprovado o analfabetismo, indeferir o pedido de candidatura. O ideal é que o juízo aplique o mesmo teste para todos os candidatos suspeitos, a fim de manter um critério mais objetivo de avaliação. Para que esse teste seja aplicado, é preciso que se avalie antes, a razoabilidade de sua aplicação, ou seja, só deve ser aplicado se a pessoa não traz documentos públicos de escolaridade; juntado documento de escolaridade mínima (basta ser alfabetizado), o pedido de candidatura deve ser deferido (isso, no entanto, não impede que em caso de possível fraude documental, o MP eleitoral a investigue e responsabilize criminalmente quem a praticou).

Fundamento: Acórdão do TSE n° 12.510 de 15/02/1993.

3.3) Alistamento Proibido:

Previsto no art. 14, § 2º da CF c/c art. 5º, III e art. 6º, I, “a” do Cód. Eleitoral.

(5)

Analisando estes artigos extraímos 4 regras para o alistamento proibido:

(1) Menor de 16 anos;

(2) Estrangeiros (salvo situação do Português Equiparado – art. 12 §1º da CF);

(3) Conscrito (quem está em serviço militar obrigatório – durante esse período);

(4) Pessoas que tenham seus direitos políticos suspensos ou perdidos.

Obs¹: Os inválidos descritos no art. 6º, I, “a” seriam casos de pessoas com seus direitos políticos suspensos.

Obs²: Quando acaba a causa da suspensão, se já tiver se alistado antes, não precisa se realistar, mas se ainda não tiver se alistado, terá que se alistar (alistamento nunca é automático).

No caso do jovem de 18 anos que ainda não fez seu alistamento eleitoral e vai servir ao exército, passando, portanto, a ser conscrito, quando sair das forças armadas, aos 19 anos, tem o prazo de alistabilidade obrigatória postergado em um ano, ou seja, até os 20 anos.

Questões Sobre o Tema:

(1) O estrangeiro não pode se alistar, salvo o Português Equiparado. Não estamos falando em pessoas naturalizadas, porque essas são consideradas brasileiras, para fins do alistamento e elegibilidade (naturalizado deixa de ser estrangeiro e, portanto não esta incluída nesse rol).

(2) Como ficam as pessoas menores de 16 anos emancipadas pelo CC (por ex.: pelo casamento, pela instalação de negócio próprio)? A emancipação do direito civil repercute no direito eleitoral ou não?

R: Assunto pacífico na doutrina e na jurisprudência: Causas que cessem a incapacidade civil (emancipação) não se aplicam ao direito eleitoral, ou seja, tem aplicação restrita ao direito civil. Para fim de direito eleitoral só vale o critério biológico (idade), ou seja, ter pelo menos 16 anos. Essa

(6)

diferença de tratamento é explicada, porque o direito civil nessa parte de emancipação tutela direito patrimonial e direito eleitoral tutela direito público. Não se pode estender norma de direito patrimonial a direito que envolve política pública. Porque tutelam bens completamente diferentes (dt. civil tutela direito patrimonial e dt. eleitoral tutela direito político).

Portanto, pessoa de 15 anos casada pode exercer todos os atos da vida civil (comprar, vender, etc.), mas não pode votar ainda.

(3) Indivíduo se alista aos 16 anos e aos 18 anos ingressa no serviço militar obrigatório. Como já possui título eleitoral, esse indivíduo pode votar durante o serviço militar ou não? Se votar, esse voto é válido?

R: O indivíduo em serviço militar obrigatório portador de título que vota, é fato atípico, porque a vedação constitucional é que essa pessoa (conscrito) se aliste eleitoralmente, mas não que vote. O art. 14 § 1º fala que são obrigatórios o alistamento e o voto, mas o § 2º não fala em vedação a votar. Não teria nenhuma sanção, para fins de direito privado e direito público (eleitoral), se votasse. Isso não quer dizer que não possa ser aplicada a ele uma punição disciplinar militar, se abandonar seu posto de trabalho para votar, porque o serviço militar não tem que conceder a esses indivíduos prazo durante o dia para votar, como outros servidores fariam jus.

3.4) Perda e Suspensão dos Direitos Políticos:

As causas de perda e suspensão são tratadas juntas no art. 15 da CF. ■ Perda► Privação Definitiva de Direitos Políticos

■ Suspensão► Privação Temporária de Direitos Políticos

Questões sobre o Tema:

(1) Existe algum efeito secundário ou acessório da Perda ou Suspensão dos direitos políticos? Se existir, qual será?

(7)

Suponhamos que um prefeito municipal tenha os seus direitos políticos suspensos, ele perderia seu mandato também?

R: Existe um efeito secundário importantíssimo, em regra, tanto na perda como na suspensão dos direitos políticos, que é a perda do mandato eletivo. Esse efeito acessório é, em regra, automático Se o suposto prefeito, durante o seu mandato, sofrer perda ou suspensão de seus direitos políticos, ele automaticamente perde o mandato.

Falamos que ocorre em regra, porque no executivo ocorre sempre e automaticamente (presidente da república, governador e prefeito sempre perdem seus mandatos). Mas no caso do poder legislativo, em casos de condenação criminal transitada em julgado, principal causa de suspensão, essa perda não é automática. Tanto com relação a senadores e deputados federais e estaduais essa suspensão depende de um juízo político das casas as quais pertencem. Nessas situações específicas o senado, a câmara e assembléia respectivamente vão deliberar sobre a perda dos mandatos dos condenados criminalmente em definitivo.

Fundamentos: Em relação aos deputados federais e senadores podemos citar o art.55, § 2º da CF. O fato de não ser automática a perda do mandato é porque nem todo o crime pode ser compatível com a perda do mandato eletivo. Por exemplo, um deputado que foi condenado por crime de lesão corporal culposa no trânsito, transitada em julgado, não precisaria perder seu mandato, porque é um delito que qualquer um de nós está sujeita e não torna a pessoa incompatível com o cargo que ocupa.

Obs.: Esse mesmo dispositivo da CF (art. 55 § 2º) é o aplicado para perda de mandato por falta de decoro parlamentar. O § 2º, tanto faz referência ao inciso VI, que fala em sentença penal transitada em julgado - caso citado acima, como se refere ao inciso II, que trata da perda do mandato, quando o procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar. Em ambos os casos, a CF exige maioria absoluta dos votos, portanto só se perde o mandato por 277 votos na Câmara (513 membros) e 41 votos no Senado (80 senadores), exige voto secreto e defesa ampla.

(8)

O § 1º do mesmo artigo define o que seria a quebra de decoro parlamentar: “É incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos definidos no regimento interno, o abuso das prerrogativas asseguradas aos membros do Congresso Nacional ou a percepção de vantagens indevidas”.

É importante, reparar que a CF só fala em uma sanção para a quebra do decoro, que é a perda do mandato. A nossa legislação vai mais longe, prevendo também a inelegibilidade do candidato (perda do registro).

O art. 27 § 1º da CF estende essa possibilidade de perda de mandato aos deputados estaduais, nos mesmos casos previstos para os deputados federais e senadores e nos mesmos moldes do artigo 55, ou seja, dependendo, também de juízo da casa a qual pertencem (Assembléia Legislativa).

Poderíamos afirmar que nesse rol constitucional faltou tratar dos vereadores; isso implica que para eles deve haver juízo político da casa ou não? Se um vereador do RJ foi condenado por sentença definitiva, transitada em julgado, pela pratica de crime de homicídio, o que se pergunta é se ele deixa de ser vereador automaticamente com a sentença definitiva ou tem que ser submetido a juízo político da Câmara Municipal do RJ? A simetria entre deputado estadual e vereador ou não? Esse silêncio Constitucional é uma lacuna técnica, que permitiria a analogia com os deputados estaduais, ou se trata de silêncio eloqüente?

R: No Brasil encontraremos duas posições sobre essa controvérsia (só dois autores tratam do assunto):

1ª Posição: Alexandre de Moraes.

Não existe juízo político; se o vereador for condenado como trânsito em julgado, ele perde o mandato automaticamente. Porque, para esse autor, não há simetria entre deputado estadual e vereador. Portanto, o silêncio constitucional foi um silêncio eloqüente. Se o constituinte quisesse estender o mesmo tratamento aos vereadores, o teria feito de forma expressa, como fez para o deputado estadual no art. 27 § 1º.

(9)

2ª Posição: Pedro Henrique Távora Niess.

Há juízo político. Se o deputado for condenado definitivamente, sua perda de mandato não é automática, podendo, inclusive, ser afastada pelo julgamento político de seus pares da Câmara Municipal. Para esse autor existe simetria entre deputado estadual e vereador e como a CF apresenta essa lacuna técnica, ela deve ser suprida com a analogia.

Já há jurisprudência do STF sobre o tema, em acórdão recentíssimo (RE 225019) no qual o STF excluiu o juízo político. Portanto, para a corte suprema a perda do mandato do vereador deve ser automática devido ao silêncio eloqüente da CF.

Temos inclusive vários dispositivos em que a CF não deu o mesmo tratamento aos vereadores que deu aos deputados estaduais. O grande exemplo é a imunidade parlamentar (a dos vereadores é completamente diferente da dos deputados estaduais). O vereador só tem a imunidade material no limite do município, se a lei orgânica for expressa; enquanto que o deputado estadual tem imunidade formal e material, sem qualquer limitação espacial, mesmo nos estados em que não atua.

É importante gravar para provas/concursos: Presidente da República, Governador e Prefeito (Executivo) e Vereador (Legislativo Municipal) a perda do mandato é automática, após sentença penal condenatória transitada em julgado. Deputados Federais e Senadores (Legislativo Federal) e Deputados Estaduais (Legislativo Estadual) é necessário que suas respectivas casas deliberem sobre a perda do mandato, por votação secreta, por maioria absoluta, facultada ampla defesa.

(2) A quem cumpre decretar perda ou suspensão dos direitos políticos? Pertence ao judiciário ou executivo? É uma questão de competência (Judiciário) ou atribuição (Executivo)?

Obs: Quando falamos em poder judiciário, não estamos nos referindo só à justiça eleitoral. Porque no caso de uma sentença criminal transitada em

(10)

julgado, pode ser que o juízo criminal (estadual comum ou federal comum) a aplique.

R: Já há hoje um consenso no Brasil, que é uma função do Judiciário, salvo uma única exceção. Ou seja, cabe ao poder Judiciário, pela justiça competente para o caso concreto, que pode não ser a justiça eleitoral, decretar perda ou suspensão dos direitos políticos.

Só há a discussão dessa competência em uma situação, que está prevista no art. 15, IV da CF/88: “recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º , VIII:”. Esse artigo trata do que chamamos de Escusa de Consciência. A escusa de consciência é um direito fundamental individual que todo indivíduo tem de não cumprir obrigação a todos imposta, por motivação de ordem religiosa, filosófica ou política. O caso que mais acontece, hoje, de escusa de consciência é das testemunhas de Jeová que se recusam a prestar serviço militar obrigatório, por ferir sua convicção religiosa ao pegar em armas.

Obs.: É importante colocar, que o art. 15 em todos os seus incisos tem erro técnico, inclusive no próprio inciso IV, quando fala de recusa de cumprir obrigação ou prestação alternativa. A conjunção presente deveria ser e e não

ou. O exercício de um direito fundamental (escusa de consciência – art. 5º, VIII

e o próprio art. 15, IV da CF) não poderia ser causa de perda dos direitos políticos; o que provoca a perda é o exercício da escusa de consciência e o descumprimento da prestação alternativa prescrita (ex: serviço civil alternativo – serviço à comunidade carente).

Essa situação da escusa de consciência somada ao descumprimento a prestação alternativa (IV) é a única controvérsia na doutrina, com relação a quem cumpre a decretação de perda ou suspensão de direitos políticos. Porque essa questão envolve as forças armadas, e, eventualmente, o chefe das forças armadas em guerra é o chefe supremo do Poder Executivo (Presidente da República). Existem duas posições:

(11)

Deveria ser competência do Judiciário, a decretação de perda ou suspensão dos direitos políticos, também nessa situação, porque não há exceção. Qualquer decretação de perda e suspensão dos direitos políticos deve ser feita pelo Poder Judiciário.

2ª Posição: Fávila Ribeiro.

A Atribuição deveria ser do Poder Executivo porque esse caso seria uma exceção à competência do Judiciário. Como esse caso envolve as Forças Armadas cabe ao Presidente da República (chefe das Forças Armadas) a decretação da perda ou suspensão dos direitos políticos.

Para esse autor, qualquer situação que envolva escusa de consciência + descumprimento da prestação alternativa, não só as situações envolvendo as forças armadas (por ser a situação mais freqüente), a decretação de perda ou suspensão dos direitos políticos é atribuição do Presidente da República, através de uma decisão administrativa (sem necessidade de homologação).

Obs.: Essa função é exclusiva do Presidente da República, sendo, portanto, indelegável? (pergunta em aula)

R: Se trata de uma função indelegável, por ele se tratar do chefe das Forças armadas. As funções que o Presidente pode delegar e a quem podem ser delegadas estão descritas no art. 84 parágrafo único da CF.

A Jurisprudência do TSE é acorde com a 2ª posição, ou seja, cabe nesse caso do inciso IV, ao presidente da república a decretação da perda ou suspensão dos direitos políticos (ato administrativo), todas as outras situações são de competência do poder Judiciário – Acórdão 14.012 de 10/10/2001 do TSE.

Obs.: Por ser decisão administrativa – ato administrativo, pode haver da parte do “lesado” pela decisão, recurso administrativo (como o Presidente é autoridade máxima cabe apenas recurso próprio) ou questionamento judicial (mandato de segurança ao STF – porque se trata de ato do Presidente da República), nunca questionando a competência, mas apenas questionando algum vício dessa decisão.

(12)

Obs.: Como ficaria a situação da Imunidade do Presidente da República, com relação a essa possibilidade de condenação criminal?

R: Existem duas Imunidades processuais penais do Presidente da República: (1) Não pode ser preso durante o seu mandato; e (2) não pode ser responsabilizado, durante o seu mandato, por atos estranhos ao exercício de suas funções (art.86, § 4º da CF). Portanto, podemos visualizar pela 2ª imunidade, que o Presidente da República pode ser responsabilizado por atos coerentes com sua função; pode responder por prevaricação, mas não pode responder por seqüestro, roubo, etc. Nesse caso poderia responder a processo de crime comum (prevaricação) junto ao STF e perderia o seu cargo de Presidente automaticamente se fosse condenado em definitivo. Isso é diferente de “Impeachment” (impossibilidade de exercer a função pública por 8 anos) em que a Câmara admite que o Presidente seja julgamento pelo Senado, porque aqui não se trata de condenação penal, seria uma condenação administrativa.

Os governadores e prefeitos têm tratamento idêntico, pelo princípio da Simetria (a CF estende a eles vários tratamentos que dá ao chefe do executivo).

3.4.1) Perda dos Direitos Políticos:

► Privação definitiva de direitos políticos que poderão vir a ser readquiridos no futuro por provocação do interessado (provocar o Judiciário ou o Executivo, dependendo de quem seja a “competência”). Está prevista no artigo 15, I e IV da CF: (I) Cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado; e (IV) Recusa de cumprir obrigação a todos imposta “ou” (e) prestação alternativa, nos termos do art.5º, VIII. Para a doutrina dominante, apesar de não serem pacíficos, esse dois incisos se referem à perda de direitos políticos.

O inciso primeiro é extremamente mal redigido, porque por ele dessa forma escrito, parece que estão excluídos dessa perda os brasileiros natos, o que não ocorre. Esse inciso deveria ser lido da seguinte forma: perda da nacionalidade

(13)

brasileira e aquisição de outra nacionalidade. Exemplo disso: se um brasileiro nato, se naturaliza hoje espanhol, ele perde a nacionalidade brasileira.

Obs.: Pergunta que aparece freqüentemente em provas: Se a naturalização fosse condição para permanência naquele país, esse indivíduo teria que perder a nacionalidade brasileira?

R: Não; assunto claramente tratado no art. 12 § 4º, II “b” da CF/88. Esse artigo exclui a perda da nacionalidade nesta condição, afastando, portanto, o art.15, I da CF.

3.4.2) Suspensão de direitos políticos:

► Privação temporária de direitos políticos, que poderão vir a ser readquiridos no futuro, automaticamente, cessadas às causas que deram

ensejo à suspensão.

Ex: Condenado que já cumpriu sua pena, deixa de ter seus dts. políticos suspensos.

Interditado, cessada a causa da interdição, deixa de ter, automaticamente, seus dts. políticos suspensos.

Prevista no art. 15, II, III e V da CF/88 (para a corrente majoritária):

(II) Incapacidade civil absoluta. Aqui temos que ler, na verdade, interdição, com consequente incapacidade civil absoluta. Porque a pessoa que tem incapacidade civil absoluta desde o início, sequer adquiriu dts políticos, portanto, não os poderia ter suspensos. Não podemos confundir um estado – interdição – com um fato, incapacidade civil absoluta. Cessada a causa da interdição (cessado o estado), cessa a causa da suspensão de direitos políticos, que são readquiridos, automaticamente.

Pularemos o inciso III, indo direto para o V.

(V) Improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º: “Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao

(14)

erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível”. Nesse artigo temos que ler: Sentença que condena o réu com trânsito em julgado por prática de ato de improbidade administrativa. Porque, segundo a nossa CF, a pessoa presume-se inocente, até a sua condenação definitiva. E até porque improbidade administrativa é apenas uma imputação, sentença transitada em julgado é um fato.

Obs.: Alguns autores, inclusive, o Prof. Ramaiana, indicam que esse inciso V seria uma situação de perda. Mas o professor Guilherme discorda totalmente dessa posição. Para ele esse inciso não deixa qualquer dúvida de se tratar de causa de suspensão, porque o próprio art. 37, § 4º, a que se refere o inciso V, fala em suspensão de direitos políticos.

O inciso III foi deixado para o final, porque é o mais perigoso. E todas as questões formuladas em prova, quando falam e suspensão de direitos políticos, falam desse inciso:

(III) Condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos.

Nós já tocamos nesse assunto quando discutimos a perda de mandato eletivo, que para deputado federal e estadual e senador, essa perda não é automática.

Esse inciso dá ensejo a 5(cinco) questões, que iremos discutir a seguir:

(1ª) A CF fala em condenação criminal, qual seria, então, a natureza jurídica da infração penal? Trata apenas de condenação penal por crime ou pode ser condenação por contravenção penal, também? Pois sabemos que a infração penal é gênero que compreende duas espécies:

(1) Crime e (2) Contravenção Penal.

Se caísse, por exemplo, numa prova a seguinte questão: João da Silva foi condenado, com sentença transitada em julgado, pela contravenção penal de jogo do bicho; ele teria os seus direitos políticos suspensos? Aqui, não temos

(15)

uma condenação criminal, teríamos, na verdade uma condenação contravencional.

E se for condenação por crime, que não seja apenado com prisão, seja apenado com pena restritiva de direitos ou multa, teria seus direitos políticos suspensos?

R: Embora a CF/88 diga infração penal, se considera qualquer infração penal, seja crime ou contravenção penal. A partir do momento que sai uma sentença penal condenatória transitada em julgado há a suspensão dos direitos políticos. Seja aplicada pena privativa de liberdade ou não. Mesmo que se aplique pena restritiva de direitos ou pena de multa, há a suspensão dos direitos políticos.

Uma pessoa foi condenada por uma contravenção penal de jogo do bicho a pagar pena de multa; no momento que essa sentença transita em julgado tem seus direitos políticos suspensos. A questão que avém daí é até quando dura essa suspensão, no caso da pena de multa, por exemplo.

(2ª) O que a CF quer dizer com a expressão: “enquanto durarem seus efeitos”?

Até porque o termo inicial dessa suspensão é bem tranqüilo, data em que a sentença transitou em julgado. Por isso, como já mencionamos anteriormente, presos provisórios (prisão em flagrante, preventiva, provisória, ou por sentença recorrível) têm seus direitos políticos plenos (ativos=votar; passivos= ser votado). Há inclusive, um projeto de lei, de levar a possibilidade de votar a esses presos, ou seja, sessões eleitorais em estabelecimentos penais. Porque o preso só não vota por impossibilidade física; e não pode exigir votar fora da prisão, porque esse direito não é assegurado na CF como direito líquido e certo.

Recentemente o TRE do RJ indeferiu pedido de candidaturas, no último pleito, de pessoas acusadas em crimes; isso não poderia ser feito com base na CF/88. Pela CF até pessoas condenadas em crimes hediondos com sentença recorrível devem ter seus pedidos de candidatura deferidos.

(16)

R: Quanto a isso a Jurisprudência é pacífica; enquanto durarem seus efeitos significa até a data da declaração extintiva de punibilidade ou, se houver cumprimento, até a data da declaração de extinção da pena. Se o réu cumpriu a pena, a suspensão dos direitos políticos dura até a declaração de extinção da pena; se o réu não chegou a cumprir a pena, não podemos falar em pena e por isso tem seus direitos políticos suspensos até a declaração de extinção da punibilidade. Pouco importando, para essa suspensão os fatos anteriores, como a declaração de reabilitação do condenado, ou indenização total do dano, ou estabelecimento de relação com a família (casamento com a estuprada). É necessária para reaquisição dos direitos políticos a declaração de extinção da punibilidade ou da pena, nenhum fato anterior tem qualquer importância sobre isso.

O intervalo de tempo da suspensão vai da sentença de condenação transitada m julgado até a sentença declaratória extintiva da punibilidade ou da pena. Por exemplo, no caso de multa, no momento do pagamento integral da multa está extinta a pena e faz jus a reaquisição de seus direitos políticos. Se o pagamento da multa for parcelado, com o pagamento da última parcela, volta a fazer jus de seus direitos políticos. Em relação à pena restritiva de direitos, a suspensão dura enquanto durar a pena. Quando extinguir a pena extingue também a suspensão.

(3ª) Se houver, eventualmente, uma medida de despenalização (os dois principais exemplos de medidas despenalizadoras, hoje, seriam: (1) Transação penal; (2) Suspensão Condicional do Processo (sursis processual)), como a transação penal ou o sursis processual, ocorre suspensão dos direitos políticos dessa pessoa que transacionou ou teve seu sursis processual? R: Qualquer medida de despenalização (não há pena) importa em não condenação (não se discute culpa); e como não há condenação, não há, também, suspensão de direitos políticos.

(4ª) Um incidente de execução penal (e não, como na hipótese anterior, uma medida de despenalização), como o caso do livramento condicional ou da suspensão condicional da pena (sursis penal), afeta a suspensão dos

(17)

direitos políticos do condenado? Por exemplo, uma pessoa condenada que está cumprindo pena, em regime fechado, é beneficiada com o livramento condicional ou com o sursis penal; como isso afeta a suspensão de seus direitos políticos?

R: Não, qualquer incidente de execução penal não afeta a suspensão de direitos políticos, que perdura enquanto durar a pena. Esses incidentes não implicam em extinção da punibilidade ou da pena.

Obs¹: Há uma declaração de extinção de punibilidade ou de extinção da pena, que é

comunicada (por ato administrativo mínimo para dar ciência) à justiça eleitoral e às juntas eleitorais, havendo automaticamente a cessação da suspensão dos direitos políticos.

Obs²: A condenação civil, por não se tratar de condenação criminal, funciona como a

prisão provisória em relação aos direitos políticos, o preso pode votar e ser votado, só não vota porque há uma impossibilidade física de sair da cadeia para isso.

(5ª) O que significa Inelegibilidade legal? E quais seus efeitos?

R: Temos que fazer menção a Lei Complementar 64/90 (Lei das Inelegibilidades) art.1º, I, “e”: “São inelegíveis: os que forem condenados criminalmente, com sentença transitada m julgado, pela prática de crime contra a economia popular, a fé pública, a administração pública, o patrimônio público, o mercado financeiro, pelo tráfico de entorpecentes e por crimes eleitorais (todos os crimes eleitorais), pelo prazo de 3 (três) anos, após o cumprimento da pena;”. Porque sempre que houver uma condenação criminal, temos que ver se é por um dos crimes previstos nesse artigo. Se for, quando for declarada extinta a punibilidade ou declarada extinta a pena, ele só vai readquirir parte de seus direitos políticos – direito de votar (capacidade eleitoral ativa) – porque seu direito de ser votado (capacidade eleitoral passiva) fica obstado por mais 3 (três) anos. Nesses crimes, o condenado só volta a ser cidadão em sua plenitude, 3 anos após o cumprimento da pena.

(18)

Obs.: “Impeachment”: Fica impedido durante 8 anos de ocupar qualquer função pública, não só mandato eleitoral.

Referências

Documentos relacionados

1 - O Instituto Nacional de Aviação Civil, I.P., abreviadamente designado por INAC, I.P., tem por missão regular e fiscalizar o sector da aviação civil e supervisionar e regulamentar

Nos recortes extraídos de textos jornalísticos eletrônicos em que ocorre o enunciado disse a fonte que não quis ser identificada e outros enunciados correlatos, observamos

O cabeça de lista da CDU à Câmara da Figueira da Foz, Bernardo Reis, critica a rede ineficaz de trans- portes públicos na cidade e no concelho para, no primeiro dia da

O representante da Prefeitura Municipal de Coronel Vivida, especialmente designado para acompanhar e fiscalizar a execução deste contrato, efetuará medições mensais a partir

Apresenta-se em duas dimensões: uma ativa (capacidade eleitoral ativa ou cidadania ativa), e outra passiva (capacidade eleitoral passiva ou cidadania passiva). A primeira

Sem nunca perder de vista as dificuldades his- tóricas salientadas por Scruton, Zakaria responde à questão através da apologia do liberalismo constitucional (não confundir com

Ele começou a subir e foi ficando cada vez mais tarde, porém ele não havia se preparado para acampar resolveu seguir a escalada decidido a atingir o topo.. Escureceu, e a noite

Destaca-se, dentre os direitos políticos previstos na Lei Maior, o direito ao sufrágio 3 , representado, sobretudo, pela capacidade eleitoral ativa e passiva que permite ao