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Espaço, tempo e memória: reflexões a partir da fotografia e do desenho

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Academic year: 2021

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ADRIANO BIZ MEZARI

ESPAÇO, TEMPO E MEMÓRIA:

REFLEXÕES A PARTIR DA FOTOGRAFIA E DO DESENHO

CRICIÚMA 2018

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ESPAÇO, TEMPO E MEMÓRIA:

REFLEXÕES A PARTIR DA FOTOGRAFIA E DO DESENHO

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para obtenção de grau de Bacharel no Curso de Artes Visuais da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC.

Orientadora: Prof.ª Ma. Silemar Maria de Medeiros da Silva

CRICIÚMA 2018

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ESPAÇO, TEMPO E MEMÓRIA:

REFLEXÕES A PARTIR DA FOTOGRAFIA E DO DESENHO

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela banca examinadora para obtenção de grau de Bacharel no Curso de Artes Visuais da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, com linha de pesquisa em Processos e Poéticas.

Criciúma, 19 de junho de 2018.

BANCA EXAMINADORA

Profª. Silemar Maria de Medeiros da Silva - Mestre - UNESC – Orientadora

Profº Sérgio Honorato – Mestre - UNESC

Profª Viviane Kraieski de Assunção – Doutora - UFSC

CRICIÚMA 2018

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DEDICATÓRIA

Dedico esta pesquisa aos meus bisavôs que chegaram até aquelas terras e construíram uma história que hoje posso contar.

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Primeiramente gostaria de agradecer a Deus, por estar sempre me iluminado e me protegendo.

Gostaria de agradecer aos meu pais José Nilton Mezari e Adriane Aparecida Biz Mezari, pois sem eles nada disso seria possível. Com suas contribuições a recordar as memórias que foi agregada nesta produção.

Também devo meus agradecimentos a minha namorada Giovana Biz Peterle, que foi ela que me incentivou a voltar a estudar e fazer de meus sonhos realidade, sem ela nada disso seria possível.

Quero deixar também um grande agradecimento aos professores e funcionários do Curso de Artes Visuais – Bacharelado da UNESC, por socializar os seus conhecimentos no logo tempo que fiquei com vocês. E também as minhas colegas de grupo, e sem esquecer das colegas que seguiram outro caminho, todas essas amizades ficarão guardadas.

Por fim quero deixar o meu agradecimento especialmente a minha orientadora, Silemar Maria de Medeiros da Silva, por contribuir com esta pesquisa, me mostrando a estrada onde poderia percorrer durante esta viajem com as minhas memórias, e todos os incentivos que me ajudou a crescer ainda mais com este desafio.

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Porque a casa é o nosso canto do mundo. Ela é, como se diz amiúde, o nosso primeiro universo. É um verdadeiro cosmos. Um cosmos em toda a acepção do termo.

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MEZZARI, Adriano Biz. Espaço, tempo e memória: um diálogo com a fotografia

e o desenho. 2018. 52 páginas. Monografia do Curso de Artes Visuais

Bacharelado da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC.

A curiosidade, a memória e sentimentos com aqueles antigos espaços por onde andei movem o presente trabalho de conclusão de curso. O desenho já vem comigo desde criança, e a relação com a fotografia se ampliou a partir de uma viagem de estudos promovida pelo Curso de Artes Visuais, de onde escrevo. A partir dessas duas linguagens surgiu a ideia de revisitar meu passado. A pesquisa intitulada Espaço, tempo e memória: reflexões a partir da fotografia e do desenho, se insere na linha de pesquisa de Processos e Poéticas do Curso de Artes Visuais – Bacharelado. Foi adotada a metodologia com abordagem qualitativas e método cartográfico. A pesquisa busca responder o seguinte problema: Como materializar artisticamente memórias fomentadas a partir dos espaços e lugares por onde andei? Para alcançar o objetivo proposto a referência teórica acontece a partir de Canton (2009) que dialoga sobra memória e espaço. Remeto-me à Derdyk (2015) para dar embasamento sobre desenho. Falando um pouco sobre a materialização da memória através da fotografia remeto-me à Dubois (1998) e Borges (2005). A materialização acontece no percurso, enquanto escrevo vou desenhando, revisito os lugares e fotografo, apresento a produção deste percurso em uma caixa de memória.

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Imagem 1 – Primeira fotografia. ... 12

Imagem 2 – José Mezzari e esposa (1947)... 18

Imagem 3 – Desenho da primeira memória. ... 24

Imagem 4 – Desenho da segunda memória... 27

Imagem 5 – Desenho da terceira memória ... 28

Imagem 6 – Desenho da quarta memória. ... 29

Imagem 7 – Uma e três cadeiras. ... 32

Imagem 8 – Livro Expedição Natureza Tocantins – FM Editorial – 2012 ... 33

‘Imagem 9 – Comparativo passado x presente – Primeira casa. ... 34

Imagem 10 – Comparativo passado x presente – Segunda casa. ... 35

Imagem 11 – Comparativo passado x presente – Terceira casa. ... 36

Imagem 12 – Passado x presente – casa atual... 37

Imagem 13 – Primeiros desenhos em papel canson. ... 40

Imagem 14 – Processo do papel reciclável. ... 41

Imagem 15 – Coletor do papel reciclável. ... 43

Imagem 16 – Produzindo o papel reciclável. ... 44

Imagem 17 – Papel reciclável pronto. ... 45

Imagem 18 – Produção da caixa de memória. ... 46

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PPA Projeto De Pesquisa Em Arte

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1 INICIANDO A CONVERSA... ... 11

1.1 QUESTÕES METODOLÓGICAS DA PESQUISA ... 13

1.2 MAPEANDO OS CAPÍTULOS ... 15

2 MEMÓRIAS POR ONDE ANDEI ... 17

2.1 A FOTOGRAFIA E MEMÓRIA ... 19

2.2 O DESENHO E A MEMÓRIA ... 22

3 FOTOGRAFIA x DESENHO x ARTES: REFLEXÕES SOBRE A MEMÓRIA ... 31

4 TEMPO DE MATERIALIZAR ... 39

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1 INICIANDO A CONVERSA...

Para começar vou me apresentar, meu nome é Adriano Biz Mezari, sou acadêmico do Curso de Artes Visuais – Bacharelado. Esta pesquisa se propõe a elaboração de uma produção artística a partir das lembranças de alguns lugares por onde passei. Primeiramente vou relatar como e quando comecei a me interessar pelo mundo das artes.

A arte fez parte na minha vida desde muito cedo, no ensino fundamental era a matéria que mais gostava. Os anos foram passando e o gosto por esta área de conhecimento ficava marcado na minha trajetória como pessoa. O desenho, no entanto, era passatempo de final de semana, com isso comecei a desenvolver técnicas para desenhos grandes em pouco tempo. Assim veio a ideia de comercializar meus desenhos. No começo as pessoas em geral gostavam dos traços, comecei a pegar encomendas, mas com o passar do tempo as coisas começaram a dar errado, algumas pessoas pegavam e não pagavam por elas.

Ao longo do percurso conheci várias pessoas, que me incentivaram a não desistir, mas uma em especial, a minha namorada, que me motivou a voltar a desenhar, ainda assim fiz o vestibular para educação física, passei em terceiro lugar, porém perdi a data de inscrição. Em uma certa noite navegando na internet entrei no site da Unesc e vi que tinha oportunidade de ingressar no curso de artes. No começo do curso tudo parecia tão confuso, tudo que tinha estudado na escola não fazia sentido. Pude perceber que a arte não era só desenho, mais sim uma ampla variedade de oportunidades e me permiti vivenciar várias linguagens artísticas.

Em uma viagem de estudo para Palmeira Alta em Orleans – SC, como de costume levei comigo a máquina fotográfica. Descemos do ônibus e fomos a pé para outro lugar, chegando lá tinham várias atividades acontecendo como: teatro, exposição, técnica de cerâmica e performance. Formamos pequenos grupos e cada grupo saiu para explorar o espaço desejado, fui atrás de um grupo que tinha um fotógrafo amador curioso, que toda hora parava para olhar o espaço, em uma destas paradas ele ficou a cinco metros de uma árvore e mirou a lente para cima, fez uma foto e continuou andando. Como sou curioso também parei neste mesmo lugar para fazer a mesma coisa. Nesta hora fiquei pasmo, o resultado tinha ficado ótimo,

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fotografei a lua em meio ao céu, e a partir deste momento comecei a me dar conta e perceber a fotografia na sua dimensão poética, para além do registro.

Imagem 1 – Primeira fotografia.

Fonte: Arquivo do pesquisador (2015).

A fotografia acima foi o resultado da minha curiosidade em parar no mesmo lugar daquele fotógrafo amador. Ao fotografar uma árvore seca e a lua em seu lugar. Uma lua que mora em um cenário de um azul celeste que ao mesmo tempo que a acolhe vai lhes devorando um pedaço. Quanto tempo tenho para o registro desse momento que, em mim fica na memória?

Percebi algo a mais, percebi que a foto registrada naquele momento foi uma forma de relembrar fatos e experiências vividas naquele passeio. A partir daí comecei a gostar mais de fotografar.

Depois desta experiência comecei a fazer diversas fotos com esta temática, de natureza, trazendo um outro olhar mais detalhista, e a cada produção fui descobrindo novos sentidos. A ideia de mostrar minhas fotografias para o público aconteceu depois de uma conversa com o professor da disciplina de poéticas digitais que falou assim: “Tudo que vocês produzem tem que mostrar para o público, isso será um jeito de ser reconhecido profissionalmente”.1

1 Fala do professor Alan Figueiredo Cichela, na aula de Poéticas Digitais, no dia 25/08/2015.

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Comecei, então, a postar fotos nas redes sociais. Em um certo dia retomei meus arquivos de fotografia e fui vendo o que já havia produzido e percebi que, as produções foram ficando diferentes, é um outro olhar, com o tempo o olhar vai ficando mais apurado, mais cuidadoso. Nesse sentido, acredito que com uma produção fotográfica voltada para a natureza, evidenciando lugares vou dando visibilidade às coisas que muitas vezes estão escondidas.

Com o passar do tempo as pessoas vão mudando seus modos de estar no mundo, suas ideias, seus gostos, e os lugares também vão se transformando, o olhar muda completamente, e o passado apenas fica na memória e lutamos para que as lembranças sobrevivam. Sendo assim, o motivo da pesquisa está vinculado às lembranças, no sentido de dar visibilidade ao passado, (re)significando diferentes olhares sobre ele.

A partir das reflexões trazidas acima evidencio como problema de pesquisa: Como materializar artisticamente memórias fomentadas a partir dos espaços e lugares por onde andei?

Esta pesquisa trata de uma alusão ao passado com o propósito de apresentar lembranças de lugares. Visitei alguns lugares por onde andei e coloquei no papel em forma de desenho o que as lembranças ainda trazem destes lugares, proponho um entrecruzar tempos, lugares, memórias, entrecruzando fotos, desenhos e o olhar do espectador. Mas que lugares são esses? Faço recortes para os lugares onde fui criança, minha infância e início de minha adolescência.

1.1 QUESTÕES METODOLÓGICAS DA PESQUISA

Este trajeto não segue regras pré-fixadas, pois desenvolvo desenhos a partir das lembranças, e apresento o espaço físico atual dessas lembranças. Faço aqui um exercício cartográfico.

A cartografia como método de pesquisa-intervenção pressupõe uma orientação do trabalho do pesquisador que não se faz de modo prescritivo, por regras já prontas, nem com objetivos previamente estabelecidos. No entanto, não se trata de uma ação sem direção, já que a cartografia reveste o sentido tradicionalmente de método sem abrir mão da orientação do percurso da pesquisa (PASSOS; KASTRUP; ESCÓSSIA, 2009, p 17).

Conforme os autores Passos, Kastrup e Escossia (2009), a cartografia não necessita de um começo, meio e fim, com regras e passos a serem seguidos.

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Foi por esse motivo que escolhi o método da cartografia para materializar lembranças de lugares por onde andei, com o propósito de compartilhar com as pessoas, diferentes lembranças, enquanto me faço artista.

A estrutura metodológica da pesquisa é fundamental, com uma abordagem que inclui métodos de pesquisa qualitativa, no sentido de não mensurar; o método cartográfico assume uma natureza rizomática buscando conexões diversas, como a construção de um mapa que convida, instiga ou mesmo se apresenta. Nesse sentido, encontro em Dias e Irwin (2013, p. 30) um dizer que: “Em

vez de mover do ponto A ao ponto B, exploramos o contexto do entre-lugar, e, assim, apreciamos a complexidade e particularidade desse espaço. ”

Esta pesquisa apresenta também metodologia voltada aos conceitos da a/r/tografia, pois será desenvolvido e apresentado através de textos e imagens, como desenhos e fotografias. Para os autores em uma costura hibrida “a a/r/tografia é uma forma de representação que privilegia tanto o texto (escrito) quanto a imagem (visual) quando eles se encontram em momentos de mestiçagem ou hibridização” (DIAS; IRWIN, 2013, p. 25).

Desta forma, ao desenvolver esta pesquisa, mergulho em meu próprio passado com o propósito de buscar e recordar algumas lembranças de lugares que foram importantes na minha trajetória. O propósito é apresentar essas lembranças através de desenhos e apresentar o mesmo espaço hoje em forma de fotografia. Esse comparativo entre o passado (desenhos) e o presente (fotografias) se fez como fio condutor de uma produção artística que enquanto fala de arte, fala de vida, fala de memória, de lugar e de rito de passagem. Tomo como referência a minha história, meus andares, lugares, memórias, enquanto caminho por um processo poético que se materializa na produção artística que vou apresentando neste caminhar. Esse trabalho se insere na linha de pesquisa de Processos e Poéticas do Curso de Artes Visuais – Bacharelado da UNESC.

Ao todo foram muitas fotografias, arrisco-me a dizer que foram mais de 100, destas recorto 4 imagens com as quais me identifiquei. Com elas definidas gradativamente, fui elaborando meus desenhos, que para a seleção de 4 deles para análise posso dizer que muito desenhei. Percorro os lugares por dias, enquanto fotografo procuro algo para trazer como suporte destas imagens, questiono sobre diferentes materiais como um percurso de procura. Me encontro com recortes de madeira que me remetem à lugares da infância. Nesta procura, surge a ideia de uma

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caixa de memória, a qual conto com mais detalhes no 4º capítulo: Tempo de materializar. Um outro caminho percorrido foi com relação ao suporte dos desenhos, em que papel faria? Iniciei em papel sulfite, depois em canson e por último resolvi trabalhar com papel reciclado. Mas não eram quaisquer papeis. Reciclei papeis guardados, na sua maioria desenhos. Eram todos meus. Como memórias, fragmentos que ao se unirem serviram de suporte para os desenhos que coloco na caixa de memória.

1.2 MAPEANDO OS CAPÍTULOS

Apresento esta pesquisa em quatro capítulos, onde cada um aborda um determinado tema, mas mantendo uma ligação entre ambos. No Primeiro capítulo falo dos motivos que me levaram a realizar esta pesquisa, e apresento também as linguagens que irei trabalhar, o desenho e a fotografia. O desenho reproduzindo as minhas memórias, e a fotografia, com o poder de mostrar o espaço como se encontra hoje.

No capítulo 2 conto a história do terreno de onde passei minha infância e começo da minha adolescência, relembrando e contando os fatos e acontecimentos passado neste espaço. Falo também dos primeiros habitantes desta terra localizada em Sanga das Pedras, no município de Morro Grande/SC, contados no livro de Ronchi (2001). E para falar da chegada de meus bisavôs e avôs nestas terras, utilizei o livro Encontro da família Mezzari (2000). Neste capítulo falo da fotografia como memória, utilizando o autor Borges (2005). Em seguida, começo a mostrar os desenhos onde retrato as minhas memórias escondidas e esquecidas, remeto-me a Canton (2009) para dialogar sobre o tema memória e dar embasamento teórico à pesquisa. E sobre desenho, o diálogo será com Andrade (1975 apud Derdyk, 2015).

Seguindo no capítulo 3, onde abordo sobre fotografia x desenho x arte, ou seja, apresento lado a lado a fotografia da atualidade dos espaços vividos e os desenhos das minhas memórias destes mesmos espaços, trazendo o percurso desta pesquisa através de duas linguagens da arte. Faço também um comparativo de meu trabalho fotográfico com os trabalhos do artista fotógrafo Zé Paiva.

No capítulo 4, apresento o tempo de materializar, trago minhas memórias materializadas no desenho, que apresento no suporte de uma caixa denominada caixa de memórias. Desta caixa falei pouco, ela foi surgindo quase que por acaso.

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Veio de algumas memórias guardadas no fundo de um baú. Algo que se faz como um porto seguro, um lugar sagrado, secreto, mágico, como os paióis em que me “escondia” para esticar as horas de brincar na terra, idade de ser criança.

E por fim trago as considerações finais, onde relato experiências adquiridas ao longo desta pesquisa, e de que forma se deu a materialização das memórias dos espaços por onde andei.

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2 MEMÓRIAS POR ONDE ANDEI

Antes de mais nada vou começar falando um pouco do meu lugar, minha cidade. A pesquisa está voltada para os lugares por onde passei, mais precisamente à comunidade de Sanga das Pedras2, localizada no extremo sul de Santa Catarina. Morei nessa localidade até os meus 16 anos de idade. Minha família construiu uma história e guardo algumas dessas lembranças na memória.

Primeiramente vou contar por onde tudo começou, como a família Mezzari3 chegou a este espaço mensurado nesta pesquisa. Tudo começou pelo meu bisavô, José Mezzari, nascido no dia 31 de julho de 1887 em São Bonifácio, província de Verona, Itália. Era filho de Serafim Mezzari e Catarina Morim Mezzari (RONCHI, 2001).

A família Mezzari veio para o Brasil no ano de 1890, mais precisamente para a cidade de Urussanga/SC, onde José Mezzari permaneceu nessa cidade até o ano de 1917, a partir daí então veio para a cidade de Meleiro/SC (Sanga das Pedras), um ano mais tarde voltou à Urussanga/SC para buscar sua família (RONCHI, 2001). Durante sua estadia na cidade de Urussanga/SC, José Mezzari adquiriu um lote de 31,4 hectares localizado na Seção Estrada de Urussanga.4

Ao voltar definitivamente para Meleiro/SC José, vendeu suas propriedades em Urussanga/SC para comprar novos lotes em Sanga das Pedras. Casou-se com Ana Grassi Mezzari e tiveram 14 filhos. Destes filhos nasceu em 10 de maio de 1929 Vilmar Mezzari, meu avô.

As terras adquiridas por José depois de algum tempo foram sendo divididas entre seus filhos homens. Naquele tempo cada filho homem ganhava uma parte do terreno assim que se casassem.5

2 Comunidade de Sanga das Pedras antigamente pertencia à cidade de Meleiro/SC. Depois de 1994

passou a pertencer à Morro Grande/SC. Então todas minhas histórias contadas nessa pesquisa se passaram na cidade de Morro Grande/SC.

3 Percebe-se que os meus antepassados que cito na pesquisa possui seu sobrenome Mezzari com

dois Z. O de meu pai e o meu sobrenome é apenas com um Z, pois meu avô na hora de fazer o registro do meu pai registou com um Z, e meu pai seguindo a tradição registrou o meu também com um Z.

4 Informação tirada do livro do 2º encontro da família Mezzari no ano de 2000: Uma breve história

dos imigrantes Mezzari.

5 Palavras de meu avô Vilmar Mezzari, um dos filhos de José Mezzari. Nasci ouvindo meu avô

contando essas histórias. Trago aqui como minhas próprias lembranças. Meu avô faleceu em 20/03/2012

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Vilmar casou-se com Maura Zauer, desta forma então, seguindo a tradição, adquiriu 25 hectares de terras, tiveram 8 filhos, destes José Milton Mezari, meu pai. Nessas mesmas terras adquiridas por José Mezzari e posteriormente passadas para seus filhos era cultivado arroz, milho, feijão e fumo. Meu pai quando se casou não adquiriu uma parte de terra como o costume, o mesmo aconteceu com seus irmãos. Meu pai apenas cultivava essas terras e pagava uma renda anual para meu avô.

Imagem 2 – José Mezzari e esposa (1947).

Fonte: Ronchi (2001, p. 36).

No ano de 2004 as terras que onde meu pai plantava foram arrendadas para nosso vizinho. As mudanças desse espaço começaram a surgir nesse momento, quando essas terras saíram de nossas mãos e foram arrendadas para outra pessoa que foi dando espaço para novas plantações.

Atualmente moro no centro da cidade de Meleiro/SC, porém minhas histórias foram vividas e marcadas na cidade de Morro Grande/SC. Destas histórias trago algumas lembranças que foram importantes ao longo daquele tempo, e que hoje ainda considero como algo que me cativa.

O que trago hoje daquele espaço são apenas lembranças, pois com o passar do tempo, esses lugares foram se transformando. O que tem nesses lugares que me provoca, me instiga a senti-los novamente?

Nas artes, a evocação das memórias pessoais implica a construção de um lugar de resiliência, de demarcações de individualidade e impressões que se contrapõe a um panorama de comunicação à distância e de tecnologia virtual que tendem gradualmente a anular as noções de privacidade, ao mesmo tempo que dificulta trocas reais (CANTON, 2009-C, p. 21.).

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Como afirma Canton (2009) nas artes, a evocação das memórias implica a construção de um lugar. Nesse sentido, apenas em minha memória aquele espaço voltará à forma quase original de algum tempo atrás? Hoje esses espaços estão de uma maneira, mas em minha lembrança cada detalhe volta com muita interferência, sei que isso é utópico, mas é o que eu sinto. O que ocorreu durante esse período de mudanças?

O que proponho é mostrar as mudanças que aconteceram em cada espaço, e trazer as lembranças que estão esquecidas ou se apagando da memória. E também descobrir os motivos que levaram à essas transformações que ocorreram nos espaços a serem pesquisados, estabelecendo relações com mudanças outras que movem a arte e a vida.

Quando evidencio questões que passam pelas “memórias por onde andei”, o que se fez como título deste capítulo, faço opções pela linguagem da fotografia como possibilidade para além de um registro de lugares que contam um pouco do meu percurso como um ser de memória; um ser de história enquanto encontro-me com a materialização artística deste desafio.

2.1 A FOTOGRAFIA E MEMÓRIA

A fotografia está presente na vida de muitas pessoas hoje em dia, e para chegar até aqui foi preciso passar por algumas etapas. Sobre a fotografia e sua história Borges (2003, p.24) diz:

Quando a fotografia surge em 1826, suas imagens contaram com o apoio de diversos homens da ciência, além de indústrias, comerciantes e políticos. Já em 1839, François Arago (1786-1853), membro do parlamento Francês, promove uma reunião conjunta da Academia de Ciências e Belas Artes da França com o objetivo de exaltar sua natureza precisa e exata.

Muitas pessoas pensam que um registro fotográfico é apenas um registro, seja ele de um lugar, de um objeto, ou até mesmos de pessoas. Mas no olhar de um artista, ou de alguém que tenha uma sensibilidade outra, uma foto pode representar mais que isso. As imagens são formas de relembrar momentos e acontecimentos que muitas vezes estão escondidos na nossa memória. Mesmo como registro, a imagem fotográfica tem o poder de trazer emoções vividas anteriormente. Uma memória tem seu valor, ela evidencia o interesse de rever o que foi passado naquele

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espaço/tempo. Qual a relação da memória com a fotografia? “A fotografia é um meio de expressão que pode ser usada para diversas finalidades, sendo a principal de comunicação visual, que se transforma em arte ao expor o verídico ou o abstrato em capturas da realidade” (FRECCIA, 2015, p.10). Como meio de expressão vai mexendo com nossa memória enquanto se faz registro importante de algo que, enquanto comunicação visual, pode se fazer arte.

Para Dubois, essa relação da fotografia com a realidade amplia possibilidades de compreensão, de ampliação do olhar, pois para ele: "A foto é percebida como uma espécie de prova, ao mesmo tempo necessária e suficiente, que atenta indubitavelmente a existência daquilo que mostra." (DUBOIS, 1998, p. 25).

Ainda sobre memória, Canton (2009-C, p. 50) afirma o seguinte: “a memória é uma questão que me interessa muito, porque acho que, para pensarmos o futuro, temos que fazer uma reflexão ao passado. O passado e o futuro estão ligados.” Como ressalva Canton (2009), passado e futuro, de alguma forma estão interligados, pois um depende do outro para existir. É no futuro que a memória de momentos vividos no passado será relembrada, ou seja, é necessário refletir sobre acontecimentos vividos para pensarmos as próximas atitudes para o futuro.

A mudança dos lugares onde passei os momentos marcantes para mim, hoje se transformou em grande lavoura de arroz, onde o meu pai plantava feijão e milho hoje não existe mais. Só ficaram na memória a lembrança.

O desconforto de ver tudo que fez parte da minha infância se transformar em grande plantação de arroz leva ao meu problema de pesquisa: como materializar artisticamente memórias fomentadas a partir dos espaços e lugares por onde andei?

Volto um pouco na vida acadêmica, no começo estava perdido por tanta informação, não tinha a capacidade de absorver tantas coisas chegando rapidamente, como não estava acostumado a receber as novas regras, fiquei confuso.

Mas no começo fiquei até pensado o que vou fazer aqui? E agora para onde vou correr? Perguntas sem respostas. Ao passar deste tempo as perguntas foram sendo respondidas, ainda que nem todas.

No começo da vida acadêmica a linguagem que me acompanhava era o desenho, como cito nessa pesquisa era o meu passatempo de final de semana, mas com o passar dos anos da graduação a linguagem foi mudando. Depois de uma

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viagem de estudos, como já citado no início da conversa, comecei a gostar de uma outra linguagem, além do desenho que já estava presente em mim. A fotografia, que foi uma forma de mostrar coisas que muitas vezes não paramos para perceber os detalhes dos lugares. Com isso quis trazer as duas linguagens que faz parte da minha vida, o desenho que fazia a parte do passado e a fotografia que faz parte do presente.

O desenho e a fotografia serão as linguagens que percebo como importantes para contar minha história. Sem esquecer as lembranças e memória que servirá de combustível para mover esta pesquisa, trazendo coisas que estava guardada em uma caixa de fotografia, cheia de poeira e abandonada. Esta caixa será aberta e trazida para o momento presente fazendo a comparação destes locais. “Imagens fotográficas e desenho são fontes potenciais de dado, quer pela sua capacidade de ampliar e despoletar interpretação orais ou escritas, quer como documento para ser analisado recorrendo a métodos adequados” (DIAS; IRWIN, 2013, p. 77).

Esta afirmação é o alimento para continuar a forma de pensar e agir, a trajetória será voltada para o desenho imaginário que será o reflexo da memória, e fazendo uma junção destes elementos através de uma conversa com a fotografia.

O desenho traz uma determinada lembrança que pode não ser de forma exata, pois guardamos apenas alguns fragmentos desse lugar ou espaço vivido. Através do desenho será possível trazer leves características de mudanças do espaço, mas claro que isso depende da memória de cada um, algumas pessoas lembram exatamente de um espaço em detalhes, já outros lembram, como já citado, apenas de fragmentos.

Já na fotografia a lembrança não se apaga com o passar do tempo, “em suma, é essa obsessão que faz de qualquer foto o equivalente visual da lembrança. Uma foto é sempre uma imagem mental. Ou, em outras palavras, nossa memória só é feita de fotografias” (DUBOIS, 1998, p. 314).

O desenho imaginário é uma forma de relembrar estas lembranças, que estão escondidas no espaço que vai ser visitado, desencadeando uma enxurrada de informações e lembranças.

O espaço do entrelugar é o local para as transformações sociais, culturais e naturais: não é simplesmente um espaço conveniente para movimentos e realinhamentos; mas de fato é o único lugar - o lugar ao redor das

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identidades, entre as identidades - onde se realiza, se abre à futuridade, supera o ímpeto conservador por reter a coesão e a unidade (GROSZ, 2001, P. 91).

Os locais que falo ao longo da pesquisa foram forçados a mudanças. E estes lugares só ficaram na lembrança. Quem sentirá falta daqueles espaços serão apenas as pessoas que viveram lá, nesse caso, eu e minha família. Lembranças daquele lugar que nos trouxe ensinamentos ao longo desse trajeto. O registro fotográfico tem sua importância, o que para Borges (2005, p. 16), se justifica no dizer que: “quando utilizada sob essa perspectiva, a imagem fotográfica está sendo concedida como um dado natural, quer dizer, como testemunho puro e /ou bruto dos fatos sociais. Os que assim procedem, encaram a fotografia como duplicação do real”.

Com este ponto levantado por Borges (2005), a fotografia é a duplicação do real, isso aponta uma estrada de duas vias, ou seja, uma desta estrada o fotógrafo pode maquiar o cenário fazendo uma grande mentira, retratada no seu imaginário, ou seja, um lugar pensado antes de fazer a foto. E a outra estrada traz a sua realidade sem esta invenção de cenário imaginário que mostra como é realmente este local fotografado.

No capítulo 3 escrevo mais sobre a fotografia, relatando o processo de criação. Como esta linguagem será importante para contar a história do espaço onde passei minha infância e começo da adolescência. A fotografia servirá para comparar o espaço como era e como está hoje. Já o desenho é a chave para ligar memórias.

Estas memórias são difíceis de retratar somente em palavras. Além da fotografia proponho desenhar. O desenho é uma forma de lembrar o espaço, que estava escondida em minhas memórias. A forma de desenhar é muito íntima de cada indivíduo, desde os traços e formas até o jeito de representar aquele espaço. Escrever sobre esse desenhar, no sentido de pensar o espaço e a memória é o que proponho a seguir.

2.2 O DESENHO E A MEMÓRIA

O gosto pelo desenho começou cedo, como um passa tempo nas horas vagas nesta vida corrida. Nos finais de semana pegava uma folha e os lápis e

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desenhava, a temática destes desenhos era sempre relacionada a desenhos animados que eu reproduzia na folha.

Estes mesmos desenhos que foram companheiros de final de semana foram se apagando com o passar do tempo, fui deixando de lado os lápis para dar espaço a uma nova oportunidade de retratar imagens e que me fizera, sentir uma pessoa mais alegre, ou até mesmo realizada pois saí da minha zona de conforto para descobrir novas oportunidades. Deixei os desenhos de lado para dar lugar a uma nova linguagem, a fotografia. Ela que roubou a minha atenção, algo que aconteceu por acaso do destino ou até mesmo pela minha curiosidade, que tudo aconteceu depois que fiz aquela primeira fotografia em Palmeira Alta no interior de Orleans – SC, como já mencionado anteriormente.

Mas esta vontade de desenhar voltou, mesmo que estes desenhos não sejam iguais, os traços que no passado era de uma maneira e hoje pode ser considerado diferente, é a forma que escolhi para demonstrar os lugares que vivi minha infância, neste espaço que com o passar do tempo foi mudando assim como a minha forma de desenhar.

“O verdadeiro limite do desenho não implica de forma alguma o limite do papel, nem mesmo pressupondo margens” (ANDRADE,1975 apud DERDYK, 2015, p. 34). Como afirmou Andrade (1975 apud DERDYK, 2015), a imagem que desenho no papel vai além de simples traços, isso significa que o suporte não tem o limite de espaço, isso vai além. O papel tem um limite que pode ser desenhado, já as memórias não têm este limite de suporte.

Como já se passaram muito tempo algumas memórias se apagaram, o que tornaria difícil de seguir com esta trajetória artística, tive que buscar algumas informações deste espaço com as pessoas que viveram comigo nestes lugares, meus pais. Quando estava no processo de criação dos meus desenhos, meus pais ajudaram a relembrar estes espaços. As lembranças eram como raio de luz que vinha muito intensa na minha mente, e ao mesmo tempo lembranças vagas.

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Imagem 3 – Desenho da primeira memória.6

Fonte: Arquivo do pesquisador (2018).

Os desenhos em preto e branco carregam imagens dentro de um enquadramento pensado no ato de fotografar. Busco nas linhas pretas sobre o papel em branco um pouco do que a memória pode trazer de um tempo em que fui criança.

Apresento um percurso que irá contar os principais espaços que passei minha infância até o começo da adolescência. Vou contar um pouco das memórias, que estavam guardadas. O desenho nomeado como Desenho da primeira

memória, trata da minha primeira residência localizada em Sanga das Pedras no

município de Morro Grande/SC. O desenho parece uma ilha, mas se trata de uma plantação de arroz em volta da casa, este espaço tinha estas caraterísticas físicas que está mostrada neste suporte em formato de desenho.

Esta forma de desenhar foi adquirida depois de tantas tentativas não sucedidas, como fazia tempo que não desenhava, os meus traços estavam fora de formas, mas comecei a rabiscar e com a insistência pude desenvolver a forma que me agradou. O desenho é de lembranças do ano de 1997. É como pensar o desenho da criança, o processo pode ser reiniciado. Para Derdyk (2015, p. 63), “A excitação motora conduz a outros gestos. Já está implícita aí uma atividade mental, na medida em que a criança associa, relaciona, subtrai ou adiciona um gesto a outro”. Com isso posso dizer que depois de algum tempo sem exercitar os traços dos desenhos, senti diferença no ritmo de desenhar.

A forma de desenhar está ligada á junção de uma memória que carrego comigo, isto vai além de um simples traço desenhado em uma folha de papel. Esta

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mudança do desenho também ocorre quando a pessoa envolvida tem mais idade ou menos, ou seja, criança ou adulto.

O desenho do adulto e o desenho da criança não são produções estanques: ambos participam do patrimônio humano de aquisição de conhecimento, complementando-se remetendo-se. Surgem muitos pontos de reflexão, de convergência e antagonismo no confronto entre a produção gráfica infantil e o universo cultural do adulto (DERDYK, 2015, p. 23).

O desenho de uma criança não respeita regras, ela retrata conforme está imaginando o lugar, sendo que este desenho não está como a mesma forma do real, para ela o que está importando é o momento dela de fazer este lugar através dos seus traços. Já o adulto busca mostrar um desenho mais puxado para o seu presente, ele já está preocupado como vai ficar este mesmo desenho, buscando uma forma de mostrar o espaço como realmente é, se seu objetivo é o retrato fiel do que vê.

Os dois indivíduos, criança e adulto podem retratar este mesmo espaço de formas diferentes, um com o domínio da técnica e pesquisa do lugar, já a criança pode não se preocupar com estes detalhes. “O desenho como linguagem para a arte, para a ciência e para a técnica é um instrumento de conhecimento, com grande capacidade de abrangência como meio de comunicação e de expressão” (DERDYK, 2015, p. 32).

Sendo desta forma vou mostrar estes meus espaços com detalhes como imagino que era a vinte anos atrás, isso só será possível ser compartilhado com a ajuda das pessoas que estavam comigo neste espaço, os meus pais que vão estar envolvidos na minha produção, indiretamente.

As cores presentes nos desenhos deste espaço, vão representar as memórias como se fosse um raio de luz, somadas as linhas que formam as imagens fazendo ligação às nossas memórias, relembrando forma e traços como era este local.

A intenção de juntar as cores com grafite é de mostrar que, mesmo com os esquecimentos ao passar do tempo, ainda se tem alguns fragmentos de lembranças daquele momento especifico que pretendo relembrar nesta pesquisa.

Quanto maior for nosso campo perceptivo, mais revelações gráficas obteremos. A agilidade e a transitoriedade natural do desenho acompanham

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a flexibilidade e a rapidez mental, numa integração entre os sentidos, a percepção e o pensamento (DERDYK, 2015, p. 38).

Quanto mais informação agregada na base do desenho, vamos percebendo o contexto desta paisagem que está sendo apresentada nesta pesquisa. As lembranças dos lugares onde passei minha infância será relembrado através das memórias que serão transpassadas para o papel, que será o fio condutor entre a memória e o lugar presente.

A escolha da linguagem citada anteriormente fez parte da infância como uma forma de passa tempo, hoje o desenho vai servir de outra forma. Será como uma lembrança e retratada através de traços, cores e sentimentos, fazendo uma junção ao passado e o presente, contado através de desenho e fotografia.

A magia do desenho traz um olhar para o passado, mostrando as diferenças no espaço, acompanhada com as memórias do pesquisador7. Estes espaços que vou evidenciar, como as três casas onde morei, todas estavam localizadas no mesmo terreno que fica localizada no município de Morro Grande/SC, na localidade de Sanga Das Pedras.

Entre os sete e dezesseis anos de idade morei em três casas diferentes, por mais que foi por pouco tempo, foram lugares que marcaram a minha infância, lembranças de um ambiente cheio de histórias. Esta mudança rápida de casa aconteceu pelo fato do desenvolvimento agrícola, alavancando rapidamente e forçando a mudança, removendo estes espaços para novos campos de plantio.

Minha segunda residência, foi a casa do meu avô. Com ajuda dos meus tios, meus avós compraram outro terreno na cidade de Meleiro/SC por questão de comodidade. E assim minha família se instalou na antiga residência do meu avô, o período de estadia foi curto, por motivo da condição da residência que já estava bastante danificada.

Neste tempo nós estávamos em uma situação financeira precária, trazendo uma avalanche de problemas que muitas vezes difícil de enfrentar. Dois pontos que forçavam esta crise financeira foi quando a cobrança de uma renda que era paga para meu avô ao final de cada safra demorava para acontecer, mesmo se a safra não dava o esperado, por motivo de clima ou quebra do rendimento da terra

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o valor a ser pago era fixo. E o segundo ponto seriam os altos valores dos insumos usados no plantio

Pelas dificuldades passadas, este lugar foi marcante para o meu desenvolvimento pessoal, com isso pude aprender que a vida tem seus altos e baixos, e não podemos desistir nos primeiros obstáculos, mas usar como escada para vencer.

Imagem 4 – Desenho da segunda memória.8

Fonte: Arquivo do pesquisador (2018).

O desenho representado é nomeado como Desenho da segunda

memória foi a segunda residência que passei a minha infância, em 1999. O lugar

está representado propositalmente de um ângulo de cima onde pude retratar as formas deste espaço sendo como testemunha na memória do pesquisador. Para Derdyk (2015, p. 38), “desenhar objetos, pessoas, situações, animais emoções, ideias são tentativas de aproximação com o mundo. Desenhar é conhecer, é apropriar-se”

O desenho aqui, vem a partir de seu poder de trazer as memórias fazendo uma ponte entre as duas linguagens desencadeando a lembrança deste local.

Ficamos neste local aproximadamente dois anos. Depois deste tempo nesta casa tivemos que sair, pois, a casa já estava muito velha, não tinha mais condições para acomodar minha família. Mais um problema que tínhamos que enfrentar, mesmo com a falta de dinheiro meus pais não desistiram, com ajuda de

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meu avô foi comprada outra casa para colocar no mesmo lugar (representada na imagem 5), porém esta nova casa não era tão nova assim, era mais precária que a outra que estávamos morando. Moramos nesta “nova” casa durante 3 anos, a partir deste momento decidimos ir embora do terreno do meu avô.

O desenho abaixo mostra com detalhes como era esta terceira casa, consegui apresentar estes detalhes através de conversas com meus país, que me ajudaram a relembrar e desenvolver os desenhos que estavam vagamente na minha memória. Esta casa foi onde vivi minha infância e começo da adolescência (2001-2004), relembro minha residência e o local onde tudo começou. Na frente da casa coloco o trator que foi peça fundamental para o desenvolvimento da família.

Imagem 5 – Desenho da terceira memória9

Fonte: Arquivo do pesquisador (2018).

O desenho acima renomeado como Desenho da terceira memória, foi a terceira casa onde morei entre 2001 e 2004, esta moradia ficou atrás da antiga residência, aquela que foi tirada por motivo de falta de condição para a moradia.

Nos meus últimos anos que fiquei no terreno do meu avô a paisagem ainda estava na forma original. Não tinha muita interferência do homem neste espaço. No ano de 2004 foi decisivo para os integrantes da família, a situação que não estava nada boa ficou ainda pior, o meu avô queria aumento da renda da terra, meu pai não aceitou a proposta e recusou a pagar este aumento, feito isso tínhamos que procurar um novo espaço.

A busca por um novo espaço foi iniciada, como não tínhamos muitas condições financeira a única saída foi vender as máquinas que eram usadas nas plantações. Esta busca demorou em torno de um mês, pois, não havia comprador, e

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quando meus pais estavam desistindo surgiu uma luz no final do túnel, apareceu um comprador para nossas máquinas. Neste momento meus pais foram atrás de uma nova casa para comprar, foi difícil pois o dinheiro da venda das máquinas não era suficiente, mas conseguimos encontrar uma casa no centro da cidade de Meleiro/SC.

Abaixo revelo como era esta casa. O título deste desenho nomeado como desenho da quarta memória.

Imagem 6 – Desenho da quarta memória.10

Fonte: Arquivo do pesquisador (2018).

Com a compra desta residência no ano de 2004, toda a família saiu da terra do meu avô, não demorou muito para a terra ser passada ao vizinho que tinha a missão de plantar e pagar a renda que ele queria. Com o tempo este vizinho começou a fazer as mudanças neste espaço. Foi difícil de ver como está hoje o local onde passei a minha infância e começo da adolescência.

No começo desta migração foi difícil para mim, antes era acostumado a andar livremente e sem se me preocupar como me vestia, já na cidade estas coisas ficaram no passado. Esta mudança revelou uma nova regra para seguir, deixando coisas simples no passado e colocando um limite no meu antigo jeito.

O que seriam para mim estas coisas simples? Andar descalço na terra, brincar com o cachorro na pastagem, andar de bicicleta sem me preocupar com outras coisas ao redor e me jogar dentro do riacho, brincar na chuva, tomar banho de rio. São essas coisas simples que ficaram no passado.

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Nesse ano de 2018 já fazem 14 anos que saí de Sanga das Pedras, e durante esse período muitas coisas mudaram. Os espaços onde eu passava tempo brincando hoje não existe mais, e quando volto ao meu passado e revisito os lugares marcantes e vejo que tudo aquilo não está mais no meu presente, um grande aperto no peito e a tristeza pega em mim. Encontro em Canton (2009-C, p. 13) um dizer que: “Precisa conter o espirito do tempo, refletir visão, pensamento, sentimento de pessoas, tempos e espaços”.

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3 FOTOGRAFIA x DESENHO x ARTES: REFLEXÕES SOBRE A MEMÓRIA

Ao trabalhar com o desenho e a fotografia, defendo que cada um desempenha uma função, o desenho traz a ideia do passado imaginário e a fotografia o presente sem perder o foco do lugar ali apresentado. Ao se falar de memória e fotografia podemos perceber que existe uma certa relação entre ambas, o fato de recordar lembranças guardadas na memória é como se estivéssemos resgatando uma fotografia que o próprio subconsciente registrou e com o passar do tempo essa “fotografia do subconsciente” vai se apagando.

Nesta investigação, proponho registrar esta fotografia que a memória guardou até hoje para ser representada em desenho, propondo, então um diálogo com uma fotografia da atualidade do mesmo lugar. Segundo o autor Bergson (1999, p. 90):

O registro, pela memória, de fatos e imagens únicos em seu gênero se processa em todos os momentos da duração. Mas como as lembranças aprendidas são mais úteis repara-se mais nelas. E como a aquisição dessas lembranças pela repetição do mesmo esforço assemelha-se ao processo já conhecido do hábito tende-se a colocar esse tipo de lembrança em primeiro plano.

Em se tratando de memória a autora Canton (2009-C, p. 21) ainda complementa que:

Nas artes, a evocação das memórias pessoais implica a construção de um lugar de resiliência, de demarcações de individualidade e impressões que se contrapõe a um panorama de comunicação à distância e de tecnologia virtual que tendem gradualmente a anular as noções de privacidade, ao mesmo tempo que dificultam trocas reais.

Considero o desenho como um registro que mostra um pouco da realidade do pedaço do nosso universo, podendo ser transportado por onde vamos sem tirar este lugar da onde ele está. O espaço onde vivemos é o nosso porto seguro, ele serve de abrigo para o nosso corpo que precisa de repouso e de reflexões sobre os acontecimentos, e também serve de apoio para descarregar as forças negativas e recuperar as positivas. Quando as palavras não querem sair fica até difícil de falar como será esta memória que só vai vir à tona através da vista a estes lugares.

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Na arte encontro duas linguagens diferentes de tratar as minhas lembranças. Dentro de arte contemporânea trago o artista Joseph Kosuth com sua obra: Uma e três cadeiras, de 1965.

Imagem 7 – Uma e três cadeiras.

Fonte:<https://agoraalternativa.wordpress.com/2015/05/16/muito-mais-que-uma-e-tres-cadeiras/.>

Nessa obra o artista apresenta uma cadeira, uma foto dessa mesma cadeira, e um pequeno texto sobre esta cadeira, ou seja, apresenta o mesmo objeto em três formas diferentes. Faço uma conversa dessa obra com a minha pesquisa, onde mostro espaços por onde andei através de desenhos, imagens fotográficas e também relatos sobre estes espaços. Nesse sentido, remeto-me à Coli, quando afirma que:

É possível dizer, então, que arte, são certas manifestações da atividade humana diante das quais nosso sentimento é admirativo, isto é: nossa cultura possui uma noção que denomina solidamente algumas de suas atividades e as privilegia. Portanto, podemos ficar tranquilos: se não conseguimos saber o que a arte é, pelo menos sabemos quais coisas correspondem a essa ideia e como devemos nos comportar diante delas. Infelizmente, esta tranquilidade não dura se quisermos escapar ao superficial e escavar um pouco mais o problema. (COLI, 1995, p. 8).

Assim como Kosuth apresentou sua obra, eu apresento a minha. Baseada em memórias e lembranças, sendo reproduz na linguagem do desenho. Trago as imagens fotográficas fazendo a comparação com o antigo. E os relatos onde revelo meus sentimentos. Isso é a minha arte. Desta forma trago o autor Huyghe (1986), para conceituar o que é arte:

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[...] a arte é uma função essencial do homem, indispensável ao indivíduo e às sociedades e que se lhes impôs como uma necessidade desde as origens pré-históricas. A arte e o homem são indissociáveis. Não há arte sem homem, mas talvez igualmente não haja homem sem arte. Por ela, o homem exprime-se mais completamente, portanto, compreende-se e realiza-se melhor. Por ela, o mundo torna-se mais inteligível e acessível, mais familiar. É o meio de um perpétuo intercâmbio com aquilo que nos rodeia, uma espécie de respiração da alma bastante parecida com a física, de que o nosso corpo não pode prescindir. O ser isolado ou a civilização que não têm acesso à arte estão ameaçados por uma imperceptível asfixia espiritual, por uma perturbação moral. (HUYGHE, 1986, p.11).

Como minha produção fotográfica está voltada para a natureza, espaço e lugares vou querer mostrar os detalhes dos meus trabalhos, desta forma trago o fotógrafo Zé Paiva que trabalho com natureza e lugares, tive oportunidade de conhecer a exposição Tocantins, com esta exposição o artista fotógrafo lançou o livro: Expedição Natureza Tocantins – FM Editorial – 2012 (Imagem 8). Pude me encontrar no trabalho que o Zé desenvolve na sua vida mostrando os lugares por onde ele anda e registra através de suas lentes.

Imagem 8 – Livro Expedição Natureza Tocantins – FM Editorial – 2012

Fonte: <https://zepaiva.com/httpwww-vistaimagens-com-brpbooks-livros/>

Vou trazendo para o público coisas que muitas vezes estão escondidas atrás de algo que a própria pessoa coloca como forma de esconder o seu passado. Pois muitas vezes esta memória não é tão boa assim, querendo até apagar do seu

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pensamento, nesse sentido, seleciono como quem amplia o olhar sobre os lugares por onde andei.

Com o passar do tempo a gente vai mudando, e os lugares também vão se transformando, o olhar que no passado era outra coisa hoje mudou completamente, e o passado apenas fica na memória e lutamos para não esquecer. A linguagem ali apagada no físico não pode ser apagada na lembrança. Ao retornar a este espaço pude retratar em forma de fotografia estes locais marcantes, que foram fotografias produzidas no mês de março do ano 2018.

A primeira até a terceira casa se passa no interior no município de Morro Grande – SC, na localidade de Sanga das Pedras, já na quarta está localizada na cidade vizinha, ou seja, no município de Meleiro – SC, isso falo no início da pesquisa.

De início, como deve ser feito numa pesquisa sobre as imagens da intimidade, abordamos o problema da poética da casa. As perguntas são muitas: como é que aposentos secretos, aposentos desaparecidos, transformam-se em moradas para passado inolvidável? (BACHELARD, 2000, p.19).

Todos os lugares que foram marcantes desaparecem e aparecem outros espaços, outros aspectos. Agora vou revelar como se encontra a paisagem onde estava localizada as antigas casas:

‘Imagem 9 – Comparativo passado x presente – Primeira casa.

Fonte: Arquivo do pesquisador (2018).

O desenho acima é minha primeira residência localizada na localidade de Sanga das Pedras, município de Morro Grande/SC. Esta moradia que retrato no desenho é memória que passa no ano de 1997, neste tempo existiam algumas

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desavenças, que me ensinaram que a vida possui seus altos e baixos. Para Bachelard (2000, p. 23), “a casa nos fornecerá simultaneamente imagens dispersas e um corpo de imagens. Em ambos os casos, provaremos que a imaginação aumenta os valores da realidade”. Nesse sentido, através desse desenho pude relembrar algumas memórias, lembranças e acontecimentos. Espaço antigo, agora, transformado em plantações, quase irreconhecível, ou posso até dizer, quase esquecido.

Imagem 10 – Comparativo passado x presente – Segunda casa.

Fonte: Arquivo do pesquisador (2018).

Relembro as minhas antigas casas, com ajuda de meus pais. Fragmentos de uma infância marcada pelos acontecimentos e quase deixada para trás em razão da “traição” da memória. Nessa segunda comparação de passado e presente, mostro a minha segunda casa. Segundo espaço também absorvido pelas plantações. Um passado “destruído” pelo presente, restando apenas memórias, que, com o tempo também será esquecida.

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Imagem 11 – Comparativo passado x presente – Terceira casa.

Fonte: Arquivo do pesquisador (2018).

E agora apresento a última casa situada em Sanga das Pedras. Última lembrança de uma infância que não volta. “Só os pensamentos e as experiências sancionam os valores humanos” (BACHELARD, 2000, p. 26).

Como podemos perceber as mudanças destes locais foram grandes, tudo que foi retratado nos desenhos através de minhas memórias hoje não existe mais.

No emaranhado disperso da vida cotidiana, afinal procuramos o eu através do outro, rastreamos nossas histórias e abrimos nossos diários íntimos na tentativa de nos oferecer verdadeiramente para o mundo. É essa troca genuína de memórias e de sentidos que buscam os artistas contemporâneos (CANTON, 2009-A, p. 35).

Busco uma junção do passado com o presente para demonstrar a mudança, representando o espaço que conto no logo da minha pesquisa. A partir do momento em que minha família saiu desse espaço, este local não tinha mais o porquê existir. Sendo desta forma o espaço sai de cena e entra as novas plantações. Tudo saiu de controle depois que eu e minha família fomos para a nova casa que nós tínhamos adquirido com a venda das maquinas agrícola, que relato na pesquisa.

As narrativas enviesadas contemporâneas também contam histórias, mas de modo não linear. No lugar do começo – meio – fim tradicional, elas se compõem a partir de tempos fragmentados, sobreposições, repetições, deslocamentos. Elas narram, porém não necessariamente resolvem as próprias tramas (CANTON, 2009-B, p. 15).

A trama desta pesquisa é que os lugares mudaram drasticamente e deram lugares a novas plantações. Atualmente toda minha família encontra-se nesta

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residência, no ano de 2018 faz 14 anos que saímos da terra de meu avô, como podemos perceber até a casa atual teve estas mudanças. Sendo ela na estética, na cor da casa, que no começo era branca com janela rosa, e hoje a casa é verde com as janelas cinza, nos anos de 2004 não tinha jardim, hoje já tem.

Imagem 12 – Passado x presente – casa atual.

Fonte: Arquivo do pesquisador (2018).

Com tantas casas que passei minha infância e começo da adolescência, a casa que menos sofreu alteração na sua estrutura física foi a minha atual, só mudou sua aparência estética, mas a sua estrutura de 2004 ainda está presente depois de 14 anos. Firme e forte para mais alguns anos, assim como os desenhos e as imagens fotográficas, pois, “imagens fotográficas e desenhos são fortes potenciais de dados, quer pela sua capacidade de ampliar e despoletar interpretações orais ou escritas” (DIAS; IRWIN, 2013, p. 77).

As duas linguagens são bastante importantes para o desenvolvimento desta pesquisa, revelando o passado e o presente.

Artefatos artísticos, assim como as imagens estão marcadas por temporalidades múltiplas que inscrevem sentidos e significados em processos que se diferenciam por “tempo de produção” e “tempo de recepção”. As temporalidades múltiplas favorecem, facilitam contaminações teóricas, conceituais perceptivas e práticas que acontecem entre diferentes sistema e períodos (DIAS; IRWIN, 2013, p. 85).

Com estas marcas de diferentes temporalidades irei produzir uma caixa de memória, que revela as faces do espaço que costumava a viver. Por este fio mostro mais uma vez o problema de pesquisa, como materializar artisticamente

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Como pesquisador, remeto-me as memórias que saíram de minha cabeça e tornaram-se em palavras que poderão ser lidas, e também em forma de desenhos e fotografias em uma caixa de memória que contará com um pequeno álbum no centro da caixa. Comungo, assim, com o dizer de Canton (2009-C, p. 50), ou seja, “a memória é uma questão que me interessa muito, porque acho que, para pensarmos o futuro, temos que fazer uma reflexão do passado. O passado e o futuro estão ligados. É muito importante preservar a memória. ”

Pensando no que Canton escreve no seu livro tempo e memória, botei a minha ideia em prática, construir uma caixa de memória que tem como objetivo socializar um pouco do que vivi no sentido de fomentar reflexões sobre a arte e a vida, sobre o tempo e o espaço, sobre o ontem, o hoje e o amanhã.

No próximo capítulo evidencio a construção desta caixa em detalhes e significados. Tudo nela tem um porquê. Até nas escolhas dos materiais nela agregada.

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4 TEMPO DE MATERIALIZAR

O processo de criação artística foi, no entanto, algo desafiador. Neste começo tinha estipulado uma linguagem. Esta ideia estava comigo desde o final da disciplina PPA, que está na matriz de ensino no Curso de Artes Visuais – Bacharelado, da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC.

Com a ideia em mente comecei a fazer durante as férias o processo de compor o processo artístico, comecei primeiramente a fotografar todos os lugares que foram importantes durante minha infância e adolescência. E a maior tristeza em revisitar estes espaços e rever que tudo que passei naquele local não tinha mais, todos os espaços haviam sofrido modificações.

Passei a manhã inteira revirando este local, foram mapeados 55 espaços que realmente foram importantes. Feito isso voltei para a casa com todo material, e também levei com os meus materiais que colhi um sentimento de tristeza, ao relembrar como eram estes espaços e ver como estão hoje.

Voltando, baixei as fotografias no meu notebook, e comecei a edita-las. Levei um dia inteiro para editar as fotografias. Como cito no começo da pesquisa o desenho era parte de minha infância, esta ideia de desenhar o que trago na lembrança e comparar esses desenhos com o espaço atual, que retrato através da fotografia, foi uma peça fundamental para poder recordar todos os lugares que foram marcantes. Feito isso comecei a desenhar as minhas primeiras casas que morei no terreno do meu avô.

Desenhar todos os lugares seria muito difícil, pela quantidade de espaços. Então conversando com a minha orientadora, Silemar, e com sua experiência de pesquisa me sugeriu apenas apresentar somente os lugares que foram mais marcantes, ou seja, foi necessário reduzir. E daquelas 55 fotos que já havia coletado, faço opção por apenas 4 fotos. Feito isso cheguei a uma conclusão: mostrar as casas onde morei durante minha infância e adolescência e a minha casa atual. Não que os outros espaços não foram marcantes, sim, foram, mas essas casas para mim significam muito mais, ali vivi situações que me trouxeram alguns ensinamentos de vida.

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Os desenhos da minha lembrança ficaram voltados para as quatro casas que eu passei minha infância e começo da adolescência. Feito a escolha dos locais que iria ser relembrado comecei o processo de criação.

Meu primeiro suporte usado foi o papel canson da gramatura 140 gramas, e também usei a caneta nanquim e lápis de cor. Foram dois dias para estes desenhos serem produzidos.

Imagem 13 – Primeiros desenhos em papel canson.

Fonte: Arquivo do pesquisador (2018).

Já com os desenhos prontos surgiu a ideia de mostrar minha produção em forma de vídeo. A temática deste vídeo seria de volta ao tempo, onde os desenhos que revelam as memórias seriam mostrados como se estivessem rasgando e logo em seguida apareceria a fotografia mostrando como o lugar representado no desenho se encontra atualmente.

Mas esta forma de apresentação ficaria muito tradicional. Minha intenção era trazer a produção de uma forma que despertasse a curiosidade do público. Em uma outra orientação, fui desafiado a pensar em uma forma de fazer essa apresentação, de chamar a atenção das pessoas. Meu processo de criação está voltado para memórias, onde viajei no meu subconsciente em busca daqueles espaços importantes e coloquei em desenhos cada espaço. Ou seja, vou trazer o passado que muitas pessoas não viram, e fazer comparação do passado com o

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presente. Este presente, como já citado nesta pesquisa, será mostrado através de fotografias.

Desta forma então, após conversas com minha orientadora, escolhi o papel reciclável para fazer os desenhos. Por que papel reciclável? Como minha pesquisa está voltada para o passado, resolvi pegar algo do meu passado, ou seja, meus materiais, alguns desenhos guardados e livros escolares velhos. Peguei a quantidade necessária e produzi as folhas recicláveis.

No dia seguinte comecei a produzir o papel reciclável, pesquisei como era o processo11. Separei meus materiais escolares e comecei o processo de produção, para fazer este novo papel que servia de suporte para os meus desenhos.

Segui algumas etapas como: Processo do papel reciclável, produção do coletor, produção do papel, e pôr fim a produção da caixa de memórias. Em forma de fotografia irei contar como fiz estes papéis recicláveis:

Imagem 14 – Processo do papel reciclável.

Fonte: Arquivo do pesquisador (2018).

1° fotografia: nesta fase comecei a recortar os papéis do tempo de escola, papéis que estavam esquecidos e vieram à tona, assim como algumas de

11 Vídeo consultado para produzir o papel reciclado: https://www.youtube.com/watch?v=fjt5gWCx120.

Acesso em: 17 maio 2018.

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minhas lembranças. Peguei um balde e cobri todo o papel com agua e deixei decantando por três dias.

2° fotografia: depois destes três dias o papel ficou pronto, se transformou, do mesmo modo que transformo minhas lembranças em desenhos que ganharão forma neste novo papel.

3° fotografia: no balde verde está o papel que estava decantando, usei o liquidificador para desmanchar aquelas velhas memórias de tempo de escola. No balde roxo está o papel processado.

4° fotografia: nesta cena estou processando as minhas antigas recordações da escola, memórias que estavam guardadas em uma caixa abandonada e se transformou em um novo material.

5° fotografia: na bacia estão as minhas antigas memórias que firam processadas no liquidificador. Mas antes de colocar este papel em transformação, tive que fazer um coletor de madeira que serviria de fôrma, fiz um quadrado 40x40 e também usei um tecido fino semelhante a um tule. Este coletor serviu como um grande coador, remetendo-se a uma rede capturando os resíduos das lembranças e memórias.

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Imagem 15 – Coletor do papel reciclável.

Fonte: Arquivo do pesquisador (2018).

1° fotografia: os coletores sendo organizados para seguir o processo. 2° fotografia: o pano sendo colocado no coletor.

3° fotografia: os quatro coletores prontos para a produção do papel reciclável.

Todo esse processo foi importante para mim, onde pude relembrar acontecimentos e fatos que aconteceram no meu tempo de escola. A partir do momento que (re)significo todo aquele material sinto-me como uma criança voltando no tempo, vivenciando aqueles momentos que já não voltam mais. Momentos aqueles que me tornaram hoje quem sou.

Feito os dois passos importantes irei mostrar o próximo acontecimento, mostrando em detalhes sobre o processo da criação do papel reciclável.

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Imagem 16 – Produzindo o papel reciclável.

Fonte: Arquivo do pesquisador (2018).

1° fotografia: peguei o papel que processei e coloquei tudo no local demonstrado na imagem, são como memórias que se misturam.

2° fotografia: peguei o coletor que mostrei anteriormente, comecei a pegar o papel que estava por cima da água. Seleciono as memórias mais evidentes, as que me marcaram.

3° fotografia: estou mergulhando o coletor no local onde foi depositado todo material picotado e processado. Mergulho, literalmente falando, nas memórias de minha infância.

4° fotografia: o coletor que montei, recebeu o papel processado, repleto de história e memória. Eram papéis que usei em momentos outros e agora (re)significo-os.

5° fotografia: Após recolher o papel com o coletor, levei ao sol por 24 horas, tempo suficiente para o papel secar e ganhar consistência.

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Imagem 17 – Papel reciclável pronto.

Fonte: Arquivo do pesquisador (2018).

6° fotografia: o resultado do papel reciclável, está pronto para servir de suporte para desenhar as minhas memórias. A ideia de trazer esta forma de apresentar os lugares importante usando o papel reciclável, significa que estou organizando coisas que estavam guardadas e abandonadas, fiz todo um processo de transformação e criei outro sentido.

Como o papel reciclável que foi feito através de minhas memórias de escola que estavam escondidas (materiais escolares), também pensei em trazer uma grande caixa de madeira que iria representar os fragmentos das minhas casas que passei momentos marcante na minha infância, até o formato das madeiras remete as pequenas tábuas que servia para juntar e fazer uma caixa de madeira.

As madeiras utilizadas para construir a caixa são madeiras descartadas de uma madeireira. Peguei o necessário para a construção desta caixa e comecei a produzir. Os materiais para a construção são todos recicláveis, assim como as minhas memórias que reciclei no meu subconsciente para apresentar em forma de desenho.

A ideia de trazer a caixa de memória é fazer com que o público veja minhas lembranças de infância e começo de adolescência que estavam trancadas e foi aberta para que todos pudessem ver estes lugares como realmente eram, e que hoje seria impossível de se ver daquela mesma forma, fomentando memórias outras. O processo da caixa de memória foi necessário 1 dia e meio. No desenvolvimento da caixa neste tempo diversas coisas aconteceram, coisas que tinha pensado e na hora de colocar na prática deu errado, sem falar que no processo tive alguns arranhões, isso levanta um ponto que algumas coisas só vão

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dar certo se você se habilitar a produzir mesmo com dificuldades. Desta forma apresento o processo da caixa de memórias.

Imagem 18 – Produção da caixa de memória.

Fonte: Arquivo do pesquisador (2018).

1º, 2º e 3º fotografia: Primeiros passos para a montagem da caixa, na terceira foto o suporte no centro da caixa de memória onde ficará um pequeno álbum contendo as imagens fotográficas e os traços dos desenhos apresentado na pesquisa. Assim como os traços que trago na lembrança, que consegui transforma em desenhos através desta pesquisa.

4° fotografia: com a base pronta comecei a parte da montagem das laterais onde serão colocadas as minhas memórias em forma de desenho. As laterais são montadas com dobradiças, possibilitando a abertura da caixa. Assim como abro minhas lembranças, meus sentimentos, presos em algum lugar não definido.

5° fotografia: seguindo o processo de montagem da caixa, nesta parte podemos ver as laterais abertas, que vão ser o suporte onde vão ser colocados os desenhos que foram feitos no papel reciclado.

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