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Experiências Com Plantas Medicinais Nativas E Exóticas dos Moradores do Entorno de Um Parque Florestal Em Varginha, Minas Gerais.

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Academic year: 2021

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Experiências Com Plantas Medicinais Nativas E Exóticas dos Moradores do Entorno de Um Parque Florestal Em Varginha, Minas Gerais.

Rafaela Pereira Naves ¹,²; Raquel Stockman¹,²; Deborah Mattos Guimarães Apgaua¹,²; Valéria Evangelista Gomes Rodrigues ¹,²; 1-Universidade Federal de Lavras, 2- Graduação em Ciências Biológicas, 3- Professor Doutor aposentado do Departamento de Biologia, orientador do projeto. E-mail: rafaelapnaves@hotmail.com.

Objetivos

-Levantar junto aos moradores dos bairros ao entorno do Parque Florestal Municipal São Francisco de Assis, no município de Varginha, Minas Gerais, quais; como; e para que fins eles utilizam plantas medicinais nativas da região e exóticas (cultivadas em seus quintais); -identificar as espécies nativas que foram amostradas no Parque São Francisco;

-levantar o perfil sócio-econômico dos moradores residentes na comunidade do entorno do parque;

-constatar tradições e aspectos culturais da comunidade;

-verificar a relação dos moradores do entorno do parque com o mesmo;

-verificar o papel do parque e as implicações da conservação para os moradores.

-divulgar os resultados obtidos para a comunidade varginhense em feiras sobre a temática meio-ambiente.

Referencial Teórico

As questões ambientais e, e em particular, às relacionadas à conservação da natureza afetam as condições de sobrevivência da vida sobre a terra e as relações entre grupos sociais e sociedades. Ficando assim entre as mais críticas para a humanidade neste início de milênio, pois (Diegues, 2000).

Muitos entendem que natureza e ambiente são coisas idênticas, surgindo assim a necessidade de uma percepção mais crítica, com elementos culturais e naturais, conferindo uma preocupação social adequada na dimensão ambiental. (Diegues, 1996).

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De acordo com Gomez-Pompa & Kaus (2000), várias ações podem ser feitas para a preservação ambiental, como pesquisar das ações humanas sobre os, monitoramento ambiental a longo, compreender a percepção dos moradores rurais, desenvolverem programas de educação ambiental que integrem conhecimentos de educadores, cientistas e agricultores entre várias outras.

Todo um gigantesco acervo de experiências vem sendo perdido, pela destruição de culturas, sem nem mesmo registros. (Ribeiro, 1997).

“A medicina popular se fundamenta em um corpo de conhecimento que sofre mudanças espaços-temporais e que possui um modo de transmissão essencialmente oral e gestual que não se comunica através da instituição médica, mas por intermédio da família e da vizinhança. Essa transmissão oral e gestual é de base prática, os mais novos aprendem com os mais velhos vendo-os atuar socialmente e a desempenhar atividades que no futuro será um de seus afazeres e uma de suas atividades. “(Morais & Jorge, 2003).

As plantas são utilizadas pela humanidade desde sempre. 70% dos medicamentos derivados de plantas foram desenvolvidos com base no conhecimento folclórico. Essas plantas são usadas popularmente contra dezenas de doenças. (Garcia, 1995).

De acordo com Martins et al., (2003), no Brasil, a utilização de plantas no tratamento de doenças apresenta fundamentalmente, influências da cultura indígena, africana e européia. Os índios utilizavam o fitoterapia dentro de uma visão mística. Para os negros quando alguém adoecia é porque estava possuído pelo espírito mau. A influência européia, por sua vez teve início com a vinda dos primeiros padres da Companhia de Jesus. De origem européia é a maioria das ervas medicinais, e, embora sendo não nativas, grande parte delas reproduz-se espontaneamente e forma genótipos distintos. Essas influências que deixaram marcas profundas nas diferentes áreas da nossa cultura, sob aspecto material ou espiritual, constituem a base da medicina popular.

É fundamental para o aproveitamento racional e não predatório dos recursos naturais, o conhecimento tradicional sobre a ecologia e o manejo de plantas medicinais (Castellani, 2003).

Neste sentido, o conhecimento popular sobre o uso das espécies vegetais nativas pode contribuir para a conservação destes ecossistemas no que diz respeito a adoção de práticas de

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manejo, além de contribuir para o resgate e preservação da cultura popular. (Botrel, et. al, 2006).

Inseridos neste contexto torna-se importante estudos que esclareçam as relações dos povos com o ambiente que os cercam, surgindo então a etnobiologia.

Para estudos em etnobiologia é indicado o uso de questionários semi-estruturados. Segundo Triviños (1987):

“Para alguns tipos de pesquisa qualitativa, a entrevista semi-estruturada é um dos principais meios que tem o investigador para realizar a coleta de dados. Entende-se por entrevista semi-estruturada, em geral, aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam a pesquisa, em que, em seguida oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências, dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa.”

Recomenda-se a entrevista ser mais aberta o possível, menos restritiva, para assim o informante ter liberdade de responder de acordo com sua própria lógica e conceitos. (Possey, 1997).

Metodologia

O presente estudo foi realizado no sul do estado de Minas Gerais, na cidade de Varginha, com os moradores dos bairros ao entorno do Parque Florestal Municipal São Francisco de Assis. Segundo Botrel et.al, (2006), a região Sul do Estado de Minas Gerais está entre os locais de ocupação mais antiga do Brasil e seu histórico mostra que a economia local sempre se baseou na exploração dos recursos naturais. A paisagem atual é formada por mosaicos de remanescentes vegetais, áreas urbanas e áreas agropastoris.

O parque Florestal Municipal São Francisco de Assis, foi criado pelo decreto 902 em 03 de junho de 1982. Situa-se na periferia do município, tendo como vizinhos o Bairro São Francisco e o Bairro Padre Vítor. Atualmente conta com uma área de 110 ha. Constituído por vegetação florestal (mata secundária) e vegetação campestre (campo cerrado).

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O levantamento dos dados foi feito no período de agosto de 2007 a janeiro de 2008. Primeiramente foram levantados junto aos funcionários do parque e comunidade, quais membros têm conhecimentos sobre plantas medicinais e/ou são procurados na cura de enfermidades. Em seguida foram contatados, os informantes levantados e verificadas as disponibilidades em participar das entrevistas.

O trabalho foi realizado por meio de entrevistas que utilizaram questionários semi-estruturados, permitindo ao entrevistado manifestar suas opiniões, seus pontos de vista e seus argumentos.

Foram visitados os quintais dos moradores e anotados nomes populares e finalidade das plantas cultivadas e também com alguns deles foram realizadas caminhadas dentro do Parque para reconhecimento das espécies nativas, para estas também foram anotados os nomes populares e finalidades. As espécies nativas foram coletadas e posteriormente identificadas no Herbário/ESAL.

Na etapa ainda não concluída de devolução dos dados à comunidade, os resultados serão apresentados em feiras sobre o meio ambiente na mesma cidade.

Principais Resultados

Foram aplicados os questionários em homens e mulheres e todos tinham mais de 55 anos. São pessoas hoje aposentadas ou donas de casa, mas que já desempenharam diversas funções.

O conhecimento sobre plantas medicinais foi obtido de maneira geral por informações de pessoas mais velhas, quase sempre da família (pais e avós), via oral; e também por livros. Essa sabedoria é passada apenas se alguém os procura, os filhos quase sempre não têm interesse.

Foi possível observar que alguns cuidados são tomados na retirada das plantas: “Quando as pessoas usam a casca ou a raiz acabam matando a planta, pois utilizam machados, facões, muchoco.”. Além de existirem plantas que são muito perigosas, sendo assim não é possível explicar o local de todas as plantas a qualquer pessoa. A partir disso é inferido que estes são critérios de manejo, pois eles são detentores do conhecimento e reconhecem implicações sobre isso.

Foram encontradas diversas plantas medicinais cultivadas no quintal de todas as casas visitadas. O uso de plantas é sempre presente. Um dos entrevistados ressaltou: “Todas as plantas servem”.

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Todos residiam a bastante tempo no bairro e acompanharam a criação do Parque. Para eles a função do parque é de recreação, além de fonte de remédio.

Foram realizadas 3 caminhadas, onde foram encontradas 27 espécies medicinais nativas no Parque Florestal Municipal São Francisco de Assis.

Quadro 1: Plantas medicinais encontradas no Parque Florestal Municipal São Francisco de Assis

Espécie Família Nome Popular Habito Habitat Uso

Bidens brasiliensis Asteraceae Picao grande Erva Beira da mata Dor de dente Acanthospermun sp. Asteraceae Carrapixinha Herbaceo Beira da mata Inflamacoes internas Eupatorium maximilianii Asteraceae Assa peixe roxo Arbusto Cerrado Pneumonia Mikania hirsutissima Asteraceae Cipo cabeudo Trepadeira Cerrado usos diversos Jacaranda decurrens Bignoniaceae Carobinha

Sub

arbusto Beira da mata Ralear corrente sanguinea Wilbrandia verticilata Cucurbitaceae Abobrinha do mato Trepadeira Mata Machucado de cavalo Croton antissyphiliticus Euphorbiaceae Porraleira Herbaceo Beira da mata

Corrente sanguinea, infeccoes cutaneas

Acacia sp. Fabaceae Arranha gato Herbaceo Beira da mata Dores em gera Bauhinia sp. Fabaceae Unha de vaca Arvore Cerrado Colesterol alto Stryphnodendron adstringens Fabaceae Barbatimao Arvore Cerrado Infeccoes cutaneas Platycyamus regnellii Fabaceae Pereira Arvore Mata Madeira Senna rugosa Fabaceae Acacu Herbaceo Beira da mata Gripes e resfriados Byrsonima sp. Malpighiaceae Amburiti Herbaceo Cerrado Infeccoes internas Banisteriopsis sp. Malpighiaceae Cipo prata Herbaceo Mata Acido urico Cedrela fissilis Meliaceae Cedro rosa Arvore Mata Problemas de coracao Doerstenia brasiliensis Moraceae Carapia Erva Beira da mata Resfriado

Psidium araca Myrtaceae Araca Arvoreta Cerrado Inflamacoes Campomanesia guazumifolia Myrtaceae Casaca Arvoreta Cerrado Condimentos Campomanesia pubensces Myrtaceae Gabiroba Arvoreta Cerrado Condimentos Piper aduncon Piperaceae Jaborandi Herbaceo Mata Fortalecer cabelos Rubus sp. Rosaceae Amora preta Arbustivo Exotica Pressao alta Siparuna guianensis Siparunaceae Negamina Arvore Mata Sarna

Siparuna brasiliensis Siparunaceae Limao bravo Arvoreta Cerrado Gripes e resfriados Solanum licocarpum Solanaceae Lobeira Arvoreta Cerrado Gripes e resfriados Cecropia sp. Urticaceae Embauba Arvore Beira da mata Pressao alta Starchytarphetta cayamensis Verbenaceae Geribao Herbaceo Beira da mata Gripes e resfriados não identificada não identificada Buta Herbaceo Beira da mata Diarreia

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Quadro 2: Questionário semi-estruturado utilizado com os moradores do entorno do Parque Florestal Municipal São Francisco de Assis, Varginha, Minas Gerais.

Data: Raizeiro:

Informações sobre o raizeiro 1-Local de nascimento 2-Idade

3-Atividade

4-Tempo de residência no bairro

5-Realiza algum trabalho voluntário na comunidade? Informações sobre plantas

6-Como aprendeu sobre plantas? 7-Passou o conhecimento para alguém?

8-Pessoas o procuram para tratamentos de doenças? 9-Você faz algum tratamento (relatos)?

10-Quais locais mais utilizados para coletas? 11-Sabe alguma coisa da casa de raízes? 12-Manejo (critério para escolha das plantas) Sobre o Parque

13-Vem sempre ao Parque? 14-Estava presente na sua criação? 15-Teve alguma participação? 16-Porque foi criado? 17-Qual a função do parque? 18-Acha que o Parque é bem cuidado? 19-Relação com funcionários

Referências Bibliográficas

BOTREL, R.T.; RODRIGUES, J.A.; GOMES, L.J.; CARVALHO, D.A.; FONTES, M.A.L. Uso da vegetação nativa pela população local no município de Ingaí, MG, Brasil. Acta bot. bras. 20(1): 143-156. 2006.

CASTELLANI, D. C, Plantas medicinais e aromáticas: produtos florestais não Madeireiros (PFNM) in. COELHO, M. F. B.; JÚNIOR, P. C.; DOMBROSKI, J. L. D. (orgs.) Diversos olhares em etnobiologia, etnoecologia e plantas medicinais: anais do I Seminário Mato-grossense e II Seminário Centro-Oeste de plantas medicinais- Cuiabá: Unicen, p.199-212. 2003.

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DIEGUES, A.C. Etnoconservação na natureza: enfoques alternativos. in DIEGUES, A.C. (org.) Etnoconservação, novos rumos para a conservação da natureza nos trópicos. São Paulo, HUCITEC NUPAUB-USP, p.1-46. 2000.

DIEGUES, A.C. O Mito Moderno da Natureza Intocada. São Paulo, Hucitec, 168p. 1996. GARCIA, E.S. Biodiversity, Biotechnology and Health. Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 11( 3): 495-500, Jul/Sep, 1995.

GOMEZ-POMPA, A.; KAUS, A. Domesticando o mito da natureza selvagem. in. DIEGUES, A.C. (org.) Etnoconservação, novos rumos para a conservação da natureza nos trópicos. São Paulo, HUCITEC NUPAUB-USP, p.101-124. 2000.

MARTINS, E. R.; CASTRO, D.M.; CASTELLANI, D.C.; DIAS, J.E. Plantas Medicinais. Viçosa/ MG: UFV. 220 p. 2003.

MORAIS, R. G; JORGE, S. S. A. Etnobotânica e plantas medicinais: um enfoque sobre medicina tradicional in. COELHO, M. F. B.; JÚNIOR, P. C.; DOMBROSKI, J. L. D. (orgs.) Diversos olhares em etnobiologia, etnoecologia e plantas medicinais: anais do I Seminário Mato-grossense e II Seminário Centro-Oeste de plantas medicinais- Cuiabá: Unicen, p. 99-104. 2003.

POSEY, D.A. Etnobiologia: Teoria e Prática. in RIBEIRO, B.G (coord.) Suma Etnológica Brasileira –I Etnobiologia. 3ª Edição. Universidade Federal do Pará. p. 2-15, 1997.

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TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisaqualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 175p.1987.

Referências

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