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GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS NA MICRO-BACIA DO RIO PRETO UMA ABORDAGEM ECODINÂMICA

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Academic year: 2021

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GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS NA MICRO-BACIA DO RIO PRETO – UMA ABORDAGEM ECODINÂMICA

Valdemir Bueno Camargo FACERES – S.J.Rio Preto gigiocamargo@click21.com.br

INTRODUÇÃO

A preocupação com a água em quantidade e qualidade suficientes, visando o atendimento das necessidades humanas, é um dos grandes problemas do mundo contemporâneo. Sabe-se que, apesar de ser um recurso natural renovável, a água pode se tornar indisponível ao consumo, em virtude de práticas de manejo inadequadas, que prejudicam a sua qualidade.

No transcurso das últimas três décadas, a temática do acesso aos recursos hídricos assumiu na agenda internacional uma grande importância científica e política. Dentre os aspectos discutidos pela pauta das águas, pode-se destacar o processo de re-significação deste recurso, notadamente associado à dimensão econômica que lhe vem sendo atribuída. Assim como tem ocorrido com os outros recursos naturais, a política da água tem sido relacionada ao seu valor mercantil.

Dessa forma, a necessidade de alocação eficiente dos fatores de produção repercute na criação de novos instrumentos de gestão dos recursos hídricos voltados para o ideal econômico. A transformação da água em capital natural e sua instrumentalização econômica é, neste sentido, uma solução eficiente para o problema do seu consumo social, uma vez que leva a uma maior reflexão à cerca de sua relativa escassez, induzindo ao consumo mais racional por parte dos agentes econômicos.

As instituições, organizadas em ambientes descentralizados de gestão, e os instrumentos de regulação dos recursos hídricos, com seu caráter universalizante de intervenção, assumem relevância neste contexto, pois se pressupõe que devam, por meio da interação entre os diversos agentes sociais representativos de diferentes interesses, estabelecer um campo de diálogo que permita uma exploração sustentável desses recursos.

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Assim, convém ressaltar que a origem da atual legislação brasileira de gestão dos recursos hídricos remonta à década de 1930, época em que os princípios norteadores da gestão de águas no Brasil foram estabelecidos pelo Código das Águas (Decreto Federal 24.643/1934), permanecendo os mesmos até os dias atuais: o uso direto para necessidades essenciais a vida; a necessidade de concessão e/ou autorização para derivação de águas públicas; o conceito poluidor-pagador, que prevê a responsabilização financeira e penal para atividades que contaminem os mananciais.

A Constituição de 1988, por sua vez, estabelece o sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos, fundamentando os princípios da política nacional de recursos hídricos. A Lei 7.633/1991-SP, em virtude de seu caráter pioneiro, é usada como referência para a formulação da legislação federal e estaduais posteriores. A lei paulista baseia-se nos princípios da Constituição Federal de 1988 e detalha o sistema de gestão hídrica, baseada na gestão participativa e descentralizada; na bacia hidrográfica como unidade de gestão, com base nos comitês de bacias e suas células executivas (as agências de bacia); na implementação de instrumentos econômicos de gestão, com ênfase na cobrança de água. Enquanto a lei 9.433/1997 identifica a água como bem de valor econômico, instituindo a gestão por bacia hidrográfica e determinando a participação da sociedade civil na gestão hídrica.

A partir daí, o estado de São Paulo é dividido em vinte e duas unidades de gerenciamento de recursos hídricos. A Bacia Turvo/Grande, correspondente a UGRHI 15, é dividida em sub-bacias, sendo que a bacia do rio Turvo está subdividida em três, denominadas Alto, Médio e Baixo Turvo. Desta forma, obtém-se doze sub-bacias, designadas com o nome do curso principal d’água ou ainda com o nome de dois ou três cursos d’água, no caso daqueles que drenam diretamente para o rio Grande.

A sub-bacia do rio Preto corresponde à unidade 7 da bacia do Turvo, localizando-se na faixa central da UGRHI, em termos de posição geográfica e de altitude, a qual varia, aproximadamente, entre as cotas de quatrocentos metros e quinhentos e cinquenta metros. Esta sub-bacia é formada pelo rio Preto e toda a sua rede de afluentes, tanto da margem direita como da esquerda, e compreende doze municípios, os quais têm suas sedes na mesma ou a compartilham com outra. Nela, acha-se situado o maior núcleo urbano e pólo de desenvolvimento da UGRHI, que é São José do Rio Preto.

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OBJETIVOS

Este trabalho tem como objetivo geral o desenvolvimento de uma análise dos processos de interação entre a ocupação humana do espaço e o meio-ambiente, com ênfase nas suas consequências sobre os recursos hídricos.

Como objetivos específicos, pretende-se avaliar a sub-bacia-7 da bacia do rio Turvo, componente da UGRHI-15 do Estado de São Paulo, que tem como principal curso d’água o rio Preto, formador da rede hidrográfica do município de São José do Rio Preto; demonstrar, ainda, com base na atuação do Comitê de Bacia Hidrográfica do Turvo/Grande, que a transformação da água em bem público de valoração econômica, juntamente com a criação de instrumentos descentralizados de gestão, tem provocado novas formas de conflito social, e que a estrutura legal e a forma de funcionamento de tais comitês acabam por favorecer interesses econômicos particulares em detrimento de outros setores da sociedade civil.

Por fim, o trabalho também intenta promover um estudo da sub-bacia do rio Preto, identificando as principais alterações antrópicas ocorridas nos últimos cem anos na área onde está situada a cidade de São José do Rio Preto, investigando as prováveis consequências sobre as condições dos recursos hídricos locais.

METODOLOGIA

A proposta metodológica deste trabalho é a aplicação da teoria geral dos sistemas juntamente com lógica dialética, proposta por Tricart (1980), utilizando-se, ainda, o estudo desenvolvido por Ross (2006) sobre planejamento ambiental no vale do Ribeira do Iguape, no sul do Estado de São Paulo, no qual o autor emprega princípios da teoria ecodinâmica e o conceito de “espaço total”, defendido por Santos (1985) e Ab’saber (1994).

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Empregam-se, também, os estudos de Rebouças (2003) que, ao analisar o processo de ocupação do território brasileiro, enfatiza a desigualdade na distribuição dos recursos naturais e dos meios técnicos, salientando seu caráter predatório, assim como faz Carvalho (2003), ao destacar os processos de urbanização e sua relação com as águas.

Quanto à questão da legislação brasileira sobre gestão dos recursos hídricos e a atuação dos comitês de bacias hidrográficas, contamos com o apoio de Martins(2007), que aponta a dificuldade em se contemplar diversos aspectos culturais relacionados à água a partir do estabelecimento do conceito neoclássico de valoração econômica deste recurso natural. Além de Júnior (2004), que indica a discriminação do termo “usuário”, em relação ao conjunto da sociedade civil, como um aspecto que acaba por favorecer os setores econômicos mais organizados, que possuem interesses bem definidos.

Em relação ao tema das disputas sociais pelo acesso à água, mais uma vez, utilizamos a abordagem de Martins (2006), que analisa as representações sociais, instituições e conflitos na gestão de águas em territórios rurais, num estudo de caso no município de Barra Bonita – SP, envolvendo produtores rurais.

Monbeig (1984) nos oferece uma descrição dos ciclos de desenvolvimento econômico da região de São José do Rio Preto, o que serve como suporte material-histórico inicial para o desenvolvimento da pesquisa em torno das ações antrópicas na área da sub-bacia do rio Preto nos últimos cem anos.

Finalmente, a metodologia escolhida para este trabalho se completa com um estudo sobre a organização do Comitê de Bacia Hidrográfica do Turvo/Grande, avaliando sua composição; os processos de escolha de representantes; a posição socioeconômica dos seus membros e as suas possíveis relações com os diferentes setores da sociedade civil; o processo de tomada de decisões e o teor político-cultural das mesmas.

RESULTADOS PRELIMINARES

A leitura e análise da evolução da legislação brasileira sobre a gestão dos recursos hídricos, que levou ao atual modelo de gerenciamento, baseado nos comitês de bacias hidrográficas e na participação tripartite em condições paritárias, envolvendo Estados, municípios, sociedade civil e usuários, já foram concluídas e apontam para o problema da

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discriminação do termo “usuário” em relação aos demais setores da sociedade civil, comprometendo a participação paritária, uma vez que o “usuário” representa interesses econômico-financeiros específicos e os demais segmentos da sociedade civil representam interesses dispersos e difusos.

Também foi realizado o levantamento de dados sobre as condições naturais e socioeconômicas da área de estudo, por meio do Plano de Bacia do CBH/T-G (Comitê de Bacia Hidrográfica do Turvo-Grande), o que revelou diversos problemas relacionados ao meio-ambiente e recursos hídricos regionais. Constatamos também, em nossa avaliação preliminar, que a definição da água como recurso natural de valor econômico, um pressuposto neoclássico da economia, na atual legislação brasileira sobre gestão de recursos hídricos, tem provocado e agravado conflitos em torno do direito a água.

BIBLIOGRAFIA

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INDICAÇÃO DO ESTÁGIO DA PESQUISA

A pesquisa se encontra no ponto em que se realiza uma nova análise da legislação brasileira sobre gestão de recursos hídricos, juntamente com o aprofundamento dos estudos dos pressupostos da teoria ecodinâmica. No momento, também, promove-se a releitura do arcabouço bibliográfico que aborda: a relação entre o processo de desenvolvimento urbano no Brasil e sua relação com as águas, além dos textos que tratam das referências históricas sobre a ocupação socioeconômica da região.

Referências

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