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A HISTÓRIA DA DITADURA MILITAR MAIS PRÓXIMA DAS MISSÕES COM O AUDIOVISUAL Pâmela Andrade de Moraes 1 Emerson Pinto Scheis 2

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Academic year: 2021

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A HISTÓRIA DA DITADURA MILITAR MAIS PRÓXIMA DAS MISSÕES COM O AUDIOVISUAL

Pâmela Andrade de Moraes1 Emerson Pinto Scheis2

A HISTÓRIA QUE NÃO ESTÁ NOS LIVROS

Ao longo do período de formação escolar, muitos estudantes do Ensino Médio são interessados pelas aulas de História, em nossa região, localizada no noroeste do estado do Rio Grande do Sul. Chama atenção, principalmente, a história de São Luiz Gonzaga. Os relatos acerca dos acontecimentos ocorridos na região das Missões (uma história repleta de disputas e lutas que determinaram os rumos do Estado e, também, do país) sempre detiveram espaço nas discussões de grupos desta região.

Conflitos nas reduções jesuíticas, Revolução Farroupilha, Coluna Prestes, além de figuras como Sepé Tiaraju, Bento Gonçalves e Getúlio Vargas, são assuntos marcantes durante o período de formação básica dos jovens gaúchos, assim como as inesquecíveis façanhas de são-luizenses, dentre os quais: Sepé Tiaraju, Senador Pinheiro Machado, Jayme Caetano Braun, Pedro Ortaça e Olívio Dutra, entre tantos outros nomes que carregaram e carregam esta terra de “chão vermelho” para outros “rincões” deste Brasil.

No entanto, sempre existiu uma interrogação sobre o período em que o Brasil era comandado pelas forças militares. Para muitos, o período mais negro da história da democracia no país; para outros, um grande avanço nas questões de desenvolvimento econômico e do sentimento de segurança da população alicerçados sob a rígida disciplina dos novos mandatários do Brasil. Embora os livros trouxessem relatos e experiências dos brasileiros na época (dos quais, uma grande maioria, denunciava a

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Jornalista, Especialista em Marketing e Comunicação Digital. pamela.andrade.moraes@gmail.com. 2 Jornalista. emerson.anoticia@gmail.com.

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grande repressão das forças militares em uma ditadura que feria de forma físico e psicologicamente os seus opositores), havia algo que intrigava: o que teria ocorrido em São Luiz Gonzaga? Onde quer que se procurasse, o material encontrado trazia os fatos ocorridos nos grandes centros do país. Mas, de São Luiz Gonzaga, nada.

E essa história não estava nos livros. Estava tudo registrado em memórias vivas daquela época. Moradores do município que viveram o regime militar. E, para compreender esse momento histórico na vida de uma pacata cidade e também oportunizar a permanência destas vivências em nossa sociedade, fornecendo as novas gerações um material dinâmico, surgia o documentário “21 – Os anos que não foram escritos”, produzido pelos jornalistas Emerson Scheis e Pâmela Moraes, como trabalho de conclusão de curso junto à Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ. Ambos são-luizenses, os quais desenvolveram uma produção audiovisual na região missioneira, de forma inédita.

A CAPTAÇÃO DE MATERIAL E ORGANIZAÇÃO

Regime. Revolução. Golpe. Ditadura. São alguns adjetivos observados ao longo do processo de captação de material e entrevistas concluídas nesse Projeto Experimental. Muitas foram as descrições para esse período em que o país esteve sob a batuta das tropas militares, período este que, após sua instauração em março de 1964, foi recheado de inúmeros fatos que até hoje geram repercussão em qualquer roda de conversa. Atos de violência, censura e repressão permeiam as falas de pessoas que viveram nessa época, principalmente, os opositores do regime, esquerdistas ou “comunistas”, como frequentemente eram acusados por parte da Direita.

Durante a execução do documentário, inicialmente, foi analisado alguns registros da época, como pesquisa in loco nos arquivos do Jornal A Notícia que estão no Museu Municipal Senador Pinheiro Machado e no Instituto Histórico e Geográfico de São Luiz Gonzaga, além de análise de inquérito policial militar que indiciou 21 pessoas por subversão ao regime.

Após a pesquisa, ocorreu o processo de captação dos depoimentos, fonte mais preciosa do material. Os entrevistados foram: Elias Possap (ex-vereador e radialista), Nei Malgarim (advogado e ex-vereador), Flávio Bettanin (ex-vereador), Heloísa e Manoel Resende (professores aposentados), Pedro Ortaça (músico), Olívio Dutra (ex-governador do RS), Felipe Ledo Nogueira Alves (Comandante do 4° RCB), Jauri Gomes de Oliveira (ex-prefeito de SLG), Alseu Braga (ex-prefeito de SLG), José

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Gomes de Oliveira (comerciante e ex-presidente da ARENA), Jose Grisólia Filho (jornalista e ex-presidente do MDB), João Paulo Jornada da Silveira (Advogado e integrante do extinto ARENA) e Dorvalina Morais (ex-chefe do setor de meteorologia de SLG).

O trabalho foi dividido por blocos, com temas diferenciados: Parte 1 – abordou a instalação do regime e de que forma a população são-luizense recebeu a notícia; neste trecho contam o processo o jornalista Jose Grisólia Filho, advogados Flávio Bettanin, João Paulo Jornada e Nei Malgarim, assim como, o ex-vereador Elias Possap, Felipe Ledo Nogueira, comandante do 4° Regimento de Cavalaria Blindado “Dragões do Rio Grande”, o ex-governador do RS Olívia Dutra e ex-prefeitos de São Luiz da época, Alceu Braga e Jauri Gomes de Oliveira.

Parte 2 – O Cenário Político no município e a divisão dos partidos MDB e ARENA. Neste trecho relatam os fatos o ex-presidente do MDB – José Grisolia Filho e o ex-presidente da ARENA – José Gomes de Oliveira, que contextualizam o cenário da época juntamente com os respectivos prefeitos destes partidos: Alseu Braga (ARENA) e Jauri Gomes de Oliveira (MDB). São apresentadas dificuldades do prefeito do MDB em ser reconhecido pelos militares e, também, a divisão familiar de Jauri e José, que, mesmo sendo irmãos, militavam em partidos divergentes, além do processo executivo com Alseu Braga.

Parte 3 - Refere-se ao caso dos “pichadores”, sendo um dos fatos mais marcantes em São Luiz Gonzaga durante o regime militar, pois relata a história de jovens indignados com a situação política vivenciada pelo país e que, em uma noite, resolveram pichar muros e calçadas do município, em uma tentativa de protesto. Esse caso foi dramatizado junto ao documentário, sendo explicado pelos advogados Nei Malgarim e Flávio Bettanin, os quais defenderam os jovens no processo instaurado.

Além disso, o chefe do executivo durante o período que ocorreu o fato, Jauri Gomes de Oliveira, destaca no seu depoimento o apoio que prestou na tentativa de libertar esses jovens. Sobre a Parte 4, está a história de Arami de Maio Cabrera, um defensor da democracia, integrante do Partido Comunista do Brasil, que na época era ilegalmente constituído, sendo formulado apenas em reuniões secretas e que tinham como desejo o fim do regime, viveu por longo período em São Luiz Gonzaga, e integrou o inquérito dos 21 indiciados no município, junto à justiça militar. Arami foi o único condenado no processo e não compareceu ao julgamento. Anos mais tarde, seu corpo chegou ao município de forma misteriosa: em um caixão lacrado, sendo que sua

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morte não foi esclarecida até o momento. Muitos relatos acerca desta questão foram expostos.

Parte 5 – Os músicos que compunham os troncos missioneiros: Pedro Ortaça, Noel Guarani, Jayme Caetano Braum e Cenair Maicá, continuaram ao longo do regime compondo e participando de festividades. No relato do músico Pedro Ortaça, os bailes durante o regime eram controlados e as músicas previamente escolhidas. Neste trecho do documentário são analisadas as músicas de protesto ao regime e as incursões ocorridas pelos ativistas culturais que buscam o fim do regime militar

E para finalizar, a Parte 6, que oportunizou aos entrevistados a exposição do sentimento ao fim do regime e também a percepção e contextualização sobre a democracia e o cenário político atual.

Durante a produção, foram utilizados os equipamentos cedidos pela UNIJUÌ – Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul, como: câmera filmadora, microfone de lapela e tripé de luz. Esses equipamentos oportunizaram a produção deste Projeto Experimental com qualidade de som e imagem. As entrevistas foram distribuídas em planos diferenciados para prender o expectador ao longo do desenvolvimento das histórias narradas pelos entrevistados. Todos os cuidados com a imagem foram observados, assim como os créditos de ficcionais e entrevistas foram anexados ao fim do vídeo.

CONCLUSÃO

O documentário teve grande aceitação de público e o tocante de seu processo foi perceber a ligação entre os depoimentos, consolidando as histórias, pois as entrevistas eram gravadas em dias e momentos diferentes, com figuras públicas que consolidaram ações no município, mas que ao narrar as histórias propiciaram um resgate importante deste período nas Missões. As narrativas se completavam a cada história, e assim, elucidaram lacunas importantes desta cidade missioneira.

Muitos momentos deste período são doloridos para os personagens do documentário, assim, além de simplesmente gravar uma mensagem, era necessária atenção, conversa e compreensão com os momentos de emoção de cada um, para que o trabalho final obtivesse credibilidade e veracidade. Foi um período muito conturbado da história brasileira, que abalou o país de forma generalizada, e as marcas deixadas em cada pessoa que viveu esse passado recente foram importantes para a consolidação de um material audiovisual sério que propicie o resgate histórico completo.

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A história oral é um dos pontos fundamentas de pesquisas científicas e de preservação da cultura. E a Região das Missões possui uma rica história, com diversos personagens, que merecem receber uma narrativa mais avançada, como a linguagem do vídeo, e assim, acompanhar as transformações e prover a preservação de nossas origens. Na graduação de jornalismo é compreendida a importância de ouvir todas as pontas de uma história. E a própria, como sabemos, sempre tem mais de um lado. No caso da Ditadura do Regime Militar, há quem se manifeste contrário e há quem se manifeste favorável, e tentamos apresentar essas concepções neste projeto.

Ao concluir este trabalho de levantamento e análise de dados e captação de entrevistas com depoimentos de pessoas que viveram a experiência de um regime militar, instaurada no Brasil em 1964, é notório mais que os conhecimentos que adquiridos através de tantas leituras, mas é imensurável a satisfação de deixar um resgate para ser apreciado por mais curiosos da história de São Luiz Gonzaga.

A comunicação cumpre seu papel nesse momento, pois um de seus princípios é a busca da oralidade. Deixamos a certeza de que é necessário que se remexa no passado, não pelo prazer de fazê-lo, mas para que lembrando saibamos ser sujeito de nossa história e possamos contribuir com as mudanças de erros passados, ou que os acertos sejam repercutidos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FILHO, José Grisólia. Gráfica e Jornal A Notícia na ditadura militar. São Luiz

Gonzaga, 20 mai. 2008. Entrevista concedida a Sandra Camargo de Oliveira.

GOMES, José. Ùltima Campereada: memórias e histórias. São Luiz Gonzaga. Impresso na Gráfica A Notícia.

GOMES, José. A História de São Luiz Gonzaga. Sem editora e sem data de publicação.

GRISÓLIA, João Afonso. Eleitos os Primeiros Mandatários do País. Jornal A Noticia. São Luiz Gonzaga, 12 abr.1964 - Acervo do Museu Senador Pinheiro Machado.

SANTOS, Pedro Marques. São Luiz – sua história e sua gente 1687 – 1987. Série Missões. Vol V. Porto Alegre: Palloti, 1988.

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