JORGE REZENDE
1. Introduc¸˜ao
Este artigo descreve um conjunto de jogos did´acticos com poliedros e permuta¸c˜oes. Num texto escrito j´a h´a alguns anos [1] foi atribu´ıdo a estes jogos o nome de puzzles num´ericos poli´edricos. Embora a palavra puzzle n˜ao seja portuguesa, ´e aquela que, tendo entrado na linguagem comum, melhor identifica o que se pretende com o jogo. Trata-se de juntar pe¸cas segundo uma determinada regra e de modo a formar um resultado final coerente.
Tendo uma inten¸c˜ao l´udica, estes jogos servem tamb´em para pensar e para ensinar. Por exemplo, as no¸c˜oes elementares da teoria dos grupos (grupos de permuta¸c˜oes, opera¸c˜oes de grupos sobre conjuntos, grupos c´ıclicos, etc.), podem ser ilustradas com estes jogos. As no¸c˜oes de simetria a duas e a trˆes dimens˜oes, t˜ao importantes em Matem´atica e em F´ısica, tamb´em podem ser ensinadas com esta ajuda. A constru¸c˜ao dos jogos ´e baseada no c´alculo combinat´orio, pelo que aqui est´a mais uma ´area na qual eles podem ser ´uteis. As solu¸c˜oes, de um determinado puzzle, podem ser calculadas com um computador, pelo que as t´ecnicas de programa¸c˜ao podem ser assim utilizadas e, consequentemente, treinadas.
1.1. Defini¸c˜ao geral. Consideremos um poliedro regular (plat´onico), semi-regular (arquimedeano) ou dual de semi-regular. As suas faces s˜ao pol´ıgonos, regulares ou n˜ao. Exemplos:
a) O cubo tem seis faces que s˜ao quadrados.
b) O dodecaedro tem doze faces que s˜ao pent´agonos regulares. c) O cuboctaedro tem catorze faces, pol´ıgonos regulares, sendo oito
triˆangulos e quatro quadrados.
d) O icositetraedro delt´oide tem vinte e quatro faces todas iguais, que s˜ao quadril´ateros n˜ao regulares (faces delt´oides).
Construamos em seguida placas poligonais no mesmo n´umero e com o mesmo formato e tamanho das faces do poliedro. Adjacentemente `as
O Grupo de F´ısica-Matem´atica ´e financiado pelo Minist´erio da Ciˆencia e Tecnolo-gia.
1 1 3 2 3 2 Figura 1. 4 4 4 4 3 3 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 4 3 2 4 3 2 Figura 2.
arestas das placas poligonais escrevem-se n´umeros tal como indicam as figuras 1, 2, 3, 4, 5 e 6. Algumas dessas placas, ou todas, podem ter n´umeros escritos de ambos os lados sendo iguais os n´umeros adjacentes `
a mesma aresta (ver figura 6).
Agora, o problema consiste em colocar as placas poligonais sobre as faces do poliedro (placas com um determinado formato sobre as faces
3 2 1 1 3 1 3 2 3 3 3 2 2 2 3 2 2 1 1 1 1 1 2 3 1 2 3 1 2 3 3 3 2 2 1 1 Figura 3.
com o mesmo formato) de tal forma que os dois n´umeros (de duas placas distintas) adjacentes a uma mesma aresta, sejam iguais. Se existir, pelo menos, uma solu¸c˜ao para este problema dizemos que estamos perante um puzzle num´erico poli´edrico.
Repare-se que fazer o puzzle equivale a atribuir a cada aresta do po-liedro um n´umero. Se cada face tiver n´umeros distintos atribu´ıdos `as respectivas arestas dizemos que ´e um puzzle sem n´umeros repetidos. 1.2. Constru¸c˜ao pr´atica. Um material rudimentar que pode ser usado para a constru¸c˜ao de um puzzle num´erico poli´edrico ´e a cartolina. Podem-se usar diferentes cores para as diferentes placas poligonais e para os diferentes poliedros.
Em primeiro lugar h´a que ter a base poli´edrica na qual se vai resolver o puzzle. Esta base deve possuir, por exemplo, trˆes cantos de fotografia auto-adesivos junto de trˆes v´ertices distintos em cada face, de forma a que
4 4 4 3 3 3 2 2 2 1 1 1 1 1 1 4 4 3 3 2 2 2 3 4 Figura 4.
se possa a´ı encaixar cada placa poligonal, que dever´a ter um tamanho ligeiramente inferior ao da face. A placa poligonal ´e colocada sobre a face do poliedro como uma fotografia num album.
1.3. Sum´ario. Este artigo est´a organizado como segue:
Na segunda sec¸c˜ao descrevem-se exemplos de puzzles com poliedros plat´onicos.
Na terceira sec¸c˜ao d´a-se um m´etodo de resolver alguns dos puzzles, baseado na teoria elementar dos grupos. A informa¸c˜ao matem´atica re-lacionada pode ser obtida nas Referˆencias [4]–[6]. Esta sec¸c˜ao termina com exemplos e um desafio ao leitor.
Na quarta sec¸c˜ao descrevem-se alguns puzzles sem n´umeros repetidos. Isto significa que em cada placa poligonal os n´umeros s˜ao todos distin-tos. Claro que h´a outros poss´ıveis puzzles que n˜ao s˜ao considerados aqui. Sobre os poliedros mencionados nesta sec¸c˜ao, pode-se consultar as Re-ferˆencias [2]–[5].
Na quinta sec¸c˜ao discutem-se poss´ıveis generaliza¸c˜oes com base nas indica¸c˜oes das sec¸c˜oes precedentes.
2. Exemplos de puzzles com poliedros plat´onicos
Como se sabe os poliedros plat´onicos tˆem como faces pol´ıgonos regu-lares e s˜ao cinco: o tetraedro (4 triˆangulos), o cubo (6 quadrados), o octaedro (8 triˆangulos), o dodecaedro (12 pent´agonos) e o icosaedro (20 triˆangulos). Vamo-nos concentrar, portanto, nos triˆangulos equil´ateros, nos quadrados e nos pent´agonos regulares. S˜ao trˆes formatos distintos.
No seguimento deste artigo consideraremos um n´umero inteiro n ≥ 1. A quest˜ao que se coloca ´e a seguinte: de quantas maneiras distintas ´
e poss´ıvel atribuir a cada lado de um triˆangulo equil´atero os n´umeros 1, 2, . . . , n sem repetir qualquer um deles? Se n = 1 ou n = 2, n˜ao h´a
3 3 3 3 3 4 4 4 4 4 5 5 5 5 5 2 2 2 2 2 5 5 5 5 5 2 2 2 2 2 3 3 3 3 3 4 4 4 4 4 5 5 5 5 5 4 4 4 4 4 3 3 3 3 3 2 2 2 2 2 5 4 3 2 1 1 1 1 5 5 5 5 4 4 4 4 2 3 3 3 3 2 2 2 2 3 4 5 2 3 4 5 2 3 4 5 2 3 4 5 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 Figura 5. 5 5 4 4 3 3 1 1 3 3 4 4 5 5 2 2 1 1 1 3 5 2 4 1 3 4 2 5 c b a
Figura 6. Os dois lados de uma placa: a) pentagonal regular, b) pentagonal irregular, c) delt´oide
maneira. Se n = 3, h´a 2 possibilidades: 123 e 132 lidos por esta ordem no sentido directo (contr´ario ao dos ponteiros do rel´ogio); ver figura 1. Se n = 4, h´a 8 possibilidades: 123, 132, 124, 142, 134, 143, 234 e 243
lidos no sentido directo (ver figura 2). Repare-se que 8 ´e precisamente o n´umero de faces do octaedro. Se n = 5, h´a 20 possibilidades cuja listagem se deixa ao leitor. Repare-se que 20 ´e precisamente o n´umero de faces do icosaedro. Se n = 6, h´a 40 possibilidades cuja listagem se deixa, mais uma vez, ao leitor. Repare-se que 40 ´e precisamente o dobro do n´umero de faces do icosaedro. De facto, no que ao triˆangulo equil´atero diz respeito, o n´umero g de possibilidades ´e g = 2 n3 = n(n−1)(n−2)
3 .
Identicamente se pode perguntar: de quantas maneiras distintas ´e poss´ıvel atribuir a cada lado de um quadrado os n´umeros 1, 2, . . . , n sem repetir qualquer um deles? Se n = 1, n = 2 ou n = 3, n˜ao h´a maneira. Se n = 4, h´a 6 possibilidades, exactamente o n´umero de faces do cubo (ver figura 4). No que ao quadrado diz respeito o n´umero g de possibilidades ´
e g = 6 n4.
E o que se passa com o pent´agono regular? De quantas maneiras distintas ´e poss´ıvel atribuir a cada lado de um pent´agono regular os n´umeros 1, 2, . . . , n sem repetir qualquer um deles? Se n = 1, n = 2, n = 3 ou n = 4, n˜ao h´a maneira. Se n = 5, h´a 24 possibilidades, exactamente o dobro do n´umero de faces do dodecaedro (ver figura 5). No que ao pent´agono regular diz respeito o n´umero g de possibilidades ´e g = 4! n5.
Estes resultados sugerem-nos a constru¸c˜ao de placas poligonais tendo em vista puzzles a fazer sobre os cinco s´olidos plat´onicos.
Vejamos, em primeiro lugar, o tetraedro. Atribuindo a cada aresta um n´umero, de forma que n˜ao haja repeti¸c˜oes em cada face, constatamos a seguinte realidade: se n = 3, as placas tˆem que ser todas iguais; se n > 3, n˜ao h´a solu¸c˜oes que esgotem todas as possibilidades.
Consideremos agora o octaedro. Com n = 4 podemos construir 8 placas diferentes, que esgotam as possibilidades, com n´umeros escritos s´o num dos lados de cada placa. Neste caso h´a solu¸c˜oes.
Seja, em seguida, o icosaedro. Com n = 5 podemos construir 20 placas diferentes, que esgotam as possibilidades, com n´umeros escritos s´o num dos lados de cada placa. Tamb´em aqui h´a solu¸c˜oes. Com n = 6 podemos construir 20 placas diferentes, que esgotam as possibilidades, com n´umeros escritos nos dois lados de cada placa. Se num dos lados de uma placa estiverem os n´umeros abc, lidos por esta ordem no sentido directo, no outro lado est˜ao os n´umeros acb. Mais um caso com solu¸c˜oes. Consideremos o cubo. Com n = 4 podemos construir 6 placas dife-rentes, que esgotam as possibilidades, com n´umeros escritos s´o num dos lados de cada placa. Este caso tem solu¸c˜oes; por exemplo, a figura 7
4 4 4 4 3 3 3 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 Figura 7. Cubo
Finalmente temos o dodecaedro. Com n = 5 podemos construir 12 placas diferentes, que esgotam as possibilidades, com n´umeros escritos nos dois lados de cada placa. Se num dos lados de uma placa estiverem os n´umeros abcde, lidos por esta ordem no sentido directo, no outro lado est˜ao os n´umeros aedcb. Este ´e um puzzle bem estudado com v´arias solu¸c˜oes como adiante veremos.
A maneira espontˆanea de resolver estes puzzles ´e por tentativas. Mas h´a outras. Por exemplo, no caso do icosaedro, com n = 5, h´a uma forma “natural” que a seguir se exp˜oe. Fixemos uma aresta do icosaedro. H´a uma que lhe ´e paralela e outras quatro que lhe s˜ao perpendiculares. Ao todo, s˜ao seis. Est˜ao colocadas sobre as faces de un cubo “virtual” no qual o icosaedro est´a inscrito (ver figura8). Como h´a cinco desses cubos “virtuais”, a cada um deles associamos um dos n´umeros 1, 2, . . . , 5 de tal forma que cada cubo tenha um n´umero distinto dos outros. Agora, a cada aresta do icosaedro assente sobre a face de um determinado cubo associemos o n´umero desse cubo. Temos assim uma solu¸c˜ao do puzzle (ver figura 9).
3. Resoluc¸˜ao
Nesta sec¸c˜ao desenvolveremos um m´etodo de resolu¸c˜ao de alguns puzz-les num´ericos poli´edricos utilizando apenas, sem perda de generalidade, aqueles que definimos na sec¸c˜ao precedente. Para tal usaremos a teo-ria dos grupos (ver as Referˆencias [4]-[6]). Em seguida, ilustraremos o m´etodo com exemplos simples. A ´ultima parte da sec¸c˜ao desenvolver-se-´a em torno da defini¸c˜ao natural de solu¸c˜oes equivalentes.
Figura 8. Icosaedro 5 3 4 4 5 5 5 5 5 5 5 5 4 4 4 4 4 4 3 3 3 3 3 3 3 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 Figura 9. Icosaedro
Na parte restante deste artigo F representa o conjunto das faces, A o conjunto das arestas e P o conjunto das placas.
3.1. Um m´etodo de resolu¸c˜ao. O grupo das permuta¸c˜oes de {1, 2, . . . , n}, Sn, ´e o conjunto de todas as bijec¸c˜oes
σ : {1, 2, . . . , n} → {1, 2, . . . , n} ,
com a opera¸c˜ao de composi¸c˜ao. A identidade designa-se pela letra e: e (1) = 1, e (2) = 2, . . . , e (n) = n.
Sn e os seus subgrupos operam sobre o conjunto das placas, P . Dados
σ ∈ Sn e π ∈ P , ou seja σ ´e uma permuta¸c˜ao e π ´e uma placa, ent˜ao σπ
´
e a placa que se obtem de π submetendo-a `a permuta¸c˜ao σ.
Seja G um subgrupo de Sn. G d´a origem a uma rela¸c˜ao de equivalˆencia.
Duas placas, π1 e π2 s˜ao equivalentes se existir σ ∈ G tal que
π2 = σπ1.
As classes de equivalˆencia associadas a esta rela¸c˜ao de equivalˆencia chamam-se ´orbitas da ac¸c˜ao do grupo sobre P .
Entre os subgrupos de Sn h´a os grupos c´ıclicos. Seja G um subgrupo
c´ıclico de Sn de gerador σ e de ordem r (o cardinal de G), com r > 1.
Ent˜ao G = {e, σ, σ2, . . . , σr−1}; σ2 = σ ◦ σ, σ3 = σ ◦ σ ◦ σ, e assim
sucessivamente.
Regressemos agora ao poliedro. Um poliedro, dos que temos consi-derado, tem eixos de simetria. Admitamos que o poliedro que esta-mos a tratar tem um eixo de rota¸c˜ao de ordem r. Isto significa que se se rodar o poliedro em torno desse eixo, sem deslizar, de um ˆangulo de (360/r)◦[≡ (2π/r) rad], ele passa a ocupar uma situa¸c˜ao semelhante `
aquela de que partiu. Exemplos:
a) O cubo tem 3 eixos de simetria de ordem 4 que s˜ao aqueles que unem os centros de faces opostas; se se roda o cubo de 90◦ em torno de um desses eixos ele adopta uma posi¸c˜ao que em nada se distingue da que tinha.
b) O cubo tem 4 eixos de ordem 3 que s˜ao aqueles que unem v´ertices opostos; o ˆangulo de rota¸c˜ao ´e neste caso de 120◦.
Suponhamos que o grupo G opera no conjunto P das placas corres-pondentes `as faces do poliedro da forma j´a descrita. Ilustraremos isto com dois exemplos. Seja n = 4 e as seis placas correspondentes `as 6 faces do cubo as seguintes: π1 = 1234, π2 = 1243, π3 = 1324, π4 = 1342,
π5 = 1423, π6 = 1432; isto ´e, em cada uma das placas os n´umeros est˜ao
dispostos pela ordem indicada adjacentemente `as arestas. Depois desta introdu¸c˜ao, vejamos ent˜ao os dois exemplos:
a) Seja σ o gerador do grupo c´ıclico G, de ordem 4, tal que σ (1) = 2, σ (2) = 3, σ (3) = 4, σ (4) = 1; ent˜ao, σπ1 = π1, σπ2 = π5,
b) Seja σ o gerador do grupo c´ıclico G, de ordem 3, tal que σ (1) = 2, σ (2) = 3, σ (3) = 1, σ (4) = 4; ent˜ao, σπ1 = π5, σπ2 = π1,
σπ3 = π4, σπ4 = π6, σπ5 = π2, σπ6 = π3.
Chamemos µ : F → F `a fun¸c˜ao que a cada face do poliedro associa a face que lhe corresponde fazendo uma rota¸c˜ao de (360/r)◦ em torno do eixo de simetria j´a considerado; µ2 = µ ◦ µ, µ3 = µ ◦ µ ◦ µ, e assim
sucessivamente.
Consideremos tamb´em ξ : A → A a fun¸c˜ao que a cada aresta do poliedro associa a aresta que lhe corresponde fazendo a mesma rota¸c˜ao.
Diz-se que duas faces ϕ1 e ϕ2 s˜ao equivalentes se existir i tal que
ϕ2 = µiϕ1. Diz-se que duas placas π1 e π2 s˜ao equivalentes se existir i
tal que π2 = σiπ1. Estas rela¸c˜oes de equivalˆencia d˜ao origem a conjuntos
de classes de equivalˆencia (´orbitas) F e P, respectivamente.
Naturalmente o que se espera ´e que exista uma solu¸c˜ao do puzzle a que correspondam uma fun¸c˜ao bijectiva u : F → P que a cada face associa a placa que a´ı est´a colocada, e uma fun¸c˜ao v : A → {1, 2, 3, . . . , n} que a cada aresta associa o n´umero que a´ı est´a colocado, de tal forma que u ◦ µ (ϕ) = σu (ϕ), qualquer que seja a face ϕ, e tamb´em u−1(σπ) = µ ◦ u−1(π) qualquer que seja a placa π, e ainda tal que v ◦ ξ = σ ◦ v. Se esta situa¸c˜ao acontecer a fun¸c˜ao u d´a origem a uma fun¸c˜ao bijectiva U : F → P que a cada classe de equivalˆencia elemento de F associa uma classe de equivalˆencia elemento de P com o mesmo cardinal. ´E o que sucede nos exemplos atr´as referidos:
a) Exemplos das al´ıneas a): F (respectivamente P) tem 3 elemen-tos, classes de equivalˆencia: dois com uma face (respectivamente placa) e um com quatro faces (respectivamente placas).
b) Exemplos das al´ıneas b): F (respectivamente P) tem dois ele-mentos, classes de equivalˆencia, ambos com trˆes faces (respecti-vamente placas).
Este m´etodo pode, obviamente, ser generalizado, mutatis mutandis, considerando G um subgrupo de Sn, n˜ao necessariamente c´ıclico, e um
subgrupo do grupo das simetrias do poliedro.
3.2. Exemplos. Somos portanto conduzidos a procurar solu¸c˜oes que res-peitem as rela¸c˜oes que acabamos de escrever. Vejamos o que se passa com os exemplos que temos estado a tratar.
Exemplos das al´ıneas a). Na figura 10a, e tamb´em na figura 10b, est´a desenhada uma face-placa, e os n´umeros adjacentes `as arestas, da classe de equivalˆencia que tem quatro elementos. Os n´umeros tˆem que ser tais que conduzam de facto a uma face-placa da referida classe. As
y ’ y ’ z z y y x x 4 4 3 3 2 2 1 1 b a Figura 10. Cubo
arestas que tˆem o y e o y0 ≡ σ (y) pertencem tamb´em a outras faces-placas da mesma classe. As arestas que tˆem o x e o z pertencem tamb´em `
as faces-placas das outras duas classes: a que tem o x a uma das classes e a que tem o z `a outra classe. Fazendo x = 1, o y s´o pode ser 2 (figura
10a) ou 3 (figura 10b); se y = 2, ent˜ao y0 ≡ σ (y) = 3 e z = 4; se y = 3, ent˜ao y0 ≡ σ (y) = 4 e z = 2. 4 4 4 3 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 z’ z’ y ’ y ’ x ’ x ’ z z y y x x b a C C D D Figura 11. Cubo
Exemplos das al´ıneas b). Na figura 11a, e tamb´em na figura 11b, est˜ao desenhadas duas faces-placas pertencentes a cada uma das classes de equivalˆencia. O eixo de simetria ´e a recta definida pelos v´ertices C e D. O n´umero x s´o pode ser 1, 2 ou 3. Se x = 1, ent˜ao x0 ≡ σ (x) = 2 e y s´o pode ser 3 (figura 11a) ou 4 (figura 11b); se y = 3 ent˜ao y0 ≡ σ (y) = 1, z = 2 e z0 ≡ σ (z) = 3; se y = 4 ent˜ao y0 ≡ σ (y) = 4, z = 1 e y0 ≡ σ (y) = 2.
A figura12mostra a resolu¸c˜ao do caso relativo ao dodecaedro, apresen-tado no quadro 2, utilizando este m´etodo. A recta definida pelos v´ertices C e D ´e o eixo de simetria, de ordem trˆes. Tamb´em aqui x0 ≡ σ (x), y0 ≡ σ (y), etc.
z’
z
x ’x
w ’w
v ’v
y y ’ 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 3 4 4 5 5 5 C D Figura 12. Dodecaedro3.3. Solu¸c˜oes equivalentes. P˜oe-se agora o problema de saber quantas solu¸c˜oes tem um determinado puzzle. ´E um problema que fica, em geral, em aberto. Dizemos que duas solu¸c˜oes s˜ao equivalentes se existir uma composi¸c˜ao envolvendo uma simetria do poliedro e uma permuta¸c˜ao dos n´umeros que transforme uma solu¸c˜ao na outra solu¸c˜ao.
Uma forma de distinguir duas solu¸c˜oes que n˜ao s˜ao equivalentes est´a ligada `a no¸c˜ao de invariante das classes de equivalˆencia. De uma forma ing´enua, diz-se que um invariante ´e uma caracter´ıstica de uma solu¸c˜ao que n˜ao muda quando se considera uma solu¸c˜ao equivalente. Um invari-ante ´e uma fun¸c˜ao cujo conjunto de partida ´e constitu´ıdo pelas solu¸c˜oes do puzzle em quest˜ao, e que ´e constante em cada classe de equivalˆencia. No que diz respeito ao puzzle do cubo desta sec¸c˜ao ´e elementar ve-rificar directamente que o conjunto das solu¸c˜oes s´o tem uma classe de equivalˆencia.
J´a o puzzle do octaedro ´e mais complicado, embora se possa verificar, tamb´em directamente, que tem trˆes classes de equivalˆencia que se distin-guem da forma que a seguir se descreve. Numa solu¸c˜ao, e relativamente a um v´ertice, anotemos os n´umeros que correspondem `as quatro arestas que convergem nesse v´ertice. Pode haver duas situa¸c˜oes: a) quatro n´umeros distintos; b) trˆes n´umeros distintos, com um deles repetido. Fa¸camos isso para cada um dos seis v´ertices. Contemos o n´umero de v´ertices em que acontece a situa¸c˜ao a). Podem ser 6, 2 ou 0, que diferenciam as trˆes classes de equivalˆencia.
Os exemplos do cubo e do octaedro mostram que, embora estes dois poliedros sejam duais, os puzzles n˜ao o s˜ao. S´o a primeira classe de equivalˆencia mencionada do octaedro ´e dual da do cubo.
Consideremos agora uma solu¸c˜ao do puzzle do dodecaedro j´a referido. Vejamos que tem trˆes classes de equivalˆencia. Em cada v´ertice concor-rem trˆes arestas, e, a´ı, est˜ao trˆes n´umeros todos distintos. H´a vinte possibilidades, mas nem todas fazem parte da solu¸c˜ao. Algumas tˆem uma repeti¸c˜ao. Essas s´o podem ser em n´umero de 3 ou 7. Esse n´umero, o cardinal desse conjunto de pares, ´e um invariante. As solu¸c˜oes que tˆem o n´umero 7 s˜ao todas equivalentes. As que tˆem o n´umero 3 pertencem a duas classes de equivalˆencia. Numa delas cada par est´a em v´ertices opos-tos. Na outra cada par pertence a uma mesma aresta. Esta conclus˜ao foi obtida com a ajuda de um computador.
Nos casos relativos a poliedros com mais faces do que o dodecaedro deve ser bastante mais dif´ıcil dar uma resposta precisa como esta. Fica aqui um desafio a todos os leitores.
4. Alguns puzzles sem n´umeros repetidos
4.1. Placas poligonais. Suponhamos que o poliedro referido na intro-du¸c˜ao tem f faces com um determinado formato. Conv´em aqui esclarecer que f ´e menor ou igual ao n´umero total de faces e que se considera que tamb´em tˆem o mesmo formato duas faces em que cada uma delas seja como que a imagem num espelho (reflex˜ao) da outra. Isto ´e, diz-se que duas faces tˆem o mesmo formato se forem isom´etricas. Por exemplo, o cuboctaedro tem oito faces que s˜ao triˆangulos equil´ateros; neste caso f = 8 relativamente ao formato do triˆangulo equil´atero. Outro exem-plo: o hexaquisoctaedro tem quarenta e oito faces que s˜ao triˆangulos escalenos; estas quarenta e oito faces dividem-se em dois conjuntos de vinte e quatro cada que s˜ao reflex˜oes um do outro; neste caso f = 48 relativamente ao formato do triˆangulo escaleno.
Seja agora n um determinado n´umero inteiro maior do que zero. Seja g o n´umero de possibilidades diferentes de distribuir os n´umeros 1, 2, 3, . . . , n adjacentemente `as arestas de uma das faces referidas sem repetir na mes-ma face o mesmo n´umero. Exemplos:
a) Se n = 3 e as faces forem triˆangulos equil´ateros o n´umero g de possibilidades ´e 2 (ver figura 1).
b) Se n = 4 e as faces forem triˆangulos equil´ateros o n´umero g de possibilidades ´e 8 (ver figura 2).
c) Se n = 3 e as faces forem triˆangulos escalenos o n´umero g de possibilidades ´e 12 (ver figura 3).
d) Se n = 4 e as faces forem quadrados o n´umero g de possibilidades ´e 6 (ver figura 4).
e) Se n = 5 e as faces forem pent´agonos regulares o n´umero g de possibilidades ´e 24 (ver figura 5).
O quadro 1 d´a o n´umero de possibilidades g em fun¸c˜ao do n´umero n e em fun¸c˜ao do pol´ıgonos, face de um determinado formato do poliedro.
Por formato delt´oide entende-se o formato das faces do icositetraedro delt´oide ou do hexacontaedro delt´oide; s˜ao quadril´ateros irregulares em que os lados s˜ao iguais dois a dois; os lados iguais tˆem um v´ertice comum. Ver figura 6c.
(Quadro 1)
n → 3 4 5 6 7 8
formato↓
triˆangulo equil´atero 2 8 20 40 70 112
quadrado − 6 30 90 210 420
pent´agono regular − − 24 144 504 1344 hex´agono regular − − − 120 840 3360 formato delt´oide − 24 120 360 840 1680 formato rˆombico − 12 60 180 420 840 pent´agono irregular − − 120 720 2520 6720
triˆangulo is´osceles 6 24 60 120 210 336 triˆangulo escaleno 12 48 120 240 420 672 Por formato rˆombico entende-se o de um quadril´atero com os lados to-dos iguais mas que n˜ao ´e quadrado; por exemplo, o triacontaedro rˆombico tem as faces rˆombicas.
Pent´agono irregular designa, abreviadamente, o formato das faces do icositetraedro pentagonal ou do hexacontaedro pentagonal; s˜ao pent´agonos irregulares com trˆes lados iguais entre si e os restantes dois iguais entre si; estes ´ultimos tˆem um v´ertice comum e as faces s˜ao sim´etricas. Ver figura 6b.
No que diz respeito ao triˆangulo escaleno o n´umero g inclui as reflex˜oes. Ver figura 3.
Para construir o quadro 1 a f´ormula a utilizar, no caso dos pol´ıgonos regulares, ´e g = n!/ ((n − i)!i) em que i ´e o n´umero de lados. Os n´umeros da linha referente ao formato delt´oide s˜ao quatro vezes os n´umeros da linha referente ao quadrado. Os n´umeros da linha referente ao forma-to rˆombico s˜ao duas vezes os n´umeros da linha referente ao quadrado. Os n´umeros da linha referente ao pent´agono irregular s˜ao cinco vezes os n´umeros da linha referente ao pent´agono regular. Os n´umeros da linha re-ferente ao triˆangulo is´osceles s˜ao trˆes vezes os n´umeros da linha referente
ao triˆangulo equil´atero. Os n´umeros da linha referente ao triˆangulo esca-leno s˜ao seis vezes os n´umeros da linha referente ao triˆangulo equil´atero. 4.2. Defini¸c˜ao. Regressemos ao poliedro e `as suas f faces de um deter-minado formato. Relembremos que f ´e menor ou igual do que o n´umero total de faces do poliedro. Vamos agora definir um processo de cons-tru¸c˜ao de placas correspondentes. Decomponhamos esse conjunto de f faces em p subconjuntos de tal modo que o subconjunto de ordem j tem fj faces: f1 + f2 + f3+ · · · + fp = f . Admitamos que no quadro 1 e na
linha correspondente ao formato das faces est´a um dos n´umeros fjou 2fj,
para todo j = 1, 2, 3, . . . , p; se o n´umero que se encontra no quadro for fj as placas tˆem n´umeros desenhados s´o de um dos lados; se o n´umero
que se encontra no quadro for 2fj as placas tˆem n´umeros desenhados nos
dois lados; em qualquer dos casos esgotar˜ao todas as possibilidades (fj
ou 2fj) de, para um determinado n, escrever os n´umeros 1, 2, 3, . . . , n,
adjacentemente `as arestas das placas poligonais sem n´umeros repetidos em cada lado da placa e de acordo com a defini¸c˜ao geral.
A constru¸c˜ao das placas poligonais por este processo faz-se relativa-mente a todos os formatos das faces do poliedro.
No caso de existir solu¸c˜ao, para o problema j´a exposto na defini¸c˜ao geral estamos, portanto, perante um puzzle num´erico poli´edrico sem n´umeros repetidos.
4.3. Exemplos. Apresentam-se em seguida quadros com alguns casos relativos a poliedros regulares (sistematizando o conte´udo da segunda sec¸c˜ao), poliedros semi-regulares e duais dos poliedros semi-regulares. 4.3.1. Poliedros regulares (quadro 2).
(Quadro 2)
nome faces (f ) n g
cubo 6 quadrados 4 6
octaedro 8 triˆangulos equil´ateros 4 8 dodecaedro 12 pent´agonos regulares 5 24
icosaedro 20 triˆangulos equil´ateros 5 20 icosaedro 20 triˆangulos equil´ateros 6 40 A interpreta¸c˜ao deste quadro ´e simples.
Nos casos do cubo e do octaedro, para n = 4, o n´umero g de possibi-lidades ´e precisamente igual ao n´umero de faces; nestes casos as placas poligonais s´o tˆem n´umeros desenhados de um dos lados.
No caso do dodecaedro, para n = 5, o n´umero g de possibilidades ´e o dobro do n´umero de faces; aqui cada placa poligonal tem de um dos lados n´umeros colocados numa determinada sequˆencia no sentido directo
e do outro lado n´umeros colocados pela mesma ordem mas no sentido retr´ogrado, de forma a esgotar as 24 possibilidades.
O caso do icosaedro, para n = 5, ´e idˆentico ao do cubo ou do octaedro, isto ´e, as placas s´o tˆem n´umeros desenhados de um dos lados; para n = 6, o caso do icosaedro ´e idˆentico ao do dodecaedro: placas desenhadas com n´umeros dos dois lados.
O tetraedro n˜ao aparece no quadro visto que os casos que h´a ou s˜ao triviais ou n˜ao tˆem solu¸c˜ao.
Para todos os casos do quadro 2 h´a solu¸c˜oes como j´a vimos. 4.3.2. Poliedros semi-regulares (quadro 3).
(Quadro 3)
nome faces (f ) n g
cuboctaedro rˆombico 8 triˆangulos equil´ateros 4 8 + 18 quadrados 4 6 cuboctaedro 8 triˆangulos equil´ateros 4 8 + 6 quadrados 4 6 icosidodecaedro 20 triˆangulos equil´ateros 5 20
+ 12 pent´agonos regulares 5 24 cubo obl´ıquo 32 triˆangulos equil´ateros 4 8
+ 6 quadrados 4 6 dodecaedro obl´ıquo 80 triˆangulos equil´ateros 5 20
+ 12 pent´agonos regulares 5 24 icosidodecaedro rˆombico 20 triˆangulos equil´ateros 5 20 + 30 quadrados 5 30 + 12 pent´agonos regulares 5 24 O cuboctaedro rˆombico pode ser de dois tipos: com ou sem simetria equatorial.
Tomemos, no quadro 3, o caso relativo ao cuboctaedro rˆombico; como h´a 18 faces quadradas e o n´umero de possibilidades, para n = 4, ´e 6, isso significa que cada possibilidade aparece 3 vezes nas placas quadradas. Situa¸c˜ao idˆentica aparece no caso relativo ao cubo obl´ıquo ou no caso relativo ao dodecaedro obl´ıquo no que diz respeito `as placas triangulares. Para todos estes casos h´a solu¸c˜oes; por exemplo, a figura 13 mostra uma das solu¸c˜oes para o puzzle do cuboctaedro.
Repare-se que h´a mais possibilidades com solu¸c˜oes do que aquelas que figuram no quadro 3. Deixa-se ao leitor a sua descoberta.
No quadro 3 n˜ao figuram os poliedros semi-regulares obtidos por trun-camento. No entanto, ´e poss´ıvel organizar puzzles com estes poliedros a partir dos poliedros que figuram no quadro 3. Por exemplo, o octaedro truncado tem 8 faces hexagonais e 6 quadradas. As placas poligonais
4 4 4 4 4 4 4 4 4 3 3 3 3 3 3 3 3 3 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 Figura 13. Cuboctaedro
relativas a este poliedro podem ser constru´ıdas a partir das do cuboc-taedro fazendo com que as hexagonais que fiquem vizinhas n˜ao tenham qualquer n´umero (ou tenham o n´umero 0) adjacente `a aresta comum.
A mesma t´ecnica pode ser usada para outros poliedros obtidos por truncamento. Assim, como o octaedro truncado resulta do cuboctaedro, temos que: o tetraedro truncado resulta do octaedro; o icosaedro trunca-do resulta trunca-do icositrunca-dodecaedro; o cubo truncatrunca-do resulta trunca-do cuboctaedro; o dodecaedro truncado resulta do icosidodecaedro; o cuboctaedro truncado resulta do cuboctaedro rˆombico; o icosidodecaedro truncado resulta do icosidodecaedro rˆombico.
4.3.3. Duais dos poliedros semi-regulares (quadro 4). Neste quadro n˜ao est˜ao considerados os trapezoedros arquimedianos (cujas faces s˜ao delt´oides) nem as pirˆamides duplas arquimedianas (cujas faces s˜ao triˆangulos is´osceles), visto que s˜ao em n´umero infinito.
O icositetraedro delt´ode pode ser de dois tipos: com ou sem simetria equatorial.
´
E poss´ıvel que os casos do quadro 4 relativos ao icositetraedro delt´oide sem simetria equatorial, ao dodecaedro rˆombico, ao hexacontaedro pen-tagonal e ao triaquistetraedro, n˜ao tenham solu¸c˜ao. Todos os outros ca-sos apresentados no quadro tˆem solu¸c˜ao. Por exemplo, o icositetraedro delt´oide com simetria equatorial tem a solu¸c˜ao que a figura 14mostra. Quadro 4
nome faces (f ) n g
icositetraedro delt´oide 24 faces delt´oides 4 24 dodecaedro rˆombico 12 faces rˆombicas 4 12 triacontaedro rˆombico 30 faces rˆombicas 5 60 icositetraedro pentagonal 24 faces pentagonais − − hexacontaedro pentagonal 60 faces pentagonais 5 120
hexacontaedro delt´oide 60 faces delt´oides 5 120 triaquistetraedro 12 triˆangulos is´osceles 4 24 triaquishexaedro 24 triˆangulos is´osceles 4 24 pentaquisdodecaedro 60 triˆangulos is´osceles 5 60 triaquisoctaedro 24 triˆangulos is´osceles 4 24 triaquisicosaedro 60 triˆangulos is´osceles 5 60 hexaquisoctaedro 48 triˆangulos escalenos 4 48 hexaquisicosaedro 120 triˆangulos escalenos 5 120 A figura 15 mostra a resolu¸c˜ao do caso relativo ao hexacontaedro delt´oide, apresentado no quadro 4, utilizando o m´etodo descrito na ter-ceira sec¸c˜ao. O eixo de simetria ´e a recta CD que ´e de ordem cinco.
5. Generalizac¸ ˜oes
Quando se trata de dar uma defini¸c˜ao de puzzle, que generalize os exemplos anteriores, e que seja suficientemente interessante, encontram-se manifestas dificuldades. Por um lado, porque encontram-ser suficientemente in-teressante ´e subjectivo. Por outro lado, porque se corre o risco de, ao tentar generalizar, se banalizar a defini¸c˜ao. Por estas raz˜oes, n˜ao parece haver uma defini¸c˜ao evidente. Todavia, nesta sec¸c˜ao far-se-´a um esfor¸co nesse sentido.
Suponhamos que o poliedro tem faces de k formatos distintos e seja Fj
o conjunto de faces de um determinado formato: F = ∪k
j=1Fj. A tarefa
consiste, pois, em construir o conjunto P das placas correspondentes: P = ∪k
j=1Pj. Os n´umeros inscritos nas placas s˜ao ≤ n.
Sejam Gj, j = 1, 2, . . . , k, subgrupos de Sn. Gj e Pj s˜ao tais que Gj
4
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
3
3
3
3
3
3
3
3
3
3
3
3
3
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
Figura 14. Icositetraedro delt´oide
que seja Pj h´a sempre um subgrupo de Sn que opera sobre Pj: {e}. O
conjunto dos subgrupos poss´ıveis n˜ao ´e, portanto, vazio.
Consequentemente h´a pares (Pj, Gj) em que o cardinal do conjunto
das ´orbitas respectivas ´e m´ınimo. S˜ao esses pares, e os que se aproximam desse m´ınimo, que n˜ao trivializam o conjunto Pj de placas. Esta
formu-la¸c˜ao peca por algum subjectivismo, mas n˜ao se vˆe como lhe escapar. Exemplos:
5
1
1
5
5
5
5
5
4
4
4
4
4
4
3
3
3
3
3
3
3
3
2
2
2
2
2
2
2
1
1
1
1
1
C
D
Figura 15. Hexacontaedro delt´oide
a) Consideremos o caso do dodecaedro. Construamos as 12 placas da forma descrita na segunda sec¸c˜ao. Seja G o subgrupo de S5,
isomorfo a S4, constitu´ıdo pelas permuta¸c˜oes que deixam o 5 fixo.
Ent˜ao, G opera sobre P e h´a uma s´o ´orbita constitu´ıda por P . b) Seja ainda o dodecaedro. Construamos as 12 placas da forma que
a seguir se descreve. Os n´umeros est˜ao s´o num dos lados de cada placa. Fixemos o 5. Nas outras posi¸c˜oes, lidas no sentido directo, est˜ao as 12 permuta¸c˜oes pares de {1, 2, 3, 4}. Seja G o subgrupo de S5 constitu´ıdo pelas permuta¸c˜oes pares que deixam o 5 fixo.
3 4 4 4 4 4 4 4 4 2 3 3 3 3 3 3 3 3 2 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 Figura 16. Cuboctaedro 4 4 4 4 3 3 3 3 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1 Figura 17. Cubo
c) Consideremos o icositetraedro pentagonal. Construamos as 24 placas da forma que a seguir se descreve. Os n´umeros est˜ao s´o
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
2
3
3
3
3
3
3
3
3
3
3
3
3
3
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
Figura 18. Icositetraedro delt´oide
num dos lados de cada placa. Fixemos o 5. Nas outras posi¸c˜oes, lidas no sentido directo, est˜ao as 24 permuta¸c˜oes de {1, 2, 3, 4}. Seja G o subgrupo de S5 constitu´ıdo pelas permuta¸c˜oes que
dei-xam o 5 fixo. Ent˜ao, G opera sobre P e h´a uma s´o ´orbita consti-tu´ıda por P .
d) As figuras 16, 17 e 18 mostram puzzles com n´umeros repetidos. As placas tˆem os n´umeros 1, 2, 3, 4 escritos s´o de um dos lados.
5 5 5 5 4 4 4 3 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1 Figura 19. Cubo
Em todos estes trˆes casos G ´e S4 e cada conjunto de placas do
mesmo formato constitui a ´orbita ´unica.
e) Na figura 19, de um puzzle relativo ao cubo, as placas tˆem os n´umeros 1, 2, 3, 4, 5 escritos s´o de um dos lados. G ´e o subgrupo de S5, isomorfo a S3, que mant´em fixos os n´umeros 1 e 2, e P
constitui a ´orbita ´unica.
Agradecimentos
O autor agradece `as Professoras Margarida Mendes Lopes e Ilda Perez o apoio que lhe deram. Agradece particularmente `a Professora Ilda Perez pelo cuidado que teve em ler o artigo e pelas sugest˜oes que deu no sentido de melhorar a sua compreens˜ao.
Nota
Este artigo foi publicado no Boletim da SPM no 43, de Outubro de
Referˆencias
[1] Jorge Rezende: Puzzles num´ericos poli´edricos (1988).
[2] Tiberiu Roman: Regul¨are und halbregul¨are polyeder. Berlin: VEB Deutscher Ver-lag der Wissenschaften 1968.
[3] Manus J. Wenninger: Polyhedron Models. Cambridge University Press 1985. [4] M. A. Armstrong: Groups and Symmetry. Berlin: Springer-Verlag 1988.
[5] Marcel Berger: G´eom´etrie, 3, convexes et polytopes, poly`edres r´eguliers, aires et volumes. Cedic / Fernand Nathan.
[6] Serge Lang: Algebra. New York: Addison-Wesley Publishing Company, Inc. 1965. Grupo de F´ısica-Matem´atica da Universidade de Lisboa, Av. Prof. Ga-ma Pinto 2, 1649-003 Lisboa, Portugal, e Departamento de Matem´atica, Faculdade de Ciˆencias da Universidade de Lisboa