Rev. Fac. Med. vet. Zo o te c. U n iv. S. P a u lo,
IS < 2 ) :339-46, 1976.
T R A T A M E N T O CIRÜRGICO DA HÉRNTA U M B IL IC A L EM BOVINOS. T É C N IC A DA IM BRICAÇÃO L A T E R A L COM REFORÇO DE
M ALH A DE P O L IPR O P IL E N O . A n to n io M A T E R A • P a u lo S ergio de M O R A E S B A R R O S ** Cesar A u gu s to de A G U IA R * * * R osan o Elias R A N D I ** A n ge lo João S T O P IG L IA * » R o d o lfo N Ü R M B E R G E R JR.. * * * * W a sh in g ton P. da S IL V E IR A * * • * * R FM V -A /25 Ma t e r a, A .; Mo r a e s Ba r r o s, P . S .; Ag u i a r, C . A .; Ra n d i, R . E .: St o p i g l i a, A . J.; Nu r m b e r g e r Jr., R..: Si l v e i r a, W . P . d a. T ra ta m e n to c ir ú r g ic o da h érn ia u m b i lic a l em bovinos. T écn ica da im b ric a ç ã o la tera l co m re fo rç o de m a lh a de p o lip ro p ile n o . Rev. Fac. Med. vet. Zootcc. Univ. S. Paulo, 1 3 (2 ) :339-4S, 1976.
Re s u m o: São estudados em n ove a nim a is p e rte n ce n te s à raça holandesa, técn ica op e ra tó ria para co rreçã o da h é rn ia u m b ilic a l.
E m pregam para oclu são do a n el h e rn iá rio , p o n to s separados em “ V ” ( técn ica da im b ric a ç ã o la te ra l) co m f i o de p o lip ro p ile n o n » 2. R ea liza m , em seguida, re fo rço da su tu ra m e d ia n te a plica çã o sobre a ba inha dos m ú scu los retos, de m alha de p o lip ro p ile n o qu e é su tu rada p o r m e io de p o n to s separados sim ples co m f io d o m esm o m a teria l.
O b te m resultados sa tisfa tórios em todos anim ais operados q u e m o stra ra m r e cu pera çã o co m p le ta , sem o c o rrê n cia de alterações m acroscópicas. E m u m dos
a nim a is rea liza m , decorrid os 110 dias, exam e h is to p a to ló g ic o d o te c id o que en volve a m a lh a de p o lip ro p ile n o o q u e reve lou a presença de discreta reação in fla m a tó ria crô n ica .
Un i t e r m o s: H érn ia u m b ilic a l* ; Im b ric a ç ã o la te r a l* ; M a lh a de p r o lip r o p ile - n o * ; B ovinos.
* Professor A ssistente D outor. • * A u x ilia r de Ensino.
D epa rta m en to de C iru rgia e O b stetrícia da Facu ldade de M ed icin a V e te rin ária e Zootecn ia da USP.
* * * D ire tor d o S erviço de M ed icin a V e te rin á ria e Pesquisa.
D ivisã o E xp erim ental do In s titu to d o C oração da F a cu lda de de M ed icin a da USP. * * * * A u x ilia r de Ensino.
D ep a rta m en to de P a tologia e C lín ic a M éd ica da Facu ldade de M ed icin a V e te rin ária e Z o otecn ia da USP.
• * * • P esqu isador C ie n tífic o .
INTRODUÇÃO E LIT E R A T U R A
A hérnia umbilical dos bovinos, em bora incluida entre as anomalias de origem hereditária, conform e afirm am G ILM A N e S T R IN G A M 6 (1953) pode, com frequência, apresentar uma causa adquirida responsável pela sua instala ção. Ds acordo com esta possibilidade manifesta-se W H E A T 'r> (1952) que con
sidera a infecção de cordão umbilical a
principal causadora do processo em
apreço.
Muito se tem discutido sobre as vantagens e desvantagens do tratamen to desta afecção. Para B O U C H A E R T 2 (1948), o animal sendo um ser vivo, im.
põ-se tratamento cirúrgico adequado,
muito embora considere a hérnia umbi lical um problem a genético. Pelo mes mo m otivo D A N K S 3 (1953) admite que os animais que apresentem reparação satisfatória podem ser aproveitados nas
produções zootécnicas, sem contudo,
serem destinados à reprodução.
O tratamento da afecção em estudo se caracteriza pela oclusão cicatricial das margens do anel herniário realizada me diante emprego de diferentes técnicas.
Conforme podemos observar W H E A T 15 (1952) e LARSEN 9 (1955) preconizam o uso de fios metálicos na aproximação das margens do anel, enquanto que os demais autores dão preferência aos fios não metálicos. Assim verificam os que FARQUHARSON 4 (1942), Barker i (1953) citado por M A TER A e S TO PIG LIA lo (1958) mostram-se adeptos do uso de fios absorvíveis e M IL N E e H O R N E Y n (1954), M ATER A e S TO PIG LIA 10 (1958)
e F R A N K 5 (1959) preferem o emprego
de fios inabsorvíveis.
A técnica que prom ove a sobreposi ção das margens do anel (imbricação lateral), parece ser a que melhores re sultados proporciona segundo os traba- lhos apresentados por FARQUHARSON 1
(1942), W H E A T >3 (1952), LARSEN 9
(1955), M ATER A e S TO PIG LIA 10 (1958) e F R A N K 5 (1959).
Entretanto, outras técnicas operató rias para tratamento da hérnia umbili cal dos bovinos são estudadas por pes quisadores que usam processos que se caracterizam por prom overem reforço da parede abdominal mediante aplicação de sutura na bainha dos músculos retos conform e sugere W R IG H T >" (1951) ou com a adaptação sobre essa mesma bainha de substância sintética em form a de placa ou malha de acordo com as propostas de D A N K S 3 (1953), PAATSA- MA>2 (1954), U S H E R 11 (1958), KO N TZ
e K IM B E R L Y 8 (1960), K N IG H T e
BROW N 7 (1968), ZIM M E R M A N N 17
(1968) e P H I L I P '3 (1973).
Face aos resultados relatados por estes autores, resolvemos empregar a técnica.
Não pretendemos, evidentemente, apre sentar um processo novo de tratamento da hérnia umbilical. O objetivo princi pal deste trabalho é divulgar os resul tados obtidos com o emprego de técnica executada com aplicação de sutura em pontos separados em “ U ” com sobre posição das margens do anel herniário e reforço com polipropileno em form a de malha entrelaçada sobre a bainha dos músculos retos.
M A T E R IA L E MÉTODO
Do presente trabalho constam 9
animais da espécie bovina, 6 fêmeas (n.° 1, 2, 3, 4, 8 e 9) e 3 machos (n.° 5, 6 e 7), raça holandesa, portadores de hérnia umbilical que foram encaminhados ao Serviço de Clínica Cirúrgica do Depar tamento de Cirurgia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo.
Os animais de números 3, 4, 5, 6 e 7 não haviam sido submetidos a tratamen to cirúrgico anterior. Todavia, o animal
de número 8 havia sido operado uma vez;
o de número 1, duas vezes; o de núme ro 2, três vezes enquanto que o de núme ro 9, além da hérnia umbilical apresen tava fístula gástrica consequente a inci são praticada sobre a formação.
Após os cuidados pré-operatórios usuais, os animais foram submetidos a anestesia local por filtração com solu ção a 2°/o de cloridrato de dietilamino 2,6 — dimetil acetanilida* posteriorm en te a administração intramuscular de clo ridrato de xilazina** na dose aproximada de 20mg/100Kg de peso corporal.
As intervenções cirúrgicas foram
praticadas mediante aplicação do p ro cesso de imbricação lateral, que em todos os casos obedeceu a técnica ope ratória que a seguir expomos:
1.°) tempo — exposição do saco her- niário — realizado de acordo com a téc nica descrita p o r M A TE R A e STOPI- G LIA 10 (1958).
2.°) tempo — tratamento do saco herniário — realizado de acordo com a técnica descrita por M A TER A e STOPI- G L IA io (1958).
3.° tempo — fechamento do anel herniário e reconstituição dos planos. O fechamento do anel herniário fo i reali zado com superposição das bordas me diante aplicação de pontos separados em “ U ” com auxílio de fio n.° 2 de poli- propileno***. A seguir, substituímos a su
tura continua em serzidura aplicada à aponevrose dos músculos retos, con for
me descrevem W R IG H T 16 (1951) e M A
TER A e S TO PIG LIA 10 (1958), pela adap tação de malha entrelaçada de polipro-
pileno**** recobrindo os pontos que
obliteram o orifício e fixada a aponevro se dos músculos com auxílio de pontos
separados simples com fio de polipropi- leno aplicados nas bordas e no centro da malha.
Finalmente, efetuamos a reconstitui ção anatômica do tecido cutâneo sutu- rando-o em pontos separados de Donati com fio de algodão (Cordonet).
N o pós operatórios foram observa dos os cuidados higiênicos e dietéticos habituais. Todos os animais receberam durante 3 dias consecutivos l,0g de ampi- cilina benzatina*****.A sutura da pele fo i extraida decorridos, de modo geral, 10 dias.
O animal de número 1 fo i submeti do 110 dias após a herniorrafia, a nova intervenção cirúrgica com a finalidade do se retirar fragmento do tecido que en volve a malha e destinado para exame histopatológico.
R E S U L T A D O S
Com a conduta descrita no capítulo anterior observamos, sem complicações, a recuperação de todos os animais tra tados.
Os animais de números 2 e 9, no transcurso do pós operatório imediato, apresentaram discreto aumento de volu m e de consistência flutuante na região umbilical, cuja punção revelou nas duas oportunidades, presença de líquido de aspecto serosanguinolento drenado con venientemente em ambas as ocasiões.
Não observamos reações tissulares macroscópicas em qualquer dos casos operados; a malha, no caso que pudemos verificar, se apresentou incorporada à parede e envolvida por tecido liso e bri lhante.
• X Y L O C A IN A 2% — A stra do B rasil P rod u tos F a rm acêu ticos L td a.
* * R O M P U N — Bayer do B rasil In d ú stria s Q u ím icas S.A. — D ep a rta m en to V eterin ário. * * * 2 P R O LE N E . C u ttin g L R N eed le — E th icon Inc., S om m erville.
• * * * P R O L E N E M ESH — g t h ic o n Inc., Som m erville. * » » • SO M A 1000 — A N ovaqu ím ica, Lab oratórios S.A.
Microscopicamente, o tecido que envolve a malha de polipropileno, reva iou, decorridos 110 dias de sua implanta ção, presença de processo inflam atório crônico caracterizado pela presença de tecido conjuntivo reacional hianilizado
com reação inflamatória, numerosos
vasos neoformados e discreta invasão linfoplasmocitária.
D I S C U S S Ã O
Na técnica operatória empregada
observamos que a aproximação das mar gens do anel herniário fo i realizada com aplicação de pontos separados semelhan tes aos descritos por FA R Q U H A R S O N 4
(1942), W H E A T 15 (1952), LARSEN19
(1955), M A TER A e S TO PIG LIA "> (1958) e F R A N K 5 (1959) que perm item a super posição das bordas e fecham ento da porta herniária.
N o que se relaciona ao fio em pre gado para a oclusão do o rifício da hérnia
utilizamos o polipropileno, contraria
mente ao que preconizam W H E A T '5 (1952) e LA RSEN 9 (1955), adeptos do uso de fios metálicos ou FARQUHAR SON-1 (1942), Barker 1 (1953) citado por M A TER A e S T O P IG LIA "> (1958), MIL-
N E e H O R N E Y H (1954), M A TER A e
S TO PIG LIA 10 (1958) e F R A N K 5 (1959) que se manifestam favoráveis a utiliza ção de fios não metálicos, sejam eles, absorvíveis ou não.
No material de nossas observações adotamos modificação de técnica que
possibilitou a substituição da sutura de
reforço da bainha dos músculos
retos conforme técnica descrita por
W R IG H T 16 (1951) e M A TER A e STO PI
G LIA 10 (1958), mediante fixação de ma
lha da polipropileno sobre as margens herniárias sobrepostas.
Segundo pudemos notar, para corre
ção cirúrgica da hérnia umbilical,
D A N K S :t (1953), P A A T S A M A (1954),
U SH ER 14 (1958), K O N TZ e K IM B E R
L Y 8 (1960), K N IG H T e BROW N 7 (1968),
Z IM M E R M A N N 17 (1968) e P H IL IP 1*
(1973) empregam técnicas que, mediante
aplicação de substâncias em form a
de placa ou malha, proporcionam maior resistência da parede abdominal.
Nossos casos constam de 9 animais
dos quais três (n.°s 1, 2 e 8), haviam
sido operados anteriormente e apresen taram recidiva dos processos com con sequente aumento de dimensões do anel herniário. O animal número 9 fo i en caminhado ao Serviço de Clínica Cirúr gica após tentativa de tratamento da form ação da região umbilical por meio
de incisão evacuante e apresentava,
com o evolução, presença de fístula gás trica.
Com a modificação proposta, todos os animais foram tratados cirurgica mente e a evolução pós operatória de correu sem complicações proporcionan do o restabelecimento completo da in tegridade da parede abdominal.
Figura 1 — Anima! portador de hérnia umbilical.
Figura 2 — Fotografia mostrando o fechamento com superposição das margens do
anel hem iário e a malha de polipropileno a ser fixada.
Figura 3 — Malha de polipropileno fixada à bainha dos músculos retos por meio de pontos separados simples.
Figura 4 — Aspecto que mostra, decorridos 110 dias, a malha incorporada à pare de muscular.
Figura 5 — Aspecto de um dos animais após a intervenção cirúrgica.
R F M V -A / 2 5
Ma t e r a. A .: Mo r a e s Ba r r o s. P . S .; Ag u i a r. C . A .: Ra x d i, r. E .: St o p i c i.i a, a. J .; N u r m b e r g e r , R..; F o g l i d a S i l v e i r a , W . S u rg ica l re p a ir o f th e u m b ilic a l h ern ia in bovine. L a te ra l o v e rla p p in g te c h n iq u e w ith a p o ly p rop y len e m esh. Rev. Fac. \lcd. vet. Zoolec. lln iv . S. Paulo, 1 3 (2 ) :339-46, 1976.
S u m m a r y : T h e a u th ors stu d y in 9 a nim a ls o f th e b ovin e species, H ols te in Friesian, th e su rg ica l te c h n iq u e to c o rre c t th e u m b ilic a l h ernia.
T o o b s tru c t th e h e rn ia l r in g th ey use separate p o in ts in "17" (la te ra l o v e r la p p in g te c h n iq u e ) w ith a th rea d o f p o ly p rop y len e w 2. A fte r th ey re in fo rc e th e su tu re a p p ly in g p o ly p rop y len e m esh o n th e sheet o f rectus m. and th e n s u tu re it u sin g separate p o in ts and th re a d o f th e same m a teria l.
Th ey o b ta in good results in a ll th e opera ted a nim als. T h ey recovered c o m p le tely and th ere were n o m a cro s co p ic a ltera tion s .
A fte r 110 days o f th e p o ly p ro p y le n e a p p lic a tio n s th e re w as a h is to p a to lo g ic exam in on e o f th e a nim als. T h is exam shotoed a li t t le c h ro n ic a l in fla m m a to ry process in th e tissue th a t in v o lv e d th e p o ly p rop y len e m esh.
U n i t e r m s : U m b ilic a l h e rn ia * ; L a te ra l o v e rla p p in g * ; P o ly p ro p y le n e m e s h '; B ovines *.
R E F E R Ê N C IA S B IB L IO G R Á F IC A S
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R eceb id o para p u b lica çã o em 31-8-76 A p rovad o para pub licação em 13-9-76