2005/01/02
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EFLEXÕES PROGRAMÁTICAS PARAAD
EFESA[1]
Grupo Trabalho Reflexão e Defesa (IHD) 1. Enquadramento
- Ambiente de segurançaNão obstante a improbabilidade de ocorrência de conflitos militares na Europa, a estabilidade e paz de que necessitamos para que haja progresso, segurança e bem-estar permanecem vulneráveis ao contínuo deflagrar de crises e conflitos um pouco por todo o Mundo e às recentes ameaças do terrorismo internacional e da proliferação de armamento de destruição
maciça.Não podendo estar imunes a esses focos de insegurança e de incerteza, não resta aos europeus senão procurar contribuir para a sua eficaz e rápida resolução por todos os meios ao seu alcance, nomeadamente, como última instância, através do recurso ao emprego da força militar. Portugal, tendo os mesmos interesses e vivendo num contexto que no essencial não se distingue do acima descrito, não pode deixar de estar activamente presente nos esforços do colectivo de que faz parte.- Realidade nacionalO conjunto de prioridades que Portugal tem em diversas áreas de desenvolvimento tendo em vista alcançar a totalidade das metas de integração europeia, ao nível dos países da linha da frente, não pode deixar de incluir um esforço equivalente no sector da Defesa para recuperar atrasos e insuficiências acumuladas. Esse esforço passa por uma reposição do tecto orçamental para um nível que não deve ser inferior, em termos percentuais do PIB, ao valor médio europeu mas sem esquecer que os problemas com que se debatem presentemente as Forças Armadas não são de natureza exclusivamente financeira.Há todo um conjunto de reformas que é preciso empreender e que são condição sine qua non para a sua transformação numas forças armadas modernas e à altura dos desafios mais prováveis. Aliás, só por essa via é que Portugal poderá conseguir fazer da sua Instituição Militar um centro de excelência assente na nobreza das suas missões, numa ética comportamental exemplar e numa capacidade operacional que ajude e projecte, no País e no estrangeiro, uma imagem de prestígio, de dignidade e de empenho na defesa dos valores da sociedade em que nos queremos manter inseridos.-Cooperação internacional. AliançasPortugal, como aliás qualquer outro país, não pode deixar de enquadrar o seu sistema de defesa em alianças ou estruturas internacionais que lhe garantam as condições de segurança de que precisa e que nunca conseguiria sozinho.Deve, por isso, empenhar-se activamente na manutenção da relevância da NATO e de credibilização da PESD, conciliando a necessidade de ser eficaz no desenvolvimento das capacidades de resposta militar que lhe couber garantir em cada uma dessas vertentes com a observação das suas próprias prioridades.2. Requisitos- Interesse Nacional. Mobilidade e Flexibilidade A protecção do Interesse Nacional, na situação de segurança atrás descrita, muito envolta em incerteza e imprevisibilidade, exige uma estreita cooperação internacional, uma presença activa e empenhada nos fora de que o País faz parte e, em geral, a disponibilidade para actuar simultaneamente em todas as frentes possíveis – política, diplomática, económica, financeira, de justiça e militar.Requer-se, sobretudo, muita coordenação de esforços, a nível interno e externo, e prontidão para actuar rapidamente e de forma flexível onde quer que os nossos interesses possam estar ameaçados. Não se tratando já de dedicar especial atenção à inviolabilidade das fronteiras geográficas de ameaças clássicas – que não se configuram no horizonte – estas novas circunstâncias implicam profundas adaptações no aparelho militar, onde a mobilidade e flexibilidade devem ser factores preponderantes.
-Caracterização das Forças Armadas Dentro de um tecto orçamental, no nível atrás referido, deve ser feita uma aposta clara na qualidade. Esta opção implica sacrificar a dimensão e conjugar essa medida com os planos de reequipamento e de crescimento do orçamento, a definir objectivamente num calendário de médio prazo (10 anos). Em termos operacionais, a configuração a escolher deve reflectir um conceito de defesa que para além das obrigações normais de integrar os objectivos básicos – defesa do território e soberania – siga uma estratégia de actuação preventiva sobre focos de insegurança internacional e das crises que deles decorrem com a intenção de as prevenir, sempre que possível, de as solucionar em curto prazo e de, pelo menos, as limitar ou impedir o seu agravamento. Este objectivo deve ser prosseguido, essencialmente, ao lado de aliados e parceiros e sob a autoridade de uma organização internacional mandatada para o efeito. - Necessidade de articulação de políticas É necessário melhorar a coordenação da política de Defesa Nacional, tanto a nível interno como a nível externo. Internamente, há que dar especial atenção às necessidades de coordenação com as políticas sectoriais da Administração Interna e dos Negócios Estrangeiros, mas os interesses práticos de coordenação estendem-se a várias outras áreas como, por exemplo as da Educação e da Indústria, onde permanecem inexploradas variadas hipóteses de
desenvolvimento de programas de colaboração com Universidades, Institutos de Investigação e Indústria, com benefícios mútuos para ambas as partes. É preciso, em particular, aproveitar os fluxos económicos que os programas de reequipamento podem gerar e tirar partido dos elevados
níveis de exigência da formação de recursos humanos nas Forças Armadas, quer em sentido de responsabilidade e de disciplina quer em qualificações técnicas, o que tem óbvios benefícios para o mercado de trabalho civil. Por outro lado, é necessário tornar atractivas as condições de prestação de serviço nas Forças Armadas oferecendo remunerações, possibilidades de carreira e padrões de vida semelhantes aos da sociedade civil. Finalmente, é também necessário maximizar sinergias, entre os ministérios da Defesa, Educação e Ensino Superior, no incremento da formação para a cidadania, com o objectivo de potenciar o espírito de defesa dos portugueses e de promover uma cultura de segurança e defesa, em especial nos quadros da Nação. Na coordenação com a Administração Interna, é preciso ter presente que a configuração das respostas às principais ameaças e riscos não pode continuar a fazer-se num critério de compartimentação, considerando que uns são exclusivamente problemas de segurança interna – logo só da responsabilidade das forças policiais – e outros são apenas de defesa, portanto, da área de intervenção das Forças Armadas. Em particular, é urgente pôr em funcionamento um Serviço Nacional de Gestão de Crises, tendo em conta as missões das Forças Armadas nesse campo e a revisão das normas jurídicas aplicáveis. Complementarmente, há que atender ao facto de que as Forças Armadas
desempenham, cumulativamente, tarefas de Interesse Público, de que decorrem requisitos específicos de ligação estreita com outras organizações que operam também nas mesmas áreas. Esta necessidade de coordenação deve ser encarada numa perspectiva de optimização da utilização de todos os recursos disponíveis e não apenas na de compatibilização de actividades próximas ou afins. Na articulação com os Negócios Estrangeiros, a utilização das Forças Armadas deve ser considerada como mais um vector de política externa, quer para afirmação do País num contexto internacional quer para a projecção de estabilidade, ao lado de aliados e amigos, na prevenção e contenção de crises e conflitos. Em especial, importa conciliar as obrigações decorrentes da nossa participação na NATO e na UE e de membro empenhadamente activo da ONU, da OSCE e da CPLP, incluindo a cooperação técnico-militar. No caso da NATO e, especialmente no da UE, levantam-se requisitos de integração de políticas que implicam uma coordenação aprofundada do planeamento de Defesa Nacional com necessidades do colectivo, dentro dos compromissos assumidos. É preciso encarar esta obrigação, quer disponibilizando um contributo militar credível para a criação de forças multinacionais, quer procurando harmonizar programas de reequipamento. Importa que o nosso contributo seja concebido em termos de capacidade operacional organizada de raiz e não em termos de atribuição dispersa de diversos meios e de forma a obter a melhor visibilidade e
projecção internacional. 3. Linhas de acção Dentro do enquadramento e lista de requisitos atrás referidos, a acção a desenvolver no sector Defesa pode resumir-se nas seguintes três linhas essenciais de actuação: A. Rever de modo crítico a forma como estamos organizados e como funcionamos, tendo em conta os seguintes objectivos: - Melhorar a eficiência, evitando quer indefinições quer sobreposições de competências, de que resultam dispendiosas e inúteis duplicações de trabalho; - Simplificar a estrutura de topo da organização da Defesa – Governo e Instituição Militar – principalmente ao nível estratégico, onde não se justificam diferentes patamares de decisão. Adequá-la ao actual contexto de segurança, o qual exige contemplar situações de crise, cuja definição e respectivo quadros de intervenção ainda não estão considerados na legislação aplicável. Definir linhas mais claras de autoridade e responsabilidade; - Diminuir custos de funcionamento, pela procura de integração de serviços em soluções conjuntas, principalmente em alguns sectores da área logística e do apoio em geral, e pela racionalização do parque de infra-estruturas. Considerar, paralelamente, o recurso a uma política de contratação de serviços no exterior, em sectores não essencialmente militares, geralmente reconhecida como geradora de poupanças, e aumentar o recurso a funcionários civis, aproximando o rácio militar/civil daquele que se verifica em forças armadas modernas. B. Rever a concepção operacional do Sistema de Forças Nacional (SFN), de acordo com os seguintes parâmetros: - No campo operacional, optar por uma estrutura modular para permitir flexibilidade de utilização. Dar prioridade à mobilidade para garantir capacidade de intervenção rápida, quer em resposta a solicitações de intervenção no exterior, no âmbito de organizações internacionais ou coligações, quer em ambiente autónomo para satisfação de objectivos essencialmente nacionais. - Considerar a sua definição em função dos objectivos que as Forças Armadas devem assegurar, indicando as capacidades militares que cabe às Forças Armadas globalmente garantir e identificando, subsequentemente, os contributos de cada Ramo para esses fins. Deve, portanto, adoptar-se uma perspectiva de forças armadas conjuntas,
implicando que as respectivas capacidades têm de passar a ser concebidas de raiz, de uma forma global, e não apenas pela junção dos meios de cada ramo;- No campo do investimento, assegurar que o SFN constitui a matriz de desenvolvimento da Lei de Programação Militar e não apenas uma simples listagem do que existe. Complementarmente, garantir articulação dos critérios de
investimento com os de desinvestimento, em função de situações de obsolescência logística ou operacional. Sem prejuízo do recentemente iniciado esforço de reequipamento, assegurar que a definição do SFN inclui uma visão alargada no tempo das necessidades das Forças Armadas em plataformas, equipamentos e material em geral, sem o que não será possível conseguir uma programação uniforme, evitando picos de investimento, difíceis de coordenar com prioridades noutras áreas. C. Rever a forma como é canalizado o esforço financeiro do Estado para o sector da
Defesa: - Definir um modelo de estrutura para o orçamento de defesa, considerando, por um lado, a elevação do seu tecto nos termos atrás definidos e, por outro lado, a necessidade de corrigir a sua actual distorção devido ao excessivo peso relativo dos encargos com pessoal; - Estabelecer um calendário e metas objectivas de progressão nesse sentido, tendo em conta que a manutenção da presente situação se afasta cada vez mais da forma aconselhada de gerir os recursos atribuídos, tornando-se crescentemente insustentável.4. Objectivo operacional específicoPara concretização no período da próxima legislatura, deverá ser dada prioridade à criação de uma força tarefa, cuja componente terrestre deve ter dimensão e configuração idênticas às dos battle groups recém criados na UE, incluindo, portanto, a totalidade dos serviços de apoio de combate e de apoio geral previstos. As componentes naval e aérea devem assegurar capacidade de inserção por via marítima e por via aérea, as demais acções operacionais e os apoios logísticos necessários para uma intervenção sustentada de forma autónoma. Este objectivo deve ser compatível e coordenado com os assumidos para participação na NATO Response Force, adoptando os respectivos critérios de certificação. Subscritores do trabalho:Vice-Almirante Alexandre Reis RodriguesTenente-General António Eduardo Mateus da SilvaEngenheiro Carlos Manuel Teixeira Pimenta AraújoDr. José Emílio Amaral GomesDr. Luís Eduardo da Silva BarbosaMajor-General Mário Lemes PiresGeneral Narciso Mendes Dias[1]Trabalho preparado pelo Grupo de Reflexão Segurança e Defesa do Instituto de Humanismo e Desenvolvimento e divulgado pelo Instituto a 28 de Dezembro de 2004. Trata-se de um conjunto de ideias síntese fundamentado nos relatórios produzidos anteriormente pelo Grupo de Reflexão (Contributos para uma Política de Segurança e Defesa de Junho de 2002 e Contributo para a Definição de um Sistema de Forças Nacional de Fevereiro de 2004), que se considerou oportuno elaborar tendo em conta a actual fase da nossa vida política, em que os Partidos preparam os seus programas eleitorais.
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ELACIONADOS:
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