• Nenhum resultado encontrado

5 Considerações finais e perspectivas futuras

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "5 Considerações finais e perspectivas futuras"

Copied!
7
0
0

Texto

(1)

Esse estudo foi motivado pela idéia de compreender melhor o perfil comportamental de empreendedores, que, mesmo já tendo realizado empreendimentos de sucesso, continuam – de forma recorrente - a abrir novos negócios, os chamados empreendedores em série. Em função da complexidade e amplitude do tema, foram desenvolvidos objetivos intermediários que ajudassem a dar sustentação e embasamento à resposta à questão formulada.

O primeiro passo na busca dessa resposta foi a realização de estudos acerca da temática do Empreendedor e do Empreendedorismo, apresentando suas definições e um breve histórico. O que se observou nessa etapa foi que há grande dificuldade de se definir o que é empreendedorismo. Existem muitas definições que se complementam, mas nenhuma é superior ou definitiva. Cada uma delas explica o fenômeno a partir de perspectivas distintas e não excludentes. Do mesmo modo e pelo mesmo motivo, compreender quem é o empreendedor ainda é muito complicado. O que a pesquisa mostrou são que existem características psicológicas e comportamentais que parecem caracterizar o empreendedor: realizadores, geradores de mudanças, exploradores de oportunidades, criativos, visionários e são pessoas que assumem riscos controlados. Todas as definições têm em comum o fato do empreendedor ser a pessoa que transforma a realidade do negócio, criando oportunidades, implementando mudanças, criando diferencial competitivo sustentável com um risco controlado.

O passo seguinte foi identificar e discutir quem é o empreendedor em série. O que se constatou através de todo o referencial estudado é que as características do empreendedor serial em pouco diferem das definições dadas ao empreendedor de uma forma geral. O que parece é que o emprendedor em série nada mais é do que um empreendedor ao quadrado, ou seja, tem as mesmas atitudes que o chamado empreendedor, mas que faz isso de forma mais acentuada e repetitiva.

PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1112879/CA

(2)

O terceiro passo, então, foi caracterizar as diferentes teorias motivacionais e as suas ligações com a temática do empreendedorismo. Nesse momento, estudou-se três diferentes teorias de motivação que, de alguma forma, pudesestudou-sem dar conta de explicar as razões que levam um indivíduo a empreender e, nesse caso, empreender de forma recorrente. As teorias analisadas foram a teoria das necessidades adquiridas de McClelland, a teoria da expectativa de Vroom e a teoria do estabelecimento de metas do Locke. Para McClelland, os indivíduos agem em função de suas necessidades, ou seja, valores que guiam e impulsionam o seu modo de ser. Para Vroom, a força individual para agir, empreender e iniciar um negócio vem em função da expectativa de que a ação trará um determinado resultado e esse resultado trará uma recompensa valiosa para o indivíduo. Já para Locke o empreendedorismo ocorre em decorrência de uma meta que se torna guia da ação do empreendedor.

Ainda, a fim de compreender o empreendedor, foram apresentados e discutidos diversos aspectos da personalidade empreendedora, inclusive, sua origem. Nessa etapa, do mesmo modo que nos pontos anteriores, não houve unanimidade. Varias questões foram levantadas e acabaram por gerar em mim muita reflexão e desejo de futuras pesquisas para aprofundar no tema.

Consolidada a parte do referencial teórico, seguiu-se para a parte de campo, onde, de forma a contribuir para o avanço do conhecimento na área, se desenvolveu uma pesquisa qualitativa e de cunho exploratório, com objetivo de captar a percepção dos empreendedores em relação às motivações e fatores que os influenciaram a empreender, de forma geral, e a empreender em série, de forma mais específica. Nessa etapa, procurou-se, ainda, identificar quais os fatores, na opinião desses indivíduos, facilitaram ou dificultaram o processo de iniciar um novo empreendimento.

Foram realizadas entrevistas com empreendedores de diferentes setores que atuam na cidade do Rio de Janeiro, de modo que a seleção dos entrevistados tentou compreender entre seus entrevistados, empreendedores com características variadas para que as constatações reflitam a realidade. A técnica de coleta de dados utilizada para a construção do corpus de pesquisa foi a entrevista em profundidade. Esse tipo de entrevista ajuda na percepção do mundo social das pessoas, permitindo um entendimento da realidade do entrevistado e é o ponto de partida para mapear e compreender o mundo dos respondentes e fornecer os dados

PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1112879/CA

(3)

básicos para o desenvolvimento e compreensão detalhada das relações entre os empreendedores e seus empreendimentos.

E como forma de possibilitar o melhor entendimento sobre os razões que levaram esses indivíduos a empreender, foi feita a sistematização dos resultados, a partir das respostas obtidas, em sete categorias. Por fim, os resultados alcançados permitem algumas considerações iniciais relevantes sobre o tema.

O primeiro ponto que chamou atenção foi o fato de todos os empreendedores possuírem alguém em quem se espelhar e que usa esse modelo como referência para ação, seja por esse “herói” representar um ideal a ser atingido ou por ele ter realizado algo admirado pelo empreendedor. Contudo, mesmo tendo esses modelos de referência, nenhum deles considera que tenha sido motivado a agir em função deles. O que acontece, na verdade, é que esses modelos servem, para esses empreendedores, como inspiração, seja porque este modelo tem algo diferente e que o entrevistado admira e gostaria de ter, ou, seja porque este modelo, aos olhos do empreendedor, compartilha os mesmos valores ou possui características que o entrevistado acredita serem positivas para ser um grande empreendedor ou, simplesmente, para ser mais feliz.

Ainda com relação ao modelo e às referências, o que se nota é que a família, apesar de ter sido citada como fonte de inspiração para vários entrevistados, não parece ser um grande motivador para o processo empreendedor. O que foi destacado pelos entrevistados é que esse é um processo interno de cada um e, na maioria dos casos, a família não interfere diretamente. Fato reforçado, quando se verifica que muitos dos entrevistados não receberam um estímulo efetivo, uma vez que, em muitos casos, ocorria muito receio e medo dos riscos inerentes da empreitada

O estudo também mostrou que a maioria dos entrevistados considera importante interagir com seus modelos como forma de aprendizado e crescimento. Todos acreditam que esses modelos agregam valor e conhecimento para suas vidas e/ou os seus empreendimentos. Mas, apesar dessa evidente importância da interação, a necessidade de afiliação não se mostrou um elemento motivador para o empreendedorismo. A interação social e os relacionamentos são facilitadores do processo de empreender, mas nunca a causa.

PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1112879/CA

(4)

Como afirma McClelland (1967), necessidade de poder, geralmente, não é a razão que leva o empreendedor a agir. Eles usam e sentem a questão do controle apenas como um mecanismo de ação que o auxilia na forma de empreender e gerir o empreendimento. Sendo assim, poder e controle não parecem ser fatores que promovem a ação empreendedora. O que os dados sugerem é que eles são aspectos que surgem, ao longo do processo, como um meio, utilizado por alguns, para viabilizar o negócio e diminuir a incerteza.

Em consonância com os estudos de McClelland (1967), Realização como motivação é um fator relevante e forte. É ela que traz sentido e garante a importância de qualquer projeto. A forma de realizar pode variar em função da personalidade, da história e da função que o empreendedor exerce. Mesmo esses empreendedores categorizados na presente pesquisa como seriais, apresentam variações em função do tamanho do “bicho empreendedor” que está dentro dele.

O desafio como motivação, como coloca Locke (1968), é um fator importante para a construção de um novo negócio. Alguns entrevistados destacaram que gostam de novos desafios. Eles salientam que têm enorme prazer em desvendarem o desconhecido, descobrirem e aventurarem-se ao novo, criando e trilhando caminhos ainda não percorridos.

Contudo, diferente do que argumenta Locke (1968), a meta não se mostrou um fator motivacional para o empreendedorismo. Ter um alvo, um ponto para aonde se dirigir é importante para esses empreendedores, entretanto, esse não é o motivo para a ação - não é o porquê, é o como. Para a maioria dos entrevistados, o desafio e a meta são guias que orientam as ações e não o motivo pelo qual o empreendedor resolve empreender. É uma ferramenta que mobiliza o empreendedor a agir. É a cenoura que atrai o coelho e o faz correr. É o que valoriza a conquista.

Através das entrevistas, ficou evidente que não há um método, uma fórmula para atingir objetivos ou um modelo de como se construir o caminho. Na maioria das vezes, a construção aconteceu de modo mais intuitivo, natural, sem a existência de planos de ações fixos. Foi uma ação elaborada ao longo do processo.

PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1112879/CA

(5)

Outro aspecto que vale ressaltar, é que, eventualmente, fracassar, falir ou passar por uma grande crise, não paralisa esses empreendedores. Pelo contrário, eles encararam essas derrotas temporárias como aprendizado e como estímulo para um novo caminho, evidenciando uma grande capacidade de superação. Para alguns entrevistados, inclusive, é a falta, a escassez e os obstáculos que dela derivam que fazem o empreendedor caminhar.

A liberdade, a necessidade de autonomia e independência foi destacada como uma razão relevante na escolha pelo caminho do empreendedorismo. Para a maioria dos entrevistados essa é a maneira de ter as rédeas do seu destino em seu poder. Escolher a própria direção e ter maior controle sobre seu tempo é um fator que é muito levado em conta na escolha por empreender.

A questão referente a sucesso mostrou que esse ponto é complexo, uma vez que cada um entende sucesso de uma maneira peculiar, dando uma grande amplitude para o seu significado. Para a maioria dos entrevistados sucesso é muito mais do que obter resultados positivos nos negócios. É um sentimento muito amplo e envolve a vida como um todo. É algo muito mais emocional do que racional, que envolve atributos intangíveis e pouco mensuráveis.

Destaca-se que a questão a respeito do que é sucesso gerou bastante desconforto. Todos os entrevistados ao ouvirem a questão, mostraram incomodo com a palavra sucesso. Inclusive, nesse sentido, alguns acabaram substituindo a palavra sucesso por algo que eles consideram que é o símbolo, a essência e o significado geral dessa palavra: prestígio, realização e reconhecimento. Um, inclusive, destacou que isso pode ser uma armadilha, uma vez que o sucesso não é algo eterno, mas sim construído ao longo da vida.

Outro ponto que merece destaque é a forma como o dinheiro é visto. Talvez por se tratar de uma pesquisa com empreendedores realizados e com empreendimentos de sucesso, o dinheiro não parece ser um motivador para esses empreendedores. Como o afirmou um dos entrevistados “dinheiro só importa até o momento em que você já tem o suficiente para poder parar de fazer coisas por causa dele”. E como no caso desses entrevistados dinheiro não se configura como uma falta, dinheiro não é a mola propulsora da ação. Para esses empreendedores dinheiro é um meio, nunca um fim. Vale ressaltar que isso não diminui o reconhecimento sobre a importância do dinheiro que abre portas, amplia o leque

PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1112879/CA

(6)

de possibilidades e, ainda faz com que seja possível aproveitar muito mais as oportunidades.

Apesar de não ser o foco da pesquisa, a questão do dinheiro trouxe ainda mais um ponto para reflexão: apesar de dinheiro não ser reconhecido como fator motivacional, ele é referenciado por muitos ao destacar como herói Jorge Paulo Lemann, que está entre os 100 homens mais ricos do mundo segundo a Revista Forbes, 2012.

Ao buscar compreender a forma como o fenômeno do empreendedorismo era percebido pelos entrevistados, contatou-se que este tema, realmente, é muito abrangente, apresentando uma diversidade de ângulos e formas de se avaliar o ato de empreender. Para esses empreendedores, empreendedorismo é um fenômeno que ocorre quando o indivíduo age proativa e visionariamente, por não aceitar uma situação, buscando criar um meio inovador de superar desafios, aventurando-se e arriscando-aventurando-se para transformar a realidade e concretizar sua visão a partir das pessoas e do compartilhamento dos sonhos. Isso é empreender.

Quanto à questão do empreendedorismo serial houve muitas divergências e mesmo depois de explicado o conceito, as opiniões variavam. No entanto, ao serem questionados sobre o que eles acham dessa dinâmica de abrir novos negócios, a maioria disse que gostava e que este era seu modo de ser. Alguns deles também destacaram que não há grandes diferenças entre o empreendedor e o empreendedor serial, salientando que empreender é um modo de ser, seja em um ou mais negócios.

Um ponto interessante que se tornou evidente no discurso dos empreendedores é a questão autoestima elevada. Todos apresentavam elementos discursivos nos quais a questão da autoconfiança e da certeza tornaram-se notórios.

Nesse sentido, uma sugestão para estudos futuros é o aprofundamento nas questões da personalidade empreendedora como forma de compreender se é possível criar aprendizado dessas características.

Outro ponto que também deve ser investigado mais intensamente é sobre a forma de atuação do empreendedor. O que esse estudo mostrou é que existem dois tipos de empreendedores: os empreendedores criadores aventureiros - que têm enorme prazer em se aventurar, criando e trilhando caminhos desconhecidos ainda não percorridos. E os empreenderes de execução - que gostam mais de fazer o

PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1112879/CA

(7)

negócio caminhar do que criar novidades. Será que eles podem ser tratados e estudados da mesma maneira?

Enfim, por tudo que foi visto até aqui, percebe-se que não há apenas uma teoria motivacional válida, capaz de explicar inteiramente o que motiva o indivíduo e como esse processo ocorre, nem apenas um aspecto psicológico que leva o indivíduo a empreender. As coisas seriam muito simples se só uma teoria motivacional e/ou só um fator explicasse todo o processo empreendedor. O que de fato ocorre é que cada aspecto conhecido e explicado acrescenta mais informações e conhecimentos a respeito do empreendedorismo. Tudo se complementa. O desafio foi, e continua sendo, juntar todo esse conhecimento para tentar entender seu inter-relacionamento e compreender o que leva o indivíduo a agir, visualizando uma parte maior do quadro complexo que compõe todo fenômeno que envolve pessoas.

É importante ressaltar que este trabalho é de cunho exploratório e, como tal, apenas levantou questões para estudos e não pode ser generalizado para todo e qualquer tipo de empreendedor. Entretanto, cabe ressaltar que as idéias aqui levantadas podem servir como um incentivo para maior conhecimento sobre a questão do empreendedorismo.

Enfim, como o presente trabalho levantou variados achados, parece pertinente recomendar que estudos complementares sejam desenvolvidos. Ainda utilizando a metodologia qualitativa, sugere-se que se investigue mais uma vez as motivações empreendedoras, porém, com a seleção de entrevistados com perfis geodemográficos diferentes. Tal trabalho incitaria uma valiosa comparação entre resultados, possibilitando a verificação do impacto dos novos resultados na análise. Ainda sob a concepção da metodologia qualitativa, sugere-se que outras questões sejam abordadas, tais quais: o empreendedorismo e a juventude; a família como pilar de segurança para ação empreendedora; a existência de dois tipos de empreendedores: os empreendedores criadores aventureiros versus empreenderes de execução; a personalidade empreendedora; e, a questão do sucesso e do dinheiro no Brasil, fundamentais para o entendimento do empreendedorismo em série e ainda bem pouco explorados pelas pesquisas.

PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1112879/CA

Referências

Documentos relacionados

O enfermeiro, como integrante da equipe multidisciplinar em saúde, possui respaldo ético legal e técnico cientifico para atuar junto ao paciente portador de feridas, da avaliação

*-XXXX-(sobrenome) *-XXXX-MARTINEZ Sobrenome feito por qualquer sucursal a que se tenha acesso.. Uma reserva cancelada ainda possuirá os dados do cliente, porém, não terá

O Museu Digital dos Ex-votos, projeto acadêmico que objetiva apresentar os ex- votos do Brasil, não terá, evidentemente, a mesma dinâmica da sala de milagres, mas em

nhece a pretensão de Aristóteles de que haja uma ligação direta entre o dictum de omni et nullo e a validade dos silogismos perfeitos, mas a julga improcedente. Um dos

Equipamentos de emergência imediatamente acessíveis, com instruções de utilização. Assegurar-se que os lava- olhos e os chuveiros de segurança estejam próximos ao local de

A Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis, por intermédio da Divisão Multidisciplinar de Assistência ao Estudante (DIMAE/PROAES) torna público o lançamento do presente edital

Tal será possível através do fornecimento de evidências de que a relação entre educação inclusiva e inclusão social é pertinente para a qualidade dos recursos de

Tratando-se de uma revisão de literatura, o presente trabalho utilizou-se das principais publicações sobre as modificações de parâmetros técnicos observados em corredores,