Tribunal de Justiça do Estado de Goiás
Gabinete do Desembargador Leandro Crispim
C O R T E E S P E C I A L
RECURSO ADMINISTRATIVO N. 144559-10.2012.8.
09.0000 (201291445595)
COMARCA DE ANÁPOLIS
RECORRENTE
MIRON MARCOS RAMOS
RECORRIDO
PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS
RELATOR
DESEMBARGADOR LEANDRO CRISPIM
R E L A T Ó R I O
Cuida-se de recurso administrativo interposto por Miron Marcos Ramos contra o acórdão de f. 226/237, da lavra da Desembargadora Beatriz
Figueiredo Franco – Redatora - integrante do
Conselho Superior da Magistratura.
O ato judicial colegiado conheceu do recurso administrativo e negou-lhe provimento. De consequência, manteve a decisão do Juiz de Direito e Diretor do Foro da Comarca de Anápolis, que afastou o recorrente da respondência do Cartório de Registro de Imóveis da 2ª Circunscrição dessa unidade judiciária pelo cometimento de falta funcional grave.
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Nas razões recursais, o recorrente aponta a incompetência do magistrado de primeiro grau em afastá-lo das funções de respondência do Cartório de Registro de Imóveis da 2ª Circunscrição da Comarca de Anápolis.
Destaca que a competência originária é do Conselho Superior da Magistratura para decidir a questão acerca da perda da sua “delegação”.
De outro lado, enfoca que a perda da sua delegação fere os princípios norteadores da aplicação das sanções disciplinares.
Pondera que o fato de estar exercendo a delegação a título precário “não lhe diminui o direito de um tratamento justo”.
Por fim, pede a conversão da sanção aplicada em “suspensão disciplinar por 90 dias”.
Resumidamente relatado.
PASSO AO VOTO.
Insurge-se Miron Marcos Ramos contra o acórdão de f. 226/237.
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A decisão colegiada negou provimento ao recurso administrativo interposto por si e manteve a do Juiz de Direito e Diretor do Foro da Comarca de Anápolis (f. 226/237). Esse magistrado julgou procedente o processo administrativo disciplinar e, de consequência, afastou, definitivamente, o recorrente da 'respondência' do Cartório de Registro de Imóveis da 2ª Circunscrição dessa unidade judiciária pelo cometimento de falta funcional grave (f. 65/84).
Sem censura o acórdão recorrido.
Não procede a alegação do recorrente de incompetência do magistrado de primeiro grau em afastá-lo das funções de 'respondência' da aludida serventia extrajudicial.
É inquestionável que Miron Marcos
Ramos/recorrente não é titular do Cartório de
Registro de Imóveis da 2ª Circunscrição Judiciária da Comarca de Anápolis. Exerce, apenas, a função de 'respondência'. Portanto, a título precário.
Daí, o recorrente não está afeto à Lei dos Notários e Registradores (Lei Federal n. 8.935/94). E, sequer, é considerado funcionário público na acepção dada pela Lei 10.460/88. Sujeita-se, no entanto, aos deveres impostos aos titulares de delegação.
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Sobre o assunto, a jurisprudência:
“PROCEDIMENTO DE CONTROLE ADMINISTRATIVO. RECURSO ADMINISTRATIVO. PROCEDIMENTO DE CONTROLE ADMINISTRATIVO. SERVENTIA EXTRAJUDICIAL. DESIGNAÇÃO PRECÁRIA. VAGA OFERECIDA PARA REMOÇÃO. INEXISTÊNCIA DE DIREITO SUBJETIVO À PERMANÊNCIA. Designação para responder pela titularidade de cartório extrajudicial constitui ato administrativo de investidura precária que não garante direito subjetivo à permanência da serventia Recurso desprovido” (STJ - 1ª Turma. RMS 31134/PR, Rel. Min. Arnaldo Esteves de Lima, DJe de 1º/10/2010).
“ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. CONSTATADA A IRREGULARIDADE NA GESTÃO DA SERVENTIA EXTRAJUDICIAL (CARTÓRIO). COBRANÇA EXCESSIVA DE EMOLUMENTOS. EXISTÊNCIA DE PROCESSOS ADMINISTRATIVOS ANTERIORES ORIGINADOS, TAMBÉM, POR INFRAÇÃO AO TRATO COM O RECOLHIMENTO E A COBRANÇA DE EMOLUMENTOS. REVOGAÇÃO DA INDICAÇÃO DA IMPETRANTE PARA O CARGO DE 'RESPONDENTE' DA SERVENTIA. DIREITO LÍQUIDO E CERTO AO RETORNO DO CARGO NÃO CARACTERIZADO. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA NÃO PROVIDO. (…) 2. É manifesto descabimento a pretensão da recorrente, porquanto inexiste o pretendido direito líquido e certo para o retorno ao cargo que exercia precariamente, estando
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expressamente evidenciado que o ato do Diretor do Foro que revogou a precária ocupação pela impetrante da função de 'respondência' pela serventia cartorária, com apoio nos artigos 31 e 37 da Lei 8.934/94, entendimento ratificado pelo acórdão, é solução que se verifica de inteira a absoluta adequação à espécie” (STJ - 1ª Turma, RMS n. 25243/GO, Rel. Min. José Delgado, DJe de 24/04/2008).
“PROCEDIMENTO DE CONTROLE ADMINISTRATIVO. RECURSO ADMINISTRATIVO. PROCEDIMENTO DE CONTROLE ADMINISTRATIVO. SERVENTIA EXTRAJUDICIAL. DESIGNAÇÃO PRECÁRIA. VAGA OFERECIDA PARA REMOÇÃO. INEXISTÊNCIA DE DIREITO SUBJETIVO À PERMANÊNCIA. Designação para responder pela titularidade de cartório extrajudicial constitui ato administrativo de investidura precária que não garante direito subjetivo à permanência na serventia. RECURSO DESPROVIDO”. (CNJ - PCA 200910000058309, Rel. Cons. Milton Augusto de Brito Nobre, DJe n. 218/2009 de 21/12/2009).
Em sendo assim, a Portaria que designou o recorrente para responder pela aludida serventia extrajudicial é passível de revogação. Restou devidamente comprovado o seu cometimento de falta, por meio de regular procedimento administrativo disciplinar. Situação que desaconselha a sua permanência na função de 'respondência'.
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Conforme restou delineado no acórdão recorrido:
“(...) os argumentos trazidos pelo recorrente não se prestam a elidir a falta cometida, pois não poderia ele, sob qualquer pretexto, cancelar o registro sem a apresentação do distrato contratual, não se prestando para tanto mera correspondência em que o promitente comprador (f. 124) solicita a retirada de boletos de pagamento de banco, anexa planilha de cálculos referentes às prestações pagas e requer o envio do distrato contratual para análise, simplesmente por não veicular inequívoca anuência com o cancelamento unilateral do negócio. Assim procedendo, manifesto que o recorrente infringiu o disposto no art. 31, I, da Lei Federal n. 8.935/94, dispositivo que trata dos deveres dos notários e registradores, frise-se aplicável aos respondentes interinamente designados para a prestação de serviço. Partindo da gravidade da falta, demonstrativa do completo menosprezo pela relevância da função desempenhada, outro caminho não se divisa senão o imediato afastamento do respondente, como procedido pelo magistrado em substituição automática ao Diretor do Foro da Comarca de Anápolis” (f. 231/232).
Com efeito, descabe falar-se em perda da delegação. E sim em revogação do ato que investiu
Miron Marcos Ramos nas funções de 'respondência' do
Cartório de Registro de Imóveis da 2ª Circunscrição Judiciária da Comarca de Anápolis. A autoridade competente para tanto é o Juiz de Direito e Diretor do Foro da aludida Comarca, 'Corregedor natural da Comarca'.
Daí, cai por terra o pleito de conversão da sanção aplicada em “suspensão disciplinar por 90 dias”. Não há
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previsão legal. O recorrente não é titular da serventia, exerce tão somente a aludida função a título precário, ou seja, por meio de 'respondência'.
Ao teor do exposto, conheço do presente
recurso administrativo, mas lhe nego provimento para
manter incólume o acórdão recorrido.
É como voto.
Goiânia, 11 de julho de 2012.
DESEMBARGADOR
LEANDRO CRISPIM
R E L A T O R
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09.0000 (201291445595)
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RECORRENTE
MIRON MARCOS RAMOS
RECORRIDO
PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS
RELATOR
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EMENTA: PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. 'RESPONDENTE' DE SERVENTIA EXTRAJUDICIAL. EXERCÍCIO A TÍTULO PRECÁRIO. COMETIMENTO DE FALTA FUNCIONAL GRAVE. INAPLICABILIDADE DA LEI DOS NOTÁRIOS E REGISTRADORES. SUJEIÇÃO AOS DEVERES IMPOSTOS AOS TITULARES DE DELEGAÇÃO. AFASTAMENTO DEFINITIVO DAS FUNÇÕES DE RESPONDÊNCIA.
Tratando-se de 'respondente' de serventia extrajudicial, função exercida a título precário, e uma vez comprovado o seu cometimento de falta funcional grave, mediante regular processo administrativo,
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impositivo o seu afastamento definitivo, por meio de ato do Juiz de Direito e Diretor do Foro da Comarca. Em tais casos, não se aplicam as prerrogativas da Lei Federal n. 8.935/94 e, sequer, as disposições da Lei Estadual 10.460/88.
RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.
A C Ó R D Ã O
Vistos, oralmente relatados e discutidos os presentes autos de Recurso Administrativo nº
144559-10.2012.8.09.0000 – Protocolo nº 201291445595, da Comarca de Anápolis, figurando como
recorrente Miron Marcos Ramos e como recorrido o
Presidente do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás.
ACORDAM os Componentes da Corte Especial
do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, por votação uniforme, em conhecer do recurso, mas
lhe negar provimento, nos termos do voto do Relator,
exarado na assentada do julgamento e que a este se incorpora.
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Votaram, acompanhando o Relator, o Desembargador Itaney Francisco Campos, a Desembargadora Amélia Martins de Araújo, os Desembargadores Luiz Cláudio Veiga Braga (convocado em substituição ao Desembargador José Lenar de Melo Bandeira), Fausto Moreira Diniz (convocado em substituição ao Desembargador Gilberto Marques Filho), Carlos Alberto França (convocado em substituição ao Desembargador João Waldeck Félix de Sousa,)Amaral Wilson de Oliveira (convocado em substituição ao Desembargador Alan S. de Sena Conceição), e, ainda, o Desembargador Paulo Teles, a Desembargadora Beatriz Figueiredo Franco, os Desembargadores Floriano Gomes, Walter Carlos Lemes,
Kisleu Dias Maciel Filho, Zacarias Neves Coêlho e o
Desembargador Luiz Eduardo de Sousa.
Ausentes, justificadamente, os
Desembargadores Ney Teles de Paula e Rogério Arédio Ferreira.
Presidiu a sessão o Desembargador Leobino
Valente Chaves.
Goiânia, 11 de julho de 2012.
DESEMBARGADOR