T R I B U N A L D E J U S T I Ç A D E G O I A S
HABEAS CORPUS No 2177 1 -1 /21 7(200301 7081 39)
Comarca : GOÂtwa
lmpetrante:
ROBFRIO
SERRÁ
DA SILVA
MAIA
Paciente : MARIA
DE FATTMA
MARTTNS
MALHETROS
h c 2 1 7 7 1 ry p d 5
ACORDAO
E M E N T A . H A B E A S C O R P U S . A Ç A O P E N A L . IN E P C I A D A D E N U N C I A T R A N C A M E N T O . O R D E M C O N C Ê D I D A . S e a d e n ú n c i a n ã o c o n t e m a exposição do fato criminoso, descrevendo com detalhes a conduta do imputado, inclusive sua carga dolosa, com todas as suas circunstâncias, de modo a facultar a ampla defesa e o exercício do contraditorio. e de rigor a declaração de sua inépcia, com o consequente trancamento da ação p e n a l . O r d e m c o n c e d i d a .
A C O R D A M o s c o m p o n e n t e s d a P r i m e i r a C â m a r a C r i m i n a l d o T r i b u n a l d e J u s t i ç a d o E s t a d o d e G o i á s , à u n a n i m i d a d e , d e s a c o l h e n d o o p a r e c e r m i n i s t e r i a l , conceder a ordem impetrada, nos termos do voto do Relator, que a este se Incorpora
Sem custas.
Votaram, além do Relator, os Desembargadores Elcy Santos de Melo.
que também presidiu o julgamento, Huygens Bandeira de Melo e Byron Seabra
Guimarães. Ausente justificadamente o Desembargador Paulo Teles.
Esteve presente ao julgamento a Dra. Lenir Pedrosa Soares Correia.
digna Procuradora de Justiça.
G o i â n i a , 2 0 d e n o v e m b r o d e 2 0 0 3 .
ÇÁt vES FFRRE/RÁ
T R I B U N A L D E J U S T I Ç A D E G O I A S
HABEAS CORPUS No 21771 -1/217(2003017081 39) Camarca : GOtÂNtA
lmpetrante : ROBERTO SERRÁ DA SILVA MAIA
Paciente : MARTA DE FATTMA MARTTNS MALHETROS
h c 2 1 7 7 1 t y p d 1 )È \ \ v
RFrA rÓruO e VOTO
I n t i t u l a n d o - s e a d v o g a d o r e g u l a r m e n t e i n s c r i t o n a O A B I G O , R O B Ë R T O S E R R A D A S I L V A M A I A , r e s p a l d a d o n o a r t . 5 o , i n c . L X V I l l , d a C o n s t i t u i ç ã o F e d e r a l , e n o s a r t i g o s 6 4 7 e 6 8 4 , d o C o d i g o d e P r o c e s s o P e n a l , im p e t r a o r d e m d e H A B E Á S C O R P U S e m p r o v e i t o d e M A R I A D E F A T I M A M A R T I N S M A L H E I R O S , n a i n r c i a l q u a l i f i c a d a , a o a r g u m e n t o d e q u e a p a c i e n t e encontra-se submetida a c o n s t r a n g i m e n t o i l e g a l p o r p a r t e d o M M . J u i z d e D i r e i t o d a 1 2 ' V a r a C r i m i n a l d a C o m a r c a d e s t a C a p i t a l , p o r haver r e c e b i d o d e n ú n c i a i n e p t a a p r e s e n t a d a e m d e s f a v o r da paciente, pela suposta prática da infração tipificada no art 38 da Lei n 9.605/98
A ordem buscada visa "declarar inepta a denuncia oferlada contra a paciente, determinando, par consequência, a trancamento da respectiva ação penal", h a j a v i s t a q u e a e x o r d i a l a c u s a t ó r i a n ã o v e i c u l a im p u t a ç ã o f á t i c a d e t a l h a d a e i n d i v i d u a l i z a d a d a c o n d u t a d e l i t u o s a , f e r i n d o , a s s i m , o s p r i n c Í p i o s d o c o n t r a d i t o r i o e da ampla defesa, por não conter os requisitos legais e desatendendo o disposto no art. 41 do Codigo de Processo Penal.
N o m a i s , n ã o d e m o n s t r a t a d e n ú n c i a a e x i s t ê n c i a d o c r i m e c o m to d o s o s s e u s e l e m e n t o s o b j e t i v o s , s u b j e t i v o s e n o r m a t i v o s e , e s p e c i a l m e n t e , p o r se tratar a norma penal incriminadora de lei penal em branco. exigente. portanto. da descrição
:tí i <ì-i--- -P O D E H J U D I C I A R I O Ï R I B U N A L D E J U S T I Ç A D E G O I A S h c 2 1 7 7 1 rt p d I
do comportamento constante do conteudo da lei complementar, sob pena de inépcia
da denúncia.
l n s t r u i n d o o p e d i d o . v i e r a m o s d o c u m e n t o s d e f l s . 1 3 1 7 7 .
N ã o h o u v e p o s t u l a ç ã o p o r li m i n a r .
Prestadas as informações (fls. 86/87), colheu-se parecer Procuradoria Geral de Justiça (fls. 90/95), que opina pela denegação da ordem
E o relatorio.
Passo ao voto.
S e g u n d o a s i n f o r m a ç õ e s , o M i n i s t é r i o P ú b l i c o d e n u n c i o u a p a c i e n t e Maria de Fátima M. Malheiros, Conflora-Consultoria Planejamento e Assessoria F l o r e s t a l L t d a , G i l R e s e n d e e S i l v a , P a u l o d e S o u z a N e t o , G u s t a v o C a v a l c a n t e A r a ú j o dos Reis e Max Lrma e Motta, como incursos nas sançÕes do art. 38 de lei que dispÕe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente (Lei 9.605/98), combinado com artigto 29 do Codigo Penal.
A denúncia foi recebida e a paciente citada e interrogada (fls 86)
Eis aí a razão da presente impetração, isto é, a pretensão de trancamento da ação penal por inépcia da denúncia, acoimada de omissa a proposito d e n a r r a ç ã o d e t a l h a d a e i n d i v i d u a l i z a , C a d a c o n d u t a c r i m i n o s a d a p a c i e n t e , a l e m d e indemonstrar a existência do crime doloso, haja vista que o desmatamento realizado estava regularmente autorizado pelos orgãos estaduais competentes, inclusive pelo
a
s
N
ffi;
",--:-:::-' P o D E H J U D t c t Á R l o
T R T B U N A L D E J U S T I Ç A D E G O I A S
h c 2 1 7 7 1
Procurador Geral do Estado de então, GilAlberto Resende e Silva, segundo denunciado
Vale dizer que a exordial acusatoria, a um exame perfunctorio. deixa entrever não somente a ausência de descrição detalhada da conduta delituosa da paciente, afrontando o disposto no artigo 41 do Codigo de Processo Penal, bem como adequa a prática delitiva dolosa ao artigo 38 da Lei no 9.605/98, quando o elemento subjetivo não ficou explicitado.
N e s s e p a s s o , c o m a r a z ã o o i m p e t r a n t e q u a n d o , e m m e m o r i a l . assevera que "Em nenhum instante da denúncia, individualizou-se a conduta c r i m i n o s a d a p a c i e n t e a p o n t o d e d e m o n s t r a r q u e a m e s m a , d i a n t e d a c h a n c e l a do Poder Público, e do Ofício no 337/98 da própria Procuradoria Geral do Estado de Goiás, teria agido com o dolo (ou culpa) indispensável para a configuração da tipicidade subjetiva (art. 38 da Lei no 9.605i98)" .
R e s u m i d a m e n t e , c o n f o r m e p r o c l a m a a i n d a o m e m o r i a l . " c a b e r i a a o subscritor da denúncia mostrar, com clareza e precisão, a completa i n d i v i d u a l i z a ç ã o d a c o n d u t a c r i m i n o s a d a p a c i e n t e , i n d i c a n d o d a d o s q u e comprovassem que a mesma teria agido com dolo no seu ato administrativo de autorização para a exploração florestal; ou mesmo que soubesse de alguma conduta criminosa e deixasse de irnpedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la; ou ainda, a possível inobservância de cuidado objetivo da agente ( p a c i e n t e ) , seja na modalidade de imprudência, negligência ou imperícia (parágrafo único do art. 38 da Lei no 9.605/98)".
Veja-se, por exemplo, topico da inicial, em que fica registrada a particiapação da paciente na atividade delituosa.
" O s indÍcios d a a u t o r i a d a p r i m e i r a d e n u n c i a d a e s t ã o p r e s e n t e s e m t o d o s o s d e p o i m e n t o s c o n s t a n t e s d o s a u t o s , i n c l u s i v e d o s e n g e n h e i r o s d e s t a e n o 1 , l
C
N \ \Ï R I B U N A L D E J U S T I Ç A D E G O I A S
h c 2 1 7 7 1 r v o d 4
CONTRATO (fls. 90/91). A participação do segundo denunciado pode ser constatada
pelo Ofício no 337/98 (fls. 33/34) e a participação do terceiro e quarto denunciados
estão presentes nas assinaturas dos atos de licenciamento do desmatamento" (fls. 20).
Por último, convém lrazer à colação, pela sua pertinência, a ementa
de julgado constante da impetração, para suportar o argumento de que, quando se
trata de norma penal em branco, como no caso do art. 38 da Lei 9.605/98, caberia a
denúncia também indicar não so a norma complementar integrativa do tipo penal,
como também a descricão da conduta nela vedada (fls. 11):
. . . . . N O R M A P E N A L E M B R A N C O . I N E P C I A D A D E N U N C I A O R D E M C O N C E D I D A . 1 . N ã o s e a j u s t a n d o a d e n ú n c i a a o s e u e s t a t u t o d e v a l i d a d e (C o d i g o d e P r o c e s s o P e n a l , a r t i g o 4 1 ) , d e s c r e v e n d o a conduta do imputado, sem a completa circunstancializaçao do fato c r i m i n o s o , é d e r i g o r a d e c l a r a ç ã o d e s u a in e p c i a , c o m o c o n s e q ü e n t e t r a n c a m e n t o d a a ç ã o p e n a l . 2 . O r d e m c o n c e d i d a . ( S T J , Or, HC 14 6 9 4 / R J , R e l . M í n . H a m i l t o n C a r v a l h i d o , D J U 1 7 3 2 0 0 3 , p 2Bg) "
Ao teor do exposto, desacolhendo o parecer da douta Procuradoria Geral de Justiça, conheço do pedido e concedo a ordem impetrada.
G o i â n i a , 2 0 d e n o v e m b r o d e 2 0 0 3 .
N{,Unw--,
D e s . tYES FERREIRA RELATOR