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EXCELENTÍSSIMO SENHOR CONSELHEIRO FABRÍCIO MOTTA, DIRETOR DA 4ª REGIÃO DO TRIBUNAL DE CONTAS DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DE GOIÁS

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Rua 68, nº 727, Centro, Goiânia–GO - CEP: 74055-100 - Fone / Fax: 3216-6243 - www.tcmgo.tc.br/mpc

1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR CONSELHEIRO FABRÍCIO MOTTA, DIRETOR DA 4ª REGIÃO DO TRIBUNAL DE CONTAS DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DE GOIÁS

O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de Goiás, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo art. 94, I, da Lei Orgânica do TCMGO (Lei Estadual nº 15.958/07) e pelo art. 115, I, do Regimento Interno do TCMGO (Resolução Administrativa n° 73/09), vem à presença de Vossa Excelência, oferecer REPRESENTAÇÃO COM PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR, nos termos do art. 208, II, do RITCMGO, pelos fatos e fundamentos expostos a seguir.

I – DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS

O artigo 94, inciso I, da Lei Orgânica do TCM/GO (Lei Estadual n° 15.958/07), dispõe sobre a atribuição dos Procuradores de Contas para promoverem a defesa da ordem jurídica requerendo perante o Tribunal de Contas dos Municípios as medidas de interesse da Justiça, da Administração e do Erário.

Já o artigo 208, inciso II, do RITCM/GO, ao tratar especificamente sobre

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2 os legitimados para representação perante o Tribunal, estabelece que:

Art. 208. Têm legitimidade para representar ao Tribunal de Contas dos Municípios:

(...)

II – Membros do Ministério Público de Contas junto a este Tribunal; Em face disso, é inequívoca a aptidão do autor para provocar o Tribunal.

II – DA COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DE CONTAS DOS MUNICÍPIOS

A Lei Orgânica do TCMGO dispõe que compete a esta Corte de Contas “exercer a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial das prefeituras e câmaras municipais demais entidades instituídas e mantidas pelo Poder Público Municipal” (art. 1º, inciso II, da Lei Estadual n.º 15.958/07).

Além disso, a Lei autoriza, expressamente, a iniciativa deste Tribunal para realizar fiscalizações e auditorias, nos seguintes termos:

Art. 1º Ao Tribunal de Contas dos Municípios, órgão de controle externo, compete, nos termos da Constituição Estadual e na forma estabelecida nesta Lei:

[...]

V - realizar, por iniciativa própria ou da Câmara Municipal, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes Legislativo e Executivo municipais e demais entidades instituídas e mantidas pelo erário municipal;

[...]

Art. 19. O Tribunal exercerá a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial das unidades dos Poderes Municipais e das entidades da administração indireta, inclusive das fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público Municipal, na forma estabelecida no Regimento Interno, para verificar a legalidade, a legitimidade e a economicidade de atos, contratos, convênios, termos de parceria e outros ajustes, das aplicações das subvenções e renúncias de receitas, com vistas a assegurar a eficácia do controle que lhe compete e a instruir o julgamento de contas de gestão.

Explícita, assim, no caso, a competência do TCMGO para a matéria.

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3 III – DOS FATOS E FUNDAMENTOS

Este Ministério Público de Contas (MPC), no exercício de suas atividades rotineiras de guarda da lei e fiscal de sua execução, constatou vícios na estrutura remuneratória de cargos do Poder Executivo de São Luiz do Norte.

Em pesquisa ao site da Prefeitura, identificou-se a Lei Municipal nº 4901, de 28 de dezembro de 2020, que alterou o art. 5º da Lei nº 395/142, passando a vigorar com a seguinte redação3:

Art. 1º- Fica alterado o disposto no art. 5º da Lei Municipal nº 395, de 26 de agosto de 2014, que passa a vigorar com a seguinte redação:

Artigo 5º - Fica o Chefe do Poder Executivo autorizado a conceder gratificação salarial até o limite de 100% (cem por cento) dos vencimentos do servidor, através de ato próprio.

Este Parquet buscou os atos concessórios das gratificações previstas no art. 5º da Lei nº 395/14, todavia não encontrou nenhum, demonstrando que não há transparência em relação a esses atos de gestão por parte da Administração local.

Ressalta-se que a folha de pagamento dos servidores é publicada no portal da transparência sem detalhamento, apresentando apenas o valor total da remuneração. Desse modo, também não será possível identificar os respectivos pagamentos por meio de simples conferência da folha.

Embora esta Procuradoria de Contas não tenha confirmado a efetiva concessão de gratificações com base na Lei Municipal nº 395/14, cumpre destacar a irregularidade de seu art. 5º, já que possibilita a concessão de benefício remuneratório por ato infralegal, ao permitir que o Chefe do Poder Executivo estipule o percentual sobre o vencimento para se obter o valor da gratificação, sem que a lei estabeleça pormenorizadamente os requisitos a serem cumpridos pelo servidor para obter essa vantagem.

Tamanha liberdade de ação administrativa não é discricionariedade, mas

1 Em anexo. 2 Em anexo.

3 A redação anterior à alteração promovida pela Lei nº 490/20 era a seguinte: “Artigo 5º - Fica o Chefe do

Poder Executivo autorizado a conceder gratificação salarial até o limite de 50% (cinquenta por cento) dos vencimentos do servidor, através de ato próprio”.

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4 arbítrio. Contraria a necessidade de respeito a valores imanentes à gestão de verbas públicas e abre ensejo para favorecimentos que não se coadunam com a administração de recursos, a qual, em última análise, pertence à própria sociedade local. A ausência de critérios objetivos para a fixação do benefício indica claramente a quebra do princípio da impessoalidade, que deve imperar no âmbito da Administração Pública.

Cumpre destacar que a Constituição Federal é expressa ao estabelecer o princípio da reserva legal para a concessão de qualquer parcela remuneratória a servidores públicos, conforme determina o seu art. 37, X, in verbis:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

[...]

X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que

trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso,

assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de índices;

Além da exigência de lei específica, a Carta Magna apresenta, em seu art. 39, § 1º, as diretrizes para a fixação dos componentes remuneratórios da Administração Pública, vejamos:

Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único e planos de carreira para os servidores da administração pública direta, das autarquias e das fundações públicas.

§ 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais

componentes do sistema remuneratório observará:

I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos cargos componentes de cada carreira;

II - os requisitos para a investidura; III - as peculiaridades dos cargos.

O dispositivo supracitado estabelece os critérios a serem observados na fixação dos componentes remuneratórios por meio de lei, afastando a possibilidade de

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5 graduação de qualquer valor adicional por ato unilateral do Prefeito.

Nessa senda, vale transcrever trecho do voto proferido pelo Desembargador Leobino Valente Chaves4, do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, na ADI nº 275-8/200, in verbis:

Analiso, em primeiro momento, o modo pelo qual foram previstas as concessões das gratificações de representação de gabinete e de representação especial, ou seja, “em até 50%” do vencimento básico.

É induvidoso que tal critério permite uma margem de discricionariedade ao Chefe do Poder Executivo de estabelecer, nos limites daquele percentual, para mais ou para menos o valor das gratificações ali previstas, possibilitando-lhe uma atuação divorciada dos princípios basilares da Administração Pública que deve ser sempre legal, moral e impessoal.

Sob tal prisma, então, tais dispositivos normativos amostram-se inconstitucionais, na medida em que abrem caminho à prática de ato administrativo (concessão de gratificações) sem critério fixo em lei, segundo o alvitre do concedente.

O art. 92, caput, da Constituição Estadual dispõe no seguinte sentido: “Art. 92. A Administração Pública direta, autárquica e fundacional e a indireta do Estado e dos Municípios obedecerão aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e:” É verdade, ninguém contesta, que servidores desempenhando a mesma função não podem ficar à mercê de receberem, segundo a ótica do Administrador, maior ou menor contraprestação pecuniária, sob pena de imposição de comando personalista, distorcido da finalidade pública de regência.

Marino Pazzaglini Filho (Princípios Constitucionais Reguladores da Administração Pública, 2ª ed., Atlas, 2003, p. 29) utilizando-se dos ensinamentos de Cármem Lúcia Antunes Rocha, observa, com precisão:

“...a impessoalidade administrativa é rompida, ultrajando-se a principiologia jurídico-adminstrativa, quando o motivo que conduz a uma prática pela entidade pública não é uma razão jurídica baseada no interesse público, mas no interesse particular de seu autor. Este é, então, motivado por interesse auxiliar (o que é mais comum) ou beneficiar parentes, amigos, pessoas identificadas pelo agente e que dele mereçam, segundo particular vinculação que os aproxima, favores e graças que o Poder facilita, ou, até

4 Disponível em:

http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/16/docs/adi_200800330026_regime_juridico_itaja.doc. Acesso em: 28 set. 2020.

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6 mesmo, em prejudicar pessoas que destoem do seu círculo de relacionamento pessoais e pelos quais nutra o agente público particular desafeição e desagrado”.

A mesma interpretação impera quanto ao estudo da gratificação por encargos de curso ou concursos (art. 62 da Lei nº 1.318/93), por não apontar precisamente o valor da gratificação, relegando-o ao arbítrio do Chefe do Poder Executivo.

Esta Corte de Contas também tem decisões nas quais entendeu indevida a fixação de gratificações por ato infralegal. Nesse sentido são os Acórdãos nº 00888/18 e nº 6054/16:

II - Dar procedência à Representação, no mérito, para converter o comando veiculado na medida cautelar concedida por meio do Acórdão AC nº 06932/17 em ordem definitiva, em razão das ilegalidades constatadas, para que se determine ao Prefeito Municipal de Caiapônia/GO que:

a) se abstenha de conceder gratificação de representação com

base em variação de percentual do vencimento, conforme dispõe

artigo 58 e inciso I, do §3º, do artigo 59 da Lei nº 965/94.

b) promova no prazo de 60 dias a anulação de todos os atos de concessões de gratificações baseados no artigo 58 e inciso I, do §3º, do artigo 59 da Lei nº 965/94, haja vista os vícios de legalidade e moralidade constatados, observando-se o contraditório e a ampla defesa e comprovando-se o cumprimento da medida neste Tribunal no referido prazo;

c) deflagre processo legislativo (Projeto de Lei à Câmara

Municipal), no prazo de 30 dias, de alteração da disciplina remuneratória das gratificações de representação, a fim de prever valores fixos correspondentes à complexidade das atribuições, mediante lei formal, nos termos dos artigos 37, inciso X e 39, §1º da Constituição Federal, comprovando-se o cumprimento da medida neste Tribunal no mesmo prazo. (TCMGO. Acórdão nº 00888/18 -

Tribunal Pleno. Processo nº 04610/17. Rel: Cons. Valcenôr Braz de Queiroz. 21/02/2018).

II - CONSIDERA-SE procedente a Representação, em razão da ilegalidade da gratificação concedida aos servidores comissionados do Município de Iporá, e da respectiva inconstitucionalidade da Lei Municipal que instituiu a referida gratificação. Nesse sentido, deve o Prefeito, senhor Danilo Gleic Alves dos Santos, atender às determinações relacionadas abaixo, sob pena de imputação de multa, com fundamento no art. 47-A, inciso X, da LOTCM:

a. PROMOVER no prazo de 60 dias a anulação de todos os atos de concessões de gratificações com base nos arts. 73 e 66 da Lei Complementar Municipal nº 01/08, observando-se o contraditório e a

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7 ampla defesa, e comprovando-se a medida a este Tribunal;

b. ABSTER-SE de conceder gratificações de representação e de função com base no art. 73 e o art. 66 da LC nº 01/08 e determine se aos seus auxiliares que também se abstenham de conceder essas gratificações, devendo comprovar perante esta Corte no prazo de 20 dias a publicação de ato nesse sentido;

c. INICIAR o procedimento administrativo de reavaliação da

disciplina remuneratória das gratificações de representação dos cargos em comissão e das gratificações correspondentes às funções de confiança do Município, a fim de conferir-lhes valores fixos e mediante lei formal, consoante art. 37, X, e 39, § 1º, da Constituição da República, e comprove a deflagração perante esta

Corte no prazo de 20 dias; (TCMGO. Acórdão nº 6054/2016 - Tribunal Pleno. Processo nº 18791/2014. Relatora: Conselheira Maria Teresa Garrido Santos. 14/09/2016)

Mais recentemente, o TCMGO encontrou prática semelhante de fixação de remuneração por atos infralegais na Câmara Municipal de Anápolis, ocasião em que obstou, em sede cautelar, novas concessões e alterações de valores já deferidos:

EMENTA. REPRESENTAÇÃO COM PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR. CÂMARA MUNICIPAL DE ANÁPOLIS. IRREGULARIDADES RELATIVAS À CONCESSÃO DE GRATIFICAÇÕES EM PERCENTUAL VARIÁVEL NO PODER LEGISLATIVO MUNICIPAL. FIXAÇÃO POR ATO INFRALEGAL E EM PERCENTUAL VARIÁVEL. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS. FUMUS BONI IURIS E PERICULUM IN MORA. DEFERIMENTO

(Acórdão)

2. CONCEDER medida cautelar (inaudita altera pars), para determinar ao Sr. LEANDRO RIBEIRO DA SILVA, Presidente da Câmara Municipal de Anápolis, que se abstenha imediatamente de conferir

gratificações com valores definidos por ato infralegal e de aumentar, por ato infralegal, valores de gratificações já conferidas aos servidores efetivos e comissionados da Câmara Municipal, até

decisão posterior deste Tribunal; (TCMGO. Acórdão nº 02748/2020 - Tribunal Pleno. Relator: Cons. Daniel Augusto Goulart. 10/06/20)

Também em decisão recente, este Tribunal de Contas confirmou o impedimento de fixar gratificação por ato infralegal, vejamos:

DENÚNCIA. OUVIDORIA. 1 – CONCESSÃO IRREGULAR DE GRATIFICAÇÕES A SERVIDORES COMISSIONADOS. SEM APLICAÇÃO DE MULTA. 2 – OMISSÃO NA REGULAMENTAÇÃO DE GRATIFICAÇÕES CONCEDIDAS MEDIANTE ATO INFRALEGAL. 3 – CONCESSÃO E MANUTENÇÃO DE GRATIFICAÇÃO COM

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8 PERCENTUAL ACIMA DO LIMITE LEGAL. 4 – DESCUMPRIMENTO DO PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE EM SÍTIO OFICIAL. 5 – MULTAS APLICADAS. PROCEDENTE. 1. É vedada a concessão de gratificações a servidores públicos ocupantes de cargo em comissão, uma vez que tal benefício é recebido apenas por servidores públicos efetivos e deve estar instituído por lei, nos termos do at. 37, inciso V da CF/1988. Diante da suspensão das concessões de gratificações, não enseja na aplicação de multa. 2. A regulamentação e concessão de

gratificações a servidores públicos mediante ato infralegal é inconstitucional (Resolução), por violação direta à norma do inciso X do art. 37 da CF/1988, devendo ser estabelecido por lei em sentido estrito e por apresentar valores variáveis, segundo critérios não objetivos, viola também, a regra do §1º do art. 39 da mesma lei. 3. A concessão e manutenção de adicionais e gratificações

a servidores públicos com o percentual acima do limite estabelecido em lei, feri os preceitos do art. 37, caput e inciso XIV da CF/1988. 4. A omissão da divulgação em sítio oficial de informações de interesse geral, bem como remunerações de servidores, juntamente com portarias e decretos do município, viola o princípio constitucional da publicidade e os mandamentos da Lei Federal n. 12.527/2011 c/c art. 7º, §3º, VI do Decreto n. 7.724/2012. 5. Os fatos denunciados procedentes motivam a aplicação de multas aos gestores responsáveis, nos termos do art. 47-A, VIII da LOTCMGO. (Acórdão nº 02193/20-Tribunal Pleno, relator: Conselheiro Francisco José Ramos, data do julgamento: 20/05/2020)5

Diante disso, resta comprovada a inconstitucionalidade do art. 5º da Lei nº 395/14 do Município de São Luiz do Norte, uma vez que permite a fixação de verba remuneratória dos servidores do Poder Executivo por ato infralegal, em violação direta ao art. 37, X, da CF/88.

Além da irregularidade já apontada, é necessário mencionar que a alteração trazida pela Lei nº 490/20, de 28 de dezembro de 2020, possibilita uma elevação no limite percentual da gratificação salarial, passando de 50% para 100%, o que é vedado pelo artigo 8º, inciso I, da Lei Complementar nº 173/20, com o agravante de ser concedido em um momento no qual os gastos públicos devem ser avaliados com especial cautela.

Caso sejam concedidas gratificações com fundamento na lei acima citada, haverá dano ao erário, sendo que esse dano corre sério risco de recrudescimento em pleno contexto de pandemia, já que as gratificações dependem

5 Disponível em:

https://www.tcmgo.tc.br/ecs/d/d/workspace/SpacesStore/2f654cd3-cf12-48fd-8a18-410ba8240368/00359.PDF. Acesso em: 23 mar. 2021. Digitally Signed by REGIS GONCALVES LEITE:32972776100-AC SOLUTI Multipla v5 Date: 30/03/2021 18:12:31

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9 apenas de ato do Prefeito, com eficácia imediata.

Ressalta-se que, no art. 8º da LC nº 173/20 estão arroladas práticas que merecem plena atenção dos ordenadores de despesa e que serão de cumprimento obrigatório no período entre a publicação da lei (28/05/2020) e 31 de dezembro de 2021. Vejamos a literalidade do caput do mencionado dispositivo e seu inciso I:

Art. 8º Na hipótese de que trata o art. 65 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios afetados pela calamidade pública decorrente da pandemia da Covid-19 ficam proibidos, até 31 de dezembro de 2021, de:

I - conceder, a qualquer título, vantagem, aumento, reajuste ou

adequação de remuneração a membros de Poder ou de órgão, servidores e empregados públicos e militares, exceto quando derivado de sentença judicial transitada em julgado ou de determinação legal anterior à calamidade pública;

[...]

Diante do cenário de calamidade gerado pela pandemia, marcado por queda significativa da arrecadação, é fundamental que o gestor cumpra o determinado na LC nº 173/20, de modo a evitar despesas que possam ser adiadas, priorizando os gastos para o enfrentamento da situação e aqueles estratégicos e/ou essenciais ao funcionamento da máquina administrativa.

O atual período crítico requer reavaliação do planejamento financeiro e elaboração de um plano de contingenciamento de despesas, sendo fundamental a identificação das despesas não essenciais, conforme fixado na Recomendação Conjunta nº 01/20206, (item 2.2).

Outrossim, a realização de gastos não relacionados ao enfrentamento da pandemia e suas consequências constitui despesa pública ilegítima, conforme o art. 70 da Constituição Federal, violando diretamente a Recomendação Conjunta nº 01/2020, a qual prevê que a sua natureza orientadora não isenta os jurisdicionados de responsabilização futura por consequências que poderiam ser mitigadas ou eliminadas caso as medidas nela sugeridas tivessem sido implementadas (item 2.10).

6 Disponível em:

https://www.tcmgo.tc.br/site/wp-content/uploads/2020/04/RecomendaA%CC%83%C2%A7A%CC%83%C2%A3o-conjunta-4.pdf. Acesso

em: 23 mar. 2021.

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10 Por todo o exposto, é de suma importância que o TCMGO promova uma ampla fiscalização do Poder Executivo de São Luiz do Norte, em razão da possível concessão de gratificação com base em lei inconstitucional, a fim de apurar danos ao erário e determinar providências com o intuito de sanar as irregularidades apontadas.

a) NECESSIDADE DE MEDIDA CAUTELAR

Tendo em vista que a concessão de gratificação com base no art. 5º, da Lei nº 395/14, viola não só a Constituição Federal como também o art. 8º, I, da LC nº 173/20, em virtude da alteração promovida pela Lei nº 490/20, torna-se necessário o deferimento de medida cautelar com o fim de obstar essas concessões.

É fundamental frisar que o fato de esta Procuradoria de Contas não ter identificado a concessão de gratificações com fundamento na lei analisada não significa que tais atos não ocorreram, já que podem apenas não ter sido publicados no portal da transparência do município.

Caso as concessões de gratificação não sejam impedidas, há grave risco de configuração de dano ao erário em um contexto que exige especial atenção com gastos públicos, principalmente com aqueles não relacionados ao combate da pandemia de COVID-19, conforme determina a Recomendação Conjunta nº 01/2020. Esse risco ganha ainda mais relevo pelo fato de as gratificações dependerem apenas de ato do Chefe do Executivo, com eficácia imediata.

Desse modo, esta Procuradoria de Contas requer que o Prefeito de São Luiz do Norte, Sr. Elieudes Dias de Moraes, seja notificado para que, no prazo de cinco dias úteis, conforme permite o art. 56, § 2º, da LOTCM, remeta a esta Corte esclarecimento acerca de já ter concedido gratificação com fundamento no art. 5º da Lei nº 395/14 e na alteração promovida pelo art. 1º da Lei Municipal nº 490/20. Em caso positivo, junte aos autos cópia dos atos concessórios, da motivação utilizada para sua prática, dentre outros documentos considerados pertinentes pelo gestor.

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11 Assim, restam preenchidos os requisitos do art. 56 da LOTCMGO7 para determinação cautelar, sendo providência urgente de tutela à legalidade e ao erário.

IV – DO PEDIDO

Ante o exposto, este Ministério Público de Contas pugna pelo conhecimento da presente Representação e requer:

a) o deferimento de medida cautelar para determinar ao Prefeito de São Luiz do Norte, Sr. Elieudes Dias de Moraes, que imediatamente se abstenha de conferir gratificações com base no art. 5º da Lei nº 395/14 e alterações posteriores, devendo perdurar a abstenção até decisão posterior deste Tribunal, sob pena de multa fundamentada no art. 47-A, X, da LOTCM, em caso de descumprimento;

b) a notificação do Prefeito para que remeta a esta Corte, no prazo de cinco dias úteis, esclarecimento acerca de já ter concedido qualquer gratificação com fundamento no art. 5º da Lei Municipal nº 395/14, inclusive com a alteração promovida pelo art. 1º da Lei Municipal nº 490/20 e, em caso positivo, junte aos autos cópia dos atos concessórios, da motivação utilizada para sua prática, dentre outros documentos considerados pertinentes pelo gestor;

c) a fiscalização da regularidade das gratificações que porventura possam ter ocorrido com base no art. 5º da Lei Municipal nº 395/14, alterada pelo art. 1º da Lei Municipal nº 490/20, com requisição dos quantitativos, dos atos concessórios, da motivação utilizada para sua prática, dentre outros documentos e informações considerados relevantes pelas unidades técnicas deste TCMGO, com vistas a determinar a correção de atos cuja irregularidade reste confirmada, bem como para determinar a correta disciplina remuneratória no município, em conformidade com os art. 37, V e X; art. 39, §1º, e art. 61, § 1º, II, “a”, todos da CF/88, alertando ao responsável, Prefeito de São Luiz do Norte, que a concessão de gratificações sem

7 Art. 56. O Tribunal Pleno ou o relator, em caso de urgência, de fundado receio de grave lesão ao erário

ou a direito alheio, ou de risco de ineficácia da decisão de mérito, poderá, de ofício ou mediante provocação, adotar medida cautelar, com ou sem a prévia oitiva da parte, determinando, entre outras providências, a suspensão do ato ou do procedimento impugnado, até que o Tribunal decida sobre o mérito da questão suscitada.

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12 critérios objetivos estipulados em lei e fixação de valor por ato infralegal podem configurar ato de gestão ilegal, ilegítimo ou antieconômico e levar à aplicação de multa (art. 47-A, VIII, da LOTCM), podendo acarretar também imputação de débitos, por lesão ao erário, e irregularidade de contas, além de violar o art. 8º, I, da LC nº 173/20.

(CAUT)

Pede deferimento.

Goiânia, em 30 de março de 2021.

REGIS GONÇALVES LEITE Procurador de Contas

Isabela

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