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S U M Á R I O. 3 As Formas Tipificadas de Abandono no Código Penal Brasileiro

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Academic year: 2021

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Texto

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A B A N D O N O A F E T I V O

D I R E I T O

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1   | Introdução

2   | O dever de Assitnência aos filhos na legislação Brasileira

3     | As Formas Tipificadas de Abandono no Código Penal Brasileiro

S U M Á R I O

4     | O Crime de Abandono no Código Penal Poderá Caracterizar o

Abandono Afetivo? 5     | Referências

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A B A N D O N O A F E T I V O | 0 3

O artigo analisa o abandono afetivo caracterizado no

Código Penal Brasileiro como Crimes Contra a Assistência Familiar.

Objetiva-se identificar as formas de abandono no Código Penal, nos Crimes Contra a Família; conceituar abandono e identificar a obrigação de assistência no Código Penal e como ela é tratada na jurisprudência do Supremo

Tribunal Federal, em especial no Recurso Extraordinário n. 898060.

O problema se conforma na caracterização do abandono de filho na esfera penal e se essas formas tipificadas

podem ser caracterizadoras do abandono afetivo, para efeitos de imposição de sanção.

A análise da legislação penal e do Recurso Extraordinário n. 898060 julgado pelo Supremo Tribunal Federal serão objeto da metodologia adotada.

Pretende-se  com a análise do tema demonstrar que os abandonos previstos no Código Penal poderão

caracterizar o abandono afetivo, sujeitando seu autor as penas previstas no Código Penal e a indenização perante a legislação civil.

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A proteção integral aos menores de dezoito anos está prevista na Constituição Federal, em seu art. 227,

vinculando o Estado Brasileiro e todas as pessoas no território nacional, família e sociedade (BRASIL. 2017).

No âmbito da família, os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o

dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade, consoante o art. 229, da Constituição

Federal (BRASIL. 2017).

O dever de assistência moral, material e intelectual está regulamentado na legislação infraconstitucional, por

intermédio dos Códigos Civil e Penal, além do Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei 8.069/1990 (MORAES.

2017.p.845).

Na Legislação Civil a previsão de proteção dos filhos é

encontrada no Livro IV, Do Direito de Família, Capítulo V, relativo ao Poder Familiar, quando dispõe no art. 1630 que "os filhos estão sujeitos ao poder familiar, enquanto

menores" (BRASIL.2002).  

Aos pais compete no exercício do Poder Familiar (art.

1634): I - dirigir-lhes a criação e a educação; II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584;  III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;  IV - conceder-lhes ou negar-lhes

consentimento para viajarem ao exterior;   V - conceder- lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua

residência permanente para outro Município;   VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento

autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar; VII - 

O dever de Assitnência aos

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representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16

(dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após

essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;     VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; IX - exigir que lhes prestem obediência,

respeito e os serviços próprios de sua idade e condição (BRASIL.2002).  

A Legislação Penal tipifica no rol dos Crimes Contra a

Família, em particular, nos denominados Crimes Contra a Assistência Familiar os três tipos de abandono, em quatro tipos penais: o abandono material ( art. 244); o abandono moral (art.245 e art. 247), e o abandono intelectual (art.

246).  

O Estatuto Menorista (Lei n. 8.069/1990) impõe no Título II, Dos Direitos Fundamentais, no Capítulo III, Do Direito à

Convivência Familiar e Comunitária, art. 22, que "aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos

filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais". Prevê ainda crimes referentes ao abandono de crianças e adolescentes, no arts. 228 a 244-B. (BRASIL.

ECA. 2017).

A filiação, como direito fundamental, impõem obrigações para os pais que respondem em caso de violação, seja o parentesco biológico ou socioafetivo, consoante a

jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que se

consolida no julgamento do Recurso Extraordinário (RE) n. 898060, com repercussão geral  (BRASIL. STF. 2016).

A tese da repercussão geral no RE se refere à seguinte tese: "a paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do

vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios".

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A decisão ratifica o princípio da paternidade responsável, solidariedade, e da observância do melhor interesse do menor utilizado nos Tribunais Internacionais de Direitos Humanos, como regra cogente.

A interpretação realizada pelo STF é fundada na proteção da família e nos deveres e direitos que são gerados para seus membros, em especial para os filhos e os menores de 18 anos sob sua responsabilidade. Prestigia a Corte o princípio pro homine, isto é a interpretação que melhor acolha o direito da pessoa humana.

 

O Estado Brasileiro não tipifica o abandono afetivo como infração penal; como ato ilícito expressamente

mencionado na legislação civil ou no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Todavia, a legislação penal estabelece crimes de

abandono, na forma comissiva ou omissiva, que viola os direitos fundamentais decorrentes da filiação. Tais

condutas penais estão previstas no Capítulo III, do Título VII, Crimes contra a Família, na forma de abandono

material, moral e intelectual.

O abandono material está previsto no art. 244 e seu

parágrafo único, na forma de deixar de prestar alimentos; deixar de socorrer em situação de grave enfermidade, ou ilidir o pagamento de pensão de alimentos judicialmente acordada, fixada ou majorada. 

 

As Formas Tipificadas de

Abandono no Código Penal

Brasileiro

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O referido crime de abandono viola o direito de filhos

menores de 18 anos; dos filhos inaptos para o trabalho, ou dos maiores de 18 anos que obtiveram perante o Poder

Judiciário o direito aos alimentos ( MASSON.2017).

Os alimentos compreendem o sustento necessário para uma vida digna, sem exageros e ostentações, devendo ser fixados observado o binômio da capacidade econômica do devedor dos alimentos e vulnerabilidade de quem

recebe ou solicita. A punição prevista par ao crime de

abandono material é de detenção de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.

Os alimentos são devidos por força do vínculo de

parentesco ou por decisão judicial, decorrente de acordo homologado ou de ação de jurisdição contenciosa.

A legislação penal também prevê a necessidade de

prestação de socorro em caso de grave enfermidade. Isto significa que a omissão no caso do art.244, 3ª figura

criminosa, será relevante para caracterizar crime em caso de doença grave. Obviamente a gravidade da

enfermidade deverá ser comprovada mediante perícia médica.  

Já o abandono moral, previsto nas figuras do art. 245 e

247, visa proteger os filhos menores de 18 anos ou pessoas que estejam subordinadas à guarda, cuidado vigilância,

autoridade de outrem ou a outro vínculo jurídico, de convivência com pessoas que os coloquem em perigo moral ou material.

O perigo moral ou material, previsto no art. 245, se refere à pessoa em cuja companhia o menor de 18 anos ou o filho fica em perigo moral ou material, ou ainda nas

hipóteses qualificadas, que as vítimas sejam levadas para o exterior com ou sem fim de lucro, com ou sem perigo para sua vida ou incolumidade pessoal. As condutas são punidas, respectivamente, com pena de detenção de 1

(um) a 2 (dois) anos e 1 (um) a 4 (quatro) anos de reclusão.   

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O dispositivo em análise visa evitar a corrupção dos filhos por intermédio de pessoas que se apresentem como que possam influenciar o comportamento dos menores de 18 anos à prática de atos infracionais ou outras condutas que sejam caracterizadas como atos ilícitos. Também

procurou o legislador reprimir a comercialização de

crianças e adolescentes, de forma a colocá-los em risco moral ou material, e ainda o tráfico de crianças e

adolescentes praticados pelos pais ou pessoas por eles responsáveis.

Igualmente, no art. 247 do Código Penal, o perigo moral ou material significa a freqüência a lugares perigosos ou insalubres, ou a convivência com pessoas viciosas ou de má vida.

A distinção do art. 245 com o art. 247 do Código Penal reside na enumeração realizada pelo legislador,

identificando os locais e pessoas consideradas perigosas, e ainda na possibilidade de terceiro, que não apenas os pais, praticar o crime.

A conduta de abandono moral e material poderá recair sobre pais, no caso da tipificação do art. 245, ou no caso do art. 247, sobre a conduta de qualquer pessoa que

permitir que menor de dezoito anos, sujeito a seu poder ou confiado à sua guarda ou vigilância frequente casa de jogo ou mal afamada, ou conviva com pessoa viciosa ou de má vida; frequente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o pudor, ou participe de representação de igual natureza; resida ou trabalhe em casa de

prostituição; e mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública"(BRASIL.2017)

Por fim, o abandono intelectual está previsto no art. 246, do Código Penal, quando os pais deixam, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar. A punição está cominada em detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

   

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O crime de abandono intelectual tem por finalidade assegurar o direito à educação que é previsto na

Constituição Federal, art. 227, aos menores de 18 anos prioritariamente.

As três formas de crime de abandono  tem por  objeto menores de 18 anos ou filhos, e reforçam a proteção ao bem jurídico assistência familiar, como obrigação que surge no momento da formação da família, como ato consciente e voluntário, pautado pela maternidade e paternidade responsáveis. 

O abandono afetivo, apesar de bastante discutido nas lides forenses, não está tipificado no ordenamento

jurídico brasileiro, na área penal, civil ou no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Quantificar o afeto devido aos filhos ou aos menores

sujeitos a sua autoridade não é possível em qualquer área do saber. Também não se podem quantificar as perdas

irreparáveis que a falta de afeto causa na vida humana.

Todavia, não área penal o legislador foi ousado e interferiu na família, ao prever os Crimes Contra a Assistência

Material. Estabeleceu a necessidade de prover alimentos; de zelar pela criação saudável dos filhos, a salvo da

corrupção moral, sexual ou ética; e da necessidade de prover a educação formal.

 

O Crime de Abandono no Código

Penal Poderá Caracterizar o

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Ao estabelecer tais condutas o legislador brasileiro

adotou o preceito de que os menores de dezoito anos são pessoas em desenvolvimento, devendo o Estado, a família e a sociedade respeitá-los para que cresçam equilibrados, saudáveis e felizes.

Em caso de práticas violadoras dos direitos dos filhos ou menores, o próprio Estado incondicionalmente

proporciona a apuração dos fatos, sem manifestação da vontade das partes, por meio do devido processo legal. As provas produzidas, no âmbito do inquérito policial, e ratificadas no processo pelo princípio do contraditório e da defesa ampla, poderão ser caracterizadoras dos crimes de abandono, previstos no Código Penal, mas poderão

revelar um grave abandono afetivo, que se extrai da fome a que é submetido o filho; a violência moral, sexual e

física que o humilha e destrói sua auto-estima; e a sua vocação e habilidades que desprezadas são perdidas. O abandono afetivo pode ser aferido pelo abandono material, moral e intelectual que são tipificados no

Código Penal. Mas não será pela legislação penal que os abandonados estarão salvos.

Resta a indagação: Será que apenas os pais e

responsáveis são os autores dos fatos criminosos? Onde estará o Estado Brasileiro, Democrático de Direito, com sua superestrutura burocrática, para acudir as crianças e adolescentes?

   

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BRASIL. CÓDIGO PENAL BRASILEIRO. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-

lei/Del2848compilado.htm. Acesso em 15.08.2017 BRASIL. CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO. Disponível em

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm . Acesso em 15.08.2017

BRASIL. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Disponível em

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm. Acesso em 15.08.2017

BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO N. 898060. Disponível em

http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/ver AndamentoProcesso.asp?

incidente=4645431&numeroProcesso=841528&classeProces so=RE&numeroTema=622. Acesso em 15.08.2017

MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 33 ed. São Paulo: Atlas 2017

MASSON. Cleber. Curso de Direito Penal. volume 3. Parte Especial. 11 ed., São Paulo. Método.

 

Referências

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