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Habitação social: diferenças no papel de espaços abertos comunais segundo tipos habitacionais

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Academic year: 2021

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Habitação social:

diferenças no papel de espaços abertos comunais segundo tipos

habitacionais

Maria Cristina Dias Lay1 Antônio Tarcisio da Luz Reis2

INTRODUÇÃO

Este estudo parte da premissa de que os espaços abertos coletivos deveriam ser o lugar comum onde residentes tem a oportunidade de realizar as atividades sociais, recreacionais e funcionais que propiciam vínculos entre a comunidade. No entanto, quando considerada a eficiência dos projetos de conjuntos habitacionais de caráter social, nota-se que na prática, o papel dos espaços abertos coletivos tem sido relegado, tanto em termos de seu desempenho físico quanto social. Pesquisas realizadas desde a década de 70 em diversos países (por exemplo Darke, 1984; Coulson, 1980; Cooper Marcus e Sarkissian, 1986), indicam que a maioria dos problemas qualitativos que afetam o desempenho de conjuntos habitacionais tem origem na inadequação de sua proposta arquitetônica, inconsistente com os requisitos básicos necessários para apoiar e satisfazer estética e funcionalmente as necessidades e valores dos usuários, limitando o grau de sua adequação e afetando as oportunidades de uso do espaço construído.

Avaliações de desempenho de conjuntos habitacionais implementadas durante a última década no Brasil (por exemplo, Lay, 1992; Reis, 1992; Reis e Lay, 1996) mostram diferenças na qualidade ambiental e possibilidades de apropriação dos conjuntos, com uma redução de padrões espaciais na habitação e freqüente negligencia na manutenção dos espaços abertos comunais. Os resultados obtidos a partir dessas investigações corroboram estudos na literatura que indicam legibilidade de layout e aparência visual como principais fatores influenciando comportamento ambiental e nível de satisfação (p. ex. DoE, 1972;

1PROPUR/UFRGS. E-mail: cristina.lay@ufrgs.br

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Francescato, 1979). A legibilidade do layout, que resulta da maneira como o sítio é organizado a partir da relação estabelecida entre as edificações e os espaços abertos, afeta a maneira como os espaços são utilizados (Lay, 1998). As relações diferenciadas entre os espaços abertos e as edificações, consequentemente afetam a qualidade ambiental e possibilidades de apropriação, facilitando ou inibindo padrões de comportamento e possibilidades de contato entre os moradores.

O comportamento territorial, portanto, é considerado como parte de um sistema que possibilita a organização social e promove a formação de comunidade (Wallace, 1952; Porteous, 1977). Organizar espaços físicos socialmente, em termos de categorias (público, semi-público, semi-privado ou privado) é um requisito essencial entre os residentes como meio de compreender a natureza do seu território. Norcross (1973) e Byron (1972), entre outros, argumentam sobre os efeitos negativos que a ausência de reconhecimento de responsabilidade territorial sobre espaços abertos comunais podem provocar no nível de manutenção do ambiente construído. Ordem e falta de relação entre espaços abertos e edificações geralmente resulta em espaços não definidos hierarquicamente, ocasionando tanto não-apropriação por parte dos usuários (rejeição), com dificuldades em reconhecimento e demarcação de território, assim como determinadas situações tem propiciado o processo de invasão dos espaços abertos de conjuntos habitacionais (por exemplo, Reis, 1996).

O tipo de ordem e relação entre espaços abertos e edificações estabelecidos em conjuntos habitacionais constituídos por sobrados e casas em fita, geminadas e isoladas no terreno, podem estabelecer diferentes níveis de clareza de hierarquia espacial. Neste artigo, pretende-se investigar o papel que os espaços abertos existentes em conjuntos habitacionais constituídos por diferentes tipos arquitetônicos assumem nesse processo, e seus efeitos no graus de apropriação dos espaços abertos coletivos.

Um outro aspecto tão importante quanto proporcionar ambientes legíveis, está relacionado com a aparência visual dos conjuntos, resultante das características físicas e de manutenção das edificações e dos espaços abertos. Lynch (1960) sugere que a percepção da aparência visual é intrínseco ao processo, e que os seus componentes, físicos ou simbólicos, tem um importante papel em facilitar ou inibir a criação de uma imagem coletiva positiva do lugar, afetando a avaliação do usuário sobre o ambiente residencial, tornando esse ambiente construído mais ou menos atraente e fácil de compreender e usar, portanto, também afetando legibilidade. Portanto, a aparência visual do conjunto não parece estar associada à qualidades exclusivamente formais e estéticas do projeto; mesmo

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que os elementos arquitetônicos estejam relacionados de maneira a caracterizar uma estrutura compositiva, podem não ser suficientes para garantir a criação de uma aparência positiva (Reis, 1999). Estas constatações sugerem que os espaços abertos comunais podem desempenhar um importante papel em propiciar e incentivar a apropriação coletiva e positiva desses espaços pelos moradores, e entre os moradores, afetando positivamente o sentido de comunidade, formas de gerenciamento e manutenção, e a imagem do conjunto habitacional.

Os argumentos encontrados na literatura sugerem a hipótese de que existe relação entre características físicas dos espaços abertos comunais, comportamento ambiental e aparência visual, a qual influencia e é influenciada pela formação de comunidade e as atitudes dos moradores em relação ao conjunto habitacional. Esta relação é investigada neste estudo, salientando o importante papel da provisão e adequação de espaços abertos comunais na avaliação de desempenho de conjuntos habitacionais. Portanto, o artigo explora as relações entre tipo e intensidade de uso, qualidade e quantidade dos espaços existentes, e seus efeitos no relacionamento entre os moradores, manutenção e preservação das edificações e espaços abertos do conjunto, e nos níveis de satisfação com o conjunto habitacional, de acordo com o tipo arquitetônico.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

As relações entre características físico-espaciais dos espaços abertos coletivos, tipos de apropriação e o grau de satisfação dos moradores com o conjunto habitacional, assim como o impacto da qualidade do ambiente construído na formação de comunidade, foram investigados através da avaliação pós-ocupação de conjuntos habitacionais formados por blocos de apartamento de quatro pavimentos, sobrados, casas isoladas no terreno, casas geminadas e casas em fita, localizados na área metropolitana de Porto Alegre.

A avaliação pós-ocupação dos conjuntos habitacionais foi efetuada através do uso de múltiplos métodos complementares, tais como levantamento, observações de comportamento, observações de traços físicos, entrevistas e questionários. Foram realizados levantamento físico e fotográfico detalhados das áreas externas dos 12 conjuntos, de maneira a permitir a realização da análise das mudanças ou permanência de relações entre espaços, assim como quantificar o acréscimo de áreas construídas nos espaços abertos coletivos para diferentes propósitos (ex. garagens, churrasqueiras, pequeno comércio e serviços, uso residencial), incluindo a marcação de elementos alterados ou

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incorporados às fachadas das edificações. Os espaços abertos foram levantados segundo o tipo de uso a que se destina, com especificação dos atributos físicos, e definição de hierarquia espacial.

As observações de comportamento e traços físicos permitiram inferir sobre a influência do ambiente construído na ocorrência de atividades, especialmente em relação aos efeitos que o ambiente construído pode ter provocado nas relações entre indivíduos ou grupos de indivíduos, assim como nas relações entre indivíduos e o próprio ambiente, as quais, consequentemente, afetam o nível de manutenção e tipo de alterações (físicas e comportamentais) introduzidas pelos usuários nas edificações e espaços coletivos. As observações sistemáticas de comportamento foram realizadas durante duas semanas durante diferentes períodos do dia. Os dados obtidos foram registrados em 138 mapas comportamentais. Foram realizados 14 mapas de traços físicos para os espaços abertos de cada sub-área.

Foram aplicadas 111 entrevistas, com o objetivo de possibilitar explicações que muitas vezes não são possíveis de serem detectadas dentro do escopo de outros métodos. Os dados obtidos classificados e analisados de acordo com a freqüência, conteúdo e importância dos pontos mencionados pelos entrevistados.

357 questionários foram respondidos por uma amostra de moradores (mínimo de 30 respondentes/conjunto). O questionário consistiu de um conjunto de perguntas estruturadas, formuladas com o intuito de medir as reações comportamentais e emocionais que revelem atitudes e níveis de satisfação dos usuários em relação à diversos aspectos técnicos, funcionais e comportamentais. Os respondentes foram selecionados segundo a localização da moradia dentro do conjunto, em relação aos espaços abertos do conjunto, e graus de acessibilidade visual e funcional (distância do bloco e andar da moradia) existente entre sua moradia e os diferentes espaços abertos de uso coletivo.

Os dados das entrevistas e mapas comportamentais e de traços físicos, e levantamento físico de cada conjunto foram analisados qualitativa e quantitativamente. Os dados obtidos através dos questionários foram analisados estatisticamente através de técnicas estatísticas não-paramétricas, que incluem testes descritivos, tais como frequências; tabulação cruzada; Kruskal-Wallis e testes inferenciais, resumindo-se no teste de correlação Spearman. Para a análise estatística foi utilizado o programa estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences). Ainda, foi efetuado cruzamento de informações com os procedimentos de análise estatística e espacial através do Sistema de Informações Geográficas. As descrições gráficas produzidas permitem visualizar as características

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espaciais sendo analisadas, assim como a quantificação das características espaciais descritas.

Seleção da amostra

A definição da amostra dos conjuntos foi realizada a partir de investigações preliminares em 32 conjuntos habitacionais. A partir deste universo, foram selecionados os 12 conjuntos habitacionais, de acordo com critérios de seleção preestabelecidos, tais como características tipológicas diversificadas; tempo de moradia/ época de construção dos conjuntos aproximados; nível sócio-econômico dos residentes similar; apresentar diferentes tipos de layout. Estes conjuntos habitacionais são representativos dos diferentes tipos arquitetônicos, característicos dos conjuntos populares, e apresentam diferenças de tamanho, implantação, com características sócio-econômicas similares entre os residentes, localizados em áreas urbanas deficientes na provisão de facilidades recreacionais, pequeno comércio e serviços.

Tabela 1: Descrição sumária da amostra de conjuntos habitacionais

CONJUNTOS DESCRIÇÃO OCUPAÇÃO

LOUREIRO DA

SILVA 416 unidades de 2 dormitórios em 26 blocos de 4 andares com 16 aptos cada (4 por pavimento) Dezembro/ 1985 ANGICO 96 unidades de 2 dormitórios em 6 blocos de 4 andares com 16

aptos (4 por pavimento) Janeiro/ 1985

CAVALHADA

448 unidades:

-96 unidades com sala e dormitório integrados em 2 blocos de 2 andares com 48 aptos (12 por pavimento)

-160 unidades de 2 dormitórios integrados em 5 blocos de 4 andares com 32 aptos (8 por pavimento).

-192 unidades de 2 dormitórios integrados em 4 blocos de 4 andares com 48 aptos (12 por pavimento).

Fevereiro 1984

GUAJUVIRAS – BLOCOS

576 unidades:

-432 unidades de 2 dormitórios em 27 blocos de 16 aptos (4 por andar).

-144 unidades de 1 dormitório em 12 blocos de 12 aptos (3 por andar sendo 1 deles de sala e dormitório integrados)

Janeiro/1987

SAPUCAIA 1152 unidades: -2 dormitórios (2 tipos com áreas diferentes) em 36 blocos de 4 andares com 32 aptos (8 por andar)

-1 unidade com 1 dormitório por pavimento

Abril/ 1981

JOÃO VEDANA 48 unidades de sobrados com 2 dormitórios sem divisória. Outubro/ 1986 VALE VERDE 151 unidades de sobrados com 2 dormitórios sem divisória. Março/ 1991 SANTO ALFREDO 40 unidades de sobrados com 2 dormitórios sem divisória. Abril/ 1996 SÃO JORGE 52 unidades de sobrados com 2 dormitórios sem divisória. Abril/ 1996 4ª U.V. RESTINGA 416 unidades de casas geminadas de 2 e 3 dormitórios Outubro/ 1980 GUAJUVIRAS –

CASAS 236 unidades de casas isoladas no terreno de 2 (2 tipos com áreas diferentes) e 3 dormitórios Janeiro/1987 COSTA E SILVA 550 unidades de casas isoladas no terreno e em fita com 2

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RESULTADOS

Os resultados obtidos permitiram examinar como as características físicas suportam ou interferem no tipo e intensidade de apropriação dos espaços abertos coletivos, especialmente os efeitos que o ambiente construído podem exercer nas relações entre indivíduos ou grupos de indivíduos, que pode vir a afetar o nível de manutenção e as modificações introduzidas nas edificações e espaços abertos pelos residentes, alterando a aparência do conjunto.

Características físicas e apropriação dos espaços abertos coletivos

O processo de apropriação dos espaços abertos coletivos privados e semi-públicos ocorre através de diferentes meios: 1) pelo uso dos espaços para a realização de diferentes atividades; e 2) pela ocupação dos espaços abertos coletivos por construções irregulares. O tipo e intensidade de apropriação afetou e foi afetado pelas características físicas dos espaços abertos, assim como pelo tipo de relações pré-existentes (anteriores à modificações físicas) e existentes (posteriores à modificações físicas) entre espaços abertos e edificações do conjunto. São apresentadas as principais características físicas dos conjuntos habitacionais por tipo arquitetônico, salientando-se a intensidade de ocupação e uso dos espaços abertos. Os dados da tabela abaixo, mostram a quantidade de área construída que foi acrescida e a quantidade de espaço aberto invadido em cada um dos conjuntos habitacionais investigados.

Tabela 2: Aumento de área construída nos conjuntos habitacionais Área Construída ( total da amostra)

Antes Depois Acréscimo de área CONJUNTO m2 (%) m2 (%) m2 (%) 4ºUV-Loureiro da Silva 5330,0 (19,0) 7616,7 (27,2) 2286,7 (42,9) Guajuviras-Blocos 6774,7 (13,37) 15694,5 (31,0) 8919,7 (131,7) 4ºUV-Angico 1192,0 (22,2) 1631,7 (23,3) 439,7 (36,9) COHAB Sapucaia 11613,5 (18,2) 21316,0 (33,5) 9702,5 (83,5) COHAB Cavalhada 4743,0 (21,9) 9758,7 (45,1) 5015,7 (105,8) Santo Alfredo 728,0 (31,1) 1210,3 (51,8) 482,3 (66,25) São Jorge 729,0 (32,2) 833,8 (36,7) 104,8 (14,4) Vale Verde 3020,8 (30,2) 4458,0 (44,6) 1437,2 (47,6) João Vedana 836,0 (28,3) 1075,0 (36,4) 239,0 (28,6) Casas Restinga 17426,1 (12,3) 50350,9 (35,1) 32924,8 (188,9) Guajuviras-Casas 8199,5 (8,8) 19519,8 (21,0) 11320,3 (138,0) Costa e Silva 22331,3 (15,7) 53548,1 (37,7) 31216,8 (139,8)

Nota: 1 - Cálculo efetuado através do SIG (Sistema de Informação Geográrica) sobre os dados totais da amostra, proporcionais à área total de ocupação do solo dos conjuntos; 2 - A Área Total Construída foi calculada considerando apenas a projeção da área média construída no solo.

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Blocos de apartamentos

Os cinco conjuntos habitacionais constituídos por blocos de apartamentos sofreram aumentos significativos na área construída (de 45,1% no Cavalhada, a 23,3% no Angico). A implantação dos conjuntos caracteriza-se por blocos de apartamentos circundados por espaços abertos comunais, originalmente destinados ao uso semi-privado e semi-público. Em todos os conjuntos, a falta de clareza física na definição de hierarquia espacial resultante do projeto original gerou problemas na efetiva apropriação dos espaços abertos comunais: os espaços abertos destinados a lazer, recreação, estacionamento e circulação, foram gradualmente invadidos por construções irregulares, para usos diversificados, tais como garagens, depósitos, churrasqueiras, prestação de serviços, pequeno comércio e uso residencial. As conseqüências decorrentes dessas construções irregulares refletem-se de três maneiras:

• quando são realizadas nos espaços semi-privativos pertencentes ao bloco de apartamento (pátio do prédio), estes espaços comunais deixam de existir para transformar-se em espaços privados, reduzindo as condições e oportunidades de convívio social entre os moradores, assim como eliminam o principal local de recreação das crianças menores, que necessitam de maior resguardo e segurança, garantido pela proximidade entre a área de recreação e sua moradia. Em decorrência da falta de espaço adequado, estas atividades de convívio e recreação infantil tendem a ocorrer próximas a entrada dos prédios, provocando conflitos entre os usuários dos espaços e os moradores do pavimento térreo, que reclamam do barulho e falta de privacidade visual, devido ao movimento intenso de pessoas nas proximidades de suas janelas. Nos poucos blocos de apartamento onde estes espaços foram preservados, o uso é intenso e o nível de manutenção dos espaços comunais e edificações tendem a ser satisfatórios, diferentemente do que acontece quando estes espaços são invadidos por construções, afetando a imagem do bloco e seu valor simbólico de entrada principal da moradia.

• quando as construções irregulares são efetuadas como "puxado" do próprio prédio, isto é, quando novas peças são anexadas ao prédio pelos moradores dos apartamentos térreos, as consequências assumem outras proporções, pois além de eliminar os espaços de convívio, podem afetar a estrutura da edificação.

• quando os espaços semi-públicos do conjunto são invadidos por construções, os efeitos tomam maiores proporções, tanto a nível de segurança no próprio conjunto, quanto na aparência e imagem do próprio conjunto. Isto é, além de eliminar totalmente ou

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parcialmente as possibilidades de recreação da população moradora do conjunto, que geralmente está localizado afastado de áreas públicas de lazer, promove a proliferação de barreiras desordenadas que dificultam a circulação e impedem a visibilidade, facilitando a ocorrência de crime, vandalismo e violência, em geral.

Dos cinco conjuntos de blocos de apartamentos investigados, somente no Sapucaia e no Loureiro da Silva, existem área e equipamentos destinados a recreação e lazer de moradores de diferentes faixas etárias, sendo que o conjunto habitacional Sapucaia, apesar de ter tido grande parte das áreas livres invadidas por construções, apresentando um acréscimo de 83,5% de área construída no solo, sofreu modificações importantes implementadas e mantidas pela prefeitura de Sapucaia, como a construção de área de recreação, equipada com brinquedos, canchas esportivas, ajardinamento e mobiliário, além da implementação de calçamento padronizado nos passeios da principal via de circulação. Todas estas reformulações propiciaram um aumento no uso de espaços semi-públicos pelos moradores. No entanto, os espaços semi-privados foram majoritariamente eliminados.

No conjunto habitacional Loureiro da Silva, a invasão dos espaços abertos por construções irregulares é verificada nas áreas semi-públicas originalmente designadas para estacionamentos coletivos e circulação, e extensões de apartamentos do pavimento térreo, alcançando um acréscimo de 42,9% de área construída. Os espaços destinados ao uso coletivo foram preservados e são intensamente utilizados por jovens e crianças, embora encontrem-se em péssimo estado de conversação, com mobiliário e equipamentos recreação depredados, e sejam percebidas como inseguros.

Área de lazer - setor 1 -

Conjunto hab. Sapucaia Área de recreação infantil - setor 2 Conjunto hab. Sapucaia Cancha esportiva Conjunto hab. Loureiro da Silva Figura 1: Exemplos de espaços semi-públicos em conjuntos habitacionais de blocos de apartamentos.

Nos conjuntos Guajuviras (blocos) e Angico, não existe local destinado ao lazer e recreação. Em virtude do processo de invasão e irregularidade do conjunto, o Guajuviras blocos não recebe benefícios da Prefeitura Municipal de Canoas, como melhorias de

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pavimentação, ou construção de áreas de lazer e recreação. As áreas projetadas inicialmente para esse fim foram todas invadidas por construções irregulares. . Com infraestrutura deficiente e falta de serviços e comércio na área, os próprios moradores começaram a criar pontos comerciais para suprir as necessidades locais. Consequentemente, o uso dos espaços abertos comunais por crianças, adolescentes e adultos restringe-se às áreas de circulação entre as construções originais e informais, aos espaços semi-privados de alguns blocos que conseguiram evitar ou organizar as construções clandestinas, e as ruas para realizar atividades tais como jogar bola, andar de bicicleta ou apenas conversar. É o conjunto com maior acréscimo de área, alcançando 131,7% , porém a taxa de ocupação dos espaços abertos (31%) é similar ao Sapucaia. A taxa de ocupação original do terreno era a mais baixa dentre os conjuntos de blocos (13,37%).

No Angico, por ser um conjunto com áreas livres reduzidas, o aumento de área refere-se predominantemente a individualização e cobertura das áreas de estacionamento aberto, com poucos acréscimos efetuados por extensões de apartamentos do pavimento térreo, totalizando um acréscimo de 36,9% de área construída nos espaços abertos. As crianças, praticam atividades de recreação nas áreas de circulação e nas proximidades dos blocos no conjunto, provocando conflito entre os moradores devido ao barulho e freqüente quebra de vidraças. Isto acaba implicando no uso das áreas de circulação vertical (escadas e passarelas) de acesso aos apartamentos. Devido a aridez (praticamente sem vegetação de porte ou cobertura vegetal) e falta de local apropriado nos espaços abertos do conjunto, as áreas de circulação também são utilizadas por adultos, para socializar com os vizinhos: é costume manter as portas dos apartamentos abertas, e cadeiras são posicionadas para conversar e tomar mate.

O conjunto habitacional Cavalhada dobrou a quantidade original de área construída, passando de 21,9% para 45,1% da área do terreno invadida por construções irregulares. É o conjunto com maior número de construções clandestinas, sendo muitas delas acréscimos de área dos apartamentos ("puxados"), anexados ao próprio bloco de apartamentos (que não limitam-se aos apartamentos térreos). Dos espaços semi-privado dos prédios (pátios), restou apenas espaço para circular entre as edificações. Dos espaços semi-públicos, restou um único o espaço aberto destinado ao lazer e recreação que não foi invadido: a praça localizada próxima da creche, escola, e a sede do centro comunitário, insuficiente para toda a população do conjunto. Invadidos por construções irregulares que predominam em toda a região, utilizadas como pontos comerciais/serviços, garagens, e uso residencial, os outros

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espaços abertos caracterizam-se como residuais, e não apresentam nenhum tipo de atrativo aos moradores; são considerados inseguros, utilizados como ponto de tráfego de drogas, onde costumam ocorrer confrontos com a polícia. A apropriação das ruas pelas crianças, adolescentes e adultos ficou estabelecida, tornando-se ponto de encontro e recreação, simultaneamente ao tráfego de veículos.

Sobrados

Nos quatro conjuntos habitacionais de sobrados, a relação original entre área construída era de aprox. 30% da área total do conjunto ocupada por edificações. Estes índices foram aumentados. No entanto, diferentemente dos conjuntos de blocos de apartamento, os acréscimos de área restringem-se a construções destinadas ao uso coletivo e à freqüente ocupação do pátio dos fundos para aumento de área de serviço. Em conjuntos de sobrados, a implantação típica consiste fitas de sobrados localizados frente a frente, inseridos em um lote, separados por uma rua estreita (de 5-6 metros de largura) destinadas ao uso simultâneo de veículos e pedestres, que afetam a privacidade dentro das moradias. O número de fitas varia de acordo com o tamanho e forma do lote. Os sobrados possuem um pequeno espaço aberto privado nos fundos e eventualmente possuem um pequeno recesso na frente. A quantidade de área destinada a lazer e recreação é insuficiente, inadequada, e em alguns casos, inexistente. São utilizadas por adultos e crianças dos conjuntos para lazer e recreação, tornando estas atividades inseguras e o sistema de circulação deficiente. A quantidade de espaços destinados a circulação e estacionamento de veículos, insuficiente para o número de carros existentes, ocupa uma extensa parcela do terreno. Muitos dos moradores não utilizam os espaços abertos do conjunto, preferindo ficar em suas moradias. Os que usam, costumam ficar na frente da moradia, com portas abertas para auxiliar na ventilação interna.

Pracinha infantil

Conjunto hab. Vale Verde Acesso veículos e pedestres Conjunto hab. Santo Alfredo Acesso principal em desnível Conjunto hab. São Jorge Figura 2: Espaços abertos comunais nos conjuntos Vale Verde, Santo Alfredo e São Jorge

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Dos quatro conjuntos, o Vale Verde é o maior, e apresenta a mais alta renda familiar dentre os doze conjunto investigados e apresenta o melhor nível de manutenção das edificações e espaços abertos coletivos, refletindo a boa organização existente entre os moradores. O conjunto é protegido por grades, e controlado por um guarda, contratado pelos moradores. Os espaços destinados a recreação e lazer dos moradores, localizam-se nos fundos do conjunto, e são considerados insuficientes e inadequados. Esta parte do conjunto não encontra-se em bom estado de conservação quando comparada ao restante do conjunto, e é considerada insegura pelos moradores, provavelmente por ter reduzida acessibilidade visual.

Os conjuntos habitacionais Santo Alfredo e São Jorge são lindeiros, com sobrados de projeto e implantação similares, possuem uma rua de 5 metros de largura entre duas fitas retilíneas de sobrados, e uma viela secundária de acesso à terceira fileira de sobrados. As crianças circulam por todo o conjunto, e não tem nenhum lugar específico para desenvolver atividades. Apesar da similaridade entre as condições financeiras dos moradores dos dois conjuntos, melhorias significativas foram introduzidas somente nos espaços semi-privados do Santo Alfredo. Os dois conjuntos apresentam diferenças significativas quanto a apropriação do conjunto, devido à localização do estacionamento de veículos e das características topográficas dos terrenos: o terreno do Santo Alfredo é plano, enquanto que o do São Jorge é íngreme, com um barranco acentuado nos fundos do terreno que inibe o seu uso. Com o estacionamento localizado nos fundos do terreno, a rua principal do Santo Alfredo é utilizada para a passagem simultânea de carros e pedestres, provocando desconforto e insegurança para as crianças que costumam brincar nestes locais.

Com exceção de uma churrasqueira coberta localizada junto ao estacionamento, na entrada do conjunto, o São Jorge não efetuou nenhuma melhoria no conjunto, e os moradores mostram-se menos interessados em interagir. As características do terreno e a falta de organização entre os moradores parecem ter afetado a decisão de tornar os espaços mais adequados às suas necessidades. Com o estacionamento localizado na frente do lote, a rua principal é utilizada exclusivamente por pedestres, mas possui degraus que inibem brincadeiras infantis, assim como os fundos do terreno, devido ao barranco existente.

O conjunto habitacional João Vedana teve uma percentagem maior de acréscimo de área construída, relativa a cobertura da área de estacionamento (28,6% de acréscimo), que, embora insuficiente, ocupa um terço da área dos sobrados. Não existe espaço aberto

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destinado a atividades de recreação e lazer no conjunto: as crianças brincam na rua, onde circulam veículos e pedestres, gerando um espaço inseguro para as crianças e incômodo aos moradores. O convívio entre os adultos é pequeno. Próximo a área de estacionamento nos fundos do terreno, localiza-se um espaço aberto residual, considerado como área abandonada devido às más condições sanitárias que apresenta, causada pela presença de uma sanga pré-existente ao conjunto. Esta é identificada como a área mais indesejável e perigosa do conjunto, e os moradores sentem-se impotentes para poder resolver o problema de saneamento, devido aos elevados recursos necessários para tal e a baixa renda familiar dos moradores (56,7% dos moradores possui 1-5 salários mínimos de renda familiar).

Casas

Nos conjuntos habitacionais formados por casas isoladas no terreno, em fita ou geminadas, a configuração da área é tradicional, com quarteirões divididos em lotes privados, áreas de circulação de pedestres definidas pelas calçadas, e áreas de circulação para veículos, definidas pela caixa de rua. A hierarquia desses espaços é claramente definida. As atividades de recreação são desenvolvidas nos pátios das casas (espaços privados), nas calçadas próximas da moradia (espaços semi-privados), e nos espaços abertos comunais configurados pelas praças de uso coletivo (espaços semi-públicos), quando estas existem no conjunto. Porém o uso dos espaços abertos comunais depende de vários fatores, tais como a segurança percebida nos espaços comunais, as condições de manutenção e conservação do local e a adequação dos equipamentos e mobiliários existentes. Apesar da clareza na hierarquia espacial, existem problemas em relação ao controle dessas áreas, e é freqüente o uso das praças comunais por não-moradores do conjunto. Quando isto ocorre, os moradores evitam freqüentar as praças. As calçadas, além da função de circulação, possuem o potencial de desempenhar um papel social importante. Se tiverem dimensionamento, pavimentação e conforto ambiental adequados, e oferecerem segurança, são intensamente utilizadas pelos moradores, para conversar ou recreação infantil. Nos três conjuntos de casas avaliados, são mencionados problemas com a pouca largura das calçadas, muitas vezes impedindo o uso e plantio de árvores. Quando a falta de segurança é mencionada, refere-se principalmente a presença de grupos de indivíduos considerados marginais, configurando-se no principal problema percebido pelos moradores, decorrente da falta de controle dos espaços comunais de elementos indesejáveis. A percepção de insegurança afeta a preferência por tipo de moradia,

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mencionando que gostariam de morar em blocos de apartamentos, por ser considerado o tipo arquitetônico mais seguro.

As casas isoladas no terreno possuem uma maior área aberta privativa (dependendo do acréscimo de área construída efetuado em cada unidade), e se as condições de uso das áreas livres do conjunto não são devidamente preenchidas, os moradores utilizam suas áreas privativas. Os moradores de casas geminadas e em fita dependem da existência de espaços comunais para preencher a necessidade de atividades de lazer e recreação.

Praça recreação infantil e lazer Restinga casas - setor 2

Pátio da frente do lote Guajuviras casa - setor 2

Praça recreação e lazer Costa e Silva - setor 1 Figura 3: Espaços abertos semi-públicos nos conjuntos de casas

Os conjuntos Restinga-casas (com casas geminadas) e Costa e Silva (com casas isoladas no terreno e casas em fita) possuem praças, distribuídas conforme a proporcionalidade de abrangência de zona de casas. As melhorias introduzidas pela Prefeitura Municipal, como renovação dos equipamentos de recreação, plantio de árvores de sombra, intensificaram o uso desses espaços pelos moradores. A conservação das praças está sob a responsabilidade da Prefeitura Municipal, mas também é reforçada por moradores organizados dentro da comunidade, principalmente aqueles que possuem suas residências no entorno da praça. Apesar da boa aparência dessas áreas, ocorrências de violência são relatadas pelos moradores. Certas regiões que não oferecem segurança, são evitadas pela população. Algumas praças não são utilizadas à noite, pelo mesmo motivo. Mas nos locais mais seguros, o uso das praças é intenso, e varia segundo o clima e período do ano. Em virtude disso, pode-se verificar diferentes níveis de manutenção.

Da amostra de casas investigada, o único conjunto que não possui espaço aberto destinado a recreação e lazer é o conjunto Guajuviras casas (com casas isoladas no terreno). Assim como a amostra do Guajuviras blocos, este conjunto foi invadido, e porisso não é beneficiado pela Prefeitura Municipal de Canoas. Espaços destinados ao lazer e recreação não foram sequer previstos no local: as atividades são realizadas nas calçadas/ruas, e nos pátios frontais dos lotes por crianças e adultos. Neste conjunto, mais

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de 50% dos moradores tem renda familiar inferior a 5 salários mínimos. Portanto, apesar de ter aumentado 138% da área construída original, mantém-se como o conjunto com menor área construída (21% dos espaços abertos ocupados).

A grande maioria das casas foram modificadas, alterando o padrão original de ocupação do terreno e estético das casas. O acréscimo de área construída mencionado na tabela 2, refere-se exclusivamente ao aumento de área privativa no térreo, (não é considerada a área total da moradia). Estes aumentos apresentam variações nas dimensões e tipos de intervenção, decorrentes e proporcionais às condições financeiras do morador. É característico o uso misto da moradia: além de abrigar a função de moradia, abriga um ponto de prestação de serviço ou comércio. Estas atividades não foram prevista no projeto, e foram sendo criados vários estabelecimentos comerciais nas próprias casas, de acordo com as necessidades dos moradores.

Relação entre uso e sentido de comunidade

A importância da provisão de espaços abertos comunais adequados é confirmada através da identificação de relações estatisticamente significativas ou tendências (testes Kruskal-Wallis e Spearman) que indicam que:

• moradores que usam os espaços abertos semi-privado e semi-público tendem a estar mais satisfeitos com o conjunto habitacional do que os que não usam.

• existe relação entre o uso dos espaços abertos e o tipo de relacionamento entre os moradores em ambos os sentidos: moradores que usam os espaços abertos comunais mantém melhor relacionamento entre sí do que os que não convivem com vizinhos, assim como o mau relacionamento entre moradores pode resultar em não uso de espaços de convívio. Este mau relacionamento geralmente é conseqüente da inadequação ou insuficiência de espaços destinados ao convívio e recreação, provocando conflitos entre os moradores devido ao uso alternativo de locais que podem provocar barulho excessivo, falta de privacidade ou até mesmo danos materiais.

• embora não tenha sido identificado um padrão entre sentido de comunidade e tipo arquitetônico, nota-se a tendência de que os moradores de casas tem melhor relacionamento entre sí do que os moradores de blocos de apartamentos ou sobrados, o que confirma o argumento acima, haja visto que a existência de conflitos decorrentes da inadequação dos espaços abertos é maior nos conjuntos de blocos e sobrados.

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As correlações existentes entre níveis de satisfação com o relacionamento entre os moradores e nível de satisfação com o conjunto e nível de satisfação com o lugar onde vive, revelam a importância da relação entre os moradores para a satisfação dos mesmos com os seus conjuntos e lugares onde vivem.

Considerando a amostra dos 12 conjuntos, foram identificadas correlações entre o essas variáveis (c=.2642, sig.=.000 e c=.1791, sig.=.001), indicando que quando mais positivo for o relacionamento entre os moradores, maior será a satisfação em relação ao conjunto e ao lugar onde vive, e vice-versa. As correlações identificadas nos conjuntos João Vedana e Guajuviras (casas) evidenciam claramente esta relação: o mau relacionamento entre os moradores do João Vedana está relacionado com a insatisfação com o conjunto (c=.5216, sig.=.003), enquanto que o excelente relacionamento entre os moradores do Guajuviras casas está relacionado com a avaliação satisfatória do conjunto (c=.5260, sig.=.002). Além disso, o relacionamento entre os moradores no Cavalhada, São Jorge e Vale Verde apresenta correlação com nível de satisfação com o lugar onde moram (c=.3860, sig.=.027; c=.4595, sig.=.042; c=.4045, sig.=.027, respectivamente).

Os resultados indicam que a relação com os demais moradores e o sentido de comunidade afeta o nível de manutenção e reparo dos espaços abertos e equipamentos comunitários: quanto melhor o relacionamento, melhor é a organização da comunidade em prover e manter os espaços comunais do conjunto. Logo, problemas de relacionamento entre os moradores são evidenciados pela falta de organização e manutenção do conjunto. Além de indicar o quanto está presente ou não um sentido de comunidade entre os moradores, também indica o quanto este sentido pode estar sendo favorecido ou desfavorecido pelas características físicas dos conjuntos.

O impacto da qualidade do ambiente construído no grau de satisfação

com o conjunto

O nível de organização entre os moradores, medido através da constatação sobre o tipo e intensidade de relacionamento existente entre eles, identificados por meio de questionários, entrevistas e levantamentos de comportamento, reflete-se tanto na aparência externa das edificações quanto nos espaços abertos comunais: quanto mais organizados, melhor tende a ser o nível de manutenção e vice-versa. A grande maioria das alterações efetuadas nestes conjuntos são individualistas, isto é, ao invés de esforços conjuntos serem efetuados para preencher as necessidades da comunidade, por exemplo em relação a

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preservação dos espaços abertos coletivos e edificações, as ações são tomadas por iniciativa própria, independentes da opinião dos outros moradores. As conseqüências são negativas em diversos aspectos: na aparência negligenciada das edificações, na falta de espaços abertos para a realização de atividades de recreação e lazer, na falta de manutenção dos espaços abertos do conjunto, na insegurança e deficiência de circulação ocasionada pela desorganização das construções irregulares.

Tabela 3: Níveis de satisfação com o conjunto, aparência das edificações e espaços abertos, e quantidade de espaços abertos

(1) Satisfação com o conjunto (2) Satisfação c/ a aparência das edificações (3) Satisfação c/ a aparência dos espaços abertos (4) Satisfação c/ a quantidade de espaços abertos Conjuntos

mean rank (K- Mean rank (K-W) mean rank (K-W) Mean rank (K-W)

Loureiro da Silva 193,40 197,37 174,48 193,80 Guajuviras blocos 194,06 185,84 182,97 159,89 Angico 167,95 180,67 153,03 177,60 Sapucaia 180,83 113,38 253,30 207,35 Cavalhada 122,61 98,23 140,47 141,23 Santo Alfredo 168,73 207,75 213,00 152,00 São Jorge 159,05 190,45 116,10 158,40 Vale Verde 225,20 214,63 260,30 177,60 João Vedana 131,70 131,02 125,67 139,20 Restinga casas 234,08 225,85 211,03 267,46 Guajuviras casas 192,53 213,45 177,97 167,67 C. e Silva casas 255,53 284,63 227,75 273,89

Os dados da tabela acima mostram que a aparência degradada do conjunto, que inclui a aparência das edificações e dos espaços abertos, afetou negativamente o nível de satisfação dos moradores em relação ao conjunto habitacional, afetando a auto-estima dos moradores, que vem a ser discriminados muitas vezes, pela imagem que o conjunto adquire, como é o caso do conjunto Cavalhada. As consequências são percebidas na falta de motivação que estes moradores tem em promover a conservação do conjunto habitacional como um todo, desde manutenção com espaços abertos comunais, introdução de melhorias, e até a própria manutenção dos prédios. Da mesma forma, avaliação positiva do conjunto pelos moradores do Costa e Silva é justificada pela alta satisfação com a aparência das edificações e com a quantidade de espaços abertos.

Os níveis de satisfação com a aparência das edificações (casas, blocos ou sobrados) dos conjuntos variam significativamente (K-W, chi2=90.7660, sig.=.0000) entre os respondentes dos 12 conjuntos investigados. Apenas o conjunto de casas Costa e Silva possui mais de 50% dos moradores satisfeitos (75% satisfeitos) com a aparência das

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edificações do conjunto, e nenhum morador insatisfeito. Os moradores do conjunto Cavalhada são os mais insatisfeitos com as edificações do conjunto (63,6% insatisfeitos), seguidos pelos moradores do Sapucaia (60% insatisfeitos). Estes são os conjuntos que apresentam as piores condições de manutenção dos blocos de apartamentos, com sérios problemas técnicos identificados nas fachadas e nas passarelas externas de circulação.

Os níveis de satisfação com a aparência dos espaços abertos dos conjuntos são significativamente diferentes entre os moradores dos conjuntos analisados (K-W, Chi2=67,6607, sig.=.0000). Os mais insatisfeitos são os moradores do São Jorge, seguidos do João Vedana. Em decorrência da estrutura montada para garantir a manutenção dos espaços abertos, os moradores do Vale Verde são os mais satisfeitos, seguidos do Sapucaia, os únicos a terem 50% dos respondentes que consideram os espaços abertos do conjunto com aparência positiva. O Vale Verde é o terceiro conjunto entre os mais satisfeitos com o conjunto habitacional e com a aparência das edificações, embora estejam insatisfeitos com o tipo de moradia sobrado, e com a largura das áreas de circulação.

A aparência dos espaços abertos do conjunto João Vedana é fortemente afetada pela existência da sanga nos fundos do terreno, desmotivando os moradores a fazer outras melhorias e até mesmo a manutenção dos espaços abertos e sobrados. Devido a impossibilidade de utilização dos fundos do terreno e da alta ocupação dos espaços abertos do conjunto por estacionamentos cobertos de veículos, estes moradores são os mais insatisfeitos com a quantidade de espaços abertos.

Os conjuntos Santo Alfredo e São Jorge ilustram o importante papel que as pequenas diferenças em características físicas dos espaços abertos e das relações entre esses espaços abertos e as moradias tem em afetar o desempenho do conjunto como um todo. Um dos aspectos que parece afetar mais fortemente a insatisfação dos moradores com a aparência dos espaços abertos do conjunto São Jorge refere-se a área destinada ao estacionamento de veículos, por estar localizada na entrada do conjunto, formando uma barreira visual entre a rua e o conjunto, afetando a estética e segurança no conjunto (dentre a amostra dos doze conjuntos, os moradores do São Jorge são os mais insatisfeitos com as áreas de estacionamento). No Santo Alfredo, o estacionamento localiza-se nos fundos do terreno, e a permeabilidade visual entre a frente do conjunto e a rua fica preservada.

Da exploração de relações entre níveis de satisfação com o conjunto, aparência das edificações e aparência dos espaços abertos, foram confirmadas correlações. Na amostra total, existe correlação entre o nível de satisfação com a aparência das edificações do conjunto e o nível de satisfação com o conjunto (c=.4085, sig.=.000), revelando a

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importância da aparência das edificações do conjunto para a satisfação dos moradores com o conjunto. Esta importância é referendada pelas correlações existentes em conjuntos de blocos (Loureiro da Silva com c= .3681, sig.=.013; Angico com c=.5848, sig.=.001), nas casas geminadas (Restinga com c=.3765, sig.=.024), e nos sobrados (João Vedana com

c=.5895, sig.=.001; São Jorge com c=.4859, sig.=.030). Portanto, a importância da aparência das edificações do conjunto dissemina-se entre conjuntos caracterizados por distintos tipos arquitetônicos.

Também foi encontrada correlação entre níveis de satisfação com a aparência dos espaços abertos dos conjuntos e níveis de satisfação com os conjuntos, na amostra total

(c=.4085, sig.=.000). A importância da aparência dos espaços abertos fica evidenciada pelas correlações existentes em três conjuntos com blocos de apartamentos, nomeadamente Loureiro da Silva (c=.3848, sig.=.009), Cavalhada (c=.4198, sig.=.015) e Guajuviras blocos

(c=.5981, sig.=.000), indicando que a aparência dos espaços abertos dos conjuntos tem uma importância maior para os moradores dos blocos de apartamentos. De acordo com as correlações encontradas, a aparência das edificações assume importância para os moradores de conjuntos com distintos tipos arquitetônicos.

CONCLUSÃO

É salientada a importância da definição de uso e possibilidade de controle de áreas destinadas ao uso público, semi-público, semi-privado e privado, e suas conseqüências na apropriação e manutenção dos espaços abertos de conjuntos de blocos de apartamentos, sobrados, casas isoladas no terreno, em fita e geminadas, evidenciando o potencial que o layout dos conjuntos tem em suportar ou inibir o relacionamento e organização entre moradores. O nível de organização entre os moradores reflete-se tanto na aparência externa das edificações quanto nos espaços abertos comunais: quanto mais organizados, melhor tende a ser o nível de manutenção. Da mesma forma, a intensidade de construções irregulares denota a falta de integração entre os moradores, além de afetar a legibilidade do conjunto, tornando o espaço disponível para uso escasso e fragmentado.

É confirmado o importante papel de espaços abertos comunais como meio de promover a formação de comunidade entre os moradores, afetando o tipo de apropriação, positiva ou negativa, e o nível de satisfação dos moradores com o desempenho dos conjuntos habitacionais constituídos por diferentes tipos arquitetônicos: atributos físicos, tais como definição espacial, controle de território, adequação na provisão de espaços de

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recreação e socialização, etc., quando são satisfatórios, afetam positivamente as atitudes dos moradores em relação ao conjunto, afetando a motivação dos moradores em introduzir melhorias no conjunto através de modificações físicas e manutenção. Por outro lado, insatisfação com arranjos espaciais do conjunto e usos conflitantes causados pela natureza dos espaços semi-privados e semi-públicos, assim como os tipos de alterações introduzidas, foram identificados como afetando negativamente as atitudes dos moradores em relação ao conjunto e aos outros moradores, promovendo conflitos sociais e negligencia na manutenção do conjunto. No entanto, variações nos efeitos negativos provocados pelas características físicas dos espaços abertos comunais identificados entre os conjuntos habitacionais constituídos pelos diferentes tipos arquitetônicos sugerem que o papel dos espaços abertos comunais varia entre conjuntos formados por cada tipo investigado, tanto em termos de desempenho físico quanto desempenho social.

Concluindo, os resultados indicam que muitos dos fatores que afetam o desempenho ambiental são relacionados a aspectos de projeto que poderiam ter sido adequadamente incorporados no projeto original dos conjuntos habitacionais formado pelos diferentes tipos arquitetônicos investigados, desde que os vários aspectos ligados à percepção dos moradores e ao uso dos espaços fossem respeitados e levados em consideração. Além disso, o estudo ilustra como moradores de conjuntos habitacionais tendem a reforçar ou modificar a definição física dos espaços, alterando as relações entre os componentes do sítio. As conseqüências podem ser adversas, ocasionando, sérios problemas relativos à segurança, conforto ambiental, legibilidade e orientação, e afetando negativamente sentimentos de auto-estima, relacionamento entre os moradores, e a sensação de pertencer e identificar-se com o lugar em que vive, sensações essas consideradas condições necessárias para um bom desempenho de ambientes residenciais.

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Ao apoio financeiro da Caixa Econômica Federal, e colaboração dos bolsistas de iniciação científica UFRGS/CNPq Vitor Ambrosini, Paulo Gustavo Barreto, Graciela Mélega, Selma Rubina, Silvia Klein, Roberta Andreolla e Aline Veiga.

Referências

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