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RELATÓRIO FINAL DO PROJETO DE PESQUISA: DESAFIOS INTERDISCIPLINARES NOS PROCESSOS DE FORMAÇÃO E TRABALHO EM SAÚDE URBANA NA COMUNIDADE

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Academic year: 2021

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INSTITUTO DE PSICOLOGIA DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Formação e Exercício Profissional em Serviço Social – GEFESS

Programa de Extensão e Pesquisa em Saúde Urbana, Ambiente e Desigualdades

RELATÓRIO FINAL DO PROJETO DE PESQUISA:

DESAFIOS INTERDISCIPLINARES NOS PROCESSOS DE

FORMAÇÃO E TRABALHO EM SAÚDE URBANA NA COMUNIDADE

Pesquisadora: Profª. Dra. Alzira Maria Baptista Lewgoy

Financiamento:

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq – Edital nº 07/2011- CNPq/ CAPES/ 31/12/2011- Processo 402031/2011-3

Porto Alegre Dezembro, 2014

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NOME DO PROJETO: DESAFIOS INTERDISCIPLINARES NOS PROCESSOS DE

FORMAÇÃO E TRABALHO EM SAÚDE URBANA NA COMUNIDADE

PERÍODO DE REALIZAÇÃO: dezembro de 2011 a dezembro de 2014

COORDENADORA DO PROJETO:

Profª Dra. Alzira Maria Baptista Lewgoy – Grupo de Estudos e Pesquisa em

Formação e Exercício Profissional em Serviço Social-GEFESS/ UFRGS. Programa de Extensão e Pesquisa em Saúde Urbana, Ambiente e Desigualdades/UFRGS

COMPOSIÇÃO DA EQUIPE DE PESQUISA:

Pesquisadora e supervisora da pesquisa de campo:

Profª. Dra. Alzira Maria Baptista Lewgoy GEFESS/ UFRGS

Pesquisadores da equipe:

Alzira Mª B. Lewgoy (Serviço Social); Maria Inês Azambuja (Medicina);

João Henrique Godinho Kolling (Medicina);

Roberta Alvarenga Reis (Fonoaudiologia) – ano 2013 Maurem Ramos (Nutrição) – ano 2013

Auxiliares da pesquisa – alunos de iniciação científica:

Elisa Leivas Waquil (Serviço Social) Gabriela Zanin (Serviço Social)

Pamela Pasqualotto Rosseto (Serviço Social)

Colaboração – bolsistas voluntários:

Anely Marmitt (Serviço Social)

Cristiano Borges Martins (Psicologia) Denise dos Santos (Serviço Social)

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Rafaela Faccin (Nutrição)

Consultores voluntários:

Prof. Juliana Balbinot Hilgert – PPG Odontologia Social, UFRGS (WHOQOL) Prof. Andrea Fachel – Curso de Política Públicas, UFRGS (WHOQOL)

INSTITUIÇÕES PARCEIRAS:

Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS):

a) Curso de Serviço Social do Instituto de Psicologia e Curso de Psicologia do Departamento de Psicologia e de Personalidade;

b) Faculdade de Medicina - Departamento de Medicina Social (Medicina e Nutrição)

c) Faculdade de Odontologia - Departamento de Odontologia Social (Curso de Fonoaudiologia)

d) Programa Interdepartamental de Extensão e Pesquisa Saúde Urbana, Ambiente e Desigualdades www.ufrgs.br/saudeurbana

Parceiros externos

a) Unidade Básica de Saúde/ HCPA- Santa Cecília b) CRAS - Centro

c) Comunidade da Vila Sossego

ÓRGÃOS FINANCIADORES:

a) CNPq – órgão financiador deste Projeto de Pesquisa

b) MEC/PROEXT- órgão financiador do Programa Saúde Urbana, Ambiente e Desigualdades, promotor do Projeto de Extensão InterSossego, base deste Projeto de Pesquisa

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...06

2 A PESQUISA E OS REFERENCIAIS TEÓRICOS...08

3 OBJETIVOS PROPOSTOS E PROCESSO METODOLÓGICO: A CONSTRUÇÃO COLETIVA DA PESQUISA ...14

3.1 OBJETIVOS...14

3.2 O PROCESSO METODOLÓGICO DA PESQUISA QUANTITATIVA E QUALITATIVA...15

3.2.1 Universo e instrumentos...17

3.2.2 A construção coletiva da pesquisa... 20

3.3 QUESTÕES ÉTICAS E DEVOLUÇÕES DO RESULTADOS... 26

4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS... 27

4.1 CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-DEMOGRÁFICA DAS HABITAÇÕES E DA POPULAÇÃO………... 27

4.2 A DINÂMICA DAS RELAÇÕES SOCIAS NO ACESSO AOS DIREITOS DE CIDADANIA , NO CONTEXTO DA COMUNIDADE VILA SOSSEGO... 36

4.2.1 Caracterização dos sujeitos pesquisados…... 36

4.2.2 Cidadão, Cidadania e participação, a compreensão dos sujeitos pesquisados... 40

5 PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES PARA O ESTUDO DA TEMÁTICA INVESTIGADA... 45

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS………... 48

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ANEXOS E APÊNDICES

ANEXO A– Aprovação do Comitê de Ética... 54 ANEXO B – Ficha A adaptada pela UBS HCPA/Sta. Cecília...55 ANEXO C – WHOQOL Breve...59 APÊNDICE A - Instrumento de Pesquisa – Termos de Consentimento Livre

Esclarecido- Questionário Domicílio e WHOQOL breve... 62

APÊNDICE B - Instrumento de Pesquisa – Manual do Entrevistador... 63 APÊNDICE C - Instrumento de Pesquisa- Questionário Domicílio... 67 APÊNDICE D- Apresentações da Pesquisa nos Salões de Iniciação Científica

2013/2014... 71

APÊNDICE E – Apresentação da pesquisa no I Congresso de Geografia

da Saúde dos Países de Língua Portuguesa Coimbra, Portugal – 2014... 72

APÊNDICE F- Apresentação da Pesquisa no XIV ENCONTRO DE

PESQUISADORES EM SERVIÇO SOCIAL - ENPESS- Natal/RN- 2014... 73

APÊNDICE G – PUBLICIZAÇÃO DA PESQUISA NA COMUNIDADE VILA

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O presente relatório tem por finalidade sintetizar o trabalho de investigação desenvolvido pela pesquisa intitulada “DESAFIOS INTERDISCIPLINARES NOS PROCESSOS DE FORMAÇÃO E TRABALHO EM SAÚDE URBANA NA COMUNIDADE”, realizada no período de março de 2012 a dezembro de 2014. Foi constituída de uma parte quantitativa de caracterização sócio-demográfica e de saúde e qualidade de vida da população local, e de uma parte qualitativa, voltada a aprofundar o entendimento sobre as demandas por direitos sociais e as formas de encaminhá-las coletivamente, na comunidade Vila Sossego, e, a partir deste entendimento, identificar os desafios postos à formação profissional e ao trabalho interdisciplinar em comunidades, na perspectiva da saúde urbana.

Este projeto de pesquisa emergiu a partir de um Projeto de Extensão iniciado em 2011 em Porto Alegre titulado “INTEGRALIDADE E

INTERSETORIALIDADE: TRABALHO MUTIPROFISSIONAL NUMA MICRO

REGIÃO DA UBS HCPA /SANTA CECÍLIA”, título informalmente abreviado para Projeto InterSossego. O Projeto InterSossego já tem 3 anos de atividades, com foco em uma comunidade de aproximadamente 300 pessoas habitando irregularmente, há mais de 30 anos, uma área central de Porto Alegre. Em 2008, parte do território ocupado – área pública - foi reconhecida como Área Especial de Interesse Social (AEIS), ou seja, destinada a reurbanização com manutenção dos moradores no local. Passados seis anos, o processo de construção de moradias ainda não aconteceu.

Os objetivos do projeto de extensão são: 1) identificar, com os moradores, determinantes ambientais e sociais de saúde no local onde eles habitam; 2) identificar, com moradores, alunos e profissionais parceiros, as possibilidades e limites da prestação setorizada de serviços públicos, no que tange à modificação de determinantes ambientais e sociais no nível local, e 3) trabalhar, entre todos os envolvidos – professores, profissionais, alunos e comunidade, temas como, democracia, participação e autonomia, com vistas favorecer o diálogo interdisciplinar, intersetorial e com a comunidade, tendo como objetivos a solução de problemas locais e a produção de melhores condições de vida e de saúde na Comunidade (LEWGOY et al, 2011).

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Assim, a pesquisa emergiu da necessidade de entendermos a dinâmica das relações sociais na Vila Sossego, e a relação da mesma com a cidade, ou seja, como os moradores se organizam dentro da Comunidade, como a comunidade se relaciona com representantes de órgãos públicos, representações políticas e outras instituições e como se processa o encaminhamento de suas demandas sociais e a luta por cidadania (LEWGOY et al, 2011).

A temática abordada é complexa e o uso de abordagens quantitativas ou qualitativas isoladamente pareceu-nos insuficiente para lidar com essa complexidade. A natureza interdisciplinar da pesquisa foi outro fator que contribuiu para a proposição e desenvolvimento de uma abordagem mista (CRESWEL, 2011), quantitativa e qualitativa, já que a equipe é composta por pesquisadores cujos interesses e experiências metodológicas são diferentes. Se por um lado, isso potencializou o conhecimento sobre a realidade local, por outro, o tempo para a conclusão se ampliou, tendo em vista a necessidade da negociação de consensos na equipe.

Este relatório está estruturado em quatro partes. Os conteúdos abordados são apresentados na introdução. No segundo capítulo contextualiza-se a pesquisa e o referencial teórico sobre o tema. Na sequência, apresentam-se os objetivos da pesquisa e como esta se constituiu metodologicamente. No capítulo quatro é apresentada a descrição e a interpretação dos resultados obtidos a partir da pesquisa de campo. Por fim, busca-se avaliar quanto das metas previstas foram atingidas pela pesquisa, identificar as principais contribuições da pesquisa à temática proposta, assim como delinear o desenvolvimento futuro desta linha de investigação, de forma a produzir avanços científicos e sociais no campo da formação profissional e do trabalho interdisciplinar na perspectiva da saúde urbana.

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2 A PESQUISA E OS REFERENCIAIS TEÓRICOS

Como mencionado acima, o projeto de pesquisa nasceu da experiência de um ano no Projeto de Extensão Comunitária InterSossego, com o objetivo de aprofundar o diagnóstico sócio-demográfico e ambiental do contexto local e da organização da prestação de serviços, e desafiar o grupo a refletir, de forma interdisciplinar, sobre a adequação da formação profissional às necessidades e demandas locais, e sobre o papel da universidade na promoção da cidadania.

Na pesquisa participaram, em diferentes momentos, professores e/ou alunos de graduação dos seguintes cursos: Arquitetura e Urbanismo, Ciências Sociais, Comunicação Social, Enfermagem, Fonoaudiologia, Geografia, Medicina, Nutrição, Odontologia, Pedagogia, Psicologia, Saúde Coletiva e Serviço Social (coordenação), além de profissionais médicos, enfermeiros, assistentes sociais, educadores físicos e agentes comunitários com atuação local. Esta investigação buscou sempre favorecer múltiplos olhares sobre o contexto e principalmente a troca de percepções entre alunos, profissionais e a comunidade (FREIRE, 2005).

A pesquisa foi ancorada em alguns conceitos já relativamente estabelecidos, tais como interdisciplinaridade, território, desigualdades, formação, produção do conhecimento, democracia e comunidade, e estão contribuindo para a construção de outro – o de saúde urbana. Chama a atenção, nas áreas de formação profissionais de áreas mais “técnicas” como a Medicina, a Odontologia, a Enfermagem, a Fonoaudiologia e a Nutrição. a pouquíssima exposição dos alunos a este tipo de conhecimento, e seu interesse em aprender e trocar experiências com colegas das áreas “sociais”. As discussões no grupo interdisciplinar são desafiadoras e um grande aprendizado de escuta, pois o desenvolvimento interdisciplinar, intersetorial e comunitário dos projetos de extensão e de pesquisa exige que o grupo dialogue respeitando as diferenças originais de formação e da cultura de cada área que participa do processo.

A pesquisa interdisciplinar engajada aponta para um panorama "[...] mais amplo, mais complexo, mais inseguro, desconhecido e inacabado no plano teórico,

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constituindo maiores desafios para os investigadores que adotam.” (VASCONCELOS, 2002, p 171).

Por esta razão, uma revisão de conceitos-chave e seus significados foi realizada com base no corpo de conhecimentos que está à nossa disposição, como academia, mas foco no contexto da extensão e da pesquisa na Vila Sossego, e do Programa Saúde Urbana a que se vincula a Extensão.

Por isto, iniciamos pelo conceito de saúde urbana. É uma concepção que envolve as diversas áreas, por partilharmos projetos comuns de extensão e de pesquisa na UFRGS. O grupo entende que precisamos intensificar o debate público sobre a saúde urbana, o meio ambiente e as desigualdades na universidade e no Brasil.

A Saúde Urbana pode ser considerada, como aborda Caiaffa (2008, p.5),

[...] um ramo da saúde pública que estuda os fatores de riscos da cidade, seus efeitos sobre a saúde e suas relações sociais urbanas. Os atuais pilares da saúde urbana são: o adensamento de populações; o papel do ambiente físico e social como modelador da saúde das pessoas; a necessidade de aferir os fenômenos tendo como objeto as desigualdades injustas e evitáveis do ambiente físico, social em saúde e a governança e a governabilidade como propostas para as soluções para as iniquidades.

Neste sentido, vale lembrar trecho do documento da OMS/UNHABITAT denominado Hidden Cities (Cidades ocultas: desmascarando e superando as iniquidades em saúde nos ambientes urbanos, 2010, p.10, apud LEWGOY et al, 2014):

Sobrecarregados pela velocidade do crescimento, muitos governos não estão acompanhando a expansão continuada de necessidades de infraestrutura e serviços. O resultado disto e que muitas áreas urbanas contém – ao mesmo tempo, e nas mesmas cidades – o melhor e o pior para a saúde e o bem-estar.

Também o diálogo do vídeo canadense Unnatural Causes (2008, apud Azambuja et al, 2010), é bem explícito sobre a relação entre desigualdades na população (hoje majoritariamente urbana) e a saúde:

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[...] - Blackwell: A primeira coisa necessária é reconhecer que onde você vive impacta na sua saúde. Que o ambiente na comunidade, o ambiente social e o econômico juntos, determinam se teremos ou não uma existência saudável.

[...] - Williams: Isto significa que política de habitação é política de saúde. Educação é política de saúde. Política antiviolência é política de saúde. Políticas de melhorias nos bairros são políticas de saúde. Tudo que nós fizermos para melhorar a qualidade de vida dos indivíduos na sociedade tem impacto na sua saúde e é política de saúde

Observa-se assim, que os fenômenos que incidem sobre os territórios e as comunidades resultam de diversos fatores em interação complexa e dinâmica. Por isso é que a aproximação, a análise e a intervenção em meio a essa realidade exigem dos profissionais uma série de novos requisitos, como o de permitir-se dialogar com as diferenças das outras profissões em equipes interdisciplinares, entendendo que o seu saber técnico não é o único e que ele não dispõe de todas as respostas.

Historicamente fomos educados dentro de uma perspectiva de fragmentação do conhecimento, onde mesmo as instituições de âmbito educacional têm em sua base o modelo industrial, que impõe a disciplina, a eficiência e a ordem. A interdisciplinaridade surge como uma estratégia para entender a realidade na sua integralidade, a partir de diferentes óticas e áreas de saber. Segundo Paviani (2008), essa nova perspectiva tem sua origem na transformação dos modos de produzir ciência e de perceber a realidade e, igualmente, no desenvolvimento dos aspectos político-administrativos do ensino e da pesquisa nas organizações e instituições científicas. Sendo assim, ao considerar que a realidade é multidimensional, composta por diferentes e diversos fatores, na contemporaneidade percebeu-se que o modelo tradicional de disciplinarização/segmentação do conhecimento tornou-se insuficiente para responder todas as demandas atuais.

Trabalhar de forma interdisciplinar é um desafio cotidiano, pois requer flexibilidade, humildade, crítica e motivação (uma disposição subjetiva de aprender com o outro), contínua dos profissionais que compõe as equipes, processo esse que foi vivenciado pelos pesquisadores e bolsistas. Segundo Ferreira (1993), a interdisciplinaridade é uma relação de “reciprocidade, de multiutilidade que

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pressupõe uma atitude diferente a ser assumida frente ao problema do conhecimento, ou seja, é a substituição de uma concepção fragmentária para uma concepção unitária do ser humano.” (p. 21). Mas a interdisciplinaridade não significa a dissolução das disciplinas num saber unificado, e sim o compartilhamento do saber de cada disciplina a partir de um objetivo comum (STAUDT, 2008). E é fundamental entender que essa perspectiva não se restringe ao “[...] diálogo entre conhecimentos, pois ela, antes de tudo, é uma categoria de ação” (PAVIANI, 2008, p 19).

Essencialmente, é preciso romper com a lógica industrial que há tempos foi instaurada em nossa sociedade, pois o ser humano não é fragmentado, ele constitui-se dentro de uma totalidade e é preciso saber olhar para ela conjuntamente. Para isso é preciso acolher as diferenças, entendendo que não somos os protagonistas da intervenção, esse papel é destinado ao sujeito ao qual o nosso trabalho é dirigido. A interdisciplinaridade faz que as equipes de trabalho e projetos abriguem um poder democrático e transformador (LEWGOY; MENDES; SILVEIRA, 2008, p. 31).

No SUS, a diretriz de interdisciplinaridade que tem orientado as propostas de atenção à saúde da população é um bom exemplo de enfrentamento aos desafios a que nos referimos acima. Mas parece-nos que os desafios no SUS ainda são basicamente desafios de integração interdisciplinar setorial, com foco predominantemente na assistência dos usuários. Por exemplo, o Ministério da Saúde tem enfatizado a necessidade de os profissionais de saúde adquirirem conhecimento aprofundado do território de atuação de seus serviços como elemento fundamental para o desenvolvimento de um processo de trabalho efetivo na Atenção Primária (BRASIL, 2007). No entanto, parece-nos que mesmo quando a Atenção Primária é informada pela perspectiva espacial, o resultado pretendido limita-se à qualificação da oferta de serviços de assistência saúde, nos locais (LEWGOY et al, 2014).

A participação comunitária nas instâncias do SUS também tem limitado-se a discutir a assistência (mais médicos, mais dentistas, mais remédios, entre outros), pouco debatendo a Saúde como bem social que precisa não só ser recuperado (no caso de adoecimento), mas também promovido ( LEWGOY et al, 2014 ).

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McNamara (2011) diz que os determinantes sociais da saúde – condições da vizinhança, trabalho, qualidade da educação, distribuição da renda, racismo, – são consequências de um determinante anterior: a política. E que quando profissionais de Saúde Pública reconhecem que a saúde está fora das possibilidades do sistema de assistência , mas aceitam que ela seja suscetível à intervenção política, deveriam dar o próximo passo, e aceitar que a promoção da saúde seja responsabilidade de atores políticos. Mas quem são os atores políticos senão todos nós? ( LEWGOY et al, 2014 ).

O Brasil é um dos únicos países do mundo a definirem o município - a entidade administrativa urbana local - como um ente federativo. Pela Constituição Federal, esta entidade – Município/Cidade - constitui a esfera mais local de poder (ao lado dos Estados e União). Embora as desigualdades intraurbanas dependam de processos globais, nacionais e locais, o nível urbano é o nível mais próximo suscetível de mediação política. E é nas cidades que vive hoje a grande maioria da população brasileira. Ou seja, a cidade que concentra a população e onde se expressa de forma mais evidente a desigualdade é também onde está o primeiro nível de organização capaz de, através da ação política, mudar a realidade social e ambiental, com impacto na saúde da população ( LEWGOY et al, 2014 ).

Quando se pensa a saúde a partir da perspectiva dos determinantes sociais e ambientais do adoecimento desigual, e se localiza espacialmente as desigualdades com vistas a tentar influir sobre elas através da ação política, já deixamos para trás o contexto meramente setorial das políticas públicas de Saúde para pensar em como produzir interdisciplinaridade e intersetorialidade que dê conta de modificar as condições de moradia, renda, trabalho, educação, e o acesso a serviços de saúde, com o objetivo de produzirmos mais saúde e qualidade de vida. Mas se andarmos ainda um passo mais para trás, na direção das causas das causas, então teremos que considerar os processos sociais, econômicos e políticos que fomentam e mantém as desigualdades ambientais e sociais - que no grupo desfavorecido se expressam como pobreza, assentamentos urbanos irregulares, más condições de trabalho, baixa qualidade da educação, e má saúde. Ou seja, precisaremos não só de um fazer interdisciplinar mais amplo, como também de mais integração

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profissionais X comunidade, todos nós ao mesmo tempo produto e produtores destes processos políticos, econômicos e sociais ( LEWGOY et al, 2014 ).

Um grande desafio que se põe hoje aos pesquisadores é: Como dar uma dimensão transformadora à produção do conhecimento? E como produzir conhecimento a partir do cotidiano, do emergente? E, especialmente um conhecimento para desvelar os invisíveis, os voz, os teto, os sem-cidadania? Yasbeck (2005) denomina este conhecimento de “contra-hegemônico”, um conhecimento em movimento, dirigido a um novo lugar/formato de relações e poder.

A Comissão dos Determinantes Sociais da Saúde da OMS buscou superar as políticas descontextualizadas de promoção da saúde ao reafirmar que as condições de vida físicas e sociais (contexto) – e não simplesmente os estilos de vida (escolha) - são os fatores determinantes do adoecimento das pessoas (WHO, 2010). E mais, que se estas são as causas do adoecimento, elas também têm causas – as chamadas “causas das causas” - que é a distribuição desigual de poder, dinheiro e recursos na sociedade, e que é preciso aumentar o reconhecimento deste fato pelos profissionais de saúde e pela comunidade em geral (WHO, 2010).

O conhecimento deve ser transformado em ação, ou seja, ele deve servir para intervir na realidade (AZAMBUJA et al, 2011). Quando se fala em conhecimento, tem-se a impressão de unidade de um conhecimento social contemporâneo, com a qual nos relacionamos. No entanto, o conhecimento “[...] é uma totalidade complexa, que inclui em si diversidade e heterogeneidade” (BAPTISTA, 1992, p. 85).

A investigação sobre a saúde no contexto das cidades está hoje a desafiar a academia e os tomadores de decisão política em todo o mundo a produzirem diagnósticos e principalmente soluções para situações complexas com base em diálogos multi-disciplinares, intersetoriais, interinstitucionais e com as comunidades. O projeto aqui desenvolvido insere-se nesta perspectiva global ambiciosa, tendo como eixo a busca pelo aprofundamento da reflexão sobre como e com que perspectivas ético-políticas, teórico-metodológicas e técnico-operativas a Educação Superior deve avançar, considerando necessidades sempre novas (LEWGOY, 2013) e neste momento parece-nos que tendendo a se organizar em torno dos desafios

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urbanos do século XXI (AZAMBUJA, 2011).

A comunidade como objeto de atenção deve ser entendida a partir do território onde se estabelece. Território pode ter gente, mas não sujeitos. O território materializa as articulações estruturais e conjunturais a que os indivíduos ou os grupos sociais estão submetidos num determinado tempo histórico. É preciso entender os dois sistemas que envolvem a comunidade: o físico, constituído pelas redes de infraestrutura e o sistema constituído pela relação entre as pessoas.

Nas cidades, a saúde humana é construída em estreita associação com a produção dos locais de moradia, das condições de trabalho, da educação, transporte e acessos a serviços em geral, incluindo serviços de saúde (AZAMBUJA et al, 2011). O papel da academia deve ser o de contribuir para o estímulo de ações que possam favorecer projetos para a cidade real, ampliando, assim, a interação não somente entre as pessoas, mas também entre as diferentes áreas de conhecimento.

3 OBJETIVOS PROPOSTOS E O PROCESSO METODOLÓGICO: A CONSTRUÇÃO COLETIVA DA PESQUISA

Compreendida a relevância da Pesquisa, foram traçados então, pelo grupo, os objetivos a serem alcançados, bem como estabelecido o processo metodológico necessário para tal, e que serão detalhados a seguir.

3.1 OBJETIVOS Geral:

 Conhecer como se relacionam os atores no processo de busca por atendimento a direitos sociais na democratização do acesso à cidadania e redução das iniquidades, para o fortalecimento das conexões entre a realidade e os processos de formação e exercício profissional.

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Específicos:

 Identificar e promover competências para o trabalho interdisciplinar diante das demandas da formação profissional, comunidade e das políticas públicas;

 Analisar a dinâmica das relações sociais na comunidade Vila Sossego no que diz respeito à luta por acesso a direitos de cidadania;

 Dar visibilidade às estratégias que mobilizam a comunidade da Vila Sossego para o acesso aos direitos de cidadania.

3.2 PROCESSO METODOLÓGICO DA PESQUISA QUANTITATIVA E

QUALITATIVA

Para o desenvolvimento da pesquisa contou-se com uma equipe de pesquisadores composta pelos pesquisadores-doutores da UFRGS e pesquisadores associados e colaboradores de instituições parceiras, seniores (professores da pós-graduação e da extensão (Programa Saúde Urbana)) e júnior (doutorando), bem como com bolsistas de iniciação científica e bolsistas voluntários e de extensão (acadêmicos de graduação dos cursos de Serviço Social, arquitetura, psicologia, nutrição).

O processo de construção da pesquisa se estabeleceu de forma participativa visando incorporar a contribuição de todos os pesquisadores e instituições parceiras no desenvolvimento da investigação. Este processo se iniciou com a elaboração do Projeto de Pesquisa encaminhado e aprovado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq - Edital nº 07/2011- CNPq/ CAPES em 31/12/2011, processo 402031/2011-3. Após aprovação no edital Universal, o Projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da UFRGS (ANEXO 1), em 27/04 /2012. A pesquisa iniciou-se em agosto de 2012, com a inclusão de duas bolsitas de iniciação cientifica (CNPq e PIBIC-UFRGS) e cinco bolsistas voluntários que estão vinculadas ao Projeto de Extensão "Intersossego". Este estudo foi concluído em dezembro de 2014, com a participação de uma bolsista de Iniciação Cientifica (PIBIC- UFRGS).

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O projeto de investigação original propunha como objetivo geral “Conhecer como se relacionam os atores no processo de busca por atendimento a direitos sociais na democratização do acesso à cidadania e redução das iniquidades, para o fortalecimento das conexões entre a realidade e os processos de formação e exercício profissional” (LEWGOY et al, 2013). No entanto, a dinâmica do trabalho intersetorial na comunidade, dada pelas parcerias com a Unidade Básica de Saúde Santa Cecília do HCPA e o CRAS – Centro de Referência em Assistência Social do distrito centro do Município de Porto Alegre e a própria Comunidade, exigiu do grupo que se acrescentasse uma etapa não prevista de Censo sócio-demográfico e das condições de qualidade de vida e de saúde da população da Vila. A justificativa para isto foi o reconhecimento de que os diferentes órgãos públicos e a própria comunidade tinham informações diferentes sobre o número de domicílios e de moradores na área. Julgamos que avançaríamos na integração intersetorial em nível local se planejássemos e executássemos em conjunto este diagnóstico inicial. E que esta etapa também nos auxiliaria a levar a cabo as etapas subsequentes de seleção de moradores para a fase de pesquisa qualitativa, processo esse que foi bem sucedido no desenvolvimento da investigação, conforme as narrativas no item 3.2.2 deste relatório. Julgamos ainda interessante termos um diagnóstico das famílias que residem na comunidade antes do projeto de reurbanização, para eventual posterior comparação dos dados.

Assim, desenvolvemos conjuntamente e aplicamos logo após o recadastramento dos moradores pelas agentes de saúde da UBS Santa Cecília, dois instrumentos de coleta de dados (familiar e individual) com questões suplementares às informações já previstas na ficha A (de recadastramento). Pelo fato de estarmos interessados em promoção da Saúde, também julgamos apropriado traçarmos um perfil da percepção dos moradores sobre a sua qualidade de vida, utilizando para isto um instrumento simplificado (WHOQOL breve) desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde e bastante utilizado no Brasil para a avaliação da qualidade de vida de grupos de pacientes, de idosos, de trabalhadores. A este braço de investigação quantitativa executado em 2013, seguiu-se o trabalho de campo da fase qualitativa, desenvolvido ao longo de 2014.

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3.2.1 Universo e instrumentos

A pesquisa quantitativa teve como fontes de informações primárias todos os domicílios e respectivos moradores na Vila Sossego (censo) que tinham como referência de atendimento no SUS a Unidade Básica de Saúde do Hospital de Clínicas de Porto Alegre/Santa Cecília, ou seja, os residentes na área delimitada pelas ruas Veador Porto, Rua Livramento entre ruas Veador Porto e Euclydes da Cunha, e Rua Luis de Camões (Figuras 1 e 2).

Figura 1 - Mapa da Comunidade Vila Sossego (foto de satélite obtida em maps.google.com,

trabalhada pelo acadêmico Ícaro Epifânio de Arquitetura e Urbanismo, bolsista do projeto de extensão Intersossego) de forma a iluminar a área de estudo.

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Figura 2 - Croqui da Comunidade Vila Sossego (elaborado pela acadêmica de Arquitetura e

Urbanismo, bolsista do projeto de extensão Intersossego, Marília Backes) mostrando os limites de ruas e delimitação dos domicílios

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Com relação aos instrumentos, foi utilizada a Ficha A, que é um instrumento padronizado de coleta de dados aplicada pelas Unidades Básicas de Saúde do SUS no processo de cadastramento ou recadastramento de moradores em território sob sua responsabilidade. No caso, à ficha original foram acrescidas questões do interesse da Unidade para a identificação de portadores de condições para as quais já havia programas ou protocolos de atendimento estruturados no SUS. Adicionalmente a esta Ficha A adaptada, construiu-se, em conjunto com a UBS e o CRAS Centro, dois questionários suplementares (domiciliar e individual) que complementam o perfil dessa população. A Ficha A adaptada foi aplicada pelos agentes de saúde da UBS, após treinamento com o grupo de pesquisa da UFRGS, como atividade de recadastramento dos moradores junto à Unidade Básica de Saúde.

O instrumento suplementar, com questões mais sensíveis sobre a qualidade dos serviços de saúde e dados de renda, foi aplicado por acadêmicos da UFRGS aos mesmos domicílios visitados dias antes pelas agentes comuntarias de saude, e enfermeiras da UBS. Na visita do grupo de pesquisa da UFRGS, todos os com mais de 18 anos também eram convidados a participar respondendo questionários individuais que completavam informações sócio-demográficas e introduziam as questões de qualidade de vida (WHOQOL-breve).

O WHOQOL breve é um instrumento da OMS desenvolvido para uma avaliação rápida da percepção sobre qualidade de vida. É composto por 26 questões a serem respondidas numa escala de 5 pontos (ex. Muito ruim, ruim, nem ruim nem bom, bom, muito bom), a questão atribuídos escores de 1 a 5.

As 26 questões (ANEXO C1) foram depois agrupadas para representarem diferentes dimensões: geral, física, psíquica, relações sociais e ambientais. A tradução do instrumento na forma utilizada aqui – 5 dimensões com a distribuição original de variáveis proposta pela OMS – foi validado para uso no Brasil, em 2010. Mas há controvérsias e outras sugestões de agrupamentos de variáveis, conforme a população alvo estudada.

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Os demais instrumentos de coleta de dados foram constituídos por perguntas fechadas e abertas, com o objetivo de favorecer a compreensão do grupo sobre questões que integrariam a etapa qualitativa da pesquisa. A investigação de campo foi acompanhada do registro sistemático em diário de campo, com um roteiro orientador sobre os principais aspectos a serem observados e registrados. Os instrumentos utilizados na pesquisa qualitativa foram: grupo focal e entrevistas semi-estruturadas. O grupo focal, orientado pela referência de Bauer e Gaskell (2002), serviu para apreensão das interações e desvendamento de como as lideranças da comunidade pensam e agem sobre a participação e a interação entre os agentes políticos na garantia do acesso aos direitos sociais. A entrevista semi-estruturada foi utilizada considerando ser uma forma de interação social, pelo diálogo assimétrico no qual uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação (GIL, 1996).

3.2.2 A construção coletiva da pesquisa

As atividades iniciadas junto aos bolsistas consistiram primeiramente na leitura do projeto de pesquisa, com a finalidade de conhecimento da proposta, do que já foi realizado e, juntamente com a orientadora, planejamento da devida continuidade. Logo após seguiu-se ao levantamento de artigos nos portais da CAPES, CNPQ e Scielo sobre Interdisciplinaridade, Formação, Trabalho, Saúde Urbana e Comunidade, que são as respectivas palavras-chave do projeto. Posteriormente fez-se a leitura e fichamento dos artigos pesquisados seguindo com a realização de encontros quinzenais de debate e estudo sobre os temas propostos, com a orientadora e os participantes (5 bolsistas e docentes de várias áreas) do grupo de Extensão e de Pesquisa vinculados ao Projeto InterSossego, objetivando o compartilhamento de conhecimento. Estes encontros foram realizados quinzenalmente onde cada bolsista ficou responsável em apresentar um dos temas, fruto de um estudo dos temas anteriormente citados. Os demais participantes tinham como atribuição problematizar a temática abordada.

Bem traçadas as diretrizes do trabalho, para fins de operacionalizar a rotina, elaborou-se um cronograma com todas as atividades previstas para serem executadas pela bolsista durante o período da bolsa, para ser constantemente

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consultado ao longo do processo de trabalho.

Semanalmente foram realizadas reuniões técnico-administrativas do Grupo que é constituído por professores e alunos da UFRGS- Professoras Alzira Maria Baptista Lewgoy (Serviço Social), Maria Inês Reinert Azambuja (Medicina), Maurem Ramos (Nutrição-2013), Roberta Alvarenga Reis (Fonoaudiologia-2013), como representante do Prof. Jorge Castellá Sarriera (Psicologia-2012) o doutorando James Moura Jr (Psicologia 2012) e os acadêmicos bolsistas do Projeto InterSossego, representantes da equipe 1 da UBS-Santa Cecília- Médico João Henrique Kolling e Enfermeira Margery Zanetello e equipe do CRAS-Centro- Assistente Social Márcia Santos Bento e Oscar Pereira da Silva Filho.

Além de encontros semanais, foram realizadas mensalmente, como atividade do projeto de extensão associado, reuniões na UBS- Santa Cecília, onde além dos representantes acima citados, também participaram todos os demais integrantes de cada entidade. Nesses encontros, à medida que a pesquisa foi avançando, foram sendo elaborados os instrumentos de coleta de dados suplementares à “Ficha A”.

Visando a capacitação da equipe e da bolsista para a realização da pesquisa, a mesma participou dos cursos de “Extensão de Metodologia Qualitativa em Saúde”, no mês de dezembro de 2012 e "Introdução ao Programa Estatístico do SPSS”, no mês de janeiro de 2013. Os respectivos cursos abordaram metodologia qualitativa e quantitativa em saúde.

Além da participação nos cursos, a bolsista participou durante um mês, por um período de 4 horas semanais de vários treinamentos para a aplicação dos instrumentos para a coleta de dados (questionário domiciliar e WHOQOL), através de simulações entre o grupo de bolsista, da orientadora e demais professores envolvidos no projeto de pesquisa.

Dando início à coleta de dados, a bolsista juntamente com a outra bolsista de iniciação científica e com o auxílio dos bolsistas de extensão, aplicou duas vezes o questionário piloto no Condomínio dos Anjos, uma comunidade que fica próxima à Comunidade Vila Sossego. O pré-teste da aplicação dos instrumentos foi realizado nos dias 8 e 17 janeiro de 2013, sendo que a segunda vez foi após uma readequação das questões do questionário domiciliar. O questionário WHOQOL não pode ser modificado porque é um instrumento validado, mas serviu de treinamento

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para posterior aplicação.

Após o pré-teste dos instrumentos e o aprimoramento do questionário, iniciou-se no dia 21 de janeiro de 2013 a coleta de dados na Vila Sosiniciou-sego. Foram contados inicialmente 104 domicílios. Primeiramente as agentes comunitárias e os profissionais da área de enfermagem da UBS/ HCPA Sta. Cecília aplicavam a Ficha A adaptada. Cada casa visitada recebeu um código determinado pela Equipe 1 da UBS. A ficha e os códigos eram repassados para a coordenadora do projeto, profa. Alzira Maria Baptista Lewgoy, a qual inseria os respectivos materiais enviados pela UBS Sta. Cecília em uma Tabela de Controle da coleta de dados. Posteriormente, a coordenadora distribuía entre os bolsistas quais os domicílios que os mesmos deveriam visitar, e então a equipe de bolsistas da UFRGS saía a campo.

Na aplicação dos instrumentos na comunidade, 7 bolsistas foram distribuídos em 2 duplas e 1 trio. A dupla iniciava o procedimento com uma apresentação da proposta do projeto aos moradores da casa visitada, de preferência ao chefe da família. Em seguida aplicava-se o questionário domiciliar, dando continuidade ao trabalho da UBS. Depois da aplicação do questionário domiciliar, a dupla passava para o questionário WHOQOL breve, entrevistando os moradores maiores de 18 anos de idade. Para participar, os entrevistados deveriam assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que era lido pelos entrevistadores, antes da participação.

Levando em consideração que o mês de janeiro foi temporada de recesso escolar e os acadêmicos tinham maior disponibilidade de horários, esse período foi utilizado mais intensamente no processo de coleta de dados. Na atividade de recadastramento foram visitadas 100 das 104 residências originalmente enumeradas (4 fechadas) e identificados 327 moradores, sendo 231 maiores de 18 anos. Destes, 142 responderam os questionários adicionais, individual e WHOQOL.

A partir de novembro de 2013 iniciou-se a coleta de informações junto aos moradores pesquisados na Vila Sossego, através de grupo focal e de entrevistas semi-estruturadas. O grupo focal, como recurso metodológico, orientado pela referência de Bauer e Gaskell (2002) foi realizado de novembro de 2013 a março de 2014, no Anexo I do Campus Saúde, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com a participação de seis moradores de cada vez. Esse instrumento serviu para

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apreensão das interações e desvelamento de como as lideranças e membros da comunidade pensam e agem sobre a participação e a interação com os agentes políticos na garantia do acesso aos direitos sociais.

Dando continuidade a coleta de informações, de abril a setembro de 2014 foram realizadas as 23 entrevistas semi estruturadas com moradores, em suas residências. Os sujeitos pesquisados foram selecionados através de indicações das lideranças comunitárias e dos próprios moradores, conforme os critérios estabelecidos por geração: jovens, adultos e idosos e em cada geração separados por tempo de moradia: moradores recentes, médios e antigos residentes na comunidade. O auxílio dos moradores foi essencial para que a seleção dos sujeitos pesquisados para as entrevistas fossem preenchidas. Esta coleta aconteceu preferencialmente aos sábados, em virtude da presença dos moradores na comunidade e por solicitação dos mesmos. O processo ocorreu de forma tranquila e cordial, não havendo rejeição ao convite a participação na pesquisa. O tempo de duração da coleta foi superior ao planejado, tendo em vista a conciliação de horários entre os sujeitos pesquisadores e pesquisados, e dos eventos esportivos ocorridos no país e na cidade de Porto Alegre, nos meses de junho e julho de 2014, a Copa do Mundo FIFA.

As entrevistas, orientadas pelos objetivos da pesquisa, foram feitas sob coordenação da docente pesquisadora responsável, e contaram com a participação de uma bolsista de iniciação científica para auxiliar na coordenação dos trabalhos. Especificamente, a atividade da bolsista constou de observações diretas, seguidas de discussão do observado e do vivenciado, bem como posterior realização de algumas das entrevistas. Os Termos de Consentimento Livre Esclarecido foram lidos e entregues para os sujeitos pesquisados de forma a serem explicitados os objetivos e os procedimentos metodológicos. Os participantes concordaram em ter suas falas gravadas e utilizadas para fins deste estudo. O ambiente das gravações foi motivo de preocupação aos pesquisadores, para que o material coletado tivesse qualidade para posterior transcrição das verbalizações, sendo bem sucedido esse procedimento. As entrevistas foram gravadas e as falas transcritas. As informações obtidas foram analisadas conforme as seguintes categorias teóricas: cidadania; cidadão; direitos e deveres; participação e dificuldades enfrentadas pela comunidade

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no acesso aos direitos.

É importante destacar que as ações desenvolvidas pelo projeto de extensão Intersossego foram concomitantes a esta pesquisa, o que oportunizou o acompanhamento e a aproximação de ambos os projetos, de extensão e de pesquisa. Entende-se ser essa uma das formas de qualificação da pesquisa e da extensão, qual seja, a partir da investigação propor novas intervenções. Nesta perspectiva foram feitas reuniões objetivando, a devolução gradual das informações para construção de novas intervenções, baseadas nas informações da pesquisa. Podemos constatar que esta troca proporcionou a elaboração do Projeto paisagístico de requalificação de espaço público degradado no território da Vila Sossego, a partir dos dados da pesquisa (APÊNDICE H).

Esta investigação pode ser potencializada, também, através da discussão dos achados da pesquisa de campo, durante as reuniões do Grupo de Extensão InterSossego, constituído por professores de extensão e pesquisa da UFRGS, e nas reuniões junto ao Grupo de Estudos e Pesquisa sobre formação e trabalho profissional (GEFESS/UFRGS); e pela elaboração coletiva e socialização de artigos, em abril de 2014 no “I Congresso da Saúde dos países de Língua portuguesa" A geografia da saúde no cruzamento de saberes” na Universidade de Coimbra, Portugal, e em final de novembro e inicio de dezembro no XIV Encontro Nacional de pesquisadores de Serviço Social, em Natal - RN.

Em síntese, apresentamos a seguir as etapas construídas coletivamente, no período de 2012 e 2014, junto ao grupo de professores, bolsistas de Iniciação cientifica e voluntários (oriundos do projeto de extensão), e dos profissionais da Unidade Básica de Saúde Santa Cecília/HCPA:

 reuniões intersetoriais para consensos sobre as questões e a metodologia de aplicação da pesquisa;

 desenvolvimento dos instrumentos para abordagem da pesquisa quantitativa e qualitativa;

 encaminhamento do projeto de Pesquisa à Comissão de Ética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul ;

 reuniões entre as equipes da UFRGS, UBS e CRAS/ Centro;

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pesquisadores para aplicação do Censo, na Vila Sossego;

 assessoria de especialistas sobre o WHOQOL e sua aplicação;

 assessoria de especialistas ao grupo de pesquisa e alunos sobre a construção de bancos de dados relacionados;

 teste dos instrumentos no campo;

 reformulação de metodologias e questões em função dos resultados no campo;

 estabelecimento de equipes de coleta de dados, supervisores de campo e coordenação, na UFRGS e na UBS, e grupos co-responsáveis na coleta de dados;

 estabelecimento de rotinas para a comunicação dos domicílios já recenseados pela UBS e a disposição dos pesquisadores e bolsistas da UFRGS;

 revisão dos questionários por equipe conjunta;

 procedimentos adicionais de normatização de respostas a questões abertas;

 entrada de dados duplicada;

 curso de extensão em SPSS para bolsitas de pesquisa e bolsistas de extensão voluntários para a pesquisa;

 limpeza dos bancos, padronização e início da análise descritiva;

 seminários de revisão de literatura sobre temas interdisciplinaridade, áreas especiais de interesse social, participação, políticas públicas, saúde urbana, educação e outros;

 curso de pesquisa qualitativa e atlas-ti para bolsistas de pesquisa;

 discussão dos informações qualitativas, coletadas na pesquisa de campo, nas reuniões junto ao Grupo de extensão InterSossego, constituído por professores de extensão e pesquisa da UFRGS, e nas reuniões junto ao Grupo de Estudos e Pesquisa sobre formação e trabalho profissional ( GEFESS/UFRGS);

 realização de um grupo focal junto a seis moradores da Vila Sossego, no anexo I Saúde, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul;

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Vila Sossego, em suas residências, cujo total foi de 22 moradores dos 27 selecionados;

 transcrição das gravações e análises preliminares das informações coletadas do grupo focal e das entrevistas;

 elaboração e apresentação de artigo no “I Congresso da Saúde dos países de Língua portuguesa. - A geografia da saúde no cruzamento de saberes” na Universidade de Coimbra, Portugal, conforme APÊNDICE F;

 elaboração do Projeto paisagístico de requalificação de espaço público degradado no território da Vila Sossego, a partir dos dados da pesquisa devolvidos ao grupo de bolsistas de extensão ;

 elaboração da matéria sobre os resultados da pesquisa para 12ª edição do jornal “Saúde, Sossego” de 2014, conforme APÊNDICE H;

 acompanhamento das ações desenvolvidas pelo projeto de extensão para devolução dos resultados da pesquisa e requalificação das intervenções junto a comunidade;

 apresentação da pesquisa no XVI Encontro de Pesquisadores em Serviço Social -ENPESS em Natal RN, conforme APÊNDICE G

3.3 QUESTÕES ÉTICAS E DEVOLUÇÃO DOS RESULTADOS

A pesquisa cumpriu todos os aspectos que envolvem os procedimentos éticos, tendo sua aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (ANEXO A). Os questionários aplicados e as entrevistas semi-estruturadas realizadas na sua maioria, foram agendadas, assim, buscou-se in loco os sujeitos da investigação, que foram informados sobre os objetivos da mesma. Na ocasião, também foi apresentado os termos de consentimento livre e esclarecido (APÊNDICE A ), o qual foi lido e, após o seu consentimento, assinado pelo entrevistado. Também foram divulgados os resultados obtidos na investigação através de reuniões junto a comunidade, de artigos publicados em Anais de Eventos realizados dentro e fora do Brasil, no jornal da comunidade distribuído trimestralmente, bem como um vídeo com acesso a população da comunidade Vila Sossego.

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4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA

4.1 CARACTERIZAÇÃO SOCIO-DEMOGRÁFICA DAS HABITAÇÕES E DA POPULAÇÃO

As tabelas a seguir apresentam alguns resultados da análise descritiva reali-zada a partir de informações coletadas através da Ficha A (recadastramento), do questionário suplementar e do WHOQOL. A etapa de coleta através da Ficha A a-brangeu 101 domicílios dos 105 inicialmente contados (4 domicílios fechados). Dos 101 domicílios, em 88 houve aquiescência dos moradores sobre a participação na coleta de dados com o questionário suplementar. Nestas residências, todos os adul-tos com mais de 18 anos foram convidados a responder o WHOQOL. Como indica-do nas tabelas, a base de respondentes varia conforme o fonte da informação (ficha A ou questionário suplementar e WHOQOL).

Tabela 1 - Informações Sócio-demográficas Domiciliares obtidas pela aplicação da ficha A Variáveis N Numero de Domicílios próprios alugados de tijolo com até 4 cômodos com banheiro interno luz com relógio exclusivo do domicílio

com relógio de uso compartilhado sem relógio (gato)

água ligação DMAE relógio entre 3 e 4 pontos dentro do domicílio

esgoto ligado diretamente à rede fossa presença de animais domésticos Utilização de meios de comunicação no domicílio

TV NET Rádio Jornais Participação social/comunitária Grupo/atividade religiosa 101 77 10 87 50 93 31 21 47 98 71 74 95 4 61 90 38 65 38 18

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Cooperativa Associação Atividade de grupo na UBS

Meio de transporte Onibus Carro Caminhão Carroça

Em caso de doença, a família

procura o hospital consulta na UBS benzedeira farmácia igrejas

Número de moradores por domicílio

1 2 3 4 5 6 7 8 0 8 3 89 23 1 0 50 72 1 4 5 12 24 26 18 12 2 6 1

Tabela 2 - Informações demográficas – base, 333 residentes em 101 domicílios Raça/cor Sexo Idades < 1 ano 1 a 4 5 a 9 10 a 14 15 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 Brancos Pretos/pardos Homens Mulheres Homens 4 7 19 16 12 30 17 12 13 59% 41% 43,3% 56,7% Mulheres 2 14 9 15 19 31 25 22 25 Total 6 21 28 31 31 61 42 34 38

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60 a 69 70 e mais ign Total 7 3 4 144 16 9 2 189 23 12 6 333

Tabela 3 Demografia social / educação – Base, 224 residentes com mais de 18 anos de um total de 333 moradores – ficha A.

N Escolaridade dos Maiores de 18 anos (208/224, 16“missing”)

Sem escolaridade formal Até primeiro grau completo

Segundo grau incompleto até segungo grau completo Terceiro Grau incompleto ou completo

18 a 30 (77/78, 1 “missing”) Sem escolaridade

Até primeiro grau completo

segundo grau em andamento ou completo terceiro grau em andamento ou completo 31 a 50 ((70/75, 5 “missing”)

Sem escolaridade

Até primeiro grau completo

segundo grau em andamento ou completo terceiro grau em andamento ou completo 51 e mais (63/71, 8 “missing”)

Sem escolaridade

Até primeiro grau completo

segundo grau em andamento ou completo terceiro grau em andamento ou completo

5 118 75 10 1 35 33 8 2 36 32 0 2 47 12 2 2,4 56,7 36,1 4,8 1,4 45,4 42,8 10,6 2,8 51,4 45,7 0 3,1 74,6 19,0 3,1

Tabela 4 - Domicílios - informações selecionadas do questionário complementar (n=88/101)

Variáveis N %

Numero de domicílios total

Número de domicílios com informações coletadas por questionário complementar

Residências com crianças de 0-6 anos Número de crianças de 0 a 6 anos

Escolaridade do chefe da família (N=87)

até primeiro grau completo

101 88 26/88 34 61 29,5 70,1

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segundo grau em andamento ou completo terceiro grau em andamento ou completo Numero de domicílios com

Qualquer benefício social (N=88) Aposentadoria INSS Auxílio doença BPC-LOAS

Pensão por morte Bolsa família Seguro Desemprego Auxilio natalidade

Numero total de benefícios

Renda domiciliar de benefícios sociais ( n = 45/56 ben.)

Mediana 630,00 P25 141,00 p75 670

(intervalo de variação – R$ 70,00 a 4000,00)

Renda domiciliar total (n = 87 dom)

Média R$ 1.444,00 Mediana R$ 1.185,00

(intervalo de variação - R$ 70,00 a 6.000,00) Renda Familiar em SM (n=87 dom)

0 1 a 2 2 a 3 3 e mais

Classe socioeconômica conforme Classificação da ABEP (n=88 dom) B1 B2 C1 C2 D E 20 7 52 18 5 1 8 24 1 0 57 23 26 21 17 2 11 37 26 10 2 22,9 8,0 59,1 20,5 5,7 1,1 9,1 27,3 1,1 0 26,4 29,8 25,2 19,5 2,3 12,6 42,0 29,5 11,3 2,3

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Tabela 5 - Informações sobre morbidade nos domicílios e número de pessoas afetadas – FICHA A N domicílios N indivíduos Universo Gestantes Asma Brônquica Hipertensão Diabetes Obesidade Infarto do miocárdio prévio Outras D. Coração AVC (Derrame) Fumo Álcool Ansiedade Depressão Esquizofrenia Hiperatividade Problemas de comportamento Problemas na Escola/aprendizagem Insônia Uso de drogas Outras condições psiquiátricas Dores nas costas Dores nos ombros Dores nos braços Dores articulares Hepatite BC Epilepsia Def. Física Def. Mental Acamado Tuberculose Chagas Malaria Hanseníase Outros 101 4 31 49 20 19 10 5 7 37 6 28 25 0 10 12 16 28 3 4 48 41 25 38 6 2 7 2 4 4 2 0 0 13 333 4 36 57 24 27 10 6 7 54 6 33 27 0 10 12 16 36 3 5 62 49 32 44 6 2 9 2 4 7 2 0 0 16

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Os resultados do WHOQOL ainda precisam ser mais explorados, mas a análise inicial é apresentada na discussão, em gráficos.

Discussão

Serão discutidas aqui apenas quatro das várias informações propiciadas pelos resul-tados, ainda não completamente analisados:

1- Esta é uma comunidade com renda média domiciliar em Jan-Fev 2013 de R$ 1444,00 (mediana de R$ 1.185,00), a maior parte dos domicílios enquadráveis na classe C da classificação da ABEP. Esta é uma classificação que leva em conta a escolaridade do chefe da família (no caso, 70% com até o primeiro grau com-pleto, o que puxa o indicador para baixo), uma lista de bens de uso familiar (rá-dios, televisão, carro, etc,.) e a terceirização de serviços domésticos (empregada doméstica) como forma de mensurar o padrão de consumo (e assim estimar a renda) das famílias. Na Sossego, 71% seriam classificados na classe C e 12 % na classe B. )Tabela 4). Em 2013, o Datafavela ouviu 2000 pessoas em 63 fave-las de 10 regiões metropolitanas brasileiras e encontrou uma renda média salari-al de 1068,00 e a maior parte enquadrável na classe C (FOLHA DE SÃO PAU-LO, 2014).

Ainda, mais da metade dos domicílios recebia algum tipo de benefício social ou previdenciário. No computo geral, o total de benefícios recebidos acresce signifi-cativamente à renda mediana mensal da comunidade, pois representa, nos do-micílios que os recebem (mais da metade), um valor mediano de RS 630,00, (va-lor aproximado do salário mínimo na época – RS 678,00) sendo que a mediana de renda do conjunto da comunidade é R$1185,00. Dos 88 domicílios com infor-mação, 24 (27%) recebiam bolsa família. (Tabela 4).

2. Com relação à educação (Tabela 3), a proporção de moradores com 18 anos e mais com escolaridade de no máximo primeiro grau completo é muito grande – quase 70% entre os chefes de família e 59% no total de adultos. Mas nota-se que a proporção de adultos entre 18 e 30 anos com no máximo o ensino fundamental está se reduzindo, embora de forma mais lenta do que o desejável: É de 46,8% hoje, contra 54% nos com entre 31 e 50 anos e 74% nos com mais de 50 anos. A proporção de pessoas com 18 anos e mais com mais do que o primeiro grau (cur-sando ou tendo concluído o segundo grau ou o terceiro graus) aumentou de 22%

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nos com mais de 50 anos, para 45,7% nos com 31-50 anos e para 53,4% nos com 18-30. Neste grupo mais jovem ocorreu uma expressivo aumento de ingres-santes no terceiro grau (0 nos com 31 a 50 anos e 10,6% nos com entre 18-30 anos. Os dados sugerem uma polarização: alguns investindo em educação e chegando ao terceiro grau mas muitos ainda com déficit educacional significativo, maior ainda se considerarmos que moram em área central muito bem servida de recursos educacionais.

3- A figura abaixo mostra as médias do WHOQOL nas 5 dimensões avaliadas pelo instrumento.

Figura 3 - Médias de escores em cada dimensão do instrumento WHOQOL breve

da OMS, respondido por 142 moradores com mais de 18 anos da Vila Sossego,

__

No caso da Vila Sossego, vemos que a dimensão com pior escore foi a de ambiente e a de melhor a de relações sociais, mas de modo geral as médias dos escores de 142 moradores de mais de 18 anos na Vila Sossego sobre a percepção sobre sua qualidade de vida não são ruins, avaliação semelhante à relatada na pesquisa realizada pelo DATAFAVELA mencionada anteriormente (Folha de São Paulo, 2014).

A figura 4 a seguir mostra como estes escores se distribuem dentro de cada uma das 5 dimensões (ver detalhes na figura 2 e no ANEXO C).

ambliente relsoc dompsi domfis dimgeral 4,00 3,00 2,00 1,00 0,00 Mean

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Figura 4 – Escores médios para cada questão das 5 dimensões avaliadas pelo WHOQOL. Pesquisa Vila Sossego, PoA, Jan-Fev 2013.

Os achados sugerem que a dimensão ambiente deva ser desdobrada em duas categorias o ambiente urbano mais geral – transporte, serviços de saúde.... – e o ambiente local (condições de moradia), que recebeu escores visivelmente mais baixos, como seria de se esperar (ver a seguir). Estes resultados são corroborados na fase da pesquisa qualitativa (ver adiante), que mostra moradores relativamente bem integrados na cidade (área central) mas insatisfeitos com as condições locais de moradia.

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4- A tabela 5 com a lista de problemas de saúde mais frequentemente percebidos pelos moradores também é muito interessante, e corrobora o recentes achados da primeira pesquisa nacional da saúde realizada pelo IBGE (PNS 2014): Nas duas pesquisas, as condições mais prevalentes foram a hipertensão arterial e as dores osteomusculares, sendo que na Sossego as condições oseomusculares superaram a HAS em número de casos, especialmente se considerarmos que há programa e busca ativa de hipertensos pelo SUS e nenhum programa do ministério voltado à identificação e tratamento de dores osteomusculares crônicas, condições frequentemente incapacitantes, ao contrário da HAS (PNS, 2014).

Ainda há muitos resultados a serem explorados nos bancos de dados gerados pela pesquisa, que vão permitir um diagnóstico coletivo, social, econômico, ambiental e de saúde – que esperamos que ajude a comunidade a entender suas circunstâncias e os serviços e a Universidade a se aproximarem dos problemas como eles se fazem presentes, e não como oferta prescrita de serviços, desvinculado do contexto local.

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4.2 A DINÂMICA DAS RELAÇÕES SOCIAIS NO CONTEXTO DA COMUNIDADE VILA SOSSEGO NO ACESSO AOS DIREITOS DE CIDADANIA – etapa qualitativa

4.2.1 Caracterização dos sujeitos pesquisados

Os sujeitos pesquisados foram vinte e nove (29) moradores da Vila Sossego. A determinação dos participantes deu-se através de indicações dos próprios moradores, caracterizando-se uma amostra em cadeia ou redes (SAMPIERI, et all, 2013). Destes, seis moradores que já exerceram e ou exercem atividades de lideranças na comunidade, participaram do grupo focal inicial, através do qual obtivemos informações sobre as relações sociais da comunidade. Posteriormente, selecionou-se 23 moradores para as entrevistas semiestruturadas. Estes sujeitos foram divididos por gerações, jovens (de 13 até 20 anos), adultos (de 25 até 60) e idosos (a partir de 60) e em cada geração separados por tempo de moradia: moradores recentes (até 10 anos de moradia), médios (de 10 até 25 anos de moradia) e antigos (a partir de 25 anos de moradia). Umas das dificuldades no processo da pesquisa qualitativa foi encontrar moradores com pouco tempo de moradia para participar das entrevistas.

A amostra de entrevistados foi predominantemente de mulheres. Essas moradoras tiveram uma boa relação com o projeto de pesquisa e de extensão Intersossego. Foram peças fundamentais para abertura , consolidação da presença da universidade na comunidade.

As entrevistas propiciaram desvelar a percepção dos moradores, através sobre cidadania, cidadão e a participação da comunidade no acesso aos seus direitos. Tinha-se como pressuposto as condições vulneráveis de saúde dos moradores da Vila Sossego, em virtude dos desafios postos a essa comunidade tendo em vista residirem em área de interesse social (AIES) e estarem aguardando a reurbanização por um período de seis anos, o que resulta em fragilização do movimento dos moradores no processo de luta para tal investimento. Ayres ( 2003) lembra que as nossas fragilidade – ou nossa capacidade de enfrentar os desafios – depende de um conjunto integrado de aspectos individuais, sociais e institucionais.

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Os dados fornecidos pelo censo, realizado na 1ª fase da pesquisa, através da abordagem quantitativa revelam que a população da Vila Sossego não está em um nível de vulnerabilidade social elevado, o que é reafirmado e explicitado, na abordagem qualitativa, pelos sujeitos entrevistados. Exemplificando, ilustraremos tal afirmativa através do depoimento de uma moradora ao verbalizar que “(...) aqui na Sossego não tem ninguém carente, todo mundo tem um teto, quase todos trabalham” .A vila Sossego é uma comunidade heterogênea, em sua maioria, as famílias não são extremamente pobres e de acordo com a ABEP (Associação Brasileira de Estudos Populacionais) 72% das famílias se enquadrariam na classe C, enquanto apenas 13,7% das famílias estariam nas classes D e E.

O termo vulnerabilidade tem sido bastante empregado nos últimos anos, expressando distintas perspectivas de interpretação .No âmbito da pesquisa em saúde urbana, o conceito é importante, pois está relacionado, intrinsecamente, à distribuição de determinantes sociais e ambientais do adoecimento , e busca, como diz Caiafa (2008), mobilizar para a “[...] necessidade de aferir os fenômenos tendo como objeto as desigualdades injustas e evitáveis do ambiente físico, social em saúde e a governança e a governabilidade como propostas para as soluções para as iniquidades (CAIAFFA, 2008).

Segundo Ayres ( 2003), no plano social, a vulnerabilidade está relacionada a aspectos sócio-políticos e culturais combinados, como o acesso a informações, grau de escolaridade, disponibilidade de recursos materiais, poder de influenciar decisões políticas, possibilidades de enfrentar barreiras culturais etc. A vulnerabilidade social pode ser entendida, portanto, como um espelho das condições de bem-estar social, que envolvem moradia, acesso a bens de consumo e graus de liberdade de pensamento e expressão, sendo tanto maior a vulnerabilidade quanto menor a possibilidade de interferir nas instâncias de tomada de decisão.

Na vila Sossego constata-se que há um déficit no grau de escolaridade dos jovens adultos, tendo em vista que 42% dos jovens com 18 a 30 anos referem ter apenas o primeiro grau ou menos. Mas este nível de escolaridade mostra um avanço em relação às gerações anteriores e, por outro lado, 15% já estão cursando ou concluíram o terceiro grau. Durante as entrevistas, os jovens mostraram a pretensão de ingressarem no ensino superior no futuro. Todavia, relataram que não

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recebem informações suficientes para conduzi-los a este objetivo., revelando-nos uma lacuna na comunicação, na medida em que há uma ampla divulgação pelo Ministério de Educação sobre o acesso dos jovens a educação superior. Fica-nos a incumbência de divulgação deste dados junto aos jovens desta comunidade, bem como, pensar alternativas para o alcance desta pretensão.

Outro sentimento expresso pelos jovens adolescentes foi o desejo de saírem da Vila Sossego, apesar das vantagens que reconhecem na localização em área central de Porto Alegre: […] “aqui é bairro centro, né. Aqui é super bem localizado, valorizado [...]” (AA4), bem como na qualidade da atenção à saúde que recebem dos profissionais da Unidade Básica de Saúde Santa Cecília/HCPA: “[...] O HCPA, o posto, os agentes de saúde, nós temos várias ajudas aqui. A atenção é sem palavras. Os professores da UFRGS então, os alunos, uma equipe que tá sempre conosco [...] ” Contrariando esta ideia, a população dos adultos e dos idosos antigos afirmam que não se vem em outro lugar a não ser na Vila Sossego, por ser o local que residiram uma boa parte de sua vida.

No que se refere aos moradores recentes, adultos ou idosos, residentes na Vila Sossego, a comunidade possui um número muito reduzido de moradores novos, sendo, portanto, uma comunidade constituída em sua maioria pelos moradores mais antigos, solidificada desde o seu estabelecimento. Constatou-se que não há presença de idosos que residem na Vila Sossego há menos de 15 anos, e que os moradores jovens, em sua maioria, estão lá desde o seu nascimento na Vila, desde o fim da década de 80 e início da década de 90. O grupo de moradores recentes é representado por adultos na faixa etária de 25 a 60 anos.

Considerando território um espaço em que significados e ressignificações vão sendo construídos pelos sujeitos em torno de suas experiências de vida naquele local, onde há prevalência do aspecto relacional sobre o aspecto racional, contradi-toriamente constata-se que os moradores da Vila estão mais vinculados e inseridos na cidade do que no seu território. Nesse sentido, percebe-se uma ausência de iden-tidade territorial que contemple todos os moradores, conforme explicitado pelos su-jeitos “[...] E aqui é bairro centro, né. Aqui é super bem localizado, super valorizado. Não a comunidade, porque aqui ela não é valorizado" (AA2. Aqui, na verdade, é um beco, mas é perto de tudo, a gente vira pra todos os lados tem ônibus e se não tem

Referências

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