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Métodos Computacionais de Estudo da Via Férrea

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Academic year: 2021

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Métodos Computacionais de Estudo da Via Férrea

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Resumo do Trabalho

Respeitar as exigências de segurança e conforto de passageiros é prioritário em linhas de alta velocidade em todo mundo; conhecer o comportamento da via férrea utilizada e submetida a esforços cada vez mais importantes é primordial para atingir este objetivo. O aumento da velocidade provoca maior degradação da via e de seus constituintes, levando a operações de manutenção mais frequentes e onerosas. Para vias com lastro, este tem um papel central na transmissão das forças do contato roda-trilho às camadas inferiores. Apesar de seguir normas granulométricas precisas, seu comportamento foi até hoje obtido apenas de maneira empírica em laboratório. Conhecer seu comportamento nas condições de uso corrente é um objetivo atual e diversos grupos em todo mundo têm pesquisado em torno deste tema. Este trabalho visa apresentar os principais métodos utilizados atualmente

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1. Introdução

A via assegura a transmissão dos esforços transversais, verticais e longitudinais da roda até o solo. Sua geometria e resistência mecânica são fixadas para assegurar uma qualidade uniforme em toda a linha. Linhas de alta velocidade são compostas das seguintes camadas:

• Armamento: composto dos trilhos, placas de apoio absorventes, fixações e dormentes, assegurando principalmente a distribuição das forças do contato à estrutura inferior sobre a qual ela está apoiada,

• Estrutura inferior: composta do lastro e de camadas inferiores, asegurando uma melhor distribuição das forças até o solo.

Figura 1 – A via férrea

Sobrecargas podem aparecer na via, particularmente devido a irregularidades e discontinuidades da mesma, que levam a sua deteriorização. Atualmente, a Union Internationale des Chemins de Fer (UIC) categorisa a via da seguinte maneira:

• Categoria A: 16 toneladas por rodeiro,

• Categoria B: 18 toneladas por rodeiro,

• Categoria C: 20 toneladas por rodeiro.

Estes grupos se decompõem em três sub-grupos, segundo a relação peso/comprimento total do veículo:

• Sub categoria 2: 6,4 ton/m,

• Sub categoria 3: 7,2 ton/m,

• Sub categoria 4: 8 ton/m.

As linhas de alta velocidade francesas são categorizadas em C4, apresentando portanto veículos de peso elevado. Percebe-se que neste tipo de via deve-se ter uma especial atenção à atuação da passagem do veículo ferroviário sobre o deslocamento vertical da mesma.

O trilho

Sendo o primeiro elemento de contato entre o veículo e a via, o trilho tem por papel dirigir o trem e assegurar a transmissão e repartição dos esforços sobre os dormentes [1]. As forças que agem sobre ele podem ser de caráter estático ou dinâmico. Elas são devidas não somente ao deslocamento do veículo mas também aos eventuais choques nos pontos de junta ou aos defeitos da roda, do trilho ou da via. Para linhas de alta velocidade utilizadas na França, utiliza-se o perfil de trilho UIC60, em aço laminado de massa linear de 60kg/m, de inclinação 1/20. O perfil em forma de cogumelo assegura uma boa repartição das tensões internas. Para este tipo de linha, a bitola utilizada é de 1,435m.

Plataforma ferroviária

Armamento : trilho, fixação e dormente

Solo

Camada de forma Lastro

Plataforma de aterramento Estrutura inferior Camada sub lastro

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4 Figura 2 – Perfil de trilho UIC60

A fixação trilho-dormente

As fixações entre o trilho e o dormente asseguram a fixação do trilho ao dormente, apesar das vibrações da via [1]. Além disso, eles possibilitam uma elasticidade vertical e longitudinal através do uso de uma sapata de 9mm de espessura, colocada entre o trilho e o dormente. Essa sapata permete reduzir as cargas dinâmicas em alta frequência exercidas sobre os dormentes, funcionando como absorvedores.

Figura 3 – Fixação do tipo nabla

Os dormentes

Os dormentes, inicialmente de madeira, são constituídos atualmente de dois blocos de concreto armado, medindo 2,415m de comprimento e pesando 245 kg (dormente do tipo VAX U41 utilizado nas vias de alta velocidade, vide Fig. (4)). Eles são colocados a cada 0,6 m na via, permitindo:

• A transmissão das forças dinâmicas e estáticas do trilho ao lastro, o que depende principalmente das condições de apoio,

• A manutenção da bitola da via,

• A manutenção da inclinação do trilho.

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O lastro

Nas vias de alta velocidade, o lastro é composto de um granulado 25/50 mm vindo da quebra de rochas extraídas de carreiras de pedras duras [1]. A camada de lastro possui uma espessura de 30cm sob os dormentes (o que corresponde a dez diâmetros médios de grãos).

Além da transmissão e repartição dos esforços concentrados aplicados sobre os dormentes, ele assegura também:

• O amortecimento de vibrações,

• A ancoragem lateral e longitudinal, graças à resistência ao cisalhamento entre o lastro e o dormente,

• A drenagem da via,

• A facilidade das operações de manutenção da via.

Figura 5 – Amostra de lastro Figura 6 – Grãos de lastro digitalizados

2. Modelagem da via

A modelagem da via férrea tem por objetivo assegurar a segurança do tráfego e o conforto dos passageiros, otimizando os custos de manutenção da via. Diferentes métodos já foram propostos para compreender a deterioração da via e o fenômeno de compressão do lastro, assim como de predizer a aparição de defeitos verticais e laterias da mesma. Os modelos têm tendência a previligiar uma parte dos diferentes sub problemas ligados à degradação da via (contato roda trilho, deterioração das diferentes camadas da via) e a fazer hipóteses simplificadoras para as outras. A compressão do lastro pode ser causado por diferentes mecanismos do comportamento do lastro e da via [2]:

• Penetração de solo entre os grão do lastro, reduzindo a altura de sua camada e posição na via,

• Densificação da camada devido a um rearranjo dos grãos,

• Mudança na forma dos grãos devido às fortes tensões localizadas nos pontos de contato entre grãos, podendo causar sua ruptura,

• Comportamento não elástico após aplicação de carga,

• Migração dos grãos do lastro sob o dormente para regiões de menores tensões,

• Movimento lateral e/ou longitudinal de dormentes podendo causar a saída de grãos do lastro sob o dormente, causando um deslocamento vertical do mesmo.

Métodos experimentais e numéricos já foram propostos para este estudo. Este trabalho se concentrará apenas nos métodos numéricos, sem por isso negligenciar os resultados pertinentes já obtidos nos diferentes ensaios, seja em laboratório, seja na via. Dentre os resultados experimentais

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6 importantes podemos ressaltar o trabalho de Prud’homme, que foi um dos primeiros a estudar este sistema e que propôs a seguinte regra, adotada até hoje pela norma UIC:

L=1,5+P/3 (1)

onde L é a resistência lateral e P o peso por rodeiro. Pela norma, o veículo não deve exercer sobre a via esforços maiores do que o limite de elasticidade da mesma, sem deformá-la além de um limite aceitável. Outros a estudarem de maneira experimental o comportamento da via foram Shenton, Oviedo, Guérin et Boudin.

Para modelar de maneira rigorosa o comportamento da via, precisa-se considerar o comportamento de seus diversos componentes, a geometria do sistema e os diferentes carregamentos possíveis. Atualmente, dois tipos de modelagem são efetuadas, pelo métodos dos elmentos finitos e dos elementos discretos.

Modelagem por Elementos Finitos

O método dos elementos finitos considera o meio granular como um meio contínuo, para o qual a dimensão do domínio é suficientemente grande face o tamanho das partículas. Este método permete tratar sistemas de grande tamanho, mas não é adaptado à descrição de seu comportamento na escala do grão do lastro. Para utilizá-lo, uma lei de comportamento representando a relação entre tensão e deformação deve ser aplicada. Os parâmetros desta lei de comportamento são determinados a partir de ensaios em laboratório.

Utilizando o banco de ensaios BETTER (Ballast: Etude du Tassement Transversal à Echelle

Réduite – Lastro: Estudo da Compressão Transversal à Escala Reduzida), Boudin [3] propôs um

modelo em elementos finitos para descrever o comportamento não linear do lastro. Este foi considerado como sendo a superposição de duas camadas distintas, uma de grande rigidez e outra de baixa rigidez. Os resultados obtidos através deste modelo são comparávais aos obtidos em medidas na via.

Figura 7 – Modelo de malha em elementos finitos utilisado por Bodin

O estudo do comportamento dinâmico da via colocou em evidência a dependência da velocidade de passagem do trem nas vibrações ressentidas pela mesma. Vários trabalhos foram feitos para caracterisar o comportamento de um massivo quando da passagem de uma carga móvel, como o trabalho de Nguyen. Ele mostrou que as discontinuidades do lastro levam a não linearidades na propagação das ondas no mesmo. Através de um modelo de várias camadas visco-elástico tridimensional, em elementos finitos, ele mostrou também a influência da velocidade e da elasticidade do meio na propagação de ondas.

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7 Figura 8 – Propagação de onda em um massivo tridimensional para uma carga vertical móvel

Modelagem por elementos discretos

O método dos elementos discretos tem a particularidade de tratar cada grão de maneira independente, considerando-os como corpos rígidos ou deformáveis com um número finito de graus de liberdade. Ela já é utilizada no estudo de estruturas de maçonaria ou no papel do atrito e da rede de forças em conjuntos granulares, por exemplo. Existem diversos métodos de resolução do problema de interação entre grão rígidos, as duas principais sendo Molecular Dynamics e Contact Dynamics.

Molecular Dynamics

Neste método considera-se os grãos rígidos, mas com uma camada exterior deformável. Ele permite quantificar a força no contato segundo a interpenetração de dois sólidos, utilizando uma lei de comportamento no contato. Se inicialmente os grãos eram representados através de círculos ou esferas, atualmente o lastro pode ser representado por polígonos e poliedros convexos. Diversas leis de comportamento do contato já forma propostas, como a lei de Hertz para contato elástico com atrito. No entanto, este método é muito lento em tempo de cálculo, não sendo adaptado para sistemas tendo um grande número de grãos.

Figura 9 – Modelo de contato para Molecular Dynamics

Contact Dynamics

Este método é caracterizado pela descrição da interação intergranular através de leis de limite, leis de choque e condições unilaterais. A equação do movimento das partículas é resolvida de maneira implícita, diferentemente do método Molecular Dynamics. Com isso, utiliza-se passos de integração maiores e o tempo de resolução é menor.

Uma primeira validação deste método para o uso ferroviário foi feito por Gaël Combe. Ela simulou carregamentos cíclicos sobre um massivo granular. Os fenômenos de recirculação de grãos

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8 e movimento do dormente puderam ser observados. Os valores de compressão da camada de lastro obtidos são comparáveis aos observados na via. No entanto, duas dificuldades foram observadas:

• A precisão do cálculo, que depende diretamente da interpenetração dos grãos. Deve-se ser muito exigente neste parâmetro para obter-se resultados coerentes,

• Tempos de cálculo longos, porém ainda inferiores ao método Molecular Dynamics,

Saussine [4] utilizou o mesmo método na modelagem dos grãos do lastro e no estudo do comportamento de uma camada da via para solicitações verticais e laterais. A rotina desenvolvida foi validada a partir de comparações com resultados experimentais.

Figura 10 – Visualização de um modelo de via em elementos discretos comportando lastro e dormente

Figura 11 – Visualização de um corte vertical da camada de lastro

3. Conclusão

Os métodos numéricos apresentados, utilizados no estudo da resposta da via férrea e de seus componentes às solicitações que lhe são impostas, contribuíram de maneira importante para a compreensão que temos hoje da repartição de forças, tensões nos materiais e do papel do contato entre grãos do lastro na resistência da via. No entanto, é importante sublinhar que toda modelagem está instrinsecamente relacionda às hipóteses feitas e que calcula-se apenas as respostas do modelo a partir destas hipóteses. Considerando os grãos de lastro rígidos, não se considera o desgaste do material e o arrendondamento do grão com o passar do tempo, nem a elasticidade da via, por exemplo. No entanto, o método dos elementos discretos é atualmente o método mais adaptado para o estudo do comportamento do lastro ferroviário e de massivos granulares em geral.

4. Referências

[1] ALIAS, J.: “La voie ferré”, Eyrolles, deuxième edition, 1984

[2] AL SHEAR, A.: “Analyse des déformations permanentes des voies ferrées ballastées – Approche dynamique”, PhD thesis, Ecole Nationale de Ponts et Chaussées, 2005.

[3] BODIN, V.: “Comportement du ballast des voies ferrées soumises à un chargement vertical et latéral”, PhD thesis, Ecole Nationale de Ponts et Chaussées, 2001.

[4] SAUSSINE, G.: “Contribution à la modélisation de granulats tridimensionnels: application au ballast”, PhD thesis, Université de Montpellier II, 2004.

[5] GAUTIER, P. E., DUBOIS, F., BOHATIER, C., MOREAU, J. J., SAUSSINE, G, CHOLET, C.: “Modeling ballast under cyclic loading using discrete element method”, pag. 649-658, 2004.

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