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Baía de todos os santos: aspectos oceanográficos

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Academic year: 2021

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Universidade Federal da Bahia reitor

Naomar Monteiro de Almeida Filho vice-reitor

Francisco Mesquita

editora da Universidade Federal da Bahia diretora

Flávia Goullart Mota Garcia Rosa Conselho editorial

titulares

Angelo Szaniecki Perret Serpa Caiuby Álves da Costa Charbel Niño El Hani

Dante Eustachio Lucchesi Ramacciotti José Teixeira Cavalcante Filho Maria do Carmo Soares Freitas suplentes

Alberto Brum Novaes

Antônio Fernando Guerreiro de Freitas Armindo Jorge Carvalho Sá Hoisel Cleise Furtado Mendes

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vanessa hatje

Jailson B. de andrade

organizadores

Baía de

Todos os

Santos

Aspectos Oceanográficos

salvador | 2009 | edUFBa

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© 2009 by autores

direitos para esta edição cedidos à edufba. Feito o depósito legal.

Capa e Projeto Gráfico Gabriela Nascimento Foto da Capa Pedro Milet Meirelles

artefinalização de imagens e Gráficos Gabriela Nascimento

Rodrigo Oyarzabal Schlabitz revisão e normalização Maria Aparecida Viviani Ferraz

sistema de Bibliotecas - UFBa

Baía de todos os santos : aspectos oceanográficos / vanessa hatje, Jailson B. de andrade, organizadores. - salvador : edUFBa, 2009. 306 p. : il.

isBn 978-85-232-0597-3

1. oceanografia - todos os santos, Baía de (Ba). 2. Geologia física - todos os santos, Baía de (Ba). 3. oceanografia química - todos os santos, Baía de (Ba). 4. Biologia marinha - todos os santos, Baía de (Ba). 5. ecologia aquática - todos os santos, Baía de (Ba). 6. Pescaria marinha - todos os santos, Baía de (Ba). i. hatje, vanessa. ii. andrade, Jailson B. de.

Cdd - 551.46098142

editora afiliada à

editora da UFBa rua Barão de Jeremoabo s/n - Campus de ondina 40170-115 - salvador - Bahia tel.: +55 71 3283-6164 Fax: +55 71 3283-6160 www.edufba.ufba.br edufba@ufba.br

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Para KIRIMURÊ grande mar Tupinambá e baía de inspiração para ar tistas, poetas e cientistas...

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A presente obra foi viabilizada pelo financiamento do Instituto do Meio Ambiente (IMA) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), a quem agradecemos através de Elizabete Maria Souto Wagner (Diretora Geral - IMA), Sidrônio Bastos (IMA), Erica Campos (IMA), Dora Leal Rosa (Diretora Geral - FAPESB) e Robert Verhine (Diretor Científico - FAPESB). Agradecemos carinhosamente a ajuda de Lys Vinhaes (FAPESB), a qual foi decisiva para a elaboração deste livro. A sua atuação junto à FAPESB e ao IMA e a sua interlocução continuada com os editores e autores foi de fundamental importância para a garantia da qualidade e cumprimento dos prazos em que trabalhamos. Os Editores agradecem especialmente a José Ricardo Fonseca de Araújo (RLAM), pela disponibilizarão de dados gerados em monitoramentos ambientais; a Gisele Olímpio da Rocha (UFBA), Gislaine Vieira Santos (UFBA), Vera Sales (Fundação Pedro Calmon), Daniel Tourinho Peres (UFBA) e Francisco Barros (UFBA) pela valiosa colaboração durante as várias etapas de elaboração da obra e ao CNPq pelas bolsas de Produtividade em Pesquisa.

Por fim, mas não de menor importância, agradecemos a todos os autores cujas pesquisas são citadas nesta obra, pois sem o trabalho valioso destes professores, técnicos e estudantes este livro não existiria.

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Prefácio

o desenvolvimento do estado da Bahia está intimamente relacionado à interação homem x meio ambiente. na região que abriga a Baía de todos os santos (Bts), esta relação pode ser acompanhada desde o início da formação da nação e do estado brasileiros. a Baía, então chamada Kirimurê pelos índios que a habitavam, ofereceu a proteção que os primeiros colonizadores precisavam para se estabelecer; por sua riqueza, garantiu-lhes o sustento; por sua capilaridade, contribuiu para o acesso aos domínios distantes do litoral e, em um momento posterior, para o escoamento da produção. essa centralidade da Bts tem perpassado os séculos e a fez testemunha de ciclos econômicos e culturais que deságuam na atualidade; a fez também sofrer o impacto – nem sempre positivo – desses ciclos.

É nesse contexto que o Governo do estado da Bahia, por meio do instituto do Meio ambiente (iMa) e da Fundação de amparo à Pesquisa do estado da Bahia (FaPesB), tem dado foco para o monitoramento, a avaliação e as pesquisas – multidisciplinares e articuladas – da e sobre a Bts. ao longo do tempo, a Baía tem sido objeto de investigações. no entanto, os dados estão dispersos e são, em sua maioria, restritos à academia ou às agências que fomentaram as pesquisas que os originaram. a presente publicação visa suprir essa lacuna. o livro Baía de Todos os Santos foi pensado em dois volumes: o ambiente Físico, relacionado a oceanografia da Baía, e o ambiente humano. Para a organização do volume ambiente Físico, iMa e FaPesB convidaram dois pesquisadores renomados, vanessa hatje e Jailson Bittencourt de andrade, vinculados à Universidade Federal da Bahia. Coube aos dois identificar e envolver os demais autores que, a partir de seus estudos e de uma busca sistemática dos dados existentes, puderam elaborar os capítulos que ora são apresentados. no conjunto, esses capítulos formam o panorama atual da oceanografia da Bts.

Com a publicação da Baía de Todos os Santos: aspectos oceanográficos, iMa e FaPesB buscam democratizar o acesso às informações sobre a Bts, estimulando seu uso na formulação de novas políticas e de novas investigações na busca por uma gestão sustentável da Baía e pela otimização das decisões que resultem na melhoria da qualidade de vida da população no seu entorno.

salvador, 27 de agosto de 2009.

Dora Leal Rosa Elizabeth Maria Souto Wagner Diretora Geral Diretora Geral

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Sumário

I. Introdução

Vanessa Hatje

Jailson Bittencourt de Andrade

II. Geologia

José Maria Landim Dominguez Abílio Carlos da Silva Pinto Bittencourt

III. Oceanografia Física

Guilherme Camargo Lessa Mauro Cirano

Fernando Genz

Clemente Augusto Souza Tanajura Renato Ramos da Silva

IV. Ambiente Pelágico

Rubens Mendes Lopes June Ferraz Dias Salvador Airton Gaeta

V. Pesca e

Produção Pesqueira

Lucy Satiko Hashimoto Soares Ana Carolina Ribeiro Salles Juliana Pierrobon Lopez Elizabeti Yuriko Muto Roberto Giannini

VI. Ambiente

Bentônico

Francisco Carlos Rocha de Barros Junior Igor Cristino Silva Cruz

Ruy Kenji Papa de Kikuchi

Zelinda Margarida de Andrade Nery Leão

VII. Contaminação

Química

Vanessa Hatje Márcia Caruso Bícego Gilson Correia de Carvalho Jailson Bittencourt de Andrade

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Introdução

Vanessa Hatje

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Introdução | 19 A Baía de Todos os Santos, conhecida como BTS (Figura 1), é uma grande baía

localizada nas bordas da terceira maior cidade brasileira, Salvador, capital da Bahia. Centrada entre a latitude de 12°50’ S e a longitude de 38°38’ W, a BTS apresenta uma área de 1.233 km2, sendo a segunda maior baía do Brasil, atrás apenas da

baía de São Marcos, no Maranhão. No entorno da BTS há hoje um contingente populacional superior a três milhões de habitantes. Dentre as baías da costa leste brasileira, é a única que apresenta dez terminais portuários de grande porte, um canal de entrada naturalmente navegável e canais internos profundos, o que, desde sempre, a têm tornado um elemento facilitador do desenvolvimento da região. Sua riqueza natural, com expressiva extensão de recifes de corais, estuários e manguezais e sua forte relação com a história do Brasil fazem da BTS um pólo turístico por excelência.

Muito se tem pesquisado sobre a BTS, mas as informações decorrentes desses estudos, em boa parte, estão dispersas e pouco acessíveis, o que torna difícil uma visão geral sobre ela. Proporcionar tal visão, com foco nos aspectos oceanográficos, é o objetivo geral deste livro. A Introdução se incumbe de apresentar a BTS ao leitor, situando-a histórica e economicamente a princípio para, em seguida, fazer uma descrição de seus aspectos físicos mais gerais.

Entre 1501, quando os portugueses cruzaram pela primeira vez a entrada da BTS, e 1590, quando o primeiro complexo urbano na borda da baía, a Cidade do Salvador, estava em pleno funcionamento, houve uma profunda mudança no entorno da BTS. Neste período a índia Kirimurê, grande mar interior dos Tupinambá, foi transformada e batizada na portuguesa Baía de Todos os Santos (Araújo, 2000). Naquela época, a região do Recôncavo baiano, que abraça toda a área da BTS e compreende vários rios e enseadas de portes variados, era coberta por densas florestas e bosques de manguezais. A partir de 1550, entretanto, a implantação da cultura da cana-de-açúcar, primeira monocultura de exportação do Brasil, e a sucessiva instalação de engenhos, unidade agroindustrial mais complexa à sua época, promoveram a acelerada destruição das matas primárias. Estas matas foram utilizadas como combustível vegetal e alimentaram todo setor de construção e reparação de embarcações (Araújo, 2000). No final do século XVI havia mais de 40 engenhos instalados na região ocupada entre São Francisco do Conde, Santiago de Iguape e Santo Amaro, constituindo um território reservado exclusivamente à cultura da cana (Oliveira, 1997). As lavouras de subsistência, especialmente a exploração da mandioca, desenvolveram-se ao sul desta região, enquanto as plantações de fumo concentraram-se a oeste (Freitas e Assis, 2009). O transporte aquático nesta época foi fundamental para a exportação do açúcar, de produtos do sertão e do intenso tráfico de escravos. Mais de 1400 embarcações estavam em serviço no interior da BTS, que se tornou parada estratégica das embarcações portuguesas a caminho da Índia (Araújo, 2000).

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Figura 1.

Baía de Todos os Santos, BA, Brasil (Cirano e Lessa, 2007).

Em meados do século XIX, por motivos diversos dentre os quais a ausência de estradas para escoamento da produção, o fim do tráfico africano e a abolição da escravatura, houve novamente uma grande mudança no cenário do Recôncavo. Surgia então um ambiente bem mais diversificado, que incluiu a produção de fumo, de produtos alimentícios, usinas de açúcar e coleta de peixes e mariscos para o abastecimento local.

Outra mudança expressiva no panorama do Recôncavo baiano deu-se em 1950, quando a Petrobras inaugurou a pequena refinaria Landulpho Alves (RLAM) no município de Mataripe. Entre os anos 50 e 80 o Recôncavo foi o único produtor de petróleo no país (Oliveira, 2003). A descoberta e a exploração do petróleo

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Introdução | 21 transformaram definitivamente a identidade da região e impuseram uma nova

organização econômica e social, que terminou por conduzir o Governo da Bahia, nas décadas de 60 e 70, à opção pelo desenvolvimento petroquímico como modelo de crescimento econômico do Estado. Posteriormente, a criação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e uma série de incentivos fiscais permitiram o desenvolvimento e a expansão industrial, com a consolidação do complexo petroquímico e do Centro Industrial de Aratu. Como resultado de todo este processo, hoje o entorno da BTS compreende uma extensa zona industrial que inclui o maior pólo petroquímico do hemisfério sul. Existem também três emissários submarinos localizados na plataforma continental adjacente, ao norte da desembocadura da baía, sendo dois destinados a efluentes industriais e um destinado ao esgotamento doméstico. Reservas de óleo e gás são exploradas na plataforma interna a menos de 100 km da entrada da baía.

Os focos e estratégias de exploração de recursos não são permanentes. As condições de vida e de trabalho das populações no entorno da BTS têm sido alteradas profundamente em cada um dos ciclos mencionados. Em contrapartida, o ambiente físico da BTS, tão conducente ao desenvolvimento e à exploração do seu entorno e base de trabalho e renda para as populações ribeirinhas excluídas dos ciclos principais, tem sofrido os efeitos da ação antrópica.

Na maior parte de sua extensão, a BTS é rasa, com profundidade média de 6 m e profundidade máxima de 70 m, no paleovale do rio Paraguaçu. A geologia da BTS foi determinada, em grande parte, pela atividade tectônica, quando da separação entre a América do Sul e a África, ocupando uma área delimitada pelas falhas geológicas de Salvador e de Maragojipe. De uma bacia de drenagem total de 60.000 km2, mais de 90% são drenados por três tributários, os rios Paraguaçu,

Jaguaripe e Subaé, responsáveis por uma descarga média anual de 101 ms-1,

ou 74% da descarga fluvial total (Cirano e Lessa, 2007). O rio Paraguaçu, apesar de barrado pela represa de Pedra do Cavalo, 15 km à montante de sua foz, é o principal tributário da BTS, seguido pelos rios Jaguaripe e Subaé e de pequenos cursos d’água periféricos. A pequena descarga fluvial é refletida nas características essencialmente marinhas encontradas na maior parte da baía. No seu interior, a circulação é predominantemente forçada pelas marés (2,7 m de altura média de maré), sendo que a descarga fluvial média é inferior a 1% da vazão associada às marés na saída da BTS. A coluna d’água é caracteristicamente bem misturada e condições estuarinas são observadas apenas próximo à saída dos rios, em estuários com ecofisiologia complexa, os quais abrigam uma rica biodiversidade de alto interesse ecológico e extrativista. Esses ambientes podem ser descritos de diversas maneiras e neste livro serão tratados como ambientes bentônicos e pelágicos. O ambiente pelágico refere-se à coluna d´água, em interface com a atmosfera e o sedimento de fundo, sendo habitado por plâncton e nécton. O ambiente bentônico

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compreende os ambientes de fundo consolidado, como recifes de corais, bem como os sedimentos inconsolidados no infra e mesolitoral, e a fauna associada a estes.

Esta Introdução apresentou, brevemente, a Baía de Todos os Santos. Os próximos capítulos têm os objetivos de sumarizar e examinar, de maneira compreensiva, os dados de oceanografia química, geológica, física e biológica que foram gerados sobre a BTS. Assim, este livro está dividido nas seguintes partes: Geologia (Capítulo II); Oceanografia Física (Capítulo III); Ambiente Pelágico (Capítulo IV); Pesca e Produção Pesqueira (Capítulo V); Ambiente Bentônico (Capítulo VI); e Contaminação Química (Capítulo VII).

No Capítulo II, o leitor encontrará uma descrição de como e quando a BTS foi formada e um panorama histórico que compreende desde o início de sua forma-ção até seu estágio atual. Este capítulo é crítico, uma vez que define as condições geológicas a partir das quais os ambientes contemporâneos se estabeleceram. O Capítulo III examina as propriedades físicas da água, bem como as forçantes da cir-culação e as condições meteorológicas da região. Neste capítulo a ênfase é dada em áreas particularmente mais susceptíveis à impactação antrópica, como a região da Baía de Aratu e do rio Paraguaçu. No Capítulo IV, são apresentados os dados físico-químicos que caracterizam a BTS, especialmente na região norte da baía, onde foi realizada uma série de estudos de avaliação da qualidade ambiental. Este capítulo aborda também os dados sobre plâncton (fito e zoo) e peixes disponíveis na região. As principais características das comunidades pesqueiras, especialmente da por-ção norte da baía, são discutidas no Capítulo V. Neste é apresentado um sumário das atividades de pesca, incluindo os petrechos utilizados, as principais espécies e uma estimativa da produção pesqueira. O Capítulo VI discute o ambiente bentôni-co da BTS e bentôni-concentra a discussão em torno de dois ambientes extremamente ribentôni-cos do ponto de vista ecológico e altamente sensíveis aos impactos antrópicos, os es-tuários e os recifes de corais. Finalmente, o Capítulo VII apresenta uma revisão dos principais estudos sobre a contaminação por metais traço e por hidrocarbonetos realizados na BTS, e fornece subsídios para o leitor avaliar a situação de impactação da baía comparativamente a outros sistemas costeiros.

Com esta estruturação, este livro pretende suprir uma demanda antiga dos órgãos governamentais e da comunidade científica: encontrar, em uma única publicação, dados sistematizados e menção aos principais trabalhos desenvolvidos sobre a BTS, bem como uma interpretação sobre sua atual situação. Dessa maneira, espera-se que esta publicação contribua para o desenvolvimento de novas pesquisas, para o enriquecimento de projetos em andamento e para a formulação de políticas públicas que tenham, como finalidade, a promoção da qualidade de vida das populações no entorno da baía, em sintonia com a preservação da diversidade dos ecossistemas da BTS.

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Introdução | 23

Referências

Araújo, U. C. (2000) A Baía de Todos os Santos: um sistema geo-histórico resistente. Bahia Análise & Dados, v. 9, p. 10-23.

Cirano, M.; Lessa, G. C. (2007) Oceanographic characteristics of Baía de Todos os Santos. Brasil. Revista Brasileira de Geofísica, v. 25, p. 363-387.

Oliveira, W.F. (1997) Evolução Sócio-Econômica do Recôncavo Baiano. In: Germen/ UFBA-NIMA. Baía de Todos os Santos – Diagnóstico Sócio-Ambiental e Subsídios para a Gestão. Parte I. Cap. 3, p. 43-56.

Oliveira, F. (2003) O elo perdido. Classe e identidade de classe na Bahia. Editora Fundação Perseu Abramo, São Paulo. 115p.

Freitas, A. F. G.; Assis, A. (2009) Canô Velloso. Lembranças do saber viver. EDUFBA, Salvador. 179p.

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Geologia

José Maria Landim Dominguez

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Geologia | 29

Introdução

A Baía de Todos os Santos está implantada sobre as rochas sedimentares que preenchem a bacia sedimentar do Recôncavo (Figuras 1 e 2). A bacia do Recôncavo é em realidade uma sub-bacia que ocupa a extremidade sul de um conjunto de bacias denominado Recôncavo-Tucano-Jatobá (Figura1). Uma bacia sedimentar é uma região da litosfera terrestre que experimenta, durante um determinado intervalo de tempo, um movimento descendente, denominado subsidência. Este processo dá origem a uma região topograficamente mais baixa que termina por capturar a drenagem continental, sendo, pouco a pouco, preenchida de sedimentos que, com o passar do tempo, experimentam processos de cimentação, dando origem então a rochas sedimentares. A subsidência não continua indefinidamente, de modo que, eventualmente, a bacia sedimentar pode experimentar um processo denominado inversão, que resulta em soerguimento, com formação de um relevo positivo. A bacia sedimentar, em que predominava acumulação de sedimentos, passa então a experimentar erosão, como ocorreu com a sub-bacia do Recôncavo. Sobre estes remanescentes erodidos, desenvolveu-se em um tempo geológico muito mais recente a Baía de Todos os Santos.

Este capítulo objetiva apresentar esta história geológica da Baía de Todos os Santos, desde o início da formação da sub-bacia do Recôncavo, no Cretáceo inferior, há 145 milhões de anos atrás, passando pelo desenvolvimento inicial da Baía de Todos os Santos até os dias atuais. Espera-se que esta história geológica possa transmitir ao leitor uma ideia dos eventos a que esteve sujeita a região, cuja sucessão permitirá compreender como se formou a paisagem atual da Baía de Todos os Santos, não apenas em sua porção emersa como também na submersa.

A Bacia do Recôncavo

Como visto, a sub-bacia sedimentar do Recôncavo faz parte de um conjunto de bacias com orientação geral norte-sul, formadas quando da separação entre a América do Sul e a África, processo que se iniciou por volta de 145 milhões de anos atrás, no Cretáceo inferior (Silva et al., 2007).

A sub-bacia do Recôncavo é separada da sub-bacia do Tucano, situada mais ao norte, pelo Alto de Aporá, uma região que experimentou menos subsidência durante a evolução destas bacias (Figura 1). O limite sul da sub-bacia do Recôncavo com a bacia de Camamu é representado pela falha da Barra (Figuras 2a). A leste, a sub-bacia do Recôncavo é limitada pela falha/alto de Salvador-Jacuípe, que a separa da bacia do Jacuípe (Figuras 3a). A oeste, o limite da sub-bacia do Recôncavo é a falha de Maragogipe (Figuras 2b e 3b). A bacia do Recôncavo-Tucano-Jatobá é

Figura 1. (Página seguinte) Bacia Sedimentar do Recôncavo-Tucano-Jatobá (modificado de Magnavita et al., 2005).

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Geologia | 31

Figura 2a.

Geologia do entorno (modificada de Magnavita et al., 2005) e do fundo da Baía de Todos os Santos (modificada de Bittencourt et al., 1976 e Cruz, 2008).

Figura 2b.

Seção geológica transversal à sub-bacia do Recôncavo mostrando o empilhamento das unidades estratigráficas (modificado de Magnavita et al., 2005).

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Figura 3a.

Falha de Salvador – limite leste da bacia sedimentar do Recôncavo e da Baía de Todos os Santos.

classificada como uma bacia do tipo rifte, que se forma no início da fragmentação/ separação dos continentes. Se esta fragmentação for bem-sucedida e culminar na efetiva separação de dois continentes, uma crosta oceânica se formará, e por ser mais densa, ocupará uma região topograficamente mais baixa que, eventualmente, poderá ser invadida pelo mar, formando inicialmente um golfo estreito. Este golfo progressivamente se alarga, à medida que os continentes se separam, evoluindo desta forma para um oceano pleno e dando origem a uma bacia de margem passiva. No caso particular da bacia do Recôncavo-Tucano-Jatobá, sua evolução não chegou a este estágio, já que se constitui no braço abortado de uma junção tríplice,

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Geologia | 33 normalmente formada durante a fragmentação dos continentes (Mohriak, 2003).

De outro lado, as bacias de Camamu e de Jacuípe tiveram uma evolução normal, chegando até o estágio de oceano franco. Deste modo, a sub-bacia sedimentar do Recôncavo, durante esta sua evolução inicial no Cretáceo inferior, nunca foi invadida pelo mar. Pelo contrário, após a subsidência inicial, a bacia sofreu um soerguimento da ordem de até 1.750 m (Daniel et al., 1989; Davison, 1987; Magnavita et al., 1994), ou seja, desde o final do Aptiano, há aproximadamente 115 milhões de anos atrás, a região esteve submetida quase que continuadamente à erosão.

Figura 3b.

Falha de Maragogipe – limite oeste da bacia sedimentar do Recôncavo e da Baía de Todos os Santos.

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História de Preenchimento da Bacia do Recôncavo

A história de preenchimento da bacia do Recôncavo pode ser dividida em três fases, denominadas pré-rifte, sin-rifte e pós-rifte (Magnavita et al., 2005) (Figura 1).

A fase pré-rifte corresponde àqueles sedimentos depositados nos estágios iniciais da movimentação da litosfera que antecederam à implantação do rifte propriamente dito. Nesta fase, que data do final do Jurássico, há 150-145 milhões de anos atrás, os sedimentos se acumularam em lagos rasos em um clima desértico onde adentravam pequenos rios e, com o vento soprando, originavam campos de dunas (Figura 4a). A principal unidade sedimentar deste período corresponde ao Grupo Brotas, constituído de arenitos com grandes estratificações cruzadas e folhelhos de cor avermelhada que, nos dias atuais, afloram na porção oeste da Baía de Todos os Santos, e que podem ser bem visualizados nas belas falésias presentes ao longo do canal do rio Paraguaçu, entre a Baía de Iguape e a localidade de Barra do Paraguaçu (Figura 5a). Estes corpos de arenito constituem em subsuperfície os maiores e mais importantes reservatórios de hidrocarbonetos da bacia do Recôncavo (Scherer et al., 2007). Nesta época, a paisagem da região foi reminiscente, em alguns momentos, daquela que ocorre hoje nos desertos da Namíbia (Figura 4b).

Figura 4a.

Paleogeografia da Bacia do Recôncavo durante a fase pré-rifte (modificado de Medeiros e Ponte, 1981).

A fase rifte é marcada pelo aparecimento brusco de sedimentos lacustres esverdeados do Grupo Santo Amaro (Formação Itaparica), por volta de 145 milhões de anos atrás, sobre os sedimentos do Grupo Brotas. Em seção, este rifte apresentava uma geometria assimétrica (meio-graben) com a maior subsidência ocorrendo junto à falha de Salvador (falha de borda principal do meio-graben), onde se acumularam cerca de até 8 km de espessura de sedimentos (Figura 2b ). Na margem oeste, denominada de flexural, praticamente não houve subsidência

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Geologia | 35

Figura 4b.

Imagem de satélite mostrando um trecho do deserto da Namíbia, um equivalente moderno de como teria sido a paisagem da Bacia do Recôncavo na fase pré-rifte.

Figura 5a.

Afloramento de rochas do Grupo Brotas (canal do Paraguaçu).

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Figura 5b.

Afloramento de rochas do Grupo Santo Amaro (Saubara).

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Figura 5c.

Afloramento de arenitos maciços resultantes de fluxos gravitacionais na ilha do Frade.

(Figura 2). Na fase rifte formou-se um lago profundo na região, reminiscente do que ocorre nos dias atuais no sistema de riftes do leste africano, onde um processo de rifteamento semelhante é ativo (Figuras 6a e 6b). Neste lago, com algumas centenas de metros de profundidade e com fundo anóxico, acumularam-se lamas ricas em matéria orgânica da Formação Candeias do Grupo Santo Amaro, que hoje afloram solidificadas na porção noroeste da Baía de Todos os Santos, como, por exemplo, na localidade de Saubara (Figura 5b). Neste lago profundo adentraram, posteriormente, rios que construíram deltas e, aportando sedimentos finos, ajudaram a preencher o lago (Grupo Ilhas). De tempos em tempos, abalos sísmicos desestabilizavam as frentes deltaicas, deformando os sedimentos e originando fluxos gravitacionais que, nas partes mais distais, constituíram correntes de turbidez, transportando sedimentos para as partes mais profundas do lago (Magnavita et al., 2005; Cupertino e Bueno, 2005). Estas rochas incluem os arenitos maciços e rochas estratificadas que afloram nas principais ilhas e no entorno da Baía de Todos os Santos (Frade, Maré, Itaparica e Base Naval de Aratu) (Figuras 5c, 5d, 7a e 7b). Na borda leste da bacia, junto à falha de Salvador, devido ao elevado relevo alcançado por esta falha de borda, acumularam-se cunhas de conglomerados (Formação

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Geologia | 39

Figura 5d.

Afloramento de arenitos maciços resultantes de fluxos gravitacionais na ilha de Maré.

Salvador) que adentravam o lago tectônico, e que hoje afloram na localidade de Monte Serrat (Figuras 7c e 7d).

Com o passar do tempo e com a diminuição da subsidência, este lago foi progressivamente assoreado por sedimentos fluviais da Formação São Sebastião, por volta de 125 milhões de anos atrás (Figura 2). Esta formação praticamente não aflora no entorno da baía. Após esta data, a sub-bacia do Recôncavo experimentou soerguimento durante um intervalo de tempo de aproximadamente 10 milhões de anos, quando então ocorreu a deposição da Formação Marizal, constituída de conglomerados que se acumularam na fase denominada pós-rifte (Magnavita et al., 1994; 2005). Estes sedimentos foram depositados sobre uma superfície erosiva ondulada que se desenvolveu sobre os sedimentos da fase sin-rifte (Magnavita et al., 1994). Transcorreu então um intervalo de tempo de aproximadamente 90-100 milhões de anos, quando predominaram processos erosivos.

Na sub-bacia de Jatobá, depósitos albo-aptianos (há 115-110 milhões de anos atrás), constituídos de folhelhos esverdeados e calcários escuros, recobrem a Formação Marizal. Estes sedimentos, de origem marinha, encontram-se em altitudes em torno de 800 m e seriam correlativos da Formação Santana, da bacia

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Figura 6a.

Paleogeografia da Bacia do Recôncavo durante a fase rifte (modificado de Medeiros e Ponte, 1981).

Figura 6b.

Imagem de satélite mostrando um trecho do sistema de riftes do leste africano (lago Tanganyika), um equivalente moderno de como teria sido a paisagem da Bacia do Recôncavo durante a fase rifte.

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Geologia | 41

Figuras 7a e 7b.

Afloramentos de rochas estratificadas associadas a correntes de turbidez na (a) Ilha de Itaparica e (b) proxímo à Base Naval de Aratu (abaixo).

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Figuras 7c e 7d.

Afloramentos de rochas da Formação Salvador (Monte Serrat).

do Araripe (Magnavita et al., 1994). Este fato tem várias implicações. Segundo Magnavita et al. (1994), ao final do Cretáceo inferior, (i) a bacia do Recôncavo-Tucano-Jatobá encontrava-se próxima ao nível do mar daquela época; (ii) estes sedimentos marinhos teriam sido depositados, provavelmente a partir de uma invasão marinha vinda do norte do país; e (iii) um soerguimento, de pelo menos 600 metros (descontados os 200 m de descida do nível do mar eustático, desde o Cretáceo), seguido de erosão regional, de idade ainda desconhecida, afetou a bacia antes da deposição dos sedimentos mais recentes já no Mioceno.

É interessante notar que existe uma notável variação de altitude entre a sub-bacia do Recôncavo e as sub-sub-bacias de Tucano e Jatobá (Figura 8). Sedimentos da fase rifte ocorrem em mesas isoladas, com altitudes de até 1000 m, na sub-bacia de Jatobá. Os sedimentos cretáceos elevam-se na porção norte do sistema de bacias, cerca de 200-400 m acima das rochas adjacentes do embasamento cristalino (Figura 8). A topografia da sub-bacia do Recôncavo é mais reduzida, raramente ultrapassando os 200 m de altitude (Figura 8). Estas diferenças em altitude são atribuídas, por Magnavita et al. (1994), a diferenças na intensidade da precipitação.

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Geologia | 43 Enquanto a sub-bacia de Jatobá é quase um deserto, na sub-bacia do Recôncavo, o

clima é mais úmido, o que teria favorecido um rebaixamento topográfico maior.

O Nível de Mar Alto no Mioceno

Após o Cretáceo, o planeta experimentou um progressivo resfriamento que pouco a pouco resultou na acumulação de gelo, primeiro na Antártica, a partir do Oligoceno (Abreu e Anderson, 1998; Zachos et al., 2001; Miller et al., 2005; Müller et al., 2008), e depois no Hemisfério Norte, a partir do Plioceno. Uma consequência desta acumulação de gelo foi o progressivo abaixamento do nível do mar, ao longo do Cenozóico (Haq et al., 1987; Haq et al., 1988; Abreu e Anderson, 1998; Miller et al., 2005; Müller et al., 2008). Esta tendência de progressivo abaixamento foi interrompida no Mioceno (inferior e médio), quando uma elevação da temperatura resultou em degelo e, portanto, em elevação do nível do mar. A altura máxima alcançada pelo nível do mar nesta época ainda não está bem estabelecida, mas se situaria entre 25 e 150 m acima do nível do mar, a depender da metodologia

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Geologia | 45 utilizada. Trabalhos mais recentes, entretanto, posicionam o nível do mar em torno

de 45-55 m acima do nível atual (John et al., 2004). A queda do nível do mar no Mioceno médio/superior é significativa porque está associada ao estabelecimento permanente do lençol de gelo do leste da Antártica (EAIS – East Antarctic Ice Sheet) (Zachos et al., 2001). Associado a este episódio de nível de mar alto, houve o depósito de folhelhos marinhos fossilíferos da Formação Sabiá (Petri, 1972), representada por um único afloramento no Município de Mata de São João (BA), e da Formação Barreiras. É importante chamar a atenção para o fato de que, classicamente, a Formação Barreiras é interpretada como sendo de origem continental (fluvial). Entretanto, trabalhos mais recentes (Arai, 2006; Rossetti, 2006; Dominguez e Araújo, 2008; Rossetti e Goes, 2009) têm demonstrado que, inclusive no Estado da Bahia, esta formação é de origem marinha transicional, tendo sido depositada predominantemente em ambientes estuarinos. A Formação Sabiá é crono-correlata da Formação Barreiras, se é que não são a mesma coisa.

Após o nível de mar alto do Mioceno inferior/médio, a retomada da acumulação de gelo na Antártica e o início do desenvolvimento dos grandes lençóis de gelo no Hemisfério Norte, a partir do Plioceno, resultaram no progressivo abaixamento do nível do mar. Já no final do Mioceno, o nível do mar atual havia sido alcançado. Nos últimos dois milhões de anos, durante a maior parte do tempo, o nível do mar esteve abaixo do nível atual (Figura 9), desencadeando um intenso processo erosivo que afetou a nossa zona costeira e favoreceu o desenvolvimento da Baía de Todos os Santos.

Figura 8. (Esquerda) Relevo da Bacia do Recôncavo-Tucano-Jatobá

Figura 9.

Curva do nível eustático do mar para os últimos 2 milhões de anos (modificado de Miller et al., 2005).

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A origem da Baía de Todos os Santos

Já há algumas décadas, diversos autores têm postulado que a origem da Baía de Todos os Santos estaria associada a processos tectônicos atuantes durante o Quaternário. Sampaio (1916; 1919; 1920), ao descrever abalos sísmicos que afetaram a Baía de Todos os Santos, em 1915, 1917 e 1919, conclui que estes abalos vêm de longa data modelando geológica e geograficamente a baía. Tricard e Cardoso da Silva (1968) acreditavam que a Baía de Todos os Santos resultou de deformações tectônicas recentes, a ponto de ainda não ter influenciado a organização da rede hidrográfica local. Martin et al. (1986) deduziram a existência de movimentos verticais holocênicos, com base na distribuição de depósitos quaternários no interior da Baía de Todos os Santos. Mais recentemente, Carvalho (2000), Lessa et al. (2000), Lessa (2005) e Cirano e Lessa (2007) reafirmaram, principalmente com base em evidências apresentadas em trabalhos mais antigos, a crença em movimentos tectônicos recentes como um dos principais fatores a modelarem a baía.

Estes trabalhos, entretanto, desconsideraram o papel fundamental das variações eustáticas do nível do mar, durante o Cenozóico, e seus efeitos no modelado das paisagens costeiras. Este é talvez o principal fator a determinar a origem e o modelado da Baía de Todos os Santos, que teria resultado da erosão diferencial associada a um dramático rebaixamento do nível de base. Tanto é assim que existe uma perfeita correlação entre a altitude do terreno e a resistência das diferentes unidades geológicas à erosão. Adicionalmente, o recente levantamento de campo de algumas centenas de quilômetros de linhas sísmicas de alta resolução1,

recobrindo toda a baía, não mostrou qualquer evidência de movimentações tectônicas afetando os sedimentos quaternários que a preenchem parcialmente.

Pela Figura 9, que mostra uma curva de variações eustáticas do nível do mar, para os últimos dois milhões de anos, ou seja, o período Quaternário, é possível observar o progressivo abaixamento deste nível, de tal modo que o nível médio do mar, nesta mesma época, situava-se cerca de 30 m abaixo do nível atual (Masselink e Hughes, 2003). Durante os últimos 500 mil anos, com o aumento na amplitude das variações do nível do mar, a posição média deste nível situou-se em torno de -45 m, ou situou-seja, próximo à quebra da plataforma atual (ponto de cachoeira = knick point). Este rebaixamento do nível de base desencadeou um processo de erosão e reestruturação da rede de drenagem na zona costeira. A propagação do sinal eustático, via recuo do ponto de cachoeira pelos tributários, resultou na ampliação e geração de novas bacias hidrográficas, ajustadas a um nível de base situado na borda da plataforma (Dominguez, 2007). Tendo em vista que as rochas sedimentares da sub-bacia do Recôncavo, principalmente aquelas 1 Projeto Transfer – Mecanismos de Transferência de Sedimentos da Zona Costeira/Plataforma para o Talude/Bacia,

durante os últimos 120 mil anos – estudo de caso – a plataforma continental central do Estado da Bahia. CT-PETRO/CNPq

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Geologia | 47 de granulação mais fina, são menos resistentes à erosão, quando comparadas

às rochas do embasamento cristalino, a tendência dos processos erosivos é de rebaixar topograficamente as áreas ocupadas pelas rochas sedimentares que, deste modo, ficam circundadas pelos relevos mais altos, sustentados por litologias mais resistentes do embasamento. Este é o caso da Baía de Todos os Santos.

Durante o Quaternário, nos raros intervalos de nível de mar alto, como o que vivemos atualmente, esta região topograficamente rebaixada foi inundada pelo mar, originando uma baía. Deste modo, a Baía de Todos os Santos é uma feição transitória, presente apenas nos raros intervalos de nível de mar alto, ocorridos nas últimas centenas de milhares de anos (Figuras 9 e 10).

Figura 10.

Curva de variações do nível eustático do mar para os últimos 450.000 anos (modificado de Miller et al., 2005). Os círculos vermelhos indicam os episódios em que o nível do mar esteve acima ou próximo ao nível atual.

A Baía de Todos os Santos é assim o resultado de uma longa cadeia de eventos que se inicia com a separação entre a América do Sul e a África e, mais recentemente, incorpora os efeitos do progressivo resfriamento do planeta, durante o Cenozóico, com a acumulação de gelo nas regiões de alta latitude e o consequente abaixamento do nível do mar. Finalmente, durante os últimos 500 mil anos, o aumento na amplitude das variações do nível do mar resultou em repetidos episódios de inundação e esvaziamento da baía, com uma periodicidade de aproximadamente 100 mil anos. O contorno e a fisiografia da Baía de Todos os Santos, com suas ilhas, canais e sub-baías, foi determinado por esta história geológica.

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História evolutiva da Baía de Todos os

Santos nos últimos 120 mil anos

Apresentaremos uma reconstituição histórica tentativa da possível evolução recente da Baía de Todos os Santos, a partir da integração de dados disponíveis na literatura, batimétricos e outros, recentemente coletados com perfilador de subfundo em vários setores da baía, conforme mencionado anteriormente. Na Figura 10 observa-se que, por volta de 120 mil anos atrás, o nível do mar situava-se cerca de 6 metros acima do nível atual. Contudo, à exceção da ilha de Itaparica e vizinhanças, não existem registros de nível de mar associados a este evento, preservados no interior da Baía de Todos os Santos. Este é um dos aspectos utilizados, por alguns autores, como evidência de atividade tectônica recente no interior da baía (Martin et al., 1986). O fato é que, a maior parte da linha de costa da baía é caracterizada por terraços de abrasão esculpidos nas rochas sedimentares de granulação fina que caracterizam seu entorno. Raras praias arenosas estão presentes, o que, sem dúvida, reflete uma notável falta de sedimentos para a construção de terraços arenosos, que pudessem constituir testemunhos do nível de mar alto de 120 mil anos atrás. As principais exceções são a linha de costa oceânica da ilha de Itaparica, o canal de Itaparica e algumas praias de bolso, presentes aqui e acolá. Nas margens do canal de Itaparica, entretanto, depósitos estuarinos arenosos, com estruturas sedimentares típicas deste ambiente (e.g. estratificações cruzadas em espinha de peixe, feixes de maré – tidal bundles) e traços fósseis de Ophiomorpha nodosa estão presentes e testemunham este nível de mar alto (Figura 11). Portanto, durante o máximo trangressivo de 120 mil anos atrás, a baía esteve completamente inundada, apresentando uma área ligeiramente maior que a atual, e exibindo um padrão e dinâmica de sedimentação provavelmente muito semelhante ao que se verifica hoje (Cirano e Lessa, 2007). A partir deste máximo transgressivo, o nível do mar desceu progressivamente, durante os 100 mil anos seguintes, expondo subaereamente toda a baía. Nesta época, o rio Subaé e os demais pequenos rios que hoje deságuam na baía, juntamente com as drenagens oriundas do canal da sub-baía de Aratu, do canal de Madre de Deus e do canal de Itaparica, constituíram-se em tributários do rio Paraguaçu, que ocupava o canal de Salvador, muito provavelmente escavado por este rio, acrescentando à sua bacia hidrográfica uma área extra adicional de pelo menos 1.233 km2, correspondente

à área atual da Baía de Todos os Santos. Por volta de 20 mil anos atrás, o nível do mar alcançou um mínimo de 120 m abaixo do nível atual. Este período correspondeu ao avanço máximo dos lençóis de gelo no Hemisfério Norte, e é conhecido como Último Máximo Glacial (LGM – Last Glacial Maximum). Na ocasião, a desembocadura do rio Paraguaçu situava-se muito provavelmente em torno desta “profundidade”, por analogia ao que foi verificado em outros rios menores da costa da Bahia, a exemplo dos rios Almada e Itapicuru (Dominguez, 2007).

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Geologia | 49

Figuras 11a e 11b.

Testemunhos do nível de mar alto de 120.000 anos atrás nas margens do canal de Itaparica.

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A Figura 12 mostra como teria sido a paleogeografia da baía durante o último máximo glacial. O local exato de saída do rio Paraguaçu no talude superior ainda não é conhecido for falta de detalhamento batimétrico/sonográfico da plataforma em frente à Baía de Todos os Santos. O paleorelevo desta época de exposição subaérea é prontamente identificado em vários setores da baía, como mostram as seções levantadas com perfilador de subfundo (Figura 13a).

Após o máximo glacial, o nível do mar começou a subir rapidamente, com taxas médias em torno de 1 m século-1, mas que em alguns momentos

chega-ram a alcançar 5 m século-1. Por volta de 10 mil anos atrás, com o nível do mar

já posicionado cerca de 30 m abaixo do nível atual, partes da baía já estavam inundadas, principalmente ao longo do canal de Salvador.

Por volta de 8 mil anos atrás, o degelo já havia se encerrado, resultando em forte desaceleração das taxas de subida do nível do mar. Data provavelmente desta época o início de uma sedimentação mais expressiva na baía. É interessante chamar a atenção para o fato de que nesta época o volume de água armazenado na baía era significativamente superior ao atual, uma vez que até então pouca sedimentação havia Figura 12.

A Baía de Todos os Santos durante o Último Máximo Glacial.

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Geologia | 51

Figura 13.

Trechos de linhas sísmicas ilustrando diversos aspectos discutidos no texto. (a) Paleorrelevo soterrado (seta) pela deposição de sedimentos finos; (b) Lajes (setas cheias) parcialmente soterradas por clinoforma (seta tracejada); (c) Laje não soterrada (seta); (d) Fundo rochoso no canal de Salvador (seta). Em todas as figuras, as linhas tracejadas horizontais apresentam espaçamento equivalente a 10 m. As marcações no topo das figuras estão espaçadas em 50 m. ocorrido. O Paraguaçu é um rio que transporta muito pouco sedimento, a ponto de até

hoje não ter conseguido preencher a Baía de Iguape, onde deságua, tendo construído apenas um pequeno delta de cabeceira de baía (Carvalho, 2000). Levantamentos sísmicos recentemente efetuados mostram que sedimentos lamosos, entre 10 e 25 metros de espessura, foram depositados na metade norte da baía (Figura 13a). Estes pacotes de sedimentos finos apresentam uma geometria em clinoforma, portanto progradacional, no sentido da porção central da baía, a partir das suas margens, principalmente na metade nordeste da baía (Figura 13b). A sedimentação fina que, por assim dizer, extravasa das margens da baía, soterrou o paleorelevo existente na metade norte da baía, permitindo, localmente, o desenvolvimento de manguezais.

a

b

c

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Escaparam deste soterramento algumas lajes rochosas (terraços de abrasão) que bordejam as ilhas da baía ou ocorrem em seu interior, testemunhas de ilhas pretéritas que foram completamente arrasadas pela ação de ondas, seja em associação com o nível do mar atual, ou em períodos de nível do mar mais baixos (Figura 14). Nos dias atuais, este processo de arrasamento de pequenas ilhas, pela ação de ondas, ainda ocorre e pode ser visualizado nas pequenas ilhas presentes na porção noroeste da baía (Figura 15). Algumas destas lajes foram batizadas, como é o caso das lajes do Ipeba e do Machadinho etc. Estas lajes, terraços de abrasão parcialmente soterrados, constituem um substrato duro para uma série de organismos marinhos, tais como moluscos, algas coralináceas e corais, que contribuem para a produção de sedimentos autóctones (biodetritos) grossos (areias e cascalhos) os quais, nos mapas de fácies (veja mais adiante), aparecem como manchas isoladas, circundadas por sedimentos lamosos, na metade norte da baía e ao redor das ilhas.

Trabalhos recentes mostraram que alguns destes altos fundos que sobreviveram ao soterramento pelos sedimentos finos, e se projetam acima do fundo lamoso, apresentam um recobrimento de corais pétreos vivos, a exemplo dos recifes presentes na metade nordeste da baía (Cruz, 2008) (Figuras 13b e 13c). Recifes de corais estão presentes também na face da ilha de Itaparica voltada para a entrada da baía, onde se desenvolveram sobre as lajes (terraços de abrasão) que bordejam a ilha.

A origem dos sedimentos finos que se acumularam na metade norte da baía ainda precisa ser estabelecida, uma vez que a maioria dos trabalhos até então publicados tem se preocupado apenas em descrever os aspectos texturais do sedimento, pouco adentrando em seus aspectos composicionais.

É possível que estes sedimentos finos tenham uma origem mista, que inclui: (i) componentes siliciclásticos, gerados a partir da erosão de rochas lamíticas que afloraram no entorno da baía e suas ilhas, assim como nas bacias hidrográficas dos pequenos rios que aí deságuam; e (ii) componentes bioclásticos, produzidos pela fragmentação das partes duras do esqueleto de organismos marinhos (moluscos, algas coralináceas etc).

À entrada da baía (canal de Salvador) predominam os sedimentos marinhos de natureza arenosa e composição siliciclástica, retrabalhados pela ação das fortes correntes de maré (Figura 16). Algumas destas areias podem até mesmo ter uma origem fluvial, depositadas pelo próprio rio Paraguaçu, em períodos de nível de mar mais baixo, e depois retrabalhadas pelos agentes marinhos. Na porção central da baía e em trechos de seus principais canais predominam afloramentos rochosos (Figura 13d).

O abaixamento do nível relativo do mar, da ordem de 3-4 m, que afetou grande parte de costa brasileira nos últimos 5 mil anos (Angulo e Lessa, 1997; Martin et al., 2003; Angulo et al., 2006) não parece ter tido grande influência na sedimentação no interior da Baía de Todos os Santos.

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Geologia | 53

Figuras 14a e 14b.

Exemplos de lajes rochosas/ terraços de abrasão no interior da Baía de Todos os Santos. (a) Ilha do Medo e (b) Noroeste da Baía de Todos os Santos (abaixo).

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Figura 14c.

Exemplo de laje rochosa/terraço de abrasão no interior da Baía de Todos os Santos. Ilha de Madre de Deus.

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Geologia | 55

Figura 14d.

Exemplo de laje rochosa/terraço de abrasão no interior da Baía de Todos os Santos. Ilha Bom Jesus.

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Figuras 15a e 15b.

Processo de arrasamento de pequenas ilhas, ao cabo do qual restam apenas lajes rochosas. Metade noroeste da Baía de Todos os Santos.

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Geologia | 57

Figura 16a.

Dunas hidraúlicas no fundo do canal de Salvador, entrada da Baía de Todos os Santos, indicativas da ação das correntes de maré retrabalhando os sedimentos de fundo. Registro batimétrico multifeixe.

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Figura 16b.

Dunas hidraúlicas no fundo do canal de Salvador, entrada da Baía de Todos os Santos, indicativas da ação das correntes de maré retrabalhando os sedimentos de fundo. Registro com sonar de varredura lateral.

A Baía de Todos os Santos hoje –

sedimentos super ficais de fundo

A história evolutiva recente da Baía de Todos os Santos, apresentada anterior-mente, nos ajuda a entender as características atuais do seu fundo marinho.

A Baía de Todos os Santos já foi apontada como uma das menos conhecidas baías da costa brasileira, quanto às suas características sedimentológico-ambientais (Mabesoone e Coutinho, 1970). Esta situação começou a mudar a partir de 1970, com a criação, na Universidade Federal da Bahia, do Instituto de Geociências e do Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Geofísica (atual Centro de Pesquisa em

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Geologia | 59 Geofísica e Geologia) que, conjuntamente, iniciaram os estudos na Baía de Todos

os Santos.

Um padrão geral da composição e distribuição das diferentes fácies de sedimento de fundo da Baía de Todos os Santos foi apresentado por Bittencourt et al. (1976). Posteriormente, Macedo (1977) analisou alguns aspectos sedimentológicos específicos dos sedimentos de fundo, como a sua composição faunística; e Vilas Boas e Bittencourt (1979) analisaram a mineralogia e a química das argilas nelas contidas. Trabalhos com maiores escalas de aproximação, ainda relacionados à caracterização dos sedimentos de fundo, foram realizados por: (i) Bittencourt et al. (1974), Bittencourt e Vilas Boas (1977) e Leão e Bittencourt (1977) na Baía de Aratú; (ii) Brichta (1977), numa pequena área na margem oeste da baía, defronte ao canal do Paraguaçu; (iii) Nascimento (1977), Barros (1977) e Vilas Boas e Nascimento (1979), nas enseadas dos Tainheiros e do Cabrito; e (iv) Leão (1971), que estudou um depósito conchífero na denominada Laje do Ipeba, na parte noroeste da baía. Por fim, Lessa et al. (2000), utilizando os dados dos trabalhos acima mencionados, fizeram uma reclassificação das fácies sedimentares do fundo da Baía de Todos os Santos, baseando-se nos conceitos da Estratigrafia de Sequências. Mais recentemente, Dias (2003), utilizando registros de sonar de varredura lateral detalhou melhor o contato entre estas fácies sedimentares, cujo mapa resultante encontra-se publicado em Cirano e Lessa (2007)

As características dos sedimentos superficiais de fundo, a seguir descritas, são derivadas destas publicações (Figura 2a). Tanto o mapa apresentado na Figura 2a, como os anteriormente mencionados não são definitivos, visto que a precisão dos contatos entre as diferentes fácies depende de trabalhos de detalhe adicionais. O quadro geral, entretanto, permanece o mesmo. Quatro fácies sedimentares principais podem ser identificadas.

Fácies de Areia Quar tzosa

As duas áreas de maior expressão desta fácies, constituída de mais de 50% de sedimento tamanho areia, são os canais de Salvador e de Itaparica.

No canal de Itaparica, os sedimentos têm coloração variando de oliva a acinzentada e possuem como principal constituinte grãos de quartzo e, em parte, biodetritos. Os grãos de quartzo, subangulares a subarredondados em sua maioria, apresentam-se envolvidos por uma película de argila. Entre os biodetritos, predominam conchas e fragmentos esqueletais de moluscos e equinodermas e, em menor parte, de briozoários e foraminíferos (raros). Fragmentos de vegetais são encontrados ao longo das bordas, notadamente na frente dos riachos e canais de maré, quando podem atingir até 25% da fração grossa do sedimento. A chamosita,

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mineral de argila rico em ferro, está presente na forma de preenchimentos de organismos, podendo, localmente, atingir os 20% da fração grossa.

No canal de Salvador, os sedimentos têm coloração cinza-amarelado, e são também compostos dominantemente de grãos de quartzo e biodetritos (20 a 50%). Os grãos de quartzo apresentam-se subarredondados a arredondados, limpos e brilhantes. Os biodetritos, em sua maioria, são representados por restos de moluscos, Halimeda, briozoários e alga coralinácea, e em parte por equinodermas e foraminíferos (até 10%). Fragmentos de rocha (folhelho, siltito e arenito) são encontrados em alguns locais, com tamanhos de até 8 cm e, em alguns casos, recobertos por colônias de organismos calcários. Estes fragmentos são oriundos dos afloramentos rochosos das rochas sedimentares da sub-bacia do Recôncavo que afloram em trechos deste canal, como apontado anteriormente.

Fácies de Lama

Esta fácies apresenta coloração oliva-acinzentado e é constituída, predomi-nantemente, de argila (> 50%) e silte, com pouca areia. Entre os componentes biogênicos, predominam moluscos e equinodermas. A Halimeda é rara, embora localmente possa atingir até 20% da fração grossa. Os foraminíferos estão presentes em alguns locais, com percentagens entre 3 e 10%. Fragmentos vegetais aparecem ao longo da costa norte da baía (em manguezais, desembocaduras de riachos e canais de maré). Chamosita, ocorrendo na forma de pelotas fecais mineralizadas, é rara, podendo, entretanto, localmente, constituir até 70% da fração grossa. Esta fácies ocupa aproximadamente a metade norte da Baía de Todos os Santos.

Fácies de Areia/Cascalho Biodetrítico

Esta fácies apresenta uma coloração acinzentada, sendo constituída de mais de 50% de componentes biogênicos. Compõe-se principalmente de restos de moluscos, equinoderma e Halimeda, e, em menores percentagens, de alga coralinácea e foraminíferos (raros). Grãos de quartzo, quando presentes, são finos e subangulares. A argila, subordinada, está sempre presente em percentagens inferiores a 30%. A chamosita é rara. Como discutido anteriormente, esta fácies ocorre sob a forma de manchas isoladas na fácies de lama ou no entorno das principais ilhas da baía.

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Geologia | 61

Fácies Mista

Com coloração oliva-acinzentado, é caracterizada pela mistura, em diferentes proporções, de três componentes: areia quartzosa, lama e biodetritos, sem exceder, nenhum deles, os 50%. No canal do rio Paraguaçu e na parte central da baía, esta fácies é constituída por uma mistura com maiores percentagens de areia quartzosa e lama, com poucos componentes biogênicos. Os grãos de quartzo são de granulação fina a média, subangulares a subarredondados, alguns apresentando um filme envoltório de óxido de ferro. Entre os componentes biogênicos, sobressaem-se os moluscos. Fragmentos de vegetais aparecem em proporções que variam de 3 a 20%. Já na parte central da baía, a fácies mista apresenta maiores percentagens de componentes biogênicos, representados predominantemente por moluscos, Halimeda e equinodermas, com alguns foraminíferos. Em sua maioria, esses materiais apresentam-se desgastados, corroídos e perfurados. A chamosita aparece em percentagens de 3 a 15% da fração grosseira.

Os teores de matéria orgânica nos sedimentos de fundo da Baía de Todos os Santos são variáveis. Os maiores teores estão associados à fácies de lama (3-6%). A decomposição desta matéria orgânica gera o gás metano que, quando presente no sedimento, cria o efeito de “cobertor acústico”, impedindo a penetração das ondas acústicas no sedimento, conforme mostrado na Figura 17. A fácies de areia quartzosa, presente na entrada da Baía de Todos os Santos, é a que apresenta os menores teores de matéria orgânica (menos de 1%). Nos levantamentos sísmicos foi a única fácies em que não se constatou a presença de gás no sedimento. As demais fácies, inclusive a fácies de areia quartzosa no canal de Itaparica, apresentam teores de matéria orgânica entre 1 e 3%. Nestas fácies também foi detectada a presença de gás no sedimento.

Figura 17.

Exemplo de linha sísmica de alta resolução com presença de gás no sedimento (indicado pelas setas).

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Considerações Finais

Charles Lyell, em seu influente livro Princípios de Geologia (Lyell, 1830), descreve a Geologia como “a ciência que investiga as sucessivas mudanças que tiveram lugar nos reinos da natureza orgânico e inorgânico; ela investiga as causas destas mudanças e as influências que elas exerceram na modificação da superfície e na estrutura externa de nosso planeta”. Este capítulo foi escrito tendo como inspiração esta abordagem de Lyell. Esperamos ter transmitido ao leitor que uma determinada paisagem, como a Baía de Todos os Santos, é o resultado de uma longa herança geológica, uma longa cadeia de eventos, com contingências geo-históricas, desempenhando um papel fundamental no seu modelado. Uma história que começa com a separação entre a América do Sul e a África, há cerca de 145 milhões de anos atrás, e incorpora os efeitos do progressivo resfriamento do planeta, durante o Cenozóico, e as dramáticas mudanças do nível do mar, durante o Quaternário.

Como diria o próprio Lyell (1830), “como a condição atual das nações é o resultado de muitas mudanças antecedentes, algumas extremamente remotas e outras recentes, algumas graduais e outras súbitas e violentas, também o estado do mundo natural é o resultado de uma longa sucessão de eventos, e se nós desejarmos expandir nossa experiência da presente economia da natureza, devemos investigar os efeitos de suas operações em épocas pretéritas”.

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