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Estimativa da População que Vivem em Situação de Insegurança Habitacional no Município de São Paulo

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Academic year: 2021

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Título:

Estimativa da População que Vivem em Situação de Insegurança

Habitacional no Município de São Paulo

Resumo:

O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma estimativa para o dimensionamento e caracterização das populações de baixa renda que vivem em situações de insegurança habitacional no município de São Paulo. A importância daquela estimativa está no simples fato de que não se tem um dimensionamento e uma caracterização daquelas populações de baixa renda que vivem em situação de insegurança habitacional no município de São Paulo. Essas populações estão invisíveis, ocultas sob camadas de representações e interpretações relativas às condições de vida naquele município. Ganham visibilidade somente nos momentos em que aquelas situações de insegurança habitacional chegam às vias de fato e resultam em perdas habitacionais em meio a conflitos que, de maneira geral, opõem Estado e sociedade. As situações de insegurança habitacional que resultam na traumática experiência de perdas habitacionais sempre se desdobram em uma longa cadeia de outras perdas sociais, materiais e subjetivas, que destroem as condições básicas de vida. A estimativa das populações de baixa renda em situação de insegurança habitacional busca responder as seguintes perguntas: Quais são as características demográficas e socioeconômicas daquelas populações? Como aquelas populações se distribuem no espaço da metrópole de São Paulo? Quais são as características e as condições de moradia daquelas populações? Quais são as composições domiciliares e familiares daquelas populações? Para calcular aquela estimativa da população de baixa renda que vivem em situação de insegurança habitacional selecionam-se as variáveis extraídas do banco de microdados da amostra do Censo Demográfico 2010 do IBGE. A própria escolha dessas variáveis representa um desafio metodológico, pois é necessário compatibilizá-las hipoteticamente com as situações de insegurança habitacional definidas conceitualmente. Nesse sentido, a estimativa é composta por variáveis relativas aos moradores de domicílios particulares permanentes, de domicílios improvisados e de domicílios coletivos. Segundo as variáveis selecionadas para compor a estimativa, 632.521 pessoas que habitam o município de São Paulo vivem em insegurança habitacional.

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1 Resumo Expandido

O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma estimativa para o dimensionamento e caracterização das populações de baixa renda que vivem em situações de insegurança habitacional no município de São Paulo. Entende-se o significado da expressão “insegurança habitacional” no sentido proposto por David Madden e Peter Marcuse (2016). Isto é, em associação com a noção de “alienação residencial” elaborada por aqueles autores e por meio da qual se traduz a experiência de vida na sociedade contemporânea imersa na precariedade, na insegurança e na perda de poder1. Para Madden e Marcuse (2016), a alienação residencial

é o produto da hiper mercantilização da habitação, da instabilidade do emprego, da iniquidade crescente, e do assalto neoliberal às redes de proteção social2. Para eles, a

alienação residencial representa a dolorida, e ao mesmo tempo traumática, experiência da divergência entre lar e habitação3 e, além disso, manifesta-se acima de tudo como

insegurança4.

A importância daquela estimativa está no simples fato de que não se tem um dimensionamento e uma caracterização daquelas populações de baixa renda que vivem em situação de insegurança habitacional no município de São Paulo. Essas populações estão invisíveis, ocultas sob camadas de representações e interpretações relativas às condições de vida naquele município. Ganham visibilidade somente nos momentos em que aquelas situações de insegurança habitacional chegam às vias de fato e resultam em perdas habitacionais em meio a conflitos que, de maneira geral, opõem Estado e sociedade.

As situações de insegurança habitacional que resultam na traumática experiência de perdas habitacionais sempre se desdobram em uma longa cadeia de outras perdas sociais, materiais e subjetivas, que destroem as condições básicas de vida. Essas perdas habitacionais ocorrem, por exemplo, em ações de reintegrações de posse, desapropriações, despejos forçados e remoções de moradias, dentre outras ocorrências.

Nos estudos urbanos brasileiros, os trabalhos sobre remoções de moradias e despejos forçados, entre outros tipos de perdas habitacionais sofridas por populações de baixa renda,

1 “Precarity, insecurity and disempowerment”, no original em inglês (MADDEN; MARCUSE, 2016, p. 59)

2 No original em inglês a frase apresenta-se nos seguintes termos: “product of the hyper-commodification of housing, the casualization of employment, rising inequality, and the neoliberal assault on the social safety net” (Idem, 2016, p. 55).

3 No original em ingês lê-se a frase nos seguintes termos: “Residential alienation represents the painful, at times traumatic, experience of a divergence between home and housing” (Idem, p. 59-60).

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enfocaram principalmente processos de desfavelamento promovidos por agentes do poder público. Aqueles estudos mostraram que muitos moradores de favelas que sofreram ações de desfavelamento foram levados a morar em conjuntos habitacionais precários, construídos em áreas periféricas distantes dos centros das cidades aonde, de maneira geral, se concentram as melhores ofertas de serviços e comércios, bem como a maior parte das oportunidades de empregos.

Ações de desfavelamento foram comuns no município do Rio de Janeiro durante a década de 1960, conforme demonstrado por Lícia do Prado Valladares (1978). O filme “Cidade de Deus”, baseado no romance escrito por Paulo Lins, dirigido por Fernando Meirelles e co-dirigido por Katia Lund, mostra as transformações e as “favelizações” ocorridas no conjunto habitacional periférico que recebeu os moradores de diferentes favelas cariocas que sofreram ações de desfavelamento e foram removidas naquele período.

No município de São Paulo, de acordo com Zuquim (2012), ações de desfavelamento foram realizadas pela prefeitura no começo da década de 1970 (Programa de Remoção de Favelas – Vilas de Habitação, realizado pela Secretaria Municipal de Bem Estar Social), na segunda metade da década de 1980 (Operações Interligadas previstas na “Lei do Desfavelamento”) e ao longo da década de 1990 (Operação Urbana Faria Lima, proposta para a Operação Urbana Água Espraiada e Projeto Cingapura).

Mariana Fix (2001) estudou o desfavelamento realizado em meados da década de 1990 no âmbito da implementação da Operação Urbana Faria Lima e da proposta para a Operação Urbana Água Espraiada. Esse estudo descreve a remoção da favela Jardim Edite, com suas dezenas de milhares de moradores, levadas a cabo por agentes da Prefeitura do Município de São Paulo ocorrida durante o governo de Paulo Maluf.

De acordo com um dos argumentos formulado por Mariana Fix (2001), a remoção da favela Jardim Edite fez parte de uma grande operação de reestruturação urbana coordenada pelo governo do município de São Paulo a fim de viabilizar o acesso a terras urbanas bem localizadas e com boa provisão de infraestruturas urbanas para a apropriação de agentes do capital imobiliário. Após a remoção da favela Jardim Edite, os negócios realizados na área por esses agentes viabilizaram a obtenção de altos lucros a partir da extração das rendas fundiárias diferenciais realizadas por meio da produção, implantação, comercialização e aluguéis de imóveis residenciais e não residenciais.

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Mais recentemente, nota-se, tanto em cidades brasileiras quanto em outras cidades do mundo, a insegurança habitacional das populações de baixa renda produzida durante a realização dos megaeventos esportivos (Copa do Mundo de Futebol em 2014 e Jogos Olímpicos em 2016) cujas obras afetaram milhares de moradias da população de baixa renda. Assim como David Madden e Peter Marcuse (2016), Raquel Rolnik (2016) mostra, com contundência, que as situações de insegurança habitacional sofridas por moradores de diferentes cidades, localizadas em diferentes países do mundo, fazem parte do atual estágio do capitalismo no qual o capital financeiro, operado em escala global, ganhou hegemonia sobre todas as demais formas e frações do capital e da economia política da urbanização contemporânea.

Para Madden e Marcuse (2016), “In today’s transnational, digitally, enhaced market, housing is becoming ever less an infrastructure for living and ever more an instrument for financial accumulation. The extreme ways in which housing is dominated by real estate today can be called hyper-commodification” (MADDEN; MARCUSE, 2016, p. 26). Os fatores que aqueles autores apontam causas desse processo são: desregulação habitacional que remove as restrições em relação à mercantilização da habitação (Idem, p. 28); a financeirização habitacional que aumenta o poder e a proeminência dos atores e firmas engajadas na acumulação de lucros por meio dos serviços e trocas monetárias baseadas em instrumentos financeiros (Idem, p. 31); e globalização habitacional entendida a partir da mercantilização crescente da habitação em redes econômicas de escopo global (Idem, p. 34).

Do mesmo modo, Rolnik (2015) mostra que as situações de insegurança habitacional resultam de operações globais realizadas por agentes e instituições públicas e privadas inseridos em um “complexo urbanístico, imobiliário e financeiro”, conforme expressão de Manuel Aalbers citado por aquela autora. Esse “complexo urbanístico, imobiliário e financeiro” consiste em “sistemas financeiros de habitação, mais ou menos conectados a finanças globais” (ROLNIK, 2016, p. 29), que utilizam a moradia como mercadoria e ativo financeiro a partir do qual se extrai lucros privados em detrimento do atendimento das necessidades habitacionais básicas de milhões de pessoas. Com isso, essas pessoas se veem capturadas em uma espécie de circuito que se revela uma verdadeira armadilha armada com os mecanismos e elementos que operam, de forma avassaladora, a mercantilização da moradia.

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A estimativa das populações de baixa renda em situação de insegurança habitacional busca responder as seguintes perguntas:

- Quais são as características demográficas e socioeconômicas daquelas populações? - Como aquelas populações se distribuem no espaço da metrópole de São Paulo? - Quais são as características e as condições de moradia daquelas populações? - Quais são as composições domiciliares e familiares daquelas populações?

Para isso, selecionam-se, com base no conceito de insegurança habitacional descrito anteriormente, as variáveis extraídas do banco de microdados da amostra do Censo Demográfico 2010 do IBGE. A própria escolha dessas variáveis representa um desafio metodológico, pois é necessário compatibilizá-las hipoteticamente com as situações de insegurança habitacional. Nesse sentido, a estimativa é composta por variáveis relativas aos moradores de domicílios particulares permanentes, de domicílios improvisados e de domicílios coletivos. Não cabe, neste resumo expandido, descrições mais detalhadas do método utilizado no tratamento dos microdados do Censo Demográfico 2010. Basta dizer que, segundo as variáveis selecionadas para compor a estimativa, 632.521 pessoas que habitam o município de São Paulo vivem em insegurança habitacional. A versão completa do presente trabalho deverá trazer mais detalhes sobre esse grupo populacional.

Bibliografia

FIX, Mariana (2001). Parceiros da exclusão. São Paulo: Boitempo.

MADDEN, David; MARCUSE, Peter (2016). In Defense of Housing – The Politics of Crisis. Londres/Nova York: Verso.

ROLNIK, Raquel (2015). Guerras dos lugares – a colonização da terra e da moradia na era das

finanças. São Paulo: Boitempo.

VALLADARES, Lícia do Prado (1978). Passa-se Uma Casa – Análise do Programa de Remoção

de Favelas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Zahar.

ZUQUIM, Maria de Lourdes. Urbanização de assentamentos precários no município de São

Paulo: quem ganha e quem perde?. In: II Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós

Graduação em Arquitetura e Urbanismo – Teorias e práticas na arquitetura e na cidade contemporâneas: complexidade, mobilidade, memória e sustentabilidade. Disponível em

http://www.mlzuquim.fau.usp.br/artigos/Urbanizacao_de_assentamentos_precarios_no_m

Referências

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