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Casamento e Re-casamento: uma análise multivariada do mercado matrimonial no Nordeste

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Casamento e Re-casamento: uma análise multivariada do mercado

matrimonial no Nordeste

*

Flávio Henrique Miranda de Araújo Freire

Moisés Alberto Calle Aguirre

Ana Amélia de França Montenegro

Kátia Lucianny de Souza Araújo

Palavras Chave: Casamento; Nupcialidade; Estado Conjugal

A nupcialidade é um dos componentes populacionais de maior importância na atualidade, não só pela associação com os padrões de formação e dissolução de famílias, mas também por que seria responsável pela nova configuração da fecundidade.

A dinâmica das componentes da nupcialidade no Brasil, particularmente na região do Nordeste até os anos 60, era regida em geral por normas e valores de uma sociedade ainda tradicional, onde a transição do estado de solteiro para casado freqüentemente era produto de arranjos familiares, as uniões consensuais e a transição para o estado do divórcio quase não existiam e o re-casamento era permitido apenas em situação de viuvez.

Estas singularidades da nupcialidade modificaram-se após os anos 60, fruto da intensidade das transformações econômicas, sociais e culturais que o Brasil experimentou desde então.

A responsabilidade por estas mudanças se alude principalmente à mulher, e às exigências que a modernidade impõe via geração de novos valores e costumes. Nesse contexto, as mulheres foram alcançando avanços importantes, seja na conquista de seus direitos de cidadania e políticos, seja na conquista de espaços na esfera pública que foram se consolidando através de sua inserção na atividade produtiva e no sistema da educação formal. Pouco se conhece sobre a situação social, econômica e demográfica da população, segundo estados nupciais. O presente artigo aborda esse tema, e verifica que a probabildade de re-casamento dos homens é bem maior do que das mulheres divorciadas. Outro resultante importante revela que renda é determinante fundamental para o casamento muito mais para os homens do que para as mulheres. Os dados básicos são do Registro Civil e Censo Demográfico 2000.

*

Trabalho apresentado no XV encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambu – MG – Brasil, de 18 a 22 de setembro de 2006.

Professor do Depto de Estatística- UFRN e Pesquisador do Grupo de Estudos Demográficos – GED - UFRN

Pesquisador do Grupo de Estudos Demográficos – GED - UFRN

Mestranda em Geografia do Departamento de Geografia da UFRN

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Casamento e Re-casamento: uma análise multivariada do mercado

matrimonial no Nordeste

*

Flávio Henrique Miranda de Araújo Freire1

Moisés Alberto Calle Aguirre2

Ana Amélia de França Montenegro3

Kátia Lucianny de Souza Araújo4

1. Introdução

A nupcialidade se transformou em uma das componentes demográficas de maior importância na atualidade, dado que ela esta associada diretamente com os padrões de formação e dissolução de famílias. Este artigo tem como guia dois objetivos: i) analisar a dinâmica dos estados nupciais no Nordeste do Brasil, segundo sexo e idade para o ano 2000, vis a vis o comportamento destes estados observados no Brasil em geral. Seis estados nupciais são considerados para esta análise: solteira(o), casada(o), separada(o) judicialmente, divorciada(o), viúva(o) e morta(o) e ii) a partir dos resultados das probabilidades de ingressar ao primeiro casamento e a probabilidade do re-casamento, determinar o mercado matrimonial e seus diferenciais, centrando atenção no casamento e a separação (divorcio e separação judicialmente) e fazendo uso do modelo estatístico da regressão logística de tipo binomial determinar seu grau de associação com variáveis sociodemograficas.

Possivelmente, a dinâmica dos estados da nupcialidade no Brasil, mais especificamente da região Nordeste, até os anos 60 do século passado, em geral, estava regida por normas e valores de uma sociedade ainda tradicional, onde a transição do estado de solteiro para casado era produto de arranjos familiares, ao passo que as uniões consensuais e o trânsito para o estado de divórcio quase não existiam, ainda, o re-casamento apenas era permitido em situação de viuvez.

Dados oficiais provenientes do IBGE, relativos a distribuição percentual da população nordestina de 15 anos e mais por sexo, segundo estado conjugal, mostram que a proporção de pessoas casadas foi diminuindo de forma considerável nas últimas quatro décadas, ao passo que, a proporção de pessoas solteiras, divorciadas, viúvas e em união consensual foi aumentando. Exemplo desse fenômeno é o experimentado pelas uniões consensuais, que em 1980 registravam 8,5% dos homens e 7,8% das mulheres se encontravam nesse estado conjugal, vinte anos mais tarde em 2000, estes valores sovem para 18,6% nos homens e 17,3% nas mulheres, a pesar disso, pode ainda observar-se a grande preferencia pelo casamento formal.

O motor dessas transformações se alude à mulher, e às exigências que a sociedade de hoje impõe via geração de novos valores e hábitos, veiculados pelos meios de comunicação de massa. Assim, as mulheres foram alcançando avanços importantes, não só na conquista de seus direitos de cidadã, mas também, na conquista de espaços na esfera pública, prova disso, é sua inserção cada vez crescente no mercado de trabalho e no sistema da educação formal. Fatos que permitiram avançar na transformação da sociedade para que comportamentos antes

*

Trabalho apresentado no XV encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambu – MG – Brasil, de 18 a 22 de setembro de 2006.

1

Professor do Depto de Estatística- UFRN e Pesquisador do Grupo de Estudos Demográficos – GED - UFRN

2

Pesquisador do Grupo de Estudos Demográficos – GED - UFRN

3

Mestranda em Geografia do Departamento de Geografia da UFRN

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não permitidos sejam agora aceitos pelo consenso social, como a união consensual, o divórcio e o re-casamento entre divorciados, os quais deram maior dinamismo a nupcialidade.

Nesse quadro, a dinâmica dos estados da nupcialidade (solteira(o), casada(o), separada(o) judicialmente, divorciada(o) e viúva(o)), foram passando por importantes mudanças, possivelmente fruto da intensidade das transformações de ordem econômica, social e cultural que o Brasil estava experimentando nos últimos quarenta anos, os quais se presume, estariam definindo um novo modelo da nupcialidade brasileira.

Medeiros e Osório (2000), salientam que o tipo de arranjo familiar que mais cresceu no Brasil, no período de 1978 a 1998, foi o arranjo de núcleo simples feminino, caracterizado por domicílios chefiados por mulher sem cônjuge, seja com ou sem filho. Outros arranjos familiares com importância, e que também experimentaram crescimento nas duas últimas décadas do século passado, foram arranjos formados por um casal e domicílios chefiados por homens sem cônjuge. Essa tendência que se configura nos arranjos familiares brasileiros reflete as mudanças sociais e culturais experimentadas pela sociedade brasileira, tendo impacto direto na dinâmica entre os estados conjugais da população. Certamente, o Nordeste está inserido nesse processo de transição.

Na reflexão demográfica, a nupcialidade no passado estava associada à reprodução, no sentido de ser usada como instrumento de controle da fecundidade através do ingresso tardio na idade ao casar. Na era moderna, essa relação muda, a reprodução passa a ocupar um segundo plano, embora, se continua com a retardação da idade de ingresso ao casamento, desta vez por motivos de aspirações individuais legitimados socialmente relacionados com o sucesso econômico e social.

A experiência internacional sobre o fenômeno da nupcialidade, observada a partir do crescimento no número de dissoluções de casamentos, aumento da idade ao casar, re-casamentos, segundo Santos (1992), levaram ao surgimento de uma série de estudos relacionados com o tema, cuja análise lançou mão de modelos matemáticos e estatísticos os quais permitiram medir estas transformações. Em virtude destes fatos, cresce a importância de aprofundar o estudo desta temática.

Nesse sentido, este artigo focaliza o tema da dinâmica nupcial, analisando, particularmente, a formação e dissolução de casamentos no Nordeste brasileiro, segundo o sexo, utilizando covariáveis como: renda, grau de instrução e idade.

Com isso, além de analisar as probabilidades de formação ou dissolução de um casamento, segundo o sexo e grupo etário, pretende-se avaliar em que medida se dá a relação de instrução e renda com relação a dois grupos distintos: casados e separados/divorciados.

Para tanto, utiliza-se como fonte de dados o Registro Civil de 2000 e o Censo Demográfico também para o ano 2000. Como ferramenta metodológica utiliza-se a tábua de vida Multi-Estado, que se mostra bom dispositivo para medir a transição entre os estados nupciais, e a Regressão Logística, útil para medir a relação entre o estado civil e as covariáveis mencionadas acima.

2. Panorama da tendência do estado nupcial do nordeste

Uma aproximação preliminar à dinâmica da nupcialidade se expõe na Tabela 1, onde se observa a distribuição percentual da população de 15 anos e mais por sexo, segundo o estado conjugal desde 1980 até 2000. Os resultados mostram que neste período, a população no estado de solteiros tem aumentado em ambos os sexos e a de casados tanto em homens como em mulheres tem diminuído. Este fato pode ser explicado devido a mudanças na estrutura etária da população, no ingresso ao matrimônio, cada vez mais, a idades mais maduras e também pelo aumento significante das uniões consensuais.

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Tabela 1 - Nordeste: Distribuição percentual da população de 15 anos e mais, por sexo segundo o estado conjugal

Ano 1980 Estado Conjugal H M H M H M Solteiros 37,0 32,4 37,3 31,0 39,7 35,8 Casados 49,9 46,1 45,3 41,7 37,6 35,0 U.Consensual 8,5 7,8 12,5 11,5 18,6 17,3 Sep.não-judicial 1,3 3,7 2,1 5,7 - -Divor/Sep.Judicial 0,1 0,2 0,4 0,9 1,1 2,3 Viúvos 1,8 7,8 1,6 7,7 1,4 6,4 1991 2000

Fonte: Censos Demográficos: 1980, 1991 e 2000, IBGE.

Na mesma Tabela, se pode apreciar que as mudanças nas proporções do estado do divórcio e separação são mais marcantes nas mulheres (de 0,2% em 1980 passa a 2,8% em 2000), do que nos homens (que varia entre 0,1% e 2,0% no mesmo período). O estado da viuvez tem comportamento sem grandes oscilações no período considerado, seja nas mulheres, seja nos homens. Contudo, chama a atenção o grande diferencial no percentual do estado da viuvez segundo o sexo. Enquanto o percentual de mulheres no estado de viuvez gira em torno de 7%, os homens no estado de viuvez não atingiram 2% ao longo do período estudado. Uma hipótese que estaria explicando este diferencial, como se argumenta acima, pode ser imputada à sobre-mortalidade masculina, principalmente devido às mortes por causas externas que afetam os homens adultos jovens. Desta forma, se além do homem ter uma probabilidade de morte maior do que a mulher, ele ainda em geral é o mais velho do casal, conseqüentemente a chance dele ser viúvo será tanto mais baixa quanto menor for a mortalidade feminina com relação à masculina. Embora tenham ocorrido estas mudanças na dinâmica nupcial, o casamento formal ainda continua como a forma de união que, tanto homens como mulheres privilegiam.

3. Considerações teóricas

Davis e Blake (1956), Rader (1967) a partir de uma visão demográfica, argumentam que a nupcialidade esta fortemente associada com a reprodução, eles dizem que a idade de ingresso ao casamento era regulador do tamanho de família, isto é, quando as mulheres em grande proporção casavam a idades jovens presumia-se uma fecundidade elevada, já quando a proporção de casamento era menor e a idades mais maduras a fecundidade tendia a ser menor. Na visão socioeconômica, as idéias sobre o tamanho da descendência foram mudando, segundo Notestein (1953) citado por Coale (1979) argumenta, é impossível ser preciso quanto aos vários fatores causais que levaram ao novo ideal da família pequena. A vida urbana privou a família de muitas funções na produção, consumo, recreação e educação. Além disso, as mulheres obtiveram maior independência das obrigações domésticas e passaram a desempenhar novos papéis econômicos menos compatíveis com a procriação. Sobre múltiplas pressões, inclusive através de difusão dos novos padrões culturais de configuração familiar por meio da televisão, rádio e deslocamentos populacionais inter-regionais, idéias e crenças antigas começaram a enfraquecer-se, para dar passo a uma nova idéia de família com número reduzido de filhos e onde a dinâmica da nupcialidade tem desempenhado papel importante.

Conseqüentemente, segundo Srinivasan (1998), a dinâmica da nupcialidade vai estar atrelada às transformações de ordem social e econômico como conseqüência de uma intensa modernização da sociedade ocidental, fato que estaria levando, particularmente às mulheres a se inserir cada vez com maior intensidade no mercado de trabalho e aumentar seu nível de

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educação formal, dando lugar à formação de um novo paradigma, onde a fecundidade passa a ser prioridade de segunda ordem e aspirações de realização pessoal são incorporadas como prioritárias. Argumentação que pode ser sustentada por Beltrão, (1973) quando diz que as mudanças sociais ocorridas no matrimônio e na família de hoje seria o resultado do confronto entre dois tipos de família que refletem em seus traços característicos à família tradicional e à família de hoje (moderna). (QUADRO 1).

QUADRO 1: Singularidades da família antiga vs. Família de hoje

Família tradicional Família de hoje (moderna)

1. Extensa 2. Numerosa

3. Habitação unifamiliar 4. Patrimônio familiar 5. Que despensa luxos 6. Predominância parental

7. Longa duração, subordinação dos filhos.

1. Restringida 2. Reduzida 3. Habitação em apartamento 4. Rendas de trabalho 5. Conforto 6. Predominância conjugal 7. Precoce emancipação dos filhos

Fonte: Beltrão, P.C. (1973).

Nesse sentido, dois aspectos são relevantes na dinâmica dos estados nupciais: i) o novo comportamento registrado, em particular, das mulheres que se reflete na priorização de suas aspirações individuais de ordem profissional e de cidadania, deixando a preocupação da reprodução a um segundo plano, fato que estaria contribuindo com a transição da família tradicional para a família de hoje (moderna); e ii) o diferencial da mortalidade adulta por sexo, destaca aos homens em idade adulta com taxas de mortalidade muito mais elevadas do que as mulheres, principalmente devido à causas externas, este fato seria responsável, por um lado, pelo aumento no número de viúvas, e pelo outro, deixando livre o caminho para o re-casamento. Todavia, Galloway (1988) citado por Moreira (2001) argumenta que o aumento da mortalidade adulta poderia ter um efeito contrário, ou seja, diminuir as expectativas de novas núpcias, seja adiando os casamentos temporariamente, ou mesmo definitivamente. Com tudo, estes dois aspectos, estariam sendo as singularidades responsáveis pela mudança da dinâmica dos estados conjugais e gerando novas estruturas familiares, assim, hoje não existe somente a família tradicional de pais e filhos, existem também as famílias compostas de mulheres sem marido com filhos, casais sem filhos e pessoas vivendo sozinhas.

A região nordeste do Brasil não ficou de fora destas transformações ocorrida no padrão do tamanho da família, de 7,5 filhos por mulher em 1970 cai para 2,6 filhos por mulher no ano 2000. Esta transição vertiginosa experimentada pelo comportamento reprodutivo das mulheres nordestinas, certamente tem relação com o padrão de formação familiar na região e com a dinâmica dos estados da nupcialidade.

4. Metodologia

Para responder aos dois objetivos traçados, nesta sessão se expõem um modelo para estudar a dinâmica da nupcialidade e, em seguida apresenta-se a regressão logística para estudar a relação entre estado nupcial e as covariáveis: grupo etário, instrução e renda.

4.1 O modelo nupcial

Willekens, F; et al (1983); Espenshade e Eisenberg, (1982) desenvolvem a técnica da tábua de vida multi-estado de maior precisão para observar o movimento das pessoas de uma coorte na passagem de um estado nupcial para outro. Nesse sentido, a tábua multi-estado

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mostra que entre a vida e a morte existem estados da nupcialidade pelos quais a população transitaria, seja para: solteiro(a), casado(a), separado(a), viúvo(a) e divorciado(a). Esta dinâmica nupcial reconhece a existência de um estado denominado absorvente (a morte) e os outros estados são considerados transitórios. Nos estados transitórios, as pessoas podem experimentar movimentos de um estado conjugal para outro, isto é, as pessoas solteiras podem se tornar casadas, as pessoas casadas podem se tornar viúvas ou divorciadas; as quais, por sua vez, podem voltar a casar.

Este modelo leva em consideração 5 estados nupciais pelos quais se espera que as pessoas transitariam em sua vida nupcial. Já para o caso brasileiro este modelo sofre algumas variações, como conseqüência de normas legislativas vigentes no país. Estas variações são percebidas no caso particular da separação, ela, segundo a legislação reconhece duas formas, isto é, a separação judicial e o divórcio. Estes dois estados funcionam de forma separada, configurando uma dinâmica diferente do que a tradicional. A nova configuração da dinâmica da nupcialidade para o caso brasileiro e aplicado à região Nordeste, pode ser apreciada no Esquema 1.

Esquema 1: Modelo multi-estado da nupcialidade

Solteiro(a) Divorciado(a) Separado(a) Viúvo(a) Casado(a) Morto(a) Indireto Direto Estado absorvente Estados transitórios

O Esquema 1 ilustra a dinâmica da nupcialidade, a partir de dois blocos: o primeiro corresponde aos estados transitórios e o segundo corresponde ao estado absorvente (morte).

O bloco que corresponde ao estado transitório é o mais importante do modelo, dado que ele mostra o circuito pelo qual a nupcialidade vai transitar. A trajetória da dinâmica nupcial inicia-se com o estado de solteiro(a), de onde as pessoas podem passar ao estado absorvente ou ao estado do casamento. O seguinte movimento corresponde à transição do casamento para o estado absorvente ou para o estado da viuvez ou para o estado da separação judicial ou, ainda, para o divórcio (direto). Quando estes três últimos estados nupciais não são absorvidos pela morte, eles podem voltar ao estado do casamento. Neste processo as pessoas quando se acham na situação da separação judicial, para voltar a casar passam pelo estado do divórcio (indireto).

O segundo bloco que corresponde ao estado absorvente revela o fim do movimento do modelo, aqui todos os estados denominados transitórios finalizam sua trajetória.

O procedimento metodológico do modelo da Tábua de Vida Multi-Estado empregado para a dinâmica nupcial encontra-se descrito detalhadamente em Freire & Aguirre (2000). No

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apêndice, descrevem-se as nuances das bases de dados utilizadas e os ajustes que foram feitos nos dados básicos.

4.2 Operacionalização das variáveis

No que se refere à relação entre estado civil (casado ou separado/divorciado) e as covariáveis: idade, renda e instrução, as argumentações expressas anteriormente, constituem a base para presumir associação relevante entre essas variáveis e a opção do casamento ou da separação. Para fins operacionais, as variáveis são expostas no Quadro 2.

QUADRO 2: Lista de variáveis

Código Categoria da variável Variável na base original 0 1 Condição de nupcialidade Separado(a) Casado(a) V0438 V149-V717-V026 0 1 2 3 4 5 6 Idade 25 30 35 40 45 50 55 V312 0 1 2 3 4 5 Anos de estudo 0 < 1 anos 1-3 anos 4 anos 5-8 anos 9-11anos 12 e mais ano V717 0 1 2 3 4 5

Renda / Salários Mínimos 0 Salário Mínimo < 1 Salário Mínimo 1-2 Salários Mínimos 2-3 Salários Mínimos 3-6 Salários Mínimos 6 e + Salários Mínimos V717 4.3 O modelo estatístico

As variáveis associadas com a opção pelo casamento de homens e de mulheres serão analisadas à luz do modelo de regressão logística. Esta técnica permite estabelecer as relações entre a variável dependente com as denominadas independentes e definir a contribuição relativa de cada uma das variáveis que participam na determinação da opção pelo casamento.

O modelo da regressão logística pode ser explicado através dos delineamentos gerais que se indicam a seguir.

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O casamento e sua dissolução Xi é uma variável dicotômica que pode assumir valores

“0” quando a mulher (ou homem) opta pela separação ou “1” quando a mulher (ou homem) permanece casado.

A regressão logística é, portanto, uma ferramenta estatística útil para estudar relação linear entre variáveis explicativas (ditas independentes) com uma variável resposta (dita independente) caracterizada por assumir valores categóricos. Conforme mencionado anteriormente, nesse trabalho, a variável resposta assume valores 0 ou 1, para separado/divorciado ou casado, respectivamente.

Nesse sentido, a regressão logística relaciona linearmente a razão entre a probabilidade de “sucesso” - pi - (nesse caso, da pessoa ser casada) e a probabilidade do

evento complementar, o “fracasso” – (1-pi) - (nesse caso, a pessoa ser separada/divorciada).

( )

n X PI I

= (1)

Onde Xi assume os valores (0 para separado/divorciado e 1 para casado). A modelagem de pi é realizada através da transformação:

( )

(

)

⎦ ⎤ ⎢ ⎣ ⎡ − = = i i i I p p Ln p Logito Y 1 (2) onde:

(

)

⎤ ⎢ ⎣ ⎡ − i i p p Ln

1 é o “logito” da probabilidade de ocorrência do evento estudado. Sua

importância se deve ao fato de possuir muita das propriedades do modelo de regressão linear.

A partir da equação 1 e 2, finalmente o modelo é completado da seguinte forma:

i i i i x x x x y =β0 +β1 1 +β2 2 +β3 3 +...+β +ε (3) onde: i

y = representa a variável resposta da acima; j

x x x

x1, 2, 3... = representam as variáveis explicativas que refletem características das observações;

i

β β β

β0, 1, 2,... = são os coeficientes da regressão; i

ε = é o erro aleatório do modelo.

A construção dos arquivos com as variáveis apresentadas e as estimativas dos parâmetros foi realizada fazendo uso do programa SPSS (Statistical Pckage for the Social Science).

Para maiores detalhes sobre regressão logística sugere-se a leitura de HOSMER e LEMESHOW (1989).

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Esta sessão está dividida em dois momentos. Num primeiro momento, apresentam-se os resultados das probabilidades de transição entre alguns estados nupciais, que foram medidas através das Tábuas de Vida Multi-Estado. O objetivo é analisar a transição matrimonial, seja pelo primeiro casamento, que é a transição de solteiro para casado, seja pelo re-casamento de divorciados(as) e de pessoas viúvas.

Depois, se analisa através de regressão logística, as relações entre as covariáveis renda, instrução e número de filhos vivos, com o estado nupcial (casado ou separado/divorciado), em separado para cada um dos sexos.

5.1. O primeiro casamento

Os Gráficos 1 e 2 apresentam as probabilidades de transição de solteiro para casado por sexo e grupos de idade em 2000, para o Nordeste e o Brasil como um todo. Estes gráficos revelam que, quando observada por sexo, a probabilidade de primeiro casamento é bem mais alta nas mulheres do que nos homens, especialmente até os 30 anos, sendo que o diferencial por sexo apresenta-se levemente maior no Brasil. Este comportamento pode-se atribuir, à intervenção de diversos fatores, entre os quais se pode inferir sobre o fato das mulheres ingressarem ao matrimônio em idades mais jovens em relação aos homens. Concomitantemente, outro fator que estaria explicando este fenômeno está associado com a sobre-mortalidade masculina, particularmente com aquelas relacionadas às causas de mortes violentas (homicídios, acidentes de trânsito, acidente de trabalho, etc.), causadas principalmente entre as idades jovens, fato segundo alguns autores, estariam relacionados aos homens passarem mais tempo fora de casa que os estaria colocando em maior risco para este tipo de causas de morte violentas.

Estas particularidades demográficas da nupcialidade, também estariam relacionadas com as mudanças socioeconômicas que o país tem experimentado desde a década dos 80 do século passado, com impacto na formação da família, levando presumivelmente a uma diminuição gradativa nas uniões legais, para dar lugar as uniões consensuais (livres).

Os Gráficos 1 e 2 podem também ser entendidos como a distribuição etária do risco (chance) do primeiro casamento. Nesse sentido, observa-se que não há grande diferença na distribuição etária do primeiro casamento quando comparamos o Nordeste com o Brasil. Por se tratar da primeira união formal, para ambos os casos as maiores probabilidades estão nas primeiras idades (abaixo dos 30 anos). Contudo, se não há diferença de padrão, há uma pequena diferença de nível, revelando que a probabilidade de contrair o primeiro casamento oficial no Nordeste é ligeiramente menor que no Brasil, mesmo nas idades mais jovens. Este resultado ratifica os números apresentados na Tabela 1, onde 18,6% dos homens e 17,3% das mulheres nordestinas estão em uniões livres, ditas consensuais, enquanto que no Brasil estes valores são 16,7% e 15,7%, respectivamente para homens e mulheres.

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Gráfico 1

Região Nordeste 2000: Probabilidade do prim eiro casam ento por sexo e grupo de idade

0,0000 0,1000 0,2000 0,3000 0,4000 0,5000 0,6000 0,7000 0,8000 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80

Fonte: Registro Civil (2000) e Censo-IBGE (2000)

p( x ) homens mulheres Idade Gráfico 2

Brasil 2000: Probabilidade do primeiro casamento por sexo e grupo de idade

0,0000 0,1000 0,2000 0,3000 0,4000 0,5000 0,6000 0,7000 0,8000 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 F o nt e : R e gis t ro C iv il/ C e ns o - IB G E ( 2 0 0 0 ) p( x ) homens mulheres Idade 5.2 Re-casamento

No estado nupcial só as pessoas que experimentaram o divórcio ou a viuvez podem transitar outra vez ao estado de casamento.

Os Gráficos 3 e 4 apresentam os resultados das probabilidades de re-casamentos de divorciados (as) por sexo e idade para o Nordeste e Brasil em 2000.

Estes Gráficos revelam comportamento bastante semelhante no que se refere ao re-casamento de pessoas divorciadas. Observa-se que o diferencial por sexo e idade das probabilidades de re-casamento no Nordeste segue o mesmo padrão do Brasil, onde o reingresso de uma mulher divorciada num novo casamento oficial é bem menos provável que do o re-casamento de um homem divorciado.

Particularizando as faixas etárias de 30 a 34 anos, que possui os valores mais altos, a probabilidade do re-casamento de divorciados no Nordeste é de 0,372 e 0,166 para homens e mulheres, respectivamente. Quando enfocamos o Brasil em geral, estes números são 0.394 e 0,221.

O desequilíbrio das probabilidades entre os sexos pode ser explicado, pelos obstáculos que são postos durante a busca de um novo parceiro(a), que parecem ser maiores para as mulheres do que para os homens. Segundo Medeiros e Osório (2000), 14% dos arranjos familiares no Brasil, em 1998, eram do tipo chefiado por mulher, sem cônjuge e com filhos. Enquanto isso, os arranjos familiares formados apenas por homens com filho representam 2%. Os valores das probabilidades de re-casamento entre divorciados indicam que essa concentração pode ser ainda maior no Nordeste.

Além disso, devido à sobmortalidade masculina e a maior probabilidade de re-casamento dos homens, quanto mais avançada for a idade com que a mulher dissolve seu casamento menor será o “estoque” de homens no mercado com a mesma faixa etária.

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Gráfico 3

Região Nordeste 2000: Probabilidade de recasamento de divorciados por sexo e grupo de idade

0,0000 0,1000 0,2000 0,3000 0,4000 0,5000 0,6000 0,7000 0,8000 0,9000 1,0000 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80

Fonte: Registro Civil (2000) e Censo-IBGE (2000) p(x

)

homens mulheres

Idade

Gráfico 4

Brasil 2000: Probabilidade de recasamento de divorciados por sexo e grupo de idade

0,0000 0,1000 0,2000 0,3000 0,4000 0,5000 0,6000 0,7000 0,8000 0,9000 1,0000 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80

Fonte: Registro Civil/Censo-IBGE(2000)

p( x)

homens mulheres

Idade

Chances escassas de re-casamento entre pessoas divorciadas acabam por manter um estoque de população divorciada, principalmente mulheres. É o que revela as pirâmides etárias da população divorciada para o Nordeste e o Brasil. (Pirâmides 1 e 2).

Pirâmide 1

Região Nordeste 2000: Pirâmide etária da população divorciada a partir dos 20 anos

15 10 5 0 5 10 15 20 30 40 50 60 70 80 Id a d e i n ic ia l do gr up o e ri o . F o nt e : C e ns o 2 0 0 0 % Homens Mulheres Pirâm ide 2

Brasil 2000: Pirâm ide etária da população divorciada a partir dos 20 anos observada no Brasil, em 2000.

15 10 5 0 5 10 15 20 30 40 50 60 70 80 Id a d e i n ic ia l do gr upo e ri o .

Fonte: Elaborado com base no CD,2000 %

Homens Mulheres

Além do re-casamento entre divorciados, as pessoas viúvas, por lei, podem voltar a contrair casamento civil. Os Gráficos 5 e 6 mostram, assim como foi visto para o caso da população divorciada, que é bem maior a chance de um viúvo voltar a casar do que uma viúva.

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Gráfico 5

Região Nordeste 2000: Probabilidade de recasamento de viúvos por sexo e grupo de idade

0,0000 0,1000 0,2000 0,3000 0,4000 0,5000 0,6000 0,7000 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80

Fonte: Registro Civil (2000) e Censo-IBGE (2000) p(x

)

homens mulheres

Idade

Gráfico 6

Brasil 2000: Probabilidade de recasam ento de viúvos por sexo, segundo grupo de idade

0,0000 0,1000 0,2000 0,3000 0,4000 0,5000 0,6000 0,7000 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 Idade Fonte: Registro Civil (2000) e Censo-IBGE(2000)

p(x

)

homens mulheres

5.3 Análise Multivariada com Regressão Logística

As probabilidades do primeiro casamento e as probabilidades do re-casamento tanto de homens quanto de mulheres por idade revelam que o mercado matrimonial estaria determinado entre os 25 até os 55 anos de idades em ambos os sexos. Presume-se que estas curvas de probabilidades são determinadas pela participação de uma serie de variáveis sociais, econômicas e demográficas. Nesse sentido, os resultados anteriores adquirem maior força analítica quando associados a diferencias sócio-demográficos.

O estudo da relação entre casamento e variáveis sócio-demográficas é um dos temas mais relevantes da dinâmica nupcial e pouco se conhece sobre ela. É importante avançar na interpretação causal que permita identificar os fatores sócio-demográficos que dão conta de explicar a opção pelo casamento ou sua dissolução.

Nesse sentido, deve-se levar em consideração que na sociedade a opção pelo casamento depende do nível de educação das pessoas, da posição sócio-econômica da família, a qual condiciona as possibilidades de inserção no mercado de trabalho. Deve-se considerar, também, a idade como o componente demográfico determinante, que marca as fronteiras na inserção ao casamento, ou seja, o mercado matrimonial. A opção pelo casamento aparece assim, como uma caraterística fortemente associada, tanto com a posição social como com a idade dos atores.

De posse dos resultados anteriores, observa-se que a probabilidade de re-casamento de mulheres divorciadas, tanto no Nordeste quanto no Brasil, é bem menor do que a probabilidade de homens divorciados, refletindo numa estrutura por sexo com forte predominância feminina entre pessoas divorciadas. É para lançar mão de uma primeira investigação sobre que fatores sócio-demográficos podem está relacionados com esse diferencial, que se enveredou para as análises entre covariáveis sócio-demográficas e o estado nupcial de homens e mulheres residentes no Nordeste.

Nesse quadro, considerando que os fatores sócio-demográficos são os que estariam influenciando na opção ao casamento, cabe perguntar-se pelas vias através das quais estariam atuando e pelos fatores que condicionam esta influência.

De maneira simplificada espera-se que as variáveis sócio-demográficas exerçam sua influencia principalmente: i) mediante a postergação da idade de ingresso ao casamento; ii) mediante uma maior participação no trabalho assalariado, crescente emancipação e mudanças nas aspirações de mobilidade social.

O grau com que as variáveis sócio-demográficas afetam a opção pelo casamento e as vias pelas quais ocorre esta influência dependerão certamente de um conjunto de condições que não é o caso discutir neste artigo. O que se tenta investigar aqui, de maneira ainda

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embrionária, é a partir de que nível de educação, salário e idade começam homens e mulheres a ser atraídos ou não pela opção ao casamento.

A informação que se dispõe para este análise não permite uma abordagem apurada de todos estes problemas investigativos. Eles são colocados aqui, para dar sentido ao objetivo que se tentará responder na análise e para justificar a cautela com que devem ser realizadas as interpretações causais neste complexo campo de estudo.

Assim, a Tabela 2 apresenta os parâmetros, erros padrão e razões de chance para o modelo de regressão logística executada, em separado, para homens e mulheres tendo como resposta o estado nupcial: casado ou separado/divorciado.

A variável idade, selecionada para expressar diferenciais demográficos mostra-se estatisticamente significante. O primeiro valor na coluna de razão de chance para os homens, informa que a chance de um homem do grupo etário entre 25 e 29 anos estar casado é 2,56 vezes maior que a chance de um homem que tem entre 55 e 59 anos estar casado vis a vis estar separado. Nesse sentido, pode interpretar estes resultados como a razão entre as chances de permanecer casado entre dois grupos etários.

Há uma trajetória de diminuição da chance de ficar na situação de casado na medida em que aumenta a idade, tanto para homens, quanto para mulheres. Esse é um resultado esperado, na medida em que o grupo etário tomado como referência é o último, de 55 a 59 anos. Neste sentido, parece trivial que esteja em torno de 1 a razão de chance de permanecer casado quando compara-se o grupo etário de 50 a 59 anos com o grupo de 55 a 59 anos.

O que chama a atenção nesse resultado é o diferencial por sexo. Nas mulheres, a chance de permanecer casada entre as mais jovens (25 a 29 anos) é 1,59 vezes maior do que aquelas que estão entre 55 e 59 anos, bem diferente dos 2,56 encontrado entre os homens. Além disso, quando seguimos as razões de chance ao longo dos grupos etários femininos, observa-se que já no grupo etário entre 35 a 39 anos a chance de permanecer casado é igual a chance do grupo etário mais avançado no estudo (55 a 59 anos). Como esta chance de está casado está sendo analisada com relação a chance de está separado ou divorciado, este é um resultado que ratifica os gráficos anteriores que demonstram baixa probabilidade de re-casamento de mulheres divorciadas, gerando um “estoque” de mulheres permanecendo nesse estado nupcial, como mostram as pirâmides 1 e 2.

TABELA 2 – Nordeste, 2000: Parâmetros, erro-padrão e razões de chance das variáveis que participaram do modelo opção pelo casamento de mulheres e homens de 25 ate 55 anos

segundo, características sócio-demográficas

HOMENS MULHERES

Variáveis Parâmetros Erro-padrão Razão Chance

Parâmetros Erro-padrão Razão Chance Constante 1,999 0,044 1,396 0,041 Idade 55 a 59 25 a 29 0,940* 0,048 2,560 0,464* 0,042 1,590 30 a 34 0,563* 0,044 1,757 0,228* 0,040 1,256 35 a 39 0,251* 0,043 1,285 0,047 0,039 1,048 40 a 44 0,031 0,043 1,031 -0,043 0,039 0,958 45 a 49 -0,030 0,043 0,970 -0,089* 0,039 0,915 50 a 54 0,006 0,043 1,006 -0,134* 0,040 0,875 Anos de estudo 12 e mais ano 0 < 1 anos 1,416* 0,032 4,121 0,164* 0,028 1,178

(14)

1-3 anos 1,231* 0,030 3,425 0,193* 0,027 1,213

4 anos 0,941* 0,031 2,564 0,089* 0,027 1,093

5-8 anos 0,563* 0,028 1,756 -0,195* 0,024 0,823

9-11anos 0,276* 0,025 1,318 -0,074* 0,021 0,929

Renda / Salários Mínimos

6 e + Salários Mínimos 0 Salário Mínimo -0,358* 0,026 0,699 1,968* 0,025 7,157 < 1 Salário Mínimo 0,131* 0,028 1,140 0,933* 0,027 2,541 1-2 Salários Mínimos -0,094* 0,024 0,910 0,642* 0,024 1,901 2-3 Salários Mínimos -0,039* 0,028 0,962 0,412* 0,028 1,509 3-6 Salários Mínimos -0,044* 0,024 0,957 0,290* 0,025 1,337 *p<0.05

Com relação ao conjunto de variáveis que discriminam diferenciais socioeconômicos, observa-se que tanto em homens quanto em mulheres, a chance de estar casado diminui na medida em que aumentam os anos de instrução, para ambos os sexos. Assim, homens com menos de um ano de instrução apresentam uma chance de ser casado 4,1 vezes maior do que aquele registrado para homens com 12 e mais anos de instrução. No caso das mulheres com menos de um ano de instrução a chance de está casada é 1,8 vezes maior em relação as mulheres com 12 e mais anos de instrução.

Ainda no âmbito das variáveis socioeconômicas, verifica-se que o exercício da atividade remunerada na medida em que aumenta os salários mínimos a chance de estar casado vai diminuindo tanto nos homens quanto nas mulheres. Esta situação é mais marcante nos homens do que nas mulheres. Assim, pode-se destacar no caso dos homens a chance de estar casado dos que não tem renda é 30% menor em relação aos que tem 6 e mais salários mínimos. Já no caso das mulheres esta situação se inverte, principalmente para as que não tem renda e para as que recebem menos de um salário mínimo, com razão de chance de está casada, respectivamente,igual a 7,1 e 2,5 vezes maior do que a chance de ser casada entre as mulheres com 6 e mais salários mínimos.

Todavia os resultados dos modelos estatísticos mostram que depois dos 35 anos, com maior educação e maior renda, tanto homens quanto mulheres estariam mostrando menor predisposição à opção pelo casamento. Constatando-se que a situação sócio-demográfica estaria determinando a opção do casamento.

6. Considerações finais

O propósito deste trabalho foi mostrar as mudanças que tem experimentado a nupcialidade no Nordeste com relação ao Brasil em 2000 através da transição entre os estados nupciais: matrimônio, separação judicial, divórcio, viuvez e o re-casamento, inferindo possíveis causas sócio-demográficas que poderiam estar contribuindo para desenhar um novo perfil da nupcialidade. Nesse sentido, os resultados analisados levam a construir algumas reflexões.

A probabilidade de contrair o primeiro casamento no Nordeste é um pouco menor que no Brasil, mesmo nas idades mais jovens. Este resultado indica que

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a população nordestina tem um índice de uniões concensuais maior que a média do Brasil.

Quanto ao re-casamento, observa-se que é mais provável um homem voltar a casar do que uma mulher e, isso é mais acentuado no Nordeste do que no Brasil como um todo.

As probabilidades determinam que o mercado matrimonial com maior relevância nos homens se acha entre 25 até 40 anos, já nas mulheres este intervalo se acha entre 25 e 35 anos.

Os resultados da regressão logística deram pistas sobre as características socioeconômicas de mulheres e homens na opção pelo casamento. Observou-se que homens e mulheres em idades maduras, com maior educação e maiores salários optarem em menor grau pela opção do casamento.

O resultado mais significativo no tocante à regressão logística se refere ao diferencial nas chances de ser casado vis a vis ser separado ou divorciado quando se compara as faixas de renda, segundo o sexo. Os resultados indicam fortemente que renda é determinante fundamental para o casamento no caso dos homens. Já no caso das mulheres, o que se pode inferir dos resultados da tabela 2 é que mesmo sem renda, as mulheres ingressam no casamento, revelando o papel social de provedor material do homem no casamento.

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APÊNDICE

I. Fontes de informação

As informações base para o estudo dos estados conjugais provem de duas fontes: i) Censo Demográfico de 2000 e ii) Estatísticas do Registro Civil para o ano 2000.

A informação que provem do Censo Demográfico refere-se ao volume da população segundo o estado conjugal, isto é, pessoas em situação de solteiro(a), casado(a), viúvo(a), separado judicialmente(a) e divorciado(a). Esta informação tem cobertura nacional, e determina o número de pessoas que na data do censo (01/08/2000) encontravam-se em determinado estado conjugal, pelo que a informação é de estoque.

No caso do Registro Civil é usada a informação de registros oficiais de casamento, separação judicial e divórcio, obtido de forma continua ao longo do ano, ou seja, ano por ano pelo que a informação é de período.

Ficam fora da análise os casamentos realizados só no âmbito religioso, as uniões consensuais e as separações não judiciais.

É importante destacar no Brasil a existência de duas formas de separação: a separação judicial e o divórcio, cada um deles registrado separadamente, fato que segundo Gomes (1992) estaria acarretando erros na avaliação da quantidade de casais separados, dado que o divórcio é uma confirmação da separação judicial já realizada. Nesse sentido, o artigo leva em consideração na análise a separação judicial e o divórcio, de forma separada.

Nesse cenário, para estimar a transição de casado para divorciado, considerou-se apenas aqueles divórcios que vinham direto do casamento, uma vez tendo sido cumprido o prazo legal e devidamente comprovada a dissolução do casamento, sem que se tenha dado entrada no processo de separação judicial - divórcio direto. Para a transição de separado para divorciado foi considerado apenas o divórcio que vinha da separação judicial, ou seja, para que a transição ao divórcio fique concretizada, ela deve passar primeiro pela separação judicial, motivo pela qual a legislação a denomina de divórcio indireto.

II. Ajustes dos dados

O modelo utilizado é baseado nas taxas de transição dos eventos que são calculadas através do quociente entre o número de eventos contabilizados no numerador e a população exposta no denominador. Por exemplo, a taxa de transição de solteiro para casado é calculada

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através do número de casamentos de pessoas solteiras (primeiro casamento), obtido no Registro Civil, dividido pela população solteira do ano em estudo coletada pelo Censo Demográfico.

Para o cálculo destas taxas foi preciso ajustar a população censitária por idade, sexo e estado conjugal para 1 de julho5 de cada ano em estudo. Isto se fez necessário dado que no numerador utilizam-se registros contínuos ao longo do ano, então, a população do denominador precisa levar em consideração o tempo vivido de cada habitante ao longo do ano (pessoas-ano). Neste sentido, a população em 1 de julho estima o número de pessoas-ano.

Um outro ajuste foi realizado nos eventos referentes à transição de casado para viúvo. Não existe registro de viuvez, ou seja, quando uma pessoa fica viúva não é contabilizada em nenhum banco de dados. Entretanto, para calcular a taxa de transição entre casado e viúvo é necessário conhecer o número de pessoas que ficaram viúvas durante o ano. Para solucionar este problema utilizou-se o fato de que se uma pessoa fica viúva é porque alguém do sexo oposto faleceu, isto é, fez a transição de casado para morte. Então, para estimar o número de viuvez no ano em determinado sexo, aplica-se à estrutura etária de pessoas viúvas deste sexo, obtida no Censo, ao total de mortes entre casados do sexo oposto.

Quanto à qualidade dos dados, não se fez nenhuma correção nos dados referentes aos estados conjugais, uma vez que se propõe trabalhar com dados oficiais do Registro Civil. Neste sentido, deve-se chamar a atenção mais uma vez para o fato de que a análise deste trabalho é considerada no âmbito dos registros de casamento e divórcio oficiais.

Já, no que tange aos registros de óbitos, utilizou-se um fator de correção de sub-registro proposto por Sawyer., et al (1999), dada a dificuldade de um óbito ocorrido e não registrado no ano venha a ser contado em anos posteriores.

Para transformar as taxas em probabilidades de transição, utilizaram-se conceitos de tabelas de sobrevivência, mais precisamente tabelas de multi-estados. Para maiores detalhes sobre esta metodologia sugere-se a leitura de Freire e Aguirre (2000) e, fundamentalmente Shoem (1988)6.

5

Para chegar a esta estimativa , primeiro calculou-se r, taxa média anual de crescimento entre (datas de referências dos Censos Demográficos) onde ⎥

⎦ ⎤ ⎢ ⎣ ⎡ = Inicial Final Pop Pop t

r 1.ln , t é a taxa de crescimento entre da população inicial e a final. Em

seguida estimou-se a população para 1º julho do ano em estudo ,através da equação

( )

rt Popinicial

Popfinal = ∗exp .

6

Referências

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