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Otite média serosa e o impacto na aprendizagem e aquisição de linguagem : revisão bibliográfica

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Academic year: 2021

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Revisão Bibliográfica

Otite Média Serosa e o impacto na aprendizagem e aquisição

de linguagem

Trabalho Final de Mestrado Integrado em Medicina

Autor: Frederica Josefa de Nóbrega Passos Teixeira Orientador: Professor Dr. Augusto Cassul

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Dos fracos não reza a história. À minha mãe.

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Índice

Abstract: ... 7

Introdução: ... 9

Discussão: ... 11

I. Mecanismos de perda auditiva provocados pela presença de fluido ... 11

II. Alterações corticais ... 13

III. Percepção da linguagem ... 14

IV. Influência do meio ... 18

V. Diagnóstico ... 19

VI. Opinião dos pediatras: ... 19

VII. Intervenção ... 20

Conclusão: ... 22

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Abstract:

Objetivo: O objetivo deste trabalho foi compilar artigos que explicitassem qual o impacto das otites médias sobre a perda auditiva associada e a aquisição da linguagem em crianças na idade escolar.

Fontes dos dados: Foram selecionados artigos catalogados na base PubMed com os filtros otite média, linguagem, processamento central, audição e criança. Todos os artigos utilizados foram publicados entre o ano 2000 e 2015.

Síntese dos dados: A revisão de literatura demonstrou que a perda auditiva observada nas otites médias está associada a uma perda leve e flutuante, com discrepância central dos dados entre ambos os ouvidos por uma perda auditiva de condução, que atrasa a passagem do som pelo ouvido médio, afectando a audição binaural. A perda condutiva persistente traduz-se centralmente mesmo após a perda periférica ter resolvido. Dados acerca dos três primeiros anos de vida sublinham que estes são críticos para o desenvolvimento da linguagem e que, crianças com otites médias nesse período, têm maior risco de apresentar distúrbios na aquisição da linguagem, no comportamento e, futuramente, no aproveitamento escolar.

Conclusões: As principais consequências das otites médias e da perda auditiva sobre a linguagem nessas crianças são erros fonéticos e de articulação da fala, bem como dificuldade para compreensão da leitura e discriminação do som em ambientes ruidosos, como as salas de aula. Os achados sublinham a necessidade para intervenção precoce e sensibilização para a potencial capacidade auditiva reduzido, mesmo após resolução do processo no ouvido médio.

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Introdução:

O primeiro relatório relacionando problemas linguísticos e auditivos com o Ouvido Médio foi de Holm e Kunze em 1969, no entanto ainda não foi atingido um consenso relativamente a este assunto.

A otite média com efusão (OME), é descrita como uma inflamação da mucosa do ouvido médio associada a coleção de fluido sem história de infecção aguda que envolva febre ou dor aguda1. Existem factores de risco para a mesma, nomeadamente a frequência da creche, idade inferior a 3 anos, existência de uma disfunção tubária, síndromes, malformações craniofaciais e alterações no sistema imunitário.

Em alguns destes casos, as propriedades mecânicas do ouvido médio encontram-se alteradas pela presença de fluido numa cavidade normalmente preenchida por ar 2, provocando assim uma disrupção nas propriedades mecânico-acústicas que influencia a perda auditiva de conducção (CHL)3, pode variar entre 0 a 40 dB HL 45.

Esta privação auditiva inconstante possui um papel relevante nos atrasos linguísticos, visto que o funcionamento preciso do sistema auditivo é um pré-requisito para a aquisição e aperfeiçoamento das representações fonológicas, sendo esta a primeira componente para a aquisição de linguagem e o seu período crítico decorrente antes do primeiro ano de vida. Durante este primeiro ano, os estímulos induzem alterações fisiológicas permanentes no sistema nervoso auditivo central 67.

Nesta linha de raciocínio, vários clínicos e investigadores referem que a OME poderá representar uma forma comum na privação de desenvolvimento auditivo pela qualidade degradada do sinal auditivo apresentado ao SNC em desenvolvimento, visto que o período essencial à capacitação de percepção do discurso com elaboração de fonemas e silabação decorre entre os 0 e os 2 anos, coincidindo com o período de maior incidência da Otite Média (OM) 8.

Mais especificamente, a mielinização das vias acústicas centrais pré-talâmicas ocorre durante o primeiro ano de vida, enquanto que a mielinização pós-talâmica é muito mais lenta e ocorre durante os primeiros cinco anos. Em termos corticais, o córtex auditivo primário demonstra um pico de crescimento sináptico durante os primeiros dois anos de vida ou seja, as alterações da plasticidade auditiva ocorrem mais notavelmente neste período9.

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Num contexto mais prático, verifica-se também que as crianças com perda auditiva entre 1 e 3 anos têm menor percepção dos sons da fala que contenham consoantes mudas e incorrem frequentemente em erros fonéticos na pronúncia 10. O marcado interesse na prevenção, no tratamento médico-cirúrgico e sequelas neurobiológicas da OM surgem de dados estatísticos que indicam que 90% das crianças têm pelo menos um episódio de OM antes de completarem cinco anos 11, tornando-a a causa mais comum e reversível de CHL 12 13 e subsequentes consequências.

O objectivo deste trabalho é apresentar uma compilação da literatura mais recente sobre a perda auditiva nas otites médias e o seu impacto na aquisição da linguagem e aprendizagem das crianças.

Métodos:

Para a elaboração desta Revisão Sistemática foi feita uma selecção de artigos científicos na base de dados do pubMed e Google Académico que abordassem a importância da relação da otite serosa na aquisição de linguagem, processamento auditivo e aprendizagem, entre os anos 2000 e 2015. As palavras-chave foram: Otite Média com Efusão, perda auditiva, alterações da linguagem, aprendizagem, processamento central.

Siglas:

OME otite média com efusão; OM otite média; CHL perda auditiva condutiva; Vmec volume de ar no ouvido médio; ABR respostas auditivas do tronco cerebral ; LLR respostas latentes tardias ; TPF teste de padrão de frequência ; GIN gaps-in-noise ; SNC sistema nervoso central; MLD nível diferencial de mascaramento; SPiN percepção da fala entre ruído;

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Discussão:

A partir da literatura consultada, é referido que até 60% das crianças com OM podem apresentar alterações no limiar de detecção de som, secundário à redução da eficácia de condução pelo preenchimento da cavidade do ouvido médio por líquido ao invés de ar 4. Em termos funcionais, uma perda auditiva próxima dos 40dB significa que para sinais linguísticos a um nível normal de conversação, informação relativa a consoantes pode tornar-se inaudível, resultando numa percepção de um sinal degradado e disrupção de pistas cruciais como início da voz e informação morfofonológica.

I. Mecanismos de perda auditiva provocados pela presença de fluido

O tipo de alteração auditiva varia de acordo com a quantidade e localização de fluido presente no ouvido médio, tendo repercussões na mobilidade da cadeia ossicular. Deste modo, Ravicz et al.3 avaliou a velocidade de movimentação da bigorna, um dos ossículos do ouvido médio, que por sua vez é influenciada pela quantidade de membrana timpânica (TM) em contacto com o líquido e percentagem do ouvido médio cujo volume é preenchido por ar.

 Contacto com membrana Timpânica

Considerando duas medições, quando aproximadamente 50% da TM estava coberta verificou-se uma diminuição de 7-12dB na gama de 1kHz e relativamente a um contacto de 100% pelo fluido com a TM a diminuição foi de 22-30dB na gama de 1kHz (Fig1). O que nos indica que o contacto com porções diferentes da TM tem impacto sobre a transmissão de som em frequências mais altas.

Fig 1. Alterações na velocidade da bigorna (ΔVu) à medida que o fluido do ouvido médio contacta com a Membrana Timpânica expressas em dB.

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 Percentagem de ar residual

A velocidade de transmissão foi oposta aquando aumento ou diminuição do volume de ar presente no ouvido médio (Vmec). Demonstrou-se que, quando a janela do ouvido médio estava aberta, havia um aumento da mobilização na ordem dos 800Hz e que quando se reduzia para 70% do seu volume habitual isto traduzia-se numa diminuição da transmissão, para baixas frequências (Fig2). Estes resultados mostram que, nestas frequências, a Velocidade de movimentação da Bigorna depende somente do volume de ar residual.

É pertinente salientar que, enquanto a presença de efusão no ouvido médio irá provavelmente traduzir-se num timpanograma anormal, a qualidade do sinal aferente que é transmitido ao SNC pode encontrar-se comprometido 2, daí a pertinência da realização de audiometria como elemento integrante da avaliação de uma OME.

Fig2. Alterações na velocidade da bigorna (ΔVu) mediante redução do volume de ar no ouvido (Vmec)

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II. Alterações corticais

Maruthy e Mannarukrishnaiah nas suas investigações verificaram que as respostas auditivas do tronco cerebral (ABR) em crianças com história precoce de OM mostravam sinais de imaturidade na integridade neuronal. 14 Ou seja, aos três anos de idade estas crianças tinham um aumento no tempo de latência nas ABR. No entanto, curiosamente, as respostas latentes tardias (LLR) a nível cortical estavam encurtadas, possivelmente refletindo um mecanismo compensatório resultante da plasticidade neuronal. Um outro estudo demonstrou que crianças com uma perda auditiva flutuante têm imaturidade na organização neuronal para discriminação de pequenos traços fonéticos que surgem entre consoantes, são mais sensíveis à intensidade do som e que possuem mecanismos adaptativos centrais que levam a que seja desenvolvida uma utilização mais eficaz da frequência no processamento do conteúdo auditivo6.

Quando avaliadas relativamente à habilidade de ordenação temporal, com recurso ao Teste de Padrão de Frequência (TPF), e habilidade de resolução temporal, utilizando o teste de Gaps-in-noise (GIN), as crianças com OME nos primeiros anos de vida, recorrentes na idade pré-escolar e escolar, apresentaram desempenhos inferiores para habilidades auditivas de ordenação e resolução temporal quando comparadas às crianças sem história da mesma afecção. No entanto é importante referir que verificou-se uma melhoria nos seus scores em função do aumento da idade, estando possivelmente relacionado com processos de reestruturação e organização neuronal 15. Um outro estudo suporta esta hipótese, acrescentando que é necessário um certo “limiar de OME” para afectar a resolução Temporal 16

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Porém, é claro que o efeito combinado de CHL e perda da fidelidade temporal e “pistas” binaurais desorganizadas pode deteriorar a qualidade dos sinais aferentes transmitidos às áreas corticais que representam e formulam as nossas percepções do mundo auditivo2.

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III. Percepção da linguagem

Estudos prévios demonstram que existe correlação entre episódios de OM que ocorrem durante a infância e alterações auditivas perceptivas com impacto sobre défices de linguagem 8.

O som é traduzido na cóclea em impulsos neurais que são transmitidos fielmente ao tronco cerebral, que se encontra especialmente adaptado para lidar com atividade temporalmente sensível. Isto assegura que os sinais provenientes dos dois ouvidos atingem o SNC com a sua relação temporal intacta, permitindo ulterior processamento integrativo que consistirá a base da distinção binaural 5.

 Audição binaural

Quando se ouve um som, cada um dos ouvidos recebe informação diferente e isso é o que representa a audição binaural. Esta característica é fundamental para a atribuição de profundidade e tridimensionalidade aos sons percepcionados. É também de extrema importância na distinção dos fonemas característicos da língua materna de cada indivíduo, capacidade esta que se aperfeiçoa nos primeiros anos de vida 17. Tendo como base investigação em animais, concluiu-se que a OME, particularmente unilateral ou assimétrica, pode comprometer a capacidade binaural em crianças, tanto durante como após o episódio de OME, sendo necessário até dois anos para recuperar totalmente de uma OME grave 5.

A capacidade de atribuir profundidade a um determinado estímulo e de os distinguir permite também selecionar qual dos estímulos pretendemos prestar atenção. Isto é crucial no dia-a-dia, com a multiplicidade de estímulos auditivos a que somos expostos em ambientes públicos. Neste universo e nesta faixa etária, torna-se indispensável numa sala de aula com barulho de fundo e um professor a quem precisamos de prestar atenção. Laboratorialmente, conseguimos avaliar e categorizar esta vertente através do nível diferencial de mascaramento (MLD). !

Um estudo de 2009 relacionou os incidentes de OM com a capacidade de percepção da fala entre ruído (SPiN). Este teste consiste na capacidade de as crianças compreenderem uma frase corretamente sob ruído de fundo, quanto mais negativo o score, mais baixo o som do discurso relativamente ao ruído de fundo. Verificou-se portanto que a OM tem um impacto negativo nos scores de SPiN, necessitando estas

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crianças de um limiar mais elevado no volume do discurso para serem capazes de o percepcionar na totalidade 8. Este tipo de conclusões alerta-nos para a limitação escolar, factor de desigualdade e obstáculo que uma OM pode representar para uma criança no seu período de aprendizagem das bases e ferramentas futuras. Semelhante a outros estudos, também concluíram que esta deterioração não é permanente, descrevendo que com o tempo há atenuação da disfuncionalidade, não se manifestando no entanto relativamente às consequências futuras de um início escolar deficiente.

 Identificação de fonemas

Capacidades de processamento auditivo, como compreender um discurso em ambientes barulhentos, são mais complexas que tarefas de detecção simples e, como tal, representam uma maior exigência para as vias auditivas do SNC.

Em crianças com episódios frequentes de OM, Zumach et al. 17 verificou que a identificação e discriminação dos sons da fala estavam significativamente afectados aos 7 anos de idade, após historial nos primeiros dois anos de vida . Com este estudo concluem que este resultado não advém da OME per se mas da gravidade da perda auditiva resultante da mesma, uma vez que, episódios frequentes, conduzem a uma flutuação constante da qualidade do estímulo auditivo, impedindo a consolidação dos sons, sílabas ou palavras. Concluem também que esta afecção não está tão relacionada com o número de episódios de OM, mas sim com o nível de audição, sendo que crianças com perda auditiva mais grave tinham um pior desempenho nos testes (Fig3).

Fig.3: média dos scores de discriminação a estímulos para perdas auditivas <4dB e >4dB17

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Um outro estudo mais recente testou a capacidade auditiva das crianças, num teste que requer que a criança repita frases-alvo ouvidas sob um discurso de fundo, com e sem historial de OM e em quatro vertentes diferentes. Uma que incluía pistas vocais e espaciais (DV90), somente pistas vocais (DV0), sem pistas vocais ou espaciais (SV0) e somente pistas espaciais (SV90). Verificaram que para os casos SV0 e DV0 os resultados obtidos eram os mesmos. Contrariamente, nos testes DV90 e SV90, as crianças com historial de OM tiveram piores prestações 4 (Fig4).

Corroborando, assim, a hipótese que num ambiente com ruído de fundo ou competição de interlocutores em que haja a necessidade de processamento tridimensional do som, crianças com antecedentes de OM além de terem mais dificuldade, não têm a mesma qualidade de desempenho.

Outra conclusão deste estudo anterior é que, à medida que a duração da disfunção do ouvido médio aumenta, ocorre declínio na capacidade de correta interpretação vocal e espacial 4 (Fig5), apoiada por um outro estudo que infere que crianças com elevada prevalência têm médias de MLD de 6dB, 40% inferiores às com prevalências menores18.}

Fig 4: Comparação dos scores nos Testes de frases em barulho espacializado dos grupos de OM e Controlo. Os asteriscos denotam uma diferença significativa (p<0.001) entre grupos. SRT (limiar de recepção de discurso)

Fig5: DV90 z score em função da duração da disfunção do ouvido médio

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Estas alterações na percepção binaural e discurso em condições tridimensionais normalizam com os anos. Possivelmente, o processamento binaural e integração dos estímulos auditivos é uma capacidade adquirida com atraso do desenvolvimento nas crianças com OM por um período de tempo relacionado com a duração de doença e suas consequências.

Existem mesmo estudos que sugerem que a relação entre OME e capacidades linguísticas da criança é negligenciável19, outros que sublinham que a relação entre a perda auditiva e a OM verificada nos primeiros anos de vida não se aplica tardiamente na idade escolar 2 20 21. Referindo até que as mesmas crianças que demonstraram scores baixos de linguagem expressiva em idades mais novas alcançaram os seus pares posteriormente na idade escolar 21. O que nos leva a indagar se, apesar de em termos auditivos e linguísticos haver uma recuperação para a normalidade, a informação perdida e erroneamente percepcionada durante os primeiros anos de vida é restabelecida ou se apenas se encontram mecanismos adaptativos capazes de colmatar falhas básicas na percepção do discurso. No entanto devemos sublinhar que os estudos que não encontram alterações na percepção do discurso a longo prazo recorrem a estímulos mononaurais, e não informação binaural em que a criança tem de fazer uma interpretação tridimensional, aspecto chave onde se verificaram as disparidades. Este torna-se um argumento de relevo visto que são os primeiros a demonstrar alterações na audição funcional e trata-se de um estudo mais recente 4 que os restantes, indicando que estudos mais precisos deverão ser feitos nesta área a longo-prazo.

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IV. Influência do meio

Quando falamos de factores de risco para desenvolvimento de OM, verificamos que um deles se refere aos meios ambientais “sobrepopulados” como as creches ou núcleos familiares mais pobres, com mais membros na mesma casa. Havendo mesmo estudos frisando que OME surge mais frequentemente entre crianças de famílias de baixo-rendimento19 (Fig6).

Deste modo, torna-se pertinente averiguar a sua influência na componente linguística, condicionada pela OME, como temos vindo a hipotetizar. Vários estudos demonstraram que, crianças que vivem em núcleos familiares de classe social mais baixa têm um desenvolvimento cognitivo e performance escolar inferiores comparativamente aos de classe social mais elevada22.

Em 2011 foi encontrada uma relação estatística relevante, indicando uma maior prevalência de OME em ambientes rurais pobres comparativamente a urbanos 12. O que nos leva a inferir que um meio familiar/escolar que prime pela estimulação auditivo-cognitiva é benéfico para estas crianças, sem excluir os efeitos da terapêutica médica e médico-cirúrgica.

Um outro estudo pertinente, realizado com Furões, demonstrou que um treino perceptivo intensivo pode restaurar a precisão de localização sonora após privação auditiva unilateral e que esta plasticidade depende crucialmente da função de conexões cortico-coliculares descendentes, frisando a importância de circuitos auditivos centrais na expressão de ambliaudia 23

Fig6: Performance dos estudantes com distúrbio de processamento auditivo central. CG grupo controlo; EGI estudantes com historial OM em escolas públicas; EGII estudantes com historial OM em escolas privadas.

n, número; SD, desvio padrão; DD, dígitos dicotónicos; RE, orelha direita; LE, orelha esquerda; GIN gaps-in-noise; PPS pitch pattern sequence test; PSI/SSI inteligibilidade de discurso pediátrico / identificação sintética de frases com mensagem competitiva ipsilateral 22

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V. Diagnóstico

O diagnóstico em crianças é difícil e inerente à realização eficaz da otosopia nesta faixa etária, não só pelas dimensões do canal auditivo externo mas também pela parca colaboração do paciente, presença de cerúmen e dificuldade de sua remoção. É característico da OME ter um quadro sintomático leve e como tal muitas vezes evolui silenciosamente, ao contrário do observado na otite média aguda.

Aspectos diagnósticos desta patologia passam por ausência de resposta no exame de emissões otoacústicas evocadas, timpanometria tipo B, e otoscopia com características de OME (perda do reflexo de luz, espessamento, coloração âmbar-ouro, nível hidroaéreo, horizontalização do cabo do martelo e bolsas de retração) 24.

Caso não se proceda a uma intervenção médica precoce, a OM pode provocar perdas auditivas devido à acumulação de fluido no ouvido médio, por dissipação da energia do som e dificultando a transmissão das vibrações sonoras pela cadeia ossicular 25. Assim, apesar de haver consenso acerca dos métodos diagnósticos e tratamento na OM, verifica-se menos consenso no que diz respeito à urgência do seu tratamento 2.

VI. Opinião dos pediatras:

Sonnenschein et al. 26 realizou um inquérito a um grupo de pediatras de modo a analisar a sua opinião acerca deste tema, visto que são uns dos primeiros profissionais a ter contacto com estas crianças e subsequentemente representarem a unidade sinalizadora para outras áreas técnicas e sensibilizadora dos pais. Concluíram que estes não concordam necessariamente que a otite média, sintomática ou assintomática, tem um impacto no desenvolvimento da fala-linguagem-audição, que requeira referenciamento para testes audiológicos ou que crianças com otite de repetição deveriam ser examinadas pela otorrinolaringologia ou acompanhadas audiometricamente durante os dois anos seguintes.

Paralelamente, os Pediatras são a favor de informar os pais acerca da possível perda de audição, visto que acreditam que estes são capazes de mitigar o impacto da otite no desenvolvimento linguístico, e são sensíveis à necessidade de educação contínua de modo a estarem capacitados a identificar possíveis atrasos da fala/linguagem.

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VII. Intervenção

Relativamente à história natural da OME, 75% das OMEs detectadas resolvem espontaneamente num período de até seis meses (caso hajam episódios prévios a taxa decresce para 50%). A guideline da Academia Americana de Pediatria recomenda atitude conservadora sem recurso a antibióticos em crianças com OME não complicada, no entanto para crianças com perda auditiva permanente, anomalias craniofaciais ou atrasos de linguagem subjacentes devem receber antibioterapia assim que possível 27.

Antibioterapia aumenta a resolução a curto-prazo em 15%, mas com pouca relevância em termos de recidiva, a cirurgia de adenoidectomia com inserção de tubos transtimpânicos reduzem a prevalência em 115 dias por crianças-ano (representando uma redução de 67% do risco), enfatizando, a adenoidectomia reduz a prevalência de OME até 38% em crianças com inserções prévias de tubos e reduz a necessidade de reinserção em 50% 19. Isto torna-se claramente pertinente se tivermos em conta os dados da Fig5.

Tendo em conta que perda auditiva ligeira a moderada ocorre tipicamente quando uma criança tem OME e crianças com perda auditiva sensorineural ligeira a moderada estão em risco de dificuldades linguísticas e de aprendizagem tardiamente, é importante determinar a dimensão da perda auditiva. Neste seguimento, a audição destas crianças deverá ser examinada diretamente recorrendo a audiometria de modo a obter uma estimativa válida do limiar auditivo 19.

Existe também informação correlacionando esta clínica com scores de sintaxe, fonética e fonologia, sustentando a necessidade de intervenção em crianças com necessidade de suporte linguístico de base9 e não só em crianças cuja única comorbilidade advém da OME e suas consequências.

Como vemos, os dados apresentados na literatura representam um alerta não só aos pais, mas também a pediatras, otorrinolaringologistas, fonoaudiólogos e até educadores. É importante questionar e avaliar o progresso da criança na aquisição de linguagem e até mesmo indagar junto dos professores acerca do desempenho escolar, uma vez que muitas destas crianças precisarão de acompanhamento e estimulação tanto pedagógicos como fonoaudiológicos concomitantemente com o tratamento médico padrão10, principalmente em crianças com outras comorbilidades que representem por si limitações no desenvolvimento linguístico 9.

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Conduta precoce

Tendo em conta o número de crianças diagnosticadas com OM, poderá ser útil para os Pediatrias o recurso a um protocolo informativo no contexto de estudo multi-disciplinar, prontamente disponível, acerca da maneira como os pais poderão estimular o desenvolvimento linguístico dos seus filhos26.

Adicionalmente, a identificação precoce e compreensão de consequências a longo-prazo da OM suportam a necessidade para intervenção médica decisiva destas alterações auditivas. Com vista a identificação precoce do tipo e grau de deficiência auditiva para orientação para a sua reabilitação. O screening auditivo permite a implementação de estratégias específicas no sentido de melhorar a performance auditiva e acelerar a recuperação após eventos de OME, utilização de aparelhos assistivos à audição ou alterações no meio circundante 45. A título de exemplo, táticas auditivas que podem ser utilizadas em crianças com menor severidade clínica são: 28

- Obter total atenção da criança antes de iniciar o discurso - Reduzir ruídos de fundo competitivos o máximo possível

- Encarar a criança diretamente, de modo que vejam a articulação dos fonemas - Utilizar um discurso de tom normal, evitando demasiado ênfase ou rapidez

É mencionada em vários estudos a importância do estímulo verbo-acústico nestas crianças. Tanto que, um estudo de 2013 avaliou a prestação de crianças de uma escola pública versus privada com historial de OME em testes auditivos e verificaram que, as da escola privada, tinha prestações mais próximas das do grupo de controlo 25.

Estudos reforçam que seria importante aumentar a consciencialização dos pais acerca dos efeitos da perda auditiva flutuante e suas consequências na percepção do discurso e estratégias compensatórias preventivas da influência do input auditivo degradado. Sublinham também a importância da identificação das crianças que necessitarão de intervenção antes que surjam os problemas linguísticos, podendo prevenir défices tardios6.

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Conclusão:

Devido à natureza cumulativa do desenvolvimento infantil, até atrasos perceptuais e linguísticos transitivos irão expectavelmente influenciar realização académica póstuma2. Ou seja, mesmo que haja restabelecimento da capacidade binaural já na infância, funções cognitivas, linguísticas e sociais estarão deleteriamente afetadas devido à ausência de estímulos auditivos corretos.

Existe uma grande discrepância de opiniões, uma das maiores causas advém de a maioria dos estudos realizados tentar encontrar um elo entre défices auditivos centrais a um historial de patologia do ouvido médio, quando o factor de risco primário para deficiências no desenvolvimento cerebral como ambliopia ou ambliauria é se o estímulo sensorial aferente encontra-se degradado durante o período crítico de desenvolvimento cerebral ou não2.

O que é deduzível a partir desta revisão sistemática é que, baseando-nos em estudos cujo alvo é o subgrupo de crianças com historial de OM acompanhado de limiares auditivos elevados e comprometimento da audição espacial, identificam consistentemente défices perceptuais e fisiopatológicos capazes de se prolongar anos após a audição periférica já se encontrar audiometricamente normal.

Análises mais específicas demonstram que enquanto apenas 53% das amostras constatam ambliaudia como sequela de OM, 89% reportam ambliaudia como consequência de OM concomitante com CHL 2.

Existem questões que ainda exigem grau de profundidade científica visto que os estudos consultados foram inconclusivos relativamente às mesmas. Sendo essas:

- Se o SNC normaliza totalmente após restabelecimento da audição - Durante que período de tempo esse restabelecimento irá se processar

- Aquando diagnóstico de CHL após uma OME, como deverá o médico atuar durante o follow-up

- Será que os adolescentes terão alterações na percepção de certos fonemas/nível inferior de prestação académica

- Terá a localização da OME com diminuição auditiva à direita mais impacto que à esquerda, tendo em conta a dominância cerebral

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Fig 1.  Alterações na velocidade da  bigorna  ( ΔVu)  à medida que o fluido  do ouvido médio contacta com a  Membrana Timpânica expressas em  dB.
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