Universidade
de
Évora
DESENVOLVIMENTO
PROFISSIONAL DE
PROFESSORES
D9
1."crcl,o
No
coNrExro
DE
uM
PROGI.4Y4_DE FORMAÇAO
CONTTNUA EM
I\{ATEIMATICA
Maria
Manuela Ribeiros Vicente
Esta dissertação não
inclui
as críticas e sugestões feitas pelojuri
Orientador: Prof.u Doutora Maria de
Ludes
Marquês SerrazinaMestrado
em
Educação Maternáúica
2006
Universidade
de
Évora
DESENVOLVIMENTO
PROFISSIONAL DE
PROFESSORES
DO
1."
crcl,o
No coNTExTo
DE
uM
PROGRAMA
DE
FORMAÇÃO
CONTÍNUA
EM
MATEMATICA
,\r.) I
Àto
N+I
Dissertação Apresentada paÍaobtenção do Grau de Mestre em Educaçáo e na Especialidade de Educação Matemática
Maria
Manuela Ribeiros Vicente
Esta dissertação não
inclui
as críticas e sugestões feitas pelojuri
Orientador: Prof," Doutora Maria de Lurdes Marquês Serrazina
Resumo
Com este estudo procurou-se compreender
o
papel do Progralna de Formação Contínua em Matemática para professoresdo
1.oCiclo
do Ensino básioo, criadopor
despacho ministerial, nodesenvolvimento profissional de duas professoras de um grupo de formação da Universidade de Évora
do qual
fui
formadora, mais concretamerúe compreendero
papel deste programa na evolução dosoúecimento didáctico das profe§§oras em causa.
Foram
formuladasas
seguintes questõesde
investigação:1-
Como
se
caructef]lza o coúecimento didáctico de duas dãs proferrora* envolvidas no Programa de Formação e de que formaevolui esse coúecimento?;
2-
Quetipo
de tarefas elegem as profes§oras para as aulas e quais asrazões dessa escolhat
3-
Quais os confiibutos do Programa de Forrração parao
desenvolvirnentoprofi ssional destas Professoras?
Seguiu-se
u-u
metodologia de investigação de natureza qualitativl tendo sido realizados dois estudosde
caso,a
partir
dos-dador recolhidos, duranteum
ano lectivo, afiavésde
observaçáo participante"*'r"rrõu*
de
grupoe
sessõesde
acompanhamento, entrevistassemi-estruturadas, documentação escrita produzida pelas professoras
e
conversas inforrraisente
as professora§e
a investigadora.As
gravaçõesáudio das
entevistas,das
sessõesde
grupo
e
das
sessões de acompãnhamento foiam transcriüas, analisadas e cruzadas com os dados recolhidos na obse'ruação das sessões de acompanharnento, os registos do diário de bordo e os dados recolhidos afavés da análise documental.A
análise dos dados aõompanhou a recolha e foi feita a partir de categorias predefinidasque foram sofrendo ajustes ao longo do processo.
'
A,
professora.J que foram- objecto deste estudo manifestaramà
partidaum
conhecimento didác,tico distinto em diversos aspectos.Os sontibutos deste Programa
de
Formação foram mais evidentes paraa
professorl queinicialnente apresentava um coãhecimento didáctico mais fragilizado, existindo indicadores de que
alargou
"ss* "óúesimento relativamente
à Matemática e o seu ensino, ao conhecimento dos ahrnos e
dos processos
de
aprendizagem,e
ao
coúecimentodo
processo instrucional- Enquanto que aprofessora que à puliida aprÃentou um coúecimento didáctico mais sólido apʧar de ter registado evolução nesse conhecimento em aspectos como a Matemática e o seu ensino e o conhecimento do
pro"eito instrucional, essa evolução foi menos significativa.
Ambas as professoras atribuem
a
sua evoluçãoe
consequentementeo
seu desenvolvimentoprofissional a aspectos relacionados com as sessões de grupo, nomeadamente à exploração de tarefas
nessas sessões que posteriormente iriam aplioar na sala de aula, à partilha de experiênciasde-sala de
aula e à reflexãô ,o6r" essÍls experiências. Uma das professorasi valorizou ainda aspectos relacionados com as sessões de acompanhamento, designadamente o apoio da formadora nessas sessões, e outros
aspectos como a reflexão escrita e a divulgáção pública de uma das experiências de sala de
Abstract
Professional development
of
l't
cycle
of
basic education teachers
in
acontext
of
an
in-service education
progrÍm
in
mathematics
With this study
I
wanted to understand the role played by In-Service Education Program in Mathematics for teachersof I't
cycle of primary education, created by ministerial resolution, in theprofessional development
of
two teachers*"*L.rr
of
a learning group at the Universityof
Évorawhere
I've
been working as an educator. Actually, the main goal of this sfudy is to understand theimportance ofthis program in the evolution ofthe teachers' pedagogical content knowledge.
In
orderto
achieve this goal there has been formulated the following research questions: l-How can we describe the didactic knowledge of the teachers included in the program and what formit
does
it
take?;2-
What typeof
tasks are chosen by the teachers and which are the reasonsof
that selection?; 3-In which way the In-service Education Program has contributed to their professional development?This study has followed a qualitative methodology and two case-studies were developed. Data
was collected during a school year through observation
in
úe
group and supervison sessions,semi-structured interviews, teachers'
written
documentationand
informal conversations between the teachers and the researcher. The audio recordings from interviews, group sessions and supervisonsessions were transcribed, analyzed and crossed with the daÍa collected from carefully observation
of
the classroom sessions, from the registers
of
the log book. The analysisof
the data followed itscollects and it was made from pre-defined categories that suffered adjustuents along the process.
From the beginning teachers who were the subject of this research have demonstrated different
pedagogrc content knowledge in several aspects.
The Education Program contributions' have been clear for the teacher that initially presented a fragile pedagogic content knowledge. However there have been signs, that not only she has increased her mathematical knowledge, but she has also improved her teaching skills" Meanwhile, the other teacher, at first, showed a more solid pedagogic content knowledge, had a less significant evolution.
Both
teachers attachtheir
evolution andtheir
professional developmentto
some issuesconnected to group sessions, espeoially the way tasks were developed and their further application in
classroom and also the share-out of the classroom experiences. One of the teachers has still eúanced
other aspects such as the support of the researcher in the sessions, the written reflections and the public diffirsion of one of the classroom experiences.
Key words: pedagogic content knowledge; professional development; mathematics education.
Agradecimentos
A
minha orientadora, Professora Lurdes Serrazina, pela simpatiacom
que sempre me recebeu e pela disponibilidade que sempre teve paÍa me apoiar apesaÍ da sua intensa agendaprofissional.
Às professoras que colaboraram neste estudo, pela sua disponibitidade.
À
paulae
àMaria
José,pelo
prazer quefoi
fiabalhar com
elas enquanto membro daequipa de formadores da Universidade de Évora
Ao
meu marido, pelo companheiro que tem sido.Indice
geral
CapítuloI
-
Introdução...t.*...r...r...r...r...rr.,...r...r..r.""r"""""
1Problema ,2
18
Capítulo
II
-
Enquadramento teórico
7Investigações empíricas relativas ao conhesimento profissional do professor-...--.
Síntese..
...o.,,,...
....-.-.-.,...t7
Capítulo
IV
-
ProgrÍlma
dg
Formação ...t...,...ro...r...rt..t...-
68O Programa de Formação a nível nacional
Implementação do Programa de Formação pela Universidade de Evora ...,...
68
7l
72 7s 77rv
Capítulo
V
-
As
professoras
Leonor.
r..r...Caracteri zaçãs pessoal e profissional Conhecimento didáctico
A
Matemáfirçae o seu ensinoO
çoúecimento
dos alunos e dos seus processos de aprendir-agem.
.:
Coúrecimento do processo instrucionalPreparação da prática
lectiva
... Condução das aulasEstrutura e organização da.s aulas O ambiente de aprendrzagem...
As tarefas que
desenvolveu...
...103O
discwso...
..106Avaliação
...-.--..1 10 Desenvolvimento Profissional...
...i...
...1 13 Envolvimento no Programa deFormação
...-..-.113Percurso ao longo do Programa de
Formação !....i...
...115Perspectivas futuras
...
...--.117Síntese
...r...r.,.,...
,.1 194n4...
...,..r..i.
...,,,.\2t
Caracterizaçáo pessoal eprofissional
.".-'...121Conhecimento didrâctico 126
A
Matematica e o seuensino
...
,.126
O conhecimento dos alunos e dos seus processos de
aprendlzÃgalm
...130Corúecimento do processo
instrucional
.131 Preparação da práticalectiva
.- 131 Condução dasaulas
..136Estrutura e organizaçáo das
aulas
..136O ambiente de
aprendizagem
...
...145As tarefas que
desenvolveu...
...147O discr:rso
...r...
...150A
avaliação...
...
...152Desenvolvimento Profissional
...
... 154Envolvimento no Progama de
Formação
.154 Percurso ao longo do Programa deFormação...
..,...157Perspectivas futuras
...
....L62Síntese..
...163Capítulo
VI
-
Conclusões, limitações
erecomendações
t66
Síntese do estudo79
79 79 84 84 86 89 89 92 92 99 Conclusões do esürdo Ponto de partida Atitude perante a forrração... Percurso 166 167 167t69
t73
175 Recomendações....,...
...1'76Refgrências bibliográficas...,....o...r...r...,...r...,. ... 179
Anexos
187I
Indice
de
anexos
Anexo
I
- Calendarizaçio da recolha dedados...
...Anexo 2 - Guião da primeira entrevista...
Anexo 3 - Guião da segunda entrevista
Anexo 4 - Guião da terceira
entrevista
...r....,Anexo 5 - Categorias de análise
Anexo 6 - Auscultação de interesses de formação
Anexo 7 - Agendas das sessões de grupo
Anexo
l0
- Tarefa BAnexo
11 - Tarefa CAnexo
12 - TarefaD
206Anexo
17 - Pavimentando o terraço188 189 192 193
t94
196 197 202 207 2042ll
212VI
Capítulo
I
trntroduçÍio
A
massificação do ensino, os resultados da investigação em educação, ainfluência
doseducadores matemáticos, as transformações sociais, os desafios colocados pela tecnologia e pela sociedade têm contribuído para diversas reformas
curiculares
no ensino da Matemiítica.Desde os anos 80, como resposta às necessidades de mudanças significativas no campo da Educação Matemrâtica, têm sido divulgados diversos documentos
Oma
agenda para acção(NCTM,
1985);
Renovaçãodo
currículo
de
matemática
(APM,
1988); Normas
para
ocurículo
e avaliação em matemritica escolar(NCTM,
1991); Programado
1.ociclo
(DGEBS, 1990); Relatóriomatemáticaãü0l
(APM,
1998); Princípiosy
estdndarespara la
educacionmatemátíca
(NCTM,
2003); Currículo
nacional'do
ensino basico(DEB,
2001);
Provas deaferição do ensino brásico 4.o, 6.o e 9.o anos
-
2004(DGIDC,
2006)) apontando a necessidade de alterações significativas no ensino da Matemática.As
concepções que ocupaÍÍrm durantemuito
tempo ocoúecimento
colectivo acerca do ensino da Matemática, bem como as orierúações que estiveram na base da formaçãoinicial
demuitos professores ainda em exercício, e as culturas de escola, contribuem para que ocorram nas salas de aula, práticas e metodologias que não coffiespondem às orientações curriculares actuais (Amaral, 2003).
Os desafios da sociedade acfual exigem cidadãos matematicamente alfabetizados, isto é, capazes
de
explorar,
conjecturar,raciocinar
de forma
lógica
e
utilizar
com eficácia
uma diversidade de métodos matemáticos na resolução de problemas(NCTM,
L99t).
Podediznr-se que a competência matemática que é hoje exigida aos altmos é difererúe da do passado, não
podendo restringir-se,
no
1.ociclo
do
Ensino básico,ao
domínio dosalgoritnos
de papel elápis
e
à
realizaçãode
situaçõesrotineiras.
A
competência matemáticaenvolve
atitudes, capacidades e conhecimentos relativos à maternática, que todos os altmos devem desenvolver de uma forma integrada e ser capazes deutilizar
(Abrantes, Serrazinu &.Oliveirq
1999).Desenvolver uma
nova
competência matemáticanos
alunosexige um novo
papel aoprofessor,
por
ventura mais
dificil
e
exigente
do
que
no
passado,requer
um
maior investimento em termos de prepaÍação das aulas, da condução das mesmas e de avaliação dasaprendizagens,ptr? conseguir levar as crianças a gostarem de Matemática e a compreendê-la desde os primeiros anos de escolaridade obtendo sucesso na sua aprendizagem.
Sendo
o
prof,essorum
dos
elementoschave
do
processode
ensino-aprendizagem,qualquer alteração
significativa
enr termosde
educaçãomatemática implica
da parte desteuma vontade de mudar práticas lectivas há
muito
enraizadas e requer runa aposta pessoal emformação contínua com
forte
ligação à sala de aula, associada a uma componente reflexiva, com vista ao seu desenvolvimento profissional, tendo como consequência directa a melhoriadas aprendizagens dos alunos em Matemiítica
Problema
O
insucesso dos aluros Porhrgueses em Matemática é evidenciado pelos resultados dasprovas de aferição, que há vários anos se realizam no nosso país, e em esfudos comparativos
internacionais como o
TIMSS
1995(Third International
Mathematics and Science Study) ouo
PISA 2003
(Programmefor
International
Student Assessment) nosquais
Portugal tem participado e os nossos alunos têm obtido resultados que nos posicionam nos últimos lugares.A
análise dos resultados das provas de aferição do 4.o anodo
Ensino brásico de 2004(DGIDC,
2006) mostra que deuma fonna
global, uma grande percentagem de alunos destenível
de ensino apresenta fracos desempenhos emMatemátic4
sendo a sua prestaçãopior
emríreas como a resolução de problemas e a comunicação.
De açordo com Ponte e Serrazina (2000) raramente o professor se questiona sobre a sua
forma
de ensinar, sendo o insucesso a Matemrâtica aceite quer pelos pais quer pela sociedadeem
geral.Nos primeiros
anosde
escolaridade muitas vezes as dificuldades dos alunos sãoatribuídas à sua origem social
ou
explicadas pelo facto dejá
os pais dos ahrnos ou os irmãos mais velhos terem tanrbémtido
dificuldades semelhantes.É
tamUem nosprimeiros
anosde
escolaridade que as crianças aprendema
lidar
comideias
matemríticas que constituema
base para futuras aprendizagense
que
são formadasmuitas das concepções sobre a Matemrítica, podendo criar-se o gosto por realizar actividades
matemáticas
ou a
aversâopor
esta
éreadisciplinar.
Ao
professordo
I.o
ciclo
cúe
o
papelprincipal
nestamatéria
pois a atitude que demonstra perante a Matemática e o enfusiasmo por ensinar esta áreadisciplinar
afectama
confiança dos alunos para aprender matematica. Poroutro
lado
o
professor necessita conhecer
bem
a
Matemática
que
tem
de
ensinar, nomeadamente os sonceitos, as técnicas, os processos matemáticos usados pelos alunos, asgrandes
ideias
da
Matemiíticae
o
seupapel
no
mrurdoacfual,
e ter
uma
ideia
clara
dodesenvolvimento
do
currículo
de
Matemática
no
l.o
ciclo
do
Ensino hásico (Ponte
&, Serraeina, 2000).Também o
NCTM
(2003) defende que os professores devem compreender ecoúecer
profundamente a Matemática que ensinam alem de ser necessário que sejam capazes de usar esse conhecimento
com flexibilidade.
Simultaneamente consideraque
um ensino
efrçazrequer
da
parte dos
professoresuma reflexão
e
investimento contínuopara
conseguiremmelhorar as suas práticas, devendo ser-lhes proporcionadas oportunidades frequentes para que possam aumentar e actualizarem os seus conhecimentos.
Para
o
NCTM
(1994)"o
que os alunos aprendem está fundamentalmente relaçionadocom
o
modo como aprendem"(p.23) pelo que as oportunidadesde
aprender matemática e asua relação
com
esta áneadisciplinar
resultamdo
ambientede
aprendizagem,do tipo
deactividades e do discurso que o professor promove na sala de aula.
As aulas de Matemática dos anos 40 e 50 çaracterizavam-se por ouvir as explicações do
professor
e pela
prirticarotineira de
exercisios. Estas actividades permitem apenas que osalunos adquiram algumas competências, mas possivelmente
não
lhes permitemadquirir
asmais
importantes.
É
fundamerúal
que
os
professoresproporcionem
aos alunos
outras experiências de aprendizagemtal
como apontam os documentos curriculares emvigor
(Ponte, 2003). Estas mudanças no ensino da Matemátiça requerenL por um lado, alterações a nível daformação
inicial
e da formação continua que é oferecida aos professoresjá
em exercicio, e,por outro, professores motivados para aprender.
De
acordo ÇomAPM
(1998)
um
númerosignificativo
de professoresdo
1.ociclo
doensino básico,
em
exercício,tiveram
uma formaçãoinicial
em Matematica eDidáctica
daMatemática algo precária" nomeadameÍúe, professores que frequentaram as antigas Escolas do
Magistério Primário
e
os
professores licenciados nas Escolas Superiores de Educação emalgumas variantes
(por
exemplo
Português/Francêsou
Português/Inglês),que
ficando habilitados para a docênciano
1." ciclo como professores generalistas, também têm uma fracaformação em Matemática e em
Didáctica
daMatemática além da pouca apetência para §eremprofessores de Matemática.
Gomes e Ralha (2006) consideram que a formação matemirtiça dos professores
do
1.ociçlo
do
ensino básico,
em
Portugal,
foi
negligenciadadurante
muito
anos
pelos
seus responsáveis, afirmando que:"Esta falta de preocupação poderá dever-se ao facto dos professores deste
nível
serementendidos
como
professoresnão
especialistasem
Matemática
não
sendopor
issorelevantes
um
estudo
ou
uma
análise
aprofundadossobre
o
assunto;uma
outraelementar é simple§ e
por
conseguintefficil
de ensinar, independente da preparação doprofessor."
(p. 27)
Relativamente à formação contínua, desenvolvida no nosso país, a maioria das acções de formação realizadas têm seguido o modelo escolar em que o professor tem
tido
apenas o papel deum
mero
consumidorde coúecimentos, tendo
estas acções, normalmente,tido
poucosreflexos ao nível da prática profissional dos docentes que as frequentaram
(Aph4
lggg).
Os responsáveis
pela
grandemaioria
das escolas parecem nãoter
dado atehoje
umcontributo
importante paraa
alteração das práticasna
salade
aula,pois de
acordo com o relatório Resultadas do Estudo InternacionalPISA
2003(GAVE,
2004a) em portugal é poucofrequente
a
monitori zaçáodos
professores,isto
é, a
observaçãodas
suasaulas
pelosresponsáveis das escolas onde leccionar4 sendo o desempenho médio dos alunos superior em escolas em que existe essa observação de aulas.
A
valorização do papel do professor na mudança do ensino da Matemática, bem como aideia
de queo
que §e aprende em Matemática desde os primeiros anos de escolaridade e aforma como §e
aprende condicionam
futuras
aprendizagensnesta área,
parecem
ter contribuído para que seja dada alguma atenção à formação contínua que é necessário levara
cabo
junto
dos professores que ensinam Matemáticano
l.o ciclo do ensino básiso.Na tentativa de promover melhorias na aprendizagem dos alunos
do
l.ociclo
na
área daMatemática
e
o
desenvolvimentode
uma atitude positiva
face
a
esta
áreado
saber, oMinistério
da Educação deuinicio,
no
ano lectivo
2OO5í2006, a um programa de Formação Contínua em Matemática para Professoresdo
1.ociclo
do Ensino Básico, tendo entre outrosobjectivos
o
de
promover
o
aprofundamentodo
coúecimento
matemático,didáctico
e curricular dos professore§ envolvidos tendo em conta as actuais orientações curriçulares nestaárea disciplinar.
Este
estudo debruça-se sobreo
conhecimento profissional,inçidindo na
vertente doçoúecimento didáctico,
de
duas
professorasdo l.o
ciclo
envolvidos
no
programa
deFormação Contínua
em
Matemática
para Professoresdo
1.ociclo do
Ensino Básico,
nocontexto de
um
dos grupos de
formaçãoda
Universidadede Évora.
O
estudo procurará compreendero
papel deste Programa de Formaçãona
evoluçãodo
coúecimento
didácticodestas professoras, numa perspectiva de desenvolvimento profi ssional.
Mais concretamente, procurar-se-á responder às seguintes questões:
l-
Como se caracteÍ7zao
coúecimento
didáctico de duas das professorasdo
l.o
sicloenvolvida§ no Programa de Formação e de que forma evolui esse conhecimento?
2-
Quetipo
de
tarefas elegem as professoras paÍa as aulase
quaisas
razões dessaescolha?
3- Quais os contributos do Programa de Formação para o desenvolvimento profissional
destas professoras?
Pertinência
do
estudo
"Os
rápidos
avançosda
tecnologia
e a
globalizaçãonos
negócios
e
na
indústriaresultaram num aumento da procura de profissionais e técnicos altamente qualificados. Estas exigências, por seu lado, resultaram em apelos areformas educativas..."
(GAVE,2004b, p.32)
que ocorreram também em Portugal, Êffi todos os níveis de ensino.
Tem sido
recoúecido
queo
professor temum
papel essencial no proçesso de ensino-aprendizagem e que as alterações no ensino, resultantes das reformas educativas, não poderão faeer-se à margem da sua participação, verificando-se um interesse crescente pelo estudo doprofessor, pelas suas práticas
de
ensinoe
ainda pelos seus processosde
desenvolvimentoprofissional
(NCTM,
1994).Sabendo que as tarefas que o professor propõe aos alunos, o ambiente de aprendizagem
que cria
e
o
discurso
que
estabeleceinfluenciam
a
aprendizagemdos
alunos,
torna-seimportante perceber que saberes constituem
o
conhecimento profissionaldo
professor, mais especificamenteo
seu çonhecimentodidáctico
e
de
que forma
é
que
esse conhecimento evolui.O
professor desempenhaum
papel sadavez
mais exigentee
complexo (Canavarro&
Abrantes,
1994), sendo frequentementeposto em
causae
o
seurecoúecimento
social
jil
conheceu melhores dias.Ponte
(l99aa)
considera que uma das formas de valorrzw o professor como profissionalçonsiste em estudar
o
coúecimento
que estána
baseda
sua priúicae a
forma
como essecoúecimento
se desenvolve ao longo da sua carreira.Esta investigação assume particular relevância na medida em que poderá contribuir para compreender
somo
é
que
os
professoresdo
1.ociclo
integram
na prática lestiva
o
seucoúecimento
didáctico
e a
forma çomo
esteevolui (ou
não)num contexto de
formaçáo contínua. Neste sentido poderá acrescentar dadosao
conhecimento quejá
existe
sobre osprofe§sores
do
1.o ciclo e servir de documento de reflexão para responsáveis pela formação de professores ou responsáveis pelas políticas educativas.Na
medida
em
que
é
a
primeira
vez que se
realiza ernPortugal
um
programa de formação continua, de âmbito nacional, para professores do 1.o ciclo na área da Matemática, etendo
este programa característicasmuito
particularescomo
seja, entreoutros
aspectos, acolaboração entre formador e professor no ambiente de sala de aula, importa perceber quais os
efeitos deste
tipo
de formação. Este estudo pode ajudar a identificar questões que contribuam para reequacionar a formação continua que temvindo
a ser feita,no
sentido de a adequar àsnecessidades
e
interesses
dos
professores
e
contribuir
paÍa
o
seu
desenvolvimentoprofissional. Deste modo poderão promover a necessária inovação no ensino da Matemática,
indo ao encontro das actuais orientações curriculares.
Este estudo, focalizado no
coúecimento
do professor, poderá ainda daro
seu modestocontributo para a desejada valorização da imagem do professor, tanto por parte da sociedade em geral como dos próprios professores, ajudando a promover a sua auto-estima e motivação
para, investirem
no
seu desenvolvimentoprofissional
e
contribuírem parauma
melhoria da qualidade de ensino.Do
ponto
de
vista
pessoal
este
trabalho contribui
certamente
para
o
meu desenvolvimento profissional na medida em que se trata de um tema em que pretendo adquirire aprofundar conhecimentos.
Capítulo
II
Enquadramento
teórico
O
conhecimento
proÍissional
do
professor
Esta secção debruça-se sobre viárias
úordagens
quetêm
sido
seguidaspor
diversosinvestigadores
no
estudo
do
conhecimento
profissional
do
professor. Faz-se
tarnbém referência a alguns estudos empíricos recentes realizados no âmbito dessecoúecimento.
Carter
(1990)
classificou
os
estudos
de
investigação
acerca
do
conhecimentoprofissional do professot em três grandes grupos: a) estudos sobre os processos cognitivos dos professores quando
tomam
decisõesno
ensino, sendo comparados professorescom
e
sem experiênciaprofissional;
b)
estudos acercado
conhecimentoprático
e pessoaldo
professor, que se debruçam sobre"o
conhecimento que os professores possuem das situações da sala deaula e dos dilemas práticos que encaram ao pretenderem levar a cabo, nesses anrbientes, os
seus
objectivos"
(p.299);"
c)
estudos sobreo
conhecimentodidáctico do
conteúdo,isto
é,sobre
o
que
os
professores sabem acercados
conteúdosque
ensiname a
forma
comotaduzem
esse conhecimentoem
situaçõesde
aprendizagemde modo
a
tornarem
essesçonteúdos compreensíveis aos ahnros.
O
modo como em cadaum
destes gnryosé
abordadoo
conhecimentoprofissional
do professor é apresentado em seguida, sendo acrescentados os contributos deoufos
autores que também estudaram o tema.O conhecimento
na
abordagem psicológica
O primeiro grupo da classificação referida, engloba os estudos sobre o corúecimento do
professor
assentesnum
modelo cognitivo eue, tendo
por
base
a
Psicologia
e
mais especificamenteas teorias
de
processamentoda
informação,têm
procurado
identificaÍ
e descrever os processos cognitivos que os professores, com experiência e eminício
decarreirq
usam quando tomam decisões em situação de ensino, quando
planificam,
conduzem aulas eautores
definem
duas areasdo
conhecimentodo
professorque
se relacionamentre
si:
ocoúecimento
do
conteúdo (conhecimento necessário para ensinar umadisciplina'
incluindopara além
do coúecimento
do
conteúdoda disciplinq
o
conhecimentodo
currículo,
demétodos de apresentação e
de
formas de avaliação) eo
conhecimento da estrutura da lição (conhecimentoprático)
a queBerliner
(1986) cha:na conhecimento da organizaçâo e gestEloda aula. Os dois autores defendem que o conhecimento da forma de organizar e
gerir
a aulainfluencia
o anrbierúe de aprendiz.agem e determina o modo de abordar e discutir o conteúdo(o
ritno,
o nível de intelectualidade, a orientação do trabalho,...) e que esse conhecimentoirá
reflectir-se na motivação e na aprendizagem dos alunos. Esse
coúecimento
da organizaçáo e gestão da aula é considerado complexo,tacito
e experiencial (Gúmarães, 1996a), sendo um corúecimento de naturez a práúica.Neste modelo assume-se que o sonhecimento do professor esta organizado em estruürras
mentais
com
diferentesníveis de
generalidadeque
determinamas
acçõesdo
professor: agendas, guiões e rotinas (Guimarães, 1996a).A
agenda pode caracterizaÍ-se como sendo umplano mental de aula que
inclui
os objectivos da aula e tanrbém as acções a empreender paraatingtr
essesfins.
Correspondeà
estratégiado
professor para aquela aula etermina com
ofinal
da aula. O guião é um domínio do conhecimerúo queinclú
as informaçõeso experiênciase
representaçõesemocionais relativas
à
vivência
e
ao
trabalho
desenvolvido
sobredeterminado(s) assunto(s)
do
currículo.
O
guião
vai
sendo enriquecidocom a
prática
de ensino (Leinhardt,Puünan,
Stein,&
Baxter, 1991, citado porBorralho,200l).
As rotinas sãoactividades
que
o
professor
e
os
alunos realizam
com
frequênciae
que possibilitam
areallz:açãa
efrcaz
de
actividades
consideradasmenos
importantes,
sem
retirar
meios necessáriosà
consecuçãodas
actividadçsmais globais
e
importantes (Fennemae
Franke,reez).
Berliner (1986) entende que o corüecimento sobre o modo ideal de ensinar pode resultar
tanto da experiência como da teoria, mas admite que é a experiência que torna um conhecedor de determinado conteúdo em professor desse conteúdo.
No
entanto,a
importância queé
dada àteoria
é
evidente quandoa
autora aceita quepoderá
eventualmenteser
útil
desenvolver estudospara
identificar os
csquemas mentaisusados
pelos
professores competentese
tansformar as
conclusões dessesesfudos
em conteúdos de ensino para a formaçãoinicial:
E provável, confudo, que os esfudos sobre como os professores competentes agem e pensÍrm sobre as suas acções
e
procedimentosrotineiros,
sejam uteis pam treinarprofessores Çooperantes a articulaÍem o seu conhecimento do modo que estes devenr
ser realmente ensinados aos seus educandos (Berliner,1986,p.7).
Leinhardt (1990) vê os professores como profissionais práticos e considera
existir
nelesumatensão entre dois tipos de conhecimento: um resultante da sua experiênciaptáúrca e outro da teoria entendida como um
filtro
efrcaz indispensável para organizar a experiência pratica. Esta autora realça o papel da teoria na formação e avaliação do professor, no entanto também reconhece que os professores na sua profissão aprendem e comunicam com oufros professores na linguagem da sua pnítica.Clark
e
Lampert (1990) criticam
a perspectivade
entendimentodo
conhecimento doprofessor seguida
por
estalinha
de investigação, alertando parao
facto
desse conhecimento ser dinâmico e conduzido pelo contexto e dado que não pode ser isolado das situações em que é adquirido e usado, não poderá ser ensinado. Por outro lado as crenças e as concepções dos professores nãotêm
sido tomadasem
conta, não tendopor
isso, estalinha
de investigação conseguido explicar as diferenças nas priíÊicas lectivas entre professores com os mesmos anos decareira
e percursos profissionais muito próximos.O conhecimento
prático
No
grupo
de
esfudosque
consideramo
corúecimento
do
professor
essencialmenteprático e pessoal estÊio incluídos os trabalhos de Freema Elbaz e os que derivam dos estudos
de Donald Schõn. Existem algumas diferenças entre estes estudos relativamente à natureza, ao
conteúdo, à estrutura do conhecimento do professor e até à designação que lhe atribuem.
Elbaz (1983) procurou çaracterir-aÍ
o
conhecimento profissional de uma professora deinglês, investigando as ilras práticas.
A
autora considerou que o conhecimento do professor é essencialmente prático e caracterizou esse corlreçimento como:um
vasto
conhecimento
que
cresce
com
o
acumular
de
experiência.
Este conhecimento engloba experiência, emprimeira
mão, dos estilos de aprendizagem dos alunos, interesses, necessidades, potencialidades e dificuldades, e um reportóriode técnicas de instrução e de gestão da sala de aula. O professor conhe ce a estnrtura
social da escola e
o
que é necessário, ao professors
ao aluno, pffia aí sobreviver eter
srrcesso;conhece
a
comunidade
de
que
a
escola
faz
parteoe
tem
uma sensibilidade pura o que aí será ou não aceitavel. Estecoúecimento
experiencial éinformado
pelo
conhecimento
teórico
da
disciplinq
e
de
areas
como
odesenvolvimento da
crianç4
teoria da aprendizagern ou teorias sociais. Todos estestrpos de conhecimento, enquanto integrados pelo professor
individuat
em termos de valores pessoais e crenças e enquanto orientados para a sua situação prática, serãoNo
sentido de esclarecer a forma como o conhecimentopnítico
é adquirido e posto em acção pelo professor, a autora iderúifica cinco orientações nesse conhecimento: a) orientação para a situação-
as sonversas que tem com os colegas, as acções de formação que frequenta demonstram que o conhecimento do professor é orientado paÍa situações práticas como formade
respondera
questõescom
que se confrorúana
sala de aulaou
na escola;b)
orientação pessoal-
pressupõe que o corúecimento prático é organirado pelo professor de acordo com osignificado que
atribui
às suas experiências;c)
orientação experiencial-
coresponde à ideiade
que
o
conhecimento pnâticoé
suportadopelas
experiências pessoaisdo
profes§or nocontexto em que se insere;
d)
orientação social-
entende-so queo
sonhecimentoprático
éinfluenciado
por
constrangimentossociais;
e)
orientação
teórica
pressupõe
que
ocoúecimento pratico
do
professoré
informado
pela
teoria.
Assim,
nesta perspectiva oconhecimento
do
professor resultada
experiência, emboraa
teoria
também contribua paÍa esse conhecimento.É um
conhecimento dinâmico,pois
vai-se alterando e crescendo Çom a experiência.Elbaz considera que ooo conhecimento prático é o
coúecimento
de alguma coisa" (1983,p.14), isto é, tem conteúdo.
Ao
nível do conteúdo, a autora organizou ocoúecimento
prático do professor em cinco categorias: a) conhecimento de si-
corresponde ao conhecimento que o professor tem de si como profissional, das suas competências e capacidades, do seu papel na aula e na escola, e dotipo
de aúoridade eresponsúilidade
que assume; b) conhecimento do contexto-
engloba o conhecimento daturmA
da escola, dos colegas e do meio envolvente; c)coúecimento
do
conteúdo-
inclui
o
coúecimento
dos
conteúdos programáticose
de aspectos relacionadoscom a
especificidadeda
aprendiz-agem dadisciplina
queo
professorlecciona;
d)
conhecimentodo
currículo-
integrao
conhecimento da teoriado
currículo, dassuas
finalidades
e
objectivos
e
aspectos relacionadoscom
a
planificação
da
actividadedocente;
e)
coúrecimento
do
processoinstrucional
-
abrangeo
coúecimento
de
diversasmetodologias
de
ensino, gestãoda
salade
aula"da
forma como
os alunos aprendeme
deformas de avaliar as aprendizagens dos alunos.
Elbaz (1983) entende que
o
conhecimentoprático
do prqfessor se encontra estruturado em três níveis de organimçáo, com diferentes gfaus de generalidade: regras de prrítica-
sãonoÍnas
específicas que orientam a acção em situações práticas concretas em que os objectivossão claros; princípios pníticos
-
são declarações mais abrangentes que as regras, sâo utilizados na reflexão de sittrações, üansportalÍr a ruzÃo das próprias acções. Orierúam a prática e têm em conta experiências anteriores; imagens-
coÍrespondem a descrigões gerais e metafóricassobre o ensino e são resultado da combinação de sentimentos, crenças, valores e necessidades,
são unicas de cada professor e influenciam as decisões que ele toma.
0
trabalho desenvolvido por Schôn em tonro do profissional em geralfoi
posteriormente adaptado para o esfudo do corúecimento prático do professor.Para Schrin (1983) os profissionais, nas acções do dia a dia, demonstram ter uma forma
especial de conhecimento e por vezes é
dificil
ao profissionalfalar
sobre ele. Trata-se de um corúecimentotacito
e
implícito na
acçãrl_ quenão
se reduz a uma racionalidade técnica.A
actividade proÍissional constitui
um
saber-fazeç teórico e prático,criativo
e inteligente, quepermite ao profissional agir nos mais diversos contextos. O autor defende que o conhecimento de um profissional está ligado à
pníticq
está na sua acção. Esse conhecimento-na-acção é umcorúecimento dinâmico
queresulta de
reformulaçõesda
própria
acçãoe é
marcado pelaprática da reflexão.
A
reflexão-na-acção permite aos bons profissionaislidar
com problemas de diversa ordem e resolvê-los.Este autor considera que só é possível conhecer o conhecimento do professor afiavés da observação da sua prática.
Schtin
(1992)
encarao
professor
como
um
profissional
reflexivo, euo
promove
e desenvolve o seu conhecimento profissional através da reflexão na e sobre a acção.Na sala de aula, ao procurar compreender a forma como o aluno adquire conhecimentos,
como forma de o ajudar, o professor está a
reflectir
na acção. Estetipo
de reflexão ocoÍre emquaÍro
momentos:
o
primeiro
momento acontece quando
o
professor
é
çWffi de
se snrpreendercom
o
queo
alunodiz ou
faz;
o
segundo momento surge quandoo
professorreflecte sobre o que o aluno disse ou fez; num terceiro momento o professor tenta reformular
a
questElo colocada aoaluno;
epor fim,
num
quarto momento, põe uma nova pergr.rnta aoaluno paÍatestar a hipótese que formulou acerca da forma de peÍrsar do aluno.
A
reflexão-na-acção permite ao professor tomar decisões imediatas acerca do plano de aula, dar respostas e
incentivos aos
alunos,
resolver
situaçõesdisciplinares.
A
reflexão-na-acçãoocorre
emsimultâneo com a acção, requer uma análise da situação e uma pronta intervenção.
O
autor entende que através da reflexão-na-acção se adquirem e se constroem novas teorias, esquemas e conceitos, e se entende o processo de aprendizagem.Após
a
actividade
lectiva, ao
pensarsobre
a
sua
experiênciadiríria,
a
sua
acção,atifudes, pensamento
e
decisões quetomotl o
professor estáa reflectir
sobrea
acçãoe
areflectir
sobre a reflexão na acção (Sch«in, 1992). Trata-se de uma análise posteriorà
acçãoEstes
processosde
reflexão
cornpletam-se,não são
independentese
preparam
o professor para a tomada de novas decisões antes e durante a prática, na medida em que vãoalterando progressivamente
o
conhecimentodo
professorem
relaçãoà
aprendizagem dos alunos e ao processo de ensino.Perez
(1992)
ao mesmo tempo querecoúece
a
reflexão comofonna
derevitalizar
ocoúecimerúo-na-acção, chama
a
atenção para as possíveis limitações da práticareflexiva
considerando que
o
seu sucesso depende da sua ligação à acção e ao conhecimento-na-acçãoo ao afirmar:O
conhecirnento-na-acçãopode
tornar-se,
a
breve
trecho, tácito,
inconsciente,repetitivo,
cadavez mais
desadaptadoa
situações novas. Parao
evitar
é
precisodesenvolver reflexão na e sobre a acção. Por outro lado, a reflexão também não é
um
processo autónomoe aúo-suficierúe.
Ela
exigenão
só uma acçâoem
que se basear, mas tarnbém um conhecimento na acção rico, em que se apoiar ftr.105).Apesar de algumas críticas à abordagem
de
SchÕ,npelo facto
de inicialmente os seustrabalhos
não
incidirem
sobreo
conhecimentoprofissional do
professor, massim
sobre oconhecimento
profissional em
geral, esteaúor
tem vindo
a
constifuir
uma referência paramuitos investigadores que procuram estudar o conhecimento do professor.
No
grupo
de
autores
que
consideram
que
o
conhecimentodo
professor
é
umconhecimento essencialmente de natureza práúrca e pessoal
parece-te
sensatoincluir
tarnbémPonte (1999)
na
medida
em
que
o
aúor
consideraque
o
conhecimentoprofissional
do professorinclui
uma vertente ligada à prática lectiva, é umcoúecimento
fimdamentalmenteorientado
para
a
acçáo,no
qual
é
possível identificar quatro
gtandes
domínios:
a)conhecimento
dos
conteúdosde
ensino-
inclui
as interligações internas entreos
diversos conteúdos e com oufias disciplinas, bem como as formas de raciocínio, de argumentação e devalidação
relativas
aos conteúdos;b)
conhecimentodo
curículo
-
abrangeo
conhecimentodas
finalidades
e
objectivos
do
currículo
e a
sua
articulaçãovertical
e
horizontal;
c)conhecimento
dos
alunos-
enrrolveo
conhecimento dos processosde
aprendizagem dosalunos, dos seus interesses, necessidades e dificuldades de aprendizagem mais frequentes e
ainda
dos
factoresculturais
e
sociais que podemfacititar
ou dificultar
o
seu desempenhoescolar;
d)
conhecimentodo
processoinstrucional
-
refere-seà
preparação, condução e avaliação da prática lectiva.Esta vertente do conhecimento do professor ligada à prática lectiva relaciona-se com o
coúecimento
que o professor temdo
contexto em que se insere (daescolu
da comunidade, da sociedade) e ocoúecimerúo
que tem de si mesmo.O conhecimento
didáctico
do conteúdo
Shulrnan (1986) analisou o que os professores
súem
acerca dos corúeúdos que ensiname o modo como traduzem esse çonhecimento paÍa situações de sala de aula de forma a
torná-lo
compreensível aosalunos.
O
autor
entendeque
o
professor possuíum
conhecimentoespecífico
proprio
para ensinare
considera que essecoúecimento
se pode organizar nasseguintes categorias:
coúecimento
do
conteúdoda
irea disciplinar;coúecimento
didáctico do conteúdo;coúecimento
do currículo;coúecimento
dos alunos;coúecimento
pedagogicogeral;
conhecimentodos
contextos educacionais;coúecimento
das
metas,finalidades
e valores da educação ( Shulman 1987).Shulman (1986) analisou
o
saber dos professores centrando a sua atenção em três dascategorias
mencionadas:conhecimento
do
conteúdo
da
âreadisciplinar,
conhecimentodidáctico
do
conteúdoe
çonhecimentodo currículo,
realçando sobretudoa
importância docoúecimento
didáctico de conteúdo.O
coúecimento do
conteúdoda irea
disciplinaÍ
-
tem
a ver
Çoma
quantidade decoúecimento
da disciplina que lecciona que o professor tem e com a forma como o organiza mentalmente. Abrangea
compreensão da organizaçáo dos conceitos básicos eprincípios
dadisciplina em factos e ainda
o
modo através do qual se estabelece a verdade ou a falsidade nasua área disciplinar.
O coúecimento
didácticodo
conteúdo, queo
autor denomina de pedagogical contentknowledge
-
refere-seà
capacidade queo
professor tem de compreender profundamente osconteúdos
de
ensino
e
que lhe
permite
encontrarformas
de os
apresentar, tornando-os compreensíveis aos alunos. Corresponde a uma articulação entre ocoúecimento
disciplinar eo
coúecimento
pedagógrco,ou
seja , uma articulação entre ocoúecimento
do conteúdo daátrea
disciplinar que
o
professor
leçcionae
o
coúecimento
dos modos
de
ensinar
esseçonteúdo. O autor refere que este
coúecimento
vai
para além docoúecimento
do assuntoper
se, até à dimensão do assunto para ensinar. (...) inclui,
para a maioria dos tópicos ensinados na disciplina, as formas maisúteis de
representação das ideias, asmais
poderosas analogias, ilustrações, exemplos, explicações e demonstrações-
numa palavra, as formas de representar eformular
o
assunto que o tornam compreensível para os outros. (...) tarrbéminclui
uma
compreensãodo
que
torna
facil ou
dificil
o
ensinode
certostópicos:
asconcepções
e
as
pré-concepçõesque
os
alunos
de
diferentes idadese
origens culturais trazem para a aprendizagem(Shulmaq
1986, p.9).O
coúecimento
curricular-
está relacionado com ocoúecimento
que o professor temdos documentos programáticos da disciplina que lecciona, das orientações metodologicas bem
Gomo dos materiais pedagogicos úteis para çadasituação de aprendizagem.
De
acordo
com
Shulman (1986)
as
três
categorias
do
coúecimento
descritasanteriormente estão organizadas
na
mentedo
professorem três tipos de
coúecimento:
ocoúecimento
proposicional;o
conhecimentode
casose o
coúecimento
estratégico. Ocoúecimento
proposicional, revela-se
independentementedo
contexto,
é
de
dificil
recuperação e pode colresponder a princípios, máximas e norÍnas de asordo com
a
origemdesse conhecimento. Um
princípio
está associado à investigação e equivale a uma declaraçãoteórica.
As
máximas são ideias quevão
sendo criadaspelo
professor em resultadoda
suaprinica.
As
norma§ coÍrespondema
valoresou
ideologias que orientamo
professor a fazer opções eticamente correctas.O conhecimento de casos colresponde ao
coúecimento
detalhado de casos específicos,bem descritos e fundamentados.
o
autor diz que se trata deum
conhecimentode
eventos especificos,bem
documentadose
bem
descritos. Enquanto o§ casos em si rnesmos são informações de eventos,o coúecimento
querepresentam
é
o
que
o§
converte em
casos.Os
casospodem ser
exemplos de aspectos concretos da prátiça-
descrições detalhadas de como ocorreu um evento-completados
com
informação sobreo
contexto, os pensamentose
os sentimentos(Shulman, 1986,
p.
Il).
Este
coúecimento
pode
apresentar-sesob
a
forma
de
prototipos
(conhecimento de caso§que
colre§pondemà
aplicação
de
princípios
teóricos
na
prática),
precedentes (coúecimento
de casos que corespondem a situações práticas)ou
parábolas (conhecimento de casos que reflectem normas ou valores).O
coúecimento
estratégicoresulta
de
um
"processode
análise,de
comparação e contraste de princípio§ e casos e as suas implicaçõesna prártic{'(Shulman,
1986,p.l4).
Estetipo
de conhecimento é usado em situações em que os princípios contrad izema
prinica, isto é, quandoo
profes§or se depara comum
problemaparao
qual os principios não proporcionamuma resposta.
É
aravés doconfronto
entre os princípios e a prática queo
professor alarga oseu
coúecimento
estratégico.Shulman (1987) propôs um modelo de pensamÇnto e acção pedagogicos para analisar o processo
pelo qual o§
professoresusam
o
coúecimento na
tomada
de
decisões, QU€ contempla varias fases:
a
compreensão (das finalidades, dos conteúdos, daforma
como asideias
se relacionam Çomoutras
no
âmbito
da
disciplina
ou
fora
dela);
a
transformação(corresponde
à
preparaçãodo
trabalho
a
desenvolvere
inclui
o
desenvolvimentode
umreportório curricular);
a
representação(refere-se
ao uso de
um
conjunto
de
exemplos,analogias, metáforas, explicações, demonstrações);
a
selecção (correspondeà
escolha de formasde
ensinar, organizar,gsrir e
planear);a
adaptação (efectua-sede
acordocom
as característicasdos
afturos, tendoem
atenção as suas concepções, interesses, dificuldades epreconceitos);
a
instrução (equivale
às formas
de
ensino
observáveisna
sala
de
aulq
interacções,
trabalho
de
grupo, disciplina);
a
avaliação
(correspondeà
verificaçâo
da oompreensão e desempenlro dosaluros
durante as aulas e aos ajustes que o professor deverá fazer de acordo com os resultados); a reflexão (consiste numa análise crítica de cada urn e daturma);
e
uma nova
compreensão(todas as
fases anteriorescontribuirão
pilrl
uma
nova compreensão dos objectivos, dos conteúdos, dos alunos e do próprio ensino).Também Ponte (1994b)se refere ao conhecimento didáctico de conteúdo designando-o apena5
por
conhecimento didáctico, dado que"o
coúesimento didáctico
pressupõe sempreum
conteúdode
ensino" (p.t0).
O autor
distingue quatro vertentes essenciais nestetipo
decorúecimento na acção sobre a prática lectiva: o gurão curricular, a agendq a monitonr-açáo e
a avaliação.
O
guião curricular
-
é
um
domínio
do
coúecimento
que
articula
informação,experiências
e
representações emocionais,que
o
professor conservamrm
estadomais
ou menos latente e queé
capazde activar de imediato no decorrer da preparação de uma aula ou de uma unidade didáctica.Inclui,
entre outros aspectos, objectivos de aprendizagem, tarefas, situaçõesde
aprendizagem, representações referentesa
conceitosou
ideias matemátioas, ecritérios de avaliação.
A
agenda-
é um
plano de
acção,isto
é,
um
plano
deaula mental
queo
professor ideatiza. Este plano inicia-se com a prepaÍaçâo da aula, evolui durante a aula e esgota-se nofinal
da aula. Contém os objectivos definidos pelo professor bem como a sua esEatégia para uma determinada aula.A
monito nzaçáo-
refere-se a fudo o que o professor pensa e decide no decorrer da aula. Compreendea
realização de pergurtas aos altmos e a obsenraçãodo
trabalho dos mesmos de forma que o professor possa decidir comocontinuar-A
avaliação-
inicia-se no começo da aula e recai sobre dois aspectos: a) se as reacçõesdos
alunoscoincidiram
ou
não com
o
que
era esperado;b)
seos objectivos
e
acções do professor forarn ou não os mais apropriados.O coúecimento
didríctico não existede
forma
compartimentada, relaciona-secom
oconhecimento
que
o
professortem
de
si
mesmoe
o
conhecimentoque possui
acerca do contexto de ensino (Ponte, 1994b).O
conhecimentode si
mçsmo refere-se afudo
o
queo
professor sabe sobresi,
à
suaauto-confiançq aos seus recursos e capacidades.
O
conhecimentodo
contexto de ensino abarcao coúecimento
acerca dos seus alunos, dos colegas de profissão, da escola, dos pais, da comunidade, do sistema educativo, etc.Ainda
Canavamo
(2003)
estudou
o
conhecimento
didrictico definindo-o como
oconhecimento directamente relacionado
com
a
práúrcalectiva,
isto
é,
com a
condução do processo de ensino-
aprendtzageÍn na sala de aula.A
autora entende que este conhecimento abrange quaÍro domínios: o conhecimento matemático, o conhecimento dos alunos e dos seusprocessos de aprendizagem, o corúecimento do currículo de Matemática e o conhecimento do processo instrucional.
O
conhecimento matemático do professor envolveo
conhecimento da Matemática e oconhecimento
sobre
a
Matemática devendo
ser
direccionadopara
os
aspectosque
sãovalorizados
no currículo
da disciplina, nomeadamente conceitos, procedimentos, aspectos da actividade matemritica, evolução e história da Matemática, relaçãocom
outros domínios doconhecimento
e
as
suas aplicações.Deve também
incluir uma visão da forma como
a Matemática pode contribuir para a formação integral do aluno.O
conhecimentodos alunos
e
dos
seus processosde
aprendizagemimplica que
oprofessor conheça
a
diversidade de alunoscom
quem üa.balha eseja
capaz de mobilizá-lospaÍa
a
aprendizagemda disciplinq
estruturandoformas
de
consüuçãodo
corúecimentomatemático, tendo em atenção as múltiplas possibilidades de interacção na sala de aula.
O
conhecimentodo
currículo requer queo
professor conheçao texto curricular,
que o saiba interpretar, que sejacapz
de adaptá-lo asi
enquanto pessoa e enquanto profissional eao
contexto onde exercea
sua prática,e
de reconstrui-lo para os seus alunos.O
professor deverá considerar todas as componentes docurrículo
de forma ponderada e inter-relacionada,procuftlÍ as melhores formas de abordar os conteúdos, seguindo as orierúações metodológicas
que são dadas, procurando alcançar as finalidades principais da aprendizagem da Matemática.
O conhecimento do processo instrucional tem a ver com o conhecimento utilizado pelo professor na prática lectiva e orienta a prepaÍação
lectiv4
a condução das aulas e a avaliação do processo de ensino-aprendizagem.trnvestigações
empíricas
relativas
ao
conhecimento
profrssional
do
professor
Registam-se
segrridamentealguns estudos
empíricos
relativos
ao
çontrecimentoprofissional
do
professor ancorados na vertentedo
çoúecimento
prático,do soúecirnento
didáctico ou em ambas as vertentes.
Guimarães
(1996b) investigou
o
coúecimento
profissional
de
duas professoras deMatemática do
2."
ciçlo,
centrando-se na caracterização desse conhecimento e na origem do mesmo.A
autoraidentificou
duas vertentes importantesno
coúecimento
profissional
das professoras que constituíramo
seu objecto de estudo, a vertente prática e a verterúe teórica,tendo salierúado
a
importância da primeira. Este estudo evidenciouo
papeldo
estágio, daexperiêncianaformação de professores, da participação em projectos inovadores e o papel da
propria pratica pedagogica na produção
do
coúecimento
profissional. Constatou-se que odesenvolvimento desse
coúecimento
foi
determinado, principalmente, pelareflexão e
pela troca de experiências com colegas.Brunheira
(2000)
realizou uma
investigaçãoonde
procurou estudaro
sonhecimentomatemático
e
didáctico
de
três
professores estagiáriosligado
à
realização
de
tarefasinvestigativas
na
aula
de
Maternática bem
como as
suas atitudes durantea
preparação, condução e reflexão sobre as aulas.A
autoraconcluiu
que existem relações entre as várias dimensõesdo
çonhecimentodo
professor e entre essas dimensões e as atitudes. Este estudo destacoua influência
queo
coúecimento
matemático exerce nas atitudes dos professoresface à realização de aulas de
trúalho
investigativo eno coúecimento
didáctico.E
também salientada a influência que o conhecimento didáctiço tem nas atitudes referidas anteriormente.Delgado
(2003)
no
seu estudo procurou
compreendera
forma como três
futuras professorasdo
1.ociclo
reflestem
sobreas
suas práticasde
ensinoda Matematica
e
que factores influenciam essa prática. Entre outras salientam-se as seguintes conclusões:-
o
tipode
relaçãoque
estabeleceramcom a
Matemática
pareceter
tido
um
papel
relevante naavaliação que
fizeram
sobreo
envolvimento dos alunos nas tarefas;-
o
soúecimento
daMatemática
revelado
pareceter
influenciado
as
característicasdas
tarefas propostas aosalunos