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Academic year: 2021

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A Socine, Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual, tem acompanhado o crescimento exponencial dos estudos da área de cinema e audiovisual nestes últimos 16 anos, desde sua criação, em 1996. Em nossos congressos anuais, as transformações da área em termos de pesquisa, produção, formas de divulgação e impacto em contextos socioculturais diferenciados, tanto em nível nacional como estrangeiro, têm sido amplamente debatidas. Tendo em vista as mudanças que se apresentam neste século XXI e a consequente necessidade de intensificarmos os debates teórico-críticos entre pesquisadores da área de Estudos de Cinema e do Audiovisual, lançamos o número 1 da Rebeca – Revista Brasileira de Estudos de Cinema e do Audiovisual, revista

on-line semestral que vem abrir mais um espaço para reflexões e trocas de

ideias, visando à publicação de trabalhos não apenas acadêmicos, mas também de cunho cultural abrangente, criativo, e que possibilitem dar visibilidade a questões relevantes da área em contextos socioculturais dinâmicos. Em seu primeiro volume, Rebeca reúne o trabalho de pesquisadores do Brasil e do exterior, com visibilidade nos meios acadêmico e institucional e nos novos espaços intermidiáticos que a área ocupa – espaços não institucionalizados, reforçados também pela expansão da cultura digital, cursos livres, produções culturais cada vez mais globalizadas e interconectadas.

Rebeca conta com cinco seções: Dossiê, Temas Livres, Entrevistas, Fora

de Quadro e Resenhas e Traduções. Nesta primeira edição, a proposta inicial foi a organização de um dossiê a partir de uma periodização, compreendendo

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a primeira década dos anos 2000. Durante o processo editorial, entretanto, consideramos a qualidade de artigos que não haviam sido direcionados para a seção, mas que ofereciam excelente material para um painel dos mais relevantes, contemplando abordagens atuais tanto sobre o cinema brasileiro como o latino-americano. Selecionamos três artigos que inauguram com brilhantismo os dossiês da Rebeca. Ao analisar a mise-en-scène no documentário, Fernão Pessoa Ramos faz um mergulho profundo no estilo e na obra de João Moreira Salles (Santiago) e Eduardo Coutinho (Jogo de cena), autores que figuram entre os grandes expoentes do cinema documental brasileiro, cujas obras marcaram de maneira absoluta os anos 2000. Andrea França lança seu olhar aguçado para o cinema brasileiro contemporâneo, analisando um conjunto de filmes que explora a experiência de estar, habitar e passar pelas fronteiras do país para pensar a ocorrência de uma relação forte entre corpo, câmera e espaço. Completa o dossiê, com precisão cirúrgica, o artigo de Alessandra Brandão voltado para um mapeamento das narrativas de viagem e das políticas do deslocamento que aparecem de forma significativa no cinema latino-americano na passagem do século XX para o século XXI.

A seção de Temas Livres da Rebeca manteve a tendência à pluralidade de temas e abordagens que é característica dos encontros e publicações da Socine. O conjunto de artigos aborda tanto o cinema nacional quanto o cinema estrangeiro, com variados recortes teóricos e analíticos. Ceiça Ferreira, Cesar Zamberlan, Elizabeth Mendonça e Marinyze Prates de Oliveira debruçam-se sobre filmes brasileiros em análidebruçam-ses fílmicas que estabelecem diferentes relações entre o cinema e a literatura e cultura nacionais. O trabalho de Fabian Nuñes tece considerações sobre a produção do cineasta e ensaísta cubano Julio García Espinosa. Já Mariana Tavernari trabalha com os processos metafóricos de emolduração no cinema e nas mídias digitais, enquanto Rodrigo Carreiro traz um estudo de recepção crítica dos filmes de Sergio Leone nos Cahiers du Cinéma. Como contribuição em língua estrangeira, Francisco Villena traz

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uma análise das adaptações de Jean Renoir e Luis Buñuel da novela Le journal d’une femme de chambre, de Octave Mirbeau. Esse conjunto de artigos reforça a certeza da importância do espaço aberto por Rebeca para a produção e circulação de pesquisas sobre cinema e audiovisual no Brasil.

Uma seção de Entrevistas em uma revista acadêmica nos remete à questão de seu real sentido. Em parte, isso se deve à banalização das entrevistas no mundo contemporâneo. É possível também estabelecer um paralelo entre a entrevista captada para que posteriormente venha a ser um texto e os filmes do cinema direto e do cinema-verdade, consagradores da entrevista/depoimento como método e objeto fílmico, e o enorme conjunto de “atrações” televisivas que instrumentalizam ad nauseam o recurso da entrevista. A recorrência da entrevista alcançou um alto grau de banalização na sociedade moderna, visto que virou um método recorrente, para além dos programas jornalísticos e de entretenimento leve televisivos, também na mídia escrita, que a usa rotineiramente. O paroxismo dessa realidade pode ser encontrado no produto-gênero reality-show. Essa situação nos leva a crer que os meios de comunicação esvaziaram um possível caráter “revelatório baziniano” que a entrevista poderia suprir, como acontece em vários filmes de Eduardo Coutinho, por exemplo.

Apresentamos neste volume a entrevista concedida por Gustavo Dahl a Arthur Autran, intitulada “Gustavo Dahl: ideário de uma trajetória no cinema brasileiro”. Gustavo Dahl (1938-2011) foi um importante pensador do cinema brasileiro nos últimos 50 anos. Além disso, Dahl também se revelou um integrante da geração do Cinema Novo. Tanto a sua trajetória pessoal quanto a profissional se alicerçaram em uma carreira que transitou entre a crítica, a produção, a distribuição e a política do audiovisual nacional.

Neste primeiro número da Rebeca, a seção Resenhas e Traduções apresenta comentários sobre três coletâneas lançadas no país recentemente, mostrando a vitalidade e a expansão dos estudos cinematográficos nos dias atuais. O

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primeiro texto é de autoria de Cláudio Bezerra, sobre o livro Salve o cinema II, organizado por Fabio Henrique Nunes e Taiza Mara Rauen, editado pela Editora Univille e segundo volume do projeto Salve o Cinema. Temos ainda a resenha de Luis Alberto Rocha Melo do livro Viagem ao cinema silencioso, com 11 textos organizados por Samuel Paiva e Sheila Schvarzman, cujo destaque é uma revisão historiográfica dos estudos sobre cinema silencioso no Brasil; e, por fim, os comentários de Mariana Baltar sobre o livro Brasil-México: aproximações

cinematográficas, organizado por Tunico Amancio e Marina Cavalcanti, obra

que reúne 11 artigos de pesquisadores brasileiros e mexicanos, ressaltando o crescente intercâmbio entre estudiosos do cinema nos países latino-americanos.

A seção Fora de Quadro parte da ideia de que a história da reflexão e da crítica em cinema e audiovisual está longe de se realizar apenas por ensaios especializados e estudos acadêmicos, ou mesmo pelas convencionais colunas de críticos do periodismo eletrônico ou impresso. Cronistas, ilustradores, chargistas, poetas, humoristas, escritores e artistas diversos, com frequência, enriquecem o debate sobre a produção audiovisual de modo inspirador. Íamos esquecendo os cineastas – sim, os realizadores! Todos sabem que o cinema reflete e critica o próprio cinema, e o audiovisual vive se autocriticando, mesmo quando não pretende fazê-lo. Em outras palavras, isso ocorre não só quando as imagens em movimento falam de cinema, quando abordam o campo audiovisual tematicamente, mas ainda quando isso parece não estar em pauta. Por exemplo, poucos se dirigiram à chanchada para diminuí-la, como tanto se fez até os anos 1960, depois de ver, no fim dessa década, filmes como

O bandido da luz vermelha ou Macunaíma. A chanchada só seria revalorizada

por críticos ou historiadores bem depois, já nos anos 1970 e 1980. A sessão destina-se à tentativa de ampliar os meios e procedimentos da reflexão sobre cinema e audiovisual. Essa reflexão hoje sofre, de par com sua expansão, uma relativa limitação no que se refere tanto ao material analisado (além das obras audiovisuais, as tradicionais referências bibliográficas de teoria, crítica, ou

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ainda a entrevista) quanto aos estilos de discurso praticados em nossos próprios textos habituais, cada vez mais padronizados em suas linguagens menos inventivas e menos capazes de dar conta da riqueza inspirada pelo material estudado. Nesse sentido, buscamos a diversificação de um outro olhar sobre o cinema, apresentando aqui os trabalhos de Vinicius Dantas “Brasil”, Tiago Mata Machado e Francis Vogner dos Reis “Meditações sobre as ruínas: uma conversa sobre o cinema brasileiro hoje (Os Residentes)”, Jaguar “Festival do cinema brasileiro”, Gabriela Wondracek Linck “O não dito [O Desprezo e Filme

Socialismo, de Godard]”, Aírton Paschoa “Match Point e o jogo dos gêneros (ou

o papelão das artes)” e Fabrício Corsaletti “Plano”.

O volume apresenta-se assim como mais um canal de publicações, debates e circulação de ideias, apresentando-se como um novo espaço aos Estudos de Cinema e do Audiovisual em suas várias vertentes. Agradecemos o apoio incondicional da atual diretoria da Socine, representada pela Profa. Dra. Maria Dora Mourão, e a todos os colegas e amigos que, de várias formas, seja na elaboração do projeto da revista ou como pareceristas, membros do conselho consultivo e editorial, diagramadores, secretária, revisores, nos ajudaram a consolidar a publicação da Rebeca. Nosso agradecimento especial aos autores dos textos aqui reunidos, pela confiança em nosso trabalho.

Desejamos a todos uma boa e produtiva leitura.

Os Editores

Anelise R. Corseuil – Editora Chefe; João Guilherme Barone – Seção Dossiê; Laura Cánepa – Seção Temas Livres; André Piero Gatti – Seção Entrevistas; Alexandre Figueirôa – Seção Resenhas e Traduções; Rubens Machado Jr. – Seção Fora de Quadro.

Referências

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