NELSON
PASSOLD
NETTO
COMPROMETIMENTO
OTOLÓGICO
COMO
~
MANIFESTAÇAO
INICIAL
DE
GRAN ULOMATOSE
DE
WEGENER
:RELATO
DE
CASO
Trabalho apresentado à Universidade Federal
De
Santa Catarina, para a conclusão no Curso de graduaçãoem
Medicina.FLORIANÓPOLIS
NELSON PASSOLD NETTO
COMPROMETIMEN
TO OTOLÓGICO
COMO
rw
MANIFESTAÇAO
INICIAL
DE
GRANULOMATOSE
DE
WEGENER
:RELATO DE CASO
Trabalho apresentado à Universidade Federal
De
Santa Catarina, para a conclusão no Curso'
de graduação
em
Medicina.Coordenador
do
Curso: Dr.EDSON
JOSÉ
CARDOSO
orientadores; Dr.
WALDIR
CARRERÃO
FILHO
Dr.
PAULO
CRESPI
Dr.
IVÃNIQ
ALVEs
PEREIRA
FLoR1ANÓPoL1s
ETrabalho de conclusao de Curso de Graduaçao em Medicina, - Universidade
Federal de Santa Catarina. '
A
DEUS
por guiarmeus
passos e sustentar-me diante das adversidadespresentes
no
caminho,A
meu
PAI, que não
mediu
esforços paratomar
possível a realização deste sonho,A
minha
MÃE,
minha
fonte de ensinamentos,exemplo
de
amor
ecoragem
,A
meus
IRMÃOS,
pois cadaum
contribuiu a suamaneira
para achegada
deste tempo,A
meus
AMIGOS
que nunca
estiveram ausentes, pelo contrário, nas horasdifíceis
estavam
aomeu
lado,Ao
DR
WALDIR
CARRERÃO
FILHO
por aceitar tãoprontamente
afunção
de
orientador deste trabalho,Ao
DR
PAULO
CRESPI
pela sua dedicaçãona
tarefade
orientar este trabalho,Ao
DR
IVÂNIO
pelo auxílio e direcionamento para a conclusão desteIntrodução Revisão de literatura Objetivo Relato de caso Discussão Referência
Resumo
Summary
A
Granulomatose de
Wegener
(GW)
descrita inicialmente por Klingerem
1932
e depois caracterizada porWegener
em
1936
éuma
doença
multissistêmica identificada pela tríade patológica constituída por
granuloma
necrotizante de vias aéreas superiores e inferiores, vasculite sistêmica e glomerulonefrite
(GN)
necrotizante focal 1.Pode
ser classificada,de
acordocom
sua apresentação inicial,como
clássica, limitada
ou
puramente
granulomatosa, baseadana
presençaou não de
granuloma
extravascular,comprometimento
de
órgão único e associaçãocom
~
lesoes renais 1.
~ ~
A
GW
éuma
doença
incomum
cuja incidência e prevalêncianao
saodefinidas
W.
Embora
a etiologia seja desconhecida, é geralmente tidacomo
autoimune
2'4.A
presençade
diferentes padrõesde acometimento
multissistêmico faz a~
doença
adquirirformas
de apresentaçao clínicas variadas 5,tomando
seudiagnóstico difícil, principalmente se as manifestações iniciais limitarem-se
ao
trato respiratório superior 1.
O
envolvimento
otológico é considerado precoce, ocorrendoem
20
a60%
1'2”6
,
podendo
sero
primeiro sinalda doença
1.A
manifestaçãopode
ser atravésde
otitemédia
(OM)
serosacomo
resultadodo
bloqueioda
tuba auditiva 3ou
OM
aguda
porenvolvimento
primário das cavidadesda
orelhamédia
~ ~
comconsequente
destruiçaogranulomatosa
e disseminaçao atravésdo
ossotemporal 1.
_
_
A
investigação diagnóstica é clínica, laboratorial, radiológica ehemossedimentação
(VHS)
proteínaC
reativa(PCR)
emucoproteínas
,imunocomplexos
circulantes, anticorpos anticitoplasmade
neutrófilocom
padrão citoplasmático
(c-ANCA)
reagentes, infiltrados econdensações
pulmonares, sedimento urinário (hematúria, cilindros (cil.) hemáticos) e
vasculite granulomatosa necrotizante
de
pequenos
vasos 1'2'3'4'5'7.Com um
diagnóstico difícil, aGW
apresentaum
prognósticoruim
senão
tratada, já que, nestes casos a mortalidade atinge
82%
no
finaldo
primeiroano
15
e
mais
de90%
aofim
do segundo
1.A
intervenção terapêuticacom
imunossupressores resultaem
remissõesem
cerca de
95%
dos casos 1,mostrando
a importânciado
diagnóstica e tratamento1.1
REvIsÃo
DA
LITERATURA
; ~
HISTORICO E
DEFINIÇAO
Entidade clínico-patológica distinta
com
um
enorme
espectrode
apresentação clínica,
capaz de
mímetizar muitas doenças, clínica, radiográfica epatologicamente 1.
A
GW
éuma
doença
relativamente nova, primeiro descrita por Klingerem
1932
como
uma
síndrome
distinta, para ser diferenciadada
poliarteritenodosa
1.Ele descreveu
uma
patologia sistêmica e progressiva,que
iniciavacom
um
processo destrutivo
hemorrágico
do
trato respiratório superior e outros órgãos,o
diagnóstico
sendo
clínico-patológico 1.A
segunda
descrição foi feita porWegener
em
1936, referindo adoença
como
uma
forma
de vasculite e caracterizou a tríade clássica parao
diagnóstico:granuloma
necrotizantede
vias aéreas superiores e inferiores, vasculite sitêmica e glomerulonefrite(GN)
necrotizante focal L4.Além
disso,podem
ocorrer graus variáveisde
vasculitedisseminada
com
acometimento
tantode
pequenas
artérias quanto das veias 3.INCIDÊNCIA E
PREVALÊNCIA
A
GW
éuma
doença
rara 1'2”3 cuja incidência verdadeira édesconhecida
2.Ocorre mais
comumente
em
brancos,sendo
raraem
negros; a relaçãode
homem
para
mulher
é de 1:1 13.A
doença pode
ser observadaem
qualquer idade 1; aidade
média
por ocasiãodo
início é deaproximadamente
40
anos 3,
sendo
que
cerca de
15%
dos pacientestêm
menos
de
19 anos de idade, e adoença
ETIOPATOGENIA
Atualmente
várias teoriastentam
explicar a etiopatogênese daGW.Uma
das~
teorias sugere a ocorrência de reaçao de hipersensibilidade, a
um
antígenoexógeno
ou
atémesmo
endógeno que
penetra através dasou
reside nas vias aéreas superiores, eque
seria o causadordo
processo, atéo
momento
nenhum
antígeno foi isolado. Outra teoria sugereque
um
microorganismo
é inalado e~
produz
uma
infecçaono
trato respiratório superior, a qualtoma-se
um
fatordesencadeante para a doença.
A
mais
aceita é a teoria autoimune,onde
avasculite seria induzida por
um
mecanismo
celularou
um
complexo
imune
~(mecanismo mediado,
deposiçaode
imuno
complexos
ou imuno complexos
circulantes).
Imunocomplexos
circulantes e depositadosforam demonstrados
em
certos pacientescom
aGW,
no
entanto,não há
evidências diretas a favorde
~
qualquer
um
dessesmecanismos
enao
seconhecem
os fatores desencadeantesdo
processo.A
GW
éuma
desordem
inflamatóriaenvolvendo
amucosa
esubmucosa
- ~
com
extensa necrose e destruiçao.Graus
variáveisde
infiltraçao transmuralna
parede dos vasos ocorrem,
com
células inflamatórias,primariamente
neutrófilos,
podendo
estar associadas necrose fibrinóide e lesões vascularesfocais.
O
lúmen
do
vasopode
tornar-se obliterado euma
vasculite cicatrizantepode
ocorrer. Esta vasculite é dita necrosante e envolve aspequenas
artérias e veias juntamentecom
aformação
degranulomas
que
podem
ser tanto intravasculares quanto extravasculares.O
acometimento
pulmonar
aparece tipicamentena forma de
múltiplosinfiltrados cavitários nódulos bilaterais que,
na
biópsia, revelam,quase
sempre,a vasculite granulomatosa necrosante típica.
A
doença endobrônquica
,em
suafonna
ativaou
quando
resultade
fibrose,pode
acarretar obstruçãocom
~
seios
da
face ena
nasofaringe,revelam
tipicamenteinflamaçao,
necrose eformação
degranulomas
com
ou
sem
vasculite.Em
suaforma
inicial ,o
acometimento
renal caracteriza-se por glomerulitesegmentar
e focalque
pode
evoluir paraGN
crescênticarapidamente
~
progressiva.
A
formaçao de granulomas
só é observada, raramente,na
biópsiarenal.
Além
da
tríade clássicade doença
renal e das vias aéreas superiores e inferiores, praticamente qualquerórgão
pode
ser afetado por Vasculite,granuloma
ou
ambas.~ 1
MANIFESTAÇOES
CLINICAS
A
GW
tem
semascarado
com
muitas outras doenças, clínica, radiológica epatologicamente. Ela
pode
envolverquase
todos os órgãos,sendo
freqüenteno
nariz e nasofaringe, seios paranasais,
pulmões
e rins.Seu
curso é imprevisível,podendo
apresentar-secomo
doença
localou
sistêmica.O
paciente típico apresenta-secom
manifestações graves relacionadasao
trato respiratório superior 2'3°8.
A
zona
nasal encontra-se afetadaem 95%
dos
pacientes,
sendo o
local inicialde
apresentaçãomais
freqüente(cerca de91%)
16.A
primeira manifestação nasal,em
geral, é a obstrução devido aoedema
da
mucosa
que
atinge sobretudo asconchas
nasais 2.É
frequente secreção nasalpurulenta
ou
sero-sanguínea,com
ou
sem
ulceraçãoda
mucosa
nasal 3”8,mas
epistaxe franca é rara 2 .
O
quadro
típico está constituído porum
processoque
simula
uma
virose de vias aéreas superiores,uma
sinusite persistenteao
tratamento e a presença de rinite
com
as típicas crostas nasais, as quaisao
desprender-se
deixam
amucosa
friável 16.Podem
existir deformidades nasais~ ~
secundárias a erosao e ulceraçao
da
parte posteriordo
septo nasal,que
resultaO
envolvimento
otológico é precoce, ocorrendoem
20
a60%
dos casos,podendo
sero
primeiro e único sinalna
apresentaçãoda
GW
1'2.A
manifestaçãopode
ser atravésde
OM
secretora,como
resultadodo
bloqueioda trompa de
Eustáquio2'3'8
com
ou
sem
ulceraçãona
rinofaringeou
através deOM
aguda,por
envolvimento
primário das cavidadesda
orelhamédia
com
aconsequente
destruição
granulomatosa
e disseminação atravésdo
osso temporal 2.Vários
pacientes referem surdez súbita
ou
hipoacusia, a qual,na
maioria dos casos édo
tipo condutivo (30 a
40%
dos casos) secundária aOM,
ocasionalmente,também
há
descrito, a ocorrência de surdez neurossensorialou
mista,sendo
uma
das hipóteses, a existência
de
uma
vasculite localizada a níveldos vasos
cocleares 16.
A
laringetem
semostrado acometida
em 25%
dos pacientes,sendo
amanifestação
mais
freqüente e típica a estenose subglótica 16,que
resultada
doença
ativaou da
fibrose cicatricial, ocorreem
15%
dos pacientes epode
resultar
em
obstrução severa das vias aéreas 3.É
raroque
a laringe dê a primeiramanifestação,
mas
isto é possível 16. Outras manifestações encontradasno
TRS
podem
ser ulceraçao oralou
faríngea, hiperplasia gengival, gengivite,mobilidade
e perda dos dentes tardiamenteou
mastoidite1”8~ ~
Os
sintomasna
regiao de cabeça epescoço
identificadosna
apresentaçaoda
doença,
podem
estar presentes anos antes das manifestaçõesem
outros sítios 1.O
acometimento pulmonar
está presenteem
85 a90%
dos pacientes 3 epode
manifestar-se desde infiltrados assintomáticos até nódulos granulomatosos, e expressar-se clinicamente,
como
tosse, hemoptise, pleurite, dispnéia edesconforto torácico2'3°8.
O
acometimento
ocular(em
52%
dos pacientes) 3 variade
ligeira conjuntivite até dacriocistite, episclerite, esclerite, esclerouveíte granulomatosa,~
uveítes, vasculites retinianas, vasculite
dos
vasos ciliares e lesoes expansivasretroorbitárias
que
acarretam proptose 3'8.As
lesões cutâneas estão presentesem
cerca de45%
dos pacientes3”16 eaparecem
como
pápulas, vesículas,púrpura
palpável, úlceras,nódulos
subcutâneos 1'3'8.
O
acometimento
cardíaco,em 8 a15%
dos
pacientes 3'16, manifesta-secomo
pericardite, vasculite coronariana e miocardiopatia 13.
As
manifestaçõesdo
sistema nervoso,em
15 a23%
dos pacientes 3'16incluem
neurite craniana,mononeurite
múltipla , vasculite e/ougranuloma
1,3,s
cerebral .
A
doença
renal,que
sedá
entre50
e85%
dos
pacientes M6,com
diferentes grausde
comprometimento,
é degrande
importância, jáque
condicionao
cursoda doença
e explica a maioria dasmortes
16.A
lesão renal, iniciada geralmente poruma
glomerulite 3ou
GN
16segmentar
e focal,costuma dominar o quadro
clínico e, senão
for tratada, é responsável diretaou
indiretamente pelamaior
parte
da
mortalidade nessadoença
3.O
pacientepode
inicialmente ser assintomáticoou
apresentar-secom
acometimento
renalna forma
latente,no
entanto, é incontestável que, após aocorrência de deterioração clinicamente identificável
da
função renal,em
geralinstala-se
uma
insuficiência renalrapidamente
progressiva, anão
serquando
é instituídoo
tratamento apropriado 3.Pode
evoluircom
insuficiência renalcrônica, as vezes
complicada
por hipertensão arterial 1.Enquanto
adoença
continua ativa, a maioria dos pacientes apresentasintomas e sinais inespecíficos
como
anorexia, perdade
peso, mal-estar,fraqueza, artralgias e sinovites.
A
febrepode
indicar atividadeda doença
vias aéreas superiores 3
sendo
o
Staphylococcus aureuso organismo mais
encontrado
1.A
~
ALTERAÇOES
LABORATORIAIS
Os
achados
laboratoriais característicosincluem
elevaçãoda
VHS,
PCR
emucoproteínas, anemia, hipergamaglobulinernia (particularmente
da
classeIgA)
e fator reumatóide
levemente
elevado 3.A
trombocitosepode
serobservada
como
um
reagenteda
fase aguda; ahipocomplementernia
não
costuma
serobservada, apesar
da
presença deimunocomplexos
circulantesem
algunspacientes 3 .
A
evidênciade
creatinina>
0,l0mmol/L
8
, proteinúria, hematúria e
cilíndros hemáticos 2'8
no
parcial de urina alertam para
uma
evoluçãocom
GN.
Um
alto percentual dos pacientescom
GW
desenvolve anticorpos anticitoplasma
de
neutrófilos(ANCA).
A
terminologiade
padrão citoplasmáticoou
c-ANCA
refere-se ao padrão granular e irregularobservado
por microscopiacom
imunofluorescência
quando
os anticorpos séricosunem-se
a certoscomponentes
do
citoplasma existentes nos neutrófilos indicadores.A
proteinase-3,
que
é a proteinase serina neutra presente nos grânulos azurófilosdos
neutrófilos, foi identificadacomo
o principal antígenoc-ANCA.
Apesar
deANCA,
sobretudo anticorpos perinuclearesou
p-ANCA
(dirigidoshabitualmente contra a mieloperoxidase
ou
elastase),terem
sido descritosem
outras
síndromes
vasculíticas.Os
títulos dosANCA
apresentam
boa
correlaçãocom
a presença e atividadeda
doença, títulos positivos são verificadosem
50
a96%
dos pacientescom
GW.
Títulos elevadosou
aumentando sugerem
recidivaou
progressão;decréscimo
ou
ausênciasugerem
remissaoda
doença.A
sensibilidadedo
exame
variade
78
a100%
na doença
ativa e disseminada,60
a70%
na doença
limitadaao trato respiratório superior, e
30%
nos
casosde
remissão.A
especificidade oscilaem
tomo
de
80%.
A
média
de falso negativos é de2
a5%,
ocorrendo
principalmente
nos
estágiosmenos
ativos,formas
limitadasou
localizadas ena
Granulomatose de
Wegener
puramente
granulomatosa.A
média de
falsos positivos éde 10
a20%,
ocorrendo principalmente nas outras patologias vasculíticas.O
método
de
ELISA
tem
sidousado
para indentificação dosANCA,
visandopermitir
uma
determinação quantitativa,aumentando
a sensibilidade e especificidade para90
a95%
e reduzindo os falsos negativos e positivos paramenos
de1%.
Não
existe evidência clara deque
osANCA
desempenhem
qualquer papelprimário
na
patogeniada
GW.
Embora
o
potencial desta ferramenta diagnóstica, deve-se considerarno
momento
a identificação deANCA
não
elimina a necessidadede confirmação
histológica para
o
diagnóstico.EVIDÊNCIAS
RADIOLÓGICAS
zOs
achados
radiológicos são importantesnão
só para auxiliarno
diagnóstico,mas também
para estimular a suspeitada doença
diantede
casoscom
outro diagnóstico,porém
com
evolução diferentedo
esperado. Diantedisto, a verificação radiológica de
pan
sinusite, infiltradopulmonar
com
ou
sem
cavitação,nódulos
pulmonares
podem
ser decisivas para a definição diagnósticas
A
radiografiade
tórax estáanormal
em
cercade
50%
dos
casos,sendo
aTC
de
bom
padrão para delinear a extensãode
massas
inflamatórias, assimcomo,
de partes moles,
enquanto
a endoscopia permite a visualização direta das lesões e obter material para biópsia.AcHADos
H1sToPAToLÓG1cos
O
exame
padrão
ouro para o diagnósticode
GW
é a análise histopatológica.A
identificaçãode
vasculitegranulomatosa
necrotizantede pequenos
vasos é tidacomo
característica destadoença
2,sendo
por alguns autores consideradacomo
patognomônica
se associada a presença degranuloma
em
paliçadas 5 .Biópsias
de
lesões típicasna cabeça
e pescoço,mostram
alteraçõesinflamatórias
com
vasculite e necrose,mas
nem
sempre
granulomas;fenômenos
secundários a tecidos infartados
podem
também
estar presentes.Em
um
estudode 126
biópsias tecidosde
cabeça epescoço
em
70
pacientescom
GW,
encontrou-se vasculite, necrose einflamação
granulomatosa
em
16%
das amostras, vasculite e
inflamação
granulomatosaem
21%
e vasculite enecrose
em 23%
8.Nos
locaisenvolvendo
cabeça e pescoço, a biópsia nasal fornece amelhor
coleta,
mas
crostas e debrisdevem
serremovidos
para verdadeirarepresentatividade.
O
maior rendimento
diagnóstico ocorrecom
a biópsiapulmonar
acéu
aberto,onde
geralmente se encontra vasculite granulomatosa.Na
doença
renal, são encontradas vasculites, raramente granulomatosas,que
podem
variarde
GN
segmentar e focal paraGN
necrozante crescênticarapidamente progressiva.
O
tecido nervosopode
mostrar vasculite eCLASSIFICAÇAO
Por
muitos anos se acreditouque
a tríade clássica descrita porWegener
precisava estar presente para
o
diagnósticode
Granulomatose de Wegener.
Estaidéia significava atraso
no
diagnóstico e tratamentoda
doença.Mais
recentemente,
uma
nova
classificação foi desenvolvida eum
critériomínimo
para
o
diagnóstico foi redefinido.De
acordocom
estenovo
sistema asformas
de
GW
são: clássica, limitadaou
localizada eGW
puramente granulomatosa
(GWPG).
A
forma
clássica, conhecidacomo
disseminada, generalizada, sistêmicaou
difusa,
tem
como
sua característica a glomerulonefrite necrotizante.O
conceito deuma
forma
lirnitadavem
sendo
propostodesde
vários anos,ganhando
corpocom
a classificação deDeRemee,
que
dividia adoença
em
lesões otorrinolaringológica
(ORL),chamadas
tipo E(ear), pulmonares, tipoL
(lung) e renais, tipoK
(kidney),onde
poderia-se diferenciarformas
com
apenasmanifestações
ORL
ou
pulmonar,ambas
ORL
epulmonar,
eenvolvimento dos
três sistemas.
Hoje
aforma
limitadaou
localizada designaenvolvimento de
órgão único,
que
em 40%
dos casos éo
rim. Estaforma deve
ser auto-limitadaou deve
progredir para afonna
clássica.A
hipótese parauma
terceira forma,GWPG,
estábaseada
no
conceitoque
granuloma
extra vascular,envolvendo
primariamente ouvidos, nariz, garganta,olhos
ou
pulmões,podem
representar a primeira e única manifestaçãode
GW.
O
diagnóstico
pode
ser feito neste estágio sec-ANCA
é positivo. Estaforma
pode
progredir para aforma
clássica,com
ou
sem
passagem
atravésda
forma
limitada.Lesões
em
diferentes locaispodem
demostrar estágios diferentesda doença
facilitará os diagnóstico precoce
da
GW,
especialmente nos pacientescom
envolvimento apenas
decabeça
e pescoço. IEm
uma
tentativade
diferenciar aGW
de outras formas de vasculites,assim
como,
facilitaro
diagnóstico precoce desta doença,o
ColégioAmericano
de
Reumatologia
publicouum
conjunto de critérios para o diagnósticode
GW
1.Se
aomenos
doisdos
quatro critérios estiverem presentes, o diagnósticopode
serfeito
com
uma
sensibilidade de88,2%
e especificidadede
92%
1.I - Tabela : Critérios para a Classificação
da Granulomatose
deWegener
Inflamação
nasalou
oral úlceras orais dolorosasou
não
ou
descarga nasal pio-sanguinolenta
Radiografia de tórax alterada nódulos, infiltrados fixos
ou
lesõescavitárias
Sedimento
urinário microhematúriaou
cil. hemáticosInflamação
granulomatosa
inflamação granulomatosazna
parededa
(ou hemoptise) artéria
ou
arteríolaou
perivascular/extravascular
Colégio
Americano
de
Reumatologia,1990
1.DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
IEm
sua manifestação típica,o
complexo
clinicopatológico clássicoda
GW
permite habitualmente a diferenciação imediata
de
outros distúrbios. Entretanto,quando
as manifestações típicasnão
estão presentes aomesmo
tempo,
seránecessário diferenciá-las
de
outras vasculites, sobretudo angiíte' alérgica egranulomatosa,
síndrome de
Goodpasture, tumores das vias aéreas superioresou
Particularmente importante é a diferenciação
da doença
destrutiva idiopáticada
linha
média (granuloma
idiopáticoda
linha média) e das neoplasias das vias aéreas superioresque
podem
produzir erosão atravésda
peleda
face, característica essa observada apenas raramentena Granulomatose
deWegener.
De
particular importânciano
diagnóstico diferencial é adoença
denominada
Granulomatose
linfomatóide 2. Esta se caracteriza poracometimento
do
pulmão,
da
pele,do
sistema nervoso central e dos rins,com
infiltração angioinvasiva dostecidos por células linfocitóides e plasmocitóides atípicas.
A
esse respeito, difere claramenteda
GW,
poisnão
se trata deuma
vasculite inflamatóriano
sentido clássico,mas
apenas deuma
infiltração dosvasos
com
célulasmononucleares
atípicas; osgranulomas
podem
estar presentesnos
tecidos afetados.Aproximadamente
50%
dos pacientesdesenvolvem
um
verdadeiro linfoma maligno.A
Outras patologias
também
fazem
partedo
diagnóstico diferencialda
GW,
como,
asíndrome
de Churg-Strauss(vasculite necrosante sistêmica, intensaeosinofilia periférica,
asma
brônquica egranuloma
eosinofílicona
histopatologia), poliarteritenodosa
(vasculite necrosante sistêmica afetandovasos de
pequeno
emédio
calibres, especialmente dos rins, associadocom
hipertensão e aneurismas
da
vasculatura abdominal,demonstrados por
angiografia) e policondrite recidivante 8.
A
presençade
c-ANCA
revelou serextremamente
útil para a diferenciaçãoem
relação a todas asdoenças
precedentes 3.A
presença dedoença
renal isolada, por exemplo,GN
necrosantesegmentar
e focal é inespecífíca para
GW,
devendo-se buscar inicialmenteuma
outra etiologia para adoença
8.TRATAMENTO
Antigamente, a
GW
era sistematicamente fatal,em
geral dentrode poucos
meses
após o inícioda
doença
renal clinicamente aparente.Os
glicocorticóidesisoladamente
produzem alguma
melhora
sintomática,com
pouco
efeito sobre aevolução definitiva
da
doença, estandobem
esclarecidoque
0 tratamentode
escolha dessa
enfermidade
é a ciclofosfamida administrada nas dosesde 2
mg/kg/dia
por via oral.No
inícioda
terapia, os glicocorticóidesdevem
ser administradosjuntamente
com
a ciclofosfamida, pois esta levade 2
a 3semanas
parademonstrar
seus efeitos,sendo
que, esteróides, geralmente prednisona 1mg/kg/dia,
deveriam
sermantidos
porum
período de2
a4
semanas
para entãoser retirados gradativamente
em
6
meses
e descontinuados.~
Com
a utilizaçaodo
esquema
anteriormente descrito, o prognóstico dessadoença
é excelente 8; observa-seuma
grande melhora
em
maisde
90%
dospacientes 25, e as remissões completas são conseguidas
em
75%_ dos pacientes.A
ciclofosfamidadeve
ser continuada porum
ano
após a induçãoda
remissãocompleta
e, daíem
diante, será reduzida gradualmente atépoder
sersuspensa
3.Com
essaabordagem,
a remissão clínica, definidasegundo
FAUCI
como
estabilização
da
atividadeda doença ou
ausênciacompleta
de atividadeda
doença
8,em
geralpode
ser induzida emantida
sem
acarretaruma
leucopenia severacom
seu risco associadode
infecção.Embora
seja capazde
salvar a vida dos pacientescom
GW,
a ciclofosfamidapode
não
ser tolerada por certos pacientes,provocando
efeitos colaterais gravescomo
cistites hemorrágicas, supressãoda
medula
óssea, leucopenia,doença
pulmonar
intersticial e neoplasias,em
particular, linfoma 1. Nestes casos,esquemas
terapêuticos alternativostem
sido propostos,como
o
uso de
Ainda
são necessários estudos adicionais, realizados por períodosde
tempo
mais
prolongados
para consubstanciar a eficácia destes tratamentos.Na
tentativa de diminuir os efeitos colaterais dos imunossupressoresem
uso
corrente
no
tratamentoda
GW,
tem
surgido várias propostas denovos modelos
de tratamento. Radioterapia local, plasmaferese, antagonistasdo
folato etrimetoprim-sulfametoxazol (TS) são citados 1.
O
usodo
TS
tem
sido bastanteestudado, acreditando-se tratar de
uma
droga
relativamente seguracom
poucos
efeitos colaterais 1.
O
mecanismo
de
ação proposto inclui efeitosantimicrobianos e antiinflamatórios, assim
como,
imunossupressão
por
inibiro
metabolismo do
folato.Os
efeitos são apenas supressivos etem
recentemente
sido
usado
com
sucessona
forma
localizadada
GW
envolvendo o
trato respiratório superior 14 e para ajudar amanter
a remissão clínicada
doença
15.PRoGNÓsT1co
A
GW
éuma
desordem
progressiva e mutilante amenos
que
seja tratadaadequadamente. Antes do desenvolvimento de
um
regime
terapêuticoque
obtevesse sucesso, a
doença
era letalem
poucos meses
após a instalaçãode
acometimento
renal.Mais
de80%
dos pacientesmorreriam
no
primeiroano de
diagnóstico e
mais de
90%
sucumbiriam
aofim
do segundo
ano.Atualmente
asmanifestações definitivas resultam
do
extensocomprometimento
renal e grausvariados
de envolvimento
pulmonar.A
terapiacombinada
usando
drogascitotóxicas e corticóides
tem
resultadoem uma
média
de95%
de
rernissõesna
forma
clássica deGW,
ena
maioria dos casos a curatem
sido possível.Apesar
das remissões induzidas peloesquema
terapêutico anteriormentedescrito,
o
acompanhamento
alongo
prazo dos pacientes revelouque
em
cerca de50%
dos casos,ocorrem
recidivasda doença
nos primeiros 5anos de
0 sinusites, otites, ulcerações nasais
ou
massa
proliferandono
narizcom
padrão
histológico de
inflamação
granulomatosa
necrotizante0 infiltrados pulmonares,
na
ausênciade
infecções,com
aumento
dos níveisde
PCR
0
GN
rapidamente progressivaou
GN
com
evidência histológicade
lesõesnecrotizantes
0 rniscelânea ( déficit neurológico sensorial
ou
motor, vasculite cerebral definida, estenose traqueal, esclerite necrotizante,gangrena
periférica, rashpurpúreo, poliartrites e vasculites necrotizantes
de
artérias muscularesde
médio ou
pequeno tamanho)
Consegue-se
quasesempre
uma
nova
induçãoda
remissão; contudo,um
alto percentual dos pacientesacaba
sofrendoum
certo grau demorbidade
em
virtudedas características irreversíveis
de
sua doença, taiscomo
graus variáveisde
insuficiência renal, déficit auditivo, estenose traqueal,
Defonnidade
com
nariz2.
OBJETIVO
Relatar
um
caso deGranulomatose de
Wegener
que
tevecomprometimento
3.
RELATO DE CASO
Paciente
M.
C. S. R. ,52
anos,feminina
, branca,do
lar, naturalde
Dom
Pedrito-RS e procedente de Florianópolis-SC.
Procurou
atendimentomédico
em
04-10-94
com
a história dehá
setemeses
ter apresentadozumbido
e sensação de plenitudeno ouvido
esquerdo(E),com
melhora
completa.Há
cercade
quatromeses
refere iniciarcom
sensação de plenitude'nos
ouvidos;zumbidos,
otalgia,hipoacusia e otorréia escassa a direita (dir).
Nega
febre,emagrecimento,
artralgias, rash cutâneo , sintomas nasais, vertigens e outras queixas.
No
exame
físico geralnão
apresentava anormalidades eno
exame
otorrinolaringológico mostrava rinoscopia anterior e posterior, oroscopia, laringoscopia indireta e palpaçãodo pescoço
normais. Rirmie negativo dir e positivo à esquerda (esq),Weber
dir.Na
otoscopia:ouvido
E
normal
eouvido
direito(D)com
secreção escassa, importanteespessamento da
membrana
timpânica(MT)
com
pequena
perfuraçaono
quadrante póstero inferior.A
nasofibroscopia
mostrava
cavidades nasais livres,sem
secreções, septo~ centrado,
meatos
médios
livres,cavum
livre e tubas auditivassem
alteraçoes.Iniciou antibioticoterapia(Cefuroxima)
com
a hipótese deOM
subaguda.A
reavaliação
em
10
diasnão mostrou
melhora. Radiografia de tórax e seiosda
face
mostravam-se
normais.Optou-se por
novo
curso de antibiótico(Ofloxacina)
e corticóide, oque
após10
diasnão
trouxe melhora.Exames
laboratoriais
revelavam
hemograma
(Hg), glicemia,VDRL
e parcialde
urina(PU) normais,
VHS
aumentada
(31mm3
)na
primeira hora(1°h). Foiindicado colocação
de
tubo de ventilação parao ouvido
D, sendo solicitadoDecorridos 7 dias, a paciente
retoma
naemergência
do
HospitalGovemador
Celso
Ramos(HGCR),
com
quadro de desvio da comissura labial dir e dificuldades paramovimentar
a pálpebra dir, teste de Schirmer negativo.Constatou-se paralisia facial periférica a dir, abaixo
do
gânglio geniculado,provavelmente
a níveldo ouvido
médio.Apresentava
radiografia de tóraxnormal
eTC
dos ossos temporaismostrando
a presença de tecidocom
densidade de partes
moles
nas células da mastóide dir e ouvidomédio
D.Formulou-se
a hipótese de oto-mastoidite crônicanão
colesteatomatosa dir.Figura 1 -
Imagem
daTC
de ossos temporaismostrando
densidade de partesA
paciente foi internada, sendo realizadaTimpanotomia
exploradorano
ouvido
D,que
revelou hipertrofiada
mucosa
do
ouvido
médio
com
sangramento
importante e presença de secreçãomucóide
escassa (coletada paracultura). Iniciou-se antibioticoterapia (Cefazolina sódica, Ceftazidima,
Amícacina)
e corticóide,mas
a paciente evoluiucom
melhora
discreta.Os
exames
laboratoriais,Hg,
uréia, creatinina, glicemia,hemoglobina
glicosilada,cálcio sérico, eletroforese de proteínas e
PCR
estavam
normais.Mostravam-se
elevados:
VHS
(26mm3
na 1°h), Fosfatase Alcalina(792 u/1) eMucoproteínas
(6,1mg/dl).A
pesquisade
anticorpos antiHIV
1 e2
mostrou-senão
reagente e acultura de secreção de
ouvido
foi negativa.Na
TC
de
rochedos e base de crânio realizadano
13° dia pós operatório(PO)
identificou-se destruição parcial das células mastoídeas dircom
presençade
nível líquido,mostrando
piorada
oto-mastoidite a dir (Figura 2).i
,. I
Figura 2 -
Imagem
deTC
de rochedosmostrando
destruição parcial das célulasUma
avaliação pelo serviço deReumatologia
foi realizada,novos
exames
laboratoriais (bilirmbinas, transaminase glutâmico-oxalacética
(TGO),
transaminase glutâmico-pinivica (TGP), gama-glutamil-transpeptidase
(GGT),
fosfatase alcalina total e frações termolábil e termoestável)
mostravam-se
normais. Concluiu-se pelo diagnóstico de paralisia facial periférica dir de
etiologia
não
autoimune,sem
evidência dedoenças
linfoproliferativa /granulomatosa.
Realizado
exame
de ressonânciamagnética
de crânio e osso temporal D,que
mostrava
além do comprometimento
mastoídeo, presença decompressão do
nervo facial intra-petroso dir,
não havendo
características neoplásicas (Figura3). Diante disto, optou-se pela mastoidectomia dir e
remoção
damassa
com
descompressão do
newo
facial D.Figura 3 -
Imagem
daRM
mostrando
comprometimento
mastoídeo eApós
oprocedimento
cirúrgico, a paciente teveuma
boa
evolução e recebeualta hospitalar
sem
queixas otológicas,com
evidências demelhora
gradativada
paralisia facial e
em
uso
de antibiótico(Cefadroxil).A
paciente procurou oHGCR
9 dias após a alta hospitalar,onde
intemou
apresentando
queda do
estado geral, astenia, poliartralgia (punhos, cotovelos,joelhos e tomozelos), surdez dir e obstrução nasal esq,
com
períodosde
rinorréia serosa e
com
a paralisia facial periférica dir,negando
outras queixas.Ao
exame
físico mostra-seem
regular estado geral, descorada, afebril, sinaisvitais estáveis, desvio
da
comissura labial direita e dificuldades paramovimentar
a pálpebra direita, otoscopia nonnal.Aparelho
cardio-pulmonar eabdome sem
anormalidades,mantendo
aparelho osteoaiticularsem
sinaisou
sintomas anormais.
A
paciente traziao
resultadodo
exame
anátomo-patológicoda
massa
removida na
última cirurgia.O
material foi analisadopor
dois laboratórioscom
os seguintes resultados :Laboratório 1 : cortes de tecido fibroconjuntivo
contendo
vasos capilaresneoformados
reacionaiscom
denso
infiltrado linfo-plasmocitário e presençade
macrófagos
espumosos
além de
raras células gigantes tipo corpo estranho.Diagnóstico histopatológico : tecido de granulação
com
inflamação
crônicainespecífica, compatível
com
colesteatoma.Laboratório 2 : fragmentos de tecido
fibroso
com
pequenas
porçõesde
revestimento epitelial
escamoso
apequenas
porçõesde
material calcificado.Há
áreas
de
necrose efonnação
degranulomas
constituídos por histiócitos arranjadosem
paliçadas ao redor de áreas de necrose e infiltradosde
neutrófilos.Há
células gigantes multinucleadas .Não
foram
vistosorganismos
específicos e a coloraçao para
BAAR
é negativa.O
aspecto histopatológico éA
investigaçao laboratorialmostrava
Hemoglobina
de 9,2g eHematócrito
de
26%
com
leucócitos e plaquetas normais, glicemia, uréia, sódio e potássio plasmáticos,TGP,TGO,
GGT
e fosfatase alcalina, fator anti núcleo e fatoresde
complemento
(C
3,C
4
eCH
50)estavam
normais. Níveis altos de creatinina(1,56),
Mucoproteínas
(13,3mg/dl),PCR
(54,5mg/dl), fator reumatóide (49,4) eVHS
(134mm3
na
l°h), verificou-se hipoproteinemia (5,2 g)com
hipoalbuminemia
(2,42g) na eletroforese de proteínas eno
PU
notava-seproteinúria
(2900mg/ml),
cilindrúria (200 cil. hialinos,200
cil. hemáticos e200
cil. granulosos), leucocitúria (35000/ml), hematúria (1280000/ml) e
poucas
bactérias.
A
investigação radiológica mostravaTC
de tórax revelando infiltradopulmonar
difuso (Figura 4) e consolidaçãoirredondada
no
lobo inferiorD
(Figura 5).‹ i
Figura 5 -
Imagem
deTC
de tóraxmostrando
consolidaçãono
lobo inferior D.Diante dos dados clínicos, radiológicos, histopatológicos e laboratoriais a
paciente foi diagnosticada
como
apresentandoGW
em
atividade, iniciando-setratamento
com
prednisona lmg/kg/dia e ciclofosfarnida Zmg/kg/dia.Outros exames,
TC
de crânio e seios da facemostravam-se normais
(Figura6),
TC
de ossos temporais evidenciava lesãogranulomatosa
associada a esclerose e destruição ósseada
mastóide e ouvidomédio
D
(Figura 7).Dosagem
de anticorpos
c-ANCA
e anticorpos anti citoplasma de neutrófilo, padrão perinuclear(p-ANCA)
mostraram-senão
reagentes.A
pacientemostrou
franca recuperação e recebeu alta hospitalarem
Figura 6 -
Imagem
deTC
de seios da facecom
aspecto normal.
Durante
oacompanhamento
ambulatorial, a paciente evoluiucom
melhora
clínica, radiológica e laboratorial, associando
medicações
para vestibulopatia aotratamento da
GW.
Após
6meses
de tratamento a paciente mostravaexames
laboratoriais e radiológicos normais,
mantendo
como
seqüela perfuraçãoda
MT
dir e perda auditiva neurossensorial severa dir, identificada pela audiometria.
Com
11meses de
tratamento iniciou-se a retirada gradativa dosimunossupressores,
porém,
decorridos 3meses
a paciente tevequadro
desinusite
aguda
eOM
aguda
dirque cederam
com
antibioticoterapia,no
entanto,passados 2
meses
a paciente apresentouquadro
dedoença
ativa (febre,artralgias,
VHS
aumentado
(50mm3
na 1° h), proteinúria (325mg/ml), hematúria(640000/ml), cilindrúria (400 cil. hialinos),
que cedeu
após pulsoterapia deJ!
I E
I l
Figura 7 -
Imagem
deTC
de ossos temporaismostrando
granuloma, esclerose edestruição óssea
na
mastóide eouvido
médio
D.Com
evolução favorável, 2 anos e 5meses
assintomática, a pacientemantém
a perda auditiva dir,
mas
mostrou
remissãocompleta
da paralisia facial.Há
4
4.
D1scUssÃo
A
GW
éuma
doença que
tem
disfarçado sua apresentação sob aforma de
várias patologias, tanto clínica, radiológica quanto histopatologicamente 1
_
Com
1 ~
~ 1 1 ~
uma
evo uçao
nem
sempre
previsivel, ela envolve zqualquer orgao,manifestando~se de
forma
localou
sistêmica. Vários estudostem
demonstrado
que na
maioria dos casos as primeiras manifestaçõesocorrem na
área otorrinolaringológica, destacando-seo
acometimento
das vias aéreas superiores,principalmente a ragião nasal e seios
da
face 1”2'3'4'8.No
caso relato,em
momento
algum houve
acometimento
nasal,de
nasofaringe
ou
seiosda
face, evidenciando-seo
comprometimento
otológicocom
evolução para aforma
sistêmica.Os
trabalhosapontam
que o
acometimento
otológicopode
ocorrerem
cerca de40%
dos casos 2,sendo
que
em
20%
aparececomo
a primeira manifestação 3,como
o
verificado neste caso.A
identificaçãode
OM
aguda,OM
secretora e perda auditivatem
sido verificadaem
casos deGW
1'2”4.O
envolvimento
da
mastóidenão deve
ser
. . 4 A . .
considerado infrequente ,
mas
como
uma
consequencia decorrenteda anatomia
da
região 4. Otomastoidite,como
a descritano
caso, cursandocom
lesãogranulomatosa ocupando ouvido
médio
e destruição óssea,também
é relatadaem
outros estudos 1'2”4que consideram
comum
o
aparecimentode
perda auditivano
ouvido
afetado. Esta perda auditiva,em
geral condutiva L2,pode
serdo
tipo. . 1 .. . . . .
neurossensorial
ou
mista .Em
relaçao ao tipo neurossensonal, evidenciadana
~ -
paciente
em
questao, até omomento
nao
se estabeleceuuma
patogênese
definida 2 , acreditando-se
como
hipóteses, vasculiteda
vasavasorum
do
VIII. , . . . . 2,4 . ,
seria a
compressão
nervosa pelo granuloma,menos
aceita neste caso, já que,a
~
paciente
manteve
a perda auditivamesmo
após adescompressao
cirúrgica.A
recuperaçãoda
hipoacusia neurossensorialcom
uso de corticóides eciclofosfamida
tem
sidopouco
freqüente 4,contudo
pode
ocorrer 13.A
paralisia facial é descritacomo
decorrentedo
acometimento,em
geral,do
. 4 . . . - .
69 ,79 e 8 9 pares cranranos , considerando-se a drsseminaçao da vasculite
como
a principal etiologia 4.
A
extensãodo granuloma
atravésdo ouvido médio,
atingindo
o nervo
facial e afetando as células mastoídeas,como
no
caso, é relatadaem
outros estudos 2”4 ,onde
a paralisia facial periféricatambém
estavaassociada.
No
tratamento desse tipo decomprometimento,
tem-se consideradoo
uso
de imunossupressorescomo
mais efetivodo que
a mastoidectomia 2 ,no
entanto, esta
tem
sido associadaem
alguns casos 2 .No
caso aqui relatado, estaavaliação ficou prejudicada, pois foi após a mastoidectomia, baseando-se
nos
achados
histopatológicos,que
obteve-seo
diagnóstico deGW.
A
melhora da
paralisia facial
com
a cirurgia e antesdo uso
dos imunossupressores,nos
fazpensar
que
acompressão mecânica do nervo
facial tenha intensificado os efeitosda
vasculite.No
entanto, a evolução favorávelcom
ouso
dos
imunossupressores,
nos
revela a efetividadedo
usomedicamentoso.
No
caso,não
sepode
afinnar se este tratamento tevemais
eficácia,ou
se a associaçãocom
a cirurgia foi a responsável pelamelhora
da
paciente.O
pulmão
acometido
pelaGW
pode
revelar desdeum
infiltrado aténodulações, apresentando-se assintomático
ou
com
manifestaçõescomo
desconforto torácico, dispnéia, tosse e
hemoptise
2'3'8.No
caso, a paciente
mostrou-se assintomática
e
durante a evolução desenvolveu infiltrado econsolidações
na
basepulmonar
dir, fato ocorrido após a mastoidectomia,sugerindo se tratar
de
consequência amanipulação do granuloma
ou
frutoda
O
comprometimento
renal,comumente
identificado por sinais e sintomasde
GN
(proteinúria, hematúria, cilindrúria), éde
vital importância, pois, a evoluçãocom
deteriorizaçãoda
função renal condicionao
prognósticoda
doença,sendo
. . , . .
1,2, .
a principal responsavel pela sua morbi-mortalidade 3.
No
caso descnto, essasmanifestações iniciaram-se
também
após amanipulação
cirúrgicado
granuloma,
o que pode
ter funcionadocomo
um
estímulo para a disfunçãode
um
órgão
que mantinha
adoença
em
uma
forma
latente.A
evoluçãocom
tratamento
medicamentoso mostrou
melhora
clínica e laboratorial,com
reversão...z
completa
do acometimento
renal,com
a paciente apresentando funçao renalnormal.
Diante
de
uma
doença
com
um
espectro tão variado de formas clínicas, a~ ~
utilizaçao de
exames
complementares
torna-se imperiosa para aconfirmaçao
diagnóstica.
Dados
laboratoriais característicosenvolvem
aumento da
VHS,
PCR
e presençade
imunocomplexos;
fatorreumatóide levemente
elevado 13.A
ocorrência de anemia, trombocitose e hipergamaglobulinemia, particularmente
da
classeIgA
também
écomum
15.Achados
específicospodem
ser vistos,como
nos casos
onde há
GN
decorrentesde
lesão renal.No
caso relatado, apesar das~ ~
manifestaçoes clínicas iniciarem-se
há
vários meses,nao
foi verificadoalterações laboratoriais características até a
doença
apresentar-seem
franca ~atividade. Essa situaçao
tomou
difícil e arrastadoo
processo diagnósticodo
caso, tal dificuldade
também
foi verificadaem
outros casos,onde
o diagnósticofoi estabelecido após 6
meses
do
iníciodos
sintomas 89.Uma
ferramenta diagnóstica interessantenos
casos deGW
é adosagem
de
ANCA,
considerados bastante sensíveis e específicos para adoença
1'2'3.A
sensibilidade oscila de
80
a100%
e a especificidadede
80
a95%
para a verificação dec-AN
CA
porimunofluorescência
indireta(IFI) nas doenças ativasrespiratório superior e a
30%
nos casosem
remissão L4.O
uso
demétodos
de
ELISA
para identificarANCA
tem
demonstrado
elevada sensibilidade eespecificidade
(95%)
com
cerca de1%
de falsos positivos e negativos, tendo avantagem
de
realizaruma
determinação quantitativa 1, importante para aidentificação e diferenciação dos casos
em
atividade, remissão e recidiva 4.A
dosagem
de
c-ANCA
ep-ANCA
da
paciente, através de IFI eWestem
Blott, foirealizada e mostrou-se negativa
mesmo
durante a fase ativa,com
acometimento
pulmonar
e renal. Situação idêntica foi verificadaem
caso cujas manifestaçõesiniciais
também
foram
a nível otológico 4.~ ~
A
investigaçao histopatológica atravésde
biópsiade
tecidos e órgaosafetados é fundamental, pois esta é considerada
exame
padrão ouro parao
diagnóstico
de
GW
1.A
identificaçãode
vasculite granulomatosa necrotizantede pequenos
vasos é tidacomo
característica destadoença
mo, sendo por algunsautores considerada
como
patognomônica
quando
associada agranuloma
em
paliçadasn.
Em
geral, nos pacientescom
adoença
são encontrados granulomas,vasculite, necrose, células gigantes multinucleadas
macrófagos
em
paliçadas e infiltrado neutrofílico 1'3'1°'n'12.As
biópsiasde
tecidospulmonares
tem
demonstrado
com
maior
frequência elementos diagnósticos 1(91%
dasamostras).
Na
doença
renal, são encontradas vasculites,nem
sempre
granulomatosas,
que
podem
variar deGN
segmentar
e focal(80%
das amostras1°) até
GN
necrozante crescêntica rapidamente progressiva 1.Em
estudoonde foram
analisadas biópsiasde
tecidosda
cabeça epescoço
de
70
pacientescom
Granulomatose
deWegener,
84%
mostraram
alterações patológicas inespecíficas 13,demonstrando
a dificuldadeno
diagnósticobaseado
somente nos
achados histopatológicos. Assim, tem-seque o
quadro histológico típicoou completo
nem
sempre
é essencial parao
diagnóstico 2,devendo-se
O
diagnóstico histológico partirde
tecidos obtidosdo ouvido
médio
não
écomum
2.No
caso descrito,pudemos
constatarque
aboa
análise e experiênciado
patologistatambém
pode
influenciarna
representatividade desteexame,
já que, as amostras obtidasna
mastoidectorniaforam
analisadaspor
dois serviçosanátomo-patológicos, constatando-se resultados diferentes,
um
revelandoachados inespecíficos e outro achados característicos
de
Granulomatose de
Wegener,
este praticamente selando o diagnóstico.Considerando
isto, identificamos neste casoum
achado
infrequente,ou
seja, diagnóstico histopatológico a partirde
tecidosdo ouvido médio.
A
morbi-mortalidadetem
como
principal causao
comprometimento
renal 16,sendo fundamental o
tratamentoda
doença, já que,em
pacientesnão
tratados amédia
de sobrevida éde 5 meses,
sendo que
82%
morrem
atéo
primeiroano
15 e maisde
90%
ao
final
do segundo ano
1.O
tratamentoda
GW
atualmente é preconizadocom
o uso
de ciclofosfamida(2mg/kg/dia) associada a glicocorticóide (lmg/kg/dia) ,
ambos
via oral3'5.
Com
a utilização
do esquema
anteriormente descrito,o
prognóstico dessadoença
é excelente 8; observa-seuma
grandemelhora
em
mais de
90%
dos pacientes, e asremissões
completas
são conseguidasem 75%
dos
pacientes 23.A
sobrevida éde
97%
no
primeiroano
de tratamento e de71%
ao finalde
10 anos 8.Apesar
das remissões obtidascom
os imunossupressores,o
acompanhamento
dos pacientes alongo
prazomostrou
que
50%
delesapresentam
recidivasem
5 anos, necessitando retomar a terapia inicial 15.A
maior
parte das recidivasacontecem
duranteo
período de retirada dos imunossupressores,respondendo
asua reintrodução 8. Isto foi verificado
no
caso relatado,onde
a pacienteapresentou recorrência após 1,4 anos
de
tratamento.A
remissão foi obtidacom
pulsoterapia
de
corticóide e retorno dos imunossupressores a dose inicial.O
mesmo
foi descritoem
caso recentemente publicado 9.A
ciclofosfamida apresentainúmeros
efeitos colaterais,sendo
a cistite amais
freqüente
(43%
3), outros efeitospodem
ser potencialmente letais, entre eles asupressão
da
medula
óssea, leucopenia,doença pulmonar
intersticial,. . .. . . 1
predisposição para neoplasia (linfoma) e
danos
noscromossomos
.No
caso, apaciente teve
boa
resposta ao tratamentocom
o
esquema
citado, evoluindocom
remissão
dos
sintomas ativos esem
os efeitos colaterais atéo
momento.
A
procurapor esquemas
terapêuticoscom
poucos
efeitos colateraistem
resultado
em
propostas denovos
modelos
de tratamento,como
o uso de
plasmaferese, antagonistas
do
folato,TS
e radioterapia local, cuja eficáciapermanece sendo
objetode
estudo e causade
discussão 13.Atualmente o uso
deTS
é omais
aceito,mas
apenasem
casosde doença
restritaao
trato respiratório superiorcom
vasculite disseminada 14ou
paraprevenção de
recidivasem
pacientescom
remissãoda doença
15.O
presente caso enfatiza a importância de consideraro
diagnósticode
GW
em
casoscom
envolvimento
otológicode
evolução atípica e de longa duração, alertando parauma
investigação diagnósticacom
achados
nem
sempre
característicos,