FERNANDO
GUEDES
DE
OLIVEIRA
ãflcifl.
.ZM
Wa
PERCEPÇÕES SOBRE
O
ENVELHECIMENTO
EM
IDOSOS PARTICIPANTES
DO GRUPO
DA
TERCEIRA
IDADE
Do
CENTRQ
DE
SAÚDE
Do CÓRREGO
A
GRANDE
Trabalho
apresentado à Universidade Federal de Santa Catarina,para
a conclusãodo Curso de
Graduação
em
Medicina.
Florianópolis
Universidade Federal de Santa Catarina
2004
M
M
Mí-
M
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ii.-
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›-‹ 0375077FERNANDO
GUEDES DE
OLIVEIRA
PERCEPCÕES soBRE
0
ENVELHECIMENTO
EM
IDosos PARTICIPANTES
Do GRUPQ
DA
TERCEIRA
IDADE
Do
CENTRQ
DE
SAÚDE
Do CÓRREGO
GRANDE
Trabalho
apresentado à Universidade Federalde
Santa Catarina,para
a conclusãodo Curso de
Graduação
em
Medicina.
Presidente
do
Colegiado:
Prof.
Dr.
Edson
José
Cardoso
Orientador: Dr. Iberê
do Nascimento
Florianópolis
Universidade Federal de Santa Catarina
AGRADECIMENTOS
Aos
meus
pais, José Luiz eAna
Lúcia, pelas oportunidades, pela segurança e,principalmente, pelo
amor
que
me
deram
em
todos os dias daminha
vida.Aos
meus
irmãos, Luísa e Luís, pela amizade e carinho nestes anos todosem
que
vivemos
juntos.Ao
Dr. Iberêdo
Nascimento, orientador deste trabalho, pela atenção e disposiçãodispensada durante este estudo e pelos conhecimentos transmitidos durante o intemato
em
Saúde
Públicano
C.S. Córrego Grande.À
agente comunitária de saúde, Vani Colombi,que
muito contribuiu para arealização das entrevistas.
À
toda a equipedo
C.S. Córrego Grande, por estarsempre pronta para ajudar os alunosdo
intematoem
Saúde
Pública.Às
pessoas entrevistadas, pela hospitalidade e'àpela zpart-icipação voluntária nesta pesquisa.SUMÁRIO
Agradecimentos ---
--
Resumo
--
--- -- ivSummary
--- -- 1. Introdução---
--- -- 2. Objetivo---
--.---- 3.Método
--- -- 4. Resultados e Discussão-
--- -- 5.Conclusão
--- ---z25
6.Normas
Adotadas
---
--- -- 7.' Referências ------
8.Anexos
--- -- iiiRESUMO
O
objetivo deste estudo foi identificar as percepções de indivíduos idosos, maioresde 60
anos, participantesdo Grupo
da Terceira Idadedo
C.S. CórregoGrande
em
Florianópolis/ SC, sobre o processo de envelhecimento e seus diferentes aspectos: a
imagem
do
idoso, família, saúde e doença, aposentadoria e lazer, futuro e morte. Trata-se deum
estudo qualitativo, o qual
submeteu
dez indivíduos aum
questionário semi-estruturado,entre
Novembro
eDezembro
de 2003.A
maioria das pessoastem
uma
visão negativado
envelhecimento associando-o a
um
conjunto de perdas. A' família é apontadacomo
um
elemento importante na vida do idoso, proporcionando apoio, segurança e evitando a
solidão.
No
núcleo familiar o idoso sevê
como
uma
pessoa experiente e sábia e, paramuitos deles, a principal função
do
idoso é a de dar suporte financeiro.A
percepção de saúde está relacionadacom
autonomia e independência.Os
idosospercebem
sua aposentadoriacomo
um
recomeço
de vida apesardo
baixo valor recebido, e muitos deles aindapermanecem
no mercado
de trabalho.A
aposentadoria é vistatambém como
um
períoäoÍdq`d_e"s`‹nnso e dešdpomânldades de lazer.
A
mortenão
éum
assunto sobre qual osidosos refletem
ou
se preparam,mas
eles aindamantêm
muitos planos e projetos para ofuturo.
SUMMARY
The
purpose of this studywas
to identify the perceptions of elderly people, with agehigher than
60
years, that take part of the ThidAge
Group
at the C.S. CórregoGrande
inFlorianópolis/SC, about the aging process and their different aspects: elderly image, family,
health and illness, retirement and leisure, future and death. It
was
a qualitative study,which
submitted ten individuals to a semi-structured questionnaire, between
November
andDecember
of 2003.Most
of the people have a negative perception of aging, associating itwith losses. Family is pointed as an important element in their lives, providing support,
security
and
avoiding loneliness. In the family nucleus, the elderly sees himself as anexperienced
and
wise person and, formost
of them, theirmain
fiinction is to provide financial support. Perception about health is related toautonomy and
independence. Theirperception of retirement is related to a
new
beginning, despite thelow
salary, andmany
ofthem
remain working.The
retirement is also seen as a period of restand
leisureopportunities. Death is not a subject
which
the elderly people conceive or even preparethemselves, but they still maintain plans and projects for the future.
1.
INTRODUÇÃÚ
seNas
últimas décadas observou-seum
nítido processo de envelhecimentodemográfico, levando a Organização das
Nações
Unidas a considerar o período de 1975 a2025
como
a Erado
Envelhecimento 1.No
Brasil,_na década de 1970, cerca de4,95%
da população brasileira era de idosos, percentual que pulou para8,47%
na década de 1990,havendo
a expectativa de a1cançar¬9,2% -em2010
1.De
acordocom
Cançadoz
(1994), oaumento do número
de idosostambém
tem
sidoacompanhado
porum
acréscimosignificativo nos anos
de
vidado
brasileiro.A
esperança de vida,que
eraem
tomo
de 33,7anos na década de 1950, deverá alcançar 77,08 na década de
2020
1.Este envelhecimento populacional, tradicionalmente visto
como
um
problemarestrito aos países europeus, atinge hoje todas as nações
do
planeta.De
fato, desde1980
mais da «metade das pessoas idosas vive
em
paísesem
desenvolvimento 3.Mas
os problemasgerados pelo grande crescimento da população idosa,
embora
presentesem
todas as regiões,são,
sem
dúvida, mais agudos nas nações de TerceiroMundo,
particularmenteno
Brasil,onde
oaumento do número
de pessoas da terceira idade é proporcionalmente maiordo que
nos países da
Europa
e nos Estados Unidos-3. Emš-lorianépolis, capital de Santa Catarina»-esegunda maior cidade
do
estado em-populaçãofiiàbitam 28.816-idosos (acima de-60 anos) *ÇDentre estes, 353 correspondem à população abrangida pelo Centro de
Saúde do
CórregoGrande
5, dos quais 56 são participantesdeGrupe‹1a
Terceira Idade.O
Grupo
da Terceira Idade iniciou suas atividadesem
maio
de2002
e é coordenadopela agente de saúde
Vani
Colombi, contandocom
a ajuda de maisnove
voluntárias da comunidade.As
reuniõesdo
grupo acontecem quinzenalmente, às terças-feiras, das 14:00às 17:00 horas. Dentre as atividades realizadas pelos idosos, destacam-se:
- Palestras
-
com
convidados especiais (médicos, fisioterapeutas, músicos,professores)
- Jogos
2
- Atividades artísticas
~
música e dança - Exercícios fisicos-
ginástica ecaminhada
O
objetivo pretendido peloGrupo
da Terceira Idade é a participação espontânea eativa nas ações de
promoção
e prevenção da saúde fisica e mental, através da integraçãocom
diversas formas de atividades fisicas, culturais e recreativas. Obtém-se, portanto, auto-suficiência -dos seus integrantes individualmente e
do
grupo,aumentando
sua qualidade devida.
É
oportuno lembrar queäílerianópeliséumaeidadequepossui
um
ake~%›
idosos (8,4%), sendo
uma
cidade muito procurada pelos idososque
seaposentam
4.Estes dados trazem a certeza de que não se
pode
ficar alheio aos múltiplosproblemas decorrentes
do
crescenteaumento
da população idosa.O
envelhecimento dapopulação traduz-se
não
sóem
maiornúmero
de problemas médicos crônicos edegenerativos,
mas
fundamentalmente,em
necessidades sócio-econômicas.Os
avanços daassistência
médica
e da medicina preventiva, e dos progressos tecnológicos são,paradoxalmente, as causas destes problemas médico-sociais.
De
qualquer forma,independente das causas
que
levam ao envelhecimento populacional é certo que,além
dosproblemas médicos, mais freqüentes e graves entre os idosos, associam-se outros,
comumente
presentesnum
mesmo
indivíduo. Assim, os cuidados que necessitam os idososnão se
reduzem
a assistência médica,mas
englobam,também
medidas deamparo
social eeconômico
3. Para isso, há necessidade de-se buscar as causas detenninantes das atuaiscondições de saúde e de vida dos idosos e de se conhecer as múltiplas facetas
que envolvem
o processo de envelhecimento. Vistas simplesmente pelo prisma biofisiológico significa
desconhecer os problemas ambientais, sociais, culturais e
econômicos
que, seguramente,em
maiorou
menor
extensão, participam da velhice 6.Há
que
se teruma
visão globaldo
envelhecimento enquanto processo, e dos idosos enquanto indivíduos, tentando
compreender
o envelhecer deuma
forma globalizada 3, abordando temas essenciais para aterceira idade, tais
como
saúde, doença, família, aposentadoria, lazer, independência,autonomia, futuro e morte.
Diante
do
exposto, considerou-se relevante realizarum
estudocom
a finalidade de conhecer os vários aspectos da vidado
idoso.O
intuito deste trabalho é contribuir parao3
desenvolvimento de novas formas de atuação profissional, visando melhorar, de
alguma
fonna, a qualidade de vida dos idosos. Infelizmente
no
Brasil o sistema de saúdevem
apresentando problemas que se agravam gradativamente, sendo
que
a intervenção da equipede saúde, principalmente
no
atendimento às pessoas da terceira idade, restringe-semajoritariamente nps níveis secundário-e terciário Ê.-Éjústamente nesses níveisque fatores
socioeconômicos, culturais e psicológicos se
somam
aos problemas médicos.Com
amelhoria na assistêpcia à saúde, é mais provável que o idoso supere certas doenças se tiver
o tratamento adequado; é mais provável que não sinta os efeitos
do
preconceito edo
isolamento se tiver amigos e familiares que o respeitem e acolham; é mais provável que não
sinta a perda da-ijuventude
como
algo destruidor, se tiver assimilado outros valores einteresses ao longo da vida; é mais provável que não sinta a proximidade da morte de forma
2.
OBJETIVO
Através de
um
estudo transversal e descritivo, pretende-se identificar as percepções de indivíduos idosos, participantesdo
Grupo
da Terceira Idade do C.S. Córrego Grande,em
Florianópolis/SC, sobre o processo
do
envelhecimento, abordando temascomo
aimagem
3.
MÉTODO
Este estudo foi realizado utilizando o
método
qualitativo, através da análise deconteúdo.
A
pesquisa realizou-seno
bairro Córrego Grande,no
período denovembro
adezembro
de 2003.Foram
entrevistados dez indivíduos maiores de60
anos, não institucionalizados eselecionados através de sorteio entre os participantes
do
Grupo
da Terceira Idadedo
C.S.Córrego Grande.
Os
dados foram obtidos através deuma
entrevista informal,com
auxíliode
um
questionário semi-estruturado(Anexo
II), tendo sido elaboradocom
perguntasabertas
com
a finalidade de identificar as percepções destes indivíduos sobre o processo deenvelhecimento.
Os
dados foram posteriormente analisados de acordocom
a literaturapesquisada.
Em
caso de desistência, o participante poderia realizaruma
comunicação
verbalao pesquisador principal
ou
à agente de saúde responsável peloGrupo
da Terceira Idade.As
entrevistas foram realizadas individualmente, na residência de cada participante,após o consentimento prévio
(Anexo
I), sendo registradasem
aparelho gravador e4.
RESULTADOS
E
DISCUSSÃO
4.1
A
Imagem
de
SiMesmo
A
todo omomento
os avanços da medicinaanunciam
novas descobertas para odiagnóstico e tratamento das doenças, o que
tem
contribuído para aumentar a esperança devida da população idosa. Importantes
mudanças
vêm
acontecendotambém,
nas relações dasociedade
com
a velhice e é notório o interesse dos estudiosos da Geriatria e Gerontologia,que
muitotêm
contribuído para esclarecer conceitos e divulgar conhecimentosque
fundamentam
a assistência à população idosaem
bases científicas. Apesar dessenovo
horizonte o imaginário coletivo sobre a velhice ainda é carregado de preconceitos, mitos e idéias errôneas.
Nesse sentido Beauvoir7 (1990) diz
que
o indivíduo é condicionado pela atitudeprática e ideológica da sociedade
em
relação a ele. Estes preconceitos estão de tal formaimpressos nas pessoas
que
podemos
perceber atémesmo
na palavra "desfavorável" usada por Lansag, gerontologista americano, ao definir o envelhecercomo
"um
processo progressivo demudança
desfavorável, geralmente ligado àpassagem do
tempo, tomando-seaparente depois da maturidade e
desembocando
invariavelmente na morte"."O que
sígnzfica desfavorável? " Questiona a autora citada.
Para Viguerag (2001), estas idéias
não surgem
por acaso,mas
são produtosdo
tipode sociedade a
que
pertencem.Em
uma
sociedadeonde
amudança
dos valores acontecenum
ritmo acelerado, a ciência e a tecnologia avançam, valorizando o novo, a produtividadee gerando
uma
crise que atinge de forma direta e perversa a pessoaque
envelhece,uma
vezque esta se vê colocada à
margem
do
processo produtivo, experimentando muitas vezessentimentos de inferioridade e inutilidade.
É
oque
se observouno
discurso da maioria dosentrevistados,
como podemos
notar nos seguintes depoimentos:“O
idoso éuma
pessoaque
se sente inútil... (67 anos).7
As
qualidades negativasque
são imputadas aos idosos, eles próprios asconhecem
esabem como,
a partir delas, eles são classificados,porém
individualmente não aceitam essaclassificação 7.
Em
outras palavras, se-por--um lado os idosos partilhamda
ideologia geralda sociedade sobre a velhice, por outro pessoalmente
nãese
incluem nesse modelo.É
issoque
notamos quando comparamos
duas perguntas. i`eitas aomesmo
participante da pesquisa.A
primeira é: Quais são as características deuma
pessoa idosa?A
segunda pergunta é: O(a)Sr(a). considera-se
uma
pessoa idosa?Vejamos
as respostas:“Éuma
pessoaque
não
tem maisânimo
de viver.É
uma
pessoa desprezada pela família...o idoso é
uma
pessoa que se sente inútil esem
vontadede
viver... ”(67
anos).“Eu
me
considero idosa,mas com
muita vontade de viver ainda.Com
o espíritojovem
"_(67 anos).
Através da
comparação
entre as duas respostasnotamos
uma
divergência.Ao
mesmo
tempo
em
que
a participante dizque
idoso é aqueleque nao
quer mais viver, ela,que se considera idosa,
afirma
ter» muita vontade de viver ainda. Beauvoir7 assinala aexistência de
um
mecanismo
característico de construçao da identidade socialonde
o velhonão sou “eu”
mas
é o “outro”.Quando
estemecanismo
é acionado as diferenças pessoaissurgem
e imediatamente se contrapõem à categoria genérica de velho.O
fato denão
sesentir incluído
no modelo
ideológico da velhice, por parte dos idosos, indicaum
avançono
caminho
paramudar
a concepção negativa da velhice.Vários são os preconceitos sobre o envelhecer
que somados
às mudanças, perdaseincertezas
que
acompanham
esta etapa da vida, transformam-seem
verdadeiros“fantasmas”
do
envelhecer. Isso dificulta a relação das pessoas, inclusive dos própriosidosos,
com uma
nova imagem,
levando-as a não perceber o envelhecimentocomo
um
processo dinâmico, gradual, natural e inevitável.
Quando
perguntado“O
que é oenvelhecimento?”, a maioria das respostas obtida o relacionou a doenças, incapacidades e
perdas (perda da independência,
do
vigor da juventude e da vontade de viver),como vemos
nos seguintes
fiagmentos
de discurso:“É quando a
pessoafica
fraca,não
consegue mais caminhar.Não
tem maisânimo pra
nada. Fica cheia de dores,não
quer mais viver”. (69 anos).8
“A gente perde muito aquele vigor
que
a gente tinha nessa idade,né?
A
gentenão
tem mais aquela força...Não
adianta dizer que tem,porque não
tem...Aquele
vigor jánão
setem mais.
Ainda
maisquem
temproblema
de saúde (67 anos).“É a pessoa
se tornar doente, inválida. É-a pessoa nãoapoder fazer mais nada,começar a
depender
dosfilhos ou
netos.Não
poder
mais caminhar, terque
andar
numa
cadeira derodas ”. (60 anos).
“É a
idadeque chega
né?É
quandoa
gentejáânãopode
mais
fazer tanto-eeq-ue-faziafQ~serviço
que a
gente fazia já temque
fazer menos.E
quantomenos
a
gente ƒizer daquipra
frente,
acho
quea
gente vai viver maisum
pouquinho, né? (72 anos).Neste último discurso percebemos a alusão a
um
tipo de aposentadoriaque
se diferedaquela legal, adquirida per--tempe-defiefviçez-›É
uma
segunda aposentadoria,come
assinalam Carlos et a19 (1999), detenninada pelos limites impostos pelo corpo e pelo processo de exclusão
do
mundo
do
trabalho, e que consisteem
um
dos fatores de declínioda dignidade
do
idoso.Uma
das característicasdo
nossotempo
éque
as pessoas estão vivendo mais,praticamente
em
todos os paísesdo mundo.
Contudo, esseaumento no número
de idososnão é
acompanhado
deuma
atitude mais tolerantecom
relação à velhice.Uma
característica marcante desse processo é a valorização da juventude, é a luta para mostrar
que é possível ser "jovem"
em
qualquer idade, pois a juventude, agora, longe de serum
grupo etário específico,
um
estágio na vida, transformou-seem
um
bem,
um
valor a serconquistado
em
qualquer idade,um
estilo de vida.A
seguir,veremos
trechos de discursosque
demonstram
essa busca pela juventude, renegando o envelhecimento:“Antigamente,
quando
tinhauma
senhoraou
um
senhor de 50, 60anos
diziam: aquelevelhinho, aquela velhinha. Agora,
não
tem mais isso.Porque
eu vejo pessoas de80 anos
que
não parecem
ter essa idade.Hoje
as pessoas secuidam
mais e searrumam
melhor.Porque
antigamente elasbotavam
aquele lencinhona cabeça
eum
vestidinho comprido, aí9
'Éu
soujovem!
Eu
quasenão
acompanho
os idosos (no grupo da terceira idade)porque
eusou jovem. Claro, às vezes
acompanho
pra
me
estruturarpra quando
eu for idoso ”. (60anos).
“Não
quero imaginara
velhice, pois queropermanecer sempre jovem
”. (72 anos).Segundo
o relatóriodo~F
órum
de Valênciassobrec
Envelhecimentow, realizadoem
2002, deve-se ampliar o conhecimento sobre os tipos de barreiras
que
impedem
uma
participação social,
econômica
e cultural da população idosa para quepossam
ser adotadaspolíticas que
atenuem
esses obstáculos. Dentre as recomendações na área de educação, orelatório
recomenda que
a educação básica deveriapromover
programas especiais paratransmitir
uma
imagem
positivado
idoso, demodo
que
as crianças desde cedopossam
considerar sua contribuição para a sociedade. Neste sentido, os estereótipos
que
associam aspessoas idosas à decrepitude, incompetência e fiagilidade
devem
ser combatidos ativamentedesde a infância. Apesar da maioria dos depoimentos colhidos (nove
no
total) associar os idosos e o processo de envelhecimento a aspectos negativoscomo
já foi visto,um
discursose caracterizou por abordar os idosos sob
uma
ótica mais positiva. Perguntada sobre quaissão as características de
uma
pessoa idosa, obtivemos a seguinte resposta:“É
uma
pessoa
vivida, experiente.Porque
tuddo
quea
gente faz até hojea
gentenunca
esquece que
foram
nossos antepassados quepassaram pra
gente.Nunca
esquecemos a
sabedoria deles.
São
coisas fundamentaisna
nossa vida. Sebem
quea
juventudede
hojequase
não
aceita, né?Dizem
que isso é coisa de velho, coisado passado
”. (60 anos).Aqui
temos o conceito de idosocomo
uma
pessoa sábia e que passa o conhecimento de geraçãoem
geração, conceito esse utilizado desde a Antigüidade “_ Nestemesmo
discurso, mais
uma
vez observamosque
o idosotem
a consciência deque
lhe são atribuídasqualidades negativas, desta vez pela juventude,
que
utiliza a palavra “velho” de maneirapej orativa, refenndo-se a algo cujo
tempo
já passou e nãotem
mais valor.A
mesma
participante da pesquisa,quando
perguntada o que significa oenvelhecimento,
deu
a seguinte resposta:10
Ainda
temosum
longocaminho
até conseguirmosmudar
a visãodo
envelhecercomo
uma
fase de perda e declínio. Apesar de todo o progresso, percebemos através destasentrevistas que idéias preconceituosas ainda persistem na vida dos idosos. Para D°Alencar12
(2002), mudanças-
podem
ocorrer pela via da educação, eque
os próprios idosos precisampreparar-se para viver positivamente esta etapa da vida, a oportunidade de sua (re) inserção
no
processo educacional formal indica o eixo norteador para novos aprendizados, inclusivede viver e envelhecer positivamente.
4.2
A
FamíliaÉ
importante reconheeer aimpoftâfieia dafamiliaedo
entrelaçamentedeafetosque-ela proporciona, e da proteção e
promoção
de saúdeque
representacom
relação aos idosos.Perante a pergunta “Qual é a função da família?” a maioria dos entrevistados ressaltou a importância dos familiares para oferecer apoio e segurança.
Segundo
Cabralu (1-998-), a--idéia---da familiacomo
refúgio e perto «segure-se apresentano
imaginário de todos nós e aparece de forma recorrente ao longodo
tempo,especialmente
com
relação aos grupos mais necessitados de proteção e apoio. Entre elesestão os idosos que antigamente “preparavam” o seu futuro tendo
uma
prole numerosa, oque
aumentava
a chance de receberum
suporte para a sua velhice.Hoje
esta realidade estámudando.
No
entanto,mesmo com
a reduçãodo número
de filhos ecom
amudança
nasrelações sociais, que
fazem
com
que
os filhosnão
sejam mais vistoscomo
um
capital e que,de fato, muitos deles
dependam
dos pais idosos, continua a existir a expectativa deque
cuidem
dos pais durante o envelhecimento. É---o quevemos
no
seguinte fragmento dediscurso:
“Até hoje
meus
filhos
não
precisaram ajudar, mas,no
diaque
precisar, eles vão ajudar”.(64 anos).
Jeckerm (1995) propõe
que
a maioria das pessoas concordaque
os paistêm
deveresll
responsabilidades, principalmente durante os primeiros anos de vida.
No
entanto, consideraa autora, existem opiniões variadas sobre se os filhos
têm
deveres paracom
os seus paisque
envelheceram.
Meyer
et al15‹-(1993)defendem
a existência desses deveres especiais. Elesapresentam vários fundamentos relativos à responsabilidade dos filhos adultos para
com
seus pais: gratidão, reconhecimento e deveres paracom
pessoas vulneráveis. Trata-sedo
atendimento da
norma
de reciprocidade, consagradaem
todos os contextos culturais,assinala Cabral”, e
que pode
ser-«observadanadepeimento
deuma
entrevistadaque
depende
da ajuda dos filhos:_V
se eu tivesse
uma
situação financeiramelhor
eu sustentaria eles.Quando
eu podia euajudava muito eles.
E
agora
estão retribuindo ”. (83 anos).O
apoio e a segurançaque
a família proporciona, seja através de ajuda financeiraou
de cuidados durante a velhice, inclui
um
outro aspecto que é de grande importância para a qualidade de vida na Terceira Idade. Trata-se dapromoção
deuma
vida mais saudável paraos idosos,
como
podemos
verno
seguinte fragmento de discurso:“A união é o mais importante
porque
me
faz viver mais, ter mais felicidade e até maissaúde... ”. (69 anos).
Outra função da família apontada pelos entrevistados foi a de evitar a solidão,
um
dos grandes temores de
quem
chega à terceira idade:“A gente vê tantas pessoas anuladas
da
família.Eu
não
queroficar
assim não.Não
queroficar
isolada... ”. (67anos).“A família é importante
pra
gentenão
se sentir sozinho ”. (60 anos).Segundo
Telamantiló (2003), o aspecto individualista da sociedade deixa os idosossolitários.
A
solidãodo
idoso hoje,também
está muito relacionada às alteraçõesque
12
pequenas famílias
em
detrimentos das famílias extensas. Estefenômeno
de redução éprogressivo e mundial, relacionando-se ainda
com
a maior mobilidade das famílias e 0número
crescente de separações.Por outro lado, temos
que
levarem
consideração as pessoas idosasque vivem
sós pelo próprio desejo de morar sozinhas. Elas sãoum
número
significativo, cada vez maisautônomas,
com
independência financeira,bom
estado de saúde, abertas socialmente aolazer, viagens, distrações e novas amizades-17,
como vemos
no
seguinte discurso:'Moro
sozinha mais Deus.E
gosto disso. Saio de casaa
hora que quero, vouao grupo
deidosos,
dou minha
caminhadinha. Atéuma
sobrinha queriaque
eu fossemorar
com
ela,mas
enquanto eupuder
me
govemar
vouficando por
aquimesmo
(67 anos).Quando
perguntado “Qual é o papeldo
idoso na família?”, a maioria dosentrevistados considerou
que
passar a experiênciaacumulada
ao longo dos anos é aprincipal função
do
idoso,como
podemos
ver nos seguintes depoimentos:“No
meu
caso éporque
eu soumãe
e avó,né?
Mãe
duas
vezes.O
papel do
idoso édar
conselhos pras filhas,
pras
netas.A
gente gostade sempre
avisar,porque
a gente sabemelhor do
que eles, né? (60 anos).“A
filnção do
idoso é dedar
conselhos e ensinar os mais jovens. Aí, aproveitaquem
quiser”. (60 anos).
Segundo
Leme
e Silva-1-8›(2002), o membro--idoso da famíliatem
muito a contribuiraos demais
membros
dacomunidade
familiar, poistem
uma
maior história pessoal aoferecer ao ambiente, representando ainda a “história” da estrutura familiar
em
si,como
grupo social.
Três entrevistados apontaram
que
a funçãodo
idoso é a de dar suporte financeiro àfamília, o
que
se contrapõe àimagem
de dependente, muitas vezes vinculada ao idoso.Uma
pesquisa
do
Instituto de PesquisaEconômica
Aplicada (Ipea) realizadaem
2003
e intitulada13
idosos,
bem
como
a posição ocupada por eles na hierarquia familiar.Os
idososocupam
aposição de chefes até idades bastante avançadas, independentemente da presença de filhos
adultos,
como vemos
nos seguintes depoimentos:“Olha,
na minha
família eu e elesomos
os chefes,somos
tudopara
eles.Não
seicomo
elesvão-se viifar-depois...
Às
vezes peça-a¬Qe4›és queno
dia~emque
eu faltar elesconsigam
sevirar,
porque
eles sãobem
dependentes ”. (69 anos).“Até hoje
meus filhos não ajudam
dentro de casa.Não
dependemos
deles, eles équem
dependem
de nós ainda ”. (60 anos).A
análise dos depoimentos sobre idosos e relações familiares é quasesempre
elogiosa à constituição da família, repetindo-se a valorização da vida doméstica
em
expressões
como:
'Me
sinto querida pelaminha
famíliaporque a
gentedá
muito carinho.E
recebetambém
(69 anos).
“... eles são muito importantes
pra
mim
”. (60 anos).“...
porque
euposso
estarbem
pra
baixo, se eleschegarem
aqui,começamos
a
conversareeu
fico
alegre (69 anos).“Eu
soubem
acolhida pelos ƒilhos ”. (64 anos).Entre os depoimentos apenas
um
foi divergente,chamando
atenção para aspectosnão considerados pelos demais entrevistados:
“Eu
gostariade
vê-los mais vezes,mas
cada
um
tema
sua vida, né?Às
vezesme
sintomeio
14
Os
depoimentostambém
se constituíramem
uma
oportunidade de os idosos revelarem suas preocupaçõescom
suas famílias:"Me
preocupo
muitocom meus
filhos.Quero
termeus
filhos
todosbem
colocados,bem
instaladinhos.
Aí a
gentejá
pode
morrer
em
paz
”. (60 anos).De
acordocom
a AssembléiaMundial
sobre o Envelhecimento”, realizadaem
1982, as necessidades das pessoas idosas
devem
ser respondidas por medidasde
bem
estarsocial, ancoradas
no
tripé, família,comunidade
e estado, sendoque
estas três instâncias dasociedade, é
que
deveriam desenvolver ações capazes de proporcionar os meios necessários para apoiar os idososno
ambiente tidocomo
mais propício-
o seio familiar, assimcomo
assegurar a sua participação
na
sociedade.4.3
Saúde
eDoença
A
população idosano
Brasil cresceu mais de200%
nos últimos20
anos 21. Estecrescimento é decorrente da melhoria das condições
de
saneamento, alimentação, educaçãoe assistência à saúde,
que
refletem o desenvolvimento sócio-econômico das últimasdécadas. Por outro lado, esta população
demanda
atenção e serviços específicos.No
caso dasaúde, busca-se qualidade de vida por
meio
dapromoção
da saúde e da prevenção dedoenças de maior ocorrência nesta faixa etária.
As
doenças mais freqüentemente relacionadas pelos dez entrevistados foramHipertensão Arterial Sistêmica (7 idosos) e Diabetes Mellitus (5 idosos), estando essas duas
associadas
em
quatro participantes. Outras doençascomo
artrite, artrose, hipotireoidismo edislipidemia
também
foram citadas. ParaRowe
eWang”
(1988),uma
fonte decontrovérsias é a falta de associação,
não
raramente presente, entre alterações anatômicasevidentes
em
determinado órgãoou
sistema e correspondente reduçãoda
capacidadefuncional deste, suficiente para induzir manifestações clínicas. Por exemplo, idosos
portadores de aterosclerose coronariana,
comprovada
pormeio
de cinecoronariografia,sem
15
radiografia óssea
ou
de outras técnicas,sem
evidência de fratura atualou
passada,podem
ser considerados “livres de doença”? Para os autores a admissão de tal postura é,
no
mínimo, questionável e
tem
sidosempre
objeto de ardorosas discussões.Tendo
istoem
vista, foi feita a seguinte pergunta aos entrevistados:
“Você
se sente doente?”.Todos
responderam negativamente e apontaram o motivo pelo qual não se sentem doentes. Estes foram: independência, autonomia e o uso de medicamentos.
Inicialmente, este trabalho teria
uma
seçãoem
separado tratando de autonomia eindependência. Contudo, ao realizar as entrevistas, tomou-se muito claro que é impossível
falar de saúde
sem
abordar a questão da autonomia e da independência. São assuntosintimamente ligados. Para
Ramosü
(2002), os objetivos básicos quedevem
fundamentar asações de saúde para os idosos são os de procurar mantê-los
com
omáximo
da capacidade funcional e independência fisica e mental nacomunidade
eno
seio de suas famílias.É
um
preceito
que
se observa na análise dos discursos,onde
a grande maioria refere ser saudávelapesar de apresentar
alguma doença
de base. Para o idoso, ter saúde é poder levar a sua vidanormalmente.
É
o quepercebemos
nas respostas dadas à pergunta“O
que significa envelhecercom
saúde?”.Vejamos
alguns segmentos de discurso:“É poder
sair,poder
continuar fazendo asmesmas
coisasque
fazia normalmente.É
não
mudar
sua vida ”. (60 anos).“Sou saudável
porque
aindafaço minhas
coisinhas ”. (60 anos).“É poder
ira
qualquer lugar assimque dá vontade
dea
gente ir.Não
depender
deninguém
”. (72 anos).Neste último discurso,
fica
clara a importância da autonomia e da independênciacomo
fatores determinantes na qualidade de vidado
idoso.Na
velhice,uma
vida maissaudável está intimamente ligada à
manutenção ou
à restauração destes dois indicadores.Evans”
(1984)chama
de autonomia “o estado de ser capaz de estabelecer e seguirsuas próprias regras”, e coloca que, para
um
idoso, a autonomia é mais útil que aindependência
como
um
objetivo global, poispodemos
restaurá-la por completo,mesmo
quando
o indivíduo continuacom
dependência. Por exemplo,uma
senhora de 75 anos,com
16
perde sua autonomia e independência.
Mesmo
que queira ir ao supermercadoou
aobanheiro, não vai conseguir.
Quando
for operada, e se a cirurgia for bem-sucedida,readquirirá sua autonomia, apesar de continuar dependente de
uma
cadeira de rodasou
deuma
bengala.A
independência é definida, pelo dicionário Aurélio da língua portuguesa 25,como
“estado
ou
condiçãode
quem
ou do
que é independente, dequem
ou do que tem
liberdadeou
autonomia, dequem
procura recorrer só aos seus próprios meios, dequem
se basta”.Há uma
correlação positiva entre velhice saudável e vida independente, notadamente independência fisica 26.A
maioria dos idosos entrevistadosimpõe
a exigência denão
dependerem
deninguém
para garantir o próprio bem-estar.Vejamos
algumas respostasdadas à pergunta
“Você depende
dealguém
para realizar as tarefasdo
dia-a-dia?”:“Não, não...
Graças a
Deus.iPorque,pra
ter saúde é precisoa
gente se governar.Morro
de
medo
deficar
inválida,no
fimdo
deuma
cama
” (67 anos).“Não
dependo. Fico até orgulhosa né?f'Porq`u'e,_tem gente quechega
a
uma
certa idade eprecisa
pagar
faxineira"(64
anos).' '
“Enquanto eu
puder
fazerminhas
coisinhas, eumesma
faço.Porque a pessoa
começa a
ficar
velhaquando não
segovema
mais.Não
consegue mais tomarbanho
sozinho,nem
comer,
nem
ir atéà
farmáciaou
ao
posto de saúde sozinho ” (60 anos).Quanto
à autonomia, sua correlaçãocom
vida saudável é bastante evidente.Todos
querem
serdonos
de sua própria vida, ter a capacidade de decidir e escolher seus caminhos:“Até hoje eu
faço 0
que quero etomo minhas
decisões ” (69 anos).“Tenho
liberdade.Aonde
eu quero ir eu vou.E
é importante né?Porque
tem muita gente quenão
tem maisa
capacidadede
escolher oque
querda
vida eaíficam
doentes,com
depressão ” (
60
anos).Para se conseguir, então,
uma
vida mais saudável, deve-se tercomo
objetivo manter17
objetivo deve ser o de restaurá-las
no
mais breve espaço detempo
e o mais Próximopossível
do
nível anterior.Outro motivo apontado, pelo qual os idosos não se sentem doentes, foi o uso de
medicamentos:
“Tomo
meu
remédio. Essasdoenças não
mudam
minha
vida ”. (60 anos).“Não
me
sinto doenteporque tomo meus
remédios todos os dias certinho.Confio
no
médico
”. (60 anos).A
adesãomedicamentosa
está intimamente relacionada ao controle de sintomas, àmanutenção
da capacidade funcional e, conseqüentemente, à qualidade de vidado
idoso 27. Vários são os fatores que influenciam na não-adesão medicamentosa, entre eles, a relaçãomédico-paciente,
como
foi colocadono
discurso acima.O
idoso precisa sentir segurançaeintegração
com
seumédico
paraque
a relação seja terapêutica.Dentre as muitas definições de envelhecimento, a adotada pela Organização Pan-
Americana
daSaúde
(OPAS)
28 postula que "o envelhecer éum
processo seqüencial,individual, acumulativo, irreversível,
não
patológico...”Ê. Visto isso, perante a pergunta“Velhice é igual à doença?”, os idosos,
em
sua grande maioria (noveno
total), responderamque velhice
não
é sinônimo de doença. Eis alguns exemplos:“Doença
éuma
coisa, velhice é outra.Completamente
diferente. Velhice éuma
coisa que acontece naturalmente.É
gradual?-Doençaa
gente sente,de
repente acontece e não--éagradável ”. (60 anos).
“Velhice é
uma
coisaque a
gente temque
aceitarnuma
boa.A
gente temque
enfrentarmesmo, né?
”. (67 anos).“Velhice é
uma
coisa natural quevem
na
vida.É
uma
etapada
vida. Feliz dequem
fica
18
Interessante notar que os idosos
vêem
a velhice, ao contrário da doença,como
algoinevitável,
uma
etapa da vidaque
tem
que ser aceita.Apenas
um
entrevistado demonstrouuma
percepção diferente:“Velhice é
a
mesma
coisaque doença
porque,a doença
pegando
mesmo, no
fundo, setoma
tão ruim quantoa
velhice.As
duas
estão associadas ” (69 anos).Segundo Neri”
(1995),um
envelhecimento bem-sucedido e saudável relaciona-seà maneira pela qualum
idoso consegue adaptar-se às inúmeras situações de ganhos e perdascom
as quais se depara. Esta "balança" toma-semenos
positivacom
o passar dos anosem
decorrência de inúmeras perdas
nonnalmente
vivenciadas pelos idososcomo,
por exemplo,a aposentadoria,
mudanças
nos papéis sociais, perda de entes queridos, maiordistanciamento dos filhos, perdas cognitivas e de funções orgânicas, alterações na própria
auto-imagem e consciência da maior proximidade da morte.
4.4 Aposentadoria,
Lazer
eTempo
LivreA
aposentadoria geralmente éum
evento importante na vida das pessoas.Como
dizWagner”
(1980), “estimula a consciênciado
envelhecimento”.Pode
sertambém,
continuaa autora, marcada pela ausência de papéis sociais a serem desempenhados, a inexistência de
novos planos e objetivos para a vida nesta fase, a representação negativa
que
é feita davelhice, fatores esses
que
contribuem paraque
se inicie nestemomento
o processo deisolamento social das pessoas
que
por direitochegam
à aposentadoria.No
imaginário da sociedademodema,
o trabalho é exaltado etem
caráter deobrigação moral.
A
aposentadoria e o afastamento que ela proporcionapodem
representaruma
ruptura de identidade, implicandonuma
reorganização do projeto de vida.Na
língua portuguesa, o vocábulo aposentadoria remete, etimologicamente, ànoção
de recolhimento ao interior da habitação, dos aposentos.
No
entanto,nem
sempre a aposentadoria representaum
rompimento
com
omundo
de trabalho, poisno
Brasil,19
implicando
ou não
em
alteraçõesno
local de trabalho,no
tipo de atividade,no
ritmo e na jomada.De
fato, quatro entre os dez idosos entrevistados continuam ativosno mercado
detrabalho, apesar de já se encontrarem legalmente aposentados. Estes
têm
uma
visão positivada aposentadoria,
como
podemos
ver nos seguintes fifagmentos de discurso perante a pergunta“O
que a aposentadoriamudou
em
sua vida?”:“Pra mim,
a
aposentadoria foi boa.É
um
dinheirinhoque
entra,né?
”. (69 anos).“Pra
mim
foi legalporque
eu soudona de
casa eminhas
tarefasnão
pararam.Então
eucuidava
da
casa e tinha0
trabalho.Às
vezesficava
trabalhando noites inteiras. Então,a
aposentadoria facilitou muito
pra
mim. Veiopra
melhor”. (60 anos).Diversos autores classificam a aposentadoria
como
um
período de marginalização para o idoso.Segundo
Ferrari” (2002),“uma
das causas que prejudicam o cotidiano das pessoas neste periodo é a falta de preparação para esta etapa da vida aliada muitas vezesàperda de status e à conseqüente desvalorização social, fazendo
com
que
o direito à aposentadoria e ao usodo
tempo
livre setome
nãoum
beneficio,uma
conquista,ou
ate'um
prêmio,
mas
um
período indesejável, carregado de tédio e de preocupaçãoeconômica
para muitos”. Apesar disso, é curioso notar que cinco dos seis entrevistados que já se afastarampor completo
do mercado
de trabalhopossuem
um
conceito positivo sobre a aposentadoria.Vejamos
alguns exemplos:"Mudou
minha
rotina.Não
saio mais todo o dia de casa.Não
tenho mais essapreocupação. Se quero ir
na
casada
filha, vou. Se quero ira
outro lugar, vou.Melhorou
muito
a
minha
vidaporque
eu trabalhei muito ”. (60 anos).“Agora
estoucomeçando
a
viver.Eu
voupros
meus
passeios,faço
ginástica.Agora
que
me
aposentei estou mais tranqüila.
Já
trabalhei muitona
vida ”. (67 anos).Apenas
um
entrevistado mostrouuma
percepção negativa da aposentadoria, mais20
'Foi muito triste
me
aposentar.Eu
gostava de trabalhar...Não
tenho sossegoem
ficar
parado
”. (72 anos).Através dos discursos,
percebemos que
os idosos relacionam a aposentadoriacom
um
período de descanso pelos anos de constante trabalho. Elestambém
apresentaram queixasem
relação ao valor pago pela aposentadoria:“Sobre
finanças
é aquela coisa né?Ganho
um
salariozinho deste tamanho...Mas
aindaagradeço a
Deus
porque
têm pessoas quenem
isso têm ”. (83 anos).'Eu
me
aposenteipor
invalidezpor
causada
pressão alta, diabetes...Só que minha
aposentadoria
nunca
dá, né?Me
aposentei sócom
um
salário, aí é pouco,né?
”. (72 anos).Neste último depoimento, a aposentadoria ganha .concretamente o significado de
ausência
do
trabalhoquando
o fator doença se apresenta associado.Para Silva” (1999), a aposentadoria muitas vezes se configura
como
um
espaço depreparação subjetivo para o afastamento futuro,
com
valor simbólico, pois coloca para otrabalhador a possibilidade real de
um
mundo
do
não-trabalho. Essa preparação consisteem
uma
reorganização da vida familiar, novas relações afetivas, novos espaços de convívio ede relacionamento fora
do
mundo
do
trabalho e novas rotinas.Surgem
os trabalhosaltemativos, os hobbies, as experiências
em
artes e oficios e o lazer.Segundo Dumazedier”
(1973), lazer é“um
conjunto de ocupações às quais oindivíduo
pode
entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se,recrear-se e entreter-se
ou
ainda para sua infonnaçãoou
formação desinteressada, suaparticipação social voluntária
ou
sua livre capacidade criadora após se livrarou
sedesembaraçar das obrigações profissionais, familiares e sociais”.
O
autor distingueno
lazertrês funções: a) descanso, b) divertimento, recreação e entretenimento, c) desenvolvimento
pessoal.
Dumazedier
faz aindauma
classificação das atividades de lazer distinguido-as porárea de interesse.
Na
Tabela 1veremos
as atividades de lazer praticadas pelos participantes21
TABELA
1-
Atividadesde
lazer praticadas,segundo
a classificaçãode
Dumazedier
... .. . .HT ... ... ,. MaI1UaÍS 0 Jardinagem ~ 0 Corte e costura 55 Il'lÍ616CÍLl8.ÍS 5 E 0 Leitura _;_L_;_;;,L_;_;;_:_: LL: 1 1 :1;;_1_1 1 1 1_1_1_1;_1 1 1 1 L _ 1 1 L 1,; 1 L 1 1,: 1 1; 1_:_1_1_1_;_;_1_;_;_;_;_;,;,1,;,.,; 21 LL; 1 2,1; 1,1; 2;; i L_L.L lj. L: Lil: 1 1 1 1 L; LL.: 1 Li: _
0 Participar
do
Grupo
da Terceira Idadezz zz 0 Conversar ââ Associativas 0 Jogos 0 Trabalhos Comunitários I1.1LÍÂ11v1,1§I,1,Í.II`1,11.11I1111111111_1_111_1111ILIIIIIIIII111.11_1_I_1_1_1,1111.1.Í_1v1_Ãv1v1v1 Artísticas z
Cama;
... ... .` Físicas 0 Passeios ~ 0 ExercíciosMuitos idosos referiram o
Grupo
da Terceira IdadÊecomo
a principal fonte de lazer.Quando
perguntados sobre a importância do grupo, todos consideraramcomo
partefilndamental de suas vidas:
“É
muito válidoporque
a gente se distrai muito. Alia
gente vaipassando
o tempo,né?
Seminha
irmã tivesse entradonum
grupo
de idososnão
teria “ido ” tão cedo ”. (67 anos).muito bom. Tira até o
pensamento
ruimda cabeça da
gente.É
muito divertido”. (6922
“Eu
adoro!A
gente tema
possibilidadede
passear,de
conhecer lugares.Tem
algunsidosos que
não
teriama
oportunidadede
viajar senão
fosse ogrupo
”. (60 anos).“Ahf
Meu
velhoadora
e eu também. Ele tiraa
gentede
maus
pensamentos,a
gente esquecedos
problemas de
saúde ”. (69 anos).“Tira
a
genteda
depressão.Pra
mim
é muito importante ”. (60 anos).“Comecei a
sair maisde
casapor
causado grupo
(60 anos).O
Grupo
da Terceira Idade,sem
dúvida alguma, leva os seus participantes a semodificar, criar novos valores, novas maneiras de pensar, de sentir e de agir. Facilitam as
modificações
e transfomtações das relações sociaisque
continuamente vão seenriquecendo. Procuram, através da realização de atividades recreativas e culturais, manter
o idoso ativo e saudável.
4.5
Futuro
eMorte
A
velhice muitas vezes é caracterizadacomo
um
período de estagnação,onde
oindivíduo perde sua capacidade de desenvolvimento pessoal.
É
certoque
há dificuldadesque bloqueiam
ou
dificultam odesempenho
naturaldo
idfoso neste período,mas
há aindaum
futuroque
a própria pessoapode
construir.Ter
algum
projeto na vida significa querer continuar a viver, apegar-se à vida. Vistoisso, perguntamos aos idosos
“Você
tem
planos para o futuro?”. Oito dos dez participantesda pesquisa responderam afirmativamente a esta questão.
Veremos
agora alguns projetosmencionados
pelos idosos:23
“Quero
viajar, trocarmeu
carrinho, reformara
casa.A
gentenunca
pode
parar no
tempo,né?
Nunca pode
dizer que está muito velha enão
precisa fazer mais nada.Tem
que
levar ascoisas
pra
frente ”. (60 anos).Dois entrevistados revelaram
não
ter planos para o futuro, relacionando-ocom
amorte
ou
a proximidade dela:“Não
tenho planos não.A
gentenão
deve estar sepreocupando
com
nada.Tudo
acontecenaturalmente.
Como
éque
euvou
saber sesemana
quevem
euvou
estar aqui ainda? ”. (60anos).
“A gente deve esperar o futuro,
né?
Mas
eunão
sei...não
tenho muitas esperançaspra
mim,
porque a
gente estánuma
idade assim, né?SÓ não
queriaficar
no
fimdo
deuma
cama.Agora vamos
trabalhando,vamos
lutando atéDeus
dizer assim:Chegou
tua hora(69 anos).
A
fonna de lidarcom
a morte é algo pessoal,depende
da visão e experiência de vidaindividual.
O
contato freqüentecom
a morte, tanto de parentes e amigos, associado àsdificuldades peculiares à velhice, faz
com
que os idosos muitas vezes apresentemsentimento
de
finitude, adotandouma
postura de passividade e resignação:“.]á estou velho,
agora
é só esperara
morte chegar”. (72 anos).Outros esperam que a morte seja
uma
passagem
breve e indolor:“Só
não
queria sofrer.Peço a
Deus
quenão
me
dêuma
morte muito sofrida ”. (83 anos).“Só quero que,
quando
chegar, sejauma
coisa rápida (69 anos).Na
cultura ocidental, é característicoque
a morte seja excluída dos nossos24
que
você
pensa sobre a morte'?”,quando
seis entre os dez entrevistadosnegaram
terqualquer
pensamento
sobre o assunto:“Prefiro
nem
pensar
nisso.Não
precisa sepreocupar
em
marcar
horacom
a
morte.A
gente já tem horamarcada
(60 anos).“Não penso na
morte.Na
horaque
Deus
me
chamar
agente
vai (64 anos).Um
discurso caracterizou-se por destoar dos demais:“Hoje
em
dia eu levo issocom
a maior
naturalidade.Penso
neste assunto,mas
penso
em
me
preparar
também, né? Ter láminha
religião, irà minha
missa,pra quando
eu chegar láestar pronta.
A
mortetambém
éuma
coisa natural,né?
Um
dia vocênão
vai escapardisso ”. (60 anos).
Ninguém
gosta,ou
se sente confortável ao falar sobre a morte.Mas
em
vez de fugirdo
assuntoou
lutarem
vão contra o inevitável, há a necessidade de encarar a mortecomo
fato natural
do
ciclo da vida.Mais
importante que viver parasempre
é viverbem
e morrercom
dignidade.“Desde
a idadede 6 anos
eu tinha amania
de
desenhar aforma
dos objetos.Por
volta dos
50
havia publicadouma
infinidadede
desenhos,mas
tudoque
produzi antesdos
60
não
deve ser levadoem
conta.Aos
73compreendi mais ou
menos
a estruturada
verdadeira natureza, as plantas, as árvores, os pássaros, os peixes e os insetos.
Em
conseqüência, aos
80
terei feito aindamais
progresso. Alas90
penetrareino
mistério dascoisas; aos 100, terei decididamente
chegado
aum
grau de maravilhamento
-
equando
eu tiver
110
anos,para
mim,
sejaum
ponto ou
uma
linha, tudo será vivo. "345.
CONCLUSÃO
1. Entre os idosos predomina
uma
percepção negativa sobre o processo deenvelhecimento, muitas vezes associando-o a
um
conjunto de perdas (perda da juventude,da utilidade, do vigor fisico, da independência, da autonomia e da vontade de viver).
2.
A
família é vistacomo
o órgão de fundamental importância na vidado
idoso,provendo apoio, segurança e evitando a solidão.
A
pertcepçãodo
idoso sobre o seu papelno
seio familiar é a de conselheiro e educador, passando sua experiência de vida para as novas
gerações. Outra função praticada pelos idosos é a de chefe de família,
dando
suportefinanceiro para os familiares, o que se contrapõe ao conceito de “dependente”, muitas vezes
atribuído a eles.
3. Idosos portadores
de
doenças crônicas seolham
como também
portadores deboa
saúde porque
têm
autonomia epodem
executar, independente e satisfatoriamente, suasatividades diárias. Atribuem
também
o uso correto d;emedicamentos
como
fonte de vidasaudável. Para os idosos, velhice não é sinônimo de doença,
uma
vezque
julgam a primeiracomo uma
etapa natural da vida e a segundacomo
uma
fatalidade.4.
Os
idosostêm
uma
percepção positivada
aposentadoria. Referem-nacomo
um
período de descanso justo pelos anos de trabalho, de oportunidades para o lazer e paracompromissos
sociais, apesardo
valor da aposentadoria não ser o ideal. Muitos deles aindapermanecem no mercado
de trabalho, o que seopõe
ao conceito de “improdutivo”, muitas vezes atribuído ao idoso.O
Grupo
da Terceira Idade. toma-seuma
instituição importantepara os idosos porque possibilita o
aumento do
convívio social, a oportunidade de viagensea
promoção
de saúde.5.
Os
idosos aindamantêm
planos e projetos para o futuroque
incluem desde cuidarda sua saúde até ajudar os filhos financeiramente.
Revelam
medo
de perder suaindependência
ou
de setomarem
inválidos.A
morte ainda éum
assunto delicado para os6.
NORMAS
ADOTADAS
Esse trabalho foi digitado segundo as
normas
da resolução n° 001/2001do
7.
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