Transformação de cenários.
Implantação de novos canaviais: 24 meses
antes da operação da usina.
Uso de mecanização intensiva para o plantio. Problemas ambientais: erosão; destruição de
estradas rurais; supressão de árvores
isoladas; eliminação de frutíferas e invasão de APP.
Controle de infestação de cupins: uso de
organoclorado Endosulfan, que é um POP.
Contrato de mão de obra: intermediários.
Precárias condições de higiene e salubridade
nos alojamentos, na periferia de pequenas cidades.
Condições desumanas de trabalho e de
moradia.
Redução da biodiversidade, causada pelo
desmatamento e pela implantação de monocultura;
Contaminação das águas superficiais e
subterrâneas e do solo, por meio da prática excessiva de adubação química, corretivos minerais e aplicação de herbicidas e
Compactação do solo, pelo tráfego de
máquinas pesadas, durante o plantio, tratos culturais e colheita;
Assoreamento de corpos d’água, devido à
erosão do solo em áreas de reforma;
Emissão de fuligem e gases de efeito estufa,
na queima, ao ar livre, de palha, durante o período de colheita;
Danos à flora e fauna, por incêndios
descontrolados;
Consumo elevado de óleo diesel, nas fases de
plantio, colheita e transporte;
Concentração de terras, rendas, predomínio
da monocultura e condições inadequadas de trabalho do cortador de cana.
Utilização de agrotóxico: requer poucas
aplicações comparando-se a outras culturas de produção extensiva, em razão de sua
robustez e adaptação às condições
edafoclimáticas em que são cultivadas no Brasil.
Os herbicidas são o grupo mais utilizado.
Consumo de inseticidas relativamente baixo,
sendo quase nulo o de fungicidas.
Uso de controle biológico em escala comercial.
Aumento da produção orgânica, devido ao
aumento do mercado de açúcar orgânico, tanto no Brasil quanto no exterior.
Consumo de óleo diesel: aproximadamente
1.700 l por tonelada de cana processada.
Representa 32% da energia consumida no
ciclo de vida do álcool.
Desligamentos freqüentes de linhas de
transmissão e de distribuição de energia elétrica;
Efeitos estéticos indesejáveis causados pelas
fuligens;
Acidentes ao longo das rodovias;
incêndios descontrolados em matas e
fragmentos florestais;
Possibilidade de mecanização progressiva da
colheita;
Pressões, cada vez maiores, da sociedade
civil.
Lei 11.241, de 19/09/2002, regulamentada
pelo Decreto Estadual 47.700: proíbe a queima em 100% dos canaviais paulistas, mecanizáveis, até o ano de 2021.
◦ 20% no primeiro ano a 100% em 2021, para áreas mecanizáveis.
◦ Até 2031 para áreas não mecanizáveis.
Desde 2006 até 2011, 30% da área deve ser
Proíbe queimada a um quilômetro do
perímetro de áreas urbanas e de reservas indígenas.
Planejamento anual a ser entregue à
Companhia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).
A proibição da queima de cana-de-açúcar:
um dilema socioambiental.
◦ Sua proibição pode contribuir para melhoria da
qualidade do ar e, portanto, para a sustentabilidade ambiental e a prevenção de doenças.
◦ Pode suprimir milhares de empregos no campo, gerando insustentabilidade social e espacial.
Emissões:
Material particulado (MP), hidrocarbonetos,
monóxido de carbono (CO), dióxido de
carbono (CO2), óxidos de nitrogênio (NOx), óxidos de enxofre (SOx).
Elevação da temperatura do solo, acarretando
perda de nitrogênio e de bactérias.
Emissão de fuligem e fumaça em núcleos
urbanos, a quilômetros de distância,
causando incômodos generalizados aos moradores
Emissão veicular de material particulado na
Região Metropolitana de São Paulo: 62 toneladas/dia.
Material particulado proveniente da queima
de palha, conhecido como “carvãozinho”:a 285 toneladas/dia.
Queixas de moradores que vivem em áreas
afetadas:
◦ Sujeira em casas, comércio e locais públicos;
◦ Aumento do consumo de água de abastecimento
público para garantir a limpeza dos locais afetados com maior freqüência;
◦ Aumento dos acidentes em rodovias devido à falta de visibilidade;
Problemas respiratórios, notadamente em
crianças e idosos;
Interrupção de serviços de energia elétrica
por problemas causados em linhas de
transmissão próximas a área da queimada;
“OMS - Diretrizes de Saúde para Eventos de
Fogo em Vegetação”
Poluição atmosférica – impacto direto da
fumaça na saúde humana e na economia,
influência de gases e emissões de partículas na composição da atmosfera.
Biodiversidade – consequências deletérias no
desempenho dos ecossistemas e na estabilidade da paisagem.
Problema de Saúde Pública
Impacto sobre a mortalidade e morbidade
diárias, admissões hospitalares, visitas à emergência e ao ambulatório e sobre a função pulmonar.
Corte, carga e organização de toneladas de
canas diariamente, como sempre fizeram.
Mudança na intensidade do trabalho: “novos”
modelos de gestão invadiram o agronegócio
De trabalhador para “Colaborador”.
Tarefa rígida: indicação de posturas para
corte.
Metas de produção estão cada vez mais altas. Sistemas de prêmios e punições.
Forma de pagamento por produção
complexa: maior desgaste entre trabalhadores.
Sistema de aferição da produção: permanece
o mesmo com ocorrência de fraudes.
Irregularidades várias registradas pelo MTE.
Ocorrência de trabalho escravo.
Rotatividade grande e vínculos empregatícios
precários: estimativa de 400.000 cortadores.
Corte atinge, em alguns casos, vinte
toneladas de cana por dia.
A produtividade do cortador em São Paulo é a
Exigências técnicas no corte: ele deve ser
feito para aproveitar o máximo da cana, isto é, ser bem rente ao solo
porque a sacarose
do açúcar fica toda no pé da cana e eles não
querem perder a sacarose.
‒ É mais difícil cortar cana queimada ou na palha? ‒ Na palha.
‒ Por quê?
‒ Porque a cana na palha, tem que limpar a palha, tem que
tirar a palha, puxar do lugar do monte, tem muito joçal, é um espinho pequenininho, penetra muito no corpo da gente... na cara, nas mãos, e dá muita coceira. A palha corta a gente,
onde passa a folha ela corta. Então, fica mais difícil do que a cana queimada. Porque a cana queimada, você abraça ela e corta. O único problema é que ela suja a roupa mas não te machuca. A outra machuca, pega o olho na ponta, é perigoso ficar cego.
‒
Eu acho que uma das maiores desgraças que têm os cortadores de
cana é a queima de cana de dia... Eles chegam, vêem que você vai acabar [o corte] às 11 horas... Eles tocam fogo no outro talhão,
aquele resto de cana que tem e jogam todo mundo pra lá... Quando acontece isso, é sempre lá pelas duas horas da tarde e aí já tem o calor do dia e dobra com o calor da cana, que ela não esfria na hora que você vai... A cinza fica mais solta, e solta na cara da gente. Você bate o facão no pé da cana e a cinza vem no seu rosto... Então a
gente não consegue trabalhar nem duas horas sem parar; tem que parar para tomar fôlego, se não a gente não aguenta trabalhar o dia.
Período da safra: de maio/junho a dezembro.
Jornada dos cortadores é longa: saem de casa
entre 5h e 6h30min da manhã e só retornam no fim da tarde.
Em muitas usinas, os próprios trabalhadores compram seus
EPIs.
Ritmo intenso de trabalho: ocorrência comum de cãibras. Ingestão frequente de soro.
Dores e dormência nos braços.
Exposição ao calor e à radiação solar. Dispêndio metabólico importante.
O esforço físico exigido por cortar e carregar
várias toneladas de cana por dia, com os mais diferentes graus de dificuldade, em razão das diferenças nas condições da cana, nos
instrumentos de trabalho, nos terrenos, no clima,
O trabalho mental de controlar a própria
produção: esclarecimento sobre os
complicados cálculos de produção e todos os detalhes do sistema de medição, para
O tratamento desumano e invariavelmente
humilhante imposto por uma organização do trabalho extremamente hierarquizada e
rígida, que se baseia num sistema de
punições arbitrário e estimula a competição entre os trabalhadores.
Safras 2004/2005 e 2006/2007: morte de14
cortadores de cana na região canavieira de São Paulo.
Idade entre 24 e 50 anos, migrantes, de
outras regiões do país (norte de Minas, Bahia, Maranhão, Piauí).
Atestados de óbitos com conclusões vagas:
morte por parada cardíaca ou insuficiência respiratória ou acidente vascular cerebral.
Amigos e familiares relatam que antes de
morrerem ele haviam reclamado de excesso de trabalho, dores no corpo, cãibras, falta de ar, desmaios etc.
Década de 1980: mudanças significativas.
Segunda fase do Proálcool.
Maior programa público mundial de produção de
combustível alternativo aos derivados do petróleo.
Aumento da produtividade da cultura.
Elevação também da produtividade do
trabalho no corte de cana: toneladas de cana cortadas por dia/homem ocupado na
atividade.
Década de 1950: 3 toneladas de cana cortadas por
dia de trabalho;
Década de 1980, 6 toneladas de cana por
dia/homem ocupado;
Final da década de 1990 e início da presente
década: 12 toneladas de cana por dia
Década de 1980: corte de retângulos (eitos)
com 6 metros de largura, em 5 ruas (linhas em que são plantadas a cana), por um
comprimento que variava por trabalhador, que era determinado pelo que ele conseguia cortar em um dia de trabalho.
Medição do trabalho por duas formas:
◦ Comprimento do eito (metro linear ou quadrado) ou pela quantidade de cana cortada (peso da cana).
Trabalhadores preferem o método que eles
possam ter controle (metro).
Capitalistas, por peso.
Corte de 6 t de cana em um dia: o
comprimento do eito deve ser de aproximadamente 200 metros.
Área total do eito: 1.200 m² (200 m de
O trabalhador realiza as seguintes atividades:
Corta a cana rente ao solo, desprendendo as varas
das raízes.
Corta a ponteira da cana, que é a parte de cima,
onde estão as folhas verdes, que não têm sacarose e, portanto, não servem para as usinas.
Transporta a cana cortada em cada rua para a rua
central.
Arruma a cana em montes ou esteirada na rua
central.
O pagamento decorrente de sua produção:
quanto maior a produção mais eles recebem.
Uma das mais desumanas e perversas formas
de pagamento, segundo Marx e Smith.
Como eles trabalham pela subsistência,
trabalham cada vez mais para melhorar suas condições de vida.
Situações diferentes das estudadas por Smith
e Marx: os cortadores de cana sabem apenas quantos metros de cana cortaram em um dia, mas não sabem o valor do metro de cana
cortado.
O metro linear de cana não ter um valor
fixado previamente.
Só é fixado depois que a cana foi pesada.
O valor do metro de cana para cada talhão é
atribuído pela usina: cana é pesada em suas balanças, localizadas distantes do eito.
Pagamento por produção: forma de
Ocorrência de greves em razão deste sistema. Insistência das usinas em pagar por peso.
Trabalhadores com controle do seu pagamento →
as usinas perderiam o principal meio de pressão para aumentar a produtividade do trabalho.
O processo de trabalho no corte de cana →
destreza do trabalhador, ou seja, depende de um conjunto de atividades manuais, exercidas pelos trabalhadores, independentemente da
administração do processo.
Após depois de definido o eito:
Trabalhador abraça um feixe de cana
(contendo entre cinco e dez canas), curva-se e flexiona as pernas para o corte da base.
Corte no ar do pendão.
Quantidade cortada por dia por trabalhador
depende exclusivamente de sua força e habilidade.
Corte de 6 toneladas de cana, em um eito de
200 metros de comprimento por 6 metros de largura:
Caminha durante o dia uma distância de
aproximadamente 4.400 metros e despende aproximadamente 20 golpes com o podão
para cortar um feixe de cana, o que equivale a 66.666 golpes por dia.
A cada 30 cm, abaixar-se e torcer-se para
abraçar e golpear a cana bem rente ao solo e levantar-se para golpeá-la em cima.
Amontoa vários feixes de cana cortados em
uma linha e os transporta até a linha central.
Transporta nos braços 6 toneladas de cana
em montes de aproximadamente 15 kg a uma distância que varia de 1,5 a 3 metros
Vestimenta composta de botina com biqueira
de aço, perneiras de couro até o joelho,
calças de brim, camisa de manga comprida com mangote, de brim, luvas de raspa de
couro, lenço no rosto e pescoço e chapéu, ou boné, quase sempre sob sol forte.
Ocorrência de suor abundante e perda de
muita água e junto e sais minerais, levando à desidratação e à frequente ocorrência de
cãibras.
Expressivo aumento da produtividade. Para garantia do emprego, os cortadores
deviam produzir, no mínimo, 10 t por dia.
1980: 6 t/homem/dia 1990: 12 t/homem/dia.
Razões para aumento da produtividade: Aumento de trabalhadores disponíveis;
i. O aumento da mecanização do corte de cana.
ii. O aumento do desemprego geral, provocado por duas décadas de baixo
crescimento econômico.
iii. A expansão da fronteira agrícola para as regiões do cerrado, atingindo o
sul do Piauí e a região da pré-amazônia maranhense, destruindo as formas de reprodução da pequena propriedade agrícola familiar.
Processo de seleção mais apurado. Estágio probatório de três meses.
Caminha 8.800 metros.
Despende 133.332 golpes de podão.
Carrega 12 toneladas de cana em montes de
15 kg, em média; portanto, faz 800 trajetos e 800 flexões, levando 15 kg nos braços por
uma distância de 1,5 a 3 metros.
Faz aproximadamente 36.630 flexões e
Perde, em média, 8 litros de água por dia,
exposto à poeira, à fuligem expelida pela cana queimada, trajando uma indumentária que o protege da cana, mas aumenta sua temperatura corporal.
Possível causa da morte: excesso de trabalho. Soluções: Limites de carga? Mecanização
completa??
Ritmo de introdução do progresso técnico
deve ser pautado pela sociedade (Estado, Capitalistas e Trabalhadores), orientando a introdução do progresso técnico no sentido socialmente desejável, como ocorrem em países avançados.
Brasil: a decisão pela mecanização é privada e
os custos são repartidos na sociedade.
Limitações relativas á declividade do solo: >
Contradições do setor:
Tratores e máquinas agrícolas de última
geração, agricultura de precisão, controlada por geoprocessamento via satélite etc.
Manutenção de relações de trabalho, já
combatidas e banidas do mundo desde o século XVIII.
Alves, F. Por que morrem os cortadores de cana? Saúde e
Sociedade. 2006; 15(3):90-98.
Ferreira, LL et al. Análise coletiva do trabalho dos cortadores
de cana da região de Araraquara, São Paulo. 2008; Fundacentro.
Lopes, FS; Ribeiro, H. Mapeamento de internações
hospitalares por problemas respiratórios e possíveis
associações à exposição humana aos produtos da queima da palha de cana-de-açúcar no estado de São Paulo. 2006;
9(2):215-25.
Andrade, JMF de; Diniz, KM. Impactos Ambientais da
Agroindústria da Cana-de-açúcar: Subsídios para a Gestão. Monografia. Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ; Piracicaba, 2007.
IBGE. Indicadores de desenvolvimento sustentável – Brasil
2010. Estudos e Pesquisas. IBGE, 2010.
Ribeiro, H; Pesquero, C. Queimadas de cana-de-açúcar:
avaliação de efeitos na qualidade do ar e na saúde respiratória de crianças. 2010; 24(68):255-71.