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Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação do Porto Processo nº

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Tribunal da Relação do Porto Processo nº 0856206

Relator: CAIMOTO JÁCOME Sessão: 12 Novembro 2008 Número: RP200811120856206 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: AGRAVO.

Decisão: NEGADO PROVIMENTO.

VENDA JUDICIAL NULIDADE ERRO VÍCIOS

Sumário

A anulação judicial por parte do comprador, com base no erro-vício, apenas pode ocorrer verificando-se erro sobre a coisa transmitida por falta de conformidade com o que foi anunciado (art. 908º do CPC).

Texto Integral

Proc. n.º 6206/2008 (AGRAVO) Relator: Caimoto Jácome(1018) Adjuntos: Macedo Domingues() Sousa Lameira()

ACORDAM NO TRIBUNAL DA RELAÇÃO DO PORTO

1- RELATÓRIO

No decurso da acção executiva, instaurada em 23/04/2003, por B………., S.A., contra B………., Lda, D………. e E………., a exequente, invocando o disposto no artº 825º, do CPC aplicável, veio requerer a penhora “do direito indiviso de que o executado (D……….) é titular (direito à meação no seu casal e quinhão hereditário por sucessão hereditária de sua mulher, F………. sobre os prédios a seguir indicados…)”, penhora a efectuar por notificação aos contitulares que

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identifica, entendendo ser registável sobre cada um dos imóveis que nele se incluam.

*

Deferindo o requerido pela exequente, o tribunal procedeu à penhora do direito à herança indivisa aberta por óbito de F………., de que é titular o executado D………. (fls. 17) por notificação ao administrador da herança e contitulares identificados pela exequente (G………. e H……….), tendo estes conhecimento que tal direito ficava à ordem do tribunal.

*

A referida penhora foi registada (registo provisório de 22/07/2004, convertido em 19/01/2005) no que concerne a cada um dos imóveis que integram tal herança (ver fls. 69-77).

*

Por despacho de 31/01/2007, foi ordenada a venda do direito mediante propostas em carta fechada, nos seguintes termos publicitados:

“Direito à Herança indivisa aberta por óbito de F………., cônjuge do executado D………., da qual fazem parte os seguintes imóveis:

- O prédio urbano de casa de rés-do-chão e andar com a área coberta de 97,5 m2 e descoberta de 1.782,5 m2, sito no ………. ... inscrito na 1ª Conservatória do Registo Predial de Vila Nova de Gaia sob o n.º 01818/180893 (desanexado do 00624/110488) e inscrito na matriz predial urbana sob o artigo 2835º.

- O prédio urbano de casa de um pavimento e logradouro com a área coberta de 90m2 e descoberta de 330m2, sito no ………. ... inscrito na 1ª Conservatória do Registo Predial de Vila Nova de Gaia sob o n.º 00624/110488 e inscrito na matriz predial urbana sob o artigo 17 43.

- O prédio rústico composto por terreno de cultura, com área de 2.300 m2, sito no ………. ... inscrito na 1.ª Conservatória do Registo Predial de Vila Nova de Gaia sob o n.º 00625/110488 (desanexado do 000623/110488) e inscrito na matriz predial urbana sob o artigo 2264.

PENHORADO EM 27-05-2004 PENHORADO A:

EXECUTADO: D………. …".

*

No seguimento dos Editais e Anúncios publicados, veio I………., com os sinais dos autos, apresentar, em 25/06/2007, a sua proposta de compra (ver fls. 92) na qual consta, além do mais, "Importante-(validade/eficácia real" "(…) esta proposta só é válida e/ou eficaz, se o património aqui em crise se encontrar livre de pessoas e bens, ónus e encargos sejam eles de que naturezas forem. E ainda, livre de qualquer tipo de ocupação, arrendamento, servidão, usufruto,

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comodato e/ou qualquer outra circunstância, que onere, limite e/ou condicione a sua imediata e plena posse."

Refere ainda que "(…) sou a apresentar a minha melhor proposta para

eventual aquisição, no âmbito do processo de execução ordinária em epígrafe, do seguinte património imobiliário..." indicando os três imóveis supra

descritos.

O valor Global da Proposta foi de € 58.000,00 (cinquenta e oito mil euros).

*

Por despacho de 25 de Junho de 2007, foi aceite a proposta efectuada pelo proponente I………. (ver Auto de Abertura de Propostas).

*

Notificado para proceder ao depósito do preço, através de depósito na J………., bem como demonstrar o pagamento dos Impostos devidos, juntou, por

requerimento de 11 de Julho de 2007 (ver cópia de fls. 99, aqui dada como reproduzida), os documentos originais do cumprimento dessas obrigações.

Nesse requerimento, afirma que “visto que os imóveis estão onerados na Conservatória do Registo Predial” solicita um "documento formal,

provavelmente, alusivo ao "trânsito em julgado", que me permita desde logo desafectá-los da totalidade destes agravos, cumprindo assim com os termos de validade da minha proposta". Refere ainda que “(…) este documento ainda será válido para proceder ao averbamento da nova titularidade das

propriedades, na Competente Repartição de Finanças" e a pretensão de

"entrega formal dos bens então vendidos".

*

Em 21 de Setembro de 2007, foi proferido o seguinte despacho:

“Nos termos do artigo 900°, nº l, do Código de Processo Civil, tendo em consideração que o proponente I………., casado, efectuou o pagamento do preço e comprovou o pagamento do IMI sobre os imóveis que compõem o direito adquirido e o imposto de selo por tal aquisição onerosa, adjudico-lhe, por compra e pelo valor de € 58.000,00, o direito à herança indivisa aberta por óbito de F………. .

Passe e entregue o competente título de transmissão de acordo com o disposto no artigo 900°, nº 2, do Código de Processo Civil.”.

*

Em 12/10/2007, H………., identificada nos autos, vem ao processo informar que foi efectuada partilha de todos os bens imóveis que integravam a herança indivisa, pois "quando foram notificados da penhora de bens, a 6 de Janeiro de 2005, já havia sido realizada a referida partilha em 19 de Março de 2004".

*

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Consta da certidão da Conservatória do Registo Predial de V. N. de Gaia (ver fls. 69-77, destes autos) a inscrição da aquisição dos aludidos três prédios, a favor da referida H………. e G………., por partilha da herança, registo esse provisório, de 06/10/2004, convertido em 07/12/2004.

*

Pela secretaria do tribunal recorrido foi emitido, em 19/10/2007, o "Título de Transmissão" cuja cópia (duplicado) se mostra junta a fls. 105, aqui dada como reproduzida, constando do documento o teor do mencionado Auto de Abertura de Propostas e do despacho de adjudicação. Na parte final do documento refere-se “…foram arrematados pelo Proponente I………. …”.

*

Em 8 de Fevereiro de 2008 (fls. 301 e sgs., da execução), o ora agravante apresentou pedido de anulação da venda judicial, com a consequente restituição de tudo o que até então havida prestado.

*

Conclusos os autos, o Sr. Juiz a quo, proferiu despacho no qual, considerando que “No caso dos autos, manifestamente, não se verifica qualquer dos

fundamentos de anulação referidos (nem o registo da aquisição, por partilha, posterior ao registo da penhora, produz qualquer efeito em relação ao ora requerente – artº 824º do C. Civil”, pelo que decidiu julgar improcedente o pedido formulado I………., a fls. 301 e segs.

**

Inconformado, o citado I………. agravou deste despacho, tendo, nas respectivas alegações, concluído:

1. Não são apenas os casos previstos no art. 908.° do Código de Processo Civil (CPC) que servem de fundamento ao pedido de anulação da venda judicial).

2. A venda executiva pode ser anulada com base nos restantes fundamentos de anulação do negócio jurídico.

3. No presente caso estamos indiscutivelmente perante ERRO e VÍCIO DE VONTADE, pelo que é dever do Tribunal se pronunciar sobre os mesmos.

4. De qualquer forma, atendendo ao regime próprio estabelecido no art. 908.°

do CPC, parece evidente que estamos, in casu, no âmbito do n.º 1 normativo legal.

5. Foi publicitada por edital a venda do "direito à herança indivisa aberta por óbito... ", composta por certos imóveis aí especificada e suficientemente descritos.

6. O aqui Recorrente, habituado a consultar estes editais nos locais da praxe, entendeu, face ao anunciado, que estaria em causa a venda daqueles imóveis, sem qualquer compropriedade, divisão ou fracção, conforme decorre do

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conceito de "herança indivisa".

7. Por isso, expressamente referiu na sua proposta que pretendia adquirir "o seguinte património imobiliário… ", constituído pelos imóveis descritos….

8. Para essa aquisição estipulou, ainda, em relevo e a negrito uma "cláusula de validade/edicácia real": "... esta proposta só é válida e/ou eficaz, se o

património aqui em crise se encontrar livre de pessoas e bens, ónus e

encargos sejam eles de que naturezas forem. E ainda, livre de qualquer tipo de ocupação, arrendamento, servidão, usufruto, comodato e/ou qualquer outra circunstância, que onere, limite e/ou condicione a sua imediata e plena posse."

9. Foi com estas condicionantes e nestes termos, que o Recorrente manifestou a sua vontade negocial: "... a minha melhor proposta para eventual aquisição, no âmbito do processo de execução ordinária em epígrafe, do seguinte

património imobiliário...".

10. Pela Proposta e demais requerimentos dirigidos a Tribunal, resulta

evidente que o Proponente pretendeu apenas adquirir os imóveis constantes da herança em causa, sem qualquer compropriedade e livre de quaisquer ónus encargos ou outras limitações.

11. Não sendo assim, estamos perante um erro sobre a coisa transmitida por falta de conformidade com o que foi anunciado:

- desde logo, os anúncios e editais apresentam o bem penhorado como o direito à herança indivisa ("herança indivisa" é, nos doutos ensinamentos de CAPELO DE SOUSA, a "universalidade composta por património autónomo, em que os herdeiros não detêm direitos próprios sobre cada um dos bens hereditários e nem sequer são com proprietários desses bens" - in Lic. Dir.

Sucessões, 1.a ed., 2.° - pág. 113);

- tais anúncios e editais identificam todos os imóveis que fazem parte do tal património, dando pois a entender ao normal cidadão que o que estava em causa eram, exactamente, aqueles imóveis...

- por outro lado, aqueles anúncios e editais não fazem, conforme habitual, qualquer identificação de outros herdeiros e muito menos indicação de que o que estaria "na praça" era apenas um "direito a parte da herança indivisa", ou um "direito a quota de herança indivisa" ou um "direito ao quinhão hereditário de herança indivisa", etc.

12. Ora, é normal e costume em situações similares às dos autos, que o edital e anúncios, por imperativo de rigor e boa prática, façam transparentemente referência àqueles direitos "parciais".

13. Pelo que, atendendo aos anúncios e editais do presente caso, o que foi anunciado, para um comum cidadão, foi a venda judicial de um património composto por imóveis que, por questões de herança, ainda não estavam na única e exclusiva titularidade do executado...

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14. Foi, pois, com a EXCLUSIVA INTENÇÃO DE COMPRAR OS IMÓVEIS, que o aqui Recorrente apresentou a sua proposta, onde especificamente

estabeleceu uma condição de validade/eficácia, pelo que ao serem-lhe adjudicados tais bens convenceu-se daquela aquisição naqueles exactos termos: o "Auto de Abertura de Propostas" refere explicitamente, que a herança indivisa é composta pelos tais três prédios, aí melhor descritos, e o

"Título de Transmissão" de fls. .., de 19-10-2007, refere expressamente que os imóveis foram arrematados pelo Proponente I………. .

15. A vontade declarada é no presente caso de tal forma inequívoca que, no requerimento de 11 de Julho de 2007, o Proponente expressamente escreve que "me dão conta da adjudicação da minha proposta para aquisição de três imóveis, no âmbito do processo supra e me instruem ainda, para no prazo de 15 dias, proceder ao depósito do preço..." e solicita um "documento formal" de forma a desafectar o imóvel da "totalidade destes agravos (averbamentos e apontamentos), cumprindo assim com os termos de validade da minha proposta".

16. É, pois, manifesta a intenção e consciência negocial do Proponente, sendo que, nestas situações, "não tem o comprador de alegar nem provar os

pressupostos gerais da relevância do erro" - que no caso sub judice até são evidentes -, "designadamente o requisito da essencialidade (arts. 247º, 251º e 254º do CC)".

17. A vontade real do aqui Recorrente era apenas dirigida à compra dos três imóveis em questão, livres de qualquer ónus ou encargo, constantes da herança (e, portanto, ainda não registados em nome do executado).

18. Pelo anúncio e dado que nele não se faz qualquer referência a "direito a parte da herança indivisa", ou a "direito a quota de herança indivisa" ou a

"direito ao quinhão hereditário de herança indivisa", sempre entendeu - sem que tal entendimento mereça qualquer censura que a titularidade dos imóveis seria em exclusivo do executado: a propriedade estaria, apenas, dependente da aceitação da herança indivisa... Pelo que decidiu "comprar"!

19. A Proposta apresentada é inequívoca quanto à sua declaração e intenção negocial, bem como as demais "peças processuais" que se seguiram: o

Proponente pretendeu e pensou adquirir pelo valor de 58.000 euros os imóveis descritos no anúncio executivo.

20. Como se decidiu no Ac. do ST J de 05-11-1998, "a anulação da venda

judicial por erro sobre a coisa funda-se em erro-vício da vontade do adquirente sobre a identidade da coisa ou sobre as suas qualidades, resultantes da falta de conformidade da coisa com o que fora anunciado", pelo que, como tal, deveria a venda judicial em apreço ter sido anulada.

21. Nos presentes autos consta informação (de uma herdeira) de que foi

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previamente efectuada partilha de todos os bens imóveis que integravam a herança indivisa, pois "quando foram notificados da penhora de bens, a 6 de Janeiro de 2005, já havia sido realizada a referida partilha em 19 de Março de 2004".

22. Pela posição assumida pelo Tribunal face a tal requerimento, o aqui Recorrente manteve-se convencido de que tinha adquirido aqueles imóveis.

23. É, portanto, sem qualquer culpa ou dever de conhecimento, que veio a constatar que tais bens não pertenciam já ao património do executado, pois havia uma partilha anterior à notificação da penhora e à penhora definitiva.

24. Não pertencendo o bem vendido ao executado, estamos perante um outro fundamento de anulação da venda judicial, nos termos gerais de direito.

25. Na verdade, os bens pertencentes à herança indivisa em causa nos presentes autos tinham já sido partilhados, por escritura de 19 de Março de 2004.

26. A penhora só produz efeitos depois de notificada aos interessados (contitulares).

27. Assim, o registo da aquisição a favor dos outros herdeiros, por partilha, é anterior à notificação da penhora e ao registo da penhora (definitiva), e, portanto, à venda judicial.

28. Há, pois, um evidente erro na determinação do bem penhorado que gera, igualmente, o vício do negócio em causa: houve uma venda de bem alheio, nula nos termos gerais de direito: art. 892.° ss do Código Civil.

29. O bem objecto da venda não sendo pertença do executado, por anterior partilha de 19 de Março de 2004, implica estarmos perante uma venda de bens alheios.

30. De facto, no caso sub judice, a penhora provisória por dúvidas e a venda judicial foram precedidas da aquisição em comum, sem determinação de parte ou direito, a favor do executado e das suas filhas (G………. e H……….), por sucessão hereditária.

31. O registo meramente provisório da penhora obsta a que se faça a

adjudicação dos bens penhorados, conforme dispõe o n.º 4 do art. 838.° do CPC, o que significa que a partilha ocorrida no presente caso é totalmente válida e eficaz, PELO QUE jamais poderia ter ocorrido a venda judicial aqui em apreço.

32. Na verdade, a notificação da penhora e a penhora definitiva do direito do executado foi precedida pela inscrição da escritura pública de partilha da herança, tendo a propriedade dos bens objecto da tal herança indivisa ficado na exclusiva titularidade das filhas do executado.

33. É que quando os herdeiros na herança indivisa foram notificados da penhora (6 de Janeiro de 2005) já havia sido realizada a respectiva partilha

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dos bens (imóveis) que compunham aquela herança.

34. Assim, quando o Tribunal procedeu à venda judicial e à abertura da

proposta apresentada pelo aqui Recorrente já o bem penhorado não existia na titularidade do executado.

35. A penhora definitiva incidiu, portanto, sobre um bem inexistente no património do executado, pelo que a venda judicial versou sobre bem alheio.

36. Em conformidade, é a venda judicial sub judice nula, nos termos do art.

892.° ss do Código Civil.

37. As Propostas numa venda executiva podem conter condições de validade e/

ou eficácia e, portanto, a venda judicial não é incondicionável.

38. A Proposta do ora Recorrente continha uma condição de validade e/ou eficácia que não se verificou.

39. A declaração negocial é livre, independentemente da venda ser judicial ou extrajudicial, pelo que os termos em que o requerente efectua a proposta são juridicamente relevantes, podendo, em conformidade, estipular condições de validade e/ou eficácia (maxime quando o anúncio e editais são, no mínimo, confusos, enganadores ou insuficientes, como no presente caso).

40. Sendo assim, e seguindo o vertido no art. 236.° do Código Civil, "a

declaração negocial vale com o sentido que um declaratário normal, colocado na posição do real declaratário, possa deduzir do comportamento do

declarante", sendo in casu evidente a intenção e a vontade real do

declaratário: ADQUIRIR OS BENS IMÓVEIS, LIVRES DE QUAISQUER ÓNUS OU ENCARGOS, constantes da herança indivisa e melhor identificados no anúncio e editais.

41. Tendo tais bens, conforme aliás inscrição registral, sido objecto de partilha anterior, existia "circunstância, que onere, limite e/ou condicione a sua

imediata e plena posse", pelo que a condição de validade e/ou eficácia imposta pelo declarante não se verificava.

42. Mesmo admitindo a incondicionabilidade da proposta, por hipótese académica, então forçoso seria concluir no caso sub judice pela sua

INACEITABILIDADE, seguindo-se as ulteriores regras processuais (cfr. art.

895.° do CPC).

43. Efectivamente, seguindo o entendimento do Tribunal de Primeira Instância de que a venda judicial é, por natureza incondicionável, a Proposta não

deveria ter sido aceite, pois dela constava uma condição de validade e/ou eficácia...

44. A venda judicial em análise é, pois, inválida, devendo como tal ser

judicialmente reconhecida e ser restituído tudo o que o Recorrente já prestou por causa dela, sob pena de violação dos arts. 824.° e 285.° ss do Código Civil, bem como art. 908.° do Código de Processo Civil.

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Nestes termos, deve ser revogada a decisão judicial recorrida e, em conformidade, proceder-se à anulação da adjudicação, com as inerentes consequências legais, devendo ser restituído ao requerente tudo o que prestou, designadamente o preço pago, os impostos, emolumentos e demais encargos, bem como os honorários do solicitador e do mandatário judicial, devidamente actualizados e com os respectivos juros de mora até integral pagamento.

Na resposta às alegações a exequente defende o decidido.

**

O julgador a quo sustentou o seu despacho.

**

Colhidos os vistos legais, cumpre decidir.

2- FUNDAMENTAÇÃO

2.1- OS FACTOS E 0 DIREITO APLICÁVEL ÁS QUESTÕES SUSCITADAS NO RECURSO

O objecto do recurso é delimitado pelas conclusões da alegação do recorrente, sendo que os recursos visam modificar decisões e não criar soluções sobre matéria nova (arts. 684º, nº 3 e 690º, nº 1, do CPC).

*

Os factos a considerar são os que se deixaram descritos no relatório.

*

Saliente-se, desde logo, que, tratando-se de uma execução instaurada em 23/04/2003, ao caso em apreço aplicam-se as pertinentes normas do Código Processo Civil anteriores à alteração efectuada pelo Dec-Lei n.º 38/2003, de 8 de Março (ver artº 21°, do citado DL).

O erro-vício (motivos determinantes da vontade) traduz-se numa

representação inexacta ou na ignorância de uma qualquer circunstância de facto ou de direito que foi determinante na decisão de efectuar o negócio (erro sobre a pessoa do declaratário, sobre o objecto do negócio e erro sobre os motivos não referentes à pessoa do declaratário nem ao objecto do negócio).

Na lei substantiva, prevê-se o erro como vício da vontade e as condições gerais de relevância do erro-vício como motivo de anulabilidade do negócio (ver arts. 247º, 251º e 252º, do CC).

Sobre anulação da venda e indemnização do comprador/adquirente dispõe o

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artº 908º, do CPC (nº 1):

“Se, depois da venda, se reconhecer a existência de algum ónus ou limitação que não fosse tomado em consideração e que exceda os limites normais inerentes aos direitos da mesma categoria, ou de erro sobre a coisa

transmitida, por falta de conformidade com o que foi anunciado, o comprador pode pedir, no processo de execução, a anulação da venda e a indemnização a que tenha direito, sendo aplicável a este caso o disposto no artigo 906.° do Código Civil”.

Sobre este normativo anotam J. Lebre de Freitas, e A. Ribeiro Mendes (in CPC Anotado, 3º, p. 609-610) que “Ao consagrá-los, a lei está tutelando o

comprador e, por isso, coloca a arguição na sua exclusiva disponibilidade.

Trata-se de situações de erro acerca do objecto, jurídico (ónus ou imitação) ou material (identidade ou qualidade da coisa transmitida), da venda, mas têm a caracterizá-las, quando comparado o seu regime com o regime geral da

anulação do negócio jurídico por erro (arts. 247 CC e 251 CC), a dispensa dos requisitos de que a lei a faz depender, designadamente a essencialidade para o declarante e o seu conhecimento ou cognoscibilidade pelo declaratário; basta, por isso, que o ónus ou limitação não tenha sido tomado consideração ou que a identidade ou as qualidades do bem vendido divirjam das que tenham sido anunciadas. Tal é manifesto, quanto ao primeiro fundamento, quando se compara o art. 908 com o art. 905 CC, que, tratando da compra e venda de bens onerados, expressamente exige a verificação dos requisitos gerais da anulabilidade do negócio jurídico por erro ou dolo; mas não deixa de ser o mesmo quanto ao segundo fundamento, em que, como revela a história do preceito, oriundo do CPC de 1939 (ALBERTO DOS REIS, Processo de

execução cit., lI, ps. 417-420), igualmente releva a simples desconformidade entre o objecto anunciado (declarado e, consequentemente, querido) e o objecto real, justificada com a consideração de que a tutela do comprador, induzido em erro pela descrição do objecto da venda que é feita no próprio processo (e assim garantida pelo tribunal), não pode estar dependente da prova de requisitos acessórios respeitantes ao processo de formação psicológica da sua vontade e à protecção do declaratário (LEBRE DE

FREITAS, A acção executiva cit., 18.4.2; REMÉDIO MARQUES, Curso cit., p.

419; AMÂNCIO FERREIRA, Curso cit., p. 286); trata-se, neste caso, de conceito próximo do utilizado pela lei civil no instituto da venda de coisas defeituosas (art. 913-1 CC; ver ANTUNES VARELA, CC anotado cit., n.º 4 da anotação ao art. 913), mas agora para o efeito (diverso) da anulação. Em

contrário se pronunciou ANSELMO DE CASTRO, A acção executiva cit., p. 236 e 237, apenas quanto ao requisito da essencialidade, considerando já

inaplicável à venda judicial a exigência do conhecimento ou cognoscibilidade

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da essencialidade; a mesma posição parece ser assumida por TEIXEIRA DE SOUSA, Acção executiva cit., p. 396”.

Resulta do indicado normativo que a anulação da venda judicial, por parte do comprador, com base no erro-vício da vontade, apenas pode ocorrer

verificando-se erro sobre a coisa transmitida por falta de conformidade com o que foi anunciado.

Ora, no caso, está provado que foi anunciado a venda de um “Direito à

Herança indivisa aberta por óbito de F………., cônjuge do executado D………., da qual fazem parte os seguintes imóveis(…)” sendo de atentar que o

recorrente se afirma pessoa “habituada a consultar estes editais nos locais da praxe”.

Constata-se, assim, que não foi anunciado a venda de imóveis mas,

claramente, o direito à herança indivisa aberta por óbito de F………., de que é titular o executado D………., da qual fazem parte os três imóveis indicados.

O que foi transmitido na acção executiva (venda judicial) foi aquele direito relativamente ao quinhão hereditário do executado na mencionada herança indivisa.

É o que, explicitamente, decorre dos editais e anúncios, bem como do auto de abertura de propostas e do despacho de adjudicação, notificados ao

adquirente, ora agravante e, ainda, do aludido “título de transmissão”, pese embora a referência, ilógica, feita pelo oficial de justiça, naquele título, a

“foram arrematados pelo Proponente…” em vez de “foi arrematado pelo Proponente…”.

Pensamos que qualquer pessoa medianamente informada e hábil, sem formação jurídica, entenderia (interpretaria) o teor dos editais e anúncios como estando em causa a venda de um direito (à herança indivisa) e não uma pura e simples venda de imóveis. Na dúvida, impunha-se, razoavelmente, o dever de diligência de consultar algum jurista ou informar-se junto do

tribunal. Acresce, no caso concreto, que o arrematante é pessoa “habituada a consultar estes editais nos locais da praxe”.

Carece, a nosso ver, de fundamento, factual e legal, a anulação da venda judicial com base em alegado erro sobre os motivos, face ao estatuído no artº 908º, do CPC, pois que se verifica manifesta conformidade entre o que foi anunciado e o transmitido.

Pese embora o comprador/arrematante possa anular a venda executiva apoiado nos restantes fundamentos de anulação do negócio jurídico

(incapacidade, dolo, coacção), invocando o erro apenas o poderá fazer nos termos do estatuído no artº 908º, do CPC (ver J. Lebre de Freitas, A Acção Executiva, 2ªed., p. 281, J. P. Remédio Marques, Curso de Processo Comum, 1998, p. 372).

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Por outro lado, conclui o agravante pela existência de venda de bem alheio dada a partilha da mencionada herança, com os referidos bens imóveis a serem adquiridos pelas herdeiras H………. a G………. .

Não tem razão, a nosso ver.

Na verdade, o que foi vendido na execução não foram quaisquer bens imóveis de terceiros, designadamente os já identificados, mas o direito e acção

(quinhão hereditário) à herança, ilíquida e indivisa, aberta por óbito de F………., de que é co-titular o executado D………. .

Por outro lado, o registo provisório (06/10/2004) das aquisições decorrentes da referida partilha - realizada antes (19/03/2004) da penhora (27/05/2004) daquele direito, embora quase um ano depois da instaurada a presente

execução – foi efectuado depois do registo provisório (22/07/2004) da penhora do aludido direito do executado D………. (ver arts. 824º, nº 2, do CC, 5º e 6º, do C. Registo Predial).

Por fim, as considerações feitas pelo agravante nas suas alegações/conclusões do recurso relativamente às alegadas condicionalidade ou inaceitabilidade da sua proposta de aquisição.

Sobre esta questão, diremos que, tal como se pondera na decisão recorrida, também se entende que os termos em que o requerente efectua a proposta são juridicamente irrelevantes, uma vez que a venda judicial, por natureza, é

incondicionável ou inegociável.

Na venda judicial, o proponente, lógica e naturalmente depois de se informar e ponderar, limita-se a oferecer um preço pelo bem ou direito objecto da venda, sem que possa condicionar a sua oferta. Ou quer adquirir no

condicionalismo (tipo de bem ou direito e valor base da venda) publicitado no âmbito da execução ou se abstém de o fazer.

Conclui, ainda, o agravante, que mesmo admitindo a incondicionabilidade da proposta, então forçoso seria concluir no caso sub judice pela sua

inaceitabilidade, pois dela constava uma condição de validade e/ou eficácia.

Com o devido respeito, o argumento é um pouco falacioso.

Na verdade, sendo irrelevante a eventual condição de validade e/ou eficácia suscitada pelo proponente, o juiz não a pode levar em consideração, tudo se passando como se não estivesse escrita.

No caso, a proposta apresentada pelo agravante (“…sou a apresentar a minha melhor proposta para eventual aquisição, no âmbito do processo de execução ordinária em epígrafe…) é clara, oferecendo o proponente € 58.000,00.

O preceituado nos arts. 893º e 894º, do CPC, foi respeitado.

Improcedem, assim, as conclusões da alegação do recorrente.

3- DECISÃO

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Pelo exposto, acordam os juízes deste Tribunal em negar provimento ao agravo, confirmando a decisão recorrida.

Custas pelo agravante.

Porto, 12/11/2008

Manuel José Caimoto Jácome

Carlos Alberto Macedo Domingues José António Sousa Lameira

Referências

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