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Dubiedade De Interpretação No Código Penal – Artigo 251, §1º
Paulo Roberto Felipe Marques Estudante de Direito da Faculdade de Estudos Administrativos de Minas Gerais. Assessor de Inteligência de Defesa pelo poder Executivo de Minas Gerais desde o ano de 2008.
Fatos isolados envolvendo crimes de explosão, ou equiparados à explosão, tem sido pauta de debates sobre a contextualização e a aplicabilidade do disposto no parágrafo primeiro do artigo 251 do nosso Código Penal.
O artigo em questão, em seu parágrafo primeiro, da margem a entendimentos diversos ao operador do direito ou para os agentes de Estado que baseando-se na Lei cumprem o papel de litigar contra o crime.
O Código Penal, tratando dos Crimes de Explosão, alude no artigo 251 e em seu parágrafo primeiro o seguinte:
"Art. 251 - Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
§ 1º - Se a substância utilizada não é dinamite ou explosivo de efeitos análogos:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa."
Acontece que se analisarmos a fundo, verificamos que o caput do artigo fala claramente que expor a vida, a integridade física ou o patrimônio de alguém, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou sustância de efeitos análogos é crime com pena de reclusão de três a seis anos, mais multa.
Não há dúvidas de que o artigo trata de ações exclusivamente tomadas mediante uso de dinamite ou de sustâncias de efeitos análogos. Análogo é aquilo que provém de fatos idênticos. Portanto, trata de ações tomadas mediante uso de explosivos. A definição de explosivos abrange desde o velho e conhecido Trinitrotolueno (TNT) à uma bomba de fabricação caseira.
Há algum tempo a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara aprovou proposta que tipifica o crime de fabricação de arma de fogo, acessório e munição sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, tratando ainda da pena. Isto em caráter substitutivo ao Projeto de Lei 7349/06.
A proposta, tinha como objetivo revogar o o art. 253, que trata do fabrico, fornecimento, aquisição posse ou transporte de explosivos ou gás tóxico, ou asfixiante e modificar a redação do art. 251 do Decreto-Lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940, o Código Penal Brasileiro.
A Comissão justifica tal intento dizendo que nosso Código Penal datado no ano de 1940 se molda face as inovações fantásticas ocorridas nas várias áreas das atividades humanas, os costumes se modificaram, os valores também. Além disso, tratam a respeito das disposições da Lei nº 10.826 que trata do SINARM – Estatuto do Desarmamento – Armas de Fogo, que se revestem de matizes mais
flagrantemente ligadas à segurança pública e persecução criminal, ditas mais dinâmicas, cujos delitos provocam maior clamor social e tem pontos convergentes com nossa iniciativa, fatos que aconselham a regulamentação penal em conjunto.
O supra mencionado Estatuto do Desarmamento, Lei 10.826, de 22 de Dezembro de 2003, que seu artigo 16, inciso III, discorrendo sobre explosivos, diz o seguinte:
"Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, terem depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar,remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
III - possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo"
ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar;
Com isso, verificamos mais um dispositivo legal que coíbe a utilização de artefatos explosivos, corroborando com a tipificação feita pelo Código Penal no caput do art.
251.
O 'pulo do gato' está na contradição existente entre o parágrafo primeiro e o caput do art. 251 do Código Penal. Se o texto base, o caput, do artigo fala que é crime expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem mediante explosão, o que faz ali, nesse mesmo artigo, o parágrafo primeiro dizendo que também é crime se a substância utilizada não é dinamite ou explosivo de efeitos análogos?
Tendo como base o parágrafo primeiro, o que seria então substância utilizada que não é dinamite ou explosivo? Onde está a definição? Se não é dinamite ou explosivo, o que faz esse parágrafo nos crimes de explosão?
É evidente o caso de obscuridade no artigo, tornando totalmente inconsistente o emprego do parágrafo primeiro ao artigo caput do artigo 251 do Código Penal.
No primeiro semestre de 2009, em um estádio de futebol, foi registrada uma ocorrência um tanto quanto curiosa. Um rapaz, munido de um artefato luminoso, possivelmente pirotécnico, mas que por sua vez não emitia nem fumaça e nem expelia fogo, nem incorria na possibilidade de explosão ou prejuízo alheio por meio de sua utilização, foi preso. Acontece que ele foi preso e sujeito a cumprimento de pena de reclusão, de três a seis anos, mais multa, segundo a autoridade coatora por expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos, sendo que a substância utilizada não era dinamite ou explosivo de efeitos análogos. De acordo com caput do artigo 251 do Código Penal.
O intrigante é que na embalagem desse 'pisca-pisca' estava estampado em vermelho a seguinte frase: Produto recomendado para maiores de 8 (oito) anos de idade. Parece bem explosivo.
Como alguém poderia expor a vida, a integridade física ou o patrimônio de alguém a perigo, mediante explosão, se a substância utilizada não é dinamite ou explosivo de efeitos análogos?
Poderia ser este então um caso de tipificação da ocorrência sob a luz do texto expresso no parágrafo primeiro do artigo 251. Caso houvesse alguma definição do que vem a ser substância utilizada não é dinamite ou explosivo de efeitos análogos.
Há ainda mais um ponto que é alusão do parágrafo primeiro ao termo substância.
A palavra substância vem do latim substantia, aquilo que subsiste por si, essência, matéria de que é formada um corpo. E no caso demonstrado, trata-se de um instrumento de emissão de faixas luminosas. E em sua composição, ou seja, em sua substância, não há similaridade com explosivos. Seria então o caso de dizer
que um palito de fósforo é explosivo. Mesmo tendo elementos químicos que também podem ser utilizados em explosivos, não se pode equiparar um fósforo à uma dinamite.
A discussão é extensa, e com certeza pode abranger inúmeras inovações fantásticas que ocorreram em várias áreas das atividades humanas, onde costumes e valores se modificaram, pois afinal são quase 69 anos de Código Penal brasileiro, tempo o bastante para muita coisa ser esclarecida e ainda questionada.
Bibliografias e Fontes:
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de direito penal, v. 2, 9a ed. São Paulo: Atlas, 1995.GRECO, Rogério. Curso de direito penal, v. 2. Niterói: Impetus, 2005
Http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Decretro-Lei/Del2848 Http://www.camara.gov.br/sileg/
Disponível em:
http://www.artigonal.com/direito-artigos/dubiedade-de-interpretacao-no- codigo-penal-artigo-251-%c2%a71%c2%ba-952261.html
Acesso em 17/06/2009.