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Informativo comentado: Informativo 672-STJ Márcio André Lopes Cavalcante

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Informativo comentado:

Informativo 672-STJ

Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE

DIREITO CIVIL

DIREITOS DA PERSONALIDADE

Na exposição pornográfica não consentida, o fato de o rosto da vítima não estar evidenciado de maneira flagrante é irrelevante para a configuração dos danos morais.

LOCAÇÃO DE IMÓVEIS URBANOS

A notificação premonitória é pressuposto processual para a ação de despejo por denúncia vazia de contrato de locação por prazo indeterminado.

SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO

Os prejuízos resultantes de sinistros relacionados a vícios estruturais de construção estão acobertados pelo seguro habitacional obrigatório, vinculado a crédito imobiliário concedido para aquisição de imóvel pelo SFH.

PROMESSA DE COMPRA E VENDA

É admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda, ainda que desprovido de registro, de imóvel adquirido na planta que se encontra em fase de construção.

A averbação do desmembramento de imóvel urbano é condição indispensável para a procedência da ação de adjudicação compulsória.

DIVÓRCIO

Incidem juros e correção monetária sobre o valor econômico de cotas sociais objeto de partilha em divórcio sendo que, após a separação de fato do casal, essa empresa ficou sob a administração exclusiva de um dos ex-cônjuges até o encerramento de suas atividades.

AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE

A averbação de sentença proferida em ação negatória de filiação não consubstancia, em si, um direito subjetivo autônomo das partes litigantes, tampouco se confunde com o direito personalíssimo ali discutido.

SUCESSÕES

A cessão de direitos hereditários sobre bem singular viabiliza a transmissão da posse, que pode ser objeto de tutela específica na via dos embargos de terceiro.

DIREITO DO CONSUMIDOR

RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO

Na hipótese de responsabilidade civil de médicos pela morte de paciente em atendimento custeado pelo SUS incidirá o prazo do art. 1º-C da Lei nº 9.494/97, segundo o qual prescreverá em cinco anos a pretensão de obter indenização.

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Informativo comentado

DIREITO EMPRESARIAL LETRA DE CÂMBIO

Na letra de câmbio não aceita não há obrigação cambial que vincule o sacado e assim, o sacador somente tem ação extracambial contra o sacado não aceitante, cujo prazo prescricional não sofre as interferências do protesto do título de crédito.

FALÊNCIA

O ajuizamento de execução fiscal em momento anterior à decretação da quebra do devedor não enseja o reconhecimento da ausência de interesse processual do ente federado para pleitear a habilitação do crédito correspondente no processo de falência.

RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Nos casos em que há aditamento ao plano de recuperação judicial, o termo inicial do prazo bienal de que trata o art. 61, caput, da Lei nº 11.101/2005 deve ser a data da concessão da recuperação judicial.

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE INTERNAÇÃO

Se a internação for aplicada sem termo, o cálculo do prazo prescricional deverá levar em consideração a duração máxima da internação (3 anos).

CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA

É válida a extinção de medida socioeducativa de internação quando o juízo da execução, ante a superveniência de processo-crime após a maioridade penal, entende que não restam objetivos pedagógicos em sua execução.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Se houve a extinção da execução fiscal a pedido do exequente, mas o crédito tributário permanece sendo discutido judicialmente em outra demanda, os honorários advocatícios devem ser arbitrados por apreciação equitativa.

PENHORA

São penhoráveis os valores oriundos de empréstimo consignado, salvo se o mutuário comprovar que os recursos são necessários à de sua manutenção e de sua família.

PROCEDIMENTOS ESPECIAIS (EMBARGOS DE TERCEIRO)

Não são cabíveis embargos de terceiro para desconstituir decisão judicial que permite a averbação de protesto na matrícula de um imóvel.

DIREITO PENAL PRESCRIÇÃO

Acórdão que confirma ou reduz a pena interrompe a prescrição.

INJÚRIA

A ausência de previsibilidade de que a ofensa chegue ao conhecimento da vítima afasta o dolo específico do delito de injúria, tornando a conduta atípica.

ESTELIONATO

Não se admite a incidência do princípio da insignificância na prática de estelionato qualificado por médico que, no desempenho de cargo público, registra o ponto e se retira do hospital

FALSIDADE IDEOLÓGICA

Na falsidade ideológica, o termo inicial da contagem do prazo da prescrição da pretensão punitiva é o momento da consumação do delito (e não o momento da eventual reiteração de seus efeitos).

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Informativo comentado

DIREITO PROCESSUAL PENAL PROVAS

O ato de delegação da condução e direção de produção de prova oral à autoridade estrangeira, a fim de que esta proceda diretamente à inquirição da testemunha ou do investigado, não encontra qualquer tipo de respaldo constitucional, legal ou jurisprudencial.

DIREITO TRIBUTÁRIO

IMPOSTO DE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS

Havendo mero deslocamento para outro estabelecimento ou para outra localidade, permanecendo o produto sob o domínio do contribuinte, não haverá incidência do IPI.

PIS E COFINS

Aproveitamento de créditos de PIS e Cofins e sistema monofásico.

DIREITO CIVIL

DIREITOS DA PERSONALIDADE

Na exposição pornográfica não consentida, o fato de o rosto da vítima não estar evidenciado de maneira flagrante é irrelevante para a configuração dos danos morais

Caso concreto: Paulo e Letícia eram namorados. Paulo tirou fotografias de Letícia em que ela aparece de biquini, em poses sensuais, mas sem aparecer seu rosto. Após o fim do relacionamento, Paulo, como forma de vingança, publicou tais imagens em um perfil criado no Facebook. Letícia denunciou as publicações por meio dos canais disponibilizados pelo Facebook, no entanto, a plataforma não aceitou retirar as fotografias alegando que não são fotografias pornográficas (considerando que não há nudez), além do fato de não estar sendo exposto de forma evidente.

O STJ não concordou com os argumentos do Facebook e o condenou a pagar indenização por danos morais em favor da autora.

A “exposição pornográfica não consentida”, da qual a “pornografia de vingança” é uma espécie, constituiu uma grave lesão aos direitos de personalidade da pessoa exposta indevidamente, além de configurar uma grave forma de violência de gênero que deve ser combatida de forma contundente pelos meios jurídicos disponíveis.

Não há como descaracterizar um material pornográfico apenas pela ausência de nudez total.

Neste caso concreto, a autora encontra-se sumariamente vestida, em posições com forte apelo sexual.

O fato de o rosto da vítima não estar evidenciado nas fotos de maneira flagrante é irrelevante para a configuração dos danos morais na hipótese, uma vez que a mulher vítima da pornografia de vingança sabe que sua intimidade foi indevidamente desrespeitada e, igualmente, sua exposição não autorizada lhe é humilhante e viola flagrantemente seus direitos de personalidade.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.735.712-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/05/2020 (Info 672).

Imagine a seguinte situação hipotética:

Paulo e Letícia eram namorados.

Paulo tirou fotografias de Letícia em que ela aparece de biquini, em poses sensuais, mas sem aparecer seu rosto.

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Informativo comentado

Após o fim do relacionamento, Paulo, como forma de vingança, publicou tais imagens em um perfil criado no Facebook.

Letícia denunciou as publicações por meio dos canais disponibilizados pelo Facebook, no entanto, a plataforma não aceitou retirar as fotografias alegando que não são fotografias pornográficas (considerando que não há nudez), além do fato de não estar sendo exposto de forma evidente.

O que decidiu o STJ?

O STJ não concordou com os argumentos do Facebook e condenou a empresa a pagar indenização por danos morais em favor da autora.

A “exposição pornográfica não consentida”, da qual a “pornografia de vingança” (revenge porn) é uma espécie, constituiu uma grave lesão aos direitos de personalidade da pessoa exposta indevidamente, além de configurar uma grave forma de violência de gênero que deve ser combatida de forma contundente pelos meios jurídicos disponíveis.

Não há como descaracterizar um material pornográfico apenas pela ausência de nudez total. Neste caso concreto, a autora encontra-se sumariamente vestida, em posições com forte apelo sexual, tipicamente feita a um parceiro por quem ela nutria confiança.

O fato de o rosto da vítima não estar evidenciado nas fotos de maneira flagrante é irrelevante para a configuração dos danos morais na hipótese, uma vez que a mulher vítima da pornografia de vingança sabe que sua intimidade foi indevidamente desrespeitada e, igualmente, sua exposição não autorizada lhe é humilhante e viola flagrantemente seus direitos de personalidade.

Na exposição pornográfica não consentida, o fato de o rosto da vítima não estar evidenciado de maneira flagrante é irrelevante para a configuração dos danos morais.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.735.712-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/05/2020 (Info 672).

Marco Civil da Internet não se aplicou no presente caso

O caso acima explicado não foi analisado segundo a ótica do Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014) considerando que este diploma não se encontrava em vigor na época dos fatos.

Penso, contudo, que a solução seria a mesma por força do que prevê o art. 21 do Marco Civil:

Art. 21. O provedor de aplicações de internet que disponibilize conteúdo gerado por terceiros será responsabilizado subsidiariamente pela violação da intimidade decorrente da divulgação, sem autorização de seus participantes, de imagens, de vídeos ou de outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter privado quando, após o recebimento de notificação pelo participante ou seu representante legal, deixar de promover, de forma diligente, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço, a indisponibilização desse conteúdo.

Parágrafo único. A notificação prevista no caput deverá conter, sob pena de nulidade, elementos que permitam a identificação específica do material apontado como violador da intimidade do participante e a verificação da legitimidade para apresentação do pedido.

Aspecto criminal

Vale ressaltar que a conduta do ex-namorado poderia configurar, inclusive, o crime previsto no art. 218- C, § 1º do Código Penal, desde que praticada após a Lei nº 13.718/2018, que incluiu essa figura típica:

Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo ou de pornografia Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de informática ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime mais grave.

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Informativo comentado

Aumento de pena

§ 1º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o crime é praticado por agente que mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou humilhação.

(...)

LOCAÇÃO DE IMÓVEIS URBANOS

A notificação premonitória é pressuposto processual para a ação de despejo por denúncia vazia de contrato de locação por prazo indeterminado

Antes que o locador ajuíze ação de despejo por denúncia vazia em caso de locação por prazo indeterminado, é obrigatório que ele faça comunicação dirigida ao locatário manifestando sua intenção na retomada do imóvel, nos termos do art. 46, § 2º, da Lei nº 8.245/91:

Art. 46 (...) § 2º Ocorrendo a prorrogação, o locador poderá denunciar o contrato a qualquer tempo, concedido o prazo de trinta dias para desocupação.

Isso é chamado de notificação premonitória.

A finalidade da notificação premonitória é a de evitar que o locatário seja surpreendido pelo ajuizamento da ação de despejo, o que ainda lhe poderá acarretar o pagamento dos ônus sucumbenciais. Ao ser comunicado, ele poderá procurar outro imóvel onde possa se instalar.

Caso a ação de despejo seja ajuizada sem essa prévia notificação, o processo deverá ser extinto sem a resolução do mérito, por falta de condição essencial ao seu normal desenvolvimento.

Exceção: é permitido ao locador ajuizar diretamente a ação de despejo, dispensando a notificação prévia, desde que o ajuizamento ocorra nos 30 dias seguintes ao termo final do contrato.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.812.465/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

Imagine a seguinte situação hipotética:

Pedro (proprietário/locador) alugou seu imóvel para João.

O contrato foi celebrado por prazo determinado e com duração de 30 meses (o prazo terminava em janeiro/2014).

Chegou janeiro de 2014, mas nem o locador nem o locatário falaram nada. João permaneceu morando no imóvel e pagando os aluguéis e Pedro continuou recebendo normalmente.

Em outubro de 2014, Pedro ajuizou ação de despejo contra João postulando a desocupação do imóvel e a entrega das chaves.

Vale ressaltar que a denúncia do contrato feita por Pedro era “vazia”.

Abrindo aqui um parêntese: o que é “denúncia vazia”?

Chama-se de “denúncia vazia” a possibilidade de o locador solicitar a retomada do imóvel sem a necessidade de apresentar justificativas. Em contrapartida, fala-se em “denúncia cheia” quando a lei exige, para a retomada do imóvel, que o locador demonstre que existe alguma das hipóteses previstas na lei.

Fechando o parêntese. O que o réu alegou na contestação?

Na contestação, João alegou que, para o ajuizamento da ação de despejo, era indispensável que Pedro tivesse feito uma notificação extrajudicial manifestando sua intenção de retomar o imóvel. Sem essa prévia notificação não seria possível a propositura da ação.

É correto o argumento invocado por João?

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Informativo comentado

SIM.

A notificação premonitória constitui pressuposto processual para ação de despejo em locação por denúncia vazia de contrato por prazo indeterminado.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.812.465/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

Antes que o locador ajuíze ação de despejo por denúncia vazia, em caso de locação por prazo indeterminado, é obrigatório que ele faça comunicação dirigida ao locatário manifestando sua intenção na retomada do imóvel, nos termos do art. 46, § 2º, da Lei nº 8.245/91 (Lei de locação dos imóveis urbanos):

Art. 46 (...)

§ 2º Ocorrendo a prorrogação, o locador poderá denunciar o contrato a qualquer tempo, concedido o prazo de trinta dias para desocupação.

Isso é chamado de notificação premonitória.

A finalidade da notificação premonitória é a de evitar que o locatário seja surpreendido pelo ajuizamento da ação de despejo, o que ainda lhe poderá acarretar o pagamento dos ônus sucumbenciais.

Depois de que locatário é comunicado da intenção do locador de retomar o bem, ele poderá procurar outro imóvel onde possa se instalar.

É o que explicava o grande Sylvio Capanema:

“Caso a ação de despejo seja ajuizada sem a prévia notificação, deverá ser extinto o processo, sem a resolução do mérito, por falta de condição essencial ao seu normal desenvolvimento.

A notificação dispensa solenidade especial, podendo se revestir de qualquer forma, desde que inequívoca.

A finalidade da notificação premonitória é a de evitar que o locatário seja surpreendido pelo ajuizamento da ação de despejo, o que ainda lhe poderá acarretar o pagamento dos ônus sucumbenciais.

Por outro lado, o aviso permitirá ao locatário preparar-se para a desocupação e obtenção de um novo imóvel onde possa se instalar.

Reveste-se, portanto, a exigência de importante finalidade social, para não se agravar, ainda mais, o prejuízo que a mudança certamente causará ao locatário.” (Sylvio Capanema de Souza. A Lei do Inquilinato Comentada. Rio de Janeiro: GEN Forense, 9ª ed., 2014, p. 195)

O que acontece se há o ajuizamento de ação de despejo sem que tenha havido prévia notificação premonitória?

• Regra: caso a ação de despejo seja ajuizada sem essa prévia notificação, o processo deverá ser extinto sem a resolução do mérito, por falta de condição essencial ao seu normal desenvolvimento.

• Exceção: é permitido ao locador ajuizar diretamente a ação de despejo, dispensando a notificação prévia, desde que o ajuizamento ocorra nos 30 dias seguintes ao termo final do contrato. Ex: a locação era por prazo determinado; o contrato terminou no dia 02/02; o locador terá até 30 dias para ajuizar a ação depois do término desse contrato. Neste caso, trata-se de ação de despejo por término do contrato, e não de despejo por denúncia vazia.

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SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO

Os prejuízos resultantes de sinistros relacionados a vícios estruturais de construção estão acobertados pelo seguro habitacional obrigatório, vinculado a crédito imobiliário concedido

para aquisição de imóvel pelo SFH

Os vícios estruturais de construção estão cobertos pelo seguro habitacional obrigatório vinculado ao crédito imobiliário concedido pelo Sistema Financeiro da Habitação - SFH, ainda que só se revelem depois da extinção do contrato.

No âmbito do SFH, o seguro habitacional ganha conformação diferenciada, uma vez que integra a política nacional de habitação, destinada a facilitar a aquisição da casa própria, especialmente pelas classes de menor renda da população. Trata-se, portanto, de contrato obrigatório que visa à proteção da família e à salvaguarda do imóvel que garante o respectivo financiamento imobiliário, resguardando, assim, os recursos públicos direcionados à manutenção do sistema.

A partir dessa perspectiva, infere-se que uma das justas expectativas do segurado, ao aderir ao seguro habitacional obrigatório para aquisição da casa própria pelo SFH, é a de receber o bem imóvel próprio e adequado ao uso a que se destina. E a essa expectativa legítima de garantia corresponde a de ser devidamente indenizado pelos prejuízos suportados em decorrência de danos originados na vigência do contrato e geradores dos riscos cobertos pela seguradora, segundo o previsto na apólice, como razoavelmente se pressupõe ocorrer com os vícios estruturais de construção.

STJ. 2ª Seção. REsp 1.804.965-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/05/2020 (Info 672).

Sistema Financeiro de Habitação (SFH)

Sistema Financeiro de Habitação (SFH) é um programa do Governo Federal, criado pela Lei nº 4.380/64, com o objetivo de facilitar que pessoas de baixa renda pudessem adquirir a sua casa própria.

A legislação que rege o SFH prevê condições mais favoráveis às pessoas que adquirem os imóveis porque existe um incentivo (subsídio) estatal. Em compensação, o adquirente tem que cumprir certas obrigações e, em caso de inadimplemento, são estipuladas regras mais céleres para a cobrança do débito.

Seguro habitacional

O seguro habitacional é um seguro obrigatório exigido para quem contrata um financiamento imobiliário.

Assim, a pessoa que contrata um mútuo (um empréstimo) para financiar seu imóvel é obrigada a contratar também um seguro habitacional.

Se não houver esse seguro, a instituição financeira não poderá conceder o empréstimo para a pessoa interessada. É o que prevê o art. 79 da Lei nº 11.977/2009:

Art. 79. Os agentes financeiros do SFH somente poderão conceder financiamentos habitacionais com cobertura securitária que preveja, no mínimo, cobertura aos riscos de morte e invalidez permanente do mutuário e de danos físicos ao imóvel. (Redação dada pela Lei nº 12.424, de 2011) Vale ressaltar que o mutuário tem liberdade para escolher com quem irá contratar o seguro habitacional.

Em outras palavras, ele não precisa fazer o empréstimo com a mesma instituição financeira que irá lhe conceder o empréstimo:

Súmula 473-STJ: O mutuário do SFH não pode ser compelido a contratar o seguro habitacional obrigatório com a instituição financeira mutuante ou com a seguradora por ela indicada.

Esse seguro garante, por exemplo, que a família permaneça com o imóvel mesmo se houver morte ou invalidez total e permanente da pessoa que pagava o financiamento. Também garante a indenização ou a reconstrução do imóvel, caso ocorra dano físico causado por riscos cobertos pela seguradora, de acordo com a apólice contratada.

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Imagine agora a seguinte situação hipotética:

Regina adquiriu um apartamento na planta, financiado pelo SFH. Isso significa que ela tomou dinheiro emprestado de uma instituição financeira e, com o recurso, comprou o imóvel, que ainda estava em construção, ficando acertado que pagaria a dívida parceladamente ao banco.

Conforme exige o art. 79 da Lei nº 11.977/2009, Regina fez um contrato de seguro habitacional com a Sul América Companhia de Seguros, seguro esse vinculado a crédito imobiliário concedido para aquisição de imóvel pelo SFH.

O apartamento foi entregue e, depois de um tempo, apareceu um vício de construção. Em razão disso, Regina precisou fazer reparos no imóvel, o que lhe custou R$ 10 mil.

Regina acionou a Sul América, mas a seguradora negou-se a indenizar, sob o argumento de que o seguro habitacional obrigatório não tem por objetivo assegurar a qualidade e solidez da obra. Sua finalidade seria apenas a de garantir o financiamento imobiliário.

Diante disso, Regina ajuizou ação de indenização contra a seguradora pedindo o ressarcimento pelos gastos que teve em decorrência dos vícios de construção do imóvel que adquiriu pelo sistema financeiro de habitação.

Regina terá direito à indenização? A cobertura do seguro abrange esses vícios?

SIM.

Os vícios estruturais de construção estão cobertos pelo seguro habitacional obrigatório vinculado ao crédito imobiliário concedido pelo Sistema Financeiro da Habitação - SFH, ainda que só se revelem depois da extinção do contrato.

STJ. 2ª Seção. REsp 1.804.965-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/05/2020 (Info 672).

No âmbito do SFH, o seguro habitacional ganha conformação diferenciada, uma vez que integra a política nacional de habitação, destinada a facilitar a aquisição da casa própria, especialmente pelas classes de menor renda da população.

Trata-se de contrato obrigatório que tem por objetivo proteger a família e resguardar o imóvel objeto do financiamento imobiliário.

A partir dessa perspectiva, infere-se que uma das justas expectativas do segurado, ao aderir ao seguro habitacional obrigatório para aquisição da casa própria pelo SFH, é a de receber o bem imóvel próprio e adequado ao uso a que se destina. E a essa expectativa legítima de garantia corresponde a de ser devidamente indenizado pelos prejuízos suportados em decorrência de danos originados na vigência do contrato e geradores dos riscos cobertos pela seguradora, segundo o previsto na apólice, como razoavelmente se pressupõe ocorrer com os vícios estruturais de construção.

Os danos suportados pelos segurados não são verificados exclusivamente em razão do decurso do tempo e da utilização normal da coisa, mas resultam de vícios estruturais de construção, a que não deram causa, nem poderiam de qualquer modo evitar, e que, evidentemente, apenas se agravam com o decurso do tempo e a utilização normal da coisa.

A interpretação fundada na boa-fé objetiva, contextualizada pela função socioeconômica que desempenha o contrato de seguro habitacional obrigatório vinculado ao SFH, leva a concluir que a restrição de cobertura, no tocante aos riscos indicados, deve ser compreendida como a exclusão da responsabilidade da seguradora com relação aos riscos que resultem de atos praticados pelo próprio segurado ou do uso e desgaste natural e esperado do bem, tendo como baliza a expectativa de vida útil do imóvel, porque configuram a atuação de forças normais sobre o prédio.

Os vícios estruturais de construção provocam, por si mesmos, a atuação de forças anormais sobre a edificação, na medida em que, se é fragilizado o seu alicerce, qualquer esforço sobre ele - que seria naturalmente suportado acaso a estrutura estivesse íntegra - é potencializado, do ponto de vista das suas consequências, porque apto a ocasionar danos não esperados na situação de normalidade de fruição do bem.

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Informativo comentado

Desse modo, à luz dos parâmetros da boa-fé objetiva e da função social do contrato, que os vícios estruturais de construção estão acobertados pelo seguro habitacional, cujos efeitos devem se prolongar no tempo, mesmo após a conclusão do contrato, para acobertar o sinistro concomitante à vigência deste, ainda que só se revele depois de sua extinção (vício oculto).

DODPLUS

Sistema Financeiro de Habitação é cobrado com relativa frequência em concursos de Juiz Federal. Veja abaixo algumas informações que você precisa saber sobre o tema:

++ (Juiz Federal TRF3 2018) As normas do Código de Defesa do Consumidor são aplicáveis a todos os contratos relacionados ao Sistema Financeiro da Habitação, independentemente da data de sua celebração. (errado)

Comentário:

O Código de Defesa do Consumidor não se aplica aos contratos do SFH celebrados antes da sua entrada em vigor (STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1454058/RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 05/09/2019). Em outras palavras, o CDC não se aplica retroativamente para os contratos anteriores a ele.

++ (Juiz Federal TRF3 2018) O mutuário do Sistema Financeiro da Habitação não pode ser compelido a contratar seguro habitacional obrigatório com a instituição financeira mutuante ou com a seguradora por ela indicada. (certo)

Comentário: é o teor da Súmula 473 do STJ.

++ (Juiz Federal TRF3 2018) Nos contratos de seguro habitacional obrigatório no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação, as seguradoras não são responsáveis pelos vícios decorrentes da construção.

(errado)

++ (Promotor de Justiça MPCE 2020 CEBRASPE) Com relação a bem imóvel urbano vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e registrado em nome de banco estatal que possua personalidade jurídica de direito privado e atue como agente financeiro na implementação de política nacional de habitação, a jurisprudência do STJ estabelece que esse bem não pode ser adquirido por usucapião, em razão do caráter público dos serviços prestados pelo banco estatal na implementação da política nacional de habitação.

(certo) Comentário:

O imóvel da Caixa Econômica Federal vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação, como está afetado à prestação de um serviço público, deve ser tratado como bem público, sendo, pois, imprescritível (insuscetível de usucapião).

STJ. 3ª Turma. REsp 1448026-PE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/11/2016 (Info 594).

(10)

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PROMESSA DE COMPRA E VENDA

É admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda, ainda que desprovido de registro, de imóvel adquirido na

planta que se encontra em fase de construção

Importante!!!

O STJ possui enunciado afirmando que: “é admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que desprovido do registro” (Súmula 84-STJ).

Esse entendimento se aplica mesmo que o imóvel, adquirido na planta, ainda esteja em fase de construção.

Assim, a Súmula 84 do STJ pode ser aplicada mesmo quando ainda não houve a entrega das chaves ao promitente comprador.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.861.025/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

Imagine a seguinte situação hipotética:

João celebrou contrato de promessa de compra e venda contra a imobiliária CRV Ltda. com o objetivo de adquirir um apartamento “na planta”, ou seja, que ainda estava iniciando a construção.

João é o promitente comprador e a imobiliária a promitente vendedora.

No contrato, ficou estipulado que João estava adquirindo o apartamento 1502, do Edifício Viver Melhor, que estava sendo construído pela imobiliária.

Ação de indenização e cumprimento de sentença Vamos agora introduzir personagem no enredo.

Regina ajuizou ação de indenização contra a CRV Ltda., que foi condenada a pagar à autora R$ 500 mil.

Iniciado o cumprimento de sentença, o juiz determinou a penhora da unidade 1502, do Edifício Viver Melhor.

A penhora do mencionado imóvel ocorreu porque ainda constava como proprietária do bem a CRV Ltda, sem qualquer ressalva, tendo em vista que não foi promovido o registro da promessa de compra e venda no Cartório de Registro de Imóveis competente.

Ao saber da penhora, João opôs embargos de terceiro contra essa constrição.

É cabível a oposição de embargos de terceiro neste caso?

SIM.

É admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda, ainda que desprovido de registro, de imóvel adquirido na planta que se encontra em fase de construção.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.861.025/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

O STJ possui enunciado afirmando que: “é admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que desprovido do registro” (Súmula 84-STJ).

Esse entendimento se aplica mesmo que o imóvel, adquirido na planta, ainda esteja em fase de construção.

Assim, a Súmula 84 do STJ pode ser aplicada mesmo quando ainda não houve a entrega das chaves ao promitente comprador.

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Informativo comentado

Mas João não tem ainda a propriedade do imóvel...

É verdade. No entanto, ele já tem a posse indireta.

A posse que permite a oposição dos embargos de terceiro é tanto a direta quanto a indireta.

Assim, por exemplo, o usufrutuário, o locatário (possuidor direto), o locador (possuidor indireto) e o compromissário comprador têm direito de defender sua posse por meio dos embargos.

PROMESSA DE COMPRA E VENDA

A averbação do desmembramento de imóvel urbano é condição indispensável para a procedência da ação de adjudicação compulsória

Atenção! Cartórios e PGM

Exemplo hipotético: Jasmim Ltda. ajuizou ação de adjudicação compulsória contra Dimensão Ltda. alegando em síntese que celebrou contrato de promessa de compra e venda de um lote que se encontrava em fase de desmembramento perante a “Prefeitura” (Município). Afirma que, apesar de celebrado o negócio, a ré ainda não outorgou a escritura definitiva do imóvel.

A requerida defendeu-se afirmando que não outorgou a escritura pública porque ainda não houve o desdobro do imóvel prometido à venda e que isso seria obstáculo à procedência da adjudicação compulsória.

Em um caso semelhante a esse, o STJ decidiu que não é possível a procedência da ação de adjudicação compulsória.

O art. 37 da Lei nº 6.766/79 (Lei de parcelamento do solo urbano) afirma que “é vedado vender ou prometer vender parcela de loteamento ou desmembramento não registrado”.

Além disso, segundo o regramento previsto no Decreto-Lei nº 58/1937, julgada procedente a ação de adjudicação compulsória, a sentença valerá como título para transcrição no cartório de registro de imóveis respectivo. Assim, se o imóvel de cuja escritura se exige a outorga não tem matrícula própria, individualizada no registro de imóveis, eventual sentença que substitua a declaração de vontade do promitente vendedor torna-se inócua, considerando que não será possível a sua transcrição.

A existência de imóvel registrável (imóvel que pode ser levado a registro) é condição específica da ação de adjudicação compulsória, de modo que a averbação do desmembramento de imóvel urbano, devidamente aprovado pelo Município, é formalidade que antecede necessariamente o registro de área fracionada.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.851.104-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

O que é uma promessa de compra e venda?

A promessa de compra e venda (ou compromisso de compra e venda) é...

- uma espécie de contrato preliminar

- por meio do qual uma pessoa (promitente vendedor) se compromete a vender o seu bem - ao promissário comprador após este pagar integralmente o preço que foi ajustado.

Trata-se de um contrato preliminar porque após o promitente comprador pagar integralmente o preço, as partes ainda irão celebrar um outro contrato, qual seja, de compra e venda.

Obs: alguns autores, como Nelson Rosenvald, diferenciam as expressões compromisso e promessa de compra e venda. Para a maioria da doutrina e da jurisprudência, contudo, são terminologias sinônimas.

Obrigações assumidas pelas partes

O promissário comprador assume uma obrigação de dar, consistente no pagamento do preço combinado (normalmente de forma parcelada).

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Informativo comentado

O promitente vendedor, por sua vez, assume uma obrigação de fazer, qual seja, assinar e outorgar escritura pública de compra e venda em favor do promissário comprador após este pagar integralmente o preço.

Forma

A promessa de compra e venda pode ser celebrada por instrumento público ou particular (art. 1.417 do CC).

O contrato principal (compra e venda) que será assinado após o pagamento integral do preço, se envolver bem imóvel de valor superior a 30 salários mínimos, deverá ser feito por escritura pública (art. 108 do CC).

A promessa de compra e venda precisa ser registrada em cartório para ser válida?

NÃO. A promessa de compra e venda é válida mesmo sem registro no cartório.

Quando a promessa de compra e venda é registrada em cartório, esse compromisso passa a ter natureza jurídica de direito real à aquisição. Veja o que diz o Código Civil:

Art. 1.417. Mediante promessa de compra e venda, em que se não pactuou arrependimento, celebrada por instrumento público ou particular, e registrada no Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente comprador direito real à aquisição do imóvel.

(...) A promessa de compra e venda identificada como direito real ocorre quando o instrumento público ou particular é registrado no cartório de registro de imóveis, o que não significa que a ausência do registro retire a validade do contrato. (...)

(STJ. 4ª Turma. REsp 1185383/MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 08/04/2014)

A importância do registro em cartório está na eficácia da promessa de compra e venda perante terceiros:

• Se a promessa não foi registrada: ela é válida, mas produz efeitos apenas entre as partes.

Ex: João (promitente vendedor) celebra um contrato de promessa de compra e venda de um imóvel com Pedro (promitente comprador). Esta promessa não é registrada em cartório. Pedro começa a pagar as prestações mensais. Ocorre que João, de forma desonesta, vende à vista o mesmo imóvel para Carlos que, de posse da escritura pública, vai até o cartório e registra o imóvel em seu nome. Pedro, ao descobrir a venda, não poderá pleitear o imóvel de Carlos. Restará a ele ajuizar ação de indenização contra João. Não significa que a promessa de compra e venda era inválida. O problema é que ela, mesmo sendo válida, não produzia efeitos para terceiros. Logo, Pedro não tem direito de sequela porque a promessa de compra e venda, neste caso, não é direito real.

• Se a promessa foi registrada: ela é válida e, além disso, produz efeitos perante terceiros.

Ex: utilizando o mesmo exemplo acima, se a promessa de compra e venda celebrada entre João e Pedro tivesse sido registrada em cartório, Carlos nem teria conseguido registrar o imóvel em seu nome, considerando que haveria essa restrição na matrícula do imóvel. No entanto, ainda que Carlos tivesse conseguido registrar, Pedro poderia ajuizar ação de adjudicação compulsória contra Carlos, desconstituindo esse registro. Isso porque a promessa de compra e venda produz efeitos para terceiros (no caso, Carlos) e a alienação de João para Carlos é ineficaz perante Pedro.

Nesse sentido, confira o art. 1.418 do CC:

Art. 1.418. O promitente comprador, titular de direito real, pode exigir do promitente vendedor, ou de terceiros, a quem os direitos deste forem cedidos, a outorga da escritura definitiva de compra e venda, conforme o disposto no instrumento preliminar; e, se houver recusa, requerer ao juiz a adjudicação do imóvel.

Enunciado 253 CJF: O promitente comprador, titular de direito real (art. 1.417), tem a faculdade de reivindicar de terceiro o imóvel prometido à venda.

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Irretratável ou retratável

A promessa de compra e venda, em regra, é irretratável.

As partes, contudo, com base na autonomia privada, podem inserir uma cláusula de arrependimento, prevendo a possibilidade de desistirem de continuar o negócio jurídico. Se não previrem cláusula nesse sentido, a promessa será irretratável.

Se o promitente vendedor, mesmo após receber o preço integral combinado, recusar-se a outorgar a escritura pública, o que o promissário comprador poderá fazer?

Poderá ajuizar ação de adjudicação compulsória.

A adjudicação compulsória é a ação proposta pelo promissário comprador contra o promitente vendedor que se recusa a cumprir sua obrigação de outorgar a escritura definitiva de compra e venda.

O autor da ação pede que o juiz prolate uma sentença que supra (substituta) a declaração de vontade do promitente vendedor. Assim, a sentença já irá produzir o mesmo efeito da escritura pública que o promitente vendedor não outorgou, podendo o autor até mesmo fazer o registro no Cartório de Registro de Imóveis.

O pedido formulado na adjudicação compulsória era previsto de forma expressa no art. 466-B do CPC 1973:

CPC 1973 CPC 2015

Art. 466-B. Se aquele que se comprometeu a concluir um contrato não cumprir a obrigação, a outra parte, sendo isso possível e não excluído pelo título, poderá obter uma sentença que produza o mesmo efeito do contrato a ser firmado.

Art. 466-C. Tratando-se de contrato que tenha por objeto a transferência da propriedade de coisa determinada, ou de outro direito, a ação não será acolhida se a parte que a intentou não cumprir a sua prestação, nem a oferecer, nos casos e formas legais, salvo se ainda não exigível.

Não há dispositivo no novo CPC que reproduza expressamente a previsão do art. 466-B do CPC 1973. Apesar disso, a parte poderá continuar pedindo ao Judiciário a providência nele prevista com base no art. 501 do CPC 2015:

Art. 501. Na ação que tenha por objeto a emissão de declaração de vontade, a sentença que julgar procedente o pedido, uma vez transitada em julgado, produzirá todos os efeitos da declaração não emitida.

O compromisso de compra e venda pode ou não ser registrado no cartório de registro de imóveis. Se a promessa não for registrada no cartório, ainda assim o promissário comprador poderá ajuizar ação de adjudicação compulsória?

SIM. O registro do compromisso de compra e venda não é condição para o ajuizamento da ação de adjudicação compulsória. Mesmo sem o registro, é possível a adjudicação compulsória. Nesse sentido:

Súmula 239-STJ: O direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao registro do compromisso de compra e venda no cartório de imóveis.

Enunciado 95 da I Jornada de Direito Civil: O direito à adjudicação compulsória (art. 1.418 do novo Código Civil), quando exercido em face do promitente vendedor, não se condiciona ao registro da promessa de compra e venda no cartório de registro imobiliário (Súmula n. 239 do STJ).

Vantagem no caso de a promessa ter sido registrada para fins de adjudicação compulsória

Se a promessa estiver registrada no RI, o promissário comprador tem uma vantagem: ele poderá ajuizar a ação de adjudicação compulsória com base em um rito sumário (mais rápido e simples) previsto no art.

25 da Lei nº 6.766/79 e art. 15 do DL nº 58/37. Já se o contrato não estiver registrado, a ação de adjudicação compulsória será proposta como uma ação de conhecimento, de rito ordinário. (FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil. Vol. 5. Salvador : Juspodivm, 2014, p. 840).

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Além disso, conforme já explicado acima, se a promessa estiver registrada, a adjudicação compulsória poderá ser proposta inclusive contra terceiros.

Imagine agora a seguinte situação hipotética:

Dimensão Ltda. é proprietário de um imóvel de 1.500 m2.

Esse imóvel está sendo objeto de um processo administrativo de desmembramento, que tramita na

“Prefeitura” (Administração Pública municipal).

A Dimensão Ltda. celebrou contrato de promessa de compra e venda com a Jasmim Ltda. por meio do qual se comprometeu a vender um lote 300 m2 que surgirá com o desmembramento do imóvel.

Apesar de celebrado o negócio, a Dimensão ainda não outorgou a escritura definitiva do imóvel.

Diante disso, a Jasmim ajuizou ação de adjudicação compulsória pedindo que o imóvel seja adjudicado, outorgando-lhe judicialmente a escritura definitiva.

Conforme vimos acima, a adjudicação compulsória é a ação proposta pelo promissário comprador contra o promitente vendedor que se recusa a cumprir sua obrigação de outorgar a escritura definitiva de compra e venda. O autor da ação pede que o juiz prolate uma sentença que supra (substituta) a declaração de vontade do promitente vendedor. Assim, a sentença já irá produzir o mesmo efeito da escritura pública que o promitente vendedor não outorgou, podendo o autor até mesmo fazer o registro no Cartório de Registro de Imóveis.

Contestação

A requerida defendeu-se afirmando que não outorgou a escritura pública porque ainda não houve o desdobro do imóvel prometido à venda e que isso seria obstáculo à procedência da adjudicação compulsória.

O pedido da ação de adjudicação compulsória deverá ser julgado procedente?

NÃO.

Em um caso semelhante a esse, o STJ decidiu que não é possível a procedência da ação de adjudicação compulsória.

O art. 37 da Lei nº 6.766/79 (Lei de parcelamento do solo urbano) afirma que “é vedado vender ou prometer vender parcela de loteamento ou desmembramento não registrado”.

++ (Promotor MP/MS 2018) É vedado vender ou prometer vender parcela de loteamento ou de desmembramento urbano não registrado. (certo)

Além disso, segundo o regramento previsto no Decreto-Lei nº 58/1937, julgada procedente a ação de adjudicação compulsória, a sentença valerá como título para transcrição no cartório de registro de imóveis respectivo. Assim, se o imóvel de cuja escritura se exige a outorga não tem matrícula própria, individualizada no registro de imóveis, eventual sentença que substitua a declaração de vontade do promitente vendedor torna-se inócua, considerando que não será possível a sua transcrição.

A existência de imóvel registrável (imóvel que pode ser levado a registro) é condição específica da ação de adjudicação compulsória, de modo que a averbação do desmembramento de imóvel urbano, devidamente aprovado pelo Município, é formalidade que antecede necessariamente o registro de área fracionada. Nesse sentido:

Na ação de adjudicação compulsória, o ato jurisdicional, para ser exequível, deve reunir todas as exigências previstas na Lei de Registros Públicos, e nas demais ordenadoras do parcelamento do solo, a fim de facultar o registro do título no cartório respectivo.

Detectada, no caso concreto, a impossibilidade jurídica do pedido de registro, haja vista a falta de prévia averbação do desmembramento de gleba rural originária, e posteriores aberturas de matrículas individualizadas das glebas desvinculadas e prometidas à venda pelo réu. Ausente, portanto, de uma das condições específicas da ação de adjudicação compulsória, na dicção do art. 16, § 2º, do Decreto-lei n.

58/1937 - existência de imóvel registrável.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.297.784/DF, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 16/09/2014.

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Em suma:

A averbação do desmembramento de imóvel urbano é condição indispensável para a procedência da ação de adjudicação compulsória.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.851.104-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

DODPLUS INFORMAÇÕES EXTRAS

O que é o desmembramento?

O conceito de desmembramento está previsto no § 2º do art. 2º da Lei nº 6.766/79:

Art. 2º O parcelamento do solo urbano poderá ser feito mediante loteamento ou desmembramento, observadas as disposições desta Lei e as das legislações estaduais e municipais pertinentes.

§ 1º Considera-se loteamento a subdivisão de gleba em lotes destinados a edificação, com abertura de novas vias de circulação, de logradouros públicos ou prolongamento, modificação ou ampliação das vias existentes.

§ 2º Considera-se desmembramento a subdivisão de gleba em lotes destinados a edificação, com aproveitamento do sistema viário existente, desde que não implique na abertura de novas vias e logradouros públicos, nem no prolongamento, modificação ou ampliação dos já existentes.

Loteamento x desmembramento

Uma questão comum em provas é a distinção entre loteamento e desmembramento.

Veja abaixo as principais diferenças entre os institutos:

LOTEAMENTO (com) DESMEMBRAMENTO (sem)

A divisão da gleba em lotes ocorre COM a abertura de novas vias de circulação ou alguma forma de modificação das que já existem.

A divisão da gleba em lotes ocorre SEM abertura de novas vias (não há qualquer modificação no sistema viário que já existe).

Só se efetiva por procedimento voluntário e formal do proprietário da gleba.

Pode ocorrer pela vontade do proprietário (venda, doação etc.) ou por imposição judicial (arrematação, partilha etc.).

É objeto de registro público. É objeto de averbação pública.

Recorremos à lição de um clássico:

“loteamento é meio de urbanização e só se efetiva por procedimento voluntário e formal do proprietário da gleba, que planeja sua divisão e a submete à aprovação da prefeitura, para subsequente inscrição no Registro Imobiliário, transferência gratuita das áreas das vias públicas e espaços livres ao município e alienação dos lotes aos interessados; o desmembramento é apenas repartição da gleba, sem atos de urbanização, e tanto pode ocorrer pela vontade do proprietário (venda, doação etc.) como por imposição judicial (arrematação, partilha etc.), em ambos os casos sem qualquer transferência de área ao domínio público.” (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito municipal brasileiro. 14ª ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 558).

Veja como essa alternativa de prova inverte os conceitos:

++ (Promotor MP/MS 2018) Considera-se loteamento urbano a subdivisão de gleba em lotes destinados à edificação, com aproveitamento do sistema viário existente, desde que não implique na abertura de novas vias e logradouros públicos, nem no prolongamento, modificação ou ampliação dos já existentes;

enquanto se considera desmembramento urbano a subdivisão da gleba em lotes destinados à edificação, com abertura de novas vias de circulação, de logradouros públicos ou prolongamento, modificação ou ampliação das vias existentes. (errado)

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++ (PGM Fortaleza 2017 CEBRASPE) No âmbito do parcelamento do solo urbano, desmembramento corresponde à subdivisão de gleba em lotes destinados à edificação, com abertura de novas vias de circulação e criação de logradouros públicos. (errado)

++ (PGM Goiânia UFG) O parcelamento do solo urbano poderá ser feito mediante loteamento ou desmembramento, considerando-se este a subdivisão de gleba em lotes destinados a edificação, com abertura de novas vias de circulação, de logradouros públicos ou prolongamento, modificação ou ampliação das vias existentes. (errado)

++ (PGM São Luís 2016 FCC) Sobre o parcelamento do solo urbano, é correto afirmar que são tipos de parcelamento o loteamento, o remembramento, o desdobro e o desmembramento. (errado)

DIVÓRCIO

Incidem juros e correção monetária sobre o valor econômico de cotas sociais objeto de partilha em divórcio sendo que, após a separação de fato do casal, essa empresa ficou sob a administração exclusiva de um dos ex-cônjuges até o encerramento de suas atividades

Exemplo: João e Regina eram casados. João era sócio de uma sociedade empresária. Houve separação de fato. João continuou administrando a sociedade empresária por mais algum tempo, até que houve o encerramento das atividades da empresa. No momento do divórcio, foi reconhecido que Regina tinha direito à metade do valor integralizado das cotas empresariais que pertenciam a João. Considerando que houve o encerramento das atividades da empresa após a separação do então casal o objeto partilhado consiste, em última instância, no próprio capital investido na sociedade à época do relacionamento, devidamente atualizado.

Considerando que a empresa encerrou suas atividades e que ela ficou sendo administrada exclusivamente por João, não se pode impor a Regina o ônus de arcar com os prejuízos decorrentes dessa administração exclusiva. Logo, Regina tem direito de receber o valor que as cotas tinham acrescido de juros e correção monetária.

Aplica-se ao caso o art. 389 do Código Civil:

Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.689.220-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 19/05/2020 (Info 672).

Imagine a seguinte situação hipotética:

João e Regina eram casados sob o regime da comunhão parcial de bens.

João era sócio de uma sociedade empresária. Ele tinha 80% das cotas de uma escola de idiomas. Os outros 20% pertenciam a um amigo, seu sócio.

Essa sociedade foi constituída depois que João já estava casado.

Separação de fato em 2018

O amor do casal chegou ao fim e, em janeiro de 2018, João e Regina foram morar em casas diferentes e passaram a ter contato esporádico. Houve, portanto, a chamada “separação de fato”.

Encerramento da empresa em janeiro de 2020

João continuou administrando a sociedade empresária por mais algum tempo, até que, em janeiro de 2020, houve o encerramento das atividades da empresa.

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Divórcio em agosto de 2020

Em agosto de 2020, no momento do divórcio, o juiz decidiu que Regina tem direito à metade do valor integralizado das cotas empresariais que pertenciam a João.

Em outras palavras, Regina tem direito a metade dos 80% das cotas de João na escola de inglês.

A jurisprudência do STJ é pacífica ao reconhecer a possibilidade de partilha, em ação de divórcio, da expressão econômica resultante de cotas empresariais que integraram o patrimônio comum construído na vigência do relacionamento, independentemente da natureza da sociedade empresarial.

Ocorre que a escola já fechou suas portas. Como fica nesse caso?

Considerando que houve o encerramento das atividades da empresa após a separação do então casal, o objeto partilhado consiste, em última instância, no próprio capital investido na sociedade à época do relacionamento.

Regina terá direito de receber essa quantia acrescida de juros e correção monetária sobre o valor da avaliação de cotas empresariais apurado conforme sua importância ao tempo da separação de fato dos ex-cônjuges? Em outras palavras, o valor das cotas era R$ 10 mil no momento da separação de fato;

Regina terá direito de receber a quantia principal mais juros e correção monetária?

SIM.

Incidem juros e correção monetária sobre o valor econômico de cotas sociais objeto de partilha em divórcio sendo que, após a separação de fato do casal, essa empresa ficou sob a administração exclusiva de um dos ex-cônjuges até o encerramento de suas atividades comerciais.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.689.220-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 19/05/2020 (Info 672).

Considerando que a empresa encerrou suas atividades e que ela ficou sendo administrada exclusivamente por João, não se pode impor a Regina o ônus de arcar com os prejuízos decorrentes dessa administração exclusiva. Logo, Regina tem direito de receber o valor que as cotas tinham acrescido de juros e correção monetária.

Aplica-se, ao caso, o art. 389 do Código Civil:

Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE

A averbação de sentença proferida em ação negatória de filiação não consubstancia, em si, um direito subjetivo autônomo das partes litigantes, tampouco se confunde com o direito

personalíssimo ali discutido

Exemplo hipotético: João tinha três filhos registrados em seu nome (Antônio, Bento e Carlos).

João ajuizou ação negatória de filiação contra Carlos. A sentença julgou o pedido procedente declarando que João não era pai de Carlos. Ocorre que essa sentença não foi averbada no registro civil de Carlos. Não se tomou essa providência. Assim, em todos os assentos civis de Carlos continuou constando que João seria seu pai. Mais de 30 anos depois do trânsito em julgado, João faleceu. Carlos habilitou-se no processo de inventário utilizando sua certidão de nascimento, na qual ainda consta que João seria seu pai. Os herdeiros de João não concordaram e pediram ao juízo onde tramitou a ação negatória que expedisse o mandado de averbação. O juízo acatou o pedido e, contra esta decisão, Carlos impetrou mandado de segurança alegando que com o falecimento de João a averbação da sentença não mais poderia

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ser feita, porque seria um direito personalíssimo do falecido. Além disso, afirmou que houve decadência do direito de fazer a averbação.

Em um caso semelhante a esse, o STJ não concordou com os argumentos do impetrante.

A averbação da sentença, neste caso, constitui consequência legal obrigatória, destinada a conferir publicidade e segurança jurídica ao desfecho que restou declarado e reconhecido judicialmente. Isso se dá, inclusive, normalmente, de ofício.

Não existe nenhuma faculdade conferida às partes envolvidas a respeito de proceder ou não à referida averbação, como se tal providência constituísse, em si, um direito personalíssimo.

Não se pode confundir o exercício do direito subjetivo de ação de caráter personalíssimo, como o é a pretensão de desconstituir estado de filiação, cuja prerrogativa é exclusiva das pessoas insertas nesse vínculo jurídico (pai/mãe e filho), com o ato acessório da averbação da sentença de procedência transitada em julgado, que se afigura como mera consequência legal obrigatória.

Mesmo que essa providência (averbação) não tenha sido feita na época oportuna, ela poderá ser realizada depois, não se submetendo a prazo decadencial ou prescricional.

STJ. 3ª Turma. RMS 56.941/DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/05/2020 (Info 672).

Imagine a seguinte situação hipotética:

João tinha três filhos registrados em seu nome (Antônio, Bento e Carlos).

João ajuizou ação negatória de filiação contra Carlos.

A sentença julgou o pedido procedente declarando que João não era pai de Carlos. Esse processo, que tramitou na 5ª Vara de Família, transitou em julgado.

Apesar de a sentença ter determinado a expedição de mandado de averbação, a Secretaria da Vara, por equívoco, não o encaminhou ao Registro Civil das Pessoas Naturais.

Assim, a sentença não foi averbada no registro civil de Carlos. Isso deveria ter sido feito, mas não se tomou essa providência na época. Logo, em todos os assentos civis de Carlos continuou constando que João seria seu pai.

Falecimento de João e abertura do inventário

Mais de 30 anos depois do trânsito em julgado, João faleceu.

Antônio e Bento iniciaram o processo de inventário na 1ª Vara de Sucessões. Eles declararam que seriam os únicos herdeiros do falecido.

Ocorre que Carlos se habilitou no processo de inventário utilizando sua certidão de nascimento na qual ainda consta que João seria seu pai.

Antônio e Bento não concordaram e impugnaram o pedido narrando que houve essa sentença da Vara de Família que reconheceu a inexistência de paternidade.

O Juízo da Vara de Sucessões determinou, então, que Antônio e Bento apresentassem a certidão de nascimento de Carlos devidamente averbada com a exclusão do nome de João de seu registro.

Para cumprirem essa determinação, Antônio e Bento pediram ao juízo da 5ª Vara de Família (onde tramitou a ação negatória) que expedisse o mandado de averbação da sentença que foi prolatada 30 anos atrás.

O juízo acatou o pedido e determinou à Secretaria da Vara que encaminhasse ao Cartório de Registro Civil mandado de averbação para dar integral cumprimento à sentença transitada em julgada que declarou a inexistência de relação de paternidade.

Contra essa decisão do juízo da 5ª Vara de Família, Carlos impetrou mandado de segurança alegando que, com o falecimento de João, a averbação da sentença não mais poderia ser feita, porque seria um direito personalíssimo do falecido. Além disso, afirmou que houve decadência do direito de fazer a averbação.

O pedido de Carlos foi acolhido pelo STJ?

NÃO.

Em um caso semelhante a esse, o STJ não concordou com os argumentos do impetrante.

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A averbação da sentença, neste caso, constitui consequência legal obrigatória, destinada a conferir publicidade e segurança jurídica ao desfecho que restou declarado e reconhecido judicialmente. Isso se dá, inclusive, normalmente, de ofício.

Veja o que diz o art. 10, II, do Código Civil:

Art. 10. Far-se-á a averbação de registro público:

(...)

II - dos atos judiciais e extrajudiciais que declararem ou reconhecerem a filiação.

A averbação constitui ato acessório destinado a modificar o teor constante do registro, em virtude de determinação judicial, conferindo-lhe, em atenção ao princípio da veracidade, publicidade e segurança jurídica.

Uma vez proposta a ação com o aludido conteúdo (de declarar ou reconhecer estado de filiação diverso do constante no registro no assento civil da pessoa natural), a sentença de procedência daí advinda, transitada em julgado, deverá ser, por expressa determinação legal, necessariamente averbada.

Não existe nenhuma faculdade conferida às partes envolvidas a respeito de proceder ou não à referida averbação, como se tal providência constituísse, em si, um direito personalíssimo.

Não se pode confundir o exercício do direito subjetivo de ação de caráter personalíssimo, como o é a pretensão de desconstituir estado de filiação, cuja prerrogativa é exclusiva das pessoas insertas nesse vínculo jurídico (pai/mãe e filho), com o ato acessório da averbação da sentença de procedência transitada em julgado, que se afigura como mera consequência legal obrigatória.

Mesmo que essa providência (averbação) não tenha sido feita na época oportuna, ela poderá ser realizada depois, não se submetendo a prazo decadencial ou prescricional.

Em suma:

A averbação de sentença proferida em ação negatória de filiação não consubstancia, em si, um direito subjetivo autônomo das partes litigantes, tampouco se confunde com o direito personalíssimo ali discutido.

STJ. 3ª Turma. RMS 56.941/DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/05/2020 (Info 672).

DOD QUESTÕES

Fique atenta(o) ao art. 10 do Código Civil porque ele é muito cobrado nas provas:

++ (Juiz TJ/PA 2019 CEBRASPE) De acordo com o Código Civil, devem ser averbados em registro público I - os casamentos, as sentenças que declararem sua nulidade e as sentenças que decretarem o divórcio.

II - os atos judiciais que declararem ou reconhecerem filiação.

III - os atos extrajudiciais que declararem ou reconhecerem filiação.

IV - as emancipações por sentença do juiz.

Estão certos apenas os itens A) I e II.

B) I e IV.

C) II e III.

D) I, III e IV.

E) II, III e IV.

Gabarito: Letra C

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SUCESSÕES

A cessão de direitos hereditários sobre bem singular viabiliza a transmissão da posse, que pode ser objeto de tutela específica na via dos embargos de terceiro

A cessão de direitos hereditários sobre bem singular, desde que celebrada por escritura pública e não envolva o direito de incapazes, não é negócio jurídico nulo, tampouco inválido, ficando apenas a sua eficácia condicionada a evento futuro e incerto, consubstanciado na efetiva atribuição do bem ao herdeiro cedente por ocasião da partilha.

Assim, aberta a sucessão, o coerdeiro pode ceder os seus direitos hereditários, bem como o quinhão de que disponha, por escritura pública, conforme prevê o caput do art. 1.793 do Código Civil.

Como esse negócio não é nulo (tem apenas a sua eficácia suspensa), conclui-se que a cessão de direitos hereditários sobre bem singular tem força para transmitir a posse desse bem ao cessionário. Logo, o cessionário pode tutelar a posse sobre o bem, inclusive por meio de embargos de terceiro.

Admite-se a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda de imóvel, mesmo que desprovido do registro. Esse mesmo entendimento deve ser aplicado na hipótese em que a posse é defendida com base em instrumento público de cessão de direitos hereditários.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.809.548-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 19/05/2020 (Info 672).

Imagine a seguinte situação hipotética:

João faleceu e deixou duas filhas como herdeiras: Carla e Carolina.

Até então, somente se sabia da existência dessas duas herdeiras.

Foi aberto o inventário, tendo apenas as duas como herdeiras.

João deixou 5 bens imóveis como herança: quatro apartamentos e uma sala comercial.

Carla e Carolina cederam os direitos hereditários sobre a sala comercial em favor de Pedro.

Explicando melhor. Pedro pagou R$ 300 mil e, em troca, Carla e Carolina, por intermédio de uma escritura pública, cederam a ele os direitos sobre a sala comercial de que trata a herança.

Cessão de direitos hereditários

A cessão de direitos hereditários é disciplinada atualmente pelo art. 1.793 do Código Civil:

Art. 1.793. O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que disponha o co-herdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública.

§ 1º Os direitos, conferidos ao herdeiro em consequência de substituição ou de direito de acrescer, presumem-se não abrangidos pela cessão feita anteriormente.

§ 2º É ineficaz a cessão, pelo co-herdeiro, de seu direito hereditário sobre qualquer bem da herança considerado singularmente.

§ 3º Ineficaz é a disposição, sem prévia autorização do juiz da sucessão, por qualquer herdeiro, de bem componente do acervo hereditário, pendente a indivisibilidade.

++ (Juiz TJRS 2016 FAUGRS) O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que disponha o coerdeiro, não pode ser objeto de cessão por escritura pública. (errado)

Ao tratar sobre esse § 2º do art. 1.793, Zeno Veloso explica que essa cessão sobre bem singular será eficaz se for feita pela totalidade dos herdeiros:

(...) os direitos a respeito de um bem singular da herança podem ser cedidos pelo herdeiro único (herdeiro universal) ou por todos os herdeiros, conjuntamente. E não haveria motivo para

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