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MAGAZINE DE FICÇÃO CIENTÍFICA

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Academic year: 2022

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(3) MAGAZINE DE FICÇÃO CIENTÍFICA N0 5 AGOSTO DE 1970 Editorial Contos Estrangeiros Redução de Armamentos - Tom Purdom A Bolha - J. W. Schutz Experimente Uma Faca Cega - Harlan Ellison Era Uma Vez... - Phyllis Murphy Segregacionista - Isaac Asimov A Casa do Mar - William M. Lee Trinta Dias de Setembro - Robert Young Conto Brasileiro A Toca - Walmes Nogueira Galvão Ciência O Conflito dos Sexos - Isaav Asimov Cartas Capa de Mel Hunter José Bertaso Filho, DIRETOR Jeronymo Monteiro, DIRETOR DE REDAÇÃO João Freire, GERENTE Associação Brasileira de Ficção Cientifica, CONSULTOR CIENTÍFICO Magazine de Ficção Científica é a edição brasileira de “The Magazine of Fantasy and Science Fiction”’ — Copyright © Mercury Press, Inc., New York. É publicada mensalmente pela Revista do Globo S.A.. 3. osebodigital.blogspot.com.

(4) EDITORIAL Os caminhos da FC tomaram hoje rumos tão diferentes daqueles que o gênero trilhava há apenas 10 ou 15 anos que os que não vêm acompanhando o desenrolar dos temas e dos recursos têm dificuldade em identificar as modernas estórias com aquelas publicadas nos “velhos” tempos. Os autores partiram da viagem interplanetária, das estórias de conquistas de planetas, de invasão da Terra, das batalhas espaciais para a busca do mundo que há dentro do Homem, sempre usando o recurso da extrapolação - para, partindo de possibilidades científicas, dar outra dimensão ao homem e a seus anseios na realização dos seus ideais. E nisto não há campo que não possa ser explorado. Percorram os volumes desta revista já publicados e contem os trabalhos que versam sobre lutas espaciais, viagens e coisas assim: Quantos encontrarão? Em compensação, pensem um pouco nos temas variadíssimos explorados nas estórias que vimos apresentando. Têm, aí, um panorama bem evidente na moderna FC. Mesmo os contos de autores nacionais que estampamos aqui, são típicos. “A Invasão”, de Clovis Garcia, publicado no n.° 4, aborda um assunto clássico, mas de maneira tão moderna, que pode ser incluído entre o que há de mais novo no gênero. E não podemos perder de vista a advertência de Charles-Noel Martin (citado por Rubens Teixeira Scavone, no Suplemento Literário de “O Estado de São Paulo”, de 25/10/69): “A ciência não é apenas aquilo que a tradição do século XIX estabeleceu, mas tudo aquilo que o nosso espírito pode imaginar”. A FC é o gênero literário mais válido da atualidade e, caminhando, como caminha, ao lado das descobertas, do avanço científico, das pesquisas em todos os ramos da ciência, será, cada vez mais, a literatura do futuro. J. Monteiro. 4.

(5) REDUÇÃO DE ARMAMENTOS Tom Purdom Trad. de Noé Gertel A informação secreta que nos tornou interessados no Dr. Lesechko, foi enviada a Washington por um dos nossos inspetores voluntários secretos, uma professora de matemática de Amarillo, que estava passando um ano na União Soviética em programa de intercâmbio cultural em desenvolvimento. Um dos nossos psicólogos inculcou um arquivo de mil nomes, rostos e biografias no seu inconsciente, exatamente antes que ela saísse dos Estados Unidos, em julho, e, numa noite de setembro passado, ela viu o Dr. Lesechko farreando com uma garota num restaurante, a trinta quilômetros do hospital em que o mesmo Dr. Lesechko estaria supostamente como paciente de séria doença mental. Um nome, uma fotografia e um conjunto de instruções estouraram na cabeça da professora e ela passou a informação ao cônsul norte-americano mais próximo e me deu o indício que eu estava esperando desde que fui nomeado Chefe de Inspeção — a primeira séria evidência de que o Tratado de Pequim constituía a trapaça comunista que devia ser, conforme insistiam todos os nossos adversários. Por si mesma, está claro, a observação não tinha significação. Nossos inspetores secretos seriam inúteis sem a outra arma secreta do nosso sistema de inspeção: um computador bioquímico — o maior do mundo na época — em que vínhamos registrando tudo que sabíamos dos blocos chinês e soviético e de outras potências nucleares. Não sabíamos que algo de importante havia acontecido antes que a máquina de escrever retinisse no escritório do andar de cima do edifício do computador e um analista 5.

(6) de informações descobrisse que tinha nova incoerência a verificar. O mais promissor bioquímico graduado na turma de 1978, em Leningrado, não se encontrava onde os registros oficiais do Ministério da Saúde da União Soviética diziam que ele devia estar. Cópias do relatório do analista chegaram às repartições competentes da Agência Central de Inteligência (Central Intelligence Agency — CIA) e da Agência de Controle de Armamentos e de Desarmamento (Arms Control and Disarmament Agency — ACDA), assinaladas com um URGENTE em vermelho grosso. Na ACDA, não perderam tempo para me trazer o relatório. Li-o com o estômago perturbado. Os avanços, que a genética e a bioquímica fizeram nos últimos quinze anos, representaram uma das principais razões pelas quais tínhamos insistido para que os laboratórios de conhecimento público fossem incluídos em qualquer tratado de redução dos armamentos. Estávamos especialmente preocupados com um pequeno item, que os analistas militares cognominaram o vírus “noventa e cinco plus” — uma doença capaz de se difundir tão secreta e rapidamente que a nação vitimada possivelmente não conseguiria desenvolver meios de imunização (ou lançar um ataque nuclear de represália) antes que 95% de sua população tivessem sido mortos. A natureza e a medicina moderna fizeram desse vírus letal um problema difícil — por razões que encontraremos em qualquer manual de patologia — mas oito nações pelo menos estiveram trabalhando com êle, quando ratificamos o tratado. Se se contar com um pesquisador brilhante e com os novos animais experimentais que Petroyev acabava de desenvolver na Universidade de Leningrado, o Bureau de Táticas de Evasão da ACDA calculou que um laboratório secreto poderia desenvolver o vírus em dezoito meses, ou menos. O hospital psiquiátrico, em que se supunha que Lesechko estivesse como paciente, era bastante grande para abrigar o projeto em uns três andares — e êle estava ali havia um ano. Meu impulso, naturalmente, foi enviar uma equipe de inspeção de laboratório diretamente ao hospital. Eu era responsável pela segurança de duzentos milhões de pessoas e estive trabalhando para a Agência de Controle de Armamentos e de Desarmamento durante quatorze longos anos cheios de frustração. Se o povo, pelo qual era responsável, se encontrava em perigo e se o trabalho de toda minha vida representava um fracasso, queria sabê-lo imediatamente. Se tivesse de escolher entre viver 6.

(7) com uma verdade desagradável ou com um sinal de interrogação, preferiria viver com a verdade desagradável. Se, no entanto, tratássemos a inspeção como se fosse algo especial, os russos saberiam que estávamos suspeitosos e provavelmente destruiriam tudo que pudesse estar escondido. Teria de enviar uma equipe bastante grande para inspecionar todos os vinte e dois andares simultaneamente. E mesmo isto poderia não ser suficiente. Conforme o Bureau de Evasão me recordara várias vezes, um burlador decidido poderia sempre explodir um local e fazer com que parecesse acidente. Ao invés disso, organizei uma equipe padronizada de inspeção de laboratórios: um inspetor da ACDA, um agente da CIA e um bioquímico tirado de nossa lista de consultores contratados a prazo. A embaixada de Moscou deveria fornecer-lhes um carro de comando Classe A — o mesmo tipo de carro planador que o Exército usava para um posto de comando dos grupos móveis de combate — e eles como que fariam um giro rotineiro e sem rumo certo por instalações declaradas. Quando chegassem ao hospital, seria de esperar, pareceria uma parada rotineira na viagem que não fora planejada antecipadamente. Como inspetor da ACDA peguei um dos melhores homens do nosso corpo de inspeção, um jovem Ph. D. em psicologia chamado Jerry Weinberg. Weinberg falava russo fluentemente — estudara a língua desde o primeiro ano de escola — e fiquei impressionado com seus métodos de pensamento, quando o entrevistei. Êle era também um dos nossos melhores detectores humanos de mentiras. De acordo com os testes a que submetíamos os nossos inspetores, êle acertava noventa por cento das vezes em que supunha que um indivíduo mentia e setenta por cento das vezes em que supunha que um indivíduo escondia algo. O departamento do pessoal considerava isto fenomenal. Aparentemente, o treinamento psicológico costuma embotar a intuição. O Dr. Richard Shamlian, da Universidade de Boston, concordou em preencher a brecha científica e a CIA nos disse que mandava um veterano agente chamado Justo Prieto. Durante oito dias, vigiei a luz, que representava o rastejamento da equipe de Weinberg em direção ao hospital, no grande mapa que usávamos para assinalar a rota de nossos inspetores. Os horários de trabalho de escritório na União Soviética decorrem durante as horas em que a gente normal dos Estados Unidos está em casa, 7.

(8) na cama ou se divertindo. Pensei nisto agora e durante a Conferência de Pequim, mas, obviamente, não compreendi em sua plenitude o que significava. Se o tivesse compreendido, teria sido tão obstinado quanto os negociadores europeus e chineses reunidos. Quando Weinberg chamou Washington do hospital psiquiátrico, eram duas horas da tarde, onde se encontrava e eu estava numa cabina no compartimento de controle das transmissões radiofônicas, olhando o relógio que insistia em me lembrar que eram apenas cinco horas da manhã, na costa oriental dos Estados Unidos. Como de costume, dois carros repletos de polícias secretos russos seguiram a equipe por todo o caminho. Weinberg fêz, porém, uma súbita volta acerca de oitenta quilômetros do hospital e conseguiu chegar à entrada principal somente uma hora depois de os russos poderem vir a saber que o hospital constituía seu objetivo. A equipe ficou esperando na antecâmara durante cinco ou dez minutos até que Weinberg tivesse mostrado suas credenciais à guarda de segurança de serviço, e, então, o diretor assistente, Sr. Boris Grechko, veio do seu gabinete e os saudou com grande entusiasmo. Constituíam eles a primeira equipe de inspeção com que Grechko se encontrava, ao que parece, e êle sentiu que o Tratado de Pequim era um dos grandes acontecimentos na história da espécie humana. Era muito de lamentar que o Dr. Rudnev, o Diretor, houvesse saído naquele dia. O Dr. Rudnev rompera em lágrimas no dia em que o Tratado fora anunciado. Grechko ficaria feliz, não obstante, em mostrar-lhes as coisas. Ele poderia mostrar-lhes tudo, exceto os oito andares superiores. Todos os pacientes desses andares, inclusive o Dr. Lesechko, estavam recebendo terapia ambiente programada. Rudnev era o único homem que poderia levar ali os inspetores sem causar dano ao progresso realizado pelos pacientes. O Dr. Rudnev trabalhava até tarde na maioria das noites, pobre homem, e, habitualmente, tirava uma tarde por semana para descansar. Aconteceu que o seu repouso caíra precisamente naquela tarde. Reclinei-me na minha cadeira giratória e estudei as garatujas que ia fazendo enquanto Weinberg falava. Coloquei a imagem do carro de comando na tela de vinte centímetros no meio do meu consolo e seria capaz de sentir os olhos e o cérebro atrás dos óculos escuros de Weinberg me avaliando, enquanto refletia. O seu QI era aproximadamente vinte pontos mais alto do que o meu e eu sabia que êle gastara muito do seu tempo 8.

(9) excedente estudando história militar e política internacional. Eu estava bastante certo de que êle não iria fazer pesquisa psicológica quando terminasse seus três anos conosco. Ele estava provavelmente encaminhando-se para um emprego nalguma fundação ou corporação não-lucrativa, onde lhe pagariam para ficar sentado e pensar acerca do que os homens do governo deveriam estar fazendo. Era o tipo e a mosca azul evidentemente o picara. Algum dia, poderia até encontrar-se ao meu lado na escrivaninha. — Acha que Grechko está dizendo a verdade? — perguntei. — Isto tem jeito esquisito — disse Weinberg. — Não jogaria minha vida nisso, mas não me sinto convencido. — Como pode Rudnev levá-lo por ali sem arruinar os ambientes programados? Tinha a idéia de que, uma vez começado um ambiente programado, não podemos interrompê-lo para nada. — Compete a Rudnev decidir. Alguns psiquiatras não o farão em nenhuma circunstância e alguns o farão ocasionalmente, com propósitos de treinamento. Esta é uma questão traiçoeira. Ninguém sabe realmente o que é correto, quando conseguimos uma técnica nova como esta. Perguntei a Grechko se Rudnev já havia levado alguém lá antes. Êle hesitou apenas uma fração de segundo e disse “não”... — Onde se supõe que Rudnev está agora? Weinberg sorriu e respondeu: — Grechko disse que não sabe. Habitualmente, êle faz um longo passeio de carro e depois pega sua mulher para sair à noite. Resmunguei, replicando: — Perguntou você a alguém mais ao hospital se o Dr. Rudnev faz isto todas as semanas? — Perguntei à guarda de segurança na sala de espera e Grechko me cumprimentou pela minha eficiência. Resmunguei de novo. Se eles estavam escondendo um laboratório clandestino no hospital, alguém obviamente retirou um bom palpite do Registro do Congresso. Parecia que ia dar-se exatamente a espécie de situação acerca da qual nos admoestava o Senador Moro, quando o Senado esteve examinando o tratado. Teoricamente, todas as instalações militares e científicas do mundo poderiam ser visitadas por nossos inspetores, em qualquer momento. Oito vezes por ano, além disso, em qualquer época que escolhêssemos, 9.

(10) poderíamos inspecionar qualquer local que despertasse nossas suspeitas. Na prática, entretanto, havia inevitavelmente locais que não poderiam ser inspecionados em circunstância alguma. Que faríamos, neste caso? Nossa única resposta foi a cláusula escapatória. Ou negociaríamos alguma resolução satisfatória, quando tais situações ocorressem, ou anularíamos o tratado. Para manter o tratado tão flexível quanto possível, nem sequer incluímos algum procedimento formal de negociação. Num mundo em que a mudança técnica radical é a norma, havíamos sentido, os procedimentos políticos rígidos constituem equívoco perigoso. Mas isto significava que deveríamos descobrir nosso caminho, toda vez que topássemos com um problema. Tínhamos de manter em equilíbrio a segurança militar dos Estados Unidos em confronto com a mérito da primeira redução inspecionada de armamentos na história do mundo. Se eu dissesse a Weinberg para insistir na letra do tratado e inspecionar o local imediatamente e a equipe viesse a descobrir que Grechko estava falando a verdade ... Mesmo que a União Soviética não se retirasse, indignada, do tratado, seria difícil ordenar uma inspeção da próxima vez que um governo fizesse semelhante objeção ... e todos os governos do mundo viriam a sabê-lo. Havia uma possibilidade que eu devia sempre ter presente. Em vez de uma conspiração para burlar o tratado, podíamos estar diante de uma conspiração para pô-lo a pique ou debilitá-lo. Não pensávamos que os russos tivessem conhecimento acerca dos nossos inspetores secretos, mas coisas como essas acabam sendo descobertas cedo ou tarde. O Dr. Lesechko poderia ter sido colocado no restaurante para despertar nossas suspeitas — uma pessoa drogada, psiquicamente doente, poderia ser provavelmente manejada para parecer embriagada e turbulenta — e alguém poderia confiar que eu enviaria nossos inspetores para tumultuar os andares superiores e causar dano às vidas dos pacientes, que ali se encontravam, a troco de nada. Mesmo que os responsáveis pelo Kremlin quisessem o tratado tanto quanto eu, não poderiam exercer controle absoluto sobre seus subordinados. Tivemos complicações com homens da CIA e do Pentágono e eles também tinham seus linhas-duras. Mais cedo ou mais tarde, alguém nos escalões inferiores inevitavelmente montaria uma armadilha. Se nõs deixássemos atrair por eles para uma inspeção que terminasse em desastre, seria muito fácil deixar-nos desconcertados, de maneira que a futura ins10.

(11) peção acabaria sendo uma farsa e nós próprios, provavelmente, teríamos de abrogar o tratado. Por outro lado, certamente, se eles tinham algo escondido no hospital e eu deixasse que nos enganassem, poderiam utilizar o tempo para se livrar da prova. O Bureau de Evasão calculou que levaria cinco dias para mudar um laboratório bastante grande para desenvolver o vírus noventa e cinco plus e, no mínimo, um dia para destruí-lo sem deixar confusão reveladora, mas esta é a espécie de cálculo que a gente sabida esquece assim que ouve. Sempre que alguém do nosso lado prova que possivelmente o inimigo não pode fazer alguma coisa, há uma chance muito boa de que o inimigo já esteja abrindo um caminho para ela. — Diga-lhes que queremos vedar o hospital até que entremos em contato com Rudnev — disse eu. — Pode-se entrar, mas ninguém sai sem que um dos nossos homens o investigue. Envio-lhe imediatamente seis homens de reforço. Você terá escassez de elementos, mas não quero botar gente em excesso nisto, por enquanto. Eles provavelmente ainda não sabem que estamos especialmente desconfiados. Se estiverem burlando, podem julgar que existe ainda uma oportunidade para nos convencerem a ir embora. Weinberg parecia pensativo. Daria muita coisa para saber se êle aprovava ou desaprovava, mas não poderia consentir a mim mesmo que perguntasse. — Estou fazendo tudo que posso para dar aparência de que viemos parar aqui por uma inspiração do momento — retrucou Weinberg. — Grechko tinha jeito de estar realmente surpreso em ver-nos. — Isto é ótimo — disse eu. — Não permita que ninguém saia do lugar antes de ter a certeza de que não leva consigo alguma coisa — microfilmes, amostras, seja o que fôr. Se não quiserem ser revistados, devem apenas ficar ali, até que tenhamos o assunto resolvido. Estamos assumindo um risco e conto com você para reduzí-lo ao mínimo. — Não se preocupe — disse Weinberg. — Se eu deixar que alguém escorregue por mim, Justo Prieto o agarrará. — Como está você se arranjando com o Sr. Prieto? Weinberg encolheu os ombros e respondeu: — Êle odeia os russos e provavelmente também me odeia, mas, até agora tem sido cortês. Seu russo é tão fraco que não creio que os russos saibam como êle se sente, Êle só o aprendeu faz seis meses e creio 11.

(12) que quebrou a cabeça para isto. — Fique de olho nele, também — disse, por minha vez. — Ainda não sabemos muito a seu respeito, mas êle parece ter o jeito de ser exatamente o tipo de agente que o senador Moro esperava que a CIA nos enviasse. Informe-me imediatamente, se tiver alguma complicação. Anunciamos o fim da comunicação e eu caí sobre o consolo e repassei o assunto inteiro. Toda decisão que tomei encerrava implicações que deveriam paralisar-me. Estávamos em movimento através de um país inexplorado e tínhamos de descobrir nosso caminho passo a passo. Liguei para a embaixada em Moscou e o Chefe de Inspeção para a URSS deu ao ministério soviético das Relações Exteriores a boa nova. O pessoal no ministério do Exterior, que era responsável pelas relações com inspetores de controle de armamentos, era muito polido e compreensivo e nos garantiu que faria tudo ao seu alcance para chegar ao Dr. Rudnev. No entretempo, eles telefonariam ao hospital imediatamente e solicitariam ao seu corpo de funcionários para proporcionar aos nossos inspetores completa cooperação. Semyon Novikov, diplomata que foi um dos nossos favoritos durante a Conferência de Pequim, estaria a caminho do hospital para aplainar as coisas, tão logo tivesse suas maletas arrumadas. Encarreguei meu chefe-assistente da cabina de controle, voltei ao escritório e ditei um memorando a Ralph Burnham, o diretor da ACDA. Burnham recebeu o tape numa reunião da ONU, que estava assistindo em Nova York, e ligou para mim, enquanto eu lanchava no escritório. Aprovou minha decisão, porém teve contato com a Casa Branca antes de me chamar e o presidente queria que qualquer perturbação no hospital fosse reduzida ao mínimo. Se entrássemos no local e descobríssemos uma violação, deveríamos mantê-la em segredo e deixar que o Departamento de Estado se encarregasse do assunto. O presidente esperava ganhar a eleição, mas ia ficando assustado. A contínua pesquisa de opinião pública em profundidade, que os dirigentes de sua campanha vinham aplicando, indicava que doze por cento das pessoas que iriam votar nele, só estavam fracamente comprometidas. Debandariam para a oposição de uma hora para outra, se alguma coisa exacerbasse seus temores, mais do que já o fazia o Senador Moro. Se descobríssemos uma violação antes do dia da eleição e a notícia se espalhasse, o presidente e o tratado estariam ambos liquidados. Às 22 horas no hospital, sendo 13 horas em Washington, a turma 12.

(13) do trabalho diurno no hospital foi para casa e os inspetores revistaram todo mundo à procura de registros e equipamentos escondidos. Isto levou três horas e houve muito resmungo. Às 2 horas da madrugada no hospital, 17 horas em Washington, Weinberg e seus homens se instalaram no Iúgubre ritmo do serviço de guarda. O ministério soviético do Exterior ainda insistia que estava procurando o Dr. Rudnev. Telefonaram para o seu apartamento e mandaram um homem bater à sua porta, porém ninguém respondeu. Nas cidades ao redor do hospital, a polícia estava investigando os restaurantes e teatros. Liguei para minha mulher, disse-lhe que não iria para casa e me estirei sobre a cama de lona para dormir. Meu assistente me despertou à meia-noite. O Dr. Rudnev voltara ao hospital às 8,30 horas, pelo tempo do hospital. Alegava que êle e sua mulher tinham passado a noite numa hospedaria à margem de um lago a sessenta quilômetros do hospital... e Weinberg e Novikov falaram com êle durante meia hora. Recusou escoltar os inspetores através das enfermarias de ambiente programado. O tratado era importante para êle, afirmava, mas era um médico e o bem-estar dos seus pacientes se situava em primeiro lugar. Outros psiquiatras poderiam admitir a interrupção de um programa, porém êle se recusava a assumir o risco. Os documentos, que leu, indicavam que diversos pacientes potencialmente curáveis haviam sido permanentemente prejudicados por psiquiatras que interromperam seus programas. A maior parte dos funcionários mais responsáveis do meu bu­reau se encontrava a postos nos seus escritórios. Convoquei todo mundo que pudesse ser de importância e nos reunimos na sala de conferências, gastando hora e meia à procura de uma saída. Chegamos mesmo a considerar o transporte aéreo de número suficiente de psicólogos americanos para colocar um desempenhador-de-papel americano em cada ambiente programado no hospital. Isto custaria ao governo milhares de dólares, mas sabíamos todos que o presidente nos arranjaria o dinheiro, se isto salvasse o tratado. Infelizmente, era impossível. Sempre voltávamos ao mesmo problema. Se nada fizéssemos de semelhante, os russos ficariam com o controle da inspeção. Concebivelmente, poderiam até mudar o equipamento do laboratório de quarto em quarto, à medida em que nossos inspetores fossem passando pelos ambientes programados do Dr. Rudnev. 13.

(14) Tínhamos também de pensar na margem de segurança. Para serem bem sucedidas, as inspeções de laboratório precisavam ter o mínimo possível de espalhafato. Eles poderiam destruir o equipamento e os registros do laboratório, porém, nós não seríamos capazes de destruir a informação na cabeça de Lesechko. Eu teria insistido no acesso imediato, de fato, se não estivéssemos certos de que eles não sabiam do nosso interesse especial. Como se achavam as coisas, agora que ali estávamos, não lhes poderíamos dar mais do que uns poucos dias para estudar a situação. Quando nosso adversário se defronta com uma situação estática para atacar e tem à sua disposição todos os recursos de uma moderna sociedade, podemos presumir que êle é capaz de derrubar qualquer barreira que ergamos, se lhe concedermos bastante tempo. Às 3 da madrugada, consegui uma tríplice conexão com o Dr. Rudnev e com um assistente altamente situado do ministério soviético do Exterior e nós tentamos alguma persuasão de alto nível. Não acreditava que isto produzisse bom resultado, mas desejava dar uma espiada nos homens com os quais lidava, antes de ligar para Burnham e recomendar que usássemos uma das nossas inspeções irrestritas. O Dr. Rudnev era homem corpulento, de óculos, com aspecto provavelmente agradável e informal na maioria das vezes, mas a situação tornara-o irritado e constrangido. Para um homem treinado em todo tipo de verificação cruzada e ceticismo, que constituem parte necessária da ciência, êle estava sendo irracional de maneira muito suspeita. Ficou indignado porque duvidei de sua palavra. Nada do que eu dissesse poderia convencê-lo de que não desconfiava dele mais do que um homem na minha posição precisa desconfiar de todo mundo. — Não sentenciarei vinte e seis seres humanos a uma vida de insanidade — começou a falar. — Se consentir que os seus inspetores façam bagunça naqueles andares, danificando os programas, terei destruído a última esperança que existe para alguns desses pacientes. Nada estamos escondendo. Cremos no tratado tanto quanto os senhores. Por que iria eu querer arruinar um tratado que deu ao governo bastante fundos extra, de modo que pode acrescentar vinte por cento ao meu orçamento? Passamos e repassamos pelos mesmos argumentos, no mínimo durante meia hora, antes de ficarmos tão frustrados e impacientes, que decidi ser melhor desistir, antes que alguém criasse um incidente internacional. O diplomata russo se desculpou comigo pela complicação que 14.

(15) estávamos tendo e eu lhe disse que tudo estava bem e assegurei ao Dr. Rudnev que compreendíamos sua posição. — Estou certo de que existe uma solução para isto — disse. — Lamento ter de aborrecê-lo, Dr. Rudnev. Falarei com meus superiores e tentaremos alcançar uma solução que nos satisfaça a todos. Weinberg voltou ao carro de comando e conversei com êle por meio de nossa arrastada conexão particular. Êle estivera observando enquanto eu falava com o Dr. Rudnev. Perguntei: — Qual a sua opinião? Estão eles dizendo a verdade? — Há algo de errado com ambos — respondeu Weinberg. — Grechko está muito delicado e Rudnev demasiado excitado. — E com relação a Novikov? — Parece correto. Creio que se preocupa com o tratado tanto quanto nós. Acrescentei mais alguns triângulos aos meus rabiscos. Já havia tomado uma decisão, mas ainda devia vacilar por um segundo. — Vou recomendar investigação irrestrita — comuniquei. — Esteja preparado para tomar parte. — Que será se eles nos detiverem? Tornei a vacilar e disse: — Esteja preparado para forçar sua entrada. Não sei se o presidente lhe dirá para fazê-lo, mas esteja preparado. Não permita que ninguém saia do lugar para nada. Se algo deve acontecer, não queremos que ultrapasse o hospital mais do que deve. Ninguém, que você tenha aí, tem o direito de falar acerca disso com quem quer que seja de fora do local. Se Prieto ou algum outro desobedecer, estarão violando a segurança. Ponhao em estado de detenção e mantenha-o sob guarda. — Alguma coisa mais? — Como está você arranjado para abastecimentos? Pode comer e dormir aí por mais alguns dias? — Novikov determinou-lhes que colocassem todas as instalações do hospital à nossa disposição. Podem tentar envenenar-nos, porém não irão esfomear-nos mortalmente. Sorri e disse: — Faça por estar seguro de que eles lhe servem do mesmo caldeirão de todo mundo. 15.

(16) Liguei para a suíte do hotel de Burnham, em Nova York, e o presidente falou conosco enquanto voava de volta para Washington, regressando de um comício de campanha em Denver. Presumimos que os russos nos negariam acesso e teríamos de negociar com eles. Antes que as negociações começassem, deveríamos fazê-los saber que nos retiraríamos do tratado se destruíssem o laboratório enquanto estivéssemos negociando e nos tapeassem quanto à inspeção de pacientes verdadeiros. Se quisessem manter o tratado, poderiam provar que nenhum laboratório jamais esteve escondido no hospital — que o seu corpo técnico e o nosso imaginassem como fazê-lo — ou então poderiam mostrar-nos o laboratório e fornecer-nos toda a informação que Lesechko obteve. O Dr. Rudnev ficou lívido quando Weinberg exigiu formalmente o acesso conforme estatuía o Artigo VI. Êle tocou com fôrça um botão de alarma e os guardas de segurança do hospital se precipitaram para todos os elevadores e caminhos de passagem no local. — Protegeremos nossos pacientes com as nossas vidas — rugiu Rudnev. — Tente se aproximar desses andares e nós atiraremos para matar. Imediatamente notificamos o ministério soviético do Exterior. — Esta é a primeira vez que algum inspetor foi ameaçado — disse Burnham ao vice-ministro do Exterior, encarregado das relações com os inspetores do controle de armamentos. — Compreendo que o Dr. Rudnev se encontra sob excepcional pressão emocional, mas isto é um desafio a todo o conceito de inspeção. Deve dizer-lhe que o consideramos como o mais sério desacordo desde a ratificação do tratado. Os chamados telefônicos zumbiam entre Moscou e o Dr. Rudnev. Weinberg informou que Novikov fazia tudo ao seu alcance para manter todos em calma e assegurar que ninguém viesse a ficar perturbado e começasse a atirar. Olhei o quadro diagramado e mandei mais cinco inspetores se dirigirem ao hospital. Burnham chegou a Washington de helicóptero logo antes do amanhecer, e eu fiquei atrás dele ouvindo, enquanto tinha outra conversação com o vice-ministro do Exterior. O ministério do Exterior queria saber agora por que nós tínhamos de inspecionar os andares superiores. Suas conversações com o Dr. Rudnev, segundo afirmavam, convenceram-no de que suas objeções encerravam certa validade. — Em casos como estes — disse o vice-ministro do Exterior — sen16.

(17) timos que o país inspecionador precisa oferecer ao país anfitrião alguma prova razoável de que uma instalação ilegal pode estar escondida no local em disputa. Por que deveria ser colocado em perigo o bem-estar de tantos pacientes por motivo de uma inspeção rotineira? O Ministro do Exterior deseja salientar que a própria inspeção poderia ser usada como arma para golpear o moral e a eficiência. Voltei para meu gabinete e tirei uma soneca. A Casa Branca era agora a responsável. Eles me chamariam se necessitassem de mim. À meia-noite e meia da noite seguinte, tempo do hospital, um Carro girou para fora da estrada e subiu pelo desvio em direção da estrada principal. Os guardas russos, ao sopé do morro, vacilaram após animada discussão com os dois passageiros do carro e o inspetor americano, a meio caminho acima, deteve-o de novo e passou a responsabilidade aos inspetores postados diante da entrada principal. O motorista afirmou que estavam ali para ver um psiquiatra, velho amigo deles. Tinham percorrido noventa quilômetros da estrada e, então, descobriram que o seu amigo fazia parte do turno da noite. Prieto verificou a relação do funcionalismo e se certificou de que o médico, com quem queriam falar, se encontrava realmente de serviço. Um servente do hospital subiu para lhe transmitir o recado, um inspetor introduziu os dois homens na antecâmara e ficou de guarda, enquanto eles esperavam. “Drujba i Mir”, gritou um dos homens para os inspetores de mpé junto do carro de comando. ‘’Amizade e Paz. Viva o Tratado de Pequim.” Prieto aguardou um minuto, por alguma razão, e, então, entrou na antecâmara e disse ao inspetor para revistar os dois homens, à procura de armas. Weinberg estava dormindo e a maioria dos inspetores presentes ficou considerando Prieto como o segundo no comando. A cooperação com os homens da CIA, designados para zelar por nós, constituía um dos Dez Mandamentos que eu transmiti aos nossos inspetores. Nao queria que o Congresso julgasse que a CIA precisasse mais autoridade do que já possuía. Os visitantes arrancaram pistolas de seus paletós, assim que o inspetor se aproximou deles. O inspetor caiu ao chão com uma bala no peito e Prieto se lançou para trás de uma cadeira e começou a atirar. Um dos russos foi derrubado, mas o outro mergulhou para trás de um móvel e encheu a sala com uma nuvem de gás. 17.

(18) Prieto cutucou o apito de emergência do seu cinturão. Rastejou para fora da antecâmara com um lenço sobre a face, exatamente quando quatro carros planadores cruzaram pela neve em direção ao hospital. Os carros planadores subiram o morro numa noite sem luar. Os guardas mal tiveram tempo para dar o alarma. As campainhas tocaram nos cinturões de todos os inspetores. Os homens, que se encontravam diante da entrada principal, se dispersaram, procurando proteger-se. Bombas de gás explodiram. Balas varreram a entrada para carros e o pórtico. Os carros pararam e homens com máscaras contra gás saltaram e atacaram a entrada principal. Prieto se retirou para a antecâmara. Os homens se lançaram no seu encalço através do gás e Prieto atirou neles, enquanto rastejava para baixo de um sofá. O gás era um sonífero, mas êle se arranjou para malhar os controles do elevador com balas, ao tempo em que ligava seu microfone e comunicava a Weinberg o que estava acontecendo. Weinberg apenas havia saído de serviço. Achava-se deitado com roupas de baixo num dos quartos do segundo andar, que Novikov fizera o hospital providenciar para os inspetores e comia um sanduíche de manteiga de amendoim e geléia — sua mãe lhe enviara a manteiga de amendoim e a geléia de Vermont —, enquanto se punha a dormir com uma história da guerra da Criméia. O alarma o arrancou de sua letargia e êle ligou sua unidade de intercomunkação, agarrando as calças. Tiros e gritos confusos o excitaram, enquanto se vestia e corria para o saguão. Ouviu Prieto chamá-lo através do estrondo no sistema de intercomunkação e apreendeu o suficiente para saber que os elevadores estavam provavelmente fora de funcionamento. Fora do hospital, os inspetores, postados em torno da entrada principal, estavam trocando tiros com os quatro carros planadores, ao tempo em que os guardas russos colocados no sopé do morro os ajudavam. Weinberg organizou os outros três homens, que se encontravam fora de serviço, e começou a descer, a escadaria central, justamente quando os invasores abandonaram os elevadores e começaram a subir. Gás e balas voadoras enchiam o vão da escadaria. O guarda de segurança do hospital, postado ao sopé da escada, tentou intervir, mas uma bala vinda de baixo matou-o. Weinberg arrastou uma cama de um dos quartos e com ela obstruiu a escadaria, enquanto dois dos seus homens saiam para bloqueá-la na outra extremidade do saguão. 18.

(19) Os inspetores, que se achavam de guarda nos fundos do hospital, vieram para dentro através de uma entrada de serviço e trataram de mandar bala para dentro da antecâmara em mais uma direção. O gás estava sendo expelido pelo sistema de ventilação e os assaltantes pareciam desprovidos de bombas. Nos primeiros minutos da batalha, haviam enchido a antecâmara com uma quantidade de gás três vezes superior à necessária. Os assaltantes recuaram para fora do hospital e correram para os seus carros planadores. Escaparam morro abaixo com balas silvando em torno, enquanto os guardas russos aceleravam seus veículos e se punham a persegui-los. Em Washington, todo mundo no quarto de controle das transmissões estava de pé. Quando um inspetor apertou seu alarma, o carro de comando automaticamente se ligou com todos os pontos que o sistema local de intercomunicação alcançava. O controlador designado para o hospital avisou Moscou e a turma da noite na embaixada estava registrando tudo o que o quarto de controle recebia. Fui para o quarto de controle precisamente quando os assaltantes estavam saindo. Burnham entrou com aspecto severo e ouviu por sobre meus ombros, enquanto o controlador me punha a par do acontecido. No fundo, o barulho no hospital crepitava no alto-falante. Weinberg fêz um informe, enquanto Prieto se recobrava do gás. Três inspetores ficaram feridos e o inspetor atingido pelo tiro na antecâmara estava morto. — Encontramos dois deles mortos — disse Weinberg. — Estamos examinando-os agora para ver se achamos alguma coisa. Novikov vem fazendo tudo o que pode para nos ajudar. O embaixador e o chefe de inspeção para a URSS apareceram na tela da embaixada. O seu aspecto era tão ruim quanto o que sentíamos. O chefe de inspeção usava um roupão de banho e o embaixador fora arrancado de um jantar com roupa a rigor. — Creio que todos podemos ver quais são as alternativas — disse Burnham. — Ou os linhas-duras tentaram dar um golpe ou o governo tem algo escondido ali que cheira muito mal. De qualquer modo que nos falem, foi uma facção contrária ao tratado. Se realmente foi, então ficamos com duas possibilidades — ou existe algo escondido ali ou o fizeram para provocar um incidente e, dessa maneira, arrebentar o tratado. Sugiro que digamos ao ministro do Exterior que queremos interrogar Rudnev e Gre19.

(20) chko. Se eles falarem, não iremos perturbar pacientes verdadeiros. O embaixador saiu da tela para ligar para o ministério do Exterior. Weinberg manteve seus homens organizados e o chefe de Inspeção e eu enviamos mais homens para o hospital. Burnham mandou uma mensagem urgente à Casa Branca e o presidente solicitou-nos transmitir a Prieto seus agradecimentos pessoais. Pouco a pouco, os homens no quarto de controle se puseram a si mesmos sob controle. O ministério do Exterior disse ao embaixador que eles estavam mortificados e outro telefonema da Casa Branca informounos que o primeiro-ministro Kutzmanov já havia se desculpado com o presidente através da linha quente. Todas as tentativas seriam feitas para ir no encalço dos desordeiros que se opunham ao tratado, afirmou Kutzmanov. Um batalhão de tropas russas de elite já se movimentava em direção ao hospital. A polícia secreta despertou Rudnev e Grechko e os levou precipitadamente para o hospital numa limusine oficial. Weinberg e Prieto os interrogaram, enquanto Novikov observava. Grechko permanecia afável e sereno e o Dr. Rudnev se derramou em toda explicação para o assalto que seria capaz de imaginar. Era tudo uma tramóia para sabotar o tratado, gritava Rudnev. Alguém estava tentando deixá-lo e ao seu hospital em má situação. Alguns dos seus pacientes eram muito importantes e tinham inimigos e alguém poderia estar tentando verificar se algum deles se encontrava no hospital. Por que não acreditavam nele? Weinberg e Prieto compunham uma boa equipe de interrogatório. Weinberg estava calmo e racional, enquanto Prieto perseguiu os dois russos como um animal solto de sua jaula. No fundo, Novikov estava sentado numa poltrona e ouvia sem interromper. Novikov era reservado na maior parte do tempo e eu freqüentemente me perguntei acerca do que êle pensaria quando estive lidando com êle em Pequim, mas todos, que já tivessem trabalhado com êle, ficaram convictos de que desejava o tratado tanto quanto qualquer outro na Agência de Controle de Armas e de Desarmamento. Reagiu ao assalto com uma fúria que pareceu a Weinberg como se excedesse os limites do embuste por várias magnitudes e, agora, estava sentado atrás e deixava Prieto ir tão longe quanto quisesse. Não me agradam as explicações simplistas do comportamento humano, porém, de acordo com a ficha que possuíamos a seu respeito, Novikov tinha tanta razão para odiar a guerra quanto qualquer outra pessoa sobre a Ter20.

(21) ra. Perdera ambos os progenitores na Segunda Guerra Mundial e seu filho mais velho fora morto num incidente na fronteira siberiana. Nada podia abalar Rudnev e Grechko, entretanto. As ameaças de Prieto apenas os irritavam e, com todo o seu conhecimento da terapia de ambiente programado, Weinberg não era capaz de pegá-los num erro técnico, que indicasse que havia algo de errado nas enfermarias de ambiente programado. — Façam o que quiserem — disse Rudnev após uma hora e meia. — Subam e vejam por si próprios. Fiz tudo o que pude. A responsabilidade é agora dos senhores. O próximo passo, logicamente, consistia em interrogar o restante do corpo de funcionários e verificar se todas as suas estórias combinavam. Isto levaria tempo, no entanto, de modo que Weinberg decidiu tentar, ao invés disso, a aplicação de um detector mecânico de mentiras. Montou uma câmara de piscar de olhos — o detector de mentiras em que tínhamos mais confiança — e fotografou Rudnev e Grechko, enquanto eles olhavam para um mapa dos andares do hospital e respondiam às perguntas. Os resultados não seriam concludentes, mas, com um pouco de sorte, uma análise das fotos poderia fornecer-nos a informação de que carecíamos para decidir se deveríamos insistir ou não na inspeção. A despeito do assalto e de todas as outras provas que tínhamos acumulado, ainda hesitávamos. Precisávamos avaliar o peso da prova em confronto com as conseqüências de um engano. Seria uma terrível tragédia se deixássemos que sabotadores arruinassem o tratado antes de termos terminado o primeiro ano de experiência. Seria precisamente tão trágico, não obstante, se consentíssemos que a União Soviética desenvolvesse um vírus noventa e cinco plus, em segredo. Na Casa Branca, o presidente estava redigindo uma mensagem que não nos deixava espaço para recuo, se a União Soviética não, quisesse aquiescer. Se não encontrássemos uma solução satisfatória em tempo muito breve, nós nos retiraríamos do tratado. A situação não era desesperadora. Tínhamos as fotos de piscar de olhos e estávamos explorando diversas outras direções que poderiam encher as medidas, cedo ou tarde. Entretanto, talvez passassem vários dias, antes que encontrássemos uma solução, e não dispúnhamos de garantia de que iríamos ter êxito. Gostasse ou não, tinha de ficar sentado à minha escrivaninha e fitar a possibilidade de que o tratado fora uma ilusão, ao 21.

(22) invés de uma vitória. Não me sentia seguro de que fosse algo com que pudesse conviver. Estava ficando demasiado velho para encontrar uma nova esperança. Justo Prieto tinha dezessete anos, quando Fidel Castro entrou em Havana, a 1.° de janeiro de 1959. Sua família começou pensando que Castro era o salvador de sua pátria, conforme a entrevista dele com os agentes da CIA, que o recrutaram na Guatemala, mas, em certo momento dos dezoito meses seguintes, decidiu que Castro os traía e começou a atuar no movimento clandestino anti-Castro. O irmão de Prieto morreu numa batida, que se seguiu ao fiasco da Baía dos Porcos, e sua irmã passou os últimos doze anos de sua vida numa prisão cubana. E o próprio Prieto escapou de Cuba a dois saltos à frente da polícia de Castro e começou a trabalhar para a CIA antes dos seus vinte anos. A luta clandestina pela América do Sul, foi provavelmente, o capítulo mais sangrento e sujo de toda a Guerra Fria e Prieto gastou sua inteira vida adulta envolvido nela. Passou cinco anos combatendo os terroristas comunistas na Colômbia e, depois disso, a CIA lhe deu o mesmo tipo de trabalho em meia dúzia de outros países. Fase após fase, mês após mês, durante vinte anos, viu os homens com os quais colaborava, baleados e torturados pelos agentes comunistas. Foi testemunha ocular quando comunistas, infiltrados deliberadamente, converteram uma revolução provinciana, no Chile, num banho de sangue e viu os cadáveres de centenas de homens, mulheres e crianças, assassinados por homens que se supunha serem comunistas. E nunca esqueceu que sua família fora destruída pelos seguidores de um homem, que também se proclamava comunista. Tinha sido rejeitado toda vez que solicitava uma missão em Cuba, porque seus superiores sabiam ter êle prometido que mataria o homem que havia traido sua irmã. Para um homem como esse só poderia haver uma explicação para um tratado de controle de armamentos: era uma trapaça comunista e os homens que, nos Estados Unidos, o haviam elaborado, ou eram imbecis ou traidores. Não podemos argumentar contra as lições ensinadas por esse tipo de experiência. Eu nunca fui a uma conferência de desarmamento, nos anos anteriores ao tratado, sem recordar que os homens do outro lado da mesa de negociações eram odiados, com muito boa razão, pelos povos de todo o mundo. Seríamos bastante rápidos se nos surpreendêssemos quando começamos a encontrar dificuldades com os homens da CIA, que possuíam tal tipo de formação. 22.

(23) Weinberg levou minhas ordens a sério e Prieto estivera sob vigilância de alguém, quase minuto a minuto. Weinberg tinha perdido três homens, no entanto, e a excitação e sua própria fadiga afrouxaram sua vigilância. Quando sairam da sala de interrogatório para revelar os filmes e Prieto disse que ia subir para descansar, Weinberg assentiu com a cabeça e deixou-o ir sozinho. Prieto obviamente carecia de sono. Mantivera-se desperto durante vinte horas em cada vinte e quatro e estava revelando a tensão. Era um momento infeliz para afrouxar. O hospital ainda se achava em estado de confusão. Os guardas de segurança do hospital eram essencialmente serventes treinados para atender a tarefas de guarda noturna e emergências simples, tendo estado de guarda durante trinta e seis horas por motivo de uma crise que poucos deles compreendiam. No segundo andar, ninguém substituíra o guarda na escadaria central, que fora assassinado durante a luta, e nos andares superiores os guardas evidentemente andavam pelos corredores intercambiando boatos. Graças ao sentimento popular em favor do tratado, os conspiradores recearam contar aos funcionários do hospital a verdade a respeito de Lesechko. Prieto matou o guarda na escadaria sul com um tiro de sua pistola munida de silenciador. Matou outro guarda no oitavo andar e, com uma cacetada, deixou inconsiente mais outro no décimo, porém não provocou alarma geral antes de alcançar uma barricada de três homens no décimosegundo andar e acender as luzes antes de abrir fogo nos guardas. Ao tempo em que Weinberg soube que êle se achava à solta, Prieto já estava nos aposentos de Lesechko tirando fotografias com uma câmara miniaturizada, numa mão, enquanto com a outra mão trocava tiros com os assistentes de Lesechko. Os assistentes também tinham ficado de guarda, mas eram amadores em confronto com um profissional e só havia cinco deles. Toda a muamba tinha sido acumulada em três quartos — um quarto para Lesechko, uma instalação de computador, no décimo-oitavo andar e uma combinação de quarto de dormir e de laboratório no décimo-nono — por meio do corte pela metade do número normal de assistentes e da obtenção de quarenta horas de trabalho de cada vinte e quatro homens-hora. Jaulas com animais se alinhavam pelas paredes do chão ao teto e os três quartos se encontravam tão abarrotados com equipamentos, que faziam uma cápsula espacial parecer um bom lugar para esticar as pernas. Se 23.

(24) tivéssemos inspecionado de modo formal, eles poderiam ter destruído os registros e nos apresentado um arranjo que pareceria exatamente o que pretendiam que fosse — um ambiente programado para um bioquímico psiquicamente doente. E, subseqüentemente, poderiam retirar-se por uns poucos meses e começar de nôvo. A luta, provavelmente, não foi prolongada. Não havia espaço para manobra e os bancos de trabalho eram as únicas coisas atrás das quais algum deles poderia esconder-se. Prieto aparentemente começou a atirar tão logo entrou no laboratório — ou não se preocupou com isso ou concluiu que se tratava de uma instalação ilegal, assim que percebeu sua semelhança com um laboratório — e dois dos assistentes caíram imediatamente. Outro assistente correu escada abaixo e se escondeu com o Dr. Lesechko, mas os dois assistentes restantes conseguiram sacar suas armas e trocaram uns poucos tiros, antes que Prieto também os pusesse fora de ação. Tinham sido treinados no tiro ao alvo e no combate pessoal, mas do que soubemos depois, deduzo que nenhum deles tinha participado de uma luta real. Não eram páreo para um homem experimentado, compelido por emoções tão fortes que, pelo visto, se converteu num implacável fanático. Agarrou uma gaiola vazia e começou a enchê-la com os fichários e cadernos de anotações, que lhe pareceram interessantes. Os alarmas soavam por toda parte, mas Prieto teve tempo para pegar uma pilha de meio metro de altura, no mínimo. Correu para o saguão com a gaiola debaixo do braço. Uma bomba de psico-gás deteve os agentes do ministério do Exterior, que vinham subindo as escadas, e êle cobriu sua retirada, irrompendo pelos ambientes programados, enquanto berrava com toda a força de seus pulmões e atirava com sua pistola. Pacientes e desempenhadores-de-papel, em fantásticas variedades de roupas e sem roupa, se acotovelavam pelo hospital e corriam de um ponto para outro. Os guardas do hospital tinham de escolher entre uma perseguição, que não entendiam e os horrores de um tumulto em grande escala, que podia estourar no resto do hospital. Os agentes do governo, em perseguição a Prieto, subitamente se viram atirando através de portas fechadas em transtornados elementos do corpo de funcionários. Com uma crise amontoada sobre outra, e o chefe dos administradores da instituição enclausurado na sala de consultas, a estrutura administrativa do hospital entrou em colapso. 24.

(25) Weinberg já havia informado a Washington que Prieto se encontrava à solta. Tentou falar com Novikov, mas o russo recusou-o. Agentes russos se encerraram no carro de comando e nossos homens e os deles se vigiavam uns aos outros atentamente. A situação se encaminhava, numa escalada, para uma crise internacional de primeira grandeza. Encontravame no departamento de controle das transmissões ouvindo Weinberg e falando com a Casa Branca e com a embaixada de Moscou. Burnham estava a caminho. Weinberg parecia aborrecido. Não o dizia, mas obviamente censurava a si próprio. Relaxara sua vigilância por cinco minutos e, agora, devia ficar sentado no carro de comando e esperar que a situação se consumisse em chamas. Nada havia que pudéssemos fazer, exceto dizer aos russos que lamentávamos e cruzar dedos. — Não sei o que fazer — disse Weinberg. — Os russos nada nos dirão e não podemos conseguir que Prieto responda ao sistema de intercomunicação. Não sei como êle espera sair dessa. Eles estão fazendo entrar todos os homens de que dispõem, exceto os que estão ao redor de nós. Parece que colocaram um par de homens em cada saída. — Como parecem? — perguntei. — Têm aspecto hostil? — Parecem mais como se estivessem intrigados. Burnham entrou e ficou de pé atrás de mim, dizendo: — Que diabo aconteceu? Weinberg parecia embaraçado. Respondi: — Êle escapou antes que o pessoal se reorganizasse. O presidente se fêz presente na tela da Casa Branca e Burnham e eu nos sentamos em outra cabina e o informamos. O presidente se encontrava tão transtornado como nós, mas decidiu não cancelar um debate pela televisão com o Senador Moro que devia ter lugar dentro de apenas três horas — às 21,30 horas, tempo de Washington. Seria uma provação, mas êle ainda não queria que a imprensa soubesse que algo de especial ocorria. Dentro do hospital, Prieto abria caminho para baixo, andar por andar. Vestira um roupão e pusera uma máscara, que havia roubado de um desempenhador-de-papel numa das enfermarias de ambiente programado. Avançou através de uma enfermaria de máxima segurança e aumentou o caos libertando alguns dos pacientes mais violentos. Trinta minutos depois de ter deixado o laboratório de Lesechko, rastejava sobre 25.

(26) uma sacada nos fundos do hospital. Prieto provavelmente seria capaz de escapar se saltasse, mas, para uma pessoa com sua visão das coisas, isto era impossível. Se o tivessem abatido enquanto corresse morro abaixo, os russos ainda ficariam conhecendo a maior parte dos resultados das experiências de Lesechko, enquanto nós não saberíamos o suficiente para desenvolver uma imunização. Êle queria pôr o tratado a pique, porém não pretendia deixar o mundo à mercê do Kremlin. Ao invés, chamou Weinberg pelo sistema de intercomunicação e fêz uma proposta. Weinberg ouviu com a face inexpressiva. Prieto queria que êle varasse através dos guardas russos e dirigisse o carro para debaixo da sacada. Uma vez o carro estacionado, êle devia sair e correr até que ficasse a cem metros, no mínimo, distante do carro — bastante longe para que não pudesse chegar ao carro antes dos guardas russos; no caso em que fizesse uma falseta e atirasse em Prieto. Além disso, quando Prieto entrasse no carro, o Senador Moro ou um dos seus melhores conhecidos auxiliares devia estar junto a uma conexão de rádio e telefone. Weinberg girou dentro do carro, de modo que parecia estar conversando com os três homens sentados consigo. Era um momento amargo, porém conseguiu refletir. — Muito bem, Justo — murmurou: — Teremos o carro debaixo da sacada, assim que contarmos com o Senador Moro. Espero que você sobreviva para ver os resultados. — Diga-o à sua mãe — respondeu Prieto. — Vá andando. Weinberg ligou o microfone de intercomunicação e chamou Washington. — Esta é uma recomendação de campo de batalha. Não disponho de tempo para explicar. Consigam que alguém do lado de Moro fique junto a esta conexão. Não lhe digam do que se trata, mas tenham-no pronto. Vocês dispõem de cerca de dez minutos para fazê-lo. Olhei de relance para Burnham. Weinberg se achava exausto e cometera gravíssimo erro, mas continuava sendo um dos meus melhores homens. — Sugiro que façamos o que êle diz — pronunciei-me. Burnham estudou a face redonda na tela. Por um instante, êle e Weinberg fitaram-se reciprocamente através de oito mil quilômetros e vinte anos de experiência. Éramos ambos capazes de conjecturar que 26.

(27) Weinberg fazia uma solicitação que poderia significar o fim de tudo em favor do que havíamos trabalhado. — É você capaz de salvar o tratado? — perguntou Burnham. — Tentarei — foi a resposta de Weinberg. — Siga adiante. A tela de Weinberg ficou em branco. Burnham continuou ali com expressão dura no rosto. Eu me sentei numa cabina vaga e comecei a chamar o posto de comando do Senador Moro. Weinberg se assegurou de que os três homens no carro de comando estavam adequadamente armados e, então, passou a sussurrar ordens. Deviam ficar onde estavam, até que contássemos com alguém da equipe de Moro ao lado. Depois disso, se êle ainda estivesse falando com os russos, deveriam conceder-lhe mais dez minutos. Se fizesse sinal, ou se os russos o atacassem, deviam romper adiante e chegar a Prieto. — Se precisarem atirar — atirem — disse Weinberg. — Façam todo o necessário para ajudar Justo a escapar. Se o tratado se perder, precisaremos ter conosco tudo o que êle conseguiu. Os russos viram-no andando pela neve, em direção do seu carro de comando. Um agente do ministério do Exterior se pôs à sua frente, assim que êle se aproximou o suficiente para ouvir o rádio do carro dos russos. — Preciso de uma conferência particular com o chefe dos senhores — disse Weinberg. — Digam-lhe que é urgente. O agente transmitiu a mensagem e Weinberg aguardou, enquanto Novikov falava aos homens sentados com êle no carro: dois homens da polícia secreta e um oficial do exército. O hospital estava iluminado de cima abaixo e homens corriam ao redor como se o lugar estivesse debaixo de raios. Dois dos pacientes violentos, que Prieto pusera em liberdade corriam à solta pelos andares inferiores. Novikov saiu do carro e se dirigiu gravemente para Weinberg. Fêz um gesto e os russos, de pé, em torno do carro, recuaram para fora do alcance da voz. — Que é que o senhor deseja? — perguntou Novikov. Weinberg explicou a situação tão rápida quanto podia. — Não preciso decifrar o problema para o senhor — disse êle. — Todos em Washington afirmam que o senhor trabalhou arduamente para obter o tratado. Se deixarmos que Prieto escape daqui com o que alcançou, o tratado ficará liquidado. Se êle não escapar com os registros, por 27.

(28) outro lado — se permitirmos que os senhores conservem tudo o que Lesechko tem em sua cabeça —, então o seu país terá o meu à sua mercê. Há uma única maneira pela qual podemos salvar o tratado — permitam que nós fiquemos com os registros e nós manteremos a violação em segredo. Se o senhor me ajudar a tirar os registros dele, é o que faremos. Novikov olhava dos seus homens para nosso carro de comando. No carro de comando russo, o oficial e os dois agentes da polícia secreta observavam a conversação. — Como é que o senhor sabe que era um laboratório ilegal? — indagou Novikov. — O programa do Dr. Lesechko requeria um laboratório simulado. — Prieto leu-me alguma coisa do que está nos registros. Mesmo que esteja enganado, a evidência é bastante boa para que presumamos que êle está certo. Washington tem conhecimento de que um laboratório pode ter estado aqui e que os senhores podem ter desenvolvido um virus noventa e cinco plus. Creio que o senhor é capaz de imaginar o que acontecerá se os homens de Washington julgarem que os senhores têm condições de imediata produção em massa do virus, enquanto nós não sabemos o suficiente a seu respeito para desenvolver uma cura. A corrida de armamentos, que apenas acabamos, parecerá um jogo de xadrez. — Que quer que eu faça? — Deixe que eu chegue primeiro a êle. Diga aos seus homens para não me atrapalharem. Diga-lhes para não atirar de longe. Não interfiram com relação ao nosso carro, tampouco. Novikov pôs suas mãos atrás das costas e fitou o hospital. Weinberg aguardou, enquanto êle refletia. — Alguém em meu país montou este laboratório — disse Novikov. — Crê o senhor que foi o meu governo que o fêz? — Para os nossos fins, isto não importa. — Prieto continuará com conhecimento do assunto. Pode êle revelar ainda a informação, mais tarde? — Não terá provas. — Será que certa gente em seu país manterá sua palavra? Weinberg engoliu. Contava não precisar comprometer-se a si próprio. Não obstante, já havia tomado uma decisão, antes de deixar o carro. Se Prieto chegasse a entrar em contato com alguém que trabalhasse para o Senador Moro, com ou sem prova, isto poderia ser suficiente para in28.

(29) fluenciar a eleição. — Êle está desobedecendo ordens — respondeu Weinberg. — Se eu o prender e êle tentar resistir... Novikov balançou sua cabeça cansado. — O senhor é um homem jovem. Tem certeza, agora, tem certeza do que está dizendo? Weinberg hesitou de novo. Apenas uns poucos dias antes, êle e o Dr. Shamlian conversavam acerca de Guerra e Paz, enquanto viajavam através do interior russo e êle mencionou a passagem, que se gravara em sua mente desde que a lera pela primeira vez. Toda vez que os homens falam sobre o bem da humanidade, afirmara Tolstoi, estão sempre se preparando para cometer um crime. — Posso fazer o que devo — respondeu Weinberg. — Não gosto disso, mas é a única alternativa que nos resta. Novikov balançou sua cabeça de novo. — Quando quer entrar no edifício? — Tão logo tenha falado com meus homens. — Não desperdice um segundo. Farei o melhor ao meu alcance, mas posso ter problemas. Weinberg retornou ao seu carro, enquanto Novikov convocava alguns dos homens do ministério do Exterior e começava a transmitir-lhes instruções. Novikov podia falar com a maioria dos seus elementos pelo seu sistema de intercomunicação, mas os guardas do hospital precisavam ser atingidos por um mensageiro. Weinberg explicou a situação aos inspetores no carro. Deviam ir em frente cinco minutos depois que êle entrasse no hospital. Se tudo corresse bem, estaria sobre a sacada no momento em que eles chegassem ali. Quando se voltou, Novikov se encontrava falando com um dos agentes da polícia secreta. O oficial do exército e o outro agente da polícia secreta saíam do carro. Weinberg se encaminhou para o hospital. Vários agentes do ministério do Exterior entraram à sua frente e começaram a difundir a ordem. Quando olhou para trás, Novikov sacudia sua unidade de intercomunicação e discutia com o oficial do exército e com os policiais. Um dos agentes da polícia arrancou a unidade de intercomunicação da mão de Novikov e o oficial do exército gritou alguma coisa. 29.

(30) Weinberg cruzou a antecâmara correndo. Um dos inspetores americanos postados ali tomou posição atrás dele, quando lhe bradou uma ordem, e ambos subiram às pressas as escadas, com suas pistolas nas mãos. — Ninguém ao alcance da pistola — gritavam os agentes do ministério do Exterior. — Deixem passar os americanos. Fiquem fora do alcance da arma. Os russos sairam do caminho. Atrás deles, dois inspetores ocuparam posições ao sopé da escada. Atravessaram correndo o corredor de trás e pararam diante do escritório que abria para a sacada onde Prieto se escondia. Não havia russos à vista. Se o carro chegasse no prazo marcado, eles estariam indo muito bem. Weinberg pegou uma faixa de explosivo da caixa de equipamentos, que retirara do carro, e fixou-a na fechadura. O ruído indicaria a Prieto que êle estava chegando, mas não dispunha de tempo para gastar com alternativas. Do que percebera da discussão entre Novikov e os outros três russos, devia provavelmente esperar visitantes a qualquer minuto. Sua mão começou a tremer e êle parou e se pôs a si mesmo sob controle. A despeito do que dissera a Novikov, não estava preparado para isto. Gostava de Prieto — simpatizava com toda pessoa que julgasse compreender — e seu treinamento lhe ensinara quão pouco os homens são responsáveis pelos seus atos. Tornara-se médico porque queria curar e um inspetor de controle de armamentos porque queria ajudar a pôr um fim aos massacres. Estava assustado, também: Nunca fora baleado em sua vida, mas Prieto era um combatente treinado, que acabava de provar sua excepcional competência. Um russo surgiu no fim do corredor. O outro inspetor brandiu sua arma e o russo sumiu. Weinberg puxou a fita detonadora para fora do explosivo e recuou. A explosão martelou as paredes do corredor. A porta ficou sem as dobradiças quebradas e êle caiu num joelho e escancarou-a. Encontrava-se diante de um gabinete externo. À luz dos corredores, pôde ver outra porta poucos passos à frente. Ao tentar girar a maçaneta, verificou que também se encontrava fechada. Vozes soavam alto no saguão. Um inspetor berrou uma advertência da escada. Armas deflagravam. 30.

(31) Êle pregou uma faixa de explosivo e sacou o detonador. De novo, balançou a arma num escritório vazio, procurando um alvo. Poderia experimentar a porta do outro lado do quarto. A única janela no local era uma vidraça estreita e vertical, longe, de um dos lados da sacada. Não era evidente que estivesse aberta e êle só poderia atirar para a sacada se fosse capaz de incliná-la para fora. Prieto escolhera seu buraco de rato com a maestria de um artista. O inspetor do saguão correu para dentro do escritório externo e caiu pesadamente atrás de uma escrivaninha. Balas ricocheteavam pelas paredes do corredor. Turbinas de carros planadores chiavam. Weinberg pulou para dentro do escritório interno e bateu a porta atrás de si. O inspetor, do lado de fora, gritou-lhe para se apressar. Weinberg ficou de um lado da porta da sacada e varou a fechadura com tiros. Duas balas atravessaram a madeira do outro lado. Prieto sibilou qualquer coisa em espanhol. Seus olhos caíram numa cadeira giratória. Puxou-a para si e ergueu-a enquanto abria a porta. Prieto grunhiu e êle se colocou de lado. A arma de Prieto brilhou em seu rosto. Weinberg atirou e Prieto atirou, respondendo. Uma bala bateu com violência no seu peito. Ouviu Prieto ofegar e ambos atiraram de novo. Uma bala estrondou acima de sua cabeça, enquanto delisava agachado pela porta. Os inspetores no carro gritavam para êle. Estava cedendo, mas tinha bastante consciência para compreender que Prieto fora abatido e que a gaiola com os registros se encontrava no chão, diante dêle. Caiu de joelhos e levantou-a. Antes que perdesse a consciência, conseguiu empurrá-la por cima da borda da sacada. Os homens no carro a agarraram e saíram com ela, tendo dois carros planadores russos no seu encalço. A caçada durou meia hora, no máximo. Assim que o Dr. Shamlian esquadrinhou os registros e transmitiu os dados importantes a Washington, ficamos com a vantagem. Novikov reassumiu o comando e os médicos russos levaram Weinberg às pressas para a sala de operação. Médicos voaram de ambas as capitais para salvar sua vida. Acabou com um novo pulmão e com uma injeção diária para corrigir a avaria cerebral, mas sobreviveu. Negociamos em segredo através de toda a campanha presidencial. Durante semanas, examinamos a situação tão exaustivamente, quanto no 31.

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